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BONFIM SEBRAE-MG Agosto a dezembro de 2008 FICHA TÉCNICA 2010 Sebrae-MG Nenhuma parte ou o todo desta publicação poderá ser reproduzido – em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. – nem apropriado ou estocado em sistema de banco de dados sem prévia autorização, por escrito, do Sebrae-MG. Sebrae-MG ROBERTO SIMÕES Presidente do Conselho Deliberativo AFONSO MARIA ROCHA Diretor Superintendente LUIZ MÁRCIO HADDAD PEREIRA SANTOS Diretor Técnico MATHEUS COTTA DE CARVALHO Diretor de Operações Unidade de Atendimento Coletivo – Comércio, Serviços e Artesanato Sebrae-MG AGMAR ABDON CAMPOS Gerente MÔNICA STELA DE ALENCAR CASTRO SAMIRA DE CARVALHO RIBEIRO Macrorregião Norte Sebrae-MG CLÁUDIO LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA Gerente Microrregião de Diamantina LUCIANA TEIXEIRA SILVA Assessoria de Comunicação Sebrae-MG LAURO DINIZ Assessor MÁRCIA DE PAULA DA FONSECA FERNANDA ALMEIDA RUAS DANIELA CORREIA LEMOS DE CARVALHO Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP ANA PACHECO Presidente MARIA SONIA MADUREIRA DE PINHO Coordenação Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM VIVIANE CRISTINA DE PAULA Monitoria PERFIL PUBLICIDADE Projeto Grá� co A492 Ambiente gastronômico no Vale: região do Vale do Jequitinhonha. / coordenação, Maria Sonia Madureira de Pinho – Belo Horizonte: Sebrae-MG, 2010. 54 p. 1.Gastronomia – Vale do Jequitinhonha-MG I. Pinho, Maria Sonia Madureira II .Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais. IV. Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP. V. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. CDU: 641 TURISMO DE SABOR E TRADIÇÃO A vida das pacatas localidades rurais de Minas Gerais, com paisagens pitorescas, costumes e artes seculares, linguajar típico e o sabor inesquecível de alimentos saudáveis, inspirou uma nova parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE-MG e do Governo do Estado para estimular o resgate da cidadania e o desenvolvimento econômico e social de comunidades das diversas regiões mineiras. O programa Turismo Solidário criou roteiros para despertar a imaginação e os sonhos dos visitantes, que viram protagonistas do processo de valorização da sabedoria popular, das tradições, da arte e da cultura, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da gente simples do interior. A coleção Ambiente Gastronômico do Vale registra a história, o ambiente e o saber culinário dos moradores de Alecrim, Bonfim, Capivari e Mendanha, distritos do Jequitinhonha que já desenvolveram atividades de organização do turismo receptivo familiar. Os quatro volumes foram produzidos com a participação das comunidades, que buscaram, nos tradicionais cadernos de receitas preservados e ampliados de geração em geração, as anotações pessoais sobre os pratos mais saborosos e informações sobre remédios caseiros para diversos males. A publicação também fala das rezadeiras e de bênçãos que a força da crendice popular ainda prefere no lugar de modernos tratamentos médicos. Na sua mais atualizada concepção, o turismo considera que a originalidade dos destinos e a emoção que provocam são marcas indispensáveis à atração de visitantes cansados da padronização mundial dos roteiros. Com esta coleção, o SEBRAE-MG entende que, além de divulgar um inovador programa turístico que possibilita a geração de emprego e renda, contribui para recuperar e preservar a rica culinária de Minas. Os sabores e cheiros dos salgados, doces e quitandas mineiros oferecem aos turistas, em singelas mesas de confraternização, o sonho e a fantasia. E, nas conversas sobre habilidades e conhecimentos culturais, artísticos e práticos, é possível reconhecer aquilo que, ao longo dos séculos, forjou o jeito de ser do povo mineiro. Roberto Simões Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-MG VIAGEM ÀS ORIGENS DE MINAS O programa Turismo Solidário, uma iniciativa do Governo de Minas Gerais, foi elabo- rado pela Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – Sedvan em parceria com SEBRAE-MG para realizar a ordenação turística de localidades atendidas pelo Estado nas três regiões, fazendo do turismo instrumento de promoção do crescimento sustentável dessas comunidades. A proposta privilegia a valorização e divulgação do jeito de ser, da cultura popular e das belezas naturais das comunidades. Os turistas solidários participam do cotidiano das famílias que os hospedam e usufruem do aconchego dos lares, das conversas ani- madas à mesa de refeições e dos sabores de alimentos dos quintais das casas, entre muitos outros atrativos. Possibilitando troca de conhecimentos e geração de renda às populações locais, o programa signi� ca esperança de vida melhor para centenas de famílias bene� ciadas pelo aumento do � uxo turístico e pela participação solidária dos turistas. Os distritos de Mendanha (em Diamantina), Alecrim e Bon� m (em São Gonçalo do Rio Preto) e Capivari (no Serro) já desenvolveram as atividades de organização dos recep- tivos familiares e são os primeiros a ter suas receitas culinárias tradicionais registra- das no catálogo Ambiente Gastronômico no Vale. Trata-se de mais uma contribuição para divulgar e consolidar as ações do inovador programa, que desperta no turista o interesse de participar do processo de transformação social e econômica regional, estimulando a cidadania e a inclusão social. A Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais sente-se honrada em dar conti- nuidade a mais um trabalho de resgate do patrimônio do Estado, executado pela Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP. A iniciativa confirma o importante papel da entidade na recuperação e salvaguarda da cultura popular mineira. O projeto Ambiente Gastronômico no Vale do Jequitinhonha apresenta um dos maiores patrimônios do imaginário e dos fazeres do povo mineiro: a culinária. O Vale do Jequitinhonha e sua rica gastronomia sintetizam os sabores e cheiros de Minas Gerais a partir de suas receitas de doces, salgados e quitandas. A gastronomia do Jequitinhonha sinaliza o significado de ser mineiro, além de re- velar símbolos da identidade cultural do Estado. Neste livro, a FAOP convida todos a explorar, desvendar e absorver esse grande mistério. Paulo Brant Secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais O PROGRAMA TURISMO SOLIDÁRIO O programa Turismo Solidário foi criado para possibilitar a inclusão social de popu- lações carentes a partir da dinamização da economia de municípios que integram a área de atuação do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais – Idene, órgão vinculado à Secretaria de Estado Extraordinária para o Desen- volvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – Sedvan. A proposta resultou da constatação de que a cadeia produtiva da atividade turísti- ca, envolvendo mais de 50 setores da economia, abre amplas possibilidades de de- senvolvimento para as comunidades locais, pois induz novos empreendimentos, cria postos de trabalho, aumenta a circulação de riquezas, distribui renda de forma mais democrática e combate à miséria e à fome. O programa estimula o aumento do número de turistas solidários aptos a transferir habilidades, conhecimentos ou interesses e a participar como protagonistas do pro- cesso de transformação do Estado. Simultaneamente, identi� ca as pessoas dispostas a aprender e a melhorar suas perspectivas de vida. O que se pretende é despertarno turista solidário o sentimento humanista de se tor- nar um voluntário e agente direto de mudanças na região. A sociedade organizada agrega valor às ações solidárias dos visitantes, incentivando a cultura de cooperação, o resgate da cidadania, a valorização da identidade cultural das comunidades e a pre- servação do meio ambiente. Paralelamente à possibilidade de aumento da renda e aos avanços sociais das popu- lações locais é importante destacar que o turista solidário poderá usufruir das belezas naturais e culturais da área do programa, o que fomentará a cultura da paz. O alcance desses objetivos pelas comunidades contempladas depende do sucesso de ações e esforços coletivos. Elbe Brandão Secretária de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – Sedvan RECEITAS DE ARTE E CULINÁRIA A Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, consolida-se como instituição de referência na preservação do patrimônio mineiro, con� rmando sua vocação de valorizar a multiplicidade cultural, com ações de reconhecimento, resgate e preservação dos saberes e fazeres dos lugares que tornam tão ricas, generosas e atraentes as terras e as tradições mineiras. Em mais uma parceria entre a FAOP e o SEBRAE-MG, o projeto Ambiente Gastronômico no Vale do Jequitinhonha propõe o mapeamento dos sabores e hábitos alimentares dos vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas para desvendar uma das mais sig- ni� cativas tradições mineiras: a arte da culinária. O projeto reabilita uma epifania de sabores, guiado pela tradição oral e por personagens característicos da cultura do Estado. Do processo de investigação em Diamantina, São Gonçalo do Rio Preto e Serro, participam quatro distritos do Jequitinhonha - Alecrim, Bon- � m, Capivari e Mendanha –, tendo as comunidades locais como participantes ativas, � os condutores da pesquisa e grandes responsáveis pelos resultados alcançados. A receptividade das famílias resultou num levantamento valioso de dados sobre a tradi- ção da mesa, os atributos do alimento e as funções do ambiente da refeição, permitindo a elaboração dos cadernos de receitas regionais. O comprometimento dos colaboradores locais na compilação e registro de próprio pu- nho de receitas de salgados, doces, remédios e quitandas, indicou o caminho editorial da reprodução dos textos que, por si só, pintam os cenários das regiões em que foram escritos. O leitor encontrará nas páginas desses Cadernos não somente receitas gastro- nômicas locais e regionais, mas a expectativa de suas populações de valorizar sua cultura, divulgando e preservando tradições e costumes. Capturar a essência do Vale do Jequitinhonha através de suas quitandas, doces, salgados, receitas, hábitos e diversidade de paladares, possibilita à FAOP o orgulho de adicionar tempero à preservação do sabor de Minas e de divulgar o resultado de um trabalho que representa mais um passo na consolidação da política de valorização e preservação do patrimônio cultural do Estado. Ana Pacheco Presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP TURISMO COM ORIGINALIDADE E EMOÇÃO Buscando consolidar e evidenciar os destinos turísticos que fazem parte do Programa Turismo Solidário, este trabalho busca resgatar aspectos importantes das tradições e costumes associados à gastronomia, presentes nas localidades de Mendanha, Ale- crim, Bonfim e Capivari, no Vale do Jequitinhonha. A participação espontânea dos moradores das comunidades e o compartilhamento de suas histórias e receitas foram imprescindíveis para garantir a riqueza dos resul- tados desta pesquisa, que propiciou o registro de diversos pratos da culinária local. Além de incentivar a reutilização de algumas receitas pouco valorizadas pelos mora- dores locais, este resgate possibilita ofertar uma alimentação genuinamente tradi- cional aos turistas solidários, interessados em conhecer as peculiaridades da região. Dessa forma, os saberes locais são incorporados como atrativos a serem disponibiliza- dos aos visitantes, contribuindo para o maior convívio entre as famílias e os turistas, além de possibilitar o incremento de renda da população dessas comunidades. A culinária faz parte da riqueza cultural e histórica de Minas Gerais. Em 1817, viajando pelo Brasil, o francês Auguste de Saint-Hilaire observou a recepção hospitaleira e a mesa farta dos mineiros. Ele escreveu importantes livros sobre costumes e paisagens do país. Em um deles, destaca que o mineiro come bem e come certo, pois tem o hábito de “produzir” a cesta básica em sua própria casa. Cria porco e frango, cultiva verduras, legumes e milho, faz o pão e o queijo e preserva a informação culinária de mãe para filha. Tradições que transformaram a gastronomia em atrativo turístico. Agmar Abdon Campos Unidade de Atendimento Coletivo – Comércio, Serviços e Artesanato Sebrae-MG SUMÁRIO Gastronomia: ambiente de cultura .............................................. 14 História de Bon� m ..................................................................... 17 Ambiente .................................................................................... 19 Receitas salgadas....................................................................... 21 Carne ........................................................................................... 21 Carne inteira ................................................................................ 21 Frango assado ............................................................................. 21 Frango assado na lata de cerveja ................................................. 22 Farinha de andu (carajé) .............................................................. 22 Farofa de andu verde ................................................................... 22 Prasta ........................................................................................... 22 Muscela ....................................................................................... 23 Queijo mineiro ............................................................................. 23 Requeijão..................................................................................... 24 Receitas doces ............................................................................ 27 Cuscuz (fubá de moinho) ............................................................. 27 Curau ........................................................................................... 27 Doce de laranja-da-terra .............................................................. 28 Mingau de fubá ........................................................................... 28 Pamonha ..................................................................................... 28 Sonho .......................................................................................... 29 Rapadura simples ........................................................................ 29 Rapadura temperada ................................................................... 29 Quitandas ................................................................................... 31 Brevidade .................................................................................... 31 Bolo de mandioca ........................................................................ 31 Pão caseiro ................................................................................... 32 Pão de ló ...................................................................................... 32 Biscoito de goma com rapadura .................................................. 33 Broa de fubá ................................................................................ 33 Sucos ...........................................................................................34 Suco de abacaxi ........................................................................... 34 Suco de amora ............................................................................. 34 Suco de berduega ....................................................................... 34 Suco de chapéu-de-couro ........................................................... 34 Suco de couve ............................................................................. 34 Suco de folha de abacate ............................................................. 34 Suco de folha de laranja .............................................................. 34 Suco de laranja ............................................................................ 34 Suco de limão .............................................................................. 34 Suco de maracujá ........................................................................ 34 Suco de picão .............................................................................. 34 Vinho e vinagre .......................................................................... 36 Vinagre de jabuticaba .................................................................. 36 Vinho de uva ................................................................................ 36 Outras receitas ........................................................................... 37 Azeite de mamona ...................................................................... 37 Sabão caseiro ............................................................................... 37 Colheita de mel .......................................................................... 39 Como coletar o mel ..................................................................... 39 Própolis ........................................................................................ 40 Hábitos e costumes ................................................................... 42 Benzedeiras e benzeções ............................................................. 43 Garrafada ..................................................................................... 48 Chá caseiro para bronquite ......................................................... 49 Grupo de participantes e colaboradores ................................. 52 Posfácio ...................................................................................... 53 Referências ................................................................................. 53 15 GASTRONOMIA: AMBIENTE DE CULTURA O projeto Ambiente Gastronômico no Vale, iniciativa do Sebrae-MG, convidou moradores do Vale do Jequitinhonha, mapeados pelo Programa Turismo Solidá- rio/SEDVAN-IDENE, a sentar em torno da mesa para trocar receitas da rica culiná- ria local e compartilhar os saberes e fazeres da região. A pesquisa percorreu as localidades de Alecrim, Bonfim, Capivari e Mendanha durante os cinco meses de duração do trabalho, iniciado em agosto de 2008. Para nós participantes, esse foi um emocionante processo de resgate da memória gustativa, olfativa e, principalmente, afetiva dos lugares e das pessoas que nos acolheram e com quem convivemos estreitamente. Pura história de Minas, me- tamorfoseada em quitandas, salgados, doces, garrafadas e infusões. O resultado você vai conhecer agora: são receitas de vida e de fé. Gastronomia é cotidiano e é cultura. É engenho e é arte. Os pratos nutrem o cor- po, a convivência nutre a alma. O relacionamento com as mulheres pesquisadas determinou nossa estratégia de trabalho. A culinária mineira é marcada pela orali- dade, com receitas transmitidas verbalmente através de gerações. Ainda assim, o caderno de receitas é percebido como um verdadeiro patrimônio familiar, sinô- nimo de pertencimento e de vivências compartilhadas. Com base nessa constata- ção, incorporamos às pesquisas o conceito de caderno de receitas, que se tornou o elo entre as mulheres e as suas comunidades, entre pesquisador e pesquisados. A principal missão foi expandir o olhar das envolvidas – de dentro de casa para fora dela, do familiar para o social. 1514 15 A alquimia dos encontros transformou intenção em ação. Munidas de seus cader- nos, as mulheres tornaram-se as protagonistas do resgate da sua cultura, de suas tradições, dos seus rituais, escrevendo a própria história por meio das receitas de suas famílias e do seu território. Na riqueza do convívio, em conversas e trocas, revelaram-se os hábitos do cultivar, do colher e as diferentes maneiras de criar e recriar o alimento. As experiências do campo trouxeram respostas inusitadas. Na observação dos usos e costumes, a revelação da expressiva mobilidade das ervas e “matos”. A hor- ta que se apresenta como elementar no cotidiano, do cultivo aos cuidados de preservação das ervas nativas, em seu ciclo de vida possui funções diferenciadas que se interconectam, dependendo da missão: podem servir para benzer ou para temperar. Práticas que nesta oportunidade se apresentam reunidas aqui, na forma de um caderno de receitas escrito a muitas mãos, com a generosidade e a sabedoria de muitas gerações. A elas, todo o meu carinho e o meu profundo respeito. Maria Sonia Madureira de Pinho Coordenação de Projeto 15 17 HISTÓRIA DE BONFIM O distrito de Bonfim, no Alto Jequitinhonha, teve início em meados do século XVIII, quando tropeiros de Minas Novas passavam às margens do Córrego do Coito, a caminho de Diamantina, e ali paravam para descansar. A comunidade se desenvolveu a partir da instalação de uma fábrica de ferro, que deixou apenas vestígios no local. De sua arquitetura original, destacam-se a Igreja do Senhor do Bonfim e a casa do bispo dom João Antônio dos Santos. Restam algumas edificações coloniais, mas a maior parte é de estilo moderno. Na região, há as microbacias dos córregos Estiva, Jacuba e do Coito. Artesanalmente, a comunidade produz bonecas de pano, tecidos, balaios, forros de taquara e cortinas de peti. Também fabrica farinha de mandioca e rapadura. Na cultura, são preservados os grupos folclóricos, com suas danças tradicionais, e também se repetem anualmente as tradicionais festas religiosas do Senhor do Bonfim, de São João Batista e de São Vicente de Paula. População – 255 habitantes Sede – São Gonçalo do Rio Preto Distância de Bon� m a São Gonçalo do Rio Preto – 18km Acesso a São Gonçalo do Rio Preto – estrada de terra Infraestrutura – telefonia � xa, água de nascente e energia elétrica Fonte de pesquisa: banco de informações do Programa Turismo Solidário 17 19 AMBIENTE Cotidiano Café da manhã Horário: depende dos maridos e � lhos, mas não varia muito – entre 5h e 5h30. Refeição: bolos de fubá e farinha de trigo (às vezes, acrescentam cenoura, abóbora e outras misturas), biscoito de goma com sal e café preto com açúcar ou chá. Também pode ser servido um mexido, aproveitando as sobras das refeições do dia anterior. Almoço Horário: entre 10h e 11h. Refeição: couve com torresmo, angu, abóbora, chuchu, macarrão. Às vezes, tem tro- peiro. Lanche da tarde Horário: entre 13h e 14h. Refeição: inhame, mandioca, cuscuz, angu doce e sucos de espinafre, de � or de cha- péu-de-couro, de abacate ou de couve, todos à base de laranja ou limão. Frutas da comunidade Acerola, caju, abacaxi (nas redondezas), manga, jabuticaba, amora, uva e ameixas ver- melha e amarela. Doces de frutas Laranja-da-terra, mamão, goiaba (pastoso), toranja (semelhante à cidra) e limão. 19 21 RECEITAS SALGADAS Carne Por Matilde Serafim Santos Modo de fazer: primeiro, recorte o lombo. Depois chuche toda a carne e ponha os temperos: sal e alho, folhas verdes de todo tipo, alfavaquinha, louro, pimenta e um pouco de cachaça com cebola e salsa. Deixe de molho até o dia seguinte. Coloque para cozinhar numa vasilha aberta,até apertar na gordura. “Desculpe a simplicidade.” Carne inteira Por Matilde Serafim Santos Modo de fazer: tempere o lombo com toucinho, alfavaca, quitoco, cebolinha e salsa. Deixe descansar de um dia para o outro. Ponha para assar ou cozinhar, até corar bem. Dicas: quando a carne é de boi, use água; se for de porco, só suando ela cozinha. Frango assado Por Maria Alda Modo de fazer: mate o frango, tire as penas e limpe. Abra por baixo (faça uma cruz), retire as tripas, o bico e a goela, para dobrar o pescoço. Lave com água temperada com sal, alho, alfavaquinha e outras ervas a gosto, até endurecer. Ponha para assar no forno ou faça na panela. Use o fígado e o sangue para fazer a farofa. 21 Frango assado na lata de cerveja Por Maria Alda Moreira Modo de fazer: limpar o frango pelo oveiro, perfurar toda a carcaça e temperar por dentro, deixando na vinha d’alho, em um saco de plástico, de um dia para o outro, a fim de que a cerveja da lata penetre na carne. No dia seguinte, jogue a lata de cerveja fora, ponha o frango num tabuleiro com batatas ao redor e asse no forno até dourar. Farinha de andu (carajé) Por Vivência Vieira dos Santos, relatada por Kátia, sua neta Modo de fazer: seque no sol o andu colhido seco. O andu verde serve para fazer a farofa. So- que os grãos bem secos até virar farinha. Use para misturar à comida ou para fazer bolinho de ovo. Farofa de andu verde Por Kátia Aparecida dos Santos Araújo Modo de fazer: ponha o andu verde para ferver, como se fosse feijão. (Tire a primeira água, porque é muito quente para quem tem problemas renais (essa água estimula as galinhas poedeiras). Complete o cozimento, deixando o caldo secar. Mistu- re ovos cozidos, toucinho, linguiça e pele de porco. Depois, refogue o andu na gordura de porco e adicione os outros ingredientes, acrescentando farinha de mandioca e deixando a farofa mais pastosa. Coloque também couve picada bem fininha e já cozida. Prasta Por Vivência Vieira dos Santos, relatada por Kátia, sua neta Modo de fazer: bata o ovo e coloque leite ou água, açúcar e farinha de trigo com fermento. Abra a massa com as mãos úmidas de óleo no formato que quiser (rosa, cora- ção etc.). Pode ser salgado ou doce. Se usar água, fica duro e tem que acres- centar mais ovo. 2322 Muscela Por Maria Helena Alves dos Santos Modo de fazer: tempere sangue de porco com salsa, quitoco, alfavaca, outras folhas verdes, sal com alho, louro e pimenta-malagueta (pimenta-do-reino é muito quente). Escolha tripas do intestino grosso, encha-as até o meio com o sangue tem- perado e pequenos pedaços de toucinho sem pele e coloque na água para ferver. Enquanto estiver fervendo, faça vários furos na tripa, com espinho de laranja. Concluído o cozimento, guarde a muscela em uma vasilha tampada. Quando quiser comer, corte e frite os pedaços. “Eu gosto de pedaços, tem gente que prefere rodelas.” Queijo mineiro Por Kayto Georg dos Santos Ingredientes: 10 litros de leite 1 colher de sopa de coalho 1 colher de sopa de sal grosso Modo de fazer: coloque o coalho no leite e deixe durante 30 minutos. Retire a massa já coa- lhada e ponha na forma, em cima de um escorredor. Vá apertando até a massa ficar enxuta. Na massa enformada, coloque meia colher de sopa de sal grosso por cima, separando as pechas salgadas umas das outras. Deixe na forma por 24 horas. Caso queira o queijo mais curado, deixe no sol e no sereno. Rendimento: um queijo 23 Requeijão Por Lenice Mariano Chaves Santos Ingredientes: 15 litros de leite 1 colher de sopa de sal 2 copos de leite vinagre Modo de fazer: deixe o leite azedar por dois dias em uma vasilha avinagrada. No terceiro dia, retire toda a manteiga e ponha a massa para ferventar por seis minutos. Coe em um saco de pano, deixando a massa limpa e bem seca. Em porções de cin- co litros, volte com a massa ao fogo por cinco minutos. Coe novamente. Frite a manteiga retirada da massa, até ficar dourada, mexendo sempre. Coloque uma colher de sopa de sal fino. Cozinhe com mais dois copos de leite e amas- se até soltar da panela. Ponha a massa numa forma e pode servir quente ou esperar esfriar. Dicas: não é aconselhável mulher menstruada preparar o requeijão, porque a massa não dá ponto. Evitar fazer no período de lua minguante, pois a mas- sa não cresce. Rendimento: um requeijão 24 27 RECEITAS DOCES Cuscuz (fubá de moinho) Receita Coletiva Modo de fazer: molhar o fubá com leite, temperar com sal, manteiga, erva-doce e rapadu- ra grossa (em pedacinhos é melhor). Misturar bem. Numa forma untada com gordura ou forrada de folhas ou palma, despeje a massa e cozinhe em banho- maria, com a água até o meio da panela, rebocada com angu ou a própria mistura. Sirva quente. Dicas: se quiser, forre o fubá com lasquinhas de queijo curado. Caso misture fun- cho, cozinhe a planta em banho-maria, pode ser também cozido na água de banho-maria bem abafada. Curau Por Maria Helena Alves dos Santos Modo de fazer: apanhe espigas médias de milho verde, nem muito mole e nem muito dura. Tire a palha, rale a espiga, lave e jogue a água fora, bem rápido para não sair a goma. Lave com leite, para sair a goma, e passe numa peneira para obter o mingau. Coloque uma pitada de sal, açúcar ou rapadura e canela em pó, se gostar. Leve ao fogo, mexendo a panela sem parar, da direita para a esquerda e vive-versa, para não esturrar (queimar o fundo). Para veri� car o ponto, colo- que um pouco do mingau num prato e, se não coalhar e nem tiver gosto de milho cru, está cozido. Dica: se usar três espigas novas (verdes), tem que misturar duas mais velhas para en- durecer o mingau. Consumir quente ou frio (em fatias, é melhor frio). 27 Doce de laranja-da-terra Por Maria Alda Moreira Modo de fazer: tire o sumo das laranjas, descascando as frutas com cascas bem � ninhas. Corte em cruz, remova os bagaços e ponha as laranjas de molho por oito dias, tro- cando a água diariamente. Depois, ferva as frutas, deixe esfriar e lave em água fria. Faça uma calda bem grossa de rapadura ou açúcar queimado, com canela e cravo, se gostar. Quando a calda estiver em ponto de espelho, misture as laranjas e deixe esfriar para servir o doce. Mingau de fubá Por Maria Helena Alves dos Santos Modo de fazer: desmanche o fubá com leite, misture um pouco de sal, açúcar ou rapadura e queijo ralado ou em pedaços, ponha tudo na panela e mexa até engrossar e cozinhar. Dicas: pode misturar também um pouco de manteiga. Ou ainda fazer uma espécie de gemada, batendo a gema com garfo para colocar no mingau. Se usar ovo, não ponha manteiga. Consumir preferencialmente à noite. Pamonha Por Maria Flor de Maio Modo de fazer: ralar o milho verde, temperar com sal e enrolar na própria palha. Cozinhar na água só por alguns minutos. Servir quente. 2928 29 Sonho Por Raimundo Nonato dos Santos Modo de fazer: misture fubá de moinho com leite ou água, açúcar, ovo, sal, canela e cravo mo- ídos e erva-doce, numa vasilha. Enrole os bolinhos com as mãos passadas na farinha de trigo e frite no óleo quente ou na gordura de porco. Use a escuma- deira para tirar os bolinhos da panela e colocá-los em guardanapo de papel, para puxar a gordura. Servir com café ou leite. “Não é muito comum a gente fazer sonhos. Quando tem gente de fora, costu- mamos fazer. Sonho parece um bolo de fubá, mas é frito.” Rapadura simples Por Raimundo Nonato dos Santos Modo de fazer: moa a cana-de-açúcar para obter a garapa. Ferva a garapa em um tacho de cobre até engrossar (está no ponto se o caldo virar uma bala quando posto em água fria). Acrescente cascas de mutamba socadas para tirar seu líquido ou carrapicho. A mutamba limpa a garapa e é preciso passara escumadeira no tacho para tirar toda a espuma suja. Deixe o caldo engrossar por mais uma hora. Está pronta a rapadura, para ser posta em formas e secar. Rapadura temperada Por Raimundo Nonato dos Santos Modo de fazer: quase o mesmo processo da rapadura simples, só muda na hora de botar nas formas. Antes, ponha a rapadura na masseira, bata e misture canela, erva-doce, sal, cravo, gergelim ou o tempero que preferir. Dica: guarde a rapadura em lugar quente. Se estiver chovendo, enrole em palha de banana ou de milho (mais quente) para conservar a rapadura. Tipos de rapadura: clara e morena, depende do terreno de plantio da cana. Em solo are- noso, dá rapadura igual a açúcar (não fica maciça); em terreno de var- gem, dá “rapadura de cerâmica”, que derrete com frio ou chuva. “Aqui em Bonfim tem fábrica de rapadura. Eu acho rapadura melhor que doce.” 31 QUITANDAS Brevidade Por Maria Alda Moreira Ingredientes: 1kg de goma ou polvilho 1 dúzia de ovos 1 garrafa de água 1 colher de chá de sal 1 pitada de erva-doce 1 lata de óleo Modo de fazer: escalde a goma ou o polvilho com água fervente. Misture, deixe esfriar e amas- se bem, acrescentando os ovos, o óleo e a erva-doce. Depois de bem amassa- do, espalhe em forminhas untadas com óleo. Leve ao forno não muito quente. Bolo de mandioca Por Maria Balleina dos Santos Ingredientes: 1kg de mandioca 12 gemas de ovos ½kg de manteiga ½kg de açúcar Modo de fazer: rale a mandioca, lave, torça em um pano e esfarele numa vasilha. Refogue e misture bem no açúcar. Coloque os ovos e a manteiga e bata até ficar no pon- to. Despeje numa forma untada com manteiga e asse em forno com tempera- tura média. Quando o bolo ficar rosado, tire do forno, deixe esfriar e sirva. 31 Pão caseiro Por Isolina Ingredientes: 3kg de farinha de trigo 3 colheres de fermento 3 colheres de açúcar 3 copos de água morna Tempero: ½ dúzia de ovos ½kg de açúcar 1 colherinha de sal 250g de manteiga ½ lata de óleo Modo de fazer: misture todos os ingredientes, menos o fermento, e deixe crescer por 20 mi- nutos. Despeje em uma vasilha e adicione um copo de água morna. Na vasilha com o fermento, coloque um pouco de farinha de trigo para fazer uma espécie de mingau. Misture todos os ingredientes do tempero, acrescente a farinha de trigo e amasse. Ponha farinha de trigo nas mãos e na vasilha para que a mas- sa fique solta. Faça uma bolinha e coloque num copo de água: se ela boiar, a massa está pronta para assar. Para enrolar, corte a massa em pedaços e abra com uma garrafa sobre uma tábua com farinha de trigo. Derreta a manteiga e passe na massa aberta para ficar amarela. Não há tempo certo para assar, mas não se descuide, pois o pão pode queimar. Pão de ló Por Maria Alda Moreira Modo de fazer: ponha quatro claras de ovos num prato e bata até ficar bem grosso. Misture as gemas e continue batendo para engrossar. Adicione açúcar ou rapadura, bicarbonato, uma pitada de sal e outra de canela em pó. Despeje a massa em forma untada com óleo e leve ao forno brando. 3332 Biscoito de goma com rapadura Por Maria Flor de Maio Modo de fazer: raspe meia rapadura em um quilo de goma e misture uma pitada de sal e uma colherinha de canela em pó. Soque tudo no pilão e passe em peneira grossa. Numa vasilha, coloque essa mistura, uma xícara de óleo, seis ovos e sal até ficar no ponto de enrolar. Faça os biscoitos em forma de argola, ponha num tabuleiro untado com óleo e asse em forno brando, por 10 minutos. Deixe es- friar, não abafe e sirva os biscoitos. Broa de fubá Por Maria Flor de Maio Modo de fazer: ponha metade de uma rapadura em meio litro de água para derreter no fogo, fazendo um melado. Deixe esfriar e adicione a clara em neve de seis ovos, meia xícara de óleo, uma pitada de sal e meia colherinha de cravo em pó. Acrescente um quilo de fubá, misture bem e leve ao forno quente, deixe por 30 minutos. Ao tirar do forno, abafe a broa com um pano para a massa ficar fofa. Corte em fatias para servir. 33 SUCOS Por Raimundo de Jesus e Kayto Georg dos Santos Suco de abacaxi Suco de amora Suco de berduega Suco de chapéu-de-couro Suco de couve Suco de folha de abacate Suco de folha de laranja Suco de laranja Suco de limão Suco de maracujá Suco de picão Modo de fazer: sempre feitos com produtos das hortas e pomares de Bon� m, a receita básica dos sucos é a seguinte: maior quantidade de fruta para um pouco de água; se preferir, troque a água por leite. 34 VINHO E VINAGRE Vinagre de jabuticaba Por Luzia Modo de fazer: amasse com as mãos as jabuticabas maduras numa vasilha (se quiser vinagre branco, é preciso tirar as cascas). Tampe e deixe azedar por três ou quatro dias. Escorra e coe com um pano, diretamente nos vidros. Acrescente algumas bo- linhas de angu, que puri� cam o vinagre. Tampe com sabugo de milho. Vinho de uva Por Luzia Modo de fazer: apanhe uvas maduras e esprema numa vasilha com as mãos (se quiser vinho branco, tem que tirar as cascas). Tampe e deixe azedar por três ou quatro dias. Coe o caldo em um pano, diretamente nos vidros, adicionando água, cachaça e açúcar. Tampe com sabugo de milho. 36 OUTRAS RECEITAS Azeite de mamona Por Luzia Modo de fazer: seque sementes de mamona ao sol e torre numa panela. Soque no pilão e jogue na água quente, mexendo até o azeite começar a aparecer. A borra vai secando e o azeite sobe. Enquanto estiver borbulhando, ainda tem água e o azeite não está pronto. Com uma colher, veri� que o ponto do azeite, é quando está na hora de engarrafar. Recomendação de Maria Flor de Maio: “mexer sempre na mesma direção, com o mes- mo pau (haste) de mamona”. Sabão caseiro Por Luzia Ingredientes: 4 latas de sebo (medida - lata de óleo) 1kg de soda cáustica 4 latas de água (medida - lata de óleo) Modo de fazer: misturar os ingredientes com a água já quente, em uma bacia. Deixar esfriar e cortar com uma faca, em pedaços quadrados. Rendimento: 36 pedaços de sabão 37 39 COLHEITA DE MEL Depoimento de Antônio Silva “Fiz cursos em Turmalina e Rio Preto. Faz-se a colheita com roupa própria, adequada. Colhe-se o enxame no mato, captura e coloca na caixa. No mato, onde há cupim e pau, dá para saber que tem abelha por causa da zoeira que fazem. Depois que o mel é tirado das colmeias, a abelha não ataca. A gente leva o núcleo (caixa menor para colocar abelhas), põe a tampa e fica um buraco de milímetros (uma fresta) para sair e entrar. Elas mesmas vedam, com três ou quatro dias. Quando tem plantação de cana por perto, o mel fica mais açucarado. Os colhedores caminham até 6km e a busca é à noite. A gente arrancha durante o dia, num processo de adaptação, antes de buscar as abelhas. À noite é melhor, porque elas não estão voando. De 15 em 15 dias, é feita a revisão da caixa, pois a fabricação de mel não para. A gente limpa, tira a cera e coloca 10 quadros na caixa. Na melgueira é a mesma proporção (com a roupa). Enquanto o enxame não toma conta da caixa toda, não é posta a mel- gueira (caixa por cima). Quando tiramos a melgueira do mato para fazer a apuração do mel algumas abelhas acompanham, parece que na esperança de recuperar sua produção. Cera violada pode ser usada para acelerar a produção das abelhas. Se en- tram formigas ou água de chuva nas caixas ou ocorre algum imprevisto, o enxame foge. Não se pode colher mel em dias chuvosos: ele azeda.” Como coletar o mel “Tire um quadro da melgueira e limpe com o garfo específico, retirando a “casca” que fica por cima do mel (opérculo). Ponha o quadro na vertical, em uma centrífuga (na região, há uma da associação dos pequenos produtores de mel de São Gonçalo do Rio Preto). Depois, passe na peneira. Feita a colheita,coloque o mel no decantador, por 48 horas, para limpar. Cada litro equivale a cerca de 1,4kg. A seguir, engarrafe, colocando o rótulo da associação e o nome do produtor, com validade de dois anos para consumo. A casa de colheita precisa ficar a pelo 1km de distância de localidades, por causa do risco de ataque das abelhas.” 39 Própolis Por Antônio Silva “É originado na vedação da beirada da caixa do enxame de abelhas, dos fundos e dos quadros. O própolis é a cera que as abelhas produzem para fechar a caixa. Recolhido e pesado, mistura-se de 250g a 300g em cada um litro de álcool de cereais (tipo pró- prio, não pode ser usado o álcool comum). Agite duas vezes ao dia, durante 20 dias, deixe por mais 20 dias sem mexer. Passados os 40 dias, coar em um pano. Quanto mais própolis, mais brando fica o paladar (menos amargo). O própolis é indicado para o tratamento de males da garganta e gripes. Algumas pessoas usam em ferimentos, mas não é aconselhável. Pessoas diabéticas não podem usar de jeito nenhum. É me- lhor tomar com leite ou café.” 40 42 HÁBITOS E COSTUMES “A comunidade planta feijão; compra sal, macarrão...” “Produzem para consumir; na época em que a plantação é mais difícil, compram macarrão.” “Criam galinhas e porcos.” “Quando estão com muita pressa, fazem o macarrão com caldo refogado em água temperada com salsa, cebolinha...” “As mulheres costumam levar almoço para os maridos na marmita, ou em uma panelinha.” “Se o local de serviço for perto, levam salada; mas, se já saem com a marmita de manhã, não dá para levar salada.” “Quase que não usam sobremesa, comem quando dá vontade.” “Ninguém mais tem hábito de tomar café depois do almoço, antigamente tinham.” “Comida especial de festa: frango assado na lata (sentado).” “Os jovens não participam da cozinha, participam do reinado.” 43 Benzedeiras e benzeções Bonfim tem cinco benzedeiras: Maria Alda Moreira, Maria Flor de Maio, Maria Louriana Alves, Luíza Ferreira Barbosa e Ordália Assunção Santos, com idades entre 50 e 70 anos. Aprenderam a benzer com parentes, maridos, vizinhos ou amigos. Bênçãos: quebranto, carne quebrada, sol na cabeça, impigem, cobreiro, hemorragia, irisipela, para matar bernes, ventre-virado, queimaduras e fogo no mato. “Os médicos não usam nada de benzer, tudo tem que ter remédio.” (Raimundo de Jesus) “A gente não cobra nada para benzer. Tem gente que fala que nós somos feiticeiras.” (Maria Alda) “Tudo que fizer tem que ter fé.” (Raimundo de Jesus) Cobreiro Por Maria Alda Moreira Indicada contra machucão, gripe e queimadura. Quando o cobreiro é usado para queimadura, não se fala “passa azeite que cura”, mas “passa santos óleos”. Reza: caule de mamona, vai cortando, pergunta, o que sente? Cobreiro brabo, corta a cabeça e corta a cabeça e corta o rabo e joga no lixo. 43 Impigem Por Maria Alda Moreira “Ao levantar de manhã, em jejum, sem conversar com ninguém, pegue três ramos de arruda, de vassourinha-doce ou outros ramos ou ervas da região. Depois de benzer-se, pegue o primeiro ramo e circule no local da doença, rezando: em- pinja raliugem que fizestes a que, assim como hoje eu não comi e nem bebi já fui em pinque e já vim, você também não merece aqui. Amém. Repita as mesmas palavras mais duas vezes, usando os outros ramos.” Espinhela caída Por Maria Alda Moreira “Barquinha, barquinha de Santa Maria, Santa Maria Virgem que navega no mar e nos ares, seis vezes seu desembarcar, assim como ela navega no mar e nos ares sem de- sembarcar, assim como Jesus Cristo vestiu e revestiu para celebrar missa no altar e assim como o anjo São Gabriel desceu do céu para te visitar, a minha arca e minha espinhela vão chegar no lugar.” “Reze um pai-nosso e uma ave-maria.” Hemorragia Por Maria Alda Moreira “Reze o credo até chegar à expressão ‘está sentado’, que deve ser trocada por ‘está parado’. Quando estancar o sangue, complete a oração.” Hemorragia Por Luíza Ferreira Barbosa “Sangue para na veia Como Jesus parou na ceia. Sangue fica em ti Como Jesus ficou em si. Sangue fica no horto Como Jesus ficou morto.” “Reze um pai-nosso e uma ave-maria para santo de devoção.” 4544 Erisipela Por Maria Alda Moreira “Zipe, zipela que deu no tutano. Zipe, zipela que deu no osso. Zipe, zipela que deu na carne. Zipe, zipela que deu no sangue. Zipe, zipela que deu na pele, vai para a onda do mar, para a pedra central para nunca mais voltar. Reze uma oração ao santo de devoção do doente. Benza com um ramo na água, for- mando uma cruz. Faz-se a benzenção quando há dor. Quando o local fica preto, a dor está no tutano e pode passar para o osso, a carne, o sangue e a pele”, explica Maria Alda Moreira. “Se não benzer o local, fica aleijado, tem que amputar.” Mãe do corpo Por Maria Alda Moreira “Mãe do corpo é um deslocamento pós-parto. Faça uma cruz no local da dor, dizendo estas palavras: Pai, Filho, Espírito Santo, com três missas de Natal, mal de dez, procura seu lugar. Reze uma oração ao santo de sua devoção.” Emplastro Por Maria Alda Moreira “Três de resguardo, banhava a mulher com os adjuntos (junta de horta), porque, com o exercício do corpo (a força para ter o bebê), saía tudo do lugar. Então juntava os adjuntos com azeite em pano e enrolava na barriga.” Quebranto Por Maria Alda Moreira “Fale o nome da pessoa e reze: eu vou te benzer em nome do Pai, do Filho e do Espí- rito Santo. Se for quebranto, ventre-virado, mau-olhado, inveja, ódio será curado com o poder da Santíssima Trindade, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém.” 45 rito Santo. Se for quebranto, ventre-virado, mau-olhado, inveja, ódio será curado com rito Santo. Se for quebranto, ventre-virado, mau-olhado, inveja, ódio será curado com Quebranto Por Luíza Ferreira Barbosa “Para benzer quebranto, fale o nome da criança e diga: eu te benzo de quebranto e mau-olhado, que em ti foram colocados. Esteja retirado em nome de Deus Pai, Deus Filho e Espírito Santo. Amém, Amém, Amém.” Ventre-virado e quebranto Por Maria Alda Moreira “Deite a pessoa de bruços, no colo. Vá juntando a palma da mão direita, passando por cima do braço e levando até o meio da coluna; agora, o pé esquerdo, levando até o meio da coluna; depois, a mão esquerda com o pé direito, cruzando no meio da coluna; a seguir, junte de um lado e outro da barriga, levando até o meio da co- luna. Junte a testa com uma das mãos, das nádegas à coluna, mantendo a pessoa de bruços. Agora, junte os pés com os dedos, com as juntas bem unidas, levando ao alto, para fazer três cruzes e dar três palmadinhas nas solas dos pés. Ponha uma das mãos sobre a coluna e a outra a jumbá os pés, dobrando os joelhos até as nádegas da pessoa para dar três balanço. Sente a pessoa no colo, cruzando os braços, o direito por cima do esquerdo, puxan- do com as mãos e dando três balanços. Finalmente, volte a juntar os pés, para veri- ficar se uma perna não está maior que a outra. Se estiverem do mesmo tamanho, a pessoa não está com o ventre-virado.” 4746 Ventre-virado, quebranto e mau-olhado Por Maria Alda Moreira “Para benzer ventre-virado, quebranto e mau-olhado, pegue a criança no colo, use o rosário ou uma folha de erva verde (arruda, por exemplo) e reze esta oração: foi Deus que te pôs no mundo, foi Deus que te abençoou. Deus vai tirar todo mal que em seu corpo entrou. Quebranto, inveja, mau-olhado e ventre-virado vão ser curados com os poderes de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.” Ventre-virado Por Luíza Ferreira Barbosa “Para benzer ventre-virado, coloque a pessoa de bruços e junte o pé direito ao braço esquerdo e o pé esquerdo ao braço direito, fazendo uma cruz. Faça o sinal da cruz três vezes”. Sintomas de quebranto: febre, moleza no corpo, má digestão, faltade apetite e “testa salgada”. Maria Helena Alves dos Santos explica que é preciso “levar a língua na testa da crian- ça, para saber se está salgada. É que só crianças têm quebranto e ventre-virado.” Queimadura Por Luíza Ferreira Barbosa “A reza de Nossa Senhora: Nossa Senhora saiu e deixou seu filho. Quando chegou, achou-o queimado. Reze um pai-nosso e uma ave-maria, usando um ramo verde para aspergir água fria no queimado.” 47 Garrafada Por Maria Lauriana Alves Com 55 anos de idade, tem 20 de atividades, tendo aprendido tudo que sabe com uma mulher bem idosa, chamada Carolina. O que é uma garrafada? “É um remédio que mistura ervas e raízes do campo, feito com cachaça ou vinho bran- co. É apropriado para mulheres, após o parto ou para moças com corrimento. Trata-se de uma mistura de manjerona, artemija, erva-cidreira, raiz de capela, hortelã, marcilica, rosa-branca, alfazema, raiz de salsa, raiz de alface-rosca, raiz de trançagem, ribalho, magnésia, canela, raíz de arruda, etc.” Dosagem recomendada: uma colher de sopa, três vezes ao dia. Não tem contraindicações. Alerta: não pode ser tomada na gravidez. “Faço essa garrafada em minha cozinha. Deixo temperada por 10 dias.” Água de flor Por Rosamundi Depoimento de Luzia, sua filha Modo de fazer: debaixo de um pé de laranja, na época da floração (setembro a outubro), re- colher, em um pano limpo, as flores que caírem, pôr ao sol para secar e, em seguida, levar para o alambique. Colocar água na panela do alambique e des- pejar as flores secas. Ferver a mistura para que o suor das flores escorra e caia na vasilha, como cachaça. Depois, é só engarrafar. Indicada para dor de lado, falta de ar e dor no coração. Dosagem: tomar pequenas doses. 48 49 Chá caseiro para bronquite Por Zilda C. Araújo de Jesus Modo de fazer: ferver um copo de água com um dente de alho amassado. Acrescentar três colheres de sopa de mel e suco de meio limão. Dosagem: tomar uma colher de chá de uma em uma hora ou quando tossir. Simpatia: bater nas costas com a mão em forma de concha, de baixo para cima, três vezes ao dia, durante cinco minutos. 49 5352 GRUPO DE PARTICIPANTES E COLABORADORES Antônio Silva Araújo Douglas Araújo Emerson Thiago Santos Kátia Aparecida dos Santos Araújo Kayto Georg dos Santos Lenice Mariano Chaves Santos Maria Alda Moreira Maria Amélia Araújo Silva Maria Aparecida Ferreira Souza Maria Flor de Maio Maria Helena Alves dos Santos Maria Judite da Silva Santos Matildes Sera� m Santos Raimundo Nonato dos Santos Rosenilda de Fátima Alves Zélia Consolação de Paula Zilda C. Araújo de Jesus Zulmira Vidal 53 POSFÁCIO Esta pesquisa foi feita no campo, com a comunidade e os grupos da localidade, con- tando com plena e decisiva colaboração de todos os participantes. Também livros e publicações sobre o tema serviram como alimento, acompanha- mento e fontes de conhecimento, estudos e pesquisas. REFERÊNCIAS STRONG, Roy. O banquete. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. COMER bem, Dona Benta – 1001 receitas de bons pratos. 49ª ed. São Paulo: Compa- nhia Editora Nacional, 1963. SIMON, François. Comer é um sentimento. São Paulo: Senac, 2006. CARNEIRO, Henrique. Comida e sociedade – uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CULINÁRIA da Vovó Rina. São Paulo: Formar, v.1-3. CORREIA, M. P. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1975, v.6. ZURLO, Cida; BRANDÃO, Mitzi. As ervas comestíveis: descrição ilustração e receitas. Rio de Janeiro: Globo, 1989. BRILLAT-SAVARIN, Jean. A � siologia do gosto. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. MONTANARI, Massimo. A fome e a abundância: história da alimentação na Europa. 3ª ed. Bauru: EDUSC, 2003. CAMARGO, Maria Thereza Lemos Arruda. Medicina popular – Aspectos metodológi- cos para pesquisa – garrafada. São Paulo: Almed, 1985. ARAÚJO, Alceu Maynard. Medicina rústica. São Paulo: Brasiliana, 1977. FERRI, Mário Guimarães. Plantas do Brasil: espécies do cerrado. São Paulo: Edgard Blucher, 1969. AZEVEDO, Téo. Plantas medicinais, benzeduras e simpatias. São Paulo: Global, 1987. CONCEIÇÃO, Moacir. As plantas medicinais no ano 2000. São Paulo: Tão, 1982. HAMILTON, Cherie Yvonne. Os sabores da lusofonia. São Paulo: Senac, 2005. KURLANSKY, Mark. Sal, uma história do mundo. São Paulo: Senac, 2004. JACOB, Heinrich Eduard. Seis mil anos de pão. São Paulo: Nova Alexandria, 2003. LAINETTI, Ricardo; BRITO Nei R. S. A saúde pelas plantas e ervas do mundo inteiro. Rio de Janeiro: TecnoPrint, 1980. LIMA, Cláudia. Tachos e panelas: historiogra� a da alimentação brasileira. Recife: Autora, 1999. Anais do XXXII Congresso Nacional de Botânica – UFOP, 1986. 54 SEBRAE-MG Agosto a dezembro de 2008 ISBN 978-85-86428-67-8 Av. Barão Homem de Melo, 329 Nova Granada – BH – CEP 30431-285 – Tel.: 0800 570 0800 www.sebraemg.com.br
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