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INSTITUTO DE ECONOMIA – UFRJ GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS Disciplina: Macroeconomia I Professor: José Oreiro Monitor: André Amorim QUESTÕES PARA P2 Exercícios de provas antigas resolvidos 1. Durante o período de 1973-1975, os Estados Unidos passaram por uma profunda recessão (queda do nível de atividade), com uma elevação simultânea e abrupta do nível de preços. Você concluiria que a recessão decorreu de um choque de oferta ou de um choque de demanda? Justifique sua resposta por intermédio do gráfico de demanda e oferta agregada. Antes de responder essa questão, é importante ter em mente uma dica que normalmente funciona para diferenciar choques de oferta de choques de demanda. Perceba que na questão, é mencionado que ocorreu uma elevação simultânea e abrupta do nível de preços. Geralmente, quando a mudança em Y e em P ocorre em sentidos diferentes, trata-se de um choque de oferta. No mesmo sentido ou quando uma das variáveis se mantém inalterada, trata-se de um choque de demanda. Podemos pensar em outros dois exemplos trabalhados para ilustrar: política monetária expansiva, onde o resultado seria no curto prazo um aumento do produto e do nível de preços, e no longo prazo o produto permaneceria inalterado no nível natural e o nível de preços subiria; política fiscal contracionista, onde o resultado seria no curto prazo um declínio do produto e do nível de preços, e no longo prazo o produto ficaria estável no nível natural e o nível de preços cairia. Essa dica é importante para chegarmos à resposta, mas não justifica a questão. Para darmos a resposta, precisamos deixar claro como o choque de oferta se transmite para a economia. No caso, podemos ilustrar (como de fato ocorreu no período descrito) o aumento do prelo do petróleo. Isso, no curto prazo, leva a uma diminuição do produto e a um aumento do nível de preços, com a OA se deslocando para a esquerda. Ao longo do tempo, o produto cai ainda mais, e o nível de preços aumenta ainda mais, com a OA se deslocando mais ainda para a esquerda. O produto atinge um novo nível natural mais baixo que o anterior (isso é uma característica importante dos choques de oferta), e o nível de preços termina bem mais alto do que o inicial. Não esqueça de desenhar o gráfico. 2. Suponha que um governo de direita de algum país europeu decida reduzir de forma permanente o nível do seguro desemprego. Pede-se: a) Quais seriam os efeitos de médio/longo prazo dessa medida sobre o nível de produção, a taxa de de- semprego, a taxa de juros e o nível de preços. Na sua resposta considere o efeito que a redução do seguro desemprego teria sobre os gastos do governo. Justifique a sua resposta por intermédio dos dia- gramas WS-PS, OA-DA, IS-LM. b) Quais seriam os efeitos de curto prazo dessa medida sobre o nível de produção, a taxa de desemprego, a taxa de juros e o nível de preços. Na sua resposta considere o efeito que a redução do seguro desem- prego teria sobre os gastos do governo. Justifique a sua resposta por intermédio dos diagramas WS- OS, OA-DA, IS-LM. c) Apresente a transição do equilíbrio de curto prazo para o equilíbrio de longo prazo por intermédio do diagrama de fase, ou seja, um gráfico que mostre a evolução no tempo das variáveis endógenas do modelo. Essa questão está subdividida em três itens, e isso torna um pouco complicado resolve-la de forma seg- mentada. Podemos escrever a resposta para os três itens de uma forma contínua, que permite fazer uma análise muito melhor. Devemos analisar o impacto da redução do seguro desemprego nos três diagramas, WS-PS, OA-DA e IS-LM, para o curto e médio/longo prazo. 2 Vamos começar pelo WS-PS, que é mais simples. Tratamos aqui de seguro desemprego, e isso vai corres- ponder a mudanças na curva WS, de fixação de salários. A partir da equação que define tal curva, w = Pef(u,z), podemos interpretar uma diminuição no seguro desemprego como uma diminuição em z, a variável abrangente. Essa variável é diretamente proporcional a w, portanto uma diminuição em z diminui os salários. Como uma diminuição do seguro desemprego torna a perspectiva do desemprego mais dolorosa, ela diminui o salário fixado pelos fixadores de salários a uma dada taxa de desemprego. É como se os empregados perdessem poder de negociação. Portanto, desloca a curva de fixação de salários para baixo, de WS para um novo nível WS’, se movendo sobre a linha PS. A taxa natural de desemprego diminui de un para um novo nível un’. No entanto, devemos ficar atentos que isso não é um efeito de curto prazo, uma vez que os salários são fixados de tempos em tempos, de forma que a reação não ocorre de forma imediata. Na ver- dade, em decorrência da queda do produto, é provável que no curto prazo a taxa de desemprego aumente, inclusive. Passamos agora para a análise no diagrama OA-DA e no diagrama IS-LM. O item (c) pede para desenhar- mos o diagrama de fases, que descreve o efeito no tempo, ao passo que os itens (a) e (b) pedem para analisarmos no curto e no médio/longo prazo o efeito sobre as variáveis. Fazer tudo ao mesmo tempo tor- nará as coisas bem mais fáceis, como veremos. Primeiro de tudo devemos desenhar o diagrama OA-DA e, em baixo, o diagrama IS-LM, como fizemos para os dois que vimos exaustivamente: política monetária expansionista e contração fiscal para reduzir o déficit. Sabendo que podemos interpretar a diminuição do seguro desemprego como redução nos gastos do governo, temos os seguintes gráficos (o gráfico individual foi colocado para chamar atenção para os efeitos no diagrama OA-DA): Podemos perceber que o efeito inicial é o deslocamento da DA para a esquerda, que provém de um igual deslocamento da IS para a esquerda (devemos lembrar que redução dos gastos do governo impacta a IS dessa forma). O efeito de curto prazo é a passagem da economia do ponto A para o ponto A’. Isso corres- ponde a uma diminuição do produto, de Yn pra Y’, além de um nível de preços e taxa de juros menores. Pode haver efeito negativo sobre o investimento, devido à queda do produto, ou positivo, devido à queda da taxa de juros. Como o nível de preços cai, isso corresponde a um aumento do estoque de moeda na economia (o “preço do dinheiro” cai, está mais barato adquirir as coisas), de forma que a LM se desloca até LM’. No médio/longo prazo, a OA se desloca para a direita, com o produto voltando ao nível inicial Yn, uma vez que os agentes econômicos corrigem suas expectativas e esperam uma inflação (P) mais baixo. Assim, 3 a economia atinge A’’, o equilíbrio final. Perceba que como o nível de preços caiu ainda mais, a LM passou para o nível LM’’ ao final, gerando o novo equilíbrio. Podemos sintetizar nossa resposta dos itens (a) e (b) dessa forma: a) No médio/longo prazo, o nível de produção se estabiliza em seu nível natural, a taxa de desemprego cai, a taxa de juros cai e o nível de preços cai. b) No curto prazo, o nível de produção cai, a taxa de desemprego sobe, a taxa de juros cai e o nível de preços cai. 3. Seja uma economia descrita pelas seguintes equações: ut – ut-1 = -0,25(gyt – 0,04) Lei de Okun π t – π t-1 = -(ut – 0,05) Curva de Phillips gyt = gmt – π t Curva de demanda agregada a) Qual é a taxa natural de desemprego dessa economia? É importante que saibamos ler cada equação. Vamos analisar a forma literal (isto é, sem números) da Lei de Okun e da Curva de Phillips (pois a curva de demanda agregada já foi enunciada dessa forma): Lei de Okun: ut – ut-1 = -β(gyt – gy) Curva de Phillips: π t – π t-1 = -α(ut – un) Dessa forma, podemos ver que na curva de Phillips, un corresponde à taxa natural de desemprego, que está enunciada como 0,05, ou 5%. b) Suponhamos que a inflação seja de 15% aoano e que a economia opere no nível natural de de- semprego. Para manter o desemprego em seu nível natural, qual deve ser a taxa de crescimento do produto? E a taxa de crescimento da oferta de moeda? Primeiramente, vamos descobrir a taxa de crescimento do produto (gyt) através da Lei de Okun. Sabe- mos que a inflação é de 15%, e vamos guardar essa informação para mais tarde. O enunciado também diz que deseja-se manter o desemprego em seu nível natural, não se desejam alterações. Por isso, (ut – ut-1) = 0. Substituindo na lei de Okun: ut – ut-1 = 0 = -0,25(gyt – 0,04) 0 = -0,25gyt + 0,01 gyt = 0,04 = 4% Para descobrir a taxa de crescimento da moeda (gmt), vamos substituir na relação de demanda agre- gada. Sabemos agora que gyt = 4%, assim: 0,04 = gmt – 0,15 gmt = 0,19 = 19% c) Qual o efeito sobre o equilíbrio de médio/longo prazo do sistema de uma redução da taxa de cres- cimento da oferta de moeda para 10% a.a.? Podemos dizer que no médio/longo prazo a inflação é um fenômeno estritamente monetário? Por quê? A desinflação possui um custo em termos de desemprego, o qual se prolongará durante algum tempo, e que podemos inclusive medir pela chamada razão de sacrifício. Uma redução da oferta de moeda de 19% para 10% possui de imediato o efeito de queda do produto, que podemos medir pela relação da demanda agregada. Substituindo, vemos que a taxa de crescimento do produto cai 0,09 também, de 0,04 para -0,05, ou -5%. O desemprego sobe e, substituindo na lei de Okun, chegamos a um resultado de 7,25% para ut. A inflação, por sua vez, cai ao longo desse primeiro ano: através da curva de Phillips, vemos que o novo índice é de 12,75% para πt. Esses números foram obtidos sucessivamente, uma vez que achando a nova taxa de crescimento do produto podemos achar a nova taxa de desemprego, e a partir desta, a nova taxa de inflação. Podemos continuar as contas e fazer para mais anos. Sabemos que no médio prazo, a inflação chegará no nível desejado, e o produto e desemprego voltarão a seus níveis naturais. A questão não é clara a respeito da matemática exigida para a resposta, se o efeito que 4 se pede é em números ou em palavras. No entanto, podemos afirmar que no médio/longo prazo a infla- ção é um fenômeno estritamente monetário. O único determinante da inflação, no médio prazo, é o crescimento da moeda nominal.
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