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SHAME (Vergonha) sinopse

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SHAME (“Vergonha”)
O ato sexual, em Shame, é mostrado de maneira incômoda, como um martírio: o protagonista Brandon, obcecado por sexo, entrega-se às mulheres que cruzam seu caminho como um animal que caminha ao abatedouro. Engana-se quem pensa que a vida deste Don Juan é um paraíso: o rico publicitário é prisioneiro dos próprios desejos, refém de suas pulsões. O sexo não é consequência do afeto ou da sedução, apenas uma necessidade fisiológica a ser saciada regularmente, como a sede ou a fome.
O filme mergulha o espectador na vida e na doença do personagem, de modo que não vemos nada além da repetição típica do mecanismo obsessivo: assim como o Brandon, a imagem só pensa, mostra e reflete o sexo.
O filme mostra que havia presente ali o perigo do incesto e a concretização de uma relação sexual entre ele a irmã. pelo medo de concretizar seus desejos incestuosos com a irmã, Bradon necessitava anestesiar-se em relações masturbatórias e sensoriais com mulheres que não podiam ter qualquer significado emocional para ele, única saída possível para se evadir da concretização do incesto.
Mais do que ter de dividir o espaço com a irmã, na convivência ele tem de enfrentar talvez sua maior limitação: lidar com seus sentimentos mais profundos e o amor. Esta dificuldade do personagem fica explícita em algumas cenas: quando sai com uma colega do escritório para jantar e, questionado, ele admite que quatro meses foi seu recorde de duração de uma relação amorosa. Dias depois eles vão para a cama e, para surpresa geral, ele brocha. A relação com a irmã, em diversas passagens, revela também a dificuldade de Brandon em relacionar-se afetivamente com o outro.
A entrada da irmã do personagem na história poderia apresentar um contraponto simétrico (se ela fosse conservadora ou pudica, talvez), mas ele apenas adiciona um ponto de vista para tornar mais complexo o tema da vergonha, escancarada pelo título. Sissy, a irmã, interpretada magistralmente por Carey Mulligan, também tem uma dependência, e uma compulsão, mas no caso dela, o problema é de ordem afetiva. Pela natureza volátil e possessiva de Sissy, e pelo caráter sexualizado de Brandon, nenhum dos dois consegue ter uma relação amorosa estável, saudável – vide a triste cena em que Brandon não é capaz de transar com a gentil colega de trabalho, saciando-se apenas com uma prostituta.
A convivência entre Sissy e Brandon não poderia deixar de ser explosiva, e o roteiro explora este confronto às últimas consequências, numa cena que muitos interpretaram como uma clara insinuação incestuosa... De qualquer modo, Shame é construído como uma gradação: os personagens estão condenados a certo comportamento, que será repetido com frequência cada vez maior, em intensidade cada vez maior. Este drama cruel e sem lágrimas prefere a sensação de incômodo, a frontalidade da imagem e do tema como alternativa à piedade. filme retrata com perfeição o angustiante processo de enlouquecimento, o grande sofrimento mental apresentado pelo protagonista. o mesmo parecia incapaz de obter um prazer sexual e genital em suas relações. Ao contrário, o ato sexual era buscado como uma forma alucinatória de evacuar angústias intoleráveis, fazendo com que o mesmo ficasse impedido de manter vínculos amorosos em sua vida. Sem sentimentalismo nem apelo ao erotismo, Shame compõe uma imagem triste e cruel do sexo.

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