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AVALIAÇÃO DE PROVAS DE CARGA EM ESCALA REDUZIDA PARA ADAPTAÇÃO DO MÉTODO GRENOBLE EM FUNDAÇÕES REFORÇADAS COM CAL E COM CIMENTO SUBMETIDAS A ESFORÇOS DE TRAÇÃO Carlos Diego do Valle Pedroso Companhia Paranaense de Energia, Curitiba, Paraná, diego.pedroso@copel.com Marcelo Buras Institutos Lactec, Curitiba, Paraná, marcelo.buras@lactec.org.br Marco Aurelio Jolandek Companhia Paranaense de Energia, Curitiba, Paraná, marco.jolandek@copel.com Rodrigo Moraes da Silveira Institutos Lactec, Curitiba, Paraná, rodrigo.silveira@lactec.org.br RESUMO: O esforço de tração é preponderante para o dimensionamento geotécnico de fundações de torres de linhas de transmissão (LT) de energia elétrica e de telecomunicação. Em áreas de implantação de LT, é comum a ocorrência de solos com baixa capacidade de suporte ao longo do seu traçado. Além do custo elevado para a sua implantação, há inúmeros casos de patologias relacionadas a instalações de estruturas nesses tipos de solos, como por exemplo recalque de fundações, sobrecarga de tração em cabos e cadeias de isoladores e, até mesmo, o colapso da fundação. O presente artigo insere-se na necessidade de reforçar o solo de fundação de torres de linhas de transmissão de energia elétrica além de torres de telecomunicação e de usinas eólicas, silos, galpões, caixas d'água elevadas, etc. Neste sentido, este artigo apresenta resultados de testes de tração em escala reduzida em laboratório para identificar a capacidade última à tração de um tipo de solo silto-argiloso amostrado junto ao pé de uma torre de LT localizada na região Oeste do Estado do Paraná, município de Cascavel. Visando a melhoria da capacidade de suporte à tração, os mesmos ensaios foram realizados com o solo misturado com cal e com cimento, ambos em proporções de 2%. Os resultados apresentados indicaram que o solo ensaiado apresenta um aumento da capacidade de suporte à tração quando o mesmo foi misturado com 2% de cal. O mesmo solo misturado com cimento apresentou ganho de rigidez, entretanto, pouco aumento de resistência. O presente artigo faz parte do escopo de um P&D intitulado Desenvolvimento e aplicação de protótipo para melhoramento de solos através de injeções em desenvolvimento nos Institutos LACTEC. PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de Solos, Ensaios de Tração, Torres de Linhas de Transmissão. 1 INTRODUÇÃO A carga de projeto preponderante em fundações de linhas de transmissão é a carga de tração, também chamada de arrancamento. Este tipo de estrutura é caracterizada por ser amplamente sujeita a esforços ocasionados pelo vento, que, aliado ao baixo peso próprio destas estruturas, pode induzir ao bloco de fundação momentos que tenderão a tracionar as fundações (PASCHOALIN FILHO e CARVALHO, 2010). Diante disto, há uma grande diferença entre o projeto de fundações de linhas de transmissão, em relação às fundações de estruturas usuais, como edificações em geral. A escolha da solução da fundação está associada ao carregamento estrutural da torre e à capacidade de suporte da fundação. As soluções habituais de uma torre de linha de transmissão são grelhas metálicas, sapatas e tubulões em concreto armado. Fundações estaqueadas e blocos atirantados em rocha também têm utilização relevante em terrenos fracos e rochosos, respectivamente. Para o projeto de fundações que suportam esforços de tração existem na bibliografia geotécnica métodos de dimensionamento consagrados desenvolvidos por diferentes pesquisadores, dentre estes, pode-se citar: Balla (1961), Meyerhof e Adams (1968), Vesiç (1969), Biarez e Barraud (1968), Martin (1966, 1973). Para a construção de uma linha de transmissão, além do fator relacionado a custo, a escolha de um traçado é realizada em função da diminuição dos conflitos ambientais provocados. Neste contexto, o melhoramento do solo do próprio local da obra, tornando-o apto a atender os requisitos de projeto, evita a remoção do solo impróprio para a obra e a utilização de material de empréstimo. Salienta-se que muitas vezes a remoção e a utilização de material de empréstimo são inviáveis em virtude da inexistência de potenciais jazidas para a execução das obras. Visando o melhoramento de solos no local da obra vários autores utilizaram aditivos em diferentes tipos de solos para reforço de fundações e de pavimentos focando o acréscimo de resistência ao cisalhamento e da capacidade de suporte, entre estes, citam-se os trabalhos de Mitchell (1981), Brazetti (1998), Moh (1965), Croft (1967), Kochen (1992), Cristelo (2001), Guimarães (2002), Boszczowski (2004, 2009) e Silva (2007). Quanto aos estudos que abordam o uso de aditivos para o aumento de resistência à tração de fundações em modelo reduzido, foram realizadas ao longo dos últimos anos algumas pesquisas em reforços e melhoramento de solos. Citam-se os trabalhos desenvolvidos com o uso de geogrelhas de Ilamparuthi & Dickin (2000) Niroumand et al. (2012) para o uso de cimento realizado por Rattley et al. (2008) e Ruver (2011) e, para o uso de cimento e fibras realizado por Consoli et al. (2012). Considerando aditivos, foram identificados produtos a base de compostos orgânicos, enzimas, polímeros além da cal e do cimento como aditivos que conferem aos solos siltosos e arenosos maior resistência ao cisalhamento e menor deformabilidade (SILVA, 2007). Essas pesquisas, em grande parte, apresentaram resultados satisfatórios para a utilização de aditivos químicos e físicos no reforço de solos com baixa capacidade de suporte e alta compressibilidade. No mesmo contexto destas pesquisas, este artigo apresenta resultados de testes de tração em escala reduzida em laboratório para identificar a capacidade última à tração de um tipo de solo silto-argiloso amostrado junto ao pé de uma torre de LT localizada na região Oeste do Estado do Paraná no município de Cascavel. Visando a melhoria da capacidade de suporte à tração, os mesmos ensaios foram realizados com o solo misturado com cal e com cimento, ambos em proporções de 2% em massa. 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O MÉTODO GRENOBLE PARA O CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA À TRAÇÃO Em linhas de transmissão, as estruturas e as fundações são dimensionadas verificando-se várias pressuposições de carregamento nas quais são as mesmas utilizadas para o dimensionamento da estrutura. Dentre estas estão às hipóteses de temperatura mínima, temperatura de projeto, cargas de montagem, vento máximo, vento reduzido com pára-raios rompido ou com cabo condutor rompido e ventos de alta intensidade. A velocidade do vento é uma variável fundamental no cálculo dos esforços, pois a pressão exercida pelo vento é distribuída em cabos, cadeia de isoladores e na área dos perfis da estrutura. Os esforços são calculados conforme as recomendações da ABNT NBR 5422:1985 – Projeto de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica. De uma maneira geral, os esforços de tração dominam o dimensionamento de fundações, exceto em casos onde as cargas são muito elevadas e o terreno de fundação apresenta-se em condições ruins (DANZIGER e PEREIRA PINTO, 1979). Encontra-se aqui apresentado especialmente o método para o cálculo e dimensionamento de estruturas de fundação à tração, método desenvolvido pela Universidade de Grenoble (Biarrez e Baraud (1968) e Martin (1966,1973). Além da universidade citada, o método foi também desenvolvido pela companhia estatal de energia elétricada França (E.D.F. - Électricité de France). Ruffier (1999) cita que este método originou-se a partir da observação do fenômeno de ruptura do solo (através de ensaios em modelos reduzidos) e com estudos teóricos do comportamento da fundação. A metodologia desenvolvida foi também aferida através de elevado número de provas de carga em escala natural por uma série de instituições através de países membros da CIGRÉ (Conférence Internacionale des Grands Réseaux Électriques à Haute Tension). A metodologia está fundamentada em um número elevado de ensaios em modelos reduzidos, de cujas observações originaram-se a formulação da teoria. As considerações teóricas são baseadas no estudo do equilíbrio limite dos solos (DANZIGER,1983). No método, considera-se que a ruptura de uma fundação tracionada pode se dar por cisalhamento generalizado, quando a superfície de ruptura é composta de retas inclinadas com a vertical, atingindo a superfície do terreno, ou por cisalhamento localizado, quando a superfície de ruptura localiza-se ao redor da base da fundação. A carga de ruptura, no caso de uma estaca cilíndrica ou tubulão sem alargamento da base, em solo homogêneo, é a soma da resistência ao cisalhamento mobilizada ao longo da superfície de ruptura, do peso da fundação, do peso do solo solidário à estaca no processo de ruptura e da sobrecarga, atuante na superfície, quando esta existir (ELL, 2003). Não é levado em consideração o efeito de carregamento horizontal neste caso, ou seja, os carregamentos horizontais bem como o esforço de tombamento gerado são verificados separadamente. O método Grenoble pressupõe apenas a atuação axial de uma carga vertical de tração, o que é válido, uma vez que na grande maioria das situações, o esforço vertical é muito maior que o horizontal (AZEVEDO, 2009). O método é extremamente abrangente, sendo aplicável a praticamente todos os tipos de fundação normalmente utilizados para linhas de transmissão. Tal abrangência e confiabilidade alcançada através de numerosos estudos e ensaios faz deste método o mais utilizado no Brasil e no mundo para dimensionamento de fundações submetidas à tração. No método fica bem explicitado o conceito de profundidade crítica (Dc), limite entre o comportamento de fundações à “pequena” e “grande” profundidade (GARCIA, 2005). É também introduzido o conceito de comportamento diferenciado para solos resistentes ou de baixa resistência ao cisalhamento, conformeapresentado na sequência. O procedimento ainda se adapta a todos os tipos de fundações, sendo que a superfície de ruptura varia de acordo com a profundidade da fundação, conforme esta se situe aquém ou além da profundidade crítica (Dc). Para a sua aplicação, os solos são classificados em duas categorias (DAVISON DIAS, 1987): • Categoria 1: solos argilosos, fracos, com alto grau de saturação, e ângulo de atrito interno inferior a 15 graus. • Categoria 2: solos resistentes, argilosos com baixo grau de saturação, ou arenosos, saturados ou não com ângulo de atrito interno superior a 15 graus. Sob tais condições, a máxima capacidade de carga (Qt) será a resultante de esforços atuando acima da área do tronco de cone formada pela superfície de cisalhamento, sendo aceito como aproximação, a soma dos estados limites de equilíbrios em área homogeneizada [BIAREZ e BARRAUD (1968)]. Devido às particularidades inerentes a cada solução, os procedimentos abaixo estão separados em estacas cilíndricas, grelhas (placas), sapatas e tubulões. 3 TIPOS DE MELHORAMENTOS EXISTENTES Sendo o solo natural um material complexo e variável, é comum a ocorrência de solos que não atendam determinadas exigências de projeto para execução de fundações. Uma alternativa disponível para viabilizar tecnicamente a realização de obras sobre solos com baixa capacidade de suporte é a remoção do material existente no local da obra e sua substituição por outro com características adequadas. Outra opção é modificar e melhorar as propriedades do solo existente resultando em um novo material que seja capaz de possibilitar a execução de diferentes tipos de fundações. Há várias técnicas para o melhoramento das propriedades dos solos, sendo os principais métodos: compactação, adensamento por pré- carregamento e/ou drenos verticais, injeção de material estabilizante, estabilização por processo físico químico e reforços com a inclusão de elementos resistentes (geotextil, fibras, grelhas, etc.). Entretanto, existem poucas pesquisas direcionadas ao comportamento de fundações à tração com uso de melhorias a partir de materiais químicos. Entende-se por melhoramento ou reforço de solos a utilização de processos físicos e/ou químicos que visem o melhoramento das propriedades mecânicas dos solos (resistência ao cisalhamento, compressibilidade e permeabilidade). Alguns autores fazem distinção entre melhoria e estabilização. A diferença está na quantidade de aditivo químico ou físico utilizado. A estabilização de solos com adição de novos materiais normalmente os combina com o procedimento de compactação, a adição de cal e cimento, a injeção de materiais estabilizantes (cal, cimento, poliuretano, etc.), a inserção de colunas de brita ou areia, o pré-carregamento com o uso de drenos e reforço com tiras metálicas ou geossintéticos. Os materiais mais comuns utilizados para estabilização de solos são a cal e o cimento. De forma geral, as adições desses materiais provocam modificações substanciais nas propriedades dos solos. O maior ou menor grau e a velocidade com que essas modificações se processam dependem de características específicas do solo e da injeção, quantidade de água, tipo e grau de compactação do solo, temperatura, dentre outros. Além de cimento e cal, uma série de substâncias com ação química encontra aplicação no melhoramento de solos. Alguns materiais utilizados na estabilização química dos solos são os resíduos de processos industriais, tais como vinhoto, licor negro kraft, alcatrão de madeira de eucalipto, escória de aciaria e lama-de-cal (THOMÉ, 2008). O solo- betume, solo-resina, estabilização com cinzas volantes e escórias de alto-forno, emprego de sais, ácidos, ligninas, silicatos de sódio, aluminatos de cálcio, sulfatos de potássio, óxidos de ferro, palha de arroz, bagaço de cana- de-açucar são materiais já estudados (FERREIRA et al., 2005). Ferreira e Thomé (2011) utilizaram resíduos da construção e demolição (RCD) para reforço da base de fundações superficiais em solos residuais de basalto em proporções de 25%, 50% e 75% de RCD na mistura. A proporção de melhor resultado foi de 50% de resíduo na composição. Através de ensaios de placa, notou-se um aumento de 264% na carga de ruptura à compressão além da notável redução de recalques. O DS-328, por exemplo, em pesquisa realizada por Silva (2007), também mostrou ser um aditivo promissor. O DS-328 é um aditivo químico baseado num composto metálo- orgânico desenvolvido para a estabilização de solos e desenvolvido para a finalidade de estabilizar solos, assim como na aplicação de pavimentação de estradas de rodagem, acostamentos, pistas de pouso, estacionamentos, etc. A utilização do produto proporciona diminuição da absorção de água, ascensão capilar e poder de sucção do solo; elevação do CBR, redução da expansibilidade do solo, além de não necessitar de equipamentos sofisticados para asua aplicação, não ser tóxico, corrosivo ou inflamável (SILVA, 2007). Consoli et al. (2012) realizaram testes de tração para identificar a cinemática de falha em placas circulares reaterradas com misturas de solos melhorados com cimento e com fibras e cimento. O propósito para esta pesquisa foi demonstrar a eficácia da utilização de fibras para aumentar a capacidade de suporte das placas reforçadas com cimento e o conjunto de fibra e cimento, bem como o comportamento da melhoria do solo considerando distintas relações de profundidade e diâmetro da fundação. Nas duas misturas observou-se que quanto maior a profundidade, maior a carga de ruptura à tração. Entretanto esta relação é não- linear. Ruver (2011) estudou os benefícios gerados pela cimentação em areias finas e homogêneas em relação à capacidade de carga ao arrancamento. Foram realizadas provas de carga a tração, variando-se o diâmetro (30 e 45 cm), profundidades de embutimentos (entre 0,5 e 2,0), e teores de cimento (0%, 3% e 7%). Percebeu-se que quanto maior a fundação, maior a carga de arrancamento.A adição de cimento proporcionou ganhos na ordem de 9 vezes para 3% de cimento e 13,5 vezes para 7% de cimento, em relação a areia não cimentada. A adição de cimento proporcionou aumento da rigidez, de modo que a ruptura em reaterro cimentados ocorreu a menores deslocamentos em reação ao reaterro não cimentado. O autor ainda cita que a profundidade da fundação e a coesão são fatores significativos para o ganho de resistência. A diminuição da área em planta a ser reforçada também diminui a resistência à tração. Salienta-se que este comportamento foi identificado neste artigo. O presente artigo apresenta resultados de testes de laboratório em um modelo reduzido especialmente construído para ensaios especiais de tração em um solo amostrado no pé de uma torre de LT. Este solo foi melhorado primeiramente com 2% de cal e posteriormente com 2% de cimento. A seguir os resultados dos testes serão apresentados e discutidos. 4 APRESENTAÇÃO DO MODELO REDUZIDO O equipamento desenvolvido para realização dos testesbaseou-se inicialmente na possibilidade de execução de qualquer tipo de prova de carga, seja decompressão ou tração, em modelos reduziodos de fundação rasa ou profunda. Com o equipamento idealizado é possível à simulação de carregamentos em qualquer tipo de solo em qualquer condição. Idealizou-se uma caixa metálica com dimensões de 20x20x30 cm, onde o solo é moldado com densidade pré-estabelecida. Esta caixa possui robustez suficiente para resistir à moldagem de solos em seu interior. Para reação nos testes de tração ou compressão foi utilizada uma prensa EMIC de capacidade de 10 toneladas. A prensa em questão é dotada de uma célula de carga de capacidade de5 toneladas. Foi idealizado ainda um sistema de transmissão de carga acoplado diretamente a fundação superficial de 10 x 10 cm. A Figura 1 ilustra um desenho esquemático do modelo reduzido e a Figura 2 uma fotografia da configuração no início de um dos testes realizados.Ensaios em protótipos com dimensões maiores, próximas às medidas reais de fundações de torres de transmissão, serão contemplados na pesquisa posteriormente. Figura 1. Desenho esquemático da caixa de testes O monitoramento das deformações e da carga é feito de forma automatizada, tanto para aquisição, como para a leitura de dados. Para registro das cargas são utilizadas células de carga de diversos tipos e capacidades, cuja escolha irá depender da carga a ser imposta na fundação. Figura 2. Configuração do início do ensaio Para o dimensionamento da caixa metálica, foi levado em consideração o alcance do ângulo de ruptura após o cisalhamento do solo, sob o efeito de arrancamento. De acordo com o método Grenoble de dimensioanamento à tração, presente nos trabalhos de Biarez e Barraud (1968) e Martin (1966, 1973), o ângulo de ruptura ao cisalhamento tende a ser aberto formando uma espécie de tronco de cone. Este tipo de ruptura é denominado como generalizada (DANZIGER e PINTO, 1979). O ângulo formado pela superfície de ruptura com a vertical é , sendo que o sinal negativo se deve ao fato de o ângulo abrir em relação ao eixo vertical. Figura 3. Alcance do ângulo de ruptura 5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Este item apresenta uma breve discussão dos resultados dos ensaios e testes realizados. Foram realizados um conjunto de 3 ensaios de cisalhamento direto para as amostras de solo natural, solo melhorado com adição de 2% de cal e solo melhorado com adição de 2% de cimento. Para o traçado da envoltória de resitência ao cisalhamento, foram realizados 3 ensaios para cada tipo de amostra, com tensões normais de 200, 100 e 50 kPa, totalizando um conjunto de 9 ensaios. Os testes no modelo reduzido foram realizados nas mesmas condições dos ensaios de cisalhamento direto (solo natural, solo com cal e solo com cimento). 5.1 Resultados dos ensaios de cisalhamento direto Foram realzados ensaios de cisalhamento direto nas tensões normais de 50, 100 e 200 kPa com corpos de prova moldados com as mesmas condições do solo moldado no interior da caixa metálica utilizada para os ensaios de tração.Estes ensaios foram realizados de acordo com as recomendações da norma britânica BS1377:90. Os parâmetros de resistência ao cisalhamento encontram-se apresentados na Tabela 1. De acordo com os resultados obtidos pelo Método Grenoble no item seguinte, serão realizados posteriormente ensaios de cisalhamento direto com tensões normais variando entre 20 e 40 kPa.Salienta-se que os ensaios com solo misturado com cal e solo misturado com cimento tambémestão em andamento. Estes resultados não se encontram apresentados neste artigo. 5.2 Resultados dos cálculos realizados a partir do Método Grenoble De acordo com a metodologia de Grenoble, a formulação para (D≤Dc, ou seja, profundidade inferior à profundidade crítica) em solos de categoria 2 é dada pela equação 1. Os resultados da aplicação do método estão apresentados na Tabela 1. Sb.D.γP q q.MMγ φ Mγ.D. c C.MPb.D. t Q (1) Onde: D – profundidade da placa (0,20 m); Pb – perímetro da base (0,40 m); C – coesão do solo; – peso específico natural do solo; q – camada de sobrecarga (sobreaterro), que no caso da placa ensaiada é nula; Mc,M,M,Mq- coeficientes de capacidade de carga à tração em função do ângulo , do ângulo de atrito interno do solo () e da profundidade relativa (D/R). P – Peso da fundação (2,0 kgf); Sb – área da base da placa (0,01 m²); Tabela 1: Resultados para o método Grenoble. c (KPa) KN/m³ Mc M M Tensão (KPa) Solo semmelh oria 3,2 41,1 13,0 0,79 0,39 33,0 Os resultados da Tabela 1 indicam um esforço máximo resistente de 33,0KPa, considerando área da placa de 0,01 m² em solo sem melhoria. 5.3 Resultados dos testes no modelo reduzido O gráfico mostrado na Figura 4 ilustra os resultados dos testes realizados no modelo reduzido. No eixo vertical é plotado a tensão de tração, considerando a área total da placa (fundação superficial), de 10x10cm. E no eixo horizontal o deslocamento da placa (medido pela prensa). Figura 4. Tensão versus deslocamentoNo resultado apresentado, observa-se nitidamente um ganho de resistência no solo melhorado com adição de cal. Entretando, para adição de cimento nota-se que não há ganho de resistência, há apenas um ganho de rigidez. Ou seja, para adição de cimento no solo testado, as deformações até a ruptura do solo serão menores. Enfatiza-se que este fato, já foi observado por outros autores. Outra questão importante de salientar é que estes resultados são válidos apenas para o solo utlizado nos testes, não podendo extrapolar os dados para outros tipos de solos. O gráfico mostrado na Figura 5 ilustra uma comparação dos deslocamentos medidos pela prensa, na posição central da caixa, em relação aos deslocamentos obtidos no solo com a utlização de dois sensores de deslocamentos do tipo LVDT. 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0 10 20 30 40 50 Te n sã o d e t ra çã o ( K N /m 2 ) Deslocamento (mm) Solo natural Solo melhorado com cal Solo melhorado com cimento Figura 5. Deslocamento da prensa versus LVDT Neste gráfico é possível de se observar, que no início do ensaio não há movimentos no solo onde se encontram instalados os LVDTs. Os deslocamentos no solo (na posição do LVDTs), começam a ser percebidos pelos instrumentos a partir de aproximadamente 6 mm, onde são registrados as maiores tensões de tração nos solos melhorados. A Figura 6 mostra o início de um dos ensaios realizados e a Figura 7,o final de um dos ensaios realizados. Figura 6. Início do ensaio Figura 7. Final do ensaio Observa-se nesta última Figura, a ruptura de cisalhamento tendendo ao formado tronco de cone, ou ruptura generalizada denominada pelo Método Grenoble. 6 CONCLUSÕES A partir dasinformações apresentadas neste artigo, conclui-se que os resultados apresentados pelo método Grenoble não podem ser utilizados como parâmetro para estimativa de resistência à tração em solos melhorados. Em todos os casos, o solo ensaiado apresentou resultado maior que o solo calculado. Ou seja, os resultados do método Grenoble foram inferiores. Este resultado gera um superdimensionamento de fundações. A resistência ensaiada apresentou resultados698% maior em relação ao método Grenoble, para solo sem melhoria. Os resultados para o mesmo método em solo-cal 2% e solo-cimento 2%, serão complementados posteriormente, após a obtenção dos resultados dos ensaios de cisalhamento direto. Em relacao ao ensaio de arrancamento, comparando os númerosdo solo sem melhoria, misturado com 2% de cal e 2% de cimento, observa-se um aumento de resistência para solos misturados com a cal. O solo-cal apresentou resistência ao arrancamento superior em 74% comparando com o solo natural. A mistura com solo-cimento apresentou ganho de resistência de apenas 4% em relação ao solo sem melhoria, entretanto houve um nítido ganho de rigidez. De acordo com os resultados obtidos pelo 0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50 D e sl o ca m e n to (m m ) Deslocamento (mm) Deslocamento da Prensa Deslocamento médio do solo natural Deslocamento médio do solo com 2% de Cal Deslocamento médio do solo com 2% de Cimento Método Grenoble, conforme apresentado no desenvolvimento do artigo, enfatiza-se que serão realizados ensaios de cisalhamento direto com tensões normais variando entre 20 e 40 kPa. O desenvolvimento deste artigo está inserido no contexto do P&D Aneel de interesse da Companhia Paranaense de Energia (Copel) em desenvolvimento no Lactec – “Desenvolvimento e aplicação de protótipo para melhoramento de solos através de injeções”. Ensaios em protótipos com dimensões maiores, próximas às medidas reais de fundações de torres de transmissão, serão contemplados na pesquisa posteriormente. AGRADECIMENTOS Os autores deste artigo agradecem ao LACTEC, COPEL e CNPq pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS Associação Brasileira De Normas Técnicas. 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