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Movimento de massa

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Movimento de Massa 
 
Movimento de Massa, também denominado como deslizamento, escorregamento, ruptura de talude, queda 
de barreiras, entre outros, se refere aos movimentos de descida de solos e rochas sob o efeito da 
gravidade, geralmente potencializado pela ação da água. 
O Brasil é considerado muito suscetível aos movimentos de massa devido às condições climáticas 
marcadas por verões de chuvas intensas em regiões de grandes maciços montanhosos (i). Nos centros 
urbanos os movimentos de massa têm tomado proporções catastróficas (ii). Atividades humanas como 
cortes em talude, aterros, depósitos de lixo, modificações na drenagem, desmatamentos, entre outras, têm 
aumentado a vulnerabilidade das encostas para a formação desses processos (iii). Essa condição é 
agravada, principalmente, quando ocorrem ocupações irregulares, sem a infraestrutura adequada, em áreas 
de relevo íngreme. 
Deste modo, considerando os mecanismos específicos e os diferentes materiais envolvidos, os movimentos 
de massa são classificados em quatro tipos principais: Quedas/Tombamentos/Rolamentos; 
Deslizamentos/Escorregamentos; Fluxo de Detritos e lama; e Subsidência e Colapsos (Figura 1) (iv,v). 
Contudo, os deslizamentos constituem o principal tipo de movimento de massa monitorado e alertado pelo 
Cemaden. 
 
 
PESQUISA I 
 
Documentos obtidos pela polícia e pelo Ministério Público indicam que já havia sinais de pré-ruptura da 
barragem do Fundão, em Mariana, em 2014, um ano antes do desastre que comprometeu quase 700 
quilômetros do rio Doce, entre Minas Gerais e Espírito Santo, e matou 19 pessoas. 
 
Em agosto de 2014, uma equipe de inspeção da Samarco verificou o surgimento de trincas no alto de um 
dos paredões da barragem, o que poderia indicar o início de um movimento de todo o maciço. 
 
A reação da Samarco foi providenciar um aterro na base do paredão, o que fez com que sua equipe de 
engenheiros concluísse que a barragem estava estável. 
 
Mas o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, que projetou a barragem em 2007 e depois foi contratado pela 
Samarco como consultor, advertiu que a análise de estabilidade não estava considerando uma outra 
hipótese para as trincas: a de estar ocorrendo o que os especialistas chamam de liquefação estática, que é 
quando um material sólido passa a se comportar como um fluido. 
 
Isso acontece quando tem água demais nas fundações da represa, que também é feita de resíduos de 
mineração. 
 
Para o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador de Meio Ambiente do Ministério Público de 
Minas Gerais, essa foi a causa do rompimento da barragem. E a empresa não fez nada para impedir o que 
já estava apontado em seus próprios relatórios internos. 
 
Carlos Eduardo Ferreira Pinto: "Não combinam com água barragens. Ela se rompeu porque havia excesso 
de água dentro dela. Por que que houve excesso de água e por que isso não foi monitorado e por que que a 
Samarco não tomou as medidas necessárias para conter esse acúmulo de água indevido?" 
 
A liquefação, de acordo com o Ministério Público, poderia ter sido causada pelas sucessivas elevações da 
altura da barragem, feitas pela Samarco em função do crescente aumento da produção de pelotas de 
minério de ferro naquela unidade. 
 
Pimenta de Ávila recomendou a instalação de uma série de equipamentos que medem a pressão do solo, 
chamados piezômetros, para verificar se havia algum movimento. 
 
Ele pediu nova análise de estabilidade, assim como a correção do eixo da barragem. 
 
Naquele ponto, o eixo havia sido recuado para evitar uma pilha de rochas sem minério de ferro da Vale do 
Rio Doce, uma espécie de sobra sem valor da mineração. 
 
O recuo não estava previsto no projeto original nem no Manual de Operações da barragem, que estava 
desatualizado. E, pior: a altura da parede havia sido elevada em 25 metros nos doze meses anteriores. 
 
O promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto não tem dúvida de que o manual desatualizado impediu o 
monitoramento da possibilidade de liquefação, que acabou provocando o rompimento. 
 
Carlos Eduardo Ferreira Pinto: "Desde 2014 os próprios relatórios de estabilidade da Samarco traziam a 
informação de necessidade urgente de atualização da Carta de Risco e do Manual de Operação. Isso levou 
fatalmente ao material sujeito a liquefação, como monitoramento omisso e desatualizado quanto à análise 
de estabilidade. Os relatórios de estabilidade da Samarco não faziam análise da possibilidade de liquefação 
e é o que houve no rompimento." 
 
Documentos obtidos pelo Ministério Público indicam que a Samarco sabia do problema e que havia até uma 
estimativa de que seriam necessários 2 milhões de metros cúbicos de material, e um ano de serviço, para 
corrigir o eixo da barragem. 
 
Em depoimento à polícia, Pimenta de Ávila disse que as informações indicavam claramente que a barragem 
apresentava graves sinais de pré-ruptura. 
 
 
Ele recomendou reforço nas paredes e a volta do eixo da barragem ao projeto original. Nada disso foi feito e 
a Samarco se limitou a monitorar o solo e a fazer drenos para evitar o acúmulo de água na barragem. 
 
Um ano antes do alerta feito por Pimenta de Ávila, um relatório assinado por cinco engenheiros contratados 
pela Samarco já apontava que a barragem apresentava claros sinais de que a drenagem interna já se 
mostrava insuficiente. 
 
Para Marcelo Belisário, superintendente do Ibama em Minas Gerais, os diques feitos para escoar a água da 
barragem não eram suficientes. 
 
Marcelo Belisário: "Essas estruturas eram de diversas ordens, né. As principais eram diques. Em um único 
evento ele foi totalmente assoreado, em meio dia de chuva, tá. Então, a gente estava lidando com uma 
escala muito maior de evento que as ações tomadas não eram nem próximas das necessárias, né." 
 
Segundo o Ministério Público, em vez de resolver o problema, diante das evidências de risco, a empresa se 
limitou a adotar paliativos e nem as obras de drenagem estavam concluídas quando a barragem se rompeu. 
 
Durante as investigações, a Samarco negou ter sido alertada sobre os riscos de liquefação da barragem e 
informou que a ameaça não foi apontada em nenhum relatório de seus engenheiros. 
 
Em depoimento à comissão externa da Câmara que acompanhou o caso, o diretor de Projetos da Samarco, 
Maury de Souza Júnior, disse que a empresa sempre agiu de forma responsável. 
 
Maury de Souza Júnior: “A Samarco sempre teve o compromisso de ser uma empresa sustentável, de ser 
uma empresa responsável. Nós não fugiremos. Essa é uma forma de demonstrar para a sociedade o nosso 
compromisso e a nossa responsabilidade." 
 
O rompimento da barragem, em novembro de 2015, despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de 
minério no rio Doce, entre Minas Gerais e Espírito Santo, afetou 39 municípios, destruiu a fauna e a flora 
num percurso de quase 700 quilômetros e matou 19 pessoas. 
 
 
 
PESQUISA II 
 
Entenda como técnicas mais modernas de tratamento de resíduos da mineração poderiam ter impedido que 
o distrito de Bento Rodrigues fosse varrido do mapa 
 
 
Com 317 anos, o distrito de BentoRodrigues, na cidade mineira de Mariana, tinha história. O vilarejo de 600 
habitantes fez parte da rota da Estrada Real no século XVII e abrigava igrejas e monumentos de relevância 
cultural. Em 5 de novembro, em apenas onze minutos, um tsunami de 62 milhões de metros cúbicos de 
lama aniquilou Bento Rodrigues. Dez mortes haviam sido confirmadas até a tarde da última sexta-feira e 
dezoito pessoas continuavam desaparecidas. A onda devastou outros sete distritos de Mariana e 
contaminou os rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce. Moradores de cidades em Minas e no Espírito 
Santo tiveram a rotina afetada por interrupções no abastecimento de água. O destino final da lama deve ser 
o mar do Espírito Santo, onde o Rio Doce tem sua foz. O que causou a tragédia foi o rompimento de duas 
barragens no complexo de Alegria, da mineradora Samarco. As barragens continham rejeito, o resíduo não 
tóxico resultante da mineração de ferro. 
 
Eram três as barragens de rejeito em Alegria: a de Germano, a de Fundão e a de Santarém. Todas 
operavam segundo o sistema de aterro hidráulico, tradicional e empregado em todo o mundo. Ele conta com 
a ação da gravidade para fazer com que os resíduos separados do ferro escoem até bacias. A parte frontal 
dessas bacias é feita de areia, para filtrar a água. O Ministério Público de Minas Gerais e a Polícia Civil 
abriram inquéritos para apurar as causas do desastre, mas uma resposta satisfatória não deve vir antes de 
seis meses. A principal hipótese levantada pelos técnicos, contudo, é que tenha ocorrido o processo de 
liquefação, que se dá quando essa camada arenosa externa, em vez de expelir, retém a água. Uma 
variação brusca na pressão interna do depósito de rejeito pode então transformar areia em lama, que não 
consegue mais conter os resíduos que estão atrás. Isso explicaria o rompimento da barragem de Fundão — 
o que arrasou a de Santarém e tudo o mais que havia pela frente. Dois abalos sísmicos de pequena 
magnitude registrados na região pouco antes da tragédia podem ter acarretado a mudança de pressão na 
barragem — hipótese que também precisa de comprovação. 
 
Segundo a lei, empresas que exercem atividades com riscos conhecidos, como a mineração, assumem o 
ônus por eventuais acidentes. Por isso, o monitoramento das barragens é um dos pontos críticos do 
empreendimento. “Os rejeitos se acumulam, e os engenheiros vão ampliando as estruturas”, diz o professor 
de geologia de engenharia da USP Edilson Pissato. Há depósitos com 200 metros de altura. O de Fundão 
tinha 90 metros. Existem técnicas mais modernas para lidar com o rejeito, que usam filtros para garantir sua 
drenagem. Seus custos podem encarecer a exploração de uma jazida em até seis vezes. “Por isso, as 
mineradoras acabam assumindo o risco de usar os processos tradicionais”, diz Pissato. A ONG International 
Commission on Large Dams (Icold) calcula que ocorrem em média dois rompimentos como o de Mariana 
por ano no mundo. 
 
Além da tragédia humana, o desastre em Mariana teve impacto ambiental difícil de avaliar. O Ibama já 
aplicou multas preliminares no valor de 250 milhões de reais à Samarco. A mineradora deverá arcar ainda 
com a indenização às pessoas afetadas e com os custos de reconstrução da região atingida. Na última 
sexta-feira, a Justiça de Minas bloqueou 300 milhões de reais da conta da Samarco para garantir esses 
pagamentos. Executivos do setor classificam o evento como o “11 de setembro” do segmento. Todos 
esperam um endurecimento das regras para as mineradoras. Há um novo Código de Mineração em 
tramitação na Câmara dos Deputados, e é certo que ele venha a incluir emendas que obriguem as 
mineradoras a intensificar o monitoramento de suas bacias de rejeito. “Depois de Mariana, ninguém mais vai 
conseguir licença para construir barragem sem filtro. A sociedade não vai aceitar mais correr esses riscos”, 
diz o engenheiro e geotécnico Joaquim Pimenta de Ávila. O Brasil abriga cerca de 800 barragens como as 
que se romperam, liberando a lama que arrastou vidas e patrimônio incalculável em seu caminho.

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