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CLASSES E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA

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CLASSES E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA: 
UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA NA PRIMEIRA DÉCADA DO 
SÉCULO XXI. 
Angelina Moreno1
 
 
Resumo 
Esta pesquisa de iniciação científica, executada sob a orientação do Prof. Dr. Henrique José 
Domiciano Amorim, iniciou-se em dezembro de 2011. A partir da discussão sobre a tese do 
“fim das classes sociais”, especialmente nos anos 2000, tentamos compreender como este 
conceito é utilizado pela sociologia brasileira contemporânea. Por meio do levantamento 
bibliográfico de artigos publicados em periódicos brasileiros, tentamos compreender a 
pertinência deste conceito para os teóricos da sociologia brasileira. A relevância do conceito 
de classe social compôs parte da agenda sociológica contemporânea. Nas últimas décadas, a 
última reestruturação produtiva, o avanço do neoliberalismo e o fim da guerra fria indicaram a 
construção de novos esquemas de análise que respondessem ao surgimento de “novos 
movimentos sociais”, às mudanças no processo produtivo e a seu impacto sobre diferentes 
fenômenos sociais. No entanto, alguns estudos recentes também passaram a contestar a 
relevância sociológica do conceito de classe social como ferramenta analítica. O objetivo 
principal desta pesquisa é realizar um mapeamento crítico da produção científica na última 
década em um domínio específico, a saber, o das classes sociais e estratificação social na 
sociologia brasileira. Nossa hipótese é a de que as transformações sociais vividas pelos EUA e 
pelos países da Europa ocidental, que deram base a tese sobre o “fim das classes sociais”, não 
foram as mesmas que se desenvolveram no Brasil. Em sentido oposto, as formas de 
organização social e política ocasionadas nas décadas de 1980 e 1990 no Brasil desabonam 
esta tese. Dessa forma, essa pesquisa em andamento entende que a sociologia brasileira teria 
absorvido as teses desenvolvidas nos EUA e na Europa Ocidental sobre o “fim das classes 
sociais”, reproduzindo seu conteúdo no Brasil nas últimas três décadas, sem, contudo, 
questionar que conceito de classe social pretendiam superar. 
 
Palavras-chave: sociologia brasileira; classe social; estratificação social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Universidade Federal de São Paulo, E.F.L.C.H. – Dept. de Ciências Sociais. Endereço para contato: Rua Lilia, 
560. CEP 0860-250. Calmon Viana – POÁ. SP. Telefone: (11) 7017-2231. E-mail: 
angelinalmoreno@gmail.com. 
INTRODUÇÃO 
A pesquisa de iniciação científica “Classes e estratificação social na sociologia 
brasileira: uma análise da produção bibliográfica na primeira década do século XXI”, 
integrante do projeto geral “Classe Social e Valor na Teoria Social Contemporânea” e 
executada sob a orientação do Prof. Dr. Henrique José Domiciano Amorim, teve seu inicio em 
agosto de 2010, e financiamento pela instituição de fomento a pesquisa – FAPESP a partir de 
dezembro de 2011. Por meio do questionamento sobre a relevância do conceito de classe 
social, especialmente na primeira década do século XXI, tentamos compreender como este 
conceito é utilizado pela sociologia brasileira contemporânea e qual seria sua pertinência para 
os teóricos que o utilizam. 
O final do século XX foi caracterizado por um novo momento do processo de 
produção capitalista, a década de 1970 marca o início desse contexto histórico. O conceito de 
classe teve um papel central na sociologia por um longo período. A importância deste objeto 
de estudo pôde ser vislumbrada, seja na tradição marxista, essencial para o entendimento dos 
conflitos sociais, seja na tradição weberiana, para a compreensão da situação socioeconômica 
dos indivíduos. Em meio à reestruturação produtiva, ao fim da guerra fria e ao avanço do 
neoliberalismo, o conceito de classe social foi questionado, de diferentes formas, por teóricos 
das ciências sociais. O questionamento central, que sintetiza o debate, gira em torno da 
pertinência do conceito de classe social como fundamento analítico das relações sociais nas 
sociedades capitalistas contemporâneas. 
Nos anos 1970 a discussão em torno das classes e da estratificação social avança nesse 
sentido. As transformações políticas e econômicas ocorridas a partir da década de 1980 nos 
EUA e Europa motivaram a constituição de teses que negavam a validade teórica do conceito 
das classes sociais. A heterogeneização profissional e cultural deste período foi contrastada ao 
padrão de ocupações profissionais caracterizadas como “homogêneas” da era taylor-fordista. 
O “fim das classes” seria, então, a expressão concreta das sociedades contemporâneas. Neste 
sentido, a inexistência empírica das classes pôde ser representada sociologicamente. 
Essas teses desenvolvidas nos EUA e pelos países da Europa ocidental, e rediscutidas 
pela sociologia brasileira, portanto, representam um importante ponto de partida para entender 
como a teoria das classes sociais e da estratificação social foram debatidas nos periódicos 
acadêmicos brasileiros dos últimos anos. Se, em um primeiro momento, as fábricas 
concentraram a força de trabalho urbana, o relativo enxugamento de postos de trabalho e o 
consequente aumento do setor de serviços fez com que teóricos reformulassem, rompessem 
ou mesmo descartassem o conceito de classe social, tornando-o secundário ou irrelevante em 
suas análises. Os níveis de desemprego suscitados na década de 1980, em conjunto com o 
processo de automatização presente nos países capitalistas avançados, tiveram ampla 
influência neste tipo de abordagem. A formação do operariado polivalente, a subcontratação, 
a “flexibilização”, a acumulação de competências vinculadas a uma nova ideologia 
empresarial e a multiplicação do número de profissões em comparação com o período fordista 
são alguns dos elementos que exerceram influência na análise realizada por estes teóricos das 
ciências sociais. Assim, no atual momento da pesquisa, temos a intenção de analisar como a 
sociologia brasileira utilizou-se do conceito de classe social. 
 
AS CLASSES SOCIAIS NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA 
 
Nesta parte do texto iremos fazer um pequena incursão metodológica no material 
analisado no decorrer da pesquisa até o presente momento. Esse levantamento de artigos, 
sobretudo em periódicos da sociologia brasileira, foi realizado em acervos on-line como 
Scielo e Capes, e teve como eixo central de pesquisa os acervos digitais fornecidos pelos 
institutos dos núcleos editoriais e acervos físicos como as bibliotecas da F.F.L.C.H./USP, 
I.F.C.H./UNICAMP e E.F.L.C.H/ UNIFESP – Campus Guarulhos. É necessário destacar que, 
segundo o relatório trienal da CAPES2 o número de artigos indexados na base ISI - “Institute 
for Scientific Information” - quadruplicou no período de 1981 e 2008, apresentando 
crescimento relevante da produção qualificada em periódicos nas últimas três décadas. Na 
listagem disponibilizada de periódicos classificados pelo programa Web Qualis3
A partir dessa premissa, selecionamos os periódicos considerados mais relevantes para 
o nosso problema de pesquisa. Entre os títulos analisados, destacamos Caderno CRH 
(UFBA), Crítica Marxista (UNICAMP/Cemarx), Dados (IUPERJ), Estudos Avançados 
(USP/IEA), Estudos de Sociologia (UNESP), Lua Nova (CEDEC), Novos Estudos 
(CEBRAP), PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da 
UNIFAP (UNIFAP), Revista Brasileira de Ciências Sociais (ANPOCS), Revista Brasileira de 
Informação bibliográfica em Ciências Sociais – BIB (ANPOCS), Revista de Economia 
Política (CEP), Revista de Sociologia e Política (UFPR), Revista Sociedade e Estado (UNB), 
, foram 
constatados 51 (cinquenta e uma) referências somente na área de sociologia com avaliaçõessuperiores a B3 e B4, segundo a CAPES. 
 
2 ABREU; RAMALHO, 2009, p. 1-2. 
3 O programa Web Qualis, assim como as normas e a relação completa de periódicos avaliados, podem ser 
visualizados on-line, disponível em: <http://www.qualis.capes.gov.br/>. Último acesso em: 25/01/2012. 
e Sociologias (UFRGS), totalizando quatorze periódicos introdutoriamente análisados até o 
presente momento. Além desses periódicos é conveniente destacar que demais periódicos 
como Revista Idéias (UNICAMP), Política e Sociedade (UFSC), Revista Margem Esquerda e 
Revista Outubro encontra-se em processo de análise neste momento. 
O que motivou a escolha destes periódicos em específico deve-se a um conjunto de 
fatores, entre eles: a relevância com que estas revistas trataram as classes sociais e a 
estratificação social, o período de publicação dos artigos (preferência por duas décadas, no 
mínimo), e, por último, por se tratarem de revistas conceituadas na avaliação da CAPES. 
Consideramos, no entanto, a proximidade dos periódicos analisados com o tema o fator mais 
relevante para esta seleção. 
No levantamento realizado apuramos o total de 50 (cinquenta) publicações no decorrer 
dos anos 2000 que trabalharam o tema das classes e da estratificação social no Brasil como 
elemento central de suas análises. É necessário ressaltar que foi considerado relevante o 
número de artigos que abordaram o tema dos novos movimentos sociais, a centralidade ou 
não centralidade do trabalho na sociedade contemporânea e os debates sobre desigualdade, 
poder, renda, cidadania, mobilidade e status, sem tocar diretamente o tema das classes e da 
estratificação social. 
O material coletado permitiu-nos algumas considerações iniciais importantes. Ao 
observar cronologicamente os anos em que os artigos foram publicados no país, é possível 
visualizar “picos” de publicações, principalmente entre os anos de 2000, 2005, 2007 e mais 
recentemente, ano de 2010. Entre os artigos analisados até o presente momento, ressalta-se a 
maior presença de trabalhos teóricos em contraste com as pesquisas empíricas. Embora 
estejamos munidos, no momento, de uma relação de aproximadamente dezoito periódicos no 
total, é possível vislumbrar também o destaque para núcleos editoriais localizados em sua 
maior parte nas regiões sul e sudeste do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TABELA 1 - Artigos classificados por ano de publicação 
Dent
re o material coletado, classificamos cada artigo por ano de publicação. O intuito é de averiguar em quais anos 
houve maiores “picos” de publicações que tratassem o nosso tema de pesquisa. 
 
TABELA 2 - Trabalhos teóricos e empíricos 
Por 
meio da leitura de resumos, separamos os trabalhos teóricos e empíricos, e sua evolução no decorrer da primeira década do 
século XXI. Nesta tabela é possível averiguar a predominância de trabalhos teóricos. 
 
No material coletado foi possível também observar que a Revista Brasileira de 
Ciências Sociais e a Revista Dados ocupam lugar de destaque, caracterizando-se como as 
duas revistas com maior volume de artigos sobre o tema de pesquisa. As mesmas apresentam 
15 (quinze) artigos, do total de 50 (cinquenta) artigos publicados. É necessário apontar 
também que a Revista Dados é a publicação mais antiga no que se refere aos periódicos 
levantados, sendo sua primeira publicação de 1966. 
 
INDICAÇÕES SOBRE O MATERIAL LEVANTADO E A HIPÓTESE DE 
PESQUISA: UMA PRIMEIRA ANÁLISE SUBSTANTIVA 
 
Esta pesquisa integra o projeto geral “Classes e Estratificação Social: Uma análise da 
produção bibliográfica nas Ciências Sociais (1970-2010)”. 4A hipótese que norteia este 
projeto geral esta pautada na indicação de que haveria uma importação de ideias realizada 
pela sociologia brasileira e que essa importação teria como núcleo central a tese sobre o “fim 
das classes sociais”5. Para efeito de contraste, podemos destacar a atividade política no Brasil 
desse período. As perspectivas políticas no final dos anos 1950 e começo dos 19706 foram 
limitadas por uma conjuntura distinta, a saber, pelos golpes de 1964, o que ocasionou 
dificuldades e restrições nas ações coletivas da classe trabalhadora. Os anos 19807
Esse período de efervescência política se digladia com a indicação do “fim das classes 
sociais” ou mesmo do fim de movimentos sociais vinculados diretamente às organizações 
sindicais e político-partidárias. As teorias que pressupõem esse fim, nos EUA e Europa 
ocidental, chegaram ao Brasil, tendo que sofrer ajustes. Tais ajustes devem ser investigados 
, por sua 
vez, caracterizou-se como um período de grande expectativa política das organizações 
sindicais e partidárias dos trabalhadores urbanos, ancoradas em movimentos populares e no 
movimento operário. 
 
4 Este projeto é composto por quatro estudantes de graduação, cada qual responsável por uma década (1970-
2010), e apresenta como objetivo central um mapeamento crítico da produção cientifica na sociologia brasileira. 
5 É necessário ressaltar que existe uma valiosa bibliografia disponível aludindo sobre a importação de teorias 
realizada por autores de conjunturas distintas. Schwarz (1973) em “Ideias fora do lugar”, artigo publicado na 
revista Estudos Cebrap Nº 3 em 1973, crítica a transferência de ideias provenientes do continente europeu e que 
foram aplicadas mecanicamente na conjuntura brasileira. Propõe ainda que “Ao longo de sua reprodução social, 
incansavelmente o Brasil põe e repõe ideias europeias, sempre em sentido impróprio [...] Partimos da 
observação comum, quase uma sensação, de que no Brasil as ideias estavam fora do centro, em relação ao seu 
uso Europeu” (160-1). 
6 GUIMARÃES, 1999, p. 20-1. 
7 Idem, p. 24. 
por nossa pesquisa em momento futuro na articulação das quatro pesquisas sobre as quatro 
décadas em destaque. 
É interessante destacar que esta conjuntura é distinta se comparada com a que é 
apresentada nos anos 2000. Perry Anderson8
Com base nessas peculiaridades, demonstra-se a importância de analisar a hipótese 
geral do projeto em contraste com a pesquisa que desenvolvemos nesse momento nos anos 
2000, já que trabalharemos sob o prisma de conjunturas distintas. 
 em “O Brasil de Lula”, ao realizar o balanço do 
governo Lula, explica as altas taxas de popularidade conquistadas no final de sua gestão, 
analisa que sob um viés econômico-político este período apresenta certas continuidades com a 
década anterior, apresentando um desenvolvimento similar a matriz do governo de FHC. 
Contudo, considerando-a como um processo social, existiria uma profunda ruptura, 
exemplificados pela consolidação de vários programas de assistência como Bolsa Família, do 
qual indica como um dos maiores trunfos do Governo Lula. 
Dessa forma, a partir dos artigos já levantados, analisamos introdutoriamente uma 
parte desse material. Em que medida essa análise nos permite avançar na hipótese de 
pesquisa? Seria possível observarmos um conceito de classe social comum para a sociologia 
brasileira? Ele teria a mesma relevância dos anos 1970, 1980 e 1990? Essas são algumas das 
questões que norteiam essa análise introdutória. A partir dessa premissa, faremos algumas 
indicações preliminares baseadas neste material. 
Com o intuito de melhor organizar nossa exposição, classificamos os artigos9
Nesse primeiro grupo é possível apontar algumas distinções teóricas. Identificamos em 
uma primeira vertente, artigos que reafirmam a pertinência do conceito de classe social. Esses 
trabalhos podem ser exemplificados pelos artigos de Boito Jr. (2002) e Perissinotto (2007), 
 em dois 
grupos. O primeiro agrupa artigos que analisaramteoricamente o conceito de classe social, 
isto é, sua pertinência, seu conteúdo, sua coerência e sua aplicabilidade conjuntural; já o 
segundo grupo é constituído por artigos que utilizam o conceito de classe social como pano de 
fundo para a análise sociológica de temas diversos. Assim, é possível indicar um vasto campo 
de análise, em que o conceito de classe social atravessa várias tematizações teórico-sociais. 
 
8 ANDERSON, 2011, p. 48-9. 
9 Ainda sobre o material levantado, destaca-se em sua maioria a presença de artigos publicados em revistas 
acadêmicas, relacionados ao tema e a hipótese de pesquisa. Não obstante, estão arrolados também algumas 
resenhas e apresentações de colóquios. A resenha de Aguiar (2010) “De Virgílio Borges Pereira, classes e 
culturas de classe das famílias portuenses: classes sociais e modalidades de estilização da vida na cidade do 
Porto” é um exemplo disso. Considerando que há um contraponto crítico direto com a hipótese de nossa 
pesquisa, em que se afirma: “Será possível que uma obra sociológica, produzida num determinado contexto, 
apresente propriedades aplicáveis numa outra situação social especifica? Estamos a crer que a obra de Virgílio 
Borges Pereira aqui em breve análise permite responder afirmativamente a esta questão” (125). 
ambos frutos de uma análise pautada no conceito de classe social de Marx. Enquanto 
Perissinotto (2007) em “O 18 Brumário e a análise de classe contemporânea” analisa o “18 
Brumário de Louis Bonaparte” (1984) como obra fundamental para o entendimento desse 
conceito, principalmente porque condensa todos os “entraves” em relação à análise das 
classes sociais na política, Boito Jr., baseia-se nesta obra para explicitar a atualidade do 
conceito de classe social. 
Contudo, esta abordagem não é um consenso nos artigos analisados. Brito (2010), 
Bertoncello (2009) e Sallum Jr. (2005), exemplificam outro tipo de encaminhamento teórico, 
retomando o conceito de classe a luz da abordagem culturalista e utilizando como referencial 
teórico, por sua vez, as obras de Pierre Bourdieu (2005; 2007). Sallum Jr., mais 
especificamente, trata das diferentes concepções de classes e as limitações das abordagens de 
viés marxista ao relacionar classe social e política. Ambos os autores, contudo, por meio de 
caminhos distintos, chegam a uma conclusão em comum, a saber, a de que a concepção de 
estratificação bourdiesiana seria a mais adequada, tanto para a análise de movimentos sociais 
e da ação coletiva, no caso de Sallum Jr., como do processo de formação de coletividades de 
classe, como é o caso de Bertoncello. 
Dentro deste mesmo grupo, é possível apontar outra vertente distinta, tendo por base 
variadas classificações de estratificação social. A discussão sobre as classes sociais não 
estariam eliminadas nesta vertente. Contudo, esta se pauta sobre uma outra forma, tendo por 
pressuposto estudos do campo classificado como "neoweberiano" ou, em alguns casos, sobre 
a própria obra de Weber (1981). Esta pode ser exemplificada pelos trabalhos de Cattani 
(2009) e Medeiros (2004). No caso, mais especificamente de Medeiros, por meio de um 
mapeamento das teses sobre as clivagens dada pela estratificação social, a discussão se pauta 
sob a teoria das classes, em que a classes são compreendidas como estratos sociais, 
hierarquizados, por sua vez, a partir de múltiplos critérios possíveis. Relacionando a questão 
da estratificação social com variáveis como gênero e raça, encontram-se os trabalhos de 
Ribeiro (2006), Souza (2005) e Santos (2008). No caso deste último, é possível indicar 
relação direta na aplicação de pressupostos apresentados pelos trabalhos de Erik Olin Wright 
(2004), finalizando aqui a constituição do primeiro grupo de artigos. 
Já no segundo grupo, ressaltamos estudos que se baseiam no conceito de classe social, 
aplicando-o a temas diversos. É o caso dos trabalhos de Machado e Noronha (2002) e de Saes 
(2005) que recorrem ao conceito de classe como instrumento para aprofundar ou analisar 
outros subtemas, como a educação e a violência urbana. Saes, por exemplo, retrata a ideologia 
e a luta de classes na educação, vislumbrando principalmente a atuação de grupos específicos, 
como a classe média. 
A partir dessa premissa e das discussões provenientes entre os pesquisadores nas 
décadas de 1970, 1980 e 1990 foi possível fazer algumas indicações. Primeiramente, é que 
diante deste vasto material, é possível apontar um aumento relativo no número de artigos 
publicados em relação às décadas anteriores. Esta questão possibilita a reflexão de que o 
conceito de classe, tratado em diferentes vertentes no material levantado, é um conceito 
considerado relevante, retomando, em alguma medida, espaço mais destacado entre as 
revistas acadêmicas do período. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Documento de Área - Sociologia, 
2009. 
 
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