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DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA À SOCIOLOGIA DA EMPRESA

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7 9Max Weber: family history, economic policy, exchange reform
DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA À
SOCIOLOGIA DA EMPRESA: para uma Sociologia
da Empresa brasileira
Ana Maria Kirschner*
Cristiano Fonseca Monteiro* *
Resumo: Procuramos discutir teoricamente a noção de que a
ordem econômica e suas instituições, aí incluídas as empresas,
são construções sociais, passíveis, portanto, de serem
apreendidas sob outros olhares que não o de uma racionalidade
exclusivamente formal de caráter econômico. São apresentados
também alguns temas que têm sido tratados por cientistas
sociais, em um esforço no sentido de criar uma Sociologia da
Empresa brasileira.
Palavras-chave: Sociologia da Empresa, Sociologia
Econômica, construção social do mercado, empresa e sociedade.
Introdução
Recentemente, cientistas sociais começaram a trazer de volta
à Sociologia temas de pesquisa tais como a formação de grupos
empresariais, o desenvolvimento dos mercados, e a ação econômica
em geral, dos quais por um bom período esta disciplina esteve afastada.
Esta retomada, no entanto, não obedece a referenciais ou mesmo a
um timing homogêneo, como se poderá perceber ao longo do texto.
Não resta dúvida, porém, que alguns avanços teóricos podem ser
tomados como comuns às diferentes experiências – dos quais se destaca
sem dúvida, um questionamento à representação reificada da ordem
econômica.
* Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS/
UFRJ.
** Professor substituto de Sociologia, na Universidade Estadual do Ceará.
8 0 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
Quando falamos em representação reificada da ordem
econômica, falamos de um duplo processo que diz respeito tanto à
dinâmica do senso comum como à dinâmica acadêmica. Isto porque
a idéia de que a ordem econômica seria um campo à parte da
sociedade, orientado por uma lógica específica e diferente de outros
campos da vida social1 está difundida tanto nos meios jornalísticos e
nos discursos políticos quanto na trajetória das próprias disciplinas
dentro da universidade.
A proposta de uma Sociologia da Economia, e de suas principais
instituições – a empresa sendo a que mais nos interessa aqui – constitui,
portanto, um movimento teórico com implicações práticas,
objetivando reinterpretar os fenômenos econômicos sob o enfoque da
Sociologia ao mesmo tempo em que aventa a possibilidade de novos
caminhos para o trabalho do sociólogo, no interior de instituições
onde o saber dos economistas (e administradores, engenheiros de
produção e afins) tem sido considerado o único legítimo.
Neste artigo, primeiramente procuraremos apresentar alguns
pontos relativos à recente retomada do campo da Sociologia
Econômica, através de seus principais autores. Num segundo
momento, apresentaremos uma vertente específica deste movimento
maior, que é a Sociologia da Empresa de língua francesa. Por fim,
apresentaremos alguns trabalhos os quais se constituem, em nossa
opinião, como primeiros passos no sentido da construção de uma
Sociologia da Empresa brasileira.
A Sociologia Econômica
A relação entre Economia e sociedade é um tema clássico da
Sociologia. O conjunto da obra de Marx, centrada na noção de que
as “relações sociais de produção” seriam o elemento dinamizador
das demais relações sociais; a reincidente temática weberiana da
racionalização da vida cotidiana e sua relação com o desenvolvimento
do capitalismo; e, não menos importante, a preocupação em Durkheim
com a substituição da solidariedade mecânica pela solidariedade
orgânica, e as implicações, ante um novo modo de “divisão do trabalho
social”, com os laços de solidariedade que garantiriam a coesão social
8 1Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
na sociedade moderna são prova do quanto a Economia esteve no
centro da procupação dos sociólogos clássicos. A recente retomada
dos estudos na área de Sociologia Econômica, trabalhando com
objetos tais como mercados e empresas, parece-nos não só um
movimento legítimo, como também oferece a possibilidade de
renovação teórica na Sociologia e da sua postura frente à sociedade.
Esta busca pela renovação da Sociologia Econômica tem um
componente de resistência ao avanço, a partir dos anos 70, de um
outro campo teórico, o da Economia Neoclássica. O que alguns autores
chamaram de “imperialismo econômico” (Swedberg e Granovetter,
1992) representou uma tentativa de se lidar com temas caros à tradição
sociológica, tais como família, religião e educação, aplicando-lhes
uma metodologia baseada no uso de modelos matemáticos que se
caracterizam pela extrema formalização, simplificação do objeto, sob
o preço de um total esvaziamento do seu conteúdo histórico e
substantivo.2 O enfrentamento do imperialismo econômico, que de
certa forma marcaria o ressurgimento da Sociologia Econômica, seria
a recuperação pela Sociologia de um objeto que, no sentido amplo, já
foi seu: os fenômenos econômicos.
A obra de Karl Polanyi tem sido tomada como referência para
a crítica desta separação entre o econômico e o social, ao formular a
noção de “inserção social da Economia”. O autor resgatou da teoria
social clássica (o sociólogo Max Weber e o antropólogo Bronislaw
Malinowski, entre outros) a percepção de que a produção, circulação
e troca de bens nas sociedades pré-industriais – o que de um ponto de
vista moderno chamamos genericamente de “Economia” – estão
inseridas nas relações sociais em geral destas sociedades, não havendo
naquelas, portanto, uma separação entre o econômico e o social
(Polanyi, 1944). Propondo também a distinção entre um significado
formal e um significado substantivo para a ação econômica, Polanyi
sugere que o primeiro não é, como quis fazer crer a Economia Clássica,
passível de aplicação a todas as sociedades no tempo e no espaço. O
desenvolvimento de um significado formal para a Economia seria,
para este autor, contingente, e particular da sociedade moderna. A
“ação economicista” (economizing action), em que estaria baseado
este significado formal, se constituiria em oposição à ação socialmente
condicionada, característica das sociedades pré-industriais (Polanyi
8 2 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
et al., 1957). Esta ação economicista se reduziria à realização de um
interesse próprio, e seria racional por se basear tão-somente num
cálculo de meios e fins, encerrando-se em si mesma, na qual as demais
relações sociais não contariam.3
Polanyi também chamou a atenção para o caráter “socialmente
instituído” da ordem econômica, e neste sentido pôs em questão a
idéia de que toda e qualquer ordem econômica seria a expressão de
uma forma idealizada de natureza humana. Este autor demonstrou
ainda que a emergência da ordem econômica moderna, a Economia
de mercado, foi marcada por intensos processos de luta social. Na
Inglaterra, a liberação de mão-de-obra no campo, destituindo amplos
setores da população inglesa de seu meio de subsistência, somada a
uma série de medidas legais por parte do Estado inglês, seria uma
expressão destas lutas. A sociedade, não se rendendo ao mercado,
pressionou por medidas políticas que oscilaram entre o que o autor
trata como uma forma de autoproteção desta sociedade, e a promoção
do mercado, o “moinho satânico” que seria, por princípio, nocivo à
ordem social. A sociedade moderna, por fim, tem se caracterizado
por um movimento pendular entre uma ordem socialmente protegida
e uma ordem ameaçada pelo “moinho satânico” do mercado.
Sem dúvida, Polanyi contribuiu para a desnaturalização do
homo economicus, este agente economicista que agiria conforme um
padrão de racionalidade formal, motivado tão somente pela realização
de um interesse próprio e por uma propensão natural à troca,
desconectado de qualquer vínculo substantivo com o meio social em
que está inserido. Segundo Polanyi, a economia pré-industrial era
imersa nas instituições e tradições sociais em geral,sendo regida pela
reciprocidade ou pela redistribuição. Com a sociedade moderna, a
idéia de uma ordem econômica autônoma em relação ao meio social
teria emergido de fato, mesmo que sua materialização tenha sido
sempre provisória e sujeita à retomada de diferentes mecanismos de
proteção social.
A noção de inserção social da economia tem sido um dos
principais instrumentos da recente retomada, por parte da Sociologia,
dos temas relativos à ordem econômica. Uma das correntes desta
8 3Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
retomada é a chamada Nova Sociologia Econômica (NSE), que tem
entre suas principais referências sociólogos como Mark Granovetter
e Richard Swedberg.
Um momento importante do amadurecimento da NSE está na
publicação do Handbook of Economic Sociology, reunindo 31 artigos
de sociólogos, cientistas políticos, alguns economistas e professores
de business schools (Smelser e Swedberg, 1994). Na introdução a
este Handbook, os organizadores apresentam alguns pontos a respeito
da abordagem sociológica sobre a economia, e comparam esta
abordagem com a da Economia Neoclássica. Segundo esta
comparação, o ator na Sociologia é concebido como sendo
influenciado por outros atores e fazendo parte de grupos sociais e da
sociedade em geral, enquanto na Economia Neoclássica, o ator é
concebido de forma atomizada, nos termos de um individualismo
metodológico. Quanto à concepção de “ação econômica”, seu caráter
racional é apenas um dos aspectos considerados pela Sociologia,
enquanto é o único levado em consideração pela Economia. Já no
que diz respeito à metodologia, os sociólogos lançam mão de vários
métodos, inclusive históricos e comparativos, sendo os dados
geralmente produzidos pelo pesquisador (“mãos sujas”); os
economistas, por sua vez, estão mais preocupados com a formalização
dos métodos, sobretudo através do uso de modelos matemáticos,
eventualmente sem nenhuma referência a dados empíricos.
Uma das inovações da NSE está em sugerir que a ação
econômica nas sociedades modernas também está inserida nas relações
sociais. Em poucas palavras, estes autores sugerem que fenômenos
econômicos estão imersos em determinadas relações sociais e
dependem das forças materiais e simbólicas em interação. Desta forma,
a racionalidade propriamente formal, ou seja, baseada exclusivamente
num cálculo de meios e fins – a busca de “eficiência”, “qualidade”,
“competitividade” como meios visando o fim da “sobrevivência no
mercado”, por exemplo – é apenas parte da história que se pode contar,
ao falar da ordem econômica e de suas instituições no mundo
contemporâneo (Swedberg e Granovetter, 1992).
Existem atualmente algumas coletâneas e várias dezenas de
artigos que poderiam ser classificados como pertencentes ao campo
teórico da NSE, sendo Mark Granovetter considerado o fundador
8 4 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
dessa corrente, com seu artigo “Economic action and social structure:
the problem of embeddedness”, publicado no American Journal of
Sociology, em meados dos anos 80.
Central na argumentação de Granovetter está o conceito de
redes sociais, utilizado para definir o que se entende por “inserção
social da Economia”. Através deste conceito, Granovetter procura
superar o dilema das concepções “sub-socializadas” ou “formalistas”
x “substantivistas” ou “sobre-socializadas” de ator, caras,
respectivamente, à teoria econômica neoclássica, e às teorias sociais
de cunho estruturalistas e/ou funcionalistas (Granovetter, 1985b). A
incapacidade da teoria sociológica de relacionar de forma coerente
os interações microssociais aos fenômenos macrossociais pode ser
eficazmente ultrapassada através do conceito de redes interpessoais,
que permite ligar o micro ao macro. Segundo o autor, as redes sociais
estabelecem relações fracas ou fortes entre os indivíduos. Os laços
fracos permitem estabelecer pontes entre as redes e se revelam por
esta razão, decisivos. Como para os trevos de redes de autoestradas,
uma ponte local de uma rede social desempenhará um papel de
conexão entre dois setores da rede cuja importância é maior se esta
ponte consistir na única possibilidade de passagem para um número
elevado de indivíduos.
Uma ponte, em sentido absoluto, é um ponto local de grau
infinito. (...) só os laços fracos podem constituir estas pontes
locais. (Granovetter, [1973] 2001, p. 52).
Para o autor, os contatos pessoais, o fluxo de informações, as
relações de confiança e reciprocidade e outros mecanismos informais
são fatores explicativos decisivos da interação no interior da ordem
econômica. Esta abordagem permite questionar os postulados da teoria
econômica hegemônica, segundo a qual o mercado se estruturaria
pela mera interação de indivíduos independentes uns dos outros,
interação esta fundada tão-somente em escolhas racionais de caráter
formal. Os indivíduos não são pessoas isoladas e seus laços sociais
influenciam suas trajetórias. Portanto, a compreensão do
funcionamento da ordem econômica supõe levar em consideração as
interações sociais num sentido mais abrangente.
8 5Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
É a sua abordagem da imbricação entre redes sociais e mercados
que explica a celebridade de Granovetter. Alguns sociólogos
consideram a obra de Granovetter como uma inflexão na abordagem
sobre os mercados, uma vez que ela evidencia os laços sociais em
que os mercados se apoiam e atribuem a esta construção um valor
heurístico maior do que a teoria econômica mainstream (Laville,
Lévesque & This-Saint Jean, 2001, p. 10).
Há, no entanto, perspectivas críticas em relação a esta corrente
teórica, que questionam inclusive o próprio estatuto de “corrente”,
portanto relativamente homogênea, que a NSE pretende representar.
Tais críticas assinalam a diversidade de abordagens, assim como a
falta de clareza quanto à definição dos conceitos tidos como chave
pela própria NSE, tais como “redes sociais” ou mesmo um significado
mais preciso do que seja a “inserção social da Economia” (Ingham,
1996; Fligstein, 2001). A produção em Sociologia Econômica de
língua francesa, por outro lado, critica os norte-americanos pelo pouco
espaço dado à ação, no sentido de transformação da ordem social.
Segundo Lévesque et al., a NSE estaria demasiado preocupada em
inscrever a ação econômica no interior das relações sociais mais gerais,
como forma de enfrentar teoricamente a abordagem econômica
neoclássica. No caso francês, o enfrentamento teórico estaria
relacionado à ruptura com o marxismo e o estruturalismo:
(...) na Nova Sociologia Econômica de língua inglesa, adota-
se o ponto de vista objetivista de uma teoria das relações sociais,
enquanto na sua homóloga de língua francesa, é mais próximo
do ponto de vista histórico de uma teoria da ação. A Nova
Sociologia Econômica de língua francesa chama atenção, desta
forma, para a emergência de novas práticas econômicas que
poderiam permitir ultrapassar os limites dos modos tradicionais
de regulação, e ela está mais engajada do que a Nova Sociologia
Econômica e a Sociologia Econômica clássica, que buscam
tanto uma como outra assentar sua legitimidade científica num
domínio e num país onde os economistas ocupam todo o
espaço. (Lévesque et al., 1997, p. 287-288).
Cabe lembrar que leitores de Granovetter são internacionais e
não se restringem a economistas ou sociólogos. É inegável que sua
argumentação é bem estruturada e sedutora para uma grande parte
8 6 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
dos sociólogos que, por um longo período, admitiram a exclusão dos
fenômenos econômicos de seu campo de estudos. O problema não se
situa em suas teses – especialmente sobre embeddedness, redes sociais
e os “laços fracos” – cuja operacionalidade parece estar na capacidade
de aproximar os conceitos da realidade e, portanto, torná-los passíveis
de uma fácil verificação empírica. Entretanto, quando seaceita o
pressuposto que os fenômenos econômicos estão inseridos no social,
que as instituições têm um peso sobre o que se passa na Economia, a
questão das redes sociais e dos laços fracos têm como pressuposto as
escolhas racionais e os interesses dos indivíduos, que são os mesmos
pressupostos básicos da Economia ortodoxa. De forma mais explícita,
Granovetter faz uma crítica contundente aos economistas, à maneira
como eles concebem o mercado, à racionalidade dos atores, mas as
categorias – e seus pressupostos – situam-se dentro do campo da
Economia Ortodoxa. Na verdade, o próprio Granovetter não nega
esta ‘filiação teórica’, uma vez que afirma:
Ora, nossa ambição é mostrar que as teses neoclássicas seriam
reforçadas, mesmo em seu domínio mais central, se lhes
acrescentasse uma perspectiva sociológica. (Granovetter, 2001,
p. 207-208)
De qualquer forma, a NSE representa um avanço na
abordagem sobre a Economia e suas instituições, reinstaurando o
debate sobre estes campos disciplinares. E as possibilidades, tanto
teóricas quanto práticas, parecem estar em aberto.
A Sociologia da Empresa de língua francesa
Em paralelo ao desenvolvimento mais geral da Sociologia
Econômica, em sua matriz norte-americana e suas ramificações
européias, especificamente na França ganhou corpo nos anos 80 um
conjunto de autores que procuraram tomar a empresa como objeto
sociológico. Em 1986, Sainsaulieu e Segrestin, os primeiros sociólogos
a utilizarem a expressão ‘Sociologia da empresa’, mostram que os
anos 80 marcaram para a França e para a Europa, uma época tão
importante para a empresa quanto foi maio de 68 e os anos seguintes
para a evolução dos modos de vida, para as relações sociais de
8 7Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
consumo ou para a evolução das desigualdades sexuais (Sainsaulieu
e Segrestin, 1986, p. 338). Neste texto pioneiro, os autores avançam
a hipótese que será exaustivamente desenvolvida e confirmada em
anos posteriores (Francfort, Osty, Sainsaulieu, Uhalde, 1995; Uhalde,
2001), qual seja: se a valorização social da empresa tem um efeito de
moda, ela traz em seu bojo a busca da sociedade por uma nova forma
de regulação das relações sociais, agora não mais centrada no consumo
ou nos modos de vida, mas precisamente na esfera da produção de
bens e serviços. Sainsaulieu e Segrestin propõem o desenvolvimento
de pesquisas com uma abordagem deliberadamente institucional da
empresa, de forma a contemplar simultâneamente a cultura e a relação
entre empresas e mudança social.
(...) num contexto geral de enfraquecimento de referências
sociais a empresa se afirma como um lugar de produção
identitária (...) que tenderiam a esboçar as representações
significativas da sociedade futura. (Sainsaulieu e Segrestin,
1986, p. 339).
Nos trabalhos desenvolvidos no final dos anos 80 e na década
de 90 por esses e outros autores, ganhou corpo a noção de que a
empresa é um ator-criador, isto é, a sua organização e a sua dinâmica
política não constituem apenas respostas às imposições e limitações
de seus ambientes, e, sim, um constructo de atores que integram os
constrangimentos externos como elementos de suas estratégias. Ao
contrário do que sugeriria uma abordagem que visse na empresa um
agente passivo ante a sociedade em que está inserida, não se trata de
uma adaptação mecânica da empresa às imposições econômicas e
técnicas que vêm de fora: os atores no seio da organização têm sempre
escolhas possíveis; eles constróem uma organização cujo resultado é
sancionado pelo exterior.
Nesta perspectiva, Bernoux (1985) nos ensina que os fatos
coletivos são considerados como o produto, a combinação, a agregação
de um conjunto de ações individuais. Recusa-se a idéia de um fato
social coletivo, imposto de fora aos indivíduos. Tal método exige
que se passe pelos indivíduos para se chegar ao composto que é o fato
social, visto como algo construído, que se deve em parte à agregação
dos comportamentos individuais. Para os sociólogos da empresa, esta
8 8 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
é uma construção social, cujo conhecimento deve ter como base uma
interpretação que considere o conjunto – indivíduos e imposições –
ligado a um corpo social.
Nesta linha de raciocínio, a Sociologia da Empresa contesta
radicalmente as histórias de empresas que atribuem o sucesso ou o
fracasso de uma empresa exclusivamente à ação ou à personalidade
de um indivíduo, ainda que ele seja um ator-chave.4 Claro que há
configurações individuais que desempenham um papel maior ou menor
em situações particulares. O problema a ser resolvido é exatamente
esta equação.
Conhecer o indivíduo é importante, desde que não se considere
que seu comportamento se deve somente aos componentes de
sua psique. Trata-se de apreendê-lo na sua relação com o grupo
onde ele age. Como qualquer grupo humano, a empresa é um
lugar de articulação do individual e do social. Sem esta
articulação, é impossível conhecer a empresa. (Bernoux,
1985, p. 70).
O instrumental teórico e metodológico utilizado na Sociologia
da Empresa tem permitido estabelecer relações entre família,
propriedade e administração com resultados muito interessantes.
Tradicionalmente, a literatura sobre administração de empresas
quando se refere a dirigentes e, sobretudo a fundadores, apresenta-os
sob uma ótica schumpeteriana: invariavelmente é empreendedor,
dinâmico, com agudo faro para detectar novas oportunidades de
negócios. Sua trajetória profissional é formada por sucessos, seus
fracassos são mencionados no máximo para mostrar que aproveitou
bem uma experiência mal-sucedida. Michel Bauer (1993), em
pesquisas realizadas nas décadas de 80 e 90, faz uma ruptura com
esta abordagem que apresenta as ações dos dirigentes de empresa
como puramente guiadas pela lógica econômica. O autor mostra que
as lógicas políticas e familiares desempenham um papel fortíssimo
no universo econômico moderno. A quebra da regra do “falar somente
Economia” é, para Bauer, indispensável para compreender o
comportamento dos atuais donos de empresas e suas decisões; é
necessário considerar suas ações como produto de racionalidades
diferentes e inextrincavelmente ligadas.
8 9Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
Sainsaulieu, o founder father da Sociologia da Empresa
francesa, fala da empresa como uma realidade humana viva, que
dispõe de uma vasta gama de recursos diferenciados – esta agregação
de indivíduos os transforma em atores sociais. A empresa
contemporânea não se limita a gerir e manter recursos econômicos,
técnicos e humanos, como foi o caso até alguns anos atrás. Hoje, a
invenção e desenvolvimento de novos recursos se impõe como
exigência de sobrevivência econômica. Como aponta o mesmo autor,
uma das chaves para resolver este problema é a qualidade da estrutura
social das relações humanas de trabalho, pois esta é uma das fontes
cruciais de criatividade.
O olhar sociológico sobre a empresa desvela dois fenômenos
consideráveis para a compreensão de seu futuro. De um lado,
a empresa é uma entidade em si que hoje em dia encontra sua
força e sua eficiência não mais nas virtudes e nas possibilidades
de seus dirigentes, mas no valor criador de seu próprio sistema
de funcionamento. De outro lado, autônoma porque se tornou
social em seu âmago, a empresa não pode mais limitar sua
eficiência unicamente ao lucro econômico, ela ‘fabrica’ também
emprego, tecnologia, solidariedades, modos de vida, cultura.
(Sainsaulieu, 1997, p. 421-422).
Em relação ao papel e às modalidades de ação da empresa em
termos de sua autonomia, Liu (1992) destaca duas dimensões: a
capacidade de a empresa ter uma identidade própria (dimensão
identitária) e sua capacidade de ação (dimensão realizadora). Quanto
à primeira dimensão, o autor define-a dentro do espectro “permeável
x fechada”, com relação à empresa ser aberta ou fechada para as
influências do ambiente.Já a segunda, inserir-se-ia num continuum
“ativo x passivo”, com relação à capacidade de a empresa definir e
realizar um projeto próprio, a despeito dos obstáculos encontrados.
Os projetos (estratégias) e a identidade da empresa assumem, destarte,
um significado central para a abordagem sociológica.
Ramanantsoa (1982), por sua vez, aprofunda a questão acerca
da autonomia (bem entendida, como autonomia relativa) da empresa,
definindo a formulação de “estratégias” como índice de seu estatuto
de ator social. É através delas que a empresa deixa de ser um mero
“espaço” de concretização de relações estruturais mais amplas, e passa
9 0 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
a tomar parte na constituição do social. Ramanantsoa também faz
uma avaliação do discurso como elemento de análise. Ainda que
ideológico, e reconhecendo que raramente ele reflete diretamente a
realidade, o discurso indica – inclusive pelo fato de ser formulado –
algum grau de autonomia quanto à estratégia.
Parece-nos que o discurso sobre a estratégia é um indicador
do grau de liberdade da empresa, na medida em que, como
todo discurso – mesmo ideológico – ele só é admitido na
medida em que corresponda à liberdade dada à empresa pelas
outras instituições. Se a empresa fala de sua estratégia (…) é
porque os outros atores da vida social lhe reconhecem este
direito. (Ramanantsoa, 1992, p. 134).
Ainda segundo este autor, o desenvolvimento do marketing
aponta para uma tentativa de autonomização e indica que a oferta e a
demanda não são uma relação mecânica, mas um encontro de atores
que, como tal, precisa ser socialmente construído. O desenvolvimento
das técnicas em administração também enfatiza a capacidade das
empresas em romper com o padrão da concorrência no mercado,
implicando alguma forma de mudança, seja no ambiente, seja nos
domínios da atividade. Por fim, ele chama a atenção para a
importância da identidade da organização como elemento de definição
para a condição de ator. Resumindo as questões discutidas nesse texto,
o autor se pergunta: “Poderíamos falar da identidade de um não-
ator?” (Ramanantsoa, 1992, p. 142).
Numa formulação sintética, construída a partir das diferentes
contribuições da Sociologia da Empresa aqui apresentadas, assim se
poderia definir a abordagem proposta: é por sua estratégia que a
empresa constitui sua identidade, e a partir dela é que interage, como
ator, com a dinâmica da sociedade.
Em direção à construção de uma Sociologia da Empresa
brasileira
O esforço para se reunir os estudos sobre empresa e empresários
no Brasil num ambiente comum de reflexão é recente, datando da
segunda metade dos anos 90, com a realização de alguns encontros e
9 1Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
a publicação das primeiras coletâneas reunindo esta produção.5 Não
que o tema tenha escapado da atenção dos sociólogos antes disso, ou
que os sociólogos não tenham realizado estudos no interior de
empresas até então. Neste sentido, destaca-se, sem dúvida, a vasta
produção da chamada Sociologia do Trabalho, da qual não trataremos
aqui, posto que se trata de uma linha mais do que consolidada nas
ciências sociais brasileiras, presente na maior parte dos centros de
pós-graduação do País, cuja produção é reconhecida
internacionalmente. Estes estudos, no entanto, se organizaram em torno
de outras abordagens que não propriamente a de uma “sociologia da
empresa”. Pensamos ser possível identificar em anos mais recentes o
surgimento de alguns trabalhos que estão preocupados em entender,
de um ponto de vista sociológico, o que poderíamos definir como a
“construção social” da empresa.
Boschi (2002) destaca que o Executivo manteve a
preponderância entre os poderes, dos anos 30 até agora. Segundo o
autor, o papel dos atores sociais na configuração dos arranjos
institucionais e a dinâmica de relacionamento entre os poderes,
depende de características conjunturais. Tentamos mostrar exatamente
como as principais mudanças no papel dos atores, especialmente as
empresas, foram apreendidas pela Sociologia brasileira dos anos 90.
Se não podemos falar de um “novo empresariado” em sentido
estrito (Diniz, 1996), trabalhos sobre setores específicos do
empresariado demonstram que tampouco se pode falar de “um”
empresariado nacional. Tomando-se o exemplo do empresariado
financeiro, analisado por Minella (1994), fica claro que a classe
empresarial se defrontou com novos desafios a partir do contexto da
redemocratização, e que estes desafios complexificaram a sua relação
com a sociedade. No interior do próprio setor financeiro, o autor
identifica posturas divergentes entre grandes empresários (ligados a
grupos como Bradesco, Itaú, Unibanco e outros) e aqueles de porte
pequeno ou médio. Por outro lado, o empresariado financeiro como
um todo é percebido de forma crítica pelos segmentos ligados à
indústria, apontando o setor financeiro como responsável pela crise
vivida pelo País – vale lembrar que enquanto a inflação era tida como
um entrave ao crescimento econômico geral, ela proporcionava aos
bancos uma lucratividade bastante alta. O empresariado financeiro,
9 2 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
por sua vez, tendeu a jogar para o Estado a responsabilidade pela
crise (em função do déficit público, com os diversos mecanismos que
levam a ele, e que caberia ao Estado controlar).6 Na relação com os
trabalhadores, que emergiram como força social no contexto de
redemocratização através de movimentos grevistas, Minella (1994)
identifica uma aversão deste empresariado não só à própria idéia de
negociação direta – privilegiando a mediação do Estado, nos moldes
consagrados pelo modelo corporativo –, como a aceitar o conflito de
interesses como sendo parte da dinâmica política.
Medeiros (1999), por sua vez, analisa os dilemas da
Confederação Nacional da Indústria em relação às mudanças
colocadas para a legislação trabalhista e sindical do Brasil. Estudando
o período de 1988 a 1998, o autor mostra as dificuldades dessa
entidade em adotar uma postura consistente e eficaz em favor da
flexibilização da legislação trabalhista, sem colocar em risco sua
própria sobrevivência. Depois de indicar como a atuação da CNI se
desdobrou nessa década, mostra como a agenda desta organização de
cúpula ficou reduzida a uma demanda por flexibilização da legislação
trabalhista e pelo fim da unicidade sindical. Contudo, como este
último dispositivo está na base do financiamento de toda a estrutura
corporativista – que repassa às entidades de todos os níveis os recursos
compulsoriamente pagos pelos industriais – a CNI fica com uma
margem de manobra muito estreita para levar a cabo suas propostas,
evidenciando que a dimensão institucional dos interesses organizados
tem uma importância decisiva para o entendimento das classes
enquanto atores políticos.
A Associação Comercial de São Paulo foi analisada por Paulo
Roberto Neves da Costa (2000). Seu estudo mostra que esta entidade
tradicional e com um peso político importante7 está vivendo
atualmente uma tensão entre as duas dimensões em que atua – a
empresarial e a político-representativa. Isto significa que ela está
fazendo a passagem de uma atuação predominantemente lobbysta
para uma atuação caracteristicamente empresarial.
O autor traz à luz o conflito entre estas dimensões. A Associação
Comercial de São Paulo viu-se “obrigada” a adotar estratégias de
gerenciamento empresariais oferecendo serviços, captando recursos,
9 3Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
fazendo marketing (usando o peso de sua tradição e credibilidade) e
atraindo sócios (às vezes com possibilidades de concorrer com alguns
associados). Atualmente cabe as seus técnicos e assessores a
responsabilidade da representação, o que implica que são os técnicos
que têm hoje um papel importante na condução política (e cultural,
em termos de valores e tradições)da entidade.
Por fim, vale mencionar entidades e movimentos surgidos no
contexto da Nova República, alguns dos quais tendo trazido como
novidade o fato de não visarem representar ou defender interesses
setoriais e específicos, mas, sim, uma ação ideológica mais ampla. É
o caso dos Institutos Liberais, presentes nos principais estados
brasileiros. Basicamente, estes institutos visam divulgar e afirmar os
princípios clássicos do liberalismo, com ênfase na eficácia do mercado
como ordenador da produção e das relações sociais, trabalho que
certamente teve algum impacto, haja vista a crescente hegemonia
que o neoliberalismo conquistou na sociedade brasileira, não só entre
suas elites econômicas, como entre a população de um modo geral.
Surgiu também o Pensamento Nacional das Bases Empresariais
(PNBE), uma dissidência da FIESP. Sediado em São Paulo, o PNBE
se propôs romper com o estilo de ação política daquela entidade,
reclamando a criação de canais institucionalizados para a relação
entre Estado e empresariado, diferentemente do padrão “direto”,
informal e clientelista tradicional. Por fim, o IEDI é apresentado como
um órgão de que são colaboradores muitos “notáveis” da lista da
Gazeta Mercantil (muitos ligados à FIESP/CIESP), tendo como
objetivo renovar as práticas do empresariado e formular uma nova
estratégia de desenvolvimento para o país. Este instituto também
propõe uma nova inserção social do empresariado, como outros canais
para dialogar com o Estado, os trabalhadores e a sociedade em geral
(Diniz e Boschi, 1993).
Estudos mais específicos sobre estas organizações, por outro
lado, falam dos limites e dos dilemas destas iniciativas. No caso do
PNBE, Gomes e Guimarães (1999) mostram que, de fato, este
movimento esteve voltado para uma discussão mais ampla sobre o
País, tendo por base a construção de um “empresário cidadão”.
Segundo um dos próprios líderes do PNBE, seu papel político perdeu
força com a eleição de FHC, que acabou colocando em prática muitas
9 4 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
das suas demandas. Por outro lado, o movimento permanece ativo
através de projetos ligados à ecologia, educação e saúde,
caracterizando-se por uma certa forma de assistencialismo, entendida
pelo movimento como “prática cidadã”.
A partir da revisão destes trabalhos, podemos concordar com
Diniz quando a autora assinala que a relativa hegemonia do
pensamento autoritário-corporativo predominante desde os anos 30
deu lugar, com a Nova República, a “uma cultura política
multifacetada, caracterizada por um mosaico de conceitos e valores
justapostos e não-integrados a projetos ou propostas mais globais”
(Diniz 1996, p. 38-39). Seja do ponto de vista regional, setorial, ou
da própria concepção da ação política (o tipo de organização, seus
fins etc.), os trabalhos aqui revisados demonstram haver uma certa
diversificação nas formas e no conteúdo da ação política empresarial.
Ainda assim, todos os trabalhos reiteram a postura particularista,
avessa ao reconhecimento e à negociação de interesses divergentes,
e sem compromisso com a construção de uma arena pública de
negociações. Mesmo levando-se em consideração as novidades, como
o PNBE, quando um de seus líderes afirma que o movimento perdeu
muito de sua força porque um determinado governo pôs em prática
suas principais bandeiras, vemos que a subordinação do empresariado
ao Estado permanece como um traço da cultura política desta classe.
Grandes empresas brasileiras têm sido estudadas sob este
prisma, como, por exemplo, o Banco do Brasil, a Varig e o grupo
Ipiranga. No caso do primeiro, Rodrigues (1999) discute as
transformações vividas pelo banco num período de transição das
políticas governamentais. Ao fazê-lo, identifica no discurso dos
funcionários uma dupla representação do banco: uma visão ahistórica,
de um banco idealizado (“O Banco de 190 anos”, “o nosso Banco”),
e o banco ligado ao governo, sujeito às suas políticas específicas. No
contexto atual, estas políticas enfatizam a necessidade de um banco
voltado para o mercado, cabendo-lhe como papel social, gerar lucro,
segundo fala de atores ligados ao governo.
Através do discurso destes atores, percebe-se sempre articulada
uma idéia de nação, em que pese cada ator usá-la para defender uma
posição particular. A idéia de “promotor do desenvolvimento”, e seu
9 5Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
correlato, “atenuador das desigualdades regionais”, é um dos
argumentos utilizados. A autora coloca em evidência a necessidade
de uma leitura crítica do argumento “moderno x tradicional” que
fica mais ou menos aparente na fala das autoridades que defendem a
“modernização” do banco através de uma política mais voltada para
o lucro e menos para as comunidades, ou ainda, para o
desenvolvimento local.
Quando se instaura este processo de mudança no papel social
da empresa, o resultado é uma negociação. As comunidades precisam
articular-se para garantir a permanência do banco, de forma que o
seu papel não se transforme a ponto de estar destituído de um conteúdo
propriamente social. A questão, então, não é se o banco privilegia o
“econômico” em detrimento do “social”, mas perceber quais
significados estão sendo conferidos aos mesmos termos e elementos
simbólicos (do tipo “modernização”, “desenvolvimento” etc.) que
surgem no discurso destes atores.
Monteiro (2000) interpreta as estratégias da Varig de um ponto
de vista semelhante, quando demonstra que esta empresa travou
distintas “relações de significado” com a sociedade brasileira no
contexto dos governos militares e das reformas para o mercado. No
primeiro caso, este significado passou pela idéia de “Varig e Brasil
Grandes”, sendo suas estratégias orientadas por uma concepção de
“empresa a serviço do desenvolvimento nacional”. Neste contexto, e
na condição efetiva de empresa designada para representar o País no
transporte aéreo internacional, e detentora de 50% do mercado
interno, por conta de aquisições e fusões algumas das quais a literatura
especializada em história da aviação sugere terem sido forçadas pelo
próprio governo, a Varig pautou suas estratégias na constante
ampliação da frota, das rotas, do quadro de funcionários, e na
diversificação de investimentos.
Já no segundo momento, temos uma reversão desta postura,
nos marcos de um processo de desregulamentação e abertura do setor.
A Varig perde seu status de empresa oficial e se vê ameaçada pela
entrada de novos atores no mercado (com a privatização da Vasp e,
posteriormente, a ascensão da Tam ao grupo das grandes empresas
nacionais, além da entrada de novas empresas brasileiras e norte-
9 6 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
americanas nas rotas entre Brasil e Estados Unidos). A postura de
“empresa a serviço do país” cede espaço para a busca pela
“competitividade”. Ganha força, então, uma concepção de empresa
“enxuta”, que salienta em seus relatórios como “avanços” a redução
do quadro de pessoal, das rotas, da frota, e a alienação do patrimônio,
ao mesmo tempo em que busca parcerias com empresas estrangeiras
(das quais se destaca a entrada da Varig na Star Alliance) e a
reformulação dos serviços prestados, com a criação de novos produtos,
especialmente para os usuários de maior poder aquisitivo (introdução
da classe executiva nos vôos nacionais, serviço de bordo diferenciado
na ponte aérea, que é uma linha voltada essencialmente para
executivos, e alta concentração de vôos nas regiões mais ricas do
país, especialmente a partir de São Paulo para o Rio de Janeiro, Belo
Horizonte e Brasília).
Kirschner (2000) analisa o grupo Ipiranga, buscando recuperar
sua trajetória através das estratégias desenvolvidas para mostrar como
este grande grupo nacional e familiar se expandiu e se consolidou no
mercado brasileiro de distribuição de petróleo, mantendo sua condição
de grupo nacional e familiar. A Ipiranga apresenta algumascaracterísticas bem definidas que têm se mantido ao logo do tempo,
dentre as quais salientamos a escolha de atividades pioneiras, a
formulação de estratégias bem planejadas e seguras, a preocupação
de se antecipar ao mercado e lançar sistematicamente novos produtos,
além de se ter modernizado sistematicamente. Segundo a autora,
apesar de todas as mudanças no mercado e nas conjunturas econômicas
nacional e internacional, este grupo permaneceu, sem dúvida, sólido.
Durante o ano 2000, os resultados das empresas controladas pelo grupo
foram positivos e as mesmas são consideradas por analistas do mercado
como bem capitalizadas e com baixo índice de endividamento.
Durante os meses de abril, maio e junho de 2000, a imprensa
econômica publicou várias notícias sobre a reestruturação societária
da Ipiranga, que poderia chegar à venda de ativos ou à entrada de
parceiros no controle acionário do grupo, ou até mesmo a sua possível
venda. Se estas notícias revelavam uma crise no seio do grupo,
nenhuma mudança ocorreu até agora (junho de 2002), e em nada sua
9 7Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
atuação econômica era afetada. Porém, as mudanças no meio ambiente
econômico e institucional contribuíram muito para a crise que este
grupo atravessa, mas as dificuldades não são exclusivamente externas
ou de caráter sociopolitico, também estão relacionadas às relações
estratégicas entre os atores proprietários do grupo. Ela se deve,
principalmente, à oposição entre uma lógica política e econômica do
tipo empresarial, e uma lógica econômica patrimonial.
De um ponto de vista regional, pesquisas recentes encontraram
indícios da formação de uma nova mentalidade empresarial no Estado
do Rio de Janeiro no que diz respeito à sua capacidade de gestão.
Esta conclusão é reveladora, uma vez que pesquisas abrangeram
diferentes segmentos de empresários na cidade do Rio de Janeiro,
em cidades do interior do Estado e em áreas rurais.
Ribeiro de Oliveira (1999) analisa as novas formas de gestão
dos recursos existentes especialmente no município de Nova Friburgo,
no sudeste do Estado do Rio de Janeiro e do surgimento de inovações
que estão transformando a realidade do setor primário estadual. Tais
inovações estão sendo geradas pela introdução e difusão de cultivos
raros através, principalmente, da criações de caprinos leiteiros e de
trutas de produtores-empresários. A autora mostra que, mesmo entre
os pequenos e médios empresários, estão surgindo traços que apontam
para uma nova mentalidade empresarial, revelada pelas possibilidades
de uma atividade lucrativa, moderna num espaço rural onde não se
esperava tal desenvolvimento.
Kirschner (1999), por sua vez, questiona se, no Brasil, a
exemplo de outros países latino-americanos (como o Chile), o novo
modelo de desenvolvimento pós substituição de importações está
favorecendo o surgimento de uma nova mentalidade empresarial. A
autora escolhe o momento da sucessão como ponto de partida de sua
análise, já que boa parte das grandes empresas familiares brasileiras,
fundadas entre 1940 e 1950, passaram recentemente, ou estão
passando, pelo difícil processo de transmissão do comando da empresa
ou do grupo. No Brasil, o envelhecimento de muitas grandes empresas
adquire um caráter ainda mais delicado porque ocorre
simultaneamente às profundas mudanças na ordem econômica
mundial, que têm tido claros efeitos sobre a Economia nacional.
9 8 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
A comparação entre dois grandes grupos brasileiros
representativos em diferentes épocas, a Mesbla e o grupo Vicunha,
sobre a questão da sucessão, permitiu confrontar a mentalidade dos
empresários tradicionais e seu estilo de administração, com uma nova
mentalidade que difere bastante dos antigos padrões.
O trabalho de Cappellin e Giuliani (1999) faz uma reflexão
sobre o processo de transmissão dos patrimônios econômicos e
culturais e sobre as influências que tais processos têm nos projetos de
reorganização das empresas.
Os depoimentos das novas gerações de empresários de
municípios serranos do Estado do Rio de Janeiro revelam a convicção
de que, hoje, para ser um empresário bem-sucedido não bastam mais
somente os dotes de coragem e tenacidade que animaram os
fundadores, mas são exigidas também competências específicas e uma
boa formação profissional. Em ambos os municípios, a nova geração
de empresários tem uma formação especializada: freqüenta a
universidade, visita feiras e exposições nacionais e internacionais, se
associa e participa de entidades profissionais e de classe, mostrando
uma clara preocupação com a necessidade de articular competências
técnicas, financeiras e comerciais. Emerge assim um perfil de titular
de empresa de porte médio e familiar que demonstra ser capaz de
articular racionalidades diversas, que se utiliza da tradição para poder
enfrentar os desafios da modernização, e que se dispõe a buscar todos
os meios à disposição para enfrentar o desafios de administrar com
competência e eficiência os patrimônios herdados.
Conclusão
Ao olharmos para os trabalhos aqui analisados, consideramos
que já é possível falar da existência de uma Sociologia da Empresa
brasileira em formação. Certamente falta muito para que as ciências
sociais ganhem espaço e legitimidade perante a sociedade para falar
do tema, hoje sob a hegemonia dos economistas, administradores e
afins. Isto deve nos estimular, através de esforços como o aqui
empreendido, a construir esta legitimidade e este espaço, enfrentando
o desafio de nos depararmos com processos sociais bastante complexos,
9 9Da Sociologia Econômica à Sociologia da Empresa: ...
característica da análise sociológica. De qualquer forma, discutir uma
Sociologia dos saberes sobre a Economia está fora do alcance deste
artigo, embora não deixe de ser uma preocupação pertinente.
Nosso propósito, antes, é mostrar que não nos faltam
instrumentos para lidar com o tema, o que por si só já é uma tarefa
considerável.
Notas:
1 Por exemplo, a cultura, a religião e a política. Quanto a esta última, vale
ressaltar que se trata de um campo sobre o qual a abordagem econômica
neoclássica vem ganhando grande espaço, a partir das diferentes vertentes
da teoria das escolhas racionais, o que analisaremos a seguir.
2 Ver a entrevista de Mark Granovetter em Swedberg (1990). Remetemos
também o leitor à entrevista de Gary Becker para uma defesa da abordagem
neoclássica, na mesma publicação.
3 Nas palavras de Granovetter, as relações sociais seriam como “meras
fricções” ou “cabelos na sopa” de uma ação economicamente condicionada
(Granovetter, 1985a apud Swedberg, 1997, p. 241).
4 Ator-chave é uma categoria utilizada pela Sociologia da Empresa para
referir-se a um líder que conhece e exprime as necessidades e aspirações
do grupo ao qual pertence, independente da posição hierárquica ocupada.
São estas características que dão legitimidade a algumas lideranças no
interior de uma empresa ou organização, podendo tratar-se de diretores,
gerentes, líderes, chefes de seção, ou o próprio dono da empresa.
5 Podemos citar como momentos importantes deste esforço os workshops:
“Empresa, empresários e sociedade”, realizado no Rio de Janeiro (1998);
“Culturas empresariais brasileiras: um estudo comparativo entre empresas
públicas, privadas e multinacionais”, em Campinas (1998); “Culturas
empresariais brasileiras: comunidade acadêmica e empresários”, em Vitória
(1999); a segunda edição do “Empresa, empresários e sociedade”, em
Niterói (2000), o I Seminário “Organizações e sociedade: perspectivas
transdisciplinares”, em Porto Alegre (2001), e o seminário temático
apresentado no encontro anual da ANPOCS, “Para onde vai o capitalismo
brasileiro? Dilemas e perspectivas das empresas e dos empresários” (2001).
6 Na esteira desta crítica, um consenso em torno do ideário neoliberal
ganhou força, tendo este setor participado ativamentede entidades e de
100 Ana Maria Kirschner / Cristiano Fonseca Monteiro
movimentos voltados para a divulgação destas idéias. Dentre estes
movimentos, destacaram-se os Institutos Liberais, mencionados adiante.
7 Pela Associação Comercial de São Paulo passaram políticos como Delfim
Netto, Guilherme Affif Domingos, Paulo Maluf e Calim Eid, por exemplo.
Abstract: The authors attempt a theoretical discussion of the notion
that the economic order and its institutions, including firms, are social
constructions, which can therefore be apprehended by approaches other
than that of an exclusively formal rationality of an economic character.
Also presented here are some themes which are being treated by social
scientists in an effort to inaugurate a Brazilian Sociology of the Firm.
Key-words: Sociology of the Firm, Economic Sociology, social
construction of the market, firms and society
Résumé: Cet article est une discussion théorique sur la notion selon
laquelle l’ordre économique et ses institutions, y compris les
entreprises, sont des constructions sociales – passibles, donc, d’être
comprises sous d’autres regards que celui d’une rationnalité
exclusivement formelle de caractère économique. Sont présentés aussi
quelques thèmes qui ont été traités para les sciences sociales dans
l’effort d’inaugurer une Sociologie de l’Entreprise brésilienne.
Mots-clé: Sociologie de l’entreprise, Sociologie Économique,
construction sociale du marché, entreprise et société
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