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1 Pensamento Helenístico Filosofia 2 Aula 05 Império Macedônico Fim de uma era No final do século IV a.C., início do III a.C., o domínio macedônico tinha acabado com a autonomia da cidade- -estado de Atenas (e as demais cidades gregas) e a Ágora não era mais o centro político, no qual os debates calorosos definiam os destinos dos atenienses, estabelecendo regras, elegendo novos gestores, declarando guerras ou conde- nando filósofos a beber cicuta. As fronteiras do Estado se expandiram até onde não se imaginava antes. Agora, pessoas de toda parte dividiam as ruas com os atenienses antes tão soberbos e cientes de sua superioridade, diluindo a ideia do cidadão, tornando-o alguém imerso em um universo muito mais amplo, mais prolixo, mais caótico. A expansão das fronteiras macedônicas e o câmbio cultural com outros povos trouxeram outras formas de enxergar a arte, a religião, a economia e tudo isso promoveu uma crise no modo de viver do ateniense, com claros reflexos na estabilidade espiritual e emocional de sua população. E, igualmente, no seu modo de pensar o mundo e o seu lugar no mundo. MOSAICO da batalha de Issus (batalha de Alexandre, o Grande (difundir a cultura grega), contra Darius III, o Grande). Século I a.C. Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. M ar ilu d e So uz a Mas, se por um lado todas as mudanças ocorridas trouxeram um novo olhar sobre as coisas, o fundamento desse pensar não mudou tanto: as discussões iniciadas pelos materialistas de Mileto, pelos intelectuais de Éfeso e do sul da Itália e, particularmente, pelos sofistas e socráticos de Atenas, continuavam a seduzir e influen- ciar novos pensadores que buscaram levar adiante as discussões cosmológicas e epistemológicas sobre o fundamento do Universo e do Ser. Os questionamentos 2 Extensivo Terceirão sobre o que rege o mundo e sobre o que é possível conhecer continuaram presentes e um assunto ganhou especial destaque nesse período: o questionamento sobre como se deve agir em relação ao Cosmos e ao Ser, retomando as discussões éticas de Platão e Aristóteles. O pensamento e a língua grega seguiram os rastros das conquistas macedônicas, impregnando novas terras e novos povos e, igualmente, sendo impregnadas por elas. Vastas regiões da Ásia, África e Europa sofreram esse impacto, que ficou conhecido com o nome de helenismo. Imaginem a intensidade dessas mudanças: as novas cores, cheiros, rostos, roupas, vozes, objetos, práticas, pensamentos. Para muitos atenienses, essa mudança toda foi um choque que abalou as tradições, o modo de vida ao qual estavam acostumados. Alguns aceitaram bem, outros questionaram o “ruído” que essas mudanças trouxeram. Vamos acompanhar isso agora. Cínicos e céticos Atenas empobreceu e desorganizou-se com a expan- são macedônica. Suas ruas encheram-se de migrantes e, com eles, videntes e profetas a predizer desgraças ou prometer um futuro mais promissor. A vida organizada dos cidadãos sustentados por escravos e estrangeiros comportados e obedientes havia passado. Agora existia um clima de incerteza constante no ar e as velhas crenças já não pareciam fazer muito sentido. Os deuses gregos foram os primeiros a perecerem, porque já não eram grande coisa mesmo, e também porque a oferta de deuses orientais, místicos e poderosos, aumentara con- sideravelmente. O sentimento de pertencimento a um grupo maior foi outra marca que foi se apagando. Uma coisa, pensem vocês, é pertencer a uma cidade-Estado, outra é estar imerso em um imenso Império. Você se di- lui nessa imensidão, sem ter mais referências claras para onde se apoiar. Uma saída é voltar-se para si mesmo, buscar construir novos sinais de reconhecimento. E, de fato, foi isso que aconteceu em Atenas. Era necessária uma reestruturação do olhar sobre si e sobre o mundo para tentar entender o que estava acontecendo e achar um jeito de sobreviver neste novo mundo. Um dos filósofos desse novo tempo foi Diógenes. Vivendo na mesma época de Alexandre, exilado de sua cidade natal, Sínope, discípulo de um seguidor de Sócrates, Diógenes critica o conceito de cidadão grego e também critica as preocupações que marcaram muitos dos pensadores da cidade, como a matemática, a cos- mologia e a metafísica. Critica até mesmo as mais simples convenções sociais, como casa, comida e roupa lavada. O funda- mento da sua crítica consistia em um princípio básico: para sermos felizes, devemos apenas seguir nossa GÉRÔME, Jean-Léon. Retrato do filósofo Diógenes sentado em seu barril cercado de cães. 1860. 1 óleo sobre tela, color.; 74,5 cm x 101 cm. Walters Art Museum, Baltimore, Maryland, Estados Unidos. Diógenes em seu barril natureza, conhecendo as exigências que ela nos faz. E a natureza que nos habita, como animais que somos, não exige convenções ou confortos. Apenas o básico, como alimentar-se, por exemplo. Agir conforme a natureza, desprendendo-se de todas as outras falsas necessidades, é a forma de viver feliz e realizado. Os bens aprisionam e as necessidades fúteis enfraquecem. Diógenes despojou-se de tudo: morava em um bar- ril, tinha uma única manta e uma cuia na qual recolhia alimentos que lhe davam e só. Vivia perambulando pelas ruas na sua miséria libertadora. Contam as crônicas que o poderoso Alexandre quis conhecê-lo e, postando-se em frente ao seu barril, disse-lhe: “Peça o que quiser e eu realizarei”. Diógenes então respondeu: “Só não me tire o que não pode me dar. Por favor, saia da frente do meu barril, você está tapando o Sol!”. HERGET, H. M. Alexandre, o Grande, falando com o filósofo Diógenes. 1891. National Geographic Creative. Aula 05 3Filosofia 2 Essa postura ascética, desprovida de vaidade e preocupação com a pri- vação e o sofrimento próprio ou dos outros fundamentou essa corrente de pensamento que ficou conhecida como cínica, palavra provavelmente associada à palavra grega para cão, kynós. Como vimos, os cínicos ima- ginavam que deveriam ter uma vida como a dos animais. LANDSEER, Edwin Henry. Alexandre e Diógenes. 1848. 1 óleo sobre tela, color,. Tate Collection, Londres. (Detalhe dos cães). Curioso que o tempo fez com que essa palavra, “cínico”, ganhasse uma conotação diferente, negativa, quase um xingamento. Por que será? Diógenes foi um discípulo de um discípulo de Sócrates, o filósofo que viveu em busca da verdade. Pirro de Élis, considerado o primeiro filósofo cético, ao contrário de Só- crates, retomou as afirmações dos sofistas e o relativismo, a impossi- bilidade de se afirmar uma verdade segura e confiável. Nascido em uma cidade no Peloponeso, Pirro acom- panhou Alexandre em algumas de suas incursões pelo Oriente e possivelmente pôde acompanhar as extremas mudanças de hábitos e práticas culturais nesses lugares em relação ao que existia na Grécia. Voltou para sua terra e dedicou-se à pintura e à reflexão. Tornou-se conhecido e recebeu a cidadania ateniense. Pirro afirmava que é impossível afirmar algo que não possa ser contraditado. Assim, não é possível estabelecer uma verdade de caráter universal. Para evitar essa tensão, a solução proposta por ele foi a suspensão dos juízos a respeito da natureza das coisas, inatingíveis para nós. A atitude mais sensata seria a ataraxia ou a despreocupação. Como diz um ditado, “o que não tem solução, solucionado está”. Podemos resumir seu pensamento assim: Se não é possível conhecer a essência das coisas, mas apenas a sua aparência; se, com base na aparência, formulamos opiniões diferentes, muitas igualmente inteligentes mas nenhu- ma comprovadamente verdadeira, qual a razão de movermos nosso espírito e ocuparmos nosso tempo nessas discussões? Observem que Pirro não afirma não existir uma verdade. Diz apenas não ser possível afirmá-la com certeza. Ele era um agnóstico, não um ateu. Era um carinha prático. Dessa forma, poupando o espírito desses apoquentamentos, viveu até os 90 anos. Talvez achasse que aquele mundo tão diferente não merecessemais tanto empenho de compreensão. Às vezes não nos parece que hoje vivemos algo semelhante e que pensar é uma tolice? Estoicos e epicuristas Nem todos os pensadores encararam as mudanças em Atenas com uma postura, digamos assim, de abandono, como fizeram Diógenes e Pirro. Ou- tros buscaram reorganizar seus pensamentos e incluir a noção de particular na noção de universal, tentando construir uma nova ordem de compreensão das coisas. Foi o caso de Zenão de Cício, outro migrante em Atenas, fenício de Chipre, que fundou uma escola que funcionava em um pórtico (stoa) da cidade onde proferia suas aulas. Daí se chamarem estoicos. Os estoicos buscaram estabelecer um sistema de compreensão das coisas do mundo (e do universo), partindo da ideia de que tudo se relaciona, se concatena, como um organismo vivo, alimentado por um sopro vital (o pneuma) que mantém tudo agregado e impede a dispersão no infinito e além. Ora, como tudo se relaciona, forma um sistema, tudo o que existe se justifica como parte desse organismo. O problema é que quase sempre não somos capazes de visualizar o todo e, vendo apenas uma parte, acredita- mos que há coisas boas e coisas más, coisas que nos fortalecem e outras que nos vitimam. No entanto, afirmam os estoicos, aí reside o erro gerador de angústias e ansiedades. Na verdade, não há coisas boas ou más, não há acaso, tudo é parte desse todo e não há como evitá-los. Por isso, a atitude correta é aceitá-los como destino, não como maldição e viver segundo a razão. Esta, sim, é uma tarefa que podemos controlar. O mal, o sofrimento, isso é coisa do mundo. Já o vício é do homem. Em uma frase, o ideal estoico poderia ser assim resumido: “Sou imperturbável em relação ao destino e sou superior a todas as paixões. Assim, sou feliz.” Como Sócrates, o estoicismo acreditava na superioridade da razão como forma de se posicionar diante das coisas. A coragem, por exemplo, permite- -me saber o que devo evitar ou não e assim não me expor a sobressaltos © Sh ut te rs to ck /ly ly 4 Extensivo Terceirão Epicuro vai defender a vida simples, afastada da política e do cotidiano da cidade e, ao mesmo tempo, sem preocupações com o Cosmos e com o Ser. No lugar disso tudo, uma postura voltada ao exer- cício das alegrias que a vida oferece. Como ele mesmo afirmava: nossa vida não necessita de lucubrações vazias, mas sim que vivamos sem incômodos. Diferente de outras correntes filosóficas, o epicurismo não buscou estabelecer normas de conduta corretas, nem demonizar compor- tamentos. Pelo contrário, teve um caráter descritivo, buscando delinear práticas boas, ou seja, aquelas que ampliavam o prazer ou diminuíam o desprazer, e práticas ruins. Prazer como satisfação do espírito, paz interior, como estado de tranquili- dade. Ou, à guisa de resumo, como o próprio filósofo afirmava: "Se não transgrides as leis, se não perturbas as convenções razoáveis, não ofendes os conci- dadãos, não prejudicas o corpo e não dissipas o necessário à vida, podes seguir tuas inclinações do jeito que te apraz". M ar ce lo B itt en co ur t. 20 16 . A qu ar el a. Busto de Epicuro © Sh ut te rs to ck /B ild ag en tu r Z oo na r G m bH A razão era, para Epicuro, a grande guia para a obtenção dessa vida prazerosa. Desenvolver a capa- cidade de discernir racionalmente o que deve ser feito, o que deve ser buscado e o que deve ser evitado. Como um médico que ajuda o desnecessários. Ao contrário de Aristóteles, porém, não acreditavam na ideia do “meio-termo”, atribuindo à virtude o mérito e ao vício o defeito. A primeira (virtude) coloca-me em consonância com o universo organizado racionalmente; a segunda associa-me às paixões, perturbando-me o espírito. O que não está ao meu alcance controlar (todos e quaisquer aconte- cimentos do mundo), não deveria me perturbar. A vida feliz era aquela que estivesse associada a esse controle do ânimo (ataraxia) e das emoções (apatia). O resultado desse exercício, sinônimo de um homem sábio, era a autossuficiência ou autarquia. O estoicismo fez muitos adeptos e ultrapassou fron- teiras, exercendo influência na Roma imperial e na Idade Média Cristã. Também não conheceu classes sociais. Entre seus principais seguidores, podemos citar Epiteto, um ex-escravo, e Marco Aurélio, imperador romano. A mesma Atenas que recebeu tantos mágicos e profe- tas, embusteiros, artistas e pensadores, acolheu também Epicuro, esse estrangeiro de Samos, uma ilha do mar Egeu, e que fundou em Atenas uma escola em uma casa com jardins (kepos) onde acolheu ricos e pobres, livres e escravos, homens e mulheres, senhoras da sociedade e cor- tesãs. Afinal, a Atenas dos cidadãos, metecos e escravos já não era a mesma... Como seus companheiros de época e lugar, Epicuro buscou enfrentar o dra- ma de viver em um mundo em convulsão, no qual a referência de lugar e status se desfazia, dando espaço para o indivíduo e o universo. Por isso, nosso filósofo resolveu apartar-se da cidade (sem abandoná-la) e constituir uma comunidade de amigos, para pensar e praticar uma forma de viver que permitisse ser feliz em meio àquele caos. Para ele, a vida na cidade implicava aceitar a política e o status quo. Mas, a política não servia mais aos atenienses e Epicuro defendia uma vida “obscura”, contida, retirada. Na falta da pólis e dos cidadãos, ainda restavam os jardins e os amigos. © W ik im ed ia C om m on s/ Fl ic kr /D en ve r © Sh ut te rs to ck /K am ira Epicuro não negou as coisas do mundo, como Diógenes. Nem negou a possibilidade do conhecimento, como os céticos. Também não pregava o conformismo com a natureza e o universo, como os estoicos. Da mesma forma, não imaginou que a felicidade fosse a plenitude da razão, como Platão e Aristóteles. Para Epicuro, o telos, o fim da existência, era o prazer. Nesse ponto, muitos equívocos são atribuídos ao pensador de Samos. No que consistia esse “prazer” como fundamento da felicidade que ele pregava? Orgia e devassidão!? Excessos e descalabros!? Não, absolutamente não. Aula 05 5Filosofia 2 paciente dizendo a ele o que fazer para manter-se sau- dável. A vontade de seguir a prescrição é do paciente e do valor que ele dá ao seu próprio bem-estar. Se ele se entrega aos prazeres e aos temores irracionais, não terá saúde e paz. Por isso, não é possível uma vida prazerosa sem discernimento. Ou, como dizia Epicuro: "Não é pre- ciso temer a morte, não é preciso temer os deuses e os demônios. A vida sem medos e preocupações é a vida do sábio. Um sábio que sabe o que deve buscar – a amizade e o discernimento – e o que deve evitar – a política e a ciência, os temores e vícios irracionais". “Não é necessário viver nesse mundo”, ponderou Epicuro. Até hoje, é uma proposta tentadora, não? Assimilação 05.01. (UENP – PR) – Julgue as afirmações sobre a filosofia helenista. I. É o último período da filosofia antiga, quando a pólis grega desaparece em razão de invasões sucessivas, por persas e romanos, sendo substituída pela cosmopólis, categoria de referência que altera a percepção de mundo do grego, principalmente no tocante à dimensão política. II. É um período constituído por grandes sistemas e doutri- nas que apresentam explicações totalizantes da natureza, do homem, concentrando suas especulações no campo da filosofia prática, principalmente da ética. III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o ceticismo e o neoplatonismo. Estão corretas as afirmativas: a) Todas elas. c) Apenas III. e) Apenas I. b) Apenas I e II. d) Apenas II e III. 05.02. (FCC – SP) – O termo ataraxia designa o ideal da imperturbabilidade ou da serenidade da alma, em decorrência do domínio sobre as paixões ou da extir- pação destas. (Abbagnano, N. Dicionário de filosofia) O termo ataraxia está fortemente ligado ao a) epicurismo e estoicismo. b) hermetismo e ao congruísmo. c) jansenismo e ao laxismo. d) idealismo transcendental. e) materialismo.05.03. (UFPB) – O filme Alexandre representou a vida do famoso imperador da Macedônia que constituiu um grande império, incluindo a Grécia, o Egito, a Síria, a Pérsia, indo até as fronteiras com a Índia. Alexandre foi educado pelo filósofo Aristóteles e o seu registro memorável na História deve-se, além de seus feitos militares, à difusão da cultura grega nas regiões do Oriente por ele conquistadas. Esse processo histórico-cultural, conhecido como helenismo, caracterizou-se pelo(a): a) formação de uma nova cultura, sem elementos culturais gregos nem orientais. b) desaparecimento das culturas orientais diante da cultura grega ou helênica. c) conflito cultural irreconciliável entre a cultura grega e as culturas orientais. d) desaparecimento da cultura grega diante das culturas orientais (persa e egípcia). e) constituição de uma cultura diferenciada, com elementos gregos e orientais. 05.04. (UFSJ – MG) – Sobre o ceticismo, é CORRETO afirmar que a) os céticos buscaram uma mediação entre “o ser” e o “poder-ser”. b) o ceticismo relativo tem no subjetivismo e no relativismo doutrinas manifestamente apoiadas em seu princípio maior: toda interatividade possível. c) Protágoras (séc. V a.C.), relativista, afirmou que “o Homem só entende a natureza porque o conhecimento emana dela e nela se instala”. d) Górgias (485-380 a.C.) e Pirro (365-275 a.C.) são apontados como possíveis fundadores do ceticismo absoluto. Aperfeiçoamento 05.05. (FUNDATEC – RS) – "Pelo menos desde Sócrates, os filósofos gregos refletem sobre a vida humana. Al- gumas escolas filosóficas antigas fizeram desse tema uma preocupação central e desenvolveram a ética como forma de "arte de viver", uma reflexão constante sobre a vida e um trabalho permanente de cada um sobre sua própria vida." (GALLO, 2014). Algumas dessas escolas se difundiram durante o período helenístico. Uma dessas escolas ganhou popularidade com Diógenes de Sinope. Sua filosofia apresentava-se como uma crítica aos costumes instituídos, lançando mão de recursos humorísticos e da ironia. Essa escola ficou conhecida como: a) Cinismo. c) Epicurismo. e) Pitagorismo. b) Etoicismo. d) Neoplatonismo. Testes 6 Extensivo Terceirão 05.06. (UENP – PR) – Sobre as escolas éticas do período helenístico, da antiguidade clássica da Filosofia Grega, associe a primeira com a segunda coluna e assinale e alternativa correta. I. epicurismo II. estoicismo III. ceticismo IV. ecletismo A – É uma moral hedonista. O fim su- premo da vida é o prazer sensível; o critério único de moralidade é o sentimento. Os prazeres estéticos e intelectuais são como os mais altos prazeres. B – Visa sempre um fim último ético- -ascético, sem qualquer metafísica, mesmo negativa. C – Se nada é verdadeiro, tudo vale unicamente. D – A paixão é sempre substancialmente má, pois é movimento irracional, morbo e vício da alma. a) I – A, II – B, III – C, IV – D b) I – A, II – B, III – D, IV – C c) I – A, II – D, III – C, IV – B d) I – A, II – D, III – B, IV – C e) I – D, II – A, III – B, IV – C 05.07. Qual das frases se refere ao pensamento cínico? a) Apreender a viver com o necessário e não fazer do des- necessário algo necessário. b) Valorizar a razão e a cultura, pois esses são fundamentais para a vida humana. c) A razão é a base para a vida humana. d) A essência do homem é a sua alma, essa é racional e virtuosa. e) Apreender a viver com o necessário natural e cultural. 05.08. No célebre "Jardim de Epicuro", vicejava uma autênti- ca comunidade, onde mestre e discípulos viviam de maneira quase ascética, consumindo apenas hortaliças que eles pró- prios cultivavam, às quais acrescentavam apenas pão e água, ou ainda queijo em ocasiões especiais. Seja como for, não há dúvida de que a real importância da doutrina epicurista está muito longe de consubstanciar-se em aspectos puramente circunstanciais como esses, que chegam a resvalar para o campo do anedótico. Sobre Epicuro, na sua cronologia inicial, é correto afirmar que o mesmo nasceu em: a) Samos. b) Atenas. c) Troia. d) Cólofon. e) Teos. 05.09. (MSCONCURSOS – RS) – Leia o trecho da Carta a Meneceu. “Nenhum jovem deve demorar a filosofar, e nenhum velho deve parar de filosofar, pois nunca é cedo demais nem tarde demais para a saúde da alma. Afirmar que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou é a mesma coisa que dizer que a hora ainda não chegou ou já passou; devemos, portanto, filosofar na juventude e na velhice para que enquanto envelhecemos continue- mos a ser jovens nas boas coisas mediante a agradável recordação do passado, e para que ainda jovens seja- mos ao mesmo tempo velhos, graças ao destemor dian- te do porvir. Devemos então meditar sobre tudo…” (Epicuro Carta de Epicuro a Menoiceus). Para Epicuro, como se expressa na Carta a Meneceu, o ob- jetivo da filosofia é: a) A felicidade do homem. b) A imparcialidade diante das decisões tomadas pelos homens. c) A areté própria do homem. d) O gozo imoderado dos prazeres mundanos. e) Estabelecer, refutar e defender argumentos tirados da bíblia. 05.10. (MSCONCURSOS – RS) – Em 322, após a morte de Alexandre Magno, o sucessor deste decide expulsar de Samos todos os colonos atenienses, entre os quais a família inteira de Epicuro. Os historiadores da cultura convencionaram designar Helenismo as atividades culturais desenvolvidas no período transcorrido entre a morte de Alexandre Magno, em 323 a.C., e o fim da república romana, em 31 a.C., quando Augusto (vencedor da batalha de Actium, em 27 a.C.) se torna imperador de Roma. A designação refere-se à pre- sença dominante da língua e da cultura gregas em todo o mundo conhecido, numa difusão sem precedentes cuja causa inicial foi a convicção de Alexandre, aluno de Aris- tóteles, de que por seu intermédio a Grécia devia cumprir uma missão civilizatória sobre todos os povos da terra. A língua grega transformou-se na koiné, dialeto comum em todas as terras conquistadas por Alexandre, e Alexandria, no Egito, tornou-se a capital cultural da Antiguidade, papel que conservou mesmo quando Roma ocupou o lugar de centro político e econômico de um império que se estendia do Próximo Oriente ao Sul da Europa, do Mediterrâneo ao Atlântico. Embora o termo Helenismo pareça indicar apenas a hegemonia da cultura grega, na realidade exprime a co- municação intensa entre as criações culturais helênicas e as orientais enquanto submetidas a um mesmo e único poder central, ligadas por rotas comerciais e tendo como ponto de encontro Alexandria e, mais tarde, Roma. Muitos preferem usar a expressão alexandrinismo para acentuar o papel que a dinastia dos Ptolomeus conferiu a Alexandria como centro de confluência da cultura grega e da oriental, com a criação do Museu e da Biblioteca, espaços destinados às atividades do conhecimento e das artes. Aula 05 7Filosofia 2 No caso da história da filosofia, fala-se em período helenístico para designar os três grandes sistemas filosóficos predomi- nantes nessa época. São eles: a) Ceticismo, epicurismo e estoicismo. b) Epicurismo, neoplatonismo e patrística. c) Neoplatonismo, ceticismo e patrística. d) Escolástica e epicurismo. e) Ceticismo e escolástica. Aprofundamento 05.11. (UNICENTRO – PR) – As principais escolas filosóficas, na Grécia Antiga, a partir do século III a.C., são o estoicismo e o epicurismo, que buscavam a realização moral do indivíduo, e, como quase todas as escolas da Antiguidade, concebem que o homem deve buscar a sabedoria e a felicidade. O princípio da ética epicurista está relacionado com a a) atitude de desvio da dor e da procura do prazer, sendo que a concepção do prazer é também espiritual e contribui para a paz de espírito e o autodomínio. b) ideia de que é pela razão que se alcança a perfeição moral e que centra a busca dessa perfeição no amor e na boa vontade. c) atitude de aceitação de tudo que acontece, porque tudo faz parte de um plano superior,guiado por uma razão universal. d) relação individual e pessoal de cada um com Deus, que é concebido como o Criador onisciente e onipresente. e) noção de que cada indivíduo pode escolher livremente entre se aproximar de Deus ou se afastar Dele. 05.12. (UNICENTRO – PR) – O helenismo, nome que identifi- ca a fusão da cultura grega com a cultura oriental, contribuiu para a formação de novas doutrinas filosóficas, que foram adotadas pela cultura ocidental, como o ceticismo. Essa doutrina a) considerava que a felicidade consistia em não se preten- der julgar nada, pois acreditavam que as coisas parecem ser de certa maneira, mas não se sabe como elas real- mente são. b) defendia o conceito de que a felicidade humana consistia apenas na busca e na obtenção do prazer. c) julgava que a virtude e a reflexão eram fundamentais à vida. d) acreditava ser o homem a medida de todas as coisas. 05.13. (UEG – GO) – Em meados do século IV a.C., Alexandre Magno assumiu o trono da Macedônia e iniciou uma série de conquistas e, a partir daí, construiu um vasto império que incluía, entre outros territórios, a Grécia. Essa dominação só teve fim com o desenvolvimento de outro império, o romano. Esse período ficou conhecido como helenístico e representou uma transformação radical na cultura grega. Nessa época, um pensador nascido em Élis, chamado Pirro, defendia os fundamentos do ceticismo. Ele fundou uma escola filosófica que pregava a ideia de que: a) seria impossível conhecer a verdade. b) seria inadmissível permanecer na mera opinião. c) os princípios morais devem ser inferidos da natureza. d) os princípios morais devem basear-se na busca pelo prazer. 05.14. (UNICENTRO – PR) – Os primeiros hedonistas foram seguidores da doutrina filosófico-moral, surgida na Grécia Antiga, que afirmava que o prazer seria o bem supremo da vida. Na sociedade pós-moderna, são considerados tipicamente hedonistas os sujeitos que a) acreditam que o prazer, em geral, é a fonte de todos os males e a virtude decorre de se viver de forma simples. b) defendem a ideia de que o aperfeiçoamento da vida espiritual é alcançado unicamente por meio de práticas de modificação do corpo, como o jejum, a abstinência e a flagelação. c) acreditam que a única verdade universal vem da fé e que no campo da moral não existem verdades absolutas. d) afirmam que todo sistema ético que não se baseia em faltas e observação é rejeitado. e) se vinculam à ideia de que o alcance da felicidade está relacionado à aquisição de bens de consumo. 05.15. (IPM – CE) – O período helenístico caracterizou-se por um processo de interação cultural entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. Neste período destacaram-se duas novas escolas filosóficas: o estoicismo e o hedonismo. Nesse contexto, os estoicos defendiam: a) Que o ser humano devia buscar o prazer da vida; b) Que o prazer estava vinculado ao bem; c) Um espírito de completa austeridade moral e física; d) A realização de uma conduta virtuosa; e) O domínio das paixões. 05.16. (UNIMONTES – MG) – Para Epicuro (341 – 270 a.C.), a morte nada significa porque ela não existe para os vivos, e os mortos não estão mais aqui para explicá-la. De fato, quando pensamos em nossa própria morte, podemos nos imaginar mortos, mas não sabemos o que é a experiência do morrer. Epicuro lamenta que a) as pessoas encarem a morte com coragem. b) as pessoas amem a morte e a desejem. c) as pessoas aceitem a morte como seu destino final. d) a maioria das pessoas fuja da morte como se fosse o maior dos males. 05.17. (PUC – GO) – [...] Arandir (numa alucinação) – Dália, faz o seguinte. Olha o seguinte: diz à Selminha. (violento) Diz que, em toda minha vida, a única coisa que salva é o beijo no asfalto. Pela primeira vez. Dália, escuta! Pela primeira vez, na vida! Por um momento, 8 Extensivo Terceirão eu me senti bom! (furioso) Eu me senti quase, nem sei! Escuta, escuta! Quando eu te vi no banheiro, eu não fui bom, entende? Desejei você. Naquele momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei. Saí logo, mas desejei a cunhada. Na praça da Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É lindo! É lindo, eles não entendem. Lindo beijar quem está morrendo! (grita) Eu não me arrependo! Eu não me arrependo! Dália – Selminha te odeia! (Arandir volta para a cunhada, cambaleante. Passa a mão na boca enchar- cada.) Arandir (com voz estrangulada) – Odeia. (muda de tom) Por isso é que recusou. Recusou o meu beijo. Eu quis beijar e ela negou. Negou a boca. Não quis o meu beijo. Dália – Eu quero! Arandir (atônito) – Você? Dália (sofrida) – Selminha não te beija, mas eu. Arandir (contido) – Você é uma criança. (Dália aperta entre as mãos o rosto de Arandir.) Arandir – Dália. (Dália beija-o, de leve, nos lábios.) Dália – Te beijei. Arandir (maravilhado) – Menina! Dália (quase sem voz) – Agora me beija. Você. Beija. Arandir (desprende-se com violência) – Eu amo Sel- minha! Dália (desesperada) – Eu me ofereço e Selminha não veio e eu vim. Arandir – Dália, eu mato tua irmã. Amo tanto que. (muda de tom) Eu ia pedir. Pedir à Selminha para morrer comigo. Dália – Morrer? Arandir (desesperado) – Eu e Selminha! Mas ela não veio! Dália (agarra o cunhado. Quase boca com boca, sô- frega) – Eu morreria. Arandir – Comigo? Dália (selvagem) – Contigo! Nós dois! Contigo! Eu te amo! [...] (RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 98-100.) O texto faz menção a desejo. É curioso observar como o ato de desejar está sempre presente na vida humana desde o nascimento. O desejo de se descobrir, o desejo de viver, o desejo de passar no vestibular, o desejo de ser feliz e o desejo de ter. O desejo é força propulsora que nos move. Nada nos empurra mais à ação que a vontade de possuir. O capitalismo, sabendo dessa nossa fraqueza de querer possuir, acabou por se apoderar dela. Ele lucra cada dia mais com o consumismo dos indivíduos. Esse consumo alicerçado numa fome insa- ciável de comprar nasce muitas vezes no subconsciente do homem, com a alienação imposta pela chamada “indústria cultural”. A ideia de que o consumo não é desejo natural, mas antinatural, está alicerçada na filosofia de um filósofo grego da Antiguidade. Ele defende que o maior prazer só é alcançável por meio do conhecimento, da amizade e de uma vida moderada, livre do medo e da dor. E que o homem sábio busca a realização dos desejos naturais e necessários, combate os desejos antinaturais e artificiais e evita com todas as suas forças os desejos dispensáveis. Marque a alternativa que apresenta o autor desse pensa- mento: a) Epicuro b) Platão c) Protágoras d) Diógenes 05.18. (FUNCAB – RJ) – O epicurismo e o estoicismo foram as duas filosofias éticas predominantes no período hele- nístico. O estoicismo, em contraposição à ética epicurista, relaciona o bem: a) à atividade da alma segundo a razão. b) ao prazer por coisas materiais. c) à indiferença diante da dor e do sofrimento. d) aos costumes ou convenções sociais. e) ao dever de cumprir o que é ordenado pela lei divina. Desafio 05.19. (UECE / CEV) – O declínio do império grego asso- ciado ao desajuste da consciência coletiva tornou possível o surgimento de perspectivas filosóficas mais centradas em conteúdo ético. Considerando tais perspectivas, relacione corretamente seus defensores com os respectivos conteúdos éticos, numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I. Coluna I 1. Céticos 2. Cirenaicos 3. Estoicos 4. Epicuristas Coluna II ( ) Os prazeres corporais são garan- tidos pela paz de espírito. ( ) Os prazeres corporais são meio e objetivo da vida humana. ( ) A apatia é consequência de fata- lismo ontológico. ( ) É impossível estabelecer os meios e os objetivos da vida humana. Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: a) 1, 2, 4, 3. b) 3, 4, 2, 1. c) 4, 2, 3, 1. d) 3, 4, 1, 2. Aula 05 9Filosofia 2 05.01. a 05.02. a 05.03. e 05.04. d 05.05. a 05.06. d 05.07.a 05.08. a 05.09. a 05.10. a 05.11. a 05.12. a 05.13. a 05.14. e 05.15. c 05.16. d 05.17. a 05.18. c 05.19. c 05.20. 17 (01 + 16) Gabarito 05.20. (UEM – PR) – “Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal re- sidem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente con- vencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera.” (Epicuro, Carta sobre a felicidade [a Meneceu]. São Paulo: ed. Unesp, 2002, p. 27. In: COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. SP: Saraiva, 2006, p. 97). A partir do trecho citado, é correto afirmar que 01) a morte, por ser um estado de ausência de sensação, não é nem boa, nem má. 02) a vida deve ser considerada em função da morte cer- ta. 04) o tolo não espera a morte, mas vive apoiado nas suas sensações e nos seus prazeres. 08) a certeza da morte torna a vida terrível. 16) a espera da morte é um sofrimento tolo para aquele que a espera. 10 Extensivo Terceirão Filosofia 2 Filosofia Medieval – Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino Aula 06 Mudanças O helenismo, principalmente com o estoicismo e o epicurismo, apresentaram mudanças expressivas em re- lação ao pensamento predominante durante o período clássico, com Sócrates, Platão e Aristóteles. A principal razão está associada às mudanças que marcaram a Grécia do domínio macedônico e da expansão de Ale- xandre, levando o pensamento filosófico para o Oriente e trazendo de lá pessoas e ideias, alterando a paisagem e o modo de viver de Atenas e outras cidades-estado. Essas mudanças políticas e sociais, somadas às constan- tes ameaças de invasões violentas, mexeram profunda- mente com a visão de mundo dos gregos. Lembrem, por exemplo, de como os estoicos vão se preocupar em como sobreviver a estas tensões e concluem que a saída é ignorá-las, aceitando-as como parte do grande arranjo do Universo. Muito engenhoso! O destino é o responsá- vel, não há o que fazer, logo, o sábio é o que aceita e vive com as turbulências, abstendo-se de qualquer polêmica. Os epicuristas, por sua vez, buscaram o distanciamento da pólis e entregaram-se a reflexões sobre como tirar partido das pequenas coisas, dos prazeres sem excessos, da amizade, de objetivos que agora não tinham mais a pretensão de explicar o mundo verdadeiramente, mas de suportá-lo da melhor maneira. Esta tendência tornou-se ainda mais clara no último século antes de Cristo e no primeiro da nossa era, com as transformações mais rápidas da paisagem política e social, marcadas pela desagregação do Império Mace- dônico e pela expansão dos romanos por praticamente toda a Europa, norte da África e Oriente Médio. A Grécia deixou de ser o centro da Antiguidade. O “umbigo” cul- tural havia se transferido para Alexandria, entreposto de múltiplas experiências culturais, religiosas e filosóficas e que expressavam as diversas formas de tentar ver e entender aquele mundo em transformação e de pouca transparência. Em meio a todas essas novas tendências e também em muitas outras que buscavam nas velhas fontes seus fundamentos para manifestar incredulidades e temores, sobressaiu um tema que passou a dominar o pensamento dessa época conturbada: a salvação. Observe que curioso e, ao mesmo tempo, instigan- te: a Filosofia nasce em meio à crítica da insuficiência das explicações míticas e prometendo uma explicação válida e universal para as perguntas sobre a origem do mundo, a realidade por trás das aparências, a verdade dos conceitos, os comportamentos corretos como forma de alcançar o Bem e a Felicidade. No entanto, a Filosofia não logrou o êxito absoluto que pretendia e muitos questionamentos ampliaram, com o passar do tempo, dúvidas em relação às diversas formas de expli- car o Ser e os seres. Os céticos, por exemplo, chegaram mesmo a propor que a obtenção desse conhecimento era impossível e, portanto, não deveríamos perder nosso tempo com ele. Some a isso os temores e as incertezas das mudanças e aí poderemos perceber que o pensamento deu uma volta completa. O pensamento voltou a se ancorar novamente nas soluções místicas, sem necessidade de provas cabais nem de uma ra- cionalidade refinada. A base agora passou a ser uma fórmula de salvação que buscava pelo Ser Supremo e sua contemplação. Um misto de filosofia platônica e mitologia bíblica. Esse pensamento, como veremos a seguir, vai marcar o fim da chamada Idade Antiga e praticamente toda a Idade Média. Santo Agostinho e a maio- ridade da teosofia Ao longo dos séculos I a V da nossa era, a filosofia grega como a conhecemos vai se tornando apenas uma mancha persistente no modo de pensar, marcado agora pela obsessão da salvação da alma e pela busca de compreensão sobre como agir para este fim. Várias correntes de pensamento se estabelecem, com variações muitas vezes imperceptíveis de postura, mas suficiente para disputarem o domínio da nova “verdade”, a revelação divina, o caminho para a salvação. Um exemplo dessas doutrinas foi a dos gnósticos. Eles acreditavam que a salvação espiritual poderia ser alcançada por meio da obtenção de um conhecimento superior. Quanto mais distante desse conhecimento, mais apegado à matéria, fonte do mal, menos propenso à salvação. Esse tal conhecimento dos gnósticos não era a racionalidade nem a matemática de Platão. Tratava-se, pois, de um conhecimento místico e disponível apenas para alguns “eleitos”. Aos outros, restava apenas seguir fielmente seus ensinamentos, ou perder-se na danação (que é o contrário da salvação). Aula 06 11Filosofia 2 Entre essa plenitude da presença com o divino e o vazio do distanciamento e do apego à matéria, ou seja, luz e trevas, os gnósticos imaginaram a existência de um sem-número de seres intermediários. Mais tarde, essa influência vai justificar a hierarquia de anjos do catolicismo, com seus serafins, querubins, potestades, arcanjos, entre outros. Outra interpretação gnóstica dos textos bíblicos mesclada com influências persas e hindus (com pitadas de platonismo) foi o maniqueísmo. Esta corrente defendia a existência de um Deus bom e um Deus mau e a existência humana se justificaria pela luta de um em relação ao outro. Como é possível perceber, e poderíamos falar muito mais sobre isso, a gnose teve múltiplas tendências e nenhuma regulação doutrinária. Por isso, contribuiu muito para a consolidação do cristianismo, pois obrigou os cristãos, ao refutarem muitos dos seus argumentos, estabelecerem de forma dogmática os princípios nos quais eles acreditavam. Esse papel importante foi realizado por vários padres da Igreja, daí esse conjunto de ideias definidoras da doutrina cristã ficar conhecida como patrística. Entre eles, nomes como Justino, Orí- genes, Basílio, Gregório de Nissa e Tertuliano. Em meio a uma plêiade de pensadores religiosos cristãos, um se destacou e veio a se tornar um dos alicerces da Igreja Católica, Aurélio Agostinho. © W ik im ed ia C om m on s/ O gn iss an ti, F lo re nc e BOTTICELLI, Sandro. Agostinho, 1480. 1 afresco color, 152 cm x 112 cm. Ognissanti, Florence. Nascido em 354, no norte da África, Agostinho viveu a época do ocaso do Império Romano, marcado pelo início das invasões bárbaras. Agostinho, embora tenha tido criação cristã (é bom lembrar que as perseguições ao cristianismo já haviam cessado no Império Romano e o cristianismo foi legalizado desde 313), viveu como um cidadão comum, chegando a ter um filho, mesmo sem ser casado. Sabe-se que leu as obras de Cícero e nutria simpatia pelo maniqueísmo e pela gnose, manifestando desde cedo a ideia da existênciade um saber que não se reduzisse apenas à fé. Por volta dos 30 anos foi viver em Milão, sede do Império, onde passou a trabalhar como professor de retórica. Imerso nos estudos e discussões filosóficas e re- ligiosas, hesitou entre o ceticismo e o pensamento de Plotino. Mas, foi Ambrósio quem o “fisgou” e o fez tender para a religião, ainda respeitando a ciência, mas cada vez mais inclinado ao misticismo. Ele mesmo relata em sua obra autobiográfica, Confissões, de que teria tido uma revelação em meio às suas orações. Tal revelação indica- va que ele deveria dedicar-se inteiramente à Bíblia. Daí, para a conversão, foi um pulo. Agostinho abandona a profissão de professor e volta para a África, onde acaba tornando-se bispo, na cidade de Hipona. Funda uma comunidade e põe em prática, como doutrina para seus seguidores, as palavras do apóstolo Paulo: Comportemo-nos ho- nestamente, como em pleno dia, sem comer e beber desmedidamente, sem luxúria e sem dissoluções, sem contendas e ciúmes. Revestivos da veste nova do Se- nhor Jesus Cristo e não cuideis do vosso corpo a ponto de despertar os apetites. Além de pregar os ensinamentos da Bíblia, Agosti- nho escreveu muito, sendo sua obra mais importante e conhecida, Cidade de Deus, livro no qual Agostinho tece comentários sobre a Igreja e o Estado e lança sementes sobre a necessária submissão do Estado à Igreja. Além disso, discorre longamente sobre a História desde a criação, em um sentido evolutivo, do primitivo à redenção, com a chegada de Cristo. Esse enfoque teve uma influência marcante na noção de tempo histórico, como o concebemos até hoje. Diferente de Plotino (embora claramente influen- ciado por ele), Agostinho afirma a existência de um Deus criador e todas as coisas da Terra como criaturas criadas por este Deus criador. Dos gnósticos manteve a ideia de uma ordenação das coisas, como uma pirâ- mide, com Deus no ponto mais alto. Apesar do apreço pelo platonismo, estava convencido de que a filosofia não era a morada mais segura para a alma. Da mesma forma, simplesmente proteger-se do mundo negando a possibilidade de conhecê-lo, como queriam os céticos, também não parecia ser o correto. 12 Extensivo Terceirão A saída, para o bispo de Hipona, era voltar-se para si mesmo, pois, se duvidamos de tudo, como faziam os céticos, é fato que não podemos negar que somos nós quem duvidamos de tudo! Logo, se há uma certeza no mundo é a nossa existência e é nela que devemos apos- tar. Essa elucubração racional (que lembra muito o que depois veremos em Descartes) não era, para Agostinho, o fim, mas o meio. Por meio dela – Eu sou – pergunta-se o que fundamenta essa verdade? A resposta é a Ideia de Verdade (olha o Platão aí!) e acima dessa Ideia de Verdade um ser Criador que não é criatura, um ponto de partida universal, ou seja, Deus. Para Agostinho, esses dois polos – Deus e alma – eram o epicentro de toda a sua especulação intelectual. O resto era o resto. Essa alma, para Agostinho, poderia conhecer Deus, mas somente por meio da iluminação desse próprio Deus. Assim, todo o conhecimento verdadeiro submetia- -se a uma obediência à palavra de Deus. Fora dele, não haveria verdade, somente trevas e sofrimento. Você consegue antecipar no que, historicamen- te, essa postura vai dar? Um problema muito interessante surgido com essa convicção de que fora de Deus não há verdade e que tudo provém de Deus, Criador de tudo e todos, é a existência do mal. Para Agostinho, o mal é a ausência do bem. Por- tanto, não há o mal de forma objetiva, mas sempre como uma falta, uma carência da presença do Bem. Essa também teve uma consequência histórica muito significante. Você saberia apontar qual? E quanto ao pecado? Agostinho associa o pecado ao livre-arbítrio. Mas, como é possível não pecar? Por meio da vontade de Deus. E por que Deus não salva a todos? Porque não temos direito à salvação. É a vontade de Deus, sobre a qual não somos capazes de compreender. Vai aí uma charada filosófica: se Deus é onipo- tente e a graça depende exclusivamente dele, por que é necessária uma ordem moral na Terra? Agostinho morre em 430, depois de ter visto a ex- pansão dos “bárbaros” pelo império, como, por exemplo, o saque de Roma pelos godos, liderados por Alarico, em 410. Sua obra teve grande influência sobre a Igreja Cató- lica e muitos de seus pensamentos tornaram-se regras da dogmática católica. De maneira que ninguém pode se dizer católico sem saber que é, também, um pouco agostiniano. E um pouquinho platônico também. Invasões bárbaras O processo de dissolução do Estado Romano na Europa foi ocorrendo lentamente e mais lentamente ainda foi a percepção que as pessoas tiveram dessa mudança. Exceção feita aos habitantes dos grandes centros urbanos (que não eram muitos), a rotina mar- cada pelo trabalho duro e sem grandes perspectivas, com uma média de vida que não chegava aos 35 anos, permanecia a mesma. O cristianismo já havia se disseminado e capilarizado o suficiente não somente para resistir às novas ideias e costumes “bárbaros”, mas, principalmente, para ir se infiltrando nas novas populações que o adotaram no todo ou em grande parte. Como já estudamos, a Filosofia, desde o início da Era Cristã transformara-se em Teosofia e a salvação tornara-se mais importante que o conhecimento. As ideias platônicas, fortemente infiltradas de pitagoris- mo, estoicismo e influências bíblicas, constituíram a base do pensamento chamado de Patrística, isto é, pensamento relativo aos padres da Igreja, e que tive- ram em Santo Agostinho seu nome mais consistente. Com o esvaziamento dos centros urbanos, na cha- mada Alta Idade Média (séculos V a X), essa teosofia concentrou-se nos mosteiros, onde textos e doutrinas continuaram a ser transcritos, revistos e ampliados. Ao contrário do que é comum dizer, a Idade Média não foi uma idade de trevas, mas, indubitavelmente, foi o período em que o pensamento grego conheceu um longo período de estagnação, seja pelas mudanças que já haviam sido introduzidas nas ideias originais de Platão (daí se dizer que o pensamento da patrística é neoplatônico), seja pelo fato de que ideias como as dos céticos e dos epicuristas foram deliberadamente “esquecidas” pelos padres, enquanto o estoicismo foi cristianizado. Da mesma forma, o pensamento de Aristóteles foi, em grande parte, deixado de lado, quase esquecido. Suas obras, raro em raro, eram citadas nos mosteiros e as correntes de discussão religiosa partiam, quase na sua totalidade, das ideias de um Platão “cristianizado”. E então, o que permitiu a volta da circulação do pensamento aristotélico na Europa? Os árabes. Entre os séculos VIII e XII, os árabes for- maram um grande império, absorvendo populações e ideias que formavam o antigo Império Macedônico, depois Romano do Oriente. Confrontados com uma cultura mais sofisticada e complexa, os árabes não hesitaram em absorvê-la, mesmo que submetendo-a aos ditames de sua religião. A despeito disso, vicejou nesses territórios uma imensa atividade intelectual e importantes obras foram escritas usando como Aula 06 13Filosofia 2 referência textos de Platão e de Aristóteles, desco- nhecidos até então da Europa cristã. Um desses intelectuais brilhantes que deixou textos de cunho aristotélico que exerceram forte influência sobre a Europa foi Avicena (980-1037). Seus textos foram traduzidos para o latim no século XII e tiveram em Tomás de Aquino um de seus mais intensos interpretadores. Os árabes invadiram a Europa no século VIII e formaram na Península Ibérica um posto avançado do islamismo. Até o século XV, a Europa islâmica foi um lugar de contato intenso de ideias e religiões, um espaço privilegiado para a formulação de novas abordagens e para o aprendizado dos velhos mestres gregos. Quem se destaca nesse período e nesse lugar é Averróis (1126-1198), nascido no século XII, em Cór- doba (hoje cidade da Espanha). Ele foi um dos mais importantes comentaristasda obra de Aristóteles e contribuiu sobremaneira para a disseminação dos seus textos na Europa cristã. No século XIII, essas incursões do pensamento aristotélico começam a se fazer sentir no pensamento europeu. As ideias consolidadas da teologia cristã, marcadamente platônicas, como, por exemplo, a de que a realidade verdadeira estava além do mundo material e de que a alma era imortal, não condiziam com o pensamento filosófico aristotélico, que asso- ciava a alma à forma do corpo. Igualmente, a ideia da Trindade (Pai-Filho-Espírito Santo), consolidada na dogmática cristã, não era compatível com a ideia de um Criador imóvel, responsável por tudo o que se move, segundo a noção de Aristóteles. Enfim, o pensamento cristão, a partir do século XIII, não podia mais negar a presença do velho pensador grego, a assombrar as “certezas” secularmente consagradas. A Igreja, assim, como o pensamento europeu, sofrerão novas mudanças. Escolástica Os monastérios não eram apenas locais de oração e penitência, mas também centros de formação de novos operadores do cristianismo. Daí, desde o século VII, foi sendo gestada uma educação cristã que, mais tarde, ficou conhecida como escolástica, que quer dizer “aque- le que é instruído”. Dos monastérios para as escolas episcopais e ordens religiosas e, depois do século XII, nas universidades, essa forma de instruir tornou-se comum. Os escolares aprendiam o Trivium – gramática, retórica e dialética – e o Quadrivium – aritmética, geometria, astronomia e música – como suportes para melhor compreenderem as verdades reveladas da teologia. A fi- losofia também tinha esse papel auxiliar. Tudo convergia para o conhecimento revelado. © W ik im ed ia C om m on s/ K up fe rs tic hk ab in et t. Be rli n VOLTOLINA, de Laurentius. Escola escolástica. Século 14. 1 óleo sobre tela color, 18 cm x 22 cm. Com a impossibilidade de negar a “presença” de Aristóteles, a escolástica passou a adaptá-lo aos ditames da dogmática religiosa. Mas essa não era propriamente uma tarefa fácil, principalmente pelo fato de o pensa- mento cristão ter sido edificado tendo Platão como referência principal. E por que Aristóteles despertou tanto interesse aos intelectuais europeus do século XIII? Porque a Europa estava mudando rapidamente. O fim das invasões bárbaras permitiram um ressurgimento lento, mas persistente, do comércio e da atividade urbana. Esse “renascimento comercial e urbano” passou a exigir novas respostas para novas perguntas, o que o dogmatismo cristão já não era capaz de dar conta. O comércio colocou novamente pessoas de lugares diferentes em contato com novas ideias e novas dúvidas. A “mágica” da filosofia se repetia: estranhamento com situações novas, busca de respostas, falta delas, questionamentos, inquietude, perguntas, busca de novas respostas. Os pensadores da Igreja não demoraram para perceber isso e buscaram em Aristóteles uma adequação para esse novo momento histórico, dando mais importância aos questionamentos, liberdade para perguntar, método para investigar, tudo isso sem negar a fé e os fundamentos da Igreja. Com isso, libera-se o pensamento especulativo e permite-se que a ciência volte a ser estimulada – lembre da importância da ciência para a produção e para o comércio – e as questões “mundanas” voltam a ter relevância. Essa preocupação com o real, com a classificação das coisas, com a explicação dos fenômenos tinha, em Aristóteles, um suporte muito mais adequado do que “o mundo das Ideias” de Platão. Na medida em que as mudanças econômicas foram se processando, o interesse pelas “novas ideias” foi au- mentando. Das clausuras dos mosteiros, o pensamento foi ganhando o espaço das universidades e das ordens religiosas, como os dominicanos, que passaram a dedicar tempo e estudo para conformar as novas exigências aos princípios religiosos que não desejavam ver alterados. 14 Extensivo Terceirão Tomás de Aquino CRIVELLI, Carlo. Santo Tomás de Aquino. 1476. 1 têmpera, color., 60,5 cm x 39,5 cm. The National Gallery, Londres. Th e N at io na l G al le ry L on dr es / F ot óg ra fo d es co nh ec id o Discípulo de Alberto Magno, o italiano e do- minicano Tomás de Aquino (1225-1274) foi o mais importante representante da escolástica aristotélica. Autor de obra caudalosa, da qual a mais conhecida é a Suma Teológica. Para ele, embora seu conhecimento fosse vasto, Aristóteles era a autoridade filosófica mais respeitável do panteão de pensadores que contribuí- ram para a doutrina cristã. Seus escritos doutrinários e sua metodologia argumentativa (dialética) de ensinar, apesar de não serem unânimes em sua época, acabaram por se tornar a referência da filosofia cristã. Não por outra razão, Tomás recebeu o título de Doctor angelicus. Dois princípios orientaram as suas obras: 1. A filosofia não se confunde com a teologia, portanto não há problema em considerá-la verda- deira nem estudá-la sem temores. 2. A filosofia submete-se à religião, porque, como há uma única verdade, é evidente que essa verdade é a da revelação divina. Tudo o que pode ser revelado, pode ser conhecido racionalmente. Quanto ao resto, pela fé. Por exemplo: não há uma explicação racional sobre a Trindade, ou sobre o início e o fim dos tempos, conforme apresentados pela Bíblia. Por outro lado, tudo que se refira ao Ser e seus funda- mentos é possível de conhecimento pela razão. A realidade pode ser conhecida pela razão, não apenas na sua concretude, mas também no seu valor e na sua finalidade. Pois, assim como Aristóteles, Tomás de Aquino afirmava que tudo o que existe tem um fim, que é o Bem, e todos os seres estão em potência e em ato, de forma que vão se atualizando. Nesse sentido, Deus é ato puro, atualidade eterna. Como mais tarde defenderão iluministas como John Locke (1632-1704), Tomás de Aquino afirmava que não temos conhecimentos inatos. Nosso pensamento é como uma cópia do que percebemos e com base nessa imagem da percepção construímos nossos conceitos, abstraindo os detalhes e fixando-se nas permanên- cias das coisas percebidas. Esses conceitos é que nos permitem formular regras de aplicação geral e assim ultrapassar o campo das coisas percebidas, podendo especular, formulando hipóteses. Ou seja, para Santo Tomás de Aquino, seguindo Aristóteles, não existem as coisas reais como cópias de uma coisa genérica (Ideia). É exatamente o contrário: as ideias (conceitos) são abstrações mentais que só são possíveis partindo das coisas reais. Outro conceito do qual Tomás de Aquino parte de Aris- tóteles é o que distingue matéria e forma. Para ele, a alma, por exemplo, é a forma do corpo, como a forma do vaso na argila. Ela, a forma, que define a função da matéria. Mas há uma diferença entre a “alma” do vaso e a alma do homem. No caso do vaso, em caso de quebra, tudo acaba. No caso do homem, não. Por isso a alma humana é imortal. Aqui, Tomás fez uma “adequação” de Aristóte- les. Mas não era pra menos: sem uma alma imortal, como poderia haver o paraíso e a eternidade? Olhem agora essa charada: se, para Tomás de Aquino, o conhecimento deriva da percepção das coisas reais, como é possível afirmar racionalmente a existência de Deus? Na Suma Teológica, Aquino apresenta cinco vias para provar a existência de Deus. Todas elas estão baseadas na ideia aristotélica de ato e potência. Tudo o que se move (isto é, passo potência a ato, como a semente que dá origem à planta) existe. Como isso é perceptível, dele pode-se inferir sentenças genéricas, universais. Lembre que igualmente, partindo de Aristóteles, tudo que existe (e se move) tem um fim, que é aproximar-se do Bem (ou Deus). Da mesma forma, lembre que Aristóteles era um ser classificador e distinguia as coisas por sua menor e maior complexidade. Assim, naturalmente, o menor tende a dirigir-se ao maior, o menos complexo ao mais complexo e assim por diante. De posse desse repertório de conceitos aristotélicos,Tomás de Aquino afirmou que Deus existe: Aula 06 15Filosofia 2 a) Porque não é possível imaginar que um ser mova o outro (lembre das aulas de física e do que gera o movimento de um objeto) e essa cadeia siga até o in- finito. É necessário que, em um momento, exista um Ser que mova, mas não seja movido por ninguém (o primeiro motor). b) Uma coisa causa a outra e aí a história se repete até que haja uma coisa que cause sem ter sido causada por outra (a causa primeira). c) Uma coisa é contingente e provém de outra que é igualmente contingente, até o infinito. Para evitar isso, é necessário que uma coisa seja necessária e tenha gerado a primeira coisa contingente. d) Uma coisa que é simples é derivada de outra que é mais complexa, esta, por sua vez, deriva de outra mais complexa ainda, até o limite de uma coisa Suprema, da qual todas derivam. e) Tudo está relacionado e orienta-se a um fim e deve haver um fim que não seja ao mesmo tempo o come- ço de outra coisa. E tudo isso o que é? ... ... ... Deus. E aí, o que acha? Irrefutável? O fato é que, com Tomás de Aquino, a filosofia reencontrou um lugar no pensamento marcadamente teosófico da Europa medieval e a ciência livrou-se de algumas amarras que a impediam de “respirar”. No entanto, esse outro patamar não foi suficiente (onde passa boi, passa boiada) e a especulação filosófica, cuja porteira foi escancarada pela escolástica, não demorou a se voltar contra ela própria e contra os pressupostos aristotélicos, o que marcará a entrada do pensamento ocidental na modernidade. É o que veremos. Um passo de cada vez. Testes Assimilação 06.01. (UEG – GO) – Durante seu reinado, Carlos Magno buscou reverter o quadro de estagnação cultural gerado pelas invasões bárbaras, quando muito do conhecimento da Antiguidade clássica havia se perdido. Reuniu então, com o apoio da Igreja, grandes sábios que deveriam transmitir sua sabedoria nas escolas da época. Esses grandes mestres foram chamados scholasticos. As matérias ensinadas por eles nas escolas medievais eram chamadas de artes liberais e foram divididas em a) fé e razão. b) matemática e gramática. c) trívio e quadrívio. d) teologia e filosofia. 06.02. (ESPM – SP) – Seu principal objetivo era demons- trar, por um raciocínio lógico formal, a autenticidade dos dogmas cristãos. A filosofia devia desempenhar um papel auxiliar na realização deste objetivo. Por isso a tese de que a filosofia está a serviço da teologia. (Antonio Carlos Wolkmer – Introdução à História do Pensamento Político) O texto deve ser relacionado com: a) a filosofia epicurista. b) a filosofia escolástica. c) a filosofia iluminista. d) o socialismo. e) o positivismo. 06.03. (UFU – MG) – Na medida em que o Cristianismo se consolidava, a partir do século II, vários pensadores, convertidos à nova fé e, aproveitando-se de elementos da filosofia greco-romana que eles conheciam bem, começaram a elaborar textos sobre a fé e a revelação cristãs, tentando uma síntese com elementos da filo- sofia grega ou utilizando-se de técnicas e conceitos da filosofia grega para melhor expor as verdades reveladas do Cristianismo. Esses pensadores ficaram conhecidos como os Padres da Igreja, dos quais o mais importante a escrever na língua latina foi santo Agostinho. COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia: Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 128. (Adaptado) Esse primeiro período da filosofia medieval, que durou do século II ao século X, ficou conhecido como a) Escolástica. b) Neoplatonismo. c) Antiguidade tardia. d) Patrística. 06.04. (UECE) – “O maniqueísmo é uma filosofia reli- giosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.” Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manique%C3%ADsmo. 16 Extensivo Terceirão Contra o maniqueísmo, Agostinho de Hipona (Santo Agos- tinho) afirmava que a) Deus é o Bem absoluto, ao qual se contrapõe o Mal absoluto. b) as criaturas só são más numa consideração parcial, mas são boas em si mesmas c) toda a criação era boa e tornou-se má, pois foi dominada pelo pecado após a Queda. d) a totalidade da criação é boa em si mesma, mas singular- mente há criaturas boas e más. Aperfeiçoamento 06.05. (UNCISAL – AL) – A filosofia de Santo Agostinho é essencialmente uma fusão das concepções cristãs com o pensamento platônico. Subordinando a razão à fé, Agostinho de Hipona afirma existirem verdades superiores e inferiores, sendo as primeiras compreendidas a partir da ação de Deus. Como se chama a teoria agostiniana que afirma ser a ação de Deus que leva o homem a atingir as verdades superiores? a) Teoria da Predestinação. b) Teoria da Providência. c) Teoria Dualista. d) Teoria da Emanação. e) Teoria da Iluminação. 06.06. (UFU – MG) – A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia ser definida como a) retomada do pensamento de Platão, conforme os mode- los teológicos da época, estabelecendo estreita relação entre filosofia e religião. b) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por Santo Agostinho, inspirado em Platão, de modo a res- gatar a importância das coisas sensíveis, da materialidade. c) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes teológicos da época. d) criação de uma escola filosófica, que visava combater os ataques dos pagãos, rompendo com o dualismo grego. 06.07. (UFU – MG) – Agostinho, em Confissões, diz: "Mas após a leitura daqueles livros dos platônicos e de ser levado por eles a buscar a verdade incorpórea, percebi que 'as perfeições invisíveis são visíveis em suas obras' (Carta de Paulo aos Romanos, 1, 20)". Agostinho de Hipona. Confissões, livro VII, cap. 20, citado por: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor. Nesse trecho, podemos perceber como Agostinho a) se utilizou da Bíblia para conhecer melhor a filosofia platônica. b) utiliza a filosofia platônica para refutar os textos bíblicos. c) separa nitidamente os domínios da filosofia e da religião. d) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da filosofia platônica. 06.08. (UECE) – Em diálogo com Evódio, Santo Agos- tinho afirma: “parecia a ti, como dizias, que o livre- -arbítrio da vontade não devia nos ter sido dado, visto que as pessoas servem-se dele para pecar. Eu opunha à tua opinião que não podemos agir com retidão a não ser pelo livre-arbítrio da vontade. E afirmava que Deus no-lo deu, sobretudo em vista desse bem. Tu me respondeste que a vontade livre devia nos ter sido dada do mesmo modo como nos foi dada a justiça, da qual ninguém pode se servir a não ser com retidão”. AGOSTINHO. O livre-arbítrio, Introdução, III, 18, 47. Com base nessa passagem acerca do livre-arbítrio da von- tade, em Agostinho, é correto afirmar que a) o livre-arbítrio é o que conduz o homem ao pecado e ao afastamento de Deus. b) o poder de decisão – arbítrio – da vontade humana é o que permite a ação moralmente reta. c) é da vontade de Deus que o homem não tenha capa- cidade de decidir pelo pecado, já que o Seu amor pelo homem é maior do que o pecado. d) a ação justa é aquela que foi praticada com o livre- -arbítrio; injusta é aquela que não ocorreu por meio do livre-arbítrio. 06.09. (UFU – MG) – Sobre a Filosofia Patrística (séc. I ao séc. VII d. C.), assinale a alternativa incorreta. a) Fé e Razão são irreconciliáveis porque pertencem a domínios distintos, isto é, à Fé convém cuidar apenas da salvação da alma e da vida eterna futura, à Razão convém cuidar apenas das coisasdo mundo. b) Fé e Razão são irreconciliáveis porque a Fé é sempre superior à Razão. c) Fé e Razão são conciliáveis, mas a Fé deve subordinar a Razão. d) Fé e Razão são conciliáveis porque Deus, criador perfeito, não introduziu nenhuma discórdia no interior do homem. 06.10. (ENEM / PPL) – Enquanto o pensamento de Santo Agostinho representa o desenvolvimento de uma filo- sofia cristã inspirada em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de Aristóteles – até então vista sob suspeita pela Igreja –, mostrando ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com a doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse pelas ciências naturais, um dos principais motivos do interesse por Aristóteles nesse período. MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra de Aristóteles pelo fato de a obra aristotélica a) valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas religiosos. b) declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a moral religiosa. Aula 06 17Filosofia 2 c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras instituições religiosas. d) evocar pensamentos de religiões orientais, minando a expansão do cristianismo. e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos antir- religiosos, seguindo sua teoria política. Aprofundamento 06.11. (ENEM / PPL) – Se os nossos adversários, que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir que essas con- siderações estão certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males. Pois sendo Ele fonte su- prema da Bondade, nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado). Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má. d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal. e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal. 06.12. (UFU – MG) – Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que ultrapassam totalmente as capaci- dades da razão humana. Uma delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que Deus existe, que há um só Deus etc. AQUINO, Tomás de. Súmula contra os Gentios. Capítulo Terceiro: A possibilidade de descobrir a verdade divina. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 61. Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova a) por meios metafísicos, resultantes de investigação inte- lectual. b) por meio do movimento que existe no Universo, na me- dida em que todo movimento deve ter causa exterior ao ser que está em movimento. c) apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e dispensável. d) apenas como exercício retórico. 06.13. (UFU – MG) – A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-1274), é uma parte da filosofia, é a parte que ele elaborou mais profundamente em sua obra e na qual ele se manifesta como um gênio verda- deiramente original. Se se trata de física, de fisiologia ou dos meteoros, Tomás é simplesmente aluno de Aristóteles, mas se se trata de Deus, da origem das coisas e de seu retorno ao Criador, Tomás é ele mesmo. Ele sabe, pela fé, para que limite se dirige, contudo, só progride graças aos recursos da razão. GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 657. De acordo com o texto acima, é correto afirmar que a) a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da obra de Aristóteles. b) Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a natureza das coisas. c) as verdades reveladas não podem de forma alguma ser compreendidas pela razão humana. d) é necessário procurar a concordância entre razão e fé, apesar da distinção entre ambas. 06.14. (UFU – MG) – Leia o trecho extraído da obra Confissões. Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa RES- POSTA: Está gravada dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas. SANTO AGOSTINHO. Confissões IX. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154. Coleção Os Pensadores Sobre a doutrina da iluminação de Santo Agostinho, marque a alternativa correta. a) A irradiação da luz divina faz com que conheçamos ime- diatamente as verdades eternas em Deus. Essas verdades, necessárias e eternas, não estão no interior do homem, porque seu intelecto é contingente e mutável. b) A irradiação da luz divina atua imediatamente sobre o intelecto humano, deixando-o ativo para o conhecimento das verdades eternas. Essas verdades, necessárias e imu- táveis, estão no interior do homem. c) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades eternas que a alma possuía antes de se unir ao corpo. d) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades eternas que a alma possuía e que nela permanecem mediante os ciclos da reencarnação. 06.15. (UFU – MG) – Sobre Tomás de Aquino, considere o se- guinte trecho, extraído de uma conhecida História da Filosofia. “O sistema tomista baseia-se na determinação rigo- rosa das relações entre a razão e a revelação. Ao ho- mem, cujo fim último é Deus, o qual excede toda a compreensão da razão, não basta a investigação filo- sófica baseada na razão. Mesmo aquelas verdades que a razão pode alcançar sozinha, não é dado a todos alcançá-las, e não está livre de erros o caminho que a elas conduz. Foi, portanto, necessário que o homem fosse instruído convenientemente e com mais certeza pela revelação divina. Mas a revelação não anula nem torna inútil a razão: ‘a graça não elimina a natureza, antes a aperfeiçoa’. A razão natural subordina-se à fé tal como no campo prático as inclinações naturais se subordinam à caridade.” ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia . Lisboa: Presença, 1978, p. 29-30, Vol. IV. 18 Extensivo Terceirão Com base no texto, é correto afirmar que Tomás de Aquino a) rejeitava as verdades da fé cristã que não pudessem ser explicadas plenamente pela razão humana. b) desprezava, por serem inúteis, as tentativas racionais em compreender as verdades da fé cristã. c) buscava conciliar as verdades da fé cristã com as exigên- cias da razão humana. d) subordinava a fé à razão natural, só sendo digno de crença o que pudesse ser cientificamente comprovado. 06.16. (UFU – MG) – Tomás de Aquino não via conflito entre a fé e a razão, sendo possível para a segunda atingir o conhecimento da existência de Deus. Contudo, Tomás de Aquino defende a relação harmônica entre ambas, pois, se a razão demonstra a existência de Deus, ela o faz graças à fé que revela tal verdade. Assim, a filosofia de Tomás de Aquino insistiu nos limites do conhecimento humano. Com base nas afirmações precedentes, assinale a alternativa correta. a) O conhecimento humano atinge a verdade do mundo e de Deus sem precisar se servir de outra ordem que não aquela da própria razão, o que se confirma com o fato de que os governantes organizam o mundo conforme sua inteligência. b) A realidade sensível é a via direta e exclusiva para a ascensão do conhecimento humano, porque, tal como afirmou Santo Anselmo, a perfeição de Deus tem, entre seus atributos, a existência na realidade mundana. c) Existe um domínio comum à fé e à razão. Este domínio é a realidade do mundo sensível, morada humana, que a razão pode conhecer, porquea realidade sensível oferece à razão os vestígios imperfeitos da substância de Deus. d) A razão humana é impotente para tratar de ideias que estejam além da realidade do mundo sensível. Deus, portanto, nada mais é que uma palavra que deve ser reverenciada como o centro sensível de irradiação de tudo o que existe. 06.17. (UECE) – “Portanto, deve-se dizer que como a lei escrita não dá força ao direito natural, assim tam- bém não pode diminuir-lhe nem suprimir-lhe a força; pois, a vontade humana não pode mudar a natureza. Portanto, se a lei escrita contém algo contra o direito natural, é injusta e não tem força para obrigar. Pois, só há lugar para o direito positivo, quando, segundo o direito natural, é indiferente que se proceda de uma maneira ou de outra, como já foi explicado acima. Por isso, tais textos não hão de chamar leis, mas corrupções da lei, como já se disse. E portanto, não se deve julgar de acordo com elas.” Tomás de Aquino, Suma Teológica, II, Questão 60, Art. 5. Com base na passagem acima, é correto afirmar que a) a lei escrita só é legítima se for baseada no direito natural. b) o direito positivo não é a lei escrita, mas dos costumes. c) o direito natural só é legítimo se expresso na lei escrita. d) não há diferença entre direito natural e direito positivo. 06.18. (UEM – PR) – “Embora o cristianismo não seja uma filosofia, ele afeta de forma profunda o pensa- mento filosófico da época [Idade Média], uma vez que o filósofo cristão se depara com o problema da sua realidade finita e imperfeita diante da divindade infinita e perfeita.” ARANHA, M. L. de A. Temas de filosofia. 3ª. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005, p.110. Sobre a patrística e a escolástica, assinale o que for correto. 01) A filosofia medieval assume a herança dos filósofos gregos, sobretudo Platão (na patrística) e Aristóteles (na escolástica), de forma submissa e dogmática. 02) Santo Agostinho (354-430) é o maior representante da filosofia patrística. A patrística preocupava-se em encontrar justificativas racionais para as verdades re- veladas. 04) Segundo a filosofia patrística, a revelação divina en- sina quem tem fé a utilizar corretamente o conheci- mento sensível. 08) Tomás de Aquino (1225-1274) considera a filosofia como conhecimento racional e tem como um dos seus principais temas filosóficos a adequação entre as coisas e o entendimento. 16) O problema de maior relevância para a filosofia do século XIII é a querela dos universais, doutrina filosófica segundo a qual os realistas preponderam sobre os nominalistas. Desafio 06.19. (UEM – PR) – A patrística surge no séc. II d.C. e es- tende-se por todo o período medieval conhecido como alta Idade Média. É considerada a filosofia dos Padres da Igreja. Entre seus objetivos encontramos a conversão dos pagãos, o combate às heresias e a consolidação da doutrina cristã. Sobre a patrística, assinale o que for correto. 01) A patrística deixa de ser predominante como doutri- na do cristianismo quando, a partir do séc. IX, surge uma nova corrente filosófica denominada escolásti- ca, que atinge o apogeu no séc XIII. 02) Fundador da patrística, o apóstolo São Paulo escre- veu o livro Confissões, razão pela qual é considerado o primeiro filósofo cristão. 04) Vários pensadores da patrística, entre eles Santo Agostinho, tomam ideias da filosofia clássica grega, particularmente de Platão, que são adaptadas às necessidades das verdades expressas pela teologia cristã. 08) A aliança que a patrística estabelece entre fé e razão caracteriza-se por um predomínio da fé sobre a ra- zão; em Santo Agostinho, a razão é auxiliar da fé e a ela subordinada. 16) A leitura dos filósofos árabes, entre eles Averrois, aju- dou Santo Agostinho a compreender os princípios da filosofia de Aristóteles, sem a qual Santo Agostinho não poderia construir seu próprio sistema filosófico. Aula 06 19Filosofia 2 Gabarito 06.01. c 06.02. b 06.03. d 06.04. b 06.05. e 06.06. a 06.07. d 06.08. b 06.09. d 06.10. a 06.11. d 06.12. b 06.13. d 06.14. b 06.15. c 06.16. c 06.17. a 06.18. 14 (02 + 04 + 08) 06.19. 13 (01 + 04 + 08) 06.20. 21 (01 + 04 + 16) 06.20. (UEM – PR) – A Patrística foi a Filosofia Cristã dos primeiros séculos de nossa era. Consistia na elaboração dou- trinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. Dado o encontro entre a nova religião e o pensamento filosófico greco-romano, o grande tema da Filosofia Patrística foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agostinho, expoente dessa filosofia, sobre a relação fé e razão, defendia a tese que se pode resumir nesta frase: “Credo ut intelligam” (Creio para entender). A esse respeito, assinale o que for correto. 01) Santo Agostinho retoma a célebre teoria platônica das Ideias à luz do cristianismo e formula a teoria da ilu- minação segundo a qual o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: à semelhança do sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. 02) De acordo com Santo Agostinho, a razão é superior e precede a fé; pois, se o homem, ser racional, for in- capaz de entender os ensinamentos religiosos, não poderá acreditar neles. 04) Segundo Santo Agostinho, a fé não conflita com a ra- zão, esta última seria auxiliar da fé e estaria a ela subor- dinada. 08) Para Santo Agostinho, fé e razão são inconciliáveis, pois os mistérios da fé são insondáveis e manifestam- -se como uma loucura para a razão humana. 16) A fé, para Santo Agostinho, não oprime a razão, mas, ao contrário, abre-lhe os olhos que a falta de fé manti- nha fechados. A partir dos princípios da fé, a razão, por suas próprias forças, deduzirá consequências e tentará resolver os problemas que Deus deixou para nossas livres discussões. 20 Extensivo Terceirão Filosofia 2 Filosofia e Idade Moderna Aula 07 Estados se fortalecem, a Igreja racha A passagem do século XV para o XVI foi marcado por mudanças que vinham sendo gestadas há tempos, tanto nas ideias quanto nas ações. Uma delas foi a Reforma Protestante. Martinho Lutero, religioso agostiniano e professor em Wittenberg, em 1517, fixou nas portas do castelo da cidadezinha um conjunto de teses contra a prática da venda de indulgências pelos católicos e iniciou uma revolução que mudou a Igreja para sempre. àquela pedrinha que rompe de vez o equilíbrio do morro e o faz desmoronar. “A gota-d’água”, como diz o ditado. O fato é que desde o século XIII a Igreja Cató- lica e o papado vinham sendo questionados em seus desvios dos evangelhos e pelo fausto e poder de seus representantes. O papado tornara-se um cargo muito mais político do que religioso e o desejo expansionista de Roma lembrava muito mais um Estado militarizado do que uma instituição religiosa. Toda essa gula expan- sionista da Igreja e a manutenção dos exércitos para tanto, exigia muitos recursos e várias foram as práticas pouco cristãs de arrecadação que foram usadas. “Im- postos” eclesiásticos, passando pela venda de peças sagradas – com um exagero tal que se dizia, na época, que se juntassem todos os fragmentos “originais” da cruz de Cristo que eram vendidos na Europa, daria para construir um navio – até a venda da absolvição antecipada, chamada de indulgências. © W ik im ed ia C om m on s Martinho Lutero (1483-1546) © W ik im ed ia C om m on s/ Ve st e Co bu rg É certo, sabemos, que as coisas não acontecem assim, movidas por uma só ação, como uma mágica ou um milagre. A atitude de Lutero se assemelha mais Ao mesmo tempo, as mudanças econômicas – consequências da crise do século XIV – desafiavam as populações mais pobres e as impeliam, mais do que nunca, à busca da salvação em Deus. Mas o Deus dos cristãos andava ávido demais por boas ações e boas obras como condição de se alcançar a Graça, e a po- breza da população em geral a condenava ao inferno
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