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Aula 09 Direito Penal

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CURSO ON-LINE – DIREITO PENAL 
TEORIA E EXERCÍCIOS 
PROFESSOR PEDRO IVO 
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AULA 09 – CRIMES CONTRA A PESSOA 
FUTUROS(AS) APROVADOS(AS), sejam bem vindos à mais uma aula!!! 
Hoje veremos um tema cujo conhecimento é importantíssimo para o bom desempenho na 
maioria das PROVAS: os crimes contra a pessoa. 
É um assunto bem extenso, mas que procurarei abordar da maneira mais objetiva possível. 
Assim como fizemos na aula passada, darei ênfase a tudo aquilo que é exigido pelas bancas 
de PROVA e apresentarei apenas uma noção dos demais delitos a fim de que você não seja 
surpreendido. 
Vamos começar! 
Bons estudos!!! 
********************************************************************************************************** 
9.1 CRIMES CONTRA A VIDA 
 9.1.1 HOMICÍDIO 
O homicídio é, provavelmente, um dos crimes mais conhecidos do Código Penal. É o 
primeiro delito tipificado na parte especial e consiste na destruição da vida de um homem 
praticada por outro. 
Nelson Hungria considera o homicídio como: 
(...) o tipo central dos crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia dos crimes. 
É o crime por excelência. É o padrão da delinqüência violenta ou sanguinária, que 
representa como que uma reversão atávica às eras primeiras, em que a luta pela vida, 
presumivelmente, se operava com o uso normal dos meios brutais e animalescos. É a 
mais chocante violação do senso moral médio da humanidade civilizada. 
Apresenta a seguinte descrição típica: 
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Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Desde já é importante ressaltar que o homicídio em sua forma fundamental (acima 
apresentada) não possui nenhum elemento normativo, ou seja, independe de qualquer 
injustiça ou violência. Assim, se Tício mata Mévio mediante veneno, por exemplo, apesar 
de não ter havido violência, podemos afirmar que houve homicídio. 
Ocorre, entretanto, que o homicídio possui outras figuras típicas além da supracitada. 
Desta forma, podemos resumir o assunto da seguinte forma: 
TIPOS PENAIS DO CRIME DE HOMICÍDIO 
HOMICÍDIO SIMPLES Art. 121, caput 
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO Art. 121, § 1º 
HOMICÍDIO QUALIFICADO Art. 121, § 2º 
HOMICÍDIO CULPOSO SIMPLES Art. 121, § 3º 
HOMICÍDIO CULPOSO QUALIFICADO Art. 121, § 4º 
PERDÃO JUDICIAL Art. 121, § 5º 
 9.1.1.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
1. SUJEITO ATIVO: É crime comum, podendo ser cometido por qualquer 
pessoa. 
2. SUJEITO PASSIVO: A vítima do homicídio. 
OBSERVAÇÃO 
NO CASO DE O FATO SER COMETIDO CONTRA O PRESIDENTE DA 
REPÚBLICA, CONTRA MEMBRO DO SENADO FEDERAL, CONTRA MEMBRO 
DA CÂMARA DOS DEPUTADOS OU CONTRA MINISTROS DO STF, O FATO É 
TRATADO COMO CRIME CONTRA A SEGURANÇA NACIONAL, COM PENA 
DE RECLUSÃO DE 15 A 30 ANOS (LEI Nº 7.170/83, ART. 29). 
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• MEIOS DE EXECUÇÃO: O homicídio não possui uma forma de atuação vinculada, 
ou seja, a lei não pormenoriza os meios de execução, admitindo-se qualquer meio. 
Podemos classificar os meios de execução em: 
1. Comissivos Î O homicídio ocorre através da ação do agente. Exemplo: 
Tício efetua um disparo contra Mévio. 
2. Omissivos Î O homicídio ocorre através de uma omissão do agente. 
Exemplo: Tício deixa de alimentar Mévio e este vem a falecer em 
decorrência da omissão de Tício. 
3. Diretos Î Situação em que o agente, através da própria conduta, ocasiona 
diretamente a morte. Exemplo: Tício puxa o gatilho de uma arma contra 
Mévio. 
4. Indiretos Î O homicídio não decorre diretamente da conduta da vítima. 
Exemplo: Tício induz Mévio a dirigir a noite em uma estrada que está em 
construção e possui um abismo no fim. Mévio cai no abismo e vem a 
falecer. 
5. Materiais Î O homicídio ocorre devido ao uso de um determinado objeto. 
Exemplo: Tício utiliza uma faca para matar Mévio. 
6. Moral Î O homicídio decorre de ato que afeta o íntimo da pessoa. 
Exemplo: Traumas psíquicos. 
Obs.: Quanto ao meio de execução moral, embora seja de difícil aplicação e 
visualização, para a sua PROVA basta o conhecimento de que se trata de 
um meio de execução cabível para o crime de homicídio. Assim, caso a 
banca exija: “o meio de execução moral é viável para o delito de homicídio”, 
a questão/alternativa estará CORRETA. 
Do exposto, podemos resumir: 
MEIOS DE 
EXECUÇÃO
COMISSIVOS / OMISSIVOS 
MATERIAIS E MORAIS 
DIRETOS E INDIRETOS 
OBSERVAÇÃO: 
Para que o sujeito responda por homicídio cometido por omissão, faz-se 
necessário que tenha o dever jurídico de impedir a produção da morte da 
vítima. Esse dever jurídico advém: de um mandamento legal específico, da 
posição de garantidor ou de conduta precedente (art. 13, parágrafo 2º). 
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• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: É núcleo do tipo: 
9 Matar; 
2. SUBJETIVO: 
1. Dolo ou culpa (trataremos mais à frente do homicídio culposo); Ob-
servação: O dolo do homicídio é a vontade consciente de eliminar 
uma vida humana, ou seja, de matar (animus necandi), não se 
exigindo nenhum fim especial. 
A finalidade ou motivo determinante do crime pode, eventual-
mente, constituir uma qualificadora ou uma causa de diminuição de 
pena. 
Admite-se perfeitamente homicídio com dolo eventual, reconhecido 
pela jurisprudência em vários casos como roleta-russa, na conduta 
dos motoristas que se envolvem em corridas de automóveis em vias 
publicas ("rachas"), causando a morte de alguém que os 
acompanham ou assistem a essas irresponsáveis competições. 
• QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: Classifica-se o crime de homicídio em simples, 
comum, instantâneo, material, de dano e de forma livre. 
É considerado simples, pois tem apenas um bem jurídico que é a vida. 
É também comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, ao contrário 
dos crimes próprios, que só podem ser praticados por determinadas pessoas. 
Consiste, ainda, em um crime material que se consuma com a morte da vítima ou 
com a sua tentativa (necessidade de um resultado naturalístico). 
É também instantâneo com relação ao ato praticado, pois atinge a consumação 
no momento da morte da vítima, não se prolongando no tempo. 
STF, AI 779.275/CE, DJ 18.02.2010 
CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. PRONÚNCIA. 
Havendo versão nos autos de que o réu praticava racha, 
empreendendo manobras arrojadas em alta velocidade, em virtude 
das quais veio ocorrer o acidente causador dos delitos, a 
pronúncia é medida que se impõe, ante a ocorrência do dolo 
eventual. 
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É de dano, pois exige a efetiva lesão do objeto jurídico para sua consumação. 
Por fim, é crime de forma livre, pois admite qualquer meio de execução. 
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. O crime é consumado com a morte da vítima. 
2. É admissível a tentativa. 
 9.1.1.2 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO 
O homicídio privilegiado encontra previsão no parágrafo 1º do art. 121, nos seguintes 
termos: 
Art. 121 [...] 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a 
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um 
terço. 
Do supra dispositivo legal, podemos verificar que o privilégio é cabível quando o 
agente: 
1. Matar alguém impelido por motivo de relevante valor social Î Neste caso, 
o homicídio ocorre devido a determinada situação que diz respeito a um 
interesse coletivo. Exemplo: O sujeito mata o vil traidor da pátria. 
TJMG:1906478/MG DJ 20.09.2000 
Homicídio Privilegiado. Relevante Valor Social. 
Motivo social é aquele que corresponde aos interesses coletivos. Jamais 
pode ser considerado como motivo de relevante valor social o homicídio 
cometido, por exemplo, em razão de desavenças relacionadas com jogo de 
baralho. 
APESAR DA PALAVRA “PODE”, A REDUÇÃO DE PENA NO HOMICÍDIO 
PRIVILEGIADO NÃO É FACULDADE, MAS OBRIGAÇÃO DO JUIZ.
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2. Matar alguém impelido por motivo de relevante valor moral Î Aqui, o 
motivo do homicídio está relacionado com uma situação que afeta o particular, 
e não a coletividade. Exemplo: Mévio fica sabendo que Tício, seu vizinho, 
estuprou sua filha. Diante de tal situação, Mévio mata Tício. 
3. Matar alguém sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta 
provocação da vítima Î Neste caso, para que fique caracterizado o homicídio 
privilegiado, é necessário que tenhamos: 
a. Emoção violenta; 
b. Injusta provocação da vítima; e 
c. Sucessão imediata entre a provocação e a reação. 
Exemplo: 
9.1.1.3 HOMICÍDIO QUALIFICADO 
O homicídio qualificado encontra previsão no parágrafo 1º do art. 121, nos seguintes 
termos: 
Art. 121 [...] 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II - por motivo fútil; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que 
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de 
outro crime: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
STM, Apelfo 49.061/RS, DJ 13.02.2003 
Age sob influência de violenta emoção, e não por ela dominado, o agente que, 
respondendo a reiteradas provocações da vítima, que o persegue até o 
momento em que deixava o local em seu automóvel, dispara a arma de fogo 
em direção àquela. 
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Do supracitado texto legal, podemos organizar as circunstâncias qualificadoras da 
seguinte forma: 
1. Quanto aos motivos determinantes: mediante paga ou promessa de 
recompensa ou outra razão torpe ou fútil Î Motivo torpe é o moralmente 
reprovável. É aquela causa que quando você lê no jornal pensa imediatamente: 
“Mas que sujeito desprezível”. 
Seria o caso, por exemplo, do filho que mata o pai a fim de receber uma 
herança. A paga ou a promessa de recompensa também são exemplos de 
motivo torpe. 
O motivo fútil é aquele insignificante, apresentando clara desproporção entre o 
crime e sua causa moral. Para exemplificar, imagine que Tício, torcedor do 
Internacional, verifica, ao chegar em casa, que sua esposa havia colocado um 
adesivo do Grêmio na janela. 
Diante de tal situação, profere oito disparos em região letal. Neste caso, temos 
a morte ocasionada por motivo fútil. Outro exemplo seria o de matar o garçom 
porque a comida está fria, ou o vendedor de uma loja devido a um mau 
atendimento. 
2. Quanto aos meios: veneno, explosivo, fogo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou que possa resultar perigo comum Î Conceitua-se meio 
insidioso como sendo algo camuflado, uma conduta verdadeiramente traiçoeira, 
como ocorre no referido caso do emprego de substância venenosa. 
Meio cruel, por sua vez, é aquele que causa sofrimento à vítima. Assim, 
imagine que Tício mata Mévio com um disparo em ponto letal e, após sua 
morte, divide o corpo em 30 pedaços. Neste caso, podemos dizer que incidiu a 
qualificadora “meio cruel”? 
Claro que não, pois o fato de cortar o corpo ocorreu após a morte, logo, não 
ocasionou sofrimento ao ofendido. 
STJ, HJ 80.107/SP, DJ 25.02.2008 
A verificação se a vingança constitui ou não motivo torpe deve ser feita com base 
nas peculiaridades de cada caso concreto, de modo que, não se pode estabelecer 
um juízo a priori, seja positivo ou negativo. Conforme ressaltou o Pretório Excelso: a 
vingança, por si só, não substantiva o motivo torpe; a sua afirmativa, contudo, não 
basta para elidir a imputação de torpeza do motivo do crime, que há de ser aferida à 
luz do contexto do fato."(HC 83.309/MS, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 
DJ de 06/02/2004). 
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Por fim, o CP também qualifica o homicídio quando praticado por meio de que 
pode resultar perigo comum. Seria o caso, por exemplo, do uso de fogo ou 
explosivos. 
3. Quanto à forma de execução: traição, emboscada, dissimulação ou outro 
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima Î Vamos tratar 
deste tópico através de exemplos (que eu sei que todo concurseiro adora!): 
Traição Î Mévio atira em Tício pelas costas (traição física) ou Mévio coloca 
uma venda nos olhos de Tício dizendo que vai conduzi-lo até uma surpresa. 
Ocorre, entretanto, que a “surpresa” é um buraco de 20 metros no qual Tício cai 
e morre (traição moral). 
Emboscada Î Tício fica escondido em cima de uma árvore aguardando a 
passagem de Mévio. Quando este passa, é surpreendido pelo disparo fatal. 
Dissimulação Î Tício se disfarça de policial a fim de matar Mévio 
(dissimulação física) ou Tício estabelece uma falsa amizade com Mévio a fim 
de melhor executar o homicídio. 
4. Quanto à conexão com outro delito: fato praticado para garantir a execução, 
ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime Î Seria o caso, por 
exemplo, do sujeito (autor) que mata o co-autor de um crime de roubo a fim de 
ficar com todo o produto do delito, ou mesmo o criminoso que mata uma 
testemunha a fim de ocultar o delito. 
Para finalizar este tópico, cabe ressaltar que, nos termos da Lei nº 8.072/90, são 
considerados hediondos os crimes de homicídio (art. 121), quando praticados em 
atividade típica de grupo de extermínio, e quando se tratar de homicídio qualificado. 
9.1.1.4 CAUSA DE AUMENTO DE PENA 
Conforme apresentado na segunda parte do parágrafo 4º do art. 121, sendo doloso o 
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa 
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
9.1.1.5 HOMICÍDIO CULPOSO SIMPLES E QUALIFICADO 
O homicídio culposo previsto nos §§ 3.º e 4.º é o crime cometido por um agente que 
não quis o resultado morte. É causado por negligência (omissão do dever geral de 
cautela), imprudência (ação perigosa) ou imperícia (falta de aptidão para o exercício 
de arte ou ofício). 
Observe o texto legal: 
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Art.121 
[...] 
§ 3º Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime 
resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o 
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. 
O homicídio culposo poderá também ser qualificado quando: 
• Resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício Î
Seria o caso, por exemplo, do médico que, deixando de observar procedimento 
padrão de que tem conhecimento, ocasiona a morte da vítima. 
“Mas, professor, agora ficou uma dúvida... Este exemplo apresentado acima 
não seria caso de imperícia e, portanto, homicídio culposo simples?” 
A resposta é negativa, pois a imperícia é caracterizada pela insuficiência de 
capacidade técnica, ou seja, o sujeito realmente não sabe fazer aquilo. 
Diferentemente, na qualificadora, o sujeito tem conhecimento daregra técnica, 
mas não a observa. 
• O agente deixar de prestar imediato socorro à vítima Î Imagine que Tício 
atropela Mévio e não lhe presta assistência. Neste caso, não responderá por 
homicídio culposo e omissão de socorro, mas sim por homicídio culposo 
qualificado pela omissão de socorro. 
• O agente não procurar diminuir as conseqüências do seu ato Î Imagine 
que, no caso acima, Mévio é socorrido por terceiros, mas Tício se nega a 
levar Mévio ao hospital com medo de sujar o banco de seu carro com sangue. 
Neste caso, não incide a qualificadora de omissão de socorro, pois o 
socorro foi prestado (mesmo que por terceiros). Toa, o homicídio 
culposo será qualificado pelo fato de o agente não procurar diminuir as 
conseqüências do seu ato (negou-se a levar Mévio para o hospital). 
• O agente fugir para evitar prisão em flagrante Î Esta qualificadora é bem 
fácil de ser entendida. Cabe ressaltar, entretanto, que não há incidência da 
qualificadora quando o sujeito foge a fim de evitar linchamento. 
STJ, HC 38.985/MT, DJ 25.04.2005 
A fuga motivada pela ameaça de linchamento levadas a efeito por terceiros, não 
guarda qualquer semelhança com a escapada objetivando frustrar a aplicação da 
lei penal. 
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Se não ocorrer nenhuma das hipóteses supra (§4.º), o homicídio culposo será dito 
simples. 
9.1.1.6 HOMICÍDIO CULPOSO – PERDÃO JUDICIAL 
Uma peculiaridade do homicídio culposo é o fato de o juiz poder deixar de aplicar a 
pena se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave 
que a sanção penal se torne desnecessária, como, por exemplo, no caso em que o 
agente fique paraplégico ou na hipótese de morte de um filho. 
Art. 121. 
[...] 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a 
pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma 
tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
Observe os interessantes julgados que explicam e exemplificam o tema: 
TJSC, ACR 774.240/SC, DJ 10.03.2010 
Afigura-se justificável a concessão do perdão judicial em que o autor de homicídio culposo 
já é punido diretamente pelo próprio fato que o praticou, em razão das gravosas 
conseqüências produzidas que o atingem de forma tão intensa que a sanção penal se 
torna desnecessária. 
TJSC, ACR 685.049/SC, DJ 26.01.2010 
Em se tratando de réu primário, que sempre teve conduta ilibada, não há dúvida de que o 
peso a ser carregado pela responsabilidade em causar fato com conseqüências tão 
graves, como a morte de um parente próximo, torna despicienda a cominação de sanção 
penal, permitindo o perdão judicial, uma vez que a maior punição já foi aplicada ao agente 
e desta não restará impune 
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 6.1.2 PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO 
Suicídio é tirar a própria vida de modo voluntário e consciente. O suicídio, por razões de 
política criminal e clara desnecessidade, não é punido no ordenamento penal brasileiro. 
Assim, se alguma pessoa tirou a própria vida, não haverá punição, pois, pelo principio da 
intranscendência da ação e da condenação penal, ninguém poderá ser responsável por 
fato praticado por outrem e, logicamente, os sucessores ou herdeiros do suicida não 
poderão pagar penalmente por ele ter tirado a própria vida. 
A modalidade tentada também não poderá ser sancionada, tendo em vista que o Estado 
deve procurar ajudar a pessoa, pois claramente se trata de um humano que não se 
encontra em suas melhores faculdades psíquicas, necessitando da colaboração do Estado 
para a concretização de tratamento psiquiátrico e/ou internação. 
Apesar de o suicídio, como vimos, não caracterizar ilícito penal, a participação é prevista 
como crime e encontra previsão no art. 122 do Código Penal, nos seguintes termos: 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para 
que o faça: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, 
de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de 
natureza grave. 
No supracitado dispositivo, o legislador visa proteger o direito à vida, e daqui surge um 
importante questionamento: Caso a participação não resulte em morte ou lesão corporal 
do suicida, poderá o agente ser responsabilizado? 
Para ficar bem claro, imagine a seguinte situação: Mévio está no terraço de seu prédio, 
pronto para pular. Nesse momento, aparece Tício que começa a cantar: “PULA!!! PULA!!! 
PULA!!!”. Segundos após, Mévio desiste de sua ação, mas o fato é todo filmado por 
câmeras de segurança. 
Poderá ser Tício responsabilizado pelo fato previsto no art. 122 do CP? 
A resposta é NEGATIVA, pois não vindo a vítima a morrer ou a sofrer a lesão corporal de 
natureza grave, não haverá crime. 
 6.1.2.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
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1. SUJEITO ATIVO: É crime comum, podendo ser cometido por qualquer 
pessoa. 
2. SUJEITO PASSIVO: A pessoa induzida ou instigada. 
Observação: Exige-se que a conduta seja direcionada a uma determinada 
pessoa. Assim, não há o crime se um sujeito escreve um livro que induza 
seus leitores ao suicídio (pois aqui os destinatários são gerais, e não 
específicos). 
• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: São núcleos do tipo: 
9 Induzir; 
9 Instigar; 
9 Prestar (auxílio) 
Com base nos elementos objetivos, podemos dizer que há dois tipos de 
participação: 
• Participação moral: Praticada por meio de induzimento ou instigação 
Î Induzir consiste em inserir a idéia do suicídio na cabeça do 
indivíduo, enquanto instigar consiste em reforçar idéia preexistente. 
Assim, ocorre induzimento se Tício diz para Mévio: “Caro amigão, 
você está com tantos problemas... Já pensou em se jogar de um 
prédio?”. Diferentemente, ocorre instigação no caso em que Tício 
começa a gritar “PULA! PULA! PULA” quando Mévio já está prestes 
a suicidar-se. 
• Participação material Î Realizada por meio de auxílio. Imagine que 
Mévio diz para Tício: “Se eu tivesse um revólver dava um tiro em 
minha cabeça”. Tício responde: “É para já... tenho um no meu 
armário”. Neste caso, caso Mévio utilize a arma e se mate, é caso de 
participação material. 
2. SUBJETIVO: 
1. Dolo; 
Observação 01: Imagine que, durante uma final de campeonato, Tício 
diz para Mévio em tom de brincadeira: “Para nós torcedores do 
Fluminense, só mesmo o suicídio para acabar com esse sofrimento.” 
Após esse comentário, Mévio chega em sua casa e suicida-se. Neste 
caso, não há que se falar em participação, pois ausente está o dolo. 
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• QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: É crime material, de dano, instantâneo, 
comissivo, de ação livre, de conteúdo variado ou alternativo, comum, principal, 
simples e plurissubsistente...Ufa...acabou..rsrs. Vamos esmiuçar: 
É material, pois, como já vimos, exige a lesão do bem jurídico através da morte ou 
da lesão corporal grave. 
É instantâneo, pois não se prolonga, atingindo a consumação em momento 
determinado. 
É comissivo, pois só há consumação no caso de uma ação no sentido de 
induzir, instigar ou auxiliar. 
É crime de ação livre, pois admite qualquer forma de execução. 
É delito de conteúdo variado ou alternativo, pois o tipo apresenta três formas de 
realização: induzir, instigar ou auxiliar. 
É crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. 
É principal, pois não está subordinado à prática de nenhum outro crime. 
É delito simples, pois ou ofende a vida ou a integridade corporal. 
Para finalizar, é crimeplurissubsistente, pois exige a conduta inicial e o 
resultado, não se perfazendo em um único ato. 
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. Trata-se de crime material em que a consumação ocorre com a morte ou 
lesão corporal grave. Cabe aqui ressaltar as diversas e possíveis situações: 
a. A vítima falece Î Pune-se o participante com pena de reclusão de 
02 a 06 anos. 
b. A vítima sofre lesões corporais gravesÎ Pune-se o participante com 
pena de reclusão de 01 a 03 anos. 
c. A vítima sofre lesões corporais leves Î O fato não é punível. 
d. A vítima não sofre lesões Î O fato não é punível. 
2. NÃO é admissível a tentativa. 
• TIPO QUALIFICADO: Responde o agente pelo crime na forma qualificada quando, 
nos termos do parágrafo único do art. 122: 
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1. O crime é praticado por motivo egoístico Î Um exemplo claro é o fato 
de o agente instigar o pai a suicidar-se, a fim de ficar com a herança. 
2. A vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade 
de resistência Î Seria o caso, por exemplo, de instigar ao suicídio menor 
de 18 anos ou indivíduo embriagado. 
• ANÁLISE DE CASO CONCRETO: 
1. PACTO DE MORTE Î Imagine a seguinte situação: Tício e Mévio, visando 
ao suicídio, trancam-se em um quarto no qual há uma torneira que, quando 
aberta, libera gás tóxico. Agora vamos analisar algumas possibilidades: 
a. Tício abre a torneira, libera o gás e vem a falecer. Mévio sobre-
vive. Neste caso, responderá Mévio por participação em suicídio. 
b. Mévio abre a torneira, Tício falece e Mévio sobrevive. Neste caso, 
responderá Mévio por homicídio. 
c. Agora uma hipótese bem interessante: Os dois abrem a torneira e os 
dois sobrevivem. Neste caso, os dois responderão por tentativa de 
homicídio. 
d. Por fim, Tício abre a torneira, os dois sobrevivem e sofrem lesões 
corporais graves. Neste caso, Mévio responderá por participação em 
suicídio e Tício, que abriu a torneira, responderá por tentativa de 
homicídio. 
9.1.3 INFANTICÍDIO 
Encontra previsão no art. 159 do Código Penal, nos seguintes termos: 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante 
o parto ou logo após: 
Pena - detenção, de dois a seis anos. 
Diferentemente do que muitos pensam, o infanticídio não se trata de uma figura 
privilegiada do homicídio, mas sim de delito autônomo com denominação jurídica própria. 
Em diplomas penais anteriores, adotava-se, para a conceituação do infanticídio, o critério 
psicológico, segundo o qual o delito ocorria quando o fato era cometido pela mãe, tendo 
por motivo o fim de ocultar desonra própria. Tal critério encontra-se completamente 
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ultrapassado, sendo hoje adotado pelo Código Penal vigente o sistema fisiopsicológico, 
segundo o qual se leva em consideração, unicamente, o estado puerperal. 
Mas o que é esse tal de estado puerperal? 
O estado puerperal, que constitui elementar do delito de infanticídio, é o período pós-
parto ocorrido entre a expulsão da placenta e a volta do organismo da mãe para o estado 
anterior à gravidez. Há quem diga que o estado puerperal dura somente de 03 a 07 dias 
após o parto, mas também há quem entenda que poderia perdurar por um mês ou por 
algumas horas. O certo é que a existência ou não da perturbação da saúde mental deve 
ser analisada caso a caso através da perícia. 
A mãe em estado puerperal pode apresentar depressão, não aceitando a criança, não 
desejando ou aceitando amamentá-la. Às vezes, a mãe fica em crise psicótica, violenta, 
e pode até matar a criança, caracterizando crime de infanticídio. 
 9.1.3.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
1. SUJEITO ATIVO: É crime próprio, só podendo ser cometido pela mãe. 
2. SUJEITO PASSIVO: É o neonato (se ocorrido durante o parto) ou nascente 
(se ocorrido logo após). 
• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: É núcleo do tipo: 
9 Matar; 
TJMG: 107020417025160011 MG, DJ 08.05.2009 
Se a prova dos autos, inclusive a de natureza pericial, atesta que a recorrente matou 
o seu filho, após o parto, sob a influência de estado puerperal, imperiosa a 
desclassificação da imputação de homicídio qualificado para que a pronunciada seja 
levada a julgamento pelo cometimento do crime de infanticídio 
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2. SUBJETIVO: 
1. Dolo; 
Observação: Quanto a este ponto, cabe um relevante 
questionamento: “Não há no Código Penal previsão do infanticídio a 
título de culpa. Deste modo, caso durante o estado puerperal a mãe 
venha a matar a criança culposamente, responderá por homicídio 
culposo?” 
A resposta é negativa, ou seja, caso a mãe mate seu filho, sob 
influência do estado puerperal, de forma culposa, NÃO 
RESPONDERÁ POR NENHUM DELITO. 
• QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: O infanticídio é crime próprio, material, de dano, 
instantâneo, comissivo ou omissivo impróprio, principal, simples, de forma livre e 
plurissubsistente. 
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. Trata-se de crime material que tem sua consumação com a morte do 
neonato ou nascente. 
2. É admissível a tentativa. 
9.1.4 ABORTO 
O aborto nada mais é do que a interrupção da gravidez com a consequente morte do 
feto. Pode ser classificado em: 
Observação 
Para a caracterização do infanticídio, não basta que a mulher realize a 
conduta durante o período do estado puerperal. É necessário que haja um 
nexo de causalidade entre a morte do nascente ou neonato e o estado 
puerperal. Assim, caso a mãe mate o filho, mesmo que após o parto, quando 
ausente qualquer perturbação psíquica, responderá por homicídio, e não 
infanticídio. 
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9 Natural Î Quando ocorre a interrupção espontânea da gravidez. É impunível. 
9 Acidental Î Quando a interrupção da gravidez ocorre devido a um acidente. 
Seria o caso, por exemplo, de uma mulher grávida que cai da escada e acaba 
abortando. É impunível. 
9 Legal ou permitido Î Ocorre quando a lei confere a possibilidade de ser 
realizado o aborto. No nosso ordenamento jurídico, encontra cabimento nas 
situações descritas no art. 128, I e II. São elas: 
9 Quando praticado por médico, se não há outro meio de salvar 
a gestante (aborto necessário). 
9 Quando praticado por médico, se a gravidez resulta de estupro e 
o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando 
incapaz, de seu representante legal (aborto permitido). 
9 Criminoso Î Ocorre quando o fato não se enquadra nas supracitadas 
situações. Começaremos, a partir de agora, a tratar desta espécie, que 
apresenta as seguintes figuras típicas: 
TIPOS PENAIS DO CRIME DE ABORTO 
AUTO-ABORTO Art. 124 
FATO DE PROVOCAR ABORTO COM O 
CONSENTIMENTO DA GESTANTE 
Art. 125 
FATO DE PROVOCAR ABORTO SEM O 
CONSENTIMENTO DA GESTANTE 
Art. 126 
ABORTO QUALIFICADO Art. 127 
Vamos agora tratar de aspectos pertinentes a todas as formas de aborto para, 
posteriormente, analisarmos cada figura típica. 
 9.1.4.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
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1. SUJEITO ATIVO: No auto-aborto, é a gestante (crime próprio). No aborto 
provocado por terceiro, o autor pode ser qualquer pessoa (crime comum). 
2. SUJEITO PASSIVO: Existe grande controvérsia acerca de qual seria a 
objetividade jurídica e quem seria o sujeito passivo do crime de aborto. Para 
Damásio de Jesus, a objetividade jurídica do aborto é a vida da pessoa 
humana e o sujeito passivo é o feto.Entretanto, salienta o autor que, no 
caso do aborto provocado sem o consentimento da gestante, haveria dupla 
objetividade jurídica, protegendo o Direito Penal também a incolumidade 
física e psíquica da gestante. Conseqüentemente, haveria dois sujeitos 
passivos: o feto e a gestante. 
Discordando dessa opinião, Mirabete afirma que o "Sujeito passivo é o 
Estado, interessado no nascimento, e não o feto, ou seja, o produto da 
concepção, que não é titular de bens jurídicos, embora a lei civil resguarde 
os direitos do nascituro". 
Para sua prova, adote o entendimento de Mirabete, pois, é o entendimento 
majoritário e adotado pelas bancas. 
• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: É núcleo dos tipos: 
9 Provocar Î Significa dar causa, produzir, promover etc. Como o 
crime é de forma livre, qualquer meio comissivo ou omissivo, material 
ou psíquico integra a conduta típica. 
 Sendo assim, imagine que Tício, visando atingir o aborto de Mévia, 
fantasia-se de “Fred Krueger” e, no período noturno, efetua um 
grande susto em sua parceira. Neste caso, caso o aborto seja 
proveniente do susto, responderá Tício por ter provocado o delito. 
2. SUBJETIVO: 
1. Dolo; 
Observação: É cabível o dolo eventual, como no caso em que a 
mulher, sabendo que está grávida, decide praticar boxe, assumindo 
conscientemente o risco de abortar em virtude dos contatos físicos. 
• QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: O aborto é crime material, instantâneo, de dano, 
e de forma livre. 
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• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. Trata-se de crime material que tem sua consumação com a interrupção da 
gravidez. 
2. É admissível a tentativa quando, provocada a interrupção da gravidez, o feto 
não morre por circunstâncias alheias à vontade do (a) agente. 
 9.1.4.2 AUTO-ABORTO 
O delito encontra previsão no art. 124 do Código Penal, nos seguintes termos: 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho 
provoque: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
Observe que o supra dispositivo apresenta duas figuras típicas: Na primeira, a 
gestante provoca o aborto em si mesma, através, por exemplo, da ingestão de 
remédios abortivos. Diferentemente, na segunda figura típica, a gestante presta 
consentimento para que terceiro lhe provoque o aborto. 
9.1.4.3 ABORTO PROVOCADO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE 
O delito encontra previsão no art. 125 do Código Penal, nos seguintes termos: 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Perceba que neste artigo o foco da penalização não é mais a gestante, e sim o 
agente que comete o aborto, neste caso, sem o seu consentimento. 
Cabe ressaltar que o dissentimento (não consentimento) da ofendida é presumido 
quando ela é menor de 14 anos, alienada ou débil mental (art. 126, parágrafo único). 
9.1.4.4 ABORTO PROVOCADO COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE 
Encontra previsão no art. 126 do Código Penal e apresenta a seguinte redação: 
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 Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Trata-se do chamado aborto consensual em que a vontade do terceiro coaduna-se 
com a vontade da gestante. Observe interessante julgado: 
9.1.4.5 ABORTO QUALIFICADO 
O art. 127 do Código Penal define que as penas cominadas para os delitos de aborto 
provocado com ou sem consentimento da gestante são aumentadas de um terço se, 
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante 
sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas 
causas, lhe sobrevém a morte. 
Trata-se de crime preterdoloso no qual se pune o primeiro a título de dolo (aborto) e 
o resultado qualificador (morte ou lesão corporal grave) a título de culpa. 
As formas qualificadas são aplicáveis apenas aos delitos previstos nos arts. 125 e 
126. Desta forma, não se aplica ao aborto praticado pela gestante (art. 124), uma vez 
que o Código Penal Brasileiro não pune a autolesão. 
9.2 LESÕES CORPORAIS 
O legislador penal, visando proteger a integridade física e fisiopsíquica da pessoa 
humana, tipificou no art. 126 do Código Penal o crime de lesão corporal, nos seguintes 
termos: 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
Ocorre, entretanto, que o crime de lesões corporais possui outras figuras típicas além da 
supracitada. Desta forma, podemos resumir o assunto da seguinte forma: 
TJPR, Recurso em Sentido Estrito: RSE 1233505 PR, DJ 13.06.2002 
Quem cede o local para as manobras abortivas é partícipe direto na prática do 
aborto. 
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TIPOS PENAIS DO CRIME DE LESÃO CORPORAL 
LESÃO CORPORAL SIMPLES Art. 129, caput 
LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA Art. 129, §§ 4º e 5º 
LESÃO CORPORAL QUALIFICADA Art. 129, §§ 1º, 2º, 3º e 9º 
LESÃO CORPORAL CULPOSA Art. 129, §§ 6º e 7º 
PERDÃO JUDICIAL Art. 129, § 8º 
CAUSA DE AUMENTO DE PENA Art. 129, § 10º 
As lesões corporais classificam-se em: 
9 LESÕES CORPORAIS GRAVES (em sentido amplo) Î Abrangem as lesões 
corporais graves (em sentido estrito) e gravíssimas (a expressão “lesões 
gravíssimas” não é legal, mas doutrinária). Ocorrem quando as lesões corporais 
resultam em: 
1. Incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias; 
2. Perigo de vida; 
3. Debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
4. Aceleração de parto: 
5. Incapacidade permanente para o trabalho; 
6. Enfermidade incuravel; 
7. Perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
8. Deformidade permanente; 
9. Aborto. 
RECLUSÃO DE 
01 A 05 ANOS 
RECLUSÃO DE 
02 A 08 ANOS 
Lesões graves 
em sentido 
estrito 
Lesões 
gravíssimas. 
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9 LESÕES CORPORAIS LEVES Î Ocorrem quando a lesão corporal não se 
enquadra nos casos acima apresentados. 
9 LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE Î Caracteriza o chamado crime 
preterdoloso, no qual temos a lesão corporal a título de dolo, e o resultado 
qualificador (morte) a título de culpa. Encontra previsão no parágrafo 3º do art. 129 
do Código Penal: 
Art. 129. 
[...] 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis 
o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos 
 9.2.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
1. SUJEITO ATIVO: É crime comum, podendo ser cometido por 
qualquer pessoa. 
2. SUJEITO PASSIVO: É a vítima. A lei não exige nenhuma condição especial 
para que uma pessoa possa figurar no pólo passivo, salvo no que diz 
respeito a duas qualificadoras já apresentadas: a lesão corporal que acelera 
o parto ou que ocasiona aborto (neste caso, exige-se a condição de 
grávida). 
• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: É núcleo do tipo: 
9 Ofender (a integridade corporal ou a saúde de outrem). 
Observação: Independentemente do número de lesões, o agente 
responderá por um só crime de lesão corporal: ou leve, ou grave ou 
seguida de morte. 
2. SUBJETIVO: 
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1. O crime de lesão corporal admite dolo, culpa e preterdolo (veremos 
mais à frente a lesão corporal culposa). 
• QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: É crime material, de dano, plurissubsistente e 
de forma livre. 
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. Consuma-se com a efetiva ofensa à integridade corporal ou saúde física ou 
mental da vítima. 
2.Admite-se a tentativa. 
Observação: O STF já firmou entendimento de que é cabível a tentativa de 
lesão corporal grave, mesmo que a vítima não tenha sofrido qualquer 
ferimento. Exemplo: Imagine que Tício amarra Mévio em uma árvore e, com 
o intuito de amputar um braço, liga uma serra elétrica. Quando está a cerca 
de um centímetro do braço de Mévio, Tício é interrompido por um policial. 
 9.2.2 LESÕES CORPORAIS PRIVILEGIADAS 
A figura típica encontra previsão no Código Penal, nos seguintes termos: 
Art. 129. 
[...] 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a 
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um 
terço. 
Do supra dispositivo legal, podemos verificar que o privilégio é cabível quando o 
agente: 
1. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem por motivo de 
relevante valor social. 
2. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem por motivo de 
relevante valor moral. 
3. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem sob o domínio de 
violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima. 
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Observe que já estudamos estas circunstâncias quando tratamos do homicídio 
privilegiado e, aqui, cabem os mesmos comentários. 
 9.2.3 LESÃO CORPORAL CULPOSA 
A figura da lesão corporal culposa apresenta um tipo simples no parágrafo 6º do art. 
129 e uma figura qualificada presente no parágrafo 7º. Observe: 
Art. 129 
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
§ 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do 
art. 121, § 4º. 
Do supra dispositivo, retira-se que se o agente comete a lesão corporal de maneira 
culposa, regra geral, poderá sofrer a penalização de detenção de dois meses a um 
ano. 
Toa, se o crime resulta de inobservância de regra técnica, profissão, arte ou 
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura 
diminuir as consequências do seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante, 
caberá na sanção um aumento de pena de um terço. 
 9.2.4 PERDÃO JUDICIAL 
O parágrafo 8º do art. 129 do Código Penal deixa claro que se aplica ao crime de 
lesão corporal culposa o perdão judicial que analisamos ao estudar o homicídio 
culposo. 
Assim, na lesão corporal culposa, pode o juiz deixar de aplicar a pena se as 
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a 
sanção penal se torne desnecessária. 
Aqui cabe um importante questionamento: A lesão corporal culposa cometida no 
trânsito encontra-se prevista no art. 303 do Código Penal Brasileiro, e este não 
prevê a possibilidade de perdão judicial. Será possível a aplicação do perdão 
judicial previsto no Código Penal aos delitos no trânsito? 
Segundo a jurisprudência majoritária, há sim esta possibilidade. Observe o julgado: 
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9.2.5 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
Nos termos do parágrafo 9º do art. 129, se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha 
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de 
coabitação ou de hospitalidade, aplica-se ao agente uma penalização de detenção 
de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, 
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, 
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou 
de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
Caso a violência doméstica resulte em lesão corporal grave ou seguida de morte, a 
pena deverá ser acrescida de um terço. Trata-se de causa de aumento de pena. 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias 
são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
TJDF - APR: APR 125833220068070003 DF – DJ 13.05.2009 
NÃO OBSTANTE A FALTA DE PREVISÃO LEGAL NO CÓDIGO DE TRÂNSITO DO INSTITUTO 
DO PERDÃO JUDICIAL PARA OS DELITOS DE HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL 
CULPOSA, RAZÕES DE POLÍTICA CRIMINAL, ALIADAS À HERMENÊUTICA JUSTIFICADA 
PELO PRINCÍPIO DA ISONOMIA E PELA BUSCA DA PACIFICAÇÃO SOCIAL, TORNAM 
POSSÍVEL A APLICAÇÃO DA FIGURA JURÍDICA DO PERDÃO JUDICIAL AOS CRIMES DE 
HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL CULPOSA, PRATICADOS NA DIREÇÃO DE 
VEÍCULO AUTOMOTOR. 
O PERDÃO JUDICIAL VEM A SER A CLEMÊNCIA DO ESTADO QUANDO DEIXA DE APLICAR 
A PENA ABSTRATAMENTE PREVISTA PARA O DELITO, EM RAZÃO DE AS CONSEQÜÊNCIAS 
DO DELITO TEREM ATINGIDO O AGENTE DE FORMA TÃO GRAVE, QUER FISICAMENTE, 
QUER MORALMENTE, QUE A IMPOSIÇÃO DA PENALIDADE SE TORNE DESPICIENDA, OU 
SEJA, A DOR SENTIDA É MAIS EXPRESSIVA DO QUE EVENTUAL PENA APLICADA, JÁ SE 
CONSUBSTANCIANDO, EM SI PRÓPRIA, UMA PENALIDADE A SER SUPORTADA. 
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Por fim, cabe ressaltar que o parágrafo 11 do art. 129 definiu mais uma causa de 
aumento de pena que ocorrerá no quantitativo de um terço se o crime for cometido 
contra pessoa portadora de deficiência. 
 
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço 
se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
9.2.6 AÇÃO PENAL NO CRIME DE LESÃO CORPORAL DOLOSA LEVE 
CONTRA A MULHER 
Caro(a) aluno(a), apesar de o tema ação penal não estar diretamente previsto no 
edital da PF, recentemente tivemos uma decisão do STJ que serviu, de certa forma, 
para elucidar um tema que era muito debatido. Observe: 
9.3 DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
Caro (a) aluno (a), trataremos agora de uma espécie de crime contra a pessoa que é muito 
pouco exigida em CONCURSOS PÚBLICOS. Assim, para sua PROVA, basta um 
conhecimento básico dos delitos referentes aos crimes de periclitação da vida e da saúde, 
com exceção da omissão de socorro que exige um conhecimento mais aprofundado 
(veremos após o quadro). Vamos esquematizar: 
CRIME CONDUTA PENA OBSERVAÇÃO 
PERIGO DE 
CONTÁGIO 
VENÉREO 
Expor alguém, por meio de 
relações sexuais ou qualquer ato 
libidinoso, a contágio de moléstia 
Detenção, de três 
meses a um ano, 
ou multa. 
Forma qualificada: 
Se é intenção do agente 
STJ, REsp 1.097.042/DF, DJ 24.02.2010 
É necessária a representação da vítima de violência 
doméstica nos casos de lesões corporais leves (Lei n. 
11.340/2006 – Lei Maria da Penha), pois se cuida de uma 
ação pública condicionada. 
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(ART. 130) venérea, de que sabe ou deve 
saber que está contaminado. 
transmitir a moléstia: 
Pena - reclusão, de um a 
quatro anos, e multa. 
Obs.: Somente se procede 
mediante representação, ou 
seja, através de ação penal 
pública condicionada. 
PERIGO DE 
CONTÁGIO DE 
MOLÉSTIA 
GRAVE 
(ART. 131) 
Praticar, com o fim de transmitir a 
outrem moléstia grave de que 
está contaminado, ato capaz de 
produzir o contágio. 
Reclusão, de um a 
quatro anos, e 
multa. 
PERIGO PARA A 
VIDA OU SAÚDE 
DE OUTREM 
(ART. 132) 
Expor a vida ou a saúde de 
outrem a perigo direto e iminente.
Detenção, de três 
meses a um ano, 
se o fato não 
constitui crime 
mais grave. 
Causa de aumento de pena: 
A pena é aumentada de um 
sexto a um terço se a 
exposição da vida ou da 
saúde de outrem a perigo 
decorre do transporte de 
pessoas para a prestação de 
serviços em estabelecimentos 
de qualquer natureza, em 
desacordo com as normas 
legais.ABANDONO DE 
INCAPAZ 
(ART. 133) 
Abandonar pessoa que está sob 
seu cuidado, guarda, vigilância ou 
autoridade e, por qualquer 
motivo, incapaz de defender-se 
dos riscos resultantes do 
abandono 
Detenção, de seis 
meses a três anos.
Formas qualificadas: 
Se do abandono resulta lesão 
corporal de natureza grave: 
Pena - reclusão, de um a cinco 
anos. 
Se resulta a morte: 
Pena - reclusão, de quatro a 
doze anos. 
Causas de aumento de pena 
(aumentam-se de um terço): 
1- Se o abandono ocorre em 
lugar ermo; 
2-Se o agente é ascendente 
ou descendente, cônjuge, 
irmão, tutor ou curador da 
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vítima. 
3- Se a vítima é maior de 60 
(sessenta) anos 
EXPOSIÇÃO OU 
ABANDONO DE 
RECÉM-
NASCIDO 
(ART. 134) 
Expor ou abandonar recém-
nascido para ocultar desonra 
própria. 
Detenção, de seis 
meses a dois anos.
Formas qualificadas: 
Se do fato resulta lesão 
corporal de natureza grave: 
Pena - detenção, de um a três 
anos. 
Se resulta a morte: 
Pena - detenção, de dois a 
seis anos. 
MAUS-TRATOS 
(ART. 136) 
Expor a perigo a vida ou a saúde 
de pessoa sob sua autoridade, 
guarda ou vigilância, para fim de 
educação, ensino, tratamento ou 
custódia, quer privando-a de 
alimentação ou cuidados indis-
pensáveis, quer sujeitando-a a 
trabalho excessivo ou inade-
quado, quer abusando de meios 
de correção ou disciplina. 
Detenção, de dois 
meses a um ano, 
ou multa. 
Formas qualificadas: 
Se do fato resulta lesão 
corporal de natureza grave: 
Pena - reclusão, de um a 
quatro anos. 
Se resulta a morte: 
Pena - reclusão, de quatro a 
doze anos. 
Causa de aumento de pena: 
Aumenta-se a pena de um 
terço se o crime é praticado 
contra pessoa menor de 14 
anos. 
9.3.1 OMISSÃO DE SOCORRO 
Encontra previsão nos seguintes termos: 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco 
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, 
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o 
socorro da autoridade pública: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
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Do supra dispositivo legal, podemos observar que a assistência tratada pelo legislador 
penal pode ser de duas formas: 
1. Imediata Î Dever de prestação imediata de socorro; 
Observação: A omissão imediata só ocorre quando é possível ao sujeito agir sem 
risco pessoal. Mas e se a vítima recusa o socorro? Mesmo assim existe crime, pois 
o objeto é irrenunciável. 
2. Mediata Î Dever de pedir ajuda à autoridade pública. 
 9.3.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
1. SUJEITO ATIVO: É crime comum, podendo ser cometido por qualquer 
pessoa. 
2. SUJEITO PASSIVO: Podem ser sujeitos passivos do crime de omissão de 
socorro: 
9 Criança abandonada (pelos responsáveis); 
9 Criança extraviada (criança perdida); 
9 Pessoa inválida, ao desamparo, ou seja, sem possibilidade de 
afastar o perigo com suas próprias forças; 
9 Pessoa ferida, ao desamparo; 
9 Pessoa em grave e iminente perigo; 
• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: São núcleos do tipo: 
• Deixar de prestar (assistência); 
• Não pedir (socorro). 
2. SUBJETIVO: Dolo; 
• QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: É crime omissivo próprio, ou seja, é 
caracterizado pela simples conduta negativa do agente. 
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• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. Consuma-se no momento da omissão. 
2. Não se admite a tentativa, pois ou o sujeito não presta assistência e o delito 
está consumado, ou presta socorro à vítima. 
9 TIPO QUALIFICADO 
O tipo qualificado do crime de omissão de socorro encontra previsão no parágrafo 
único do art. 135. Veja: 
Art. 135 
[...] 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta 
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
9.4 DA RIXA 
Entende-se por rixa o desentendimento, a rivalidade, a disputa, a briga em 
que os participantes atacam-se corporalmente, sendo a agressão 
recíproca, mesmo que praticada de forma desproporcional. 
Segundo a norma vigente, é a briga entre mais de duas pessoas, 
acompanha de vias de fato ou violências físicas recíprocas, de modo que 
cada sujeito age por si mesmo contra qualquer um dos outros contendores. 
Cabe ressaltar que, para a caracterização de tal crime, faz-se necessário a participação de, 
no mínimo, três participantes, e que são, ao mesmo tempo, sujeitos ativos e passivos do 
crime. Incorre no crime de rixa não só o sujeito que participa diretamente do conflito, mas 
também o individuo que instiga, trata e combina, citando como exemplo aqueles que 
“marcam” encontro para as torcidas organizadas de futebol se digladiarem. 
O crime de rixa encontra-se previsto no art. 137 do Código Penal, com a seguinte redação: 
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores: 
Pena: detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa. 
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O referido crime tem como objetividade jurídica a proteção da vida e da saúde física e 
mental da pessoa humana. 
A razão pela qual se iniciou o desentendimento, a disputa, as brigas, é irrelevante para a 
caracterização do crime e o momento da participação pelo agente em nada importará. Assim, 
estará caracterizado o crime de rixa se o agente tiver dado inicio ao conflito, ingressado no 
seu curso ou dele sair sem que se tenha terminado. 
Cabe ressaltar que, além das agressões físicas diretas entre os conflitantes, a luta pode ser 
realizada por meio de lançamento de objetos, o que muitas vezes acontece quando, por 
algum motivo, grupos acabam que se distanciando. 
O crime de rixa consuma-se a com a prática das violências recíprocas, instante em que há a 
produção do resultado e surge o evento dano. No referido crime, admite-se a tentativa, 
hipótese em que o crime somente não se consuma em razão de ser frustrado por outrem. 
São elementos qualificadores do crime de rixa a lesão corporal grave e a morte. Observe: 
Art. 137. [...] 
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, 
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis 
meses a dois anos. 
A ocorrência de lesão corporal de natureza grave ou morte qualificam a rixa, respondendo 
por ela inclusive a vítima da lesão grave. Mesmo que a lesão grave ou a morte atinja 
estranho não participante da rixa, alguém que passava no local, por exemplo, ainda assim se 
configura a qualificadora. 
Quando não é identificado o autor da lesão grave ou homicídio, todos os participantes 
respondem por rixa qualificada; sendo identificado o autor, os outros continuam respondendo 
por rixa qualificada e o autor responderá pelo crime que cometeu em concurso material com 
a rixa qualificada. 
A morte e as lesões graves devem ocorrer durante a rixa ou em conseqüência dela, não 
podendo ser nem antes nem depois. Assim, se ocorrerem antes, não a qualifica 
simplesmente porque não foram sua conseqüência, mas sua causa. 
É indispensável, portanto, a relação de causalidade, isto é, que a rixa seja a causa do 
resultado (lesão grave ou morte). A ocorrência de mais de uma morte ou lesão grave não 
altera a unidade da rixa qualificada que continua sendo crime único, embora deva ser 
considerado na dosimetria penal às "conseqüências do crime". 
O resultado agravado recairá sobre todos os que dela tomaram parte, inclusive sobre 
eventuais desistentes. O participante que sofrer lesão corporal gravetambém incorrerá na 
pena da rixa agravada em razão do ferimento que ele próprio recebeu. Não é punição pelo 
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mal que sofreu, mas pela participação na rixa, cuja gravidade é representada exatamente 
pela lesão que o atingiu. 
Observa-se, por fim, que no crime de rixa a ação penal é pública incondicionada, ou seja, 
não depende de queixa ou representação do ofendido. 
9.5 DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
O Cap. V do Título I da Parte Especial do Código Penal Brasileiro trata “Dos Crimes Contra a 
Honra”, definindo condutas delituosas do art. 138 ao 141. 
Na definição de Victor Eduardo Gonçalves, a honra “é o conjunto de atributos morais , físicos 
e intelectuais de uma pessoa , que a tornam merecedora de apreço no convívio social e que 
promovem a sua auto-estima”. 
 O conceito de honra abrange tanto aspectos objetivos quanto subjetivos: 
Objetivos Î Representam o que terceiros pensam a respeito do sujeito, ou seja, trata da 
reputação do indivíduo. 
Subjetivos Î Representam o juízo que o sujeito faz de si mesmo, ou seja, seu amor-
próprio. 
Ao tratar dos crimes contra honra, o legislador penal definiu três espécies de delito. Vamos 
analisá-los: 
9.5.1 CALÚNIA 
Consiste em atribuir falsamente a alguém a responsabilidade pela prática de um fato 
determinado definido como crime. Encontra previsão no art. 138 do Código Penal: 
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como 
crime: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
Na jurisprudência, podemos encontrar a seguinte definição por parte do STF: “a calúnia 
pede dolo específico e exige três requisitos: imputação de um fato + qualificado 
como crime + falsidade da imputação” (RT 483/371). 
A calúnia pode ser: 
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1. Explícita: Exemplo: Tício diz: “Mévio é procurado devido à prática de vários 
roubos”. 
2. Implícita: Exemplo: Tício diz para Mévio em uma discussão: “Você pode até 
pensar isso de mim, mas não sou eu que sobrevivo às custas de dinheiro roubado 
dos contribuintes.” (Perceba que, implicitamente, Tício atribui a ocorrência de um 
fato delituoso a Mévio) 
3. Reflexa: É o caso em que o caluniador, apesar de tratar de situação referindo-se a 
apenas um indivíduo, acaba caluniando dois. Exemplo: Tício diz que Mévio, juiz 
federal, só absolveu o réu porque foi subornado. Neste caso, o caluniador atinge 
não só o juiz, mas também o réu. 
No crime de calúnia, a falsidade é o elemento normativo do tipo e pode ser quanto: 
1. À existência do fato (situação em que o agente narra fato sabendo que não 
ocorreu). 
2. À autoria (situação em que o fato existiu, porém o agente sabe que a pessoa não 
foi a vítima). 
 
Aqui podemos levantar um importante questionamento e, para isso, vamos voltar alguns 
anos para a véspera do dia em que o adultério passou a não ser mais considerado crime. 
Imaginemos que Tício, nesta data, disse para Mévia, falsamente, que ela cometeu o 
adultério. Podemos afirmar que se trata de calunia? 
A resposta é positiva, pois um fato falso, tipificado como crime, está sendo imputado a 
alguém. 
Ocorre, entretanto, que no dia seguinte o adultério deixa de ser crime. Neste caso, irá se 
manter o processo por calúnia? 
A resposta é negativa. Nesta situação em que o fato deixa de ser crime, ocorre a 
desclassificação para a difamação ou mesmo torna o fato atípico. 
A calúnia é crime formal e sua consumação ocorre no instante em que a imputação 
chega ao conhecimento de terceira pessoa, independente do momento em que a vítima 
foi informada. A tentativa é admitida na forma escrita (escrito calunioso interceptado). 
Observação 01 Î O fofoqueiro também é punido!!! O parágrafo 1º do art. 138 define 
que na mesma pena atribuída à calúnia incorre quem, sabendo falsa a imputação, 
propala-a ou divulga-a. 
Propalar é relatar verbalmente e divulgar é relatar utilizando outros meios (megafone, 
panfleto etc.). Visa o tipo do parágrafo 1º punir aquele que ouviu e espalhou, enquanto o 
caput visa o precursor da mentira. 
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Observação 02 Î Pode ir preso aquele que caluniar os mortos!!! O parágrafo 2º do 
art. 138 deixa claro que é punível a calúnia contra os mortos. 
“Mas professor, como o morto vai ser sujeito passivo de um crime?” 
Obviamente, nesta espécie de delito não é o morto que é o sujeito do delito, mas sim o 
cônjuge, o ascendente, o descendente, enfim, aqueles que são titulares da objetividade 
jurídica, que se reflete na honra dos parentes sobrevivos. 
Observação 03 Î É possível que o sujeito se livre do crime de calúnia, bastando 
para isso que PROVE o fato imputado a outrem!!! Trata-se da chamada exceção da 
verdade, situação em que o réu terá o direito de comprovar que o que disse é a mais 
pura verdade. 
Imagine, por exemplo, que Tício diz a todos que Mévio roubou o carro de Caio e, devido 
a isso, é processado por calúnia. Caso Tício prove, através de filmagens das câmeras de 
segurança de uma loja, que o fato realmente ocorreu, atípica será sua conduta. 
Assim, podemos afirmar que, regra geral, a exceção da verdade é admitida no crime de 
calúnia. Ocorre, toa, que, segundo o parágrafo 3º do art. 138, nos seguintes casos 
não será admitida a exceção da verdade: 
1. Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não 
foi condenado por sentença irrecorrível; 
Existem determinados crimes que atingem de uma maneira tão forte o íntimo do 
indivíduo que o estado transfere a este a titularidade para dar início e conduzir a 
ação penal. São os casos de ação penal privada. 
Assim, imagine que Tício impute a Mévio um crime processado mediante ação 
penal privada. Neste caso, poderá Tício provar no Tribunal a ocorrência de tal fato? 
A resposta é negativa, pois mesmo se o fato for verdadeiro, se a própria vítima 
preferiu não processar Mévio e manter o caso em silêncio, é mais do que correto 
que não se permita a um outro indivíduo (Tício) tornar o caso público através da 
exceção da verdade. 
Cabe, por fim, ressaltar que a exceção da verdade poderá ocorrer caso já haja 
sentença penal irrecorrível. 
2. Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; 
Não é admissível a exceção da verdade no caso de calúnia proferida contra o 
Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro. 
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3. Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por 
sentença irrecorrível. 
Nos casos em que a própria justiça absolve o réu, não pode o caluniador quer-
er provar que a decisão judicial foi errada. 
Observação 04 Î É cabível a retratação!!! Retratar-se significa retirar aquilo que foi 
dito referente à determinada pessoa. Em linguagem clara, nada mais é do que o sujeito 
admitir que errou. 
Nos termos do art. 143 do Código Penal, no caso da calúnia, o querelado que, antes da 
sentença, retrata-se cabalmente, fica isento de pena. 
9.5.2 DIFAMAÇÃO 
Consiste em atribuir a alguém fato determinado, ofensivo à sua reputação. Seria o caso, 
por exemplo, de Tício dizer que Mévio foi trabalhar embriagado. Encontra previsão no art. 
139 do Código Penal: 
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
A calúnia se aproxima da difamação por atingirem a honra objetiva de alguém através da 
imputação de um fato, por se consumarem quando terceiros tomam conhecimento de tal 
imputação (crimes formais), por admitirem a tentativa na modalidadeescrita e por 
permitirem a retratação total, até a sentença de 1a Instância, do querelado. 
Porém, diferenciam-se pelo fato da calúnia exigir que a imputação do fato seja falsa e, 
além disso, que este seja definido como crime, o que não ocorre na difamação. 
Assim, se Tício diz que Mévio foi trabalhar embriagado, pouco importa se tal fato é 
verdadeiro ou não, afinal, a intenção do legislador no delito de difamação foi deixar claro 
que as pessoas não devem fazer comentários desabonadores de que tenham 
conhecimento sobre essa ou aquela pessoa. 
Quanto ao elemento subjetivo, o crime de difamação exige o DOLO e também que a 
conduta detenha certo cunho de seriedade. Sobre este tema, observe o importantíssimo, 
interessantíssimo e recentíssimo julgado: 
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Observação Î A exceção da verdade não é regra na difamação!!! Segundo o 
parágrafo único do art. 139, a difamação só admite a exceção da verdade se o ofendido é 
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. O fundamento 
desta possibilidade reside no resguardo da honorabilidade do exercício da função pública. 
Essa excepcionalidade da exceção da verdade ocorre porque na difamação é irrelevante 
se o fato é falso ou verdadeiro. 
9.5.3 INJÚRIA 
Consiste em atribuir a alguém qualidade negativa que ofenda sua dignidade ou decoro. 
Atinge a honra SUBJETIVA do sujeito. Assim, se Tício chama Mévio de ladrão, imbecil, 
STF, Inq 2.899/BA, DJ 23.03.2010 
A consumação do delito de difamação exige um elemento subjetivo correspondente à 
vontade específica de macular a imagem de alguém (animus difamandi), o que não foi 
evidenciado na narrativa dos fatos. Assim, o cenário fático delineado nos autos denota 
que não houve o dolo específico de difamar RITA DE CÁSSIA PINHO. 
Daí a conclusão de que, na esteira da melhor doutrina e da orientação jurisprudencial 
do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o delito fica excluído 
quando a intenção for apenas de caçoar (animus jocandi), defender-se (animus 
defendendi), narrar (animus narrandi) ou criticar (animus criticandi). 
Com efeito, é perceptível que a vontade do Querelado está desacompanhada da 
intenção de ofender, elemento subjetivo do tipo, vale dizer, praticou o fato com animus 
criticandi, pelo que não há que se falar em crime de difamação. 
Nesse mesmo sentido, colaciona-se a seguinte decisão do Supremo Tribunal 
Federal:‘(...) CRIMES CONTRA A HONRA -ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. -A intenção 
dolosa constitui elemento subjetivo, que, implícito no tipo penal, revela-se essencial à 
configuração jurídica dos crimes contra a honra. A jurisprudência dos Tribunais tem 
ressaltado que a necessidade de narrar ou de criticar atua como fator de 
descaracterização do tipo subjetivo peculiar aos crimes contra a honra, especialmente 
quando a manifestação considerada ofensiva decorre do regular exercício, pelo agente, 
de um direito que lhe assiste e de cuja prática não transparece o ‘pravus animus’, que 
constitui elementos essencial à configuração dos delitos de calúnia, difamação e/ou 
injúria. (...). Precedentes.’ Grifado -SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL -2ª Turma. Recurso 
em Habeas Corpus nº 81750, relator Ministro CELSO DE MELLO, DJ de 10.08.2007. 
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burro, feio etc., constitui crime de injúria. Encontra previsão no art. 140 do Código Penal. 
Observe: 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Perceba que na injúria não há ATRIBUIÇÃO DE FATO, mas de QUALIDADE NEGATIVA 
ao sujeito. Desta forma, se Tício diz: “Mévio roubou o carro de Caio”, temos o crime de 
calúnia. Toa, se a frase é: “Mévio é ladrão”, temos o delito de injúria. 
No que diz respeito ao elemento subjetivo, assim como na difamação, a injúria exige o 
dolo e que o agente imprima seriedade à sua conduta. 
A injúria é crime formal e consuma-se no momento em que o ofendido fica sabendo da 
imputação de qualidade negativa. Assim como a calúnia e a difamação, é admissível a 
tentativa na modalidade escrita. 
Cabe ressaltar que, para que exista a injúria, é irrelevante que a vítima tenha se sentido 
realmente ofendida, bastando que a atribuição negativa seja capaz de ofender. 
Observação 01 Î O sujeito pode ser perdoado (perdão judicial)!!! Segundo o 
parágrafo 1º do art. 140, o juiz pode deixar de aplicar a pena: 
1. Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a 
injúria: 
Seria o caso, por exemplo, em que Tício aplica uma “cantada” na esposa de Mévio 
e é por este injuriado. 
2. No caso de retorsão imediata que consista em outra injúria: Exemplo: Dicesar 
diz: “A Anamara é falsa”. Por sua vez, Anamara responde: “Você é que é falso e 
feio por dentro e por fora” (Espero que vocês não tenham perdido tempo de estudo 
para assistir ao BBB 10..rsrs...Vamos continuar com o que interessa!). 
Observação 02 Î Injúria real!!! Existem casos em que através do uso da violência 
(produz lesão corporal) ou vias de fato (comportamento agressivo, mas que não produz 
lesões) o agente age com a intenção de humilhar a vítima e, para estas situações, 
conhecidas como injúria real, o Código Penal prevê: 
OBSERVAÇÃO: 
Caso o fato seja cometido contra funcionário público em razão da função e na 
presença deste, trata-se de desacato, e não de injúria. 
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Art. 140 
[...] 
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua 
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena 
correspondente à violência. 
Do supra dispositivo, é possível retirar que quando a injúria real é cometida mediante 
vias de fato, estas são absorvidas pelo delito de maior gravidade. Toa, quando a 
injúria ocasiona lesão corporal, deve o agente responder pela injúria real e pelo crime de 
lesão corporal. 
“Professor, dá para exemplificar?” 
Claro que sim... Imagine que em uma festa, Mévia, ao encontrar a ex-namorada de seu 
atual marido, rasga-lhe o vestido com o fim de gerar humilhação Neste caso, temos a 
injúria real devido a vias de fato. 
Imagine, agora, que Tício fica atrás de uma árvore aguardando a passagem de sua 
sogra a fim de atirar-lhe excremento. Neste caso, também está caracterizada a injúria 
real. 
Por fim, imagine que Tício, após derrubar Mévio com um chute, começa a cavalgar a 
vítima com intenção ultrajante. Neste caso, responderá Tício pela injúria real e pelas 
lesões corporais. 
Observação 03 Î Injúria qualificada!!! Encontra-se definida no art. 140, parágrafo 3º 
do Código Penal. Veja: 
Art. 140. 
[...] 
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, 
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de 
deficiência: 
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
Assim, a título de exemplo, se Tício chama Mévio, japonês, de “japa”, em tom pejorativo, 
responderá pela injúria qualificada. 
Observação 04 Î É impossível a retratação!!! Isto ocorre, pois a injúria não se refere a 
fato, mas a qualificação negativa. 
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9.5.4 DISPOSIÇÕES COMUNS DOS CRIMES CONTRA A 
HONRA 
 9.5.4.1 FIGURAS TÍPICAS QUALIFICADAS 
Nos termos do art. 141 do Código Penal, as penas cominadas para todos os crimes 
contra a honra aumentam-se de um terço se qualquer dos crimes é cometido: 
1. Contra o Presidente da República ou contra chefe de gov-
erno estrangeiro; 
2. Contra funcionário público, em razãode suas funções; 
3. Na presença de várias pessoas ou por meio que facilite a divulgação da 
calúnia, da difamação ou da injúria. 
4. Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de 
deficiência, exceto no caso de injúria. 
Observação: Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, 
aplica-se a pena em dobro. 
 9.5.4.2 CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE 
Conforme o art. 142 do CP, não constitui injúria ou difamação punível: 
1. A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou 
por seu procurador; 
2. A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, 
salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; 
3. O conceito desfavorável emitido por funcionário público em apreciação 
ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. 
Observação: Nos casos 1 e 3, acima apresentados, responde pela injúria ou pela 
difamação quem lhe dá publicidade. 
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 9.5.4.3 PEDIDO DE EXPLICAÇÃO EM JUÍZO 
Imagine que Tício profere a seguinte declaração: “Maria é uma pessoa muito educada 
e sempre convida para que entrem em seu lar todos os que batem em sua porta. Que 
o diga o carteiro, o leiteiro, o açougueiro.” 
Essa declaração pode ser interpretada com duplo sentido e, para estes casos em que 
ocorre dúvida ao intérprete quanto à real intenção da declaração, é cabível que se 
peça explicações em juízo. Observe: 
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação 
ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele 
que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde 
pela ofensa. 
9.6 DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL 
Neste tópico, daremos uma atenção especial ao crime de constrangimento ilegal. 
Posteriormente, veremos as características que você precisa saber para concursos públicos 
referente aos outros delitos. 
9.6.1 CONSTRANGIMENTO ILEGAL 
O crime de constrangimento ilegal encontra previsão no art. 146 do CP, que apresenta a 
seguinte redação: 
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou 
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de 
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Para que reste caracterizado o delito, é essencial que seja ilegítima a pretensão do 
sujeito ativo, ou seja, que não tenha o direito de exigir da vítima a conduta almejada. 
Assim, a título de exemplo, caso Tício exija, mediante grave ameaça, que Mévio, torcedor 
do Palmeiras, vista a camisa do Corinthians e cante o hino do “Timão”, estará 
caracterizado o crime de constrangimento ilegal. 
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 9.6.1.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
1. SUJEITO ATIVO: Pode ser qualquer pessoa (crime comum). 
2. SUJEITO PASSIVO: Pode ser qualquer pessoa, desde que tenha 
capacidade de autodeterminação, ou seja, consciência e liberdade de 
vontade nas suas ações. 
• ELEMENTOS: 
1. OBJETIVO: É núcleo do tipo: 
9 Constranger (mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe 
haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de 
resistência); 
2. SUBJETIVO: 
1. Dolo; 
• CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
1. Trata-se de crime material que se consuma no instante em que a vítima faz 
ou deixa de fazer alguma coisa. 
2. É admissível a tentativa. 
• TIPO QUALIFICADO: Conforme o parágrafo 1º do art. 146, as penas aplicam-se 
cumulativamente e em dobro quando, para a execução do crime, reúnem-se mais 
de três pessoas ou há emprego de armas. 
• CAUSAS DE EXCLUSÃO DE TIPICIDADE: Não caracterizam o constrangimento 
ilegal a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de 
seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida e a coação 
exercida para impedir suicídio. 
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9.6.2 AMEAÇA, SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO 
CRIME CONDUTA PENA OBSERVAÇÕES 
AMEAÇA 
(ART. 147) 
Ameaçar alguém por 
palavra, escrito ou gesto, 
ou qualquer outro meio 
simbólico, de causar-lhe 
mal injusto e grave. 
Detenção, de um 
a seis meses, ou 
multa 
Obs. 1: A ameaça é distinta do 
constrangimento ilegal, pois enquanto 
neste busca-se uma atividade positiva 
ou negativa da vítima, na ameaça o 
intuito é apenas o de atemorizar. 
Obs. 2: A ameaça não se confunde com 
a “praga” ou o “esconjuro”. Assim, se 
Tício manda Mévio “ir para o inferno”, ou 
Tício conhece o caminho ou, 
obviamente, não há ameaça. 
SEQUESTRO OU 
CÁRCERE 
PRIVADO 
Privar alguém de sua 
liberdade, mediante 
seqüestro ou cárcere 
privado. 
Obs. 1: Atualmente, a 
distinção entre sequestro 
e cárcere privado é 
irrelevante, pois a 
penalização aplicada é a 
mesma. 
Obs. 2: É possível a 
ocorrência do delito na 
forma omissiva, como no 
caso de deixar de por 
em liberdade o indivíduo 
que se restabeleceu de 
doença mental. 
Reclusão, de um 
a três anos. 
TIPOS QUALIFICADOS 
A pena é de reclusão, de dois a cinco 
anos: 
• Se a vítima é ascendente, 
descendente, cônjuge ou 
companheiro do agente ou maior 
de 60 (sessenta) anos; 
• Se o crime é praticado mediante 
internação da vítima em casa de 
saúde ou hospital; 
• Se a privação da liberdade dura 
mais de quinze dias. 
• Se o crime é praticado contra 
menor de 18 (dezoito) anos; 
• Se o crime é praticado com fins 
libidinosos. 
A pena é de reclusão, de dois a oito 
anos: 
• Se resulta à vítima, em razão de 
maus-tratos ou da natureza da 
detenção, grave sofrimento físico 
ou moral. 
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9.7 DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO 
9.7.1 VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO 
O art. 150 do Código Penal tipifica a seguinte conduta: 
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a 
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas 
dependências: 
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 
A incriminação da violação de domicilio, segundo Damásio de Jesus, não protege a 
posse, nem a propriedade. O objeto jurídico é a tranquilidade doméstica, tanto que não 
constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia desabitada. Há diferença entre 
casa desabitada e casa na ausência dos seus moradores. Quando ausentes os 
moradores, subsiste o crime de violação de domicilio. 
Bom, caro(a) aluno(a), estamos falando bastante do termo casa, mas qual a real 
abrangência desta palavra para o direito penal? 
A importante resposta para este questionamento é encontrada no parágrafo 4º do art. 
150 do Código Penal, que discorre: 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce 
profissão ou atividade. 
A fim de não deixar dúvidas, o legislador achou por bem definir no parágrafo 5º casos 
que não se enquadram neste conceito: 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, 
enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
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 9.7.1.1 CARACTERIZADORES DO DELITO 
• SUJEITOS DO DELITO: 
1. SUJEITO ATIVO: Pode ser qualquer pessoa (crime

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