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A importância de um interprete de libras no espaço escolar

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A importância de um interprete de libras no espaço escolar
Como destacam Lacerda e Góes (2000), as funções a serem desempenhadas pelos intérpretes de Libras foram ressignificadas, uma vez que seus conhecimentos e sua atuação estão entrelaçados por certas peculiaridades da área educacional, e não apenas pela precisão e fluência na área educacional. 
Ao abordar as especificidades da atuação desse profissional, Lacerda e Góes (2002), Quadros (2003), Tuxi (2009), Martins (2008) e Albres (2015) apontam que a função primordial do intérprete educacional de Libras é mediar as relações estabelecidas entre os alunos surdos e outros indivíduos presentes neste contexto. Buscando elementos para discutir a inclusão do intérprete de Libras na educação, reunimos os estudos dos autores mencionados em duas abordagens: a primeira aborda questões educacionais e a segunda aborda aspectos sobre competência linguística. 
Referindo-se à primeira abordagem, Lacerda e Garcia (2002), Martins (2008) e Albres (2015) discutem, entre outras coisas, a distorção das relações didáticas e pedagógicas entre o intérprete de Libras e o aluno surdo e intérprete de Libras e professor em sala de aula. Segundo os autores, em muitos casos, a responsabilidade de ensinar o aluno surdo é transferida para o intérprete de Libras, que, no desejo de apresentar resultados de seu trabalho, assume essa função. Diante de tal situação, o aluno surdo acaba não entendendo o trabalho do intérprete de Libras, colocando-o como responsável pelo seu processo de aprendizagem, reportando-se a ele para responder a qualquer dúvida e tratando-o como uma forma de aprendizado. 
Voltando à segunda abordagem, Quadros (2003) e Tuxi (2009) discutem a questão da competência lingüística, uma vez que, para ocorrer a intermediação do conhecimento no ambiente escolar, é muito importante que os intérpretes de Libras possuam habilidades lingüísticas não apenas em Libras, em português. Indicam, ainda, a necessidade de valorizar, em editais públicos na contratação, os profissionais que possuem formação na área de interpretação da língua de sinais.
Ao trabalhar com alunos surdos na escola, o intérprete de Libras está comprometido com o desenvolvimento do conhecimento desses alunos, interpondo-se como mediador nesse processo, o que traz novas ramificações à atuação profissional. Nesse sentido, uma vez que o intérprete está inserido na escola, o trabalho de tradução, interpretação e ensino, de certa forma, articula-se no papel desse profissional, produzindo novas configurações.
Falando sobre o papel da escola na formação humana, Saviani (2003) destaca sua função de transmitir conhecimento que foi historicamente acumulado pela sociedade. Para o autor, "[...] o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente por todos os homens" (Saviani, 2003, p. 13). Na escola, o trabalho educativo é organizado a partir da atuação de diferentes profissionais e, mais recentemente, o intérprete de Libras faz parte dessa organização, participando dos processos de ensino e aprendizagem dos alunos surdos e, consequentemente, na tarefa de a constituição do sujeito surdo como parte de uma coletividade.
Em uma direção similar, Vygotsky (1983) afirma que o desenvolvimento humano ocorre na esfera social, nas situações concretas da vida. É através da mediação social que os indivíduos entendem o mundo e se constituem como parte da humanidade. No processo de mediação social, a linguagem tem um papel proeminente, que tem tanto uma função comunicativa quanto a constituição de funções psicológicas superiores. A linguagem, colocando-se entre a criança e a realidade objetiva, permite interagir com essa realidade no nível simbólico.
Ainda considerando os postulados de Vygotsky, outro conceito importante para analisar a apropriação do conhecimento na escola é: a mediação pedagógica, que se refere ao trabalho educativo intencional e planejado realizado pela escola, a fim de facilitar a transição de "[...] o pensamento aderiu a níveis sensíveis, empíricos e concretos, particularizados da realidade a níveis cada vez mais difusos, abstratos, de crescente abrangência e inseridos na crescente complexidade dos sistemas "(Rocha, 2000, p. 44). Portanto, a escola deve ser organizada como um espaço que possibilite mediações "qualitativamente diferentes" entre aqueles que fazem parte dela. O professor, em seu papel de mediador, deve se interpor entre o aluno e o conhecimento, desenvolvendo estratégias de ensino para produzir mudanças psicológicas e apropriação do conhecimento pelo aluno. Nessa perspectiva, é fundamental discutir a atuação do intérprete de Libras, um profissional que se interpõe entre o professor, o aluno surdo e o saber.
A interpretação se materializa na interface entre dois idiomas. Considerando a dimensão ideológica da palavra e sua Na construção dos sentidos (Bakhtin, 2006), entendemos que a interpretação não é um código que se sustenta em uma combinação seqüencial de configurações de mãos feitas em lugares fechados, com posicionamento (orientação) já estabelecido, seguindo movimentos harmonizados e potencializados. por facial e / ou linguagem corporal. 
A interpretação vai além da codificação e decodificação da informação, permeia os sujeitos envolvidos e o contexto histórico e social em que estão imersos. Segundo Tuxi (2008, p 13), a interpretação é dividida em consecutiva e simultânea: interpretação simultânea é quando a mensagem de origem está em andamento e o intérprete segue este discurso (ou sinalização). Ou seja, enquanto o interlocutor está falando, o intérprete interpreta simultaneamente, sem cortes. 
Na interpretação consecutiva, o intérprete escuta (ou vê) a mensagem e, assim que termina uma frase, há uma pausa. A simultaneidade na interpretação exige habilidades profissionais que vão além do conhecimento linguístico, relacionando-a com a capacidade de administrar. a informação de um idioma para outro, e ainda o profissional precisa prestar atenção ao fluxo de informação que continua a ser transmitido.
 Além disso, o intérprete tem acesso a informações e textos que estão em outro idioma em tempo real. Todo esse movimento exige a destreza do intérprete e a capacidade interpretativa. Tendo em vista as considerações sobre o trabalho do mediador do intérprete de Libras na escola, discutiremos a seguir as especificidades da prática educativa de interpretação desse profissional, com base em dados de um estudo maior, que teve como objetivo compreender como ocorre a inserção do intérprete de Libras nos anos finais do ensino fundamental.

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