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O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O SENSO COMUM O conhecimento pode ser definido como uma representação intelectual significativa da realidade. Dependendo da forma pela qual se chegou a essa representação, sua classificação pode ser bem diversa: mítico, ordinário, artístico, filosófico, religioso e científico. Sendo o conhecimento científico e o senso comum (ou ordinário) são aqueles que estão mais presentes no cotidiano do homem. 1 O conhecimento do senso comum É a forma de conhecimento mais utilizada pelo homem para interpretar a si mesmo, o mundo à sua volta e o universo como um todo. Também denominado como conhecimento ordinário, comum ou empírico, esse conhecimento surge como conseqüência da necessidade de se resolver problemas da vida prática, aqueles que surgem a partir do contato direto com os fatos e fenômenos do dia-a-dia. A percepção sensorial é o seu principal instrumento de análise. Veja, por exemplo, o homem pré-histórico, como aprendeu a se esconder da chuva em cavernas, a elaborar instrumentos mais eficazes para a pesca e para a caça, a cultivar plantas para sua sobrevivência, a fazer fogo, a navegar, a fazer remédios caseiros, etc.? Este aprendizado que lhe permitiu passar à criação de instrumentos mais eficazes como as redes de pesca, a roda, as armadilhas, os tecidos, os utensílios domésticos, bem como as leis que regulamentavam a convivência dos indivíduos em grupos sociais, foi gerado a partir da necessidade utilitária de se produzir soluções para os problemas cotidianos; não é algo planejado, programado, se desenvolve à medida em que a vida vai acontecendo. O conhecimento do senso comum é espontâneo, instintivo, não-metódico e vivencial, caracterizando-se principalmente por um caráter utilitarista, subjetivo e com baixo poder de crítica. Pois, trata-se de um conhecimento que não passa por um aprofundamento crítico e racionalista, não apresenta fundamento teórico que demonstre ou justifique seu uso ou confiabilidade. Somente a recorrência na resolução dos problemas cotidianos é que o transforma em uma crença, uma convicção passada de uma geração para outra. O uso das ervas medicinais (erva cidreira, macela, camomila, funcho, etc.) é um bom exemplo de conhecimento empírico, a maioria das pessoas que faz uso delas não sabe quais são as propriedades químicas que garantem os efeitos proporcionados ao doente. Outro exemplo: o açúcar cristal, sabe-se de seu alto poder bactericida e cicatrizante, mas a maioria das pessoas também não estudou suas propriedades químicas. Outra característica do conhecimento do senso comum é a subjetividade: este tipo de saber é predeterminado por crenças, interesses, classe social, convicções pessoais e expectativas presentes nos sujeitos que o elaboram; de forma que a busca sistemática por provas e evidências que o teste criticamente não é de interesse de seus detentores. Os conceitos e os termos empregados para expressar ou descrever este conhecimento geralmente são vagos, porque geralmente estão ligados a experiências individuais, a situações particulares. A vagueza na linguagem com o qual é descrito colabora com impossibilidade de controle e avaliação experimental - suporte essencial do conhecimento científico. Há um outro problema em relação ao conhecimento ordinário que é a generalização de sua aplicação por uma inconsciência dos seus limites de validade. Por vezes, as condições determinantes de um fato são diferentes, mas os mesmos conhecimentos, as mesmas técnicas são aplicadas na solução dos problemas. Veja, por exemplo, o caso de agricultores leigos que, sem conhecimento técnico, utilizam o sistema de poda, enxerto, adubação e relação do plantio com as fases da lua, e, se, às vezes, algum dos fatores dessas condições muda, a eficiência desse saber é ameaçada. Este ponto caracteriza também o senso comum como um conhecimento fragmentado. O conhecimento científico O conhecimento científico surge da necessidade de o homem não assumir uma posição meramente passiva diante dos fenômenos. Assim, para que possa desvelar o mundo, compreendê-lo, explicá-lo e dominá-lo, é necessário ao ser humano propor uma observação mais sistemática, metódica e crítica diante dos fatos. O que impulsiona o homem à ciência é a necessidade de compreender a cadeia de relações que se esconde por trás das aparências sensíveis dos objetos, fatos ou fenômenos, captadas pela percepção sensorial e analisadas de forma superficial, subjetiva do senso comum. Desta forma, para se descobrir os princípios explicativos que servem de base para a compreensão da organização, classificação e ordenação da natureza em que se está inserido, é necessária uma observação do objeto de interesse pautada por princípios científicos que orientem o pesquisador. Esses princípios devem ser expressos na forma de enunciados que expliquem as condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos relacionados a um problema. Reside aí, por exemplo, a importância de uma linguagem clara e objetiva na elaboração de projetos de pesquisa científica, bem como dos relatórios resultantes destes. Por ser resultante do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas e da discussão acadêmica, o conhecimento científico é produto da necessidade de um conhecimento “seguro”, que vá além do imediatismo e da “crendice” do senso comum, das religiões e das mitologias. A investigação científica é a construção e a busca de um saber que acontece no momento em que se reconhece a ineficácia dos conhecimentos já existentes, é uma modificação, uma ampliação, uma substituição do conhecimento já existente por outro que possa responder a pergunta em questão. O conhecimento científico, na sua pretensão de encontrar respostas seguras para dúvidas existentes, propõe-se atingir a dois ideais: da racionalidade e da objetividade. De maneira que a investigação científica tem seu início quando: a) identifica-se uma pergunta que ainda não tenha resposta; b) verifica-se que o conhecimento existente sobre ela é insuficiente para respondê-la; c) percebe-se que é necessário construir uma resposta para essa dúvida e d) que esta resposta ofereça provas de segurança e confiabilidade que justifiquem a crença de que ela é uma boa resposta. O ideal de racionalidade está em atingir uma sistematização coerente, lógica, do conhecimento presente em todas as suas leis e teorias. As contradições entre as explicações que porventura componham o corpo de um conhecimento devem ser eliminadas. A ciência, ao sistematizar um conhecimento, procura unir as diferentes teorias ao estabelecer relações entre os enunciados, de forma que possa haver uma visão global sobre o assunto e sem inconsistências. Um mecanismo de eliminação de incoerências nos enunciados científicos, nas teorias e leis da ciência são os padrões de verdade sintática. Os enunciados devem estar livres de ambigüidades e contradições lógicas. No plano sintático não se verifica sobre a falsidade ou veracidade de um conteúdo empírico de um enunciado, apenas sobre o seu grau de logicidade interna ou externa e até que ponto suas afirmações concordam ou discordam entre si e do paradigma dominante. Por exemplo, veja as divergências entre os modelos cosmológicos de Ptolomeu, Galileu e Einstein: o primeiro modelo geocêntrico tem a Terra como centro fixo, o universo é finito e fechado, já no segundo modelo, heliocêntrico, a Terra gira em torno do seu próprio eixo, o universo é finito e não fechado; enquanto para Einstein, o centro é desconhecido, o universo é aberto, sem limites e em expansão. Já o ideal de objetividade tem em vista que as teorias científicas sejam construções conceituais que representem com fidelidade o mundo real, que contenham imagens sejam “verdadeiras”, evidentes, impessoais, passíveisde experimentações e aceitas pela comunidade científica como provadas em sua veracidade. Esse mecanismo avalia a verdade semântica. As teorias devem poder testadas através de provas factuais e seus resultados devem poder ser submetidos à avaliação crítica intersubjetiva da comunidade científica. A ciência exige o confronto da teoria com os dados empíricos, exige a verdade semântica como um dos mecanismos utilizados para justificar a aceitabilidade de uma teoria. Porém, para que se garanta que uma pesquisa científica não seja influenciada pela ideologia, pela visão de mundo, pelos elementos culturais, pela época, como também pela formação de mundo do cientista que a realiza, é necessário que haja uma intersubjetividade, uma possibilidade de a comunidade científica ajuizar sobre a investigação, seus resultados e métodos utilizados. É a intersubjetividade que proporciona a verdade pragmática. Os enunciados científicos devem poder ser submetidos a testes, em qualquer época e lugar por qualquer sujeito. Ao contrário do senso comum, portanto, o conhecimento científico não aceita a opinião ou o sentimento de convicção como fundamento para justificar a aceitação de uma afirmação. A investigação científica é estimulada a criar fundamentos mais sólidos para seus conhecimentos e a testar permanentemente suas hipóteses de uma forma mais rígida e severa. Já em termos de linguagem, no conhecimento científico - contrariamente ao do senso comum - há o uso de construtos, formulações que apresentam os conceitos de maneira unívoca, consensual e universal, para que se reduza ao máximo a ambigüidade e a vagueza destes. O uso dos construtos permite um maior poder de testes dos enunciados, e por conseqüência, um aumento na discriminação de quais são as observações empíricas adequadas para a validação de uma observação ou experimento. Percebe-se a partir desta característica que o conhecimento científico tem um poder de crítica maior do que o do senso comum, mas isto não lhe confere maior estabilidade ou dogmatismo, muito pelo contrário, as teorias científicas estão cada vez mais vulneráveis à localização de erros, assumindo seu caráter hipotético e suscetíveis à reformulação. Mas para que um conhecimento seja aceito como científico, ele deve satisfazer a critérios que justifiquem a sua aceitação. Quais são esses critérios? Em primeiro lugar, deve haver um método, um procedimento com passos e rotinas específicas, que indique como algo deve ser feito para ser considerado ciência. Em segundo lugar, deve se atentar que os critérios de cientificidade estão atrelados à cultura e à história das diferentes épocas. Fatores históricos determinam a produção científica, tanto pela questão da disponibilidade técnica de instrumentos que é constante mente aperfeiçoada, quanto porque não há uma racionalidade científica abstrata, autônoma, que independa dos fatores culturais de cada época. Reconhece-se aqui, o caráter permanentemente hipotético do conhecimento científico: já que as explicações serão sempre provisórias, tem-se que admitir que este tipo de conhecimento também está suscetível a falhas. Desta forma, pode-se dizer que o conhecimento científico é uma retomada constante das teorias e problemas do passado e do presente, através da crítica severa e sistemática de seus próprios postulados e métodos. Köche, J. C. Fundamentos de Metodologia Científica: Teoria da Ciência e Prática da Pesquisa. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. PESQUISA TEÓRICA X PESQUISA EMPÍRICA Toda pesquisa parte de um problema: uma determinada situação ou condição e conseqüências indesejáveis que queremos solucionar. Quanto maiores as conseqüências da condição, mais importante é o problema. Pesquisa teórica - Trata-se da pesquisa que é "dedicada a reconstruir teoria, conceitos, idéias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos" (Demo, 2000, p. 20). Esse tipo de pesquisa é orientada no sentido de re-construir teorias, quadros de referência, condições explicativas da realidade, polêmicas e discussões pertinentes. A pesquisa teórica não implica imediata intervenção na realidade, mas nem por isso deixa de ser importante, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a intervenção. "O conhecimento teórico adequado acarreta rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada, capacidade explicativa" (DEMO, 1994) A pesquisa teórica tem por objeto a análise de uma norma, teoria ou conceito, isolado do contexto social em que se manifesta. Portanto, a solução do problema não é buscada no mundo fático, mas é concebida na mente do pesquisador a partir da análise das teorias. Na pesquisa “pura”, básica ou formal – a solução de um problema de pesquisa não tem nenhuma aplicação aparente em um problema prático, mas apenas satisfaz o interesse erudito de uma comunidade de pesquisadores. Por exemplo, para os astrônomos, não saber quantas estrelas há no céu é parte de um problema de pesquisa pura, de grande significado para eles. Sem conhecer este número, não poderão calcular a massa total do universo. Se pudessem calcular essa massa, poderiam descobrir se o universo continuará a expandir-se até se dissolver, transformando-se em nada, ou se encolherá, explodindo na criação de um novo universo. Ex. de problema de pesquisa pura: 1 – Tópico: estou estudando a densidade da luz e outras radiações eletromagnéticas em um pequeno setor do universo, 2 – Indagação: porque quero descobrir quantas estrelas há no céu, 3- Exposição de motivos: a fim de entender se o universo se expandirá para sempre ou se contrairá, causando um novo Big Bang. Este é um problema de pesquisa, porque a pergunta implica que não sabemos algo. É um problema de pesquisa pura porque seu fundamento lógico implica não algo que faremos, mas algo que não sabemos, mas devemos saber. Pesquisa empírica - É a pesquisa dedicada ao tratamento da "face empírica e fatual da realidade; produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e fatual" (Demo, 2000, p. 21). A valorização desse tipo de pesquisa é pela "possibilidade que oferece de maior concretude às argumentações, por mais tênue que possa ser a base fatual. O significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes dados agregam impacto pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática" (Demo, 1994, p. 37). A pesquisa empírica tem como objeto uma realidade determinada, enquanto a pesquisa teórica tem como objeto teorias e conceitos. Portanto, a pesquisa empírica distingue- se da pesquisa teórica pelo seu objeto. No que concerne aos meios utilizados por uma e por outra, esses são, no geral, os mesmos; ambas operam, no tratamento do seu objeto, com teorias, com conceitos e com informações sobre a realidade. A observação direta (espontânea ou dirigida), a coleta e análise de documentos, a aplicação de questionários (abertos ou fechados) e as entrevistas (espontâneas ou dirigidas) são alguns dos principais procedimentos da pesquisa empírica. Nem sempre, porém, é possível obter os dados de forma direta, através dos procedimentos acima. Assim, na pesquisa empírica, poderá o pesquisador valer-se de dados obtidos indiretamente que podem ser encontrados em livros, em artigos de periódicos e em todo e qualquer material bibliográfico impresso ou informático. Ainda que o ideal – até por uma questão de confiabilidade dos dados – seja obter os dados diretamente, vale lembrar que o pesquisador empírico não necessita obrigatoriamente realizar trabalhos de campo, pois muitos dos dados da realidade social, política e econômica de seu problema podem perfeitamente ser encontrados em material bibliográfico das mais diversas fontes. O que caracteriza a pesquisa empírica nãoé a coleta dos dados, mas sim a postura do pesquisador em relação ao objeto da pesquisa: enquanto na pesquisa teórica a solução do problema encontra-se na teoria, na norma, no conceito, na pesquisa empírica deverá o pesquisador buscá-la na realidade social. Ex 1: :o cobre é condutor de eletricidade; o ferro, o zinco e a prata também...logo, todo o metal é condutor de eletricidade. As ciências aplicadas partem da observação da realidade e utilizam pesquisa experimental, descritiva (qualitativa ou quantitativa) e a exploratória. Ex. 2: 1 – Tópico: estou estudando a diferença entre as leituras do telescópio Hubble, em órbita acima da atmosfera, e leituras das mesmas estrelas pelos melhores telescópios da superfície terrestre, 2 – Indagação: porque quero descobrir quanto a atmosfera distorce as medidas da luz e de outras radiações eletromagnéticas, 3 – Exposição de motivos: a fim de medir com maior precisão a densidade da luz e de outras radiações eletromagnéticas num pequeno setor do universo. Tanto a pesquisa pura quanto a aplicada podem ser teóricas ou experimentais. A pura se propõe unicamente a enriquecer o conhecimento humano, geralmente de interesse do pesquisador (por motivos cognoscitivos). Para a ciência aplicada, a ciência pura ou básica é um meio e não um fim. Ciência aplicada é “o conjunto das aplicações da ciência básica” (Bunge, 1980, p.28), sendo portanto, indissociáveis. Questionário e exercícios de abstração da teoria 1. O que é e para que serve o conhecimento do senso comum? 2. Dê exemplos de saberes populares que podem ser considerados conhecimento empírico. 3. O que diferencia basicamente o conhecimento de senso comum e do científico? 4. Numere a 2 a coluna de acordo com a 1 a e responda, observando as seguintes instruções: 1. conhecimento científico 2. conhecimento popular ( ) saber como os peixes respiram ( ) saber a época de semear o milho ( ) tomar chá de erva cidreira como calmante ( ) esperar que partos aconteçam na mudança da fase lunar ( ) saber como preparar um bolo ( ) saber fabricar vacinas 5. Conhecimento empírico é a mesma coisa que pesquisa empírica? Explique sua resposta. 6. Tente elaborar uma lista de exemplo de pesquisa teórica e empírica. OS QUATRO TIPOS DE CONHECIMENTO O progresso cientifico, de forma geral, é um produto da atividade humana, para a qual o homem, compreendendo o que o cerca, passa a desenvolvê-lo para novas descobertas. E, por relacionar-se com o mundo de diferentes formas de vida, o homem utiliza-se de diversas formas de conhecimentos, por intermédio dos quais ele evolui e faz evoluir seu habitat. Dentre estes tipos de conhecimentos encontram-se o filosófico, o teológico, o empírico e o científico. O CONHECIMENTO POPULAR, SENSO COMUM OU EMPÍRICO É um conhecimento que se adquire independentemente de estudos, de pesquisas, de reflexões ou de aplicações de métodos. Geralmente é adquire-se na vida quotidiana e, muitas vezes, ao acaso; está fundamentado apenas em experiências vivenciadas ou transmitidas de pessoas para pessoas; faz parte das antigas tradições. Este conhecimento também pode derivar de experiências casuais, por meio de erros e acertos, sem a fundamentação dos postulados metodológicos; ou seja, é um conhecimento essencialmente de ordem prática. O primeiro nível de contato do intelecto com o mundo sensível se faz pelo conhecimento empírico, que se contenta com as imagens superficiais das coisas, com a visão ingênua do contexto exterior. Para Köche, "esse conhecimento, por suas características, não estabelece relações significativas de suas interpretações, proporcionando uma imagem fragmentaria da realidade. A forma pela qual se produz, somente proporciona condições de estabelecer relações entre as informações conseguidas de uma forma vaga e superficial". As declarações do conhecimento empírico referem-se à vivência imediata sobre os objetos ou fatos observados, e possui grandes limitações. Por ser um conhecimento do "dia-a- dia" é preso a convicções pessoais, pode ser incoerente e até impreciso. Outras vezes, produz crenças arbitrárias com inúmeras interpretações para a complexidade de fatos. Geralmente, é fruto de uma inclinação de interesses voltados para os assuntos práticos e aplicáveis somente às áreas de experiência quotidiana. Por exemplo, pelo conhecimento empírico, os indivíduos sabem o que são folhas de uma planta ornamental, porém não conhecem sua classificação (ou seja, uma folha, quando completa, apresenta as seguintes partes: bainha, pecíolo e limbo), pois isto é assunto que compete à área da Botânica. É um conhecimento limitado, que não proporciona visão unitária global da interpretação das "coisas" ou fatos. O conhecimento de senso comum é considerado prático; sua ação se processa segundo conhecimentos adquiridos em ações anteriores, que não revelam relação científica, metódica, ou teórica. Quando obtido por informações, estas estão ligadas a uma ação humana. Seus acontecimentos procedem da vivência e parecem contidos previamente dentro dos limites do mundo empírico. Exemplificando: as pessoas que sabem escrever conhecem o objeto lápis, porém poucas são as que notaram que ele é composto de grafite, um condutor de energia. Reparem que o conhecimento empírico é a estrutura para se chegar ao conhecimento científico; embora de nível inferior, não deve ser menosprezado. Ele é a base fundamental do conhecer, e já existia muito antes de o ser humano imaginar a possibilidade da existência da ciência. O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente (que conhece algo) e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A característica de assistemático baseia-se na "organização" particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia-a-dia. Finalmente é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas. Exemplo: desde a Antiguidade, até os nossos dias, um camponês, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a serem tomadas para a defesa das plantações de ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. No período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira "em repouso", alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa única faixa. O início da revolução agrícola não se prende ao aparecimento, no século XVII, de melhores arados, enxadas e outros tipos de maquinaria, mas à introdução, na segunda metade do século XVI, da cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o desperdício de deixar a terra emrepouso: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo o uso constante. Trata-se de conhecimento vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em intuição e experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo reprodutivo dos insetos etc. CONHECIMENTO CIENTÍFICO O conhecimento científico pressupõe uma aprendizagem superior. Ele se caracteriza pela presença do acolhimento metódico e sistemático dos fatos da realidade sensível. Através da classificação, da comparação, da aplicação dos métodos, da análise e síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do universo, princípios e leis que estruturam um conhecimento rigorosamente válido e universal. O conhecimento científico preocupa-se com a abordagem sistemática dos fenômenos (objetos), tendo em vista seus termos relacionais que implicam noções básicas de causa e efeito. Ele difere do conhecimento empírico pela maneira de conhecer e pelos instrumentos metodológicos que utiliza. O conhecimento científico, englobando as seqüenciais de suas etapas, configura um método. De maneira geral, ele se prende aos fatos, isto é, tem uma referência empírica; embora parta deles, ele os transcende. Ele se vale da testagem empírica, a fim de formular respostas aos problemas colocados e para apoiar suas próprias afirmações. Geralmente, exige constante confrontação com a realidade e procura dar forma de problema mesmo do que já está aceito. Suas formulações são gerais, embora o objeto particular ou o fato singular interesse à medida que este pertence a uma classe ou a uma lei. Contudo, sempre se pressupõe que todo fato ou objeto é classificável e para estudo. Os eventos históricos apontam para inúmeras descobertas científicas. Como ilustração, podemos mencionar na área das ciências médicas, o medico e cientista brasileiro Vital Brasil, que desenvolveu um antídoto para a picada de cobras venenosas. O soro antiofídico que conseguiu preparar tornou-se conhecido e aplicado em todo o mundo. O conhecimento científico procura alcançar a verdade dos fatos (objetos) e depende da escala de valores e das crenças dos cientistas; ele resulta de pesquisas metódicas e sistemáticas da realidade. Segundo Galliano, "como o objeto da ciência é o universo material, físico, naturalmente perceptível pelos órgãos dos sentidos ou mediante ajuda de instrumentos de investigação, o conhecimento científico é verificável na prática, por demonstração ou experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos da realidade, ele os explica e demonstra com clareza e precisão, descobre suas relações de predomínio, igualdade ou subordinação com outros fatos ou fenômenos. De tudo isso conclui leis gerais, universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie". O conhecimento científico se apresenta em função da necessidade de o ser humano estar constantemente procurando aperfeiçoar-se e não assumir uma postura simplesmente passiva, observando os fatos ou objetos, "sem poder de ação ou controle dos mesmos". Compete ao ser humano, fazendo uso de seu intelecto, desenvolver formas sistemáticas, metódicas, analíticas e críticas da missão de inventar e comprovar novas descobertas científicas. Para Popper, "o conhecimento que deve descrever e explicar-nos o mundo, sempre forma parte do mundo existente; por esse motivo, podem sempre surgir novas entidades com quem ele terá de haver-se (...), não temos conhecimento que vá além da experiência, mas, em momento algum, estamos autorizados a considerar complexa a experiência. Dessa maneira, o conhecimento, mesmo em seu grau mais alto, nada mais nos proporciona que um segmento do mundo existente. Toda realidade, verificamos, é em si mesma parte de uma realidade mais ampla". A literatura metodológica mostra que o conhecimento científico é adquirido pelo método científico e, sem interrupção, pode ser submetido a teste e aperfeiçoar-se, reformular-se ou até mesmo avantajar-se mediante o mesmo método. Para melhor entendimento, segue um exemplo dos avanços científicos na área da informática: a evolução dos microcomputadores, cuja primeira geração iniciou por volta de 1951 a 1957, com válvulas eletrônicas. Os conhecimentos foram aperfeiçoados e, de 1957 a 1964, apareceu no mercado o microcomputador com transistores. A terceira geração ocorreu por volta de 1964 a 1970, com circuitos integrados. Os conhecimentos foram melhorados e, de 1970 até os dias atuais, temos no mercado os computadores de última geração, que são os microcomputadores. O conhecimento não parou aí. Temos notícias de que, no Japão, com o andamento dos conhecimentos científicos, já estão desenvolvendo os microcomputadores da quinta geração; posteriormente outros surgirão. As mudanças tecnológicas marcantes que ocorreram de geração para geração foram: diminuição de tamanho, aumento da capacidade de processamento, redução de custo, aumento da velocidade de processamento etc. Reparem que, no conhecimento científico, ocorre uma retomada constante de novas descobertas ou ampliações, do passado para o presente, através dos procedimentos metodológicos. O conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda "forma de existência que se manifesta de algum modo" (Trujillo, 1974:14). Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente. Apesar da separação "metodológica" entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas áreas: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados. Por sua vez, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum. Exemplo: Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos químicos, de defensivos contra as pragas e hoje há o controle biológico dos insetos daninhos e pragas (cultivo orgânico). O conhecimento científico é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizantedo que a relacionada com um simples fato - urna cultura específica, de trigo, por exemplo. Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento Científico O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer". Saber que determinada planta necessita de uma quantidade "X" de água e que, se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espécie de outra. Dessa forma, patenteiam-se dois aspectos: a) A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade. b) Um mesmo objeto ou fenômeno - uma planta, um mineral, uma comunidade ou as relações entre chefes e subordinados - pode ser matéria de observação tanto para o cientista quanta para o homem comum; o que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação. Para Bunge (1976:20), a descontinuidade radical existente entre a Ciência e o conhecimento popular, em numerosos aspectos (principalmente no que se refere ao método), não nos deve fazer ignorar certa continuidade em outros aspectos, principalmente quando limitamos o conceito de conhecimento vulgar ao "bom-senso". Se excluirmos o conhecimento mítico (raios e trovões como manifestaç6es de desagrado da divindade pelos comportamentos individuais ou sociais), verificamos que tanto o "bom-senso" quanto a Ciência almejam ser racionais e objetivos: "são críticos e aspiram à coerência (racionalidade) e procuram adaptar-se aos fatos em vez de permitir-se especulações sem controle (objetividade)". Entretanto, o ideal de racionalidade, compreendido como uma sistematização coerente de enunciados fundamentados e passiveis de verificação, é obtido muito mais por intermédio de teorias, que constituem o núcleo da Ciência, do que pelo conhecimento comum, entendido como acumulação de partes ou "peças" de informação frouxamente vinculadas. Por sua vez, o ideal de objetividade, isto é, a construção de imagens da realidade, verdadeiras e impessoais, não pode ser alcançado se não ultrapassar os estreitos limites da vida cotidiana, assim como da experiência particular; é necessário abandonar o ponto de vista antropocêntrico, para formular hipóteses sobre a existência de objetos e fenômenos além da própria percepção de nossos sentidos, submetê-los à verificação planejada e interpretada com o auxílio das teorias. Por esse motivo é que o senso comum, ou o "bom-senso", não pode conseguir mais do que uma objetividade limitada, assim como é limitada sua racionalidade, pois está estreitamente vinculado à percepção e à ação. O CONHECIMENTO FILOSÓFICO A filosofia teve seu início na Jônia (Ásia Menor), com Tales de Mileto, e na Magna Grécia (Sul da Itália), no século VI a.C. Após o sucesso de Atenas na luta contra os persas, desviou-se e expandiu a sabedoria na Grécia, e tiveram grande destaque nesses conhecimentos Sócrates (por volta de 469-399 a.C.) e Platão (mais ou menos 427-347 a.C.) e Aristóteles (aproximadamente, 384-322 a.C.). Por conseguinte, o pensamento filosófico foi difundindo-se por todo o mundo civilizado, com uma tradição que prevalece até os dias atuais. O grande mérito da filosofia é justamente desenvolver no ser humano a possibilidade de reflexão ou a capacidade de raciocínio. Ela não e uma ciência propriamente dita, mas a busca do saber.A filosofia, ou seja, a reflexão crítica, deve ser uma atitude de todas as pessoas que se propõem a fazer qualquer estudo, pois exercita e educa o intelecto; caso o homem não se esforce para isso, seu raciocínio tende a atrofiar-se.Em filosofia, podemos falar principalmente em duas posturas que conduzem à reflexão. A primeira tem como ponto de partida os objetos reais e é denominada de realismo; a segunda tem como ponto de partida as idéias, e é designada idealismo. Ambas as posturas são criticadas pelos estudiosos. Segundo Jolivet, "o problema do alcance do conhecimento é um problema distinto do precedente, porque o fato certo de que somos capazes de chegar ao verdadeiro deixa subsistir a questão de saber que verdades ou que coisas somos efetivamente suscetíveis de conhecer". Podemos, aqui, distinguir duas opiniões que contêm, cada uma, muitas variedades: uma afirma que só podemos conhecer idéias (idealismo) e outra admite conhecermos as coisas reais (realismo). O idealismo proposto por Descartes consiste em dizer que o homem não conhece diretamente e imediatamente, a não ser seu próprio pensamento. O idealismo faz as seguintes colocações: a) o imanente do conhecer - o princípio de imanência do conhecer é considerado pelo idealismo como evidente. A demonstração que ele se propõe dar consiste em dizer que a razão para conhecer não pode sair de si para vagar nas coisas, não tem mais do que a aparência de demonstração. O princípio de imanência é um puro postulado. b) A crítica das noções de substância e de matéria - a idéia de substância é inconsciente. "A matéria não é nem isto nem aquilo, nem nada de determinado", segundo Berkelea, citado em Curso de filosofia, de Jolivet. Ela é, então, absolutamente impensável e não corresponde a nada real. Conclui-se que todo real se reduz a fenômenos, que nada mais são do que as idéias. Ser, nesta concepção, é perceber ou ser percebido. O realismo é a doutrina que professa a realidade do mundo exterior. O realismo faz os seguintes enunciados: a) o objeto da inteligência, afirmando a realidade objetiva do ser, é ordenar o conhecimento do ser; para o realismo o objeto da inteligência é realmente a universalidade do ser. É daí que nasce em nós o desejo de saber sempre mais, de tudo penetrar e abarcar pelo próprio espírito. b) Os limites efetivos da razão humana, observando por outra parte, é que nossa inteligência é condicionada em seu exercício por órgãos corporais; o realismo não conseguiria esquecer os limites efetivos de nosso conhecimento, limitado por um máximo e por um mínimo. A reflexão fundamenta-se sobretudo na crítica analítica e sistemática em nome de todas as "coisas", objetos reais e sobre as questões ideais que envolvem o pensamento e a ação humana. Entende-se que o conhecimento filosófico extrai tanto das ciências já existentes, como das demais preocupações da inteligência do homem, suas metas gerais. A evolução das ciências de modo geral não poderia progredir de forma rápida se não fosse com o auxílio do conhecimento da filosofia dos séculos XV e XVI. Com base nas reflexões, por exemplo, dos estudos de Galileu, que relacionou as leis do movimento, surgiu a mecânica clássica; as invenções de Newton adquiriram autoridade nas ciências físicas só comparável à de Aristóteles com a Lógica e tantos outros estudiosos tradicionais. O conhecimento filosófico conduz a uma reflexão crítica sobre os fenômenos e possibilita informações coerentes. Seu objetivo é o desenvolvimento funcional da mente, procurando educar o raciocínio. O estudioso, ao obter as informações das operações mentais e de todas as formas de processá-lo, chega habitualmente a um raciocínio 1ógico e a um espírito científico. É a razão que nos dá o conhecimento; a intuição nos oferece o fato de que a razão coordena, analisa e sintetiza numa visão clara e ordenada. Assim, percebe-se que o homem atrai pelo intelecto, a razão deduz e induz e ainda demonstra, atraindo também relações entre os fatos (objetos) de estudos. Segundo Wittgenstein, "o filósofopensante não percebe que seus conceitos não poderão jamais ser optativos dentro de limites precisos, pois é o cientista, e não ele, que pode traçar limites precisos; o cientista pode responder às questões que se coloca". Daí dizer-se que não se deve ficar num eterno filosofar. Refletindo sobre a maneira pela qual conhece o objeto de estudo, a inteligência apreende o objeto concreto; e, ao apreendê-lo, alia-se com o objeto que percebe. Reparem que o conhecimento filosófico não está isolado no topo da atividade intelectual. Ele oferece as ciências de todas as áreas do saber seus princípios, enquanto o conhecimento científico oferece à filosofia novos dados, capazes de transformar os princípios gerais e reformulá-los, e torná-los passíveis de novas descobertas. Existe profunda interdependência entre o conhecimento filosófico e os demais conhecimentos, como o científico, o teológico e o empírico. O conhecimento filosófico unicamente guia para a reflexão e conduz à elaboração de princípios e de valores universais válidos para a ciência. Não está isolado dos demais tipos de conhecimentos; ele é um elemento dinâmico e operante no processo geral do conhecimento humano. O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: "as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação" (Trujillo, 1974:12); por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-Ia em sua totalidade. Por último, é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana. Assim, se o conhecimento científico abrange fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos, através do emprego de instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos), como a que é exigida pela ciência experimental. O método por excelência da ciência é o experimental: ela caminha apoiada nos fatos reais e concretos, afirmando somente aquilo que é autorizado pela experimentação. Ao contrário, a filosofia emprega "o método racional, no qual prevalece o processo dedutivo, que antecede a experiência, e não exige confirmação experimental, mas somente coerência lógica" (Ruiz, 1979:11o). O procedimento científico leva a circunscrever, delimitar, fragmentar e analisar o que se constitui o objeto da pesquisa, atingindo segmentos da realidade, ao passo que a filosofia encontra-se sempre a procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano e, até, busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência. O CONHECIMENTO RELIGIOSO O conhecimento teológico é um produto do intelecto do ser humano que recai sobre a fé; provam das revelações do mistério oculto ou do sobrenatural, que são interpretadas como mensagem ou manifestação divina. Este conhecimento está intimamente relacionado à fé e à crença divina, ou ainda a um Deus, seja este Jesus Cristo, ou Maomé, ou Buda, ou um Ser Invisível, ou uma Autoridade Suprema, com quem o ser humano se relaciona através de sua fé religiosa. Não importa qual seja sua crença e tampouco qual seu Deus; importa, porém, sua fé. De modo geral, apresenta respostas para as questões que o ser humano não pode responder, como os demais conhecimentos (filosófico, empírico ou científico), pois envolve aceitação, ou não. É conseqüência da fé que o aceitante deposita na existência de uma divindade. Para melhor entendimento, o conhecimento teológico está ligado à fé, assim como a botânica está ligada à vida das plantas. Sem a vida das plantas não poderia haver botânica; ou, sem os astros, seria impossível a existência da astronomia. Da mesma forma, é impossível a existência desse conhecimento sem a existência da fé. Segundo Ruiz, "a fé religiosa é um fato que nem a teologia ou a ciência do fato religioso podem explicar ou justificar cabalmente. A fé religiosa é de ordem místico-intuitiva e não de ordem racional-analítica". Os levantamentos bibliográficos sobre este assunto são unânimes em dizer que a fé é a vida do homem em suas relações sobre-humanas, ou seja, a vida do homem em relação ao poder de Deus, que o criou. Os ontologistas vão mais além, dizendo que não é necessário demonstrar a existência de Deus, porque, segundo eles, a existência de Deus é imediatamente evidente, e não se demonstra a evidência. Ela vale por si só. Santo Tomas de Aquino faz uma observação de que não é evidente para todos, mesmo entre os que admitem a existência de Deus, que Deus seja o Ser absolutamente perfeito, e tal que não se possa conceber maior. Muitos filósofos pagãos disseram que o mundo era Deus; certos povos consideravam como Deus o sol ou a lua. Isto significa que cada indivíduo, desde os primórdios até os dias atuais, pode ter Deus de diversas formas, o que não invalida o conhecimento teológico. O ser humano é essencialmente radicado em uma fé; a prova que mais manifesta que o homem é esta pessoa por natureza dotada de fé está em não haver jamais alguém encontrado uma tribo, por mais selvagem que seja, totalmente destituída de qualquer culto ou idéia religiosa. A fé na pessoa manifesta-se nos poderes de a mesma pensar, sentir e querer. Ela tem sua morada na parte invisível e espiritual do homem, compreendendo todos os poderes do homem, pois envolve uma operação unida e coesa de todas as faculdades da pessoa. Consiste mais em ser do que em fazer. O ser humano dificilmente deixara de ter um conhecimento teológico, pois as experiências da própria vida estão ligadas com revelações divinas e com a própria fé. O conhecimento religioso, isto é, teológico, apóia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas); e um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelação" da divindade (sobrenatural). A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente do ato de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida, nem sequer verificáveis. A postura dos teólogos e cientistas diante da teoria da evolução das espécies, particularmentedo Homem, demonstra as abordagens diversas: de um lado, as posições dos teólogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados; de outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipóteses. Na realidade, vai-se mais longe. Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência dos fatos observados e experimentalmente controlados, e o do conhecimento filosófico e de seus enunciados, na evidência lógica, fazendo com que em ambos os modos de conhecer deve a evidência resultar da pesquisa dos fatos ou da análise dos conteúdos dos enunciados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas a procura de evidência, pois a toma da causa primeira, ou seja, da revelação divina. Sistematização das características dos quatro tipos de conhecimento: Conhecimento Popular Conhecimento Científico Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) Valorativo Reflexivo Assistemático Verificável Falível Inexato Real (factual) Contingente Sistemático Verificável Falível Aproximadamente exato Valorativo Racional Sistemático Não verificável Infalível Exato Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível Exato
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