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TEORIA GERAL DO CRIME Prof.ª Maria Paula daltrolopes@uni9.pro.com “O Direito Penal é o primeiro amor dos grandes estudantes, fascinados pelo conteúdo humano, pela palpitação social, pela intensidade dos dramas, pela glória das legendas. O Direito Penal fornece a emulsão vivificante ao berçário das vocações jurídicas” Roberto Lyra CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (PLANOGRAMA): 1. Apresentação. Exposição dos critérios de avaliação e agendamento das respectivas datas. 2. Função do Direito (pacificação social, resolução de conflitos). Direito Penal: conceito, natureza, princípios e fins num Estado Democrático de Direito. Conceito de bem jurídico penal. Caracteres do Direito Penal, sob a ótica do Direito Penal Mínimo. Princípios da subsidiariedade, fragmentariedade e insignificância (lesividade). 3. Aplicação da lei penal. Princípio da legalidade: reserva legal, taxatividade e irretroatividade. 4. Aplicação da lei penal. Tempo do crime. Aplicação da lei penal mais benéfica e exceções. Lugar do crime. Territorialidade e Extraterritorialidade. 5. Teoria geral do delito. Moderno conceito analítico de delito. Visão panorâmica do delito, com breve menção a cada um de seus elementos constitutivos (ação, tipicidade, ilicitude e culpabilidade). 6. Ação. Elementos da ação positiva (comissiva) e elementos da ação negativa (omissiva). 7. Tipicidade. Definição. Construção legislativa do tipo penal. Tipo objetivo (elementos descritivos e normativos - jurídicos e culturais). Tipos fechados e tipos abertos. 8.Tipicidade. Tipo subjetivo (dolo direto, dolo eventual, culpa consciente, culpa inconsciente e preterdolo). O erro sobre os elementos constitutivos do tipo penal. 9. Delitos comissivos e omissivos (próprios, impróprios). Relação de causalidade (imputatio facti). A causalidade factual dos delitos comissivos e a causalidade normativa dos delitos omissivos (relevância da omissão). 10. Consumação e tentativa: etapas do crime; delitos instantâneos, permanentes, instantâneos de efeitos permanentes. Desistência voluntária, arrependimento eficaz e posterior e crime impossível. 11. Ilicitude. Conceito. Legítima defesa e seus elementos. 12. Ilicitude. Estado de necessidade, exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal. 13. Culpabilidade. Conceito, elementos, teorias, dirimentes. Paralelo entre a Escola Causal e a Escola Final. 14. Culpabilidade. Reprovação social. Inexigibilidade de conduta diversa. Consciência potencial da ilicitude. Imputabilidade penal (biológica e psicológica). 15. Concurso de pessoas: co-autoria e participação. Circunstâncias incomunicáveis. 16. Classificação doutrinária das infrações penais. VOCÊS CONSEGUEM DAR UMA DEFINIÇÃO DE DIREITO PENAL? O QUE VOCÊS ENTENDEM POR DIREITO PENAL? QUAL A SUA FUNÇÃO? DIREITO PENAL Conceito de direito penal O Direito Penal se apresenta como o conjunto das normas jurídicas, pelas quais se exerce a função do Estado de prevenir e reprimir os crimes, por meio de sanções cominadas aos seus autores. I - Fontes Materiais A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a CF (Art. 22, I), que compete privativamente a União legislar sobre direito penal. II - Fontes Formais As fontes formais, que exteriorizam o direito, que lhe dão forma e o revelam, dividem-se em: - FONTES DIRETAS (OU IMEDIATAS) - FONTES INDIRETAS (OU MEDIATAS OU SUBSIDIÁRIAS) - A única fonte direta do Direito Penal, diante do princípio da reserva legal, é a lei. Apontam-se como fontes indiretas ou subsidiárias do Direito Penal os costumes e os princípios gerais do direito, referidos expressamente na LICC Lei de Introdução ao Código Civil (Art. 4º). COSTUME é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. Evidentemente, não se pode falar em criação ou revogação de crimes pelo costume, dado o princípio da legalidade. Não se pode negar, entretanto, sua influência na interpretação e na elaboração da lei penal. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO são premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico. Está o Direito Penal sujeito às influências desses princípios, estabelecidos com a consciência ética do povo em determinada civilização, que podem suprir lacunas e omissões da lei penal. ANALOGIA é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. I - Garantismo Penal A visão do Direito Penal mínimo conduz à ideia de que venha apenas a proteger bens jurídicos penalmente relevantes. A escola penal alemã de Frankfurt foi a precursora de tal pensamento, inspirada nos pensamentos de WINFRIED HASSEMER, que defendia não haver espaço para a tutela dos bens coletivos, que primordialmente deveria se ocupar da garantia aos bens individuais. Hoje, o maior defensor do garantismo penal é LUIGI FERRAJOILI, que mantém em grande medida as características positivistas de KELSEN e, mais modernamente, de BOBBIO, para valorizar a diferença entre ser e dever-ser, a fim de propor a valorização das garantias constitucionais e o modelo do juiz atuante por meio de um positivismo crítico. II - Garantia dos valores ético – sociais WELZEL, não entendia o Direito Penal não como defensor de bens jurídicos, seja porque adotar-se critérios materiais de definição sobre o que seria o sujeito representa ponto de vista ultrapassado e, porque a complexidade das conexões da sociedade moderna não permitiria a estreita configuração jurídica do indivíduo como sujeito pessoal de direitos. Passou a enxergar o Direito Penal como garantidor dos valores ético-sociais, ou seja, a missão de expandir a proteção prestada pelo Direito Penal, agora como garantidor do ordenamento jurídico. III - Direito penal do inimigo Mais recentemente discutido, principalmente depois dos ataques terroristas de 2001 aos Estados Unidos, é o posicionamento de GÜNTHER JAKOBS, apresentado em seminário Internacional de Direito Penal na década de 1970, abandonado desde lá, que culmina na concepção que ele denominou de Direito Penal do Inimigo, visando a alcançar o dever de prevenção geral positiva da pena, ou seja, que a condenação sirva como exemplo positivo ou negativo, de ameaça de castigo geral ou de confirmação de vigência da norma. Afirma que o Direito Penal conhece dois pólos: o trato com o cidadão e o trato com o inimigo, que deve ser o quanto antes interceptado em sua periculosidade, para que ofereça menos riscos sociais. Tal pensamento rompe inteiramente com o Direito Penal do FATO, exaltando uma nova tendência, a do Direito Penal do AUTOR, amplamente criticada e temerária, na medida emq ue se outorga ao Estado poderes de interferência indesejados e de difícil controle. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – (introduzido no sistema penal por CLAUS ROXIN): significa que o Direito Penal não deve se preocupar com bagatelas. Logo, os danos de pouca monta devem ser considerados fatos atípicos (como por exemplo, o furto de pacotes de bolacha) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE – proíbe a incriminação de atitude meramente subjetiva, que não ofenda nenhum bem jurídico. Só pode ser castigado aquele comportamento que lesione direitos de outras pessoas e que não seja simplesmente pecaminoso ou imoral (logo, justifica-se a opção do Direito Penal brasileiro, à exemplo do que ocorre em outros ordenamentos jurídicos ocidentais, não punir o suicídio). PRINCÍPIO DA CONFIANÇA – baseia-se na confiança de que o comportamento das outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece. Exemplo disto é o caso do motorista que, trafegando pelo preferencial, passa por um cruzamento, na confiança de que o veículo da via secundária aguardará sua passagem. No caso deum acidente, não terá agido com culpa. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE – o Direito Penal só deve se preocupar com ofensas realmente graves aos bens jurídicos por ele tutelados. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – “LEX PRIMARIAE DERROGAT SUBSIDIARIAE” – a lei primária derroga a subsidiária, absorvida pela de maior importância. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (Art. 1º CP) - esse princípio, consagrado no Art. 1º do CP, encontra-se atualmente descrito também no Art. 5º, XXXIX, da CF. Segundo ele, “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. A doutrina subdivide o princípio da legalidade: PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE – uma pessoa só pode ser punida se, à época do fato por ela praticado, já estava em vigor a lei que descrevia o delito; e, PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL – apenas a lei em sentido formal pode descrever condutas criminosas. É vedado ao legislador utilizar-se de decretos, medidas provisórias ou outras formas legislativas para incriminar condutas. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE – Este princípio se encontra ligado à técnica redacional legislativa. Não basta existir uma lei que defina uma conduta como crime. A norma incriminadora legal deve ser clara, compreensível, permitindo ao cidadão a real consciência acerca da conduta punível pelo Estado. Aplicação da Lei Penal. Princípio da Legalidade: Reserva Legal, Taxatividade e Irretroatividade CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL A – EXCLUSIVIDADE – somente a norma penal define crimes e comina penas (PRINCÍPIO DA LEGALIDADE); B – IMPERATIVIDADE – a norma penal é imposta a todos, independentemente de sua vontade. Assim, praticada uma infração penal, o Estado, obrigatoriamente, deverá buscar a aplicação da pena; C – GENERALIDADE – a norma penal vale para todos (“erga omnes”); e, D – IMPESSOALIDADE – a norma penal é abstrata, sendo elaborada para punir acontecimentos futuros e não para punir pessoa determinada. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL Tem por finalidade buscar o exato significado da norma penal. I - QUANTO A ORIGEM – ou seja, quanto ao sujeito que interpreta a lei: AUTÊNTICA – é dada pela própria lei, a qual, em um dos seus dispositivos, esclarece determinado assunto; DOUTRINÁRIA – feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de direito, através de seus livros, artigos, conferências, palestras etc; e, JURISPRUDENCIAL – é aquela feita pelos juízes, que com as suas decisões comuns formam uma tendência. II - QUANTO AO MODO: GRAMATICAL – que leva em conta o sentido liberal das palavras contidas na lei; TELEOLÓGICA – que busca descobrir o seu significado através de uma análise acerca dos fins a que ela se destina; HISTÓRICA – que avalia os debates que envolveram sua aprovação e os motivos que levaram à apresentação do projeto de lei; e, SISTEMÁTICA – que busca o significado da norma através de sua integração com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema jurídico com um todo. III - QUANTO AO RESULTADO DECLARATIVA – na qual se conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer; RESTRITIVA – quando se conclui que o texto legal abrangeu mais do que queria o legislador (por isso a interpretação irá restringir seu alcance); e, EXTENSIVA – quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intenção do legislador (por isso a interpretação irá ampliar sua aplicação). INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E ANALOGIA A interpretação analógica é possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma seqüência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores: EXS.: 1 – O CRIME DE ESTELIONATO (ART. 171 CP), DE ACORDO COM A DESCRIÇÃO LEGAL, PODE SER COMETIDO MEDIANTE ARTIFÍCIO, ARDIL OU QUALQUER OUTRA FRAUDE; 2 – O ART. 28, II, ESTABELECE QUE NÃO EXCLUI O CRIME A EMBRIAGUEZ POR ÁLCOOL OU POR SUBSTÂNCIAS DE EFEITOS ANÁLOGOS. PRINCÍPIO DO “IN DUBIO PRO REO” Se persistir dúvida, depois de haverem sido utilizadas todas as formas interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu, para absolvê-lo ou para puni-lo de maneira mais branda. SUJEITOS DO CRIME I - SUJEITO ATIVO - sujeito ativo ou agente é a pessoa que comete o crime. Em regra, só o ser humano, maior de 18 anos, pode ser sujeito ativo de uma infração. Excepcionalmente, em razão de expressa previsão legal contida em nosso ordenamento jurídico, as pessoas jurídicas poderão cometer crimes, uma vez que a CF estabeleceu que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano (Lei 9605/98 – Art. 222, § 3º CF). II - SUJEITO PASSIVO - é a pessoa ou entidade que sofre os efeitos do delito (vítima do crime). CONFLITO APARENTE DE NORMAS Configura-se o conflito aparente de normas sempre que existir uma pluralidade de leis regulando um mesmo fato criminoso, sendo que, na realidade, apenas uma delas é efetivamente aplicável ao caso concreto. Para saber qual das normas deve ser efetivamente aplicada ao fato concreto, dentre as aparentemente cabíveis, torna-se necessário recorrer aos princípios que solucionam a questão. São eles: I - PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE – de acordo com o princípio da especialidade se, no caso concreto, houver duas normas aparentemente aplicáveis e uma delas puder ser considerada como especial em relação a outra, deve o julgador aplicar esta norma especial, de acordo com o brocardo “LEX SPECIALIS DERROGAT GENERALI”. Considera-se norma especial aquela que possui todos os elementos da lei geral e mais alguns, denominados “especializantes”. EX. homicídio (Art. 121 CP), onde qualquer pessoa pode matar outra; e, infanticídio (Art. 123 CP), no qual somente a mãe, sob influência do estado puerperal, mata o filho nascente ou recém-nascido. II - PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – em havendo duas normas aplicáveis ao caso concreto, se uma delas puder ser considerada subsidiária em relação a outra, aplica-se a norma principal, denominada primária, em detrimento da norma subsidiária. Aplica-se o brocardo “LEX PRIMARIA DERROGAT SUBSIDIARIAE”. EX. estupro (Art. 213 CP) e constrangimento ilegal (Art. 146 CP). Não há estupro sem constrangimento, que acaba embutido na prática contra a dignidade sexual da vítima. Por isso, o constrangimento não é punido, restando a punição somente pelo estupro. III - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – a relação de consunção ocorre quando um fato definido como crime atua como fase de preparação, de execução, ou ainda, como exaurimento de outro crime mais grave, ficando, portanto, absorvido por este. HIPÓTESES DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO CRIME PROGRESSIVO – ocorre o crime progressivo quando o agente, desejando desde o início a produção de um resultado mais grave, mediante diversos atos, realiza sucessivas e crescentes violações ao bem jurídico. Nessa hipótese, o agente responderá apenas pelo resultado final e mais grave obtido, ficando absorvidos os atos anteriores. EX. para matar alguém, faz-se necessário lesioná-la primeiro. PROGRESSÃO CRIMINOSA EM SENTIDO ESTRITO – ocorre quando o agente, desejando inicialmente um resultado, após atingi-lo, pratica novo fato, produzindo um resultado mais grave. Aqui o agente responderá apenas pelo crime final. EX. pretende-se a lesão, no curso do delito, altera-se o dolo e pratica homicídio (Art. 121 CP). “ANTE FACTUM” (fato anterior) IMPUNÍVEL – é um fato menos grave praticado pelo agente de um mais grave, como meio necessário à realização deste. O crime-meio fica absorvido pelo crime-fim. EX. furto (Art. 155 CP) e estelionato (Art. 171 CP). “POST FACTUM” (fato posterior) IMPUNÍVEL – é o fato menos grave praticado contra o mesmo bem jurídico da mesma vítima apósa consumação de um primeiro crime e, embora constitua aquele um novo delito, não é punível, por ser menos grave. EX. furto (Art. 155 CP) e dano (Art. 163 CP). CRIME COMPLEXO – é aquele que resulta da união de dois ou mais crimes autônomos, que passam a funcionar como elementos ou circunstâncias do crime complexo. O agente não responde pelos crimes autônomos, mas tão-somente pelo crime complexo. EX. latrocínio (Art. 157, § 3º, 2ª parte), extorsão mediante seqüestro (Art. 159 CP). IV – PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE – na realidade há diversas críticas quanto à inclusão desse princípio entre os que solucionam conflito aparente de normas. Nesses casos, não há propriamente um conflito aparente de normas, mas sim um conflito dentro da mesma norma. Ele só é aplicado aos chamados tipos alternativos mistos, nos quais a norma incriminadora descreve várias formas de execução de um mesmo delito, no qual a prática de mais de uma dessas condutas em relação a mesma vítima, caracteriza crime único. EX. o crime de participação em suicídio (Art. 122 CP), pune quem induz, instiga ou auxilia alguém a cometer suicídio. Desta forma, se o agente, no caso concreto, induz e auxilia a vítima a se matar, comete um só crime. NORMAS PENAIS EM BRANCO São chamadas normas penais em branco aquelas que exigem complementação por outras normas, de igual nível (leis), ou de nível diverso (decretos, regulamentos etc.). Ex. No artigo 33 da Lei 11343/2006, que tipifica o tráfico ilícito de entorpecentes, o Termo “DROGAS” depende de complementação, dada por uma portaria expedida pelo Ministério da Saúde, para esclarecer a sua amplitude. O mesmo se verifica no artigo 269 do Código Penal, que estabelece o compromisso atribuído aos médicos de denunciar a autoridade pública, acerca da constatação de doença cuja notificação seja complusória (nem qual autoridade, nem quais doenças estão especificadas no dispositivo, cabendo, portanto, complementação a ser dada por outra norma). CONFLITO APARENTE DE NORMAS CRIME PROGRESSIVO PROGRESSÃO CRIMINOSA PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE EM SENTIDO ESTRITO ANTE FACTUM” (fato anterior) IMPUNÍVEL “POST FACTUM” (fato posterior) IMPUNÍVEL NORMA PENAL EM BRANCO CRIME COMPLEXO Aplicação da Lei Penal II.Tempo do Crime. Aplicação da Lei Penal mais Benéfica e Exceções. Lugar do Crime. Territorialidade e Extraterritorialidade A LEI PENAL NO TEMPO EXTINÇÃO DA NORMA pelo decurso do tempo em que devesse vigorar (no caso das disposições transitórias); pela obtenção do escopo a que se houvesse proposto; e, pela eliminação do pressuposto que a houvesse gerado. Normalmente, porém, a norma penal se extingue pela “ABOLITIO CRIMINIS”, que poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Revogada a lei penal, de forma expressa ou tácita (quando a lei se mostra em todo ou em parte incompatível com a velha), o crime resta excluído da tipologia contida na Parte Especial. Com a revogação, cessam de imediato os efeitos penais (não civis) da condenação. Art. 2º. C.P. - LEI ULTERIOR MAIS BENÉFICA A lei posterior, se de algum modo beneficiar o réu, retroagirá, transitada ou não em julgado a sentença penal condenatória (Art. 2º do C.P.). Na sistemática anterior do C.P. de 1940, antes da reforma de 1984, introduzida pelas Lei 7209 e 7210, a ”lex mitior” só teria aplicação se o fato não houvesse transitado em julgado. PRINCÍPIOS NORTEADORES: A sucessão das leis penais se regula por dois princípios genéricos: o da irretroatividade da lei incriminadora; e, o da retroatividade da lei benéfica. Art. 3º., C.P. - LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA EXCEPCIONAL - quando promulgada para satisfazer e enquanto persistir situação anormal (terremoto, inundação, epidemia, guerra etc). Remediada a situação excepcional, deixa de vigorar a norma, que tem sua duração condicionada ao protraimento da situação normal. TEMPORÁRIA – é a norma cuja vigência é previamente fixada pelo legislador. Findo o período para o qual foi promulgada, deixa de existir, sem necessidade de uma nova lei ab-rogatória. Ambas são promulgadas para regulamentar situações contingentes e transeuntes. A lei excepcional ou temporária, de eficácia transitória, dispõem de ULTRATIVIDADE. Vale dizer, continuam a regulamentar fatos ocorridos durante sua vigência. Constituem, porém, exceção à regra estabelecida no Art. 2º., já que a lei mais benéfica não altera a aplicação da lei excepcional ou temporária,dado o mencionado efeito da ultratividade. Art. 4º. C.P. - TEMPO DO CRIME O C.P. adotou a teoria da ATIVIDADE, segundo a qual “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” (Art. 4º C.P.). A importância da definição da definição do tempo do crime tem a ver, por exemplo, com a definição da norma penal a ser aplicada, no reconhecimento ou não da menoridade do réu etc. assim, suponha-se que uma pessoa com idade de 17 anos, 11 meses e 29 dias efetue disparo contra alguém, que morre apenas uma semana depois. Ora, o homicídio só se consumou com a morte (quando o agente já possui 18 anos), mas o agente não poderá ser punido criminalmente, pois, nos termos do Art. 4º, considera-se praticado o delito no momento da ação (quando o agente ainda era menor de idade). no crime de homicídio, doloso a pena é aumentada de 1/3, se a vítima for menor de 14 anos. Suponha- se, assim, que o agente efetue um disparo contra uma pessoa de 13 anos, 11 meses e 29 dias, que vem a falecer depois de já haver completado os 14 anos mencionados pela lei. Será aplicável o aumento da pena. TEMPO DO CRIME ATIVIDADE “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” (Art. 4º C.P.). SUPONHA-SE QUE UMA PESSOA COM IDADE DE 17 ANOS, 11 MESES E 29 DIAS EFETUE DISPARO CONTRA ALGUÉM, QUE MORRE APENAS UMA SEMANA DEPOIS, NO DIA EM QUE O AGENTE JÁ POSSUI 18 ANOS, QUAL A CONDUTA COMETIDA PELO AGENTE? CRIME OU ATO INFRACIONAL? SUPONHA-SE, ASSIM, QUE O AGENTE EFETUE UM DISPARO CONTRA UMA PESSOA DE 13 ANOS, 11 MESES E 29 DIAS, QUE VEM A FALECER DEPOIS DE JÁ HAVER COMPLETADO OS 14 ANOS MENCIONADOS PELO ARTIGO 121, §4°, 2ª PARTE DO CP. SERÁ APLICÁVEL O AUMENTO DA PENA? LUGAR DO CRIME UBIQUIDADE Teoria da UBIQUIDADE – o lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado (adotada pelo Código Penal); e, Teoria do RESULTADO – adota como regra para fixação da competência a que estabelece ser competente o foro (a comarca) na qual o crime se consumou (Art. 70 CPP). 6º CP A LEI PENAL NO ESPAÇO ART. 5º C.P. – TERRITORIALIDADE Há várias teorias utilizadas para fixar o âmbito de aplicação da norma penal a fatos cometidos no Brasil: Princípio da TERRITORIALIDADE – a lei penal só tem aplicação no território do Estado que a editou. Pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo. Princípio da TERITORIALIDADE ABSOLUTA – só a lei nacional é aplicável a fatos cometidos em seu território. Princípio da TERRITORIALIDADE TEMPERADA – a lei nacional se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, excepcionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção internacional . Foi este o princípio adotado pelo Art. 5º do C.P.. Entende-se por território nacional, todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania: solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12 milhas) e espaço aéreo. ART. 6º C.P. - LUGAR DO CRIME Teoria da UBIQUIDADE – o lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado (adotada pelo Código Penal); e, Teoria do RESULTADO – adota como regra para fixação da competência a que estabelece ser competente o foro (a comarca) na qual o crime se consumou (Art. 70 CPP). TERRITORIALIDADEPrincípio da territorialidade (art. 5º do CP) – aplica-se a lei nacional aos fatos ocorridos dentro do território nacional. Considera-se território nacional:(art. 5°, §1° e 2° do CP) 1 - solo; 2 - subsolo; 3 - águas interiores (compreendidas entre a costa do Estado e as linhas de base do mar territorial); 4 - mar territorial (dentro das 12 milhas do mar medida da linha de baixa-mar continental e insular); 5 - plataforma continental e espaço aéreo (vigora a teoria da soberania da coluna atmosférica, sendo delimitado o espaço aéreo nacional por linhas imaginárias que se situam perpendicularmente aos limites do território físico, incluindo o mar territorial); 6 – embaixada brasileira, pouco importando o país onde esteja localizada ou a nacionalidade do autor (salvo se ele for estrangeiro e gozar de imunidade diplomática, caso em que pode ocorrer dupla condenação, temperada pelo art. 8º do CP) 7 - embaixada estrangeira situada no Brasil. Os atos processuais que devam ser praticados dentro da embaixada dependem de autorização do embaixador. (exceção a dupla condenação); 8 - território por extensão ou ficção, considerando-se: competência da Justiça Federal. a) aeronaves e embarcações brasileiras públicas ou a serviço do governo onde quer que se encontrem (princípio do pavilhão ou da bandeira – são embarcações que se acham em missão oficial) b) aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou privadas, que se achem no espaço aéreo brasileiro correspondente ou em alto-mar. (princípio do pavilhão ou da bandeira) c) aeronaves estrangeiras privadas que estiverem em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo brasileiro, bem como embarcações estrangeiras privadas que estiverem em porto ou mar territorial do Brasil. ART. 7º C.P. - EXTRATERRITORIALIDADE CONCEITO – é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior. PRINCÍPIOS NORTEADORES: Princípio da NACIONALIDADE ATIVA – aplica-se a lei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local da infração. Princípio da NACIONALIDADE PASSIVA – aplica-se a lei nacional do autor do crime quando o fato delituoso for praticado contra bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade. Princípio da DEFESA REAL – prevalece a lei referente à nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. Princípio da JUSTIÇA UNIVERSAL – todo o Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território (que tenha voltado a seu país, por exemplo). Princípio da REPRESENTAÇÃO – a lei nacional é aplicável aos crimes no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não julgados no local do crime. A extraterritorialidade pode ser incondicionada (quando a lei brasileira é aplicada a fatos ocorridos no exterior, sem que sejam exigidas condições) ou condicionada (quando a aplicação da lei pátria a fatos ocorridos fora de nosso território depende da existência de certos requisitos). EXTRATERRITORIALIDADE JUSTIÇA UNIVERSAL REPRESENTAÇÃO NACIONALIDADE ATIVA NACIONALIDADE PASSIVA DEFESA REAL ART. 8º C.P. - PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO Caso a pena imposta no Brasil a uma determinada prática delitiva seja mais severa do que aquela aplicada em algum outro país estrangeiro, no qual, em razão da condenação pelo mesmo fato, o agente tenha cumprido a reprimenda, a deslocar-se de lá para cá depois de extinta a punibilidade naquele Estado, deverá cumprir no nosso país, o tempo de pena que restar, considerada a pena total, dela descontado o tempo de pena que cumpriu no exterior. Se as penas forem iguai, ou se a pena aplicada no país estrangeiro superar a nossa em quantidade, nada mais deverá ser cumprido aqui no Brasil. ART. 9º C.P. - EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA A homologação a que se refere o legislador penal compete ao Superior Tribunal Justiça (S.T.J.) e só será possível quando a aplicação da lei brasileira produzir os mesmos efeitos da lei estrangeira. Os Arts. 787 a 790 do CPP regulamentam o tema. ART. 10 C.P. – CONTAGEM DE PRAZO A forma de contagem de prazos penais está regulada pelo Art. 10 do CP, que determina que o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Assim, se uma pena começa a ser cumprida às 23:30 h., os 30 minutos restantes serão contados como sendo o 1º dia. O prazo penal distingue-se do processual, pois, neste, exclui-se o 1º dia da contagem, conforme estabelece o Art. 798, § 1º, do CPP. Assim, se o réu é intimado da sentença no dia 1º. de abril, o prazo para recorrer começa a fluir apenas no dia 2 (se for dia útil). Caso não seja, será automaticamente deslocado para o primeiro dia útil subsequente. Diversamente, os prazos penais são improrrogáveis. Assim, se o prazo termina em um sábado, domingo ou feriado, estará ele encerrado naquele dia. Ao contrário, os prazos processuais prorrogam-se até o 1º dia útil subseqüente. ART. 11 C.P. – FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA Se uma pessoa for condenada a 20 dias de detenção e o juiz reduzir a pena de 2/3 (em razão da tentativa, por exemplo), o resultado final seria um dízimo (6,66). Dessa forma, nos termos do dispositivo acima mencionado, o juiz aplicará pena de 6 dias de detenção. Suponha-se, por outro lado, que o juiz fixe a pena em 10 dias-multa e, que tenha de reduzi-la em 2/3, em face da tentativa. A pena final deverá ser de 3 dias-multa. Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, os autos irão para o contador para a devida atualização do valor. Caso o montante final não seja um número inteiro, deverão ser desprezados os centavos. Ex.: R$-55,14 (o condenado deverá pagar R$-55,00). ART.12 C.P. – LEGISLAÇÃO ESPECIAL Este dispositivo consagra a aplicação subsidiária das normas gerais do direito penal à legislação especial, desde que lá não se trate o tema de forma diferente. Ex.: o Art. 14, II, do CP, que trata do instituto TENTATIVA, aplica-se aos crimes previstos na parte especial do Código Penal e àqueles prevsitos na legislação estravagante, mas é vedado especificamente nas contravenções penais, porque o Art. 4º da Lei 3688/1941 declara, em um ato imperativo do legislador, que não é punível a tentativa de contravenção. Conceitos de Crime Conceito de crime não está contido na lei, ficando para a atividade doutrinária o compromisso de defini-lo. Tem-se procurado definir o ilícito penal sob três aspectos: I - Conceitos Formais: - “Crime é o fato humano contrário à lei” (Carmignani). - “Crime é qualquer ação legalmente punível” (Maggiore). - “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena” (Fragoso). CRIME FORMAL “Crime é qualquer ação legalmente punível” (Maggiore). - “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena” (Fragoso). - Conceitos Materiais: -“Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal” (Noronha). CONCEITO CONTRAVENÇÃO PENAL CONCEITO: fato típico, antijurídico e culpável, porém de menor gravidade(Decreto-lei 3688/41). CARACTERÍSTICAS: 1º CRITÉRIO: PENA (prisão simples/multa) 2° CRITÉRIO: procedimento (TCO) 3° CRITÉRIO: PERIGO DE LESÃO (ABSTRATO). Ex: art. 31 da LCP x art. 131 do CPB 4° CRITÉRIO: Não admite tentativa CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 1.Comum(direito penal comum)/especial (leis especiais)/próprio (ex: auto-aborto) 2.Dano(homicidio)/perigo(art. 130 CP – perigo de contágio venéreo) 3.Mão própria (falso testemunho, prevaricação) 4.Material/formal/mera conduta/exaurido 5.Instantâneo/permanente (art. 148 - seqüestro) 6.Simples/complexo(art. 159 do CP) 7.Unissubsistente/plurissubsistente (se realiza com um ou vários atos) 8.Concurso necessário(plurissubjetivos – associação criminosa) 9.Forma livre/forma vinculada (legislador especifica a forma de praticá-lo. Ex: art. 284 CP) 10. Complexo, Conexo (furto qualificado pela fraude) CONCEITO DE CRIME Teoria Bipartida: Crime é fato típico e ilícito Culpabilidade é medida da pena Teoria Tripartida: Crime é fato típico, ilícito e culpável Teoria Quadripartida: Crime é fato típico, ilícito, culpável e punível (a questão das condições da ação e do interesse de agir/ imunidades) Características Do Crime Para a existência do crime é necessária uma conduta humana positiva (ação em sentido estrito) ou negativa (omissão). É necessário ainda, que essa conduta seja típica, que esteja descrita na lei como infração penal. Só haverá crime se o fato for antijurídico, contrário ao direito por não estar protegido por causa que exclua a sua antijuridicidade. Culpabilidade é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica. TIPICIDADE Conceito: é a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal incriminadora. Elementos do tipo: 1 – objetivo: ação, nexo causal e resultado 2 – subjetivo: culpa. Dolo e preterdolo 3 – normativo: são expressões abertas que precisam ter seu sentido esclarecido pelo emprego de outra norma jurídica ou pela hermenêutica. Ex: art. 151 “indevidamente”=sem autorização. Atipicidade: fato que não se enquadra em nenhum tipo penal ou está acobertado por causa excludente. Ex: auto-aborto acidental ou dano culposo. II - Conceitos Materiais: - “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal” (Noronha). - “Crime é ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável somente através da sanção penal” (Fragoso) - “Crime é a conduta considerada pelo legislador como contrária a uma norma de cultura reconhecida pelo Estado e lesiva de bens juridicamente protegidos, procedente de um homem imputável que manifesta com sua agressão perigosidade social” (Jimenez de Asua). As definições materiais do crime buscam conhecer a razão que levou o legislador a prever punição de certos fatos e não de outros. A despeito dos esforços de certos doutrinadores, ainda não se construiu um conceito material inatacável. Por isso, passou-se a conceituar o crime como sendo o “Fato Típico, Antijurídico E Culpável”. Características Do Crime Para a existência do crime é necessária uma conduta humana positiva (ação em sentido estrito) ou negativa (omissão). É necessário ainda, que essa conduta seja típica, que esteja descrita na lei como infração penal. Só haverá crime se o fato for antijurídico, contrário ao direito por não estar protegido por causa que exclua a sua antijuridicidade. Culpabilidade é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica. Fato Típico: Resultado. Consumação e Tentativa: Etapas do Crime; Delitos Instantâneos, Permanentes Resultado. Consumação e tentativa: etapas do crime; delitos instantâneos, permanentes, instantâneos de efeitos permanentes. Desistência voluntária, arrependimento eficaz e posterior. Crime impossível. RESULTADO – CRIMES CONSUMADOS E TENTADOS RESULTADO Não basta a conduta para que o crime exista, pois é exigido, o segundo elemento do fato típico, que é o resultado. Segundo o conceito clássico, é a modificação do mundo exterior provocado pelo comportamento humano voluntário. É a morte da vítima (no homicídio, a destruição, inutilização ou deterioração da coisa (no dano) etc). ART. 14, I – CRIME CONSUMADO CONCEITO – diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos do tipo incriminador. Ex. no homicídio, o tipo penal é matar alguém e, assim, o crime se consuma no momento em que a vítima morre. “ITER CRIMINIS” São as fases que o agente percorre até chegar à consumação do delito: 1ª fase – COGITAÇÃO – o agente apenas está pensando em cometer o crime. 2ª fase – PREPARAÇÃO – esta fase compreende a prática de todos os atos necessários ao início da execução. Ex.: alugar uma casa, onde será mantida em cativeiro a vítima, no crime de extorsão mediante sequestro. 3ª fase – EXECUÇÃO – começa aqui a agressão ao bem jurídico. Inicia-se a efetiva lesão ao bem tutelado pela lei. O agente começa a realizar a conduta descrita no tipo (o verbo descrito na lei). Ex.: o agente arrebata a vítima, com a intensão de pedir o resgate. Há grande importância em se descobrir o momento em que é iniciada a execução. Pois é a partir daí que o fato passa a ser punível. COGITAÇÃO IMPUNÍVEL ATOS PREPARATÓRIOS EM REGRA IMPUNIVEL ATOS DE EXECUÇÃO VERBO DO TIPO CONSUMAÇÃO EXAURIMENTO POS FACTUM IMPUNIVEL DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA – ART. 15, 1ª PARTE ITER CRIMINIS ARREPENDIMENTO EFICAZ – ART. 15, 2ª PARTE Iniciada a execução: o agente pode não conseguir consuma-la por circunstâncias alheias a sua vontade, hipótese em que o crime estará sendo tentado; o agente pode desistir voluntariamente de prosseguir no ato de execução, hipótese em que só responderá pelos atos já praticados (desistência voluntária); e, o agente pode chegar à consumação. 4ª fase – CONSUMAÇÃO – quando todos os elementos (objetivos, subjetivos e normativos) do tipo são realizados. Ex. O agente pede o resgate, visando a obtenção da vantagem patrimonial ilícita. Apenas para completar, é pertinente destacar que o recebimento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro, tomado como referência, promove o exaurimento do crime, não sendo necessário o recebimento da vantagem para consumação do crime. Crime Instantâneo: A consumação desse tipo ocorre em um único momento. A conduta tem uma duração instantânea. Não importa o que ocorre depois com o objeto do crime, apenas a conduta, o ato; uma vez consumado, caracteriza-se como crime instantâneo. Ex.: furto, omissão de socorro (art. 135, CP), peculato (art. 312, CP), usura (art. 4º, “a”, da Lei 1.521/51), reingresso de estrangeiro expulso (art. 338, CP). Crime instantâneo de efeito permanente: Ex.: estelionato contra a previdência social (art. 171, CP): falsifica um documento (conduta instantânea), mas permanece recebendo os valores da previdência ao longo do tempo (efeito permanente). Crime Permanente: É o crime cuja conduta única se protrai no tempo de acordo com a vontade do agente. Enquanto não cessar, o crime se renova no tempo. Tanto o momento inicial, intermediário ou final do crime é considerado a mesma conduta, razão pela qual, é possível efetuar a prisão em flagrante, ainda que o agente não seja pilhado no momento da execução ou da consumação. Ex.: seqüestro e cárcere privado (art. 148, CP), redução à condição análoga de escravo (art. 149, CP). A diferenciação desses dois últimos tipos é importante para efeitos de prescrição, de competência. Ex.: no Supremo o crime de estelionato contra a previdência social é considerado instantâneo de efeito permanente, então, para efeitos de prescrição, é aplicado o art. 111, inciso I, do CP, e não o inciso III: ART. 14, II – TENTATIVA CONCEITO – considera-se tentado o crime quando o agente inicia a execução, mas não consegue consumá-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. Trata-se de norma de extensão cuja finalidade é propiciar a punição do autor da tentativa através de uma adequação típica mediata. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a mesma pena do crime consumado, reduzida de 1/3 a 2/3. O critério que o juiz deve utilizar em relação ao “quantum” da diminuição da pena é a maior ou menor proximidade da consumação. CLASSIFICAÇÃO DA TENTATIVA Quanto ao percurso do “iter criminis”: Tentativa IMPERFEITA (ou inacabada) – quandoo agente não pratica todos os atos executórios; Tentativa PERFEITA (crime falho) – quando o agente pratica todos os atos executórios e, mesmo assim, não consegue consumar o crime; Quanto ao resultado produzido na vítima: Tentativa BRANCA – quando o golpe desferido não atinge o corpo da vítima; Tentativa CRUENTA – quando a vítima é atingida. Quanto à possibilidade de alcançar a consumação: Tentativa IDÔNEA – é aquela em que o sujeito pode alcançar a consumação, mas não consegue faze-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. É a tentativa propriamente dita (o “conatus”); Tentativa INIDÔNEA – sinônimo de crime impossível (art. 17), ocorre quando o agente inicia a execução, mas a consumação do delito era impossível por absoluta ineficácia do meio empregado ou por absoluta impropriedade do objeto material. Quanto à possibilidade de alcançar a consumação: Tentativa IDÔNEA – é aquela em que o sujeito pode alcançar a consumação, mas não consegue faze-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. É a tentativa propriamente dita (o “conatus”); Tentativa INIDÔNEA – sinônimo de crime impossível (art. 17), ocorre quando o agente inicia a execução, mas a consumação do delito era impossível por absoluta ineficácia do meio empregado ou por absoluta impropriedade do objeto material. CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA CRIMES CULPOSOS – no crime tentado o agente quer o resultado, mas não consegue atingi-lo. Nos crimes culposos o criminoso não quer o resultado. Por esse motivo os institutos são incompatíveis; CRIMES PRETERDOLOSOS – porque o agente também não quer dar causa ao resultado agravador, sendo incompatível imaginar a possibilidade da tentativa de algo que não se deseja (como tentar aquilo que não se quer?); CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – se o sujeito se omite, o crime está consumado, se age, o fato é atípico, inexistindo espaço para a tentativa; CONTRAVENÇÕES PENAIS – por expressa determinação legal (art. 4º da Lei de Contravenções), ato soberano e imperativo do legislador; CRIMES DE ATENTADO - por opção do legislador, o tipo penal pune igualmente a forma consumada e a tentada, não se podendo, portanto, se cogitar de tentativa de tentativa; CRIMES HABITUAIS – se houver reiteração de condutas, o crime está consumado, e se não houver, o fato será atípico, inexistindo espaço para a tentativa; CRIMES UNISSUBSISTENTES – consumam-se com um único ato. Uma vez praticado o ato, o crime estara consumado. Não sendo praticado o ato, inexiste crime. Ex.: injúria verbal (art. 140); Crimes nos quais o tipo penal só prevê aplicação de pena quando ocorre o resultado, como por exemplo, nos casos de rixa. CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA CRIMES CULPOSOS CRIMES PRETERDOLOSOS CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS CONTRAVENÇÕES PENAIS CRIMES DE ATENTADO CRIMES HABITUAIS CRIMES UNISSUBSISTENTES DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ ARTIGO 15 DO CÓDIGO PENAL – 1ª PARTE – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA O artigo 15 do Código Penal cogita das hipóteses em que o agente desiste voluntariamente de prosseguir no “iter criminis”, impedindo que o fato se consume. Somente é possível na tentativa imperfeita. Não havendo percorrido, ainda, toda a trajetória do delito, iniciados os atos de execução, o agente detem-se, voluntariamente. Ex.: o agente ministra veneno na bebida da vítima, arrependendo-se depois e impede a ingestão da bebida contaminada. ARTIGO 15 – 2º PARTE – ARREPENDIMENTO EFICAZ Ocorre somente na tentativa imperfeita, o agente esgota todos os meios, ao seu alcance, para a prática do crime. O agente pratica todos os atos de execução. Arrepende-se, porém, e evita, COM SUCESSO, a consumação. Ex.: agente que ministra veneno na bebida da vítima e a induz a ingeri-la. Após a ingestão da bebida envenenada pela vítima, o agente se arrepende, socorrendo-a ao hospital, salvando-lhe a vida. A lei subordina o reconhecimento e a aplicação do instituto em benefício da vítima à eficácia da providência. Se, por qualquer motivo, embora arrependido, o agente não conseguiu evitar a consumação do delito, será punido pelo crime consumado. A responsabilidade, entretanto, perdura mesmo que outra causa concorra para o resultado final. Ex.: se a vítima, envenenada, se negar a tomar o antídoto e morrer, estará consumado o delito, pelo qual responderá o agente. Do mesmo modo, se a vítima tomar o antídoto e, mesmo assim, morrer, o agente responderá pelo crime. ART. 16 – ARREPENDIMENTO POSTERIOR. É figura nova no nosso ordenamento jurídico, e vem tratado no artigo 16 do Código Penal. Nele, o agente já consumou o delito, restando-lhe, agora, a reparação do dano ou a restituição da coisa, tudo isso, se possível. Ocorre o arrependimento eficaz quando o agente já esgotou os atos de execução, mas ainda não atingiu a consumação, em razão de um ato em sentido reversivo, praticado voluntariamente. O arrependimento posterior dá-se quando, já consumado o crime, o agente, por vontade própria, repara o dano ou restitui a coisa. A lei restringe a aplicação do instituto aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, não cabendo, por exemplo, ao crime de homicídio, de lesão corporal, de estupro etc. ART. 17 – CRIME IMPOSSÍVEL. O ordenamento jurídico penal brasileiro não pune a tentativa, quando há ineficácia ABSOLUTO de meio ou impropriedade ABSOLUTA do objeto. Exemplo de INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO verifica-se quando alguém, querendo envenenar seu inimigo, ministra açúcar misturado à bebida, pensando tratar-se de veneno. De IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO, ocorre, por exemplo, se a mulher, de maneira equivocada, julgando-se grávida, ingere medicamento que possua propriedades abortivas, para provocar a eliminação da vida endouterina, que na verda ainda não se formou. No crime impossível existe a exclusão da própria tipicidade. Ilicitude I. Conceito e as Excludentes no Direito Penal (Legais e Supralegais) Antijuridicidade/ ilicitude Conceito – é a relação de contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico. Não basta, para a ocorrência de um crime, que o fato seja típico (previsto em lei). É necessário também que o fato seja antijurídico, ou seja, que seja contrário à lei penal, que viole bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico. Causas de exclusão da antijuridicidade ou da ilicitude As causas de exclusão da antijuridicidade são causas de justificação da prática do fato típico, que o tornam jurídico, ou seja, não vedado nem proibido pelo ordenamento jurídico. É o caso do agente que, para salvaguardar sua vida, mata uma pessoa, agindo em legítima defesa. Em verdade, o agente praticou um fato típico (definido por lei como crime de homicídio – Art. 121, CP), o qual não será considerado crime por ter o agente agido em legítima defesa, que é causa excludente de antijuridicidade, prevista expressamente no Art. 23, II, do Código Penal. 2018/2/23 Legítima Defesa (ART. 25, C.P.) CONCEITO – é a repulsa a injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, usando moderadamente os meios necessários. REQUISITOS: • Agressão injusta, atual e iminente – injusta quando viola a lei, sem motivo; atual é aquela que está ocorrendo; e, iminente é aquela que está preste a ocorrer; • Direito próprio ou de terceiro – significa que o agente pode repelir injusta agressão a direito seu ou de outrem, não sendo necessária qualquer relação entre eles; • utilização dos meios necessários – significa que o agente somente se encontra em legítima defesa, quando utiliza os meios necessários a repelir a agressão, que devem ser entendidos como aqueles que se encontrem à sua disposição; • Utilização moderada de tais meios – significa que o agente deve agir sem excesso; • Conhecimento da situação de fato justificante – significa que a legítima defesa requer do agente o conhecimentoda situação de agressão injusta e da necessidade da repulsa. 2018/2/23 FORMAS DE LEGÍTIMA DEFESA Quanto à titularidade do interesse protegido: Legítima defesa própria (quando a agressão injusta se volta contra direito agente); e, Legítima defesa de terceiro (quando a agressão injusta ocorre contra direito de terceiro). Quanto ao aspecto subjetivo do agente: Legítima defesa real (quando a agressão injusta efetivamente está presente); e, Legítima defesa putativa (que ocorre por erro – descriminante putativa). Quanto à reação do sujeito agredido: Legítima defesa defensiva (quando o agente se limita a defender-se da injusta agressão, não constituindo, sua reação, fato típico); e, Legítima defesa ofensiva (quando o agente, além de defender-se da injusta agressão, também ataca o bem jurídico de terceiro, constituindo sua agressão fato típico). 2018/2/23 Ofendículas • São as barreiras ou obstáculos para a defesa de bens jurídicos. Geralmente constituem aparatos destinados a impedir a agressão a algum bem jurídico, seja através da utilização de animais (cães ferozes, por exemplo), seja através da utilização de aparelhos ou artefatos feitos pelos homens (arame farpado, cacos de vidro sobre o muro, cerca eletrificada, por exemplo). 2018/2/23 ESTADO DE NECESSIDADE (ART. 24, C.P.). CONCEITO – é uma situação de perigo atual de interesses legítimos e protegidos pelo Direito, em que o agente, para afasta-la e salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro meio senão o de lesar o interesse de outrem, igualmente legítimo. REQUISITOS: • ameaça ao direito próprio ou alheio – significa que o agente pode agir para evitar lesão a bem jurídico seu (estado de necessidade próprio) ou de terceiro (estado de necessidade de terceiro), não sendo necessário qualquer tipo de relação entre eles; • existência de perigo atual – aquele que está acontecendo. Embora a lei não preveja, a doutrina e a jurisprudência vem admitindo o estado de necessidade quando ocorra perigo iminente (aquele que está para acontecer); • inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado – significa que a lei não exige do agente que sacrifique o seu bem jurídico para preservar o bem jurídico de terceiro; • situação não causada voluntariamente pelo sujeito – significa que o agente não poderá invocar o estado de necessidade quando tenha causado a situação de perigo iminente; • inexistência de dever legal de enfrentar o perigo – significa que o agente não pode invocar o estado de necessidade para a proteção de seu bem jurídico, quando tenha o dever legal de enfrentar a situação de perigo, como é o caso do bombeiro; • conhecimento da situação de fato justificante – significa que o estado de necessidade requer do agente o conhecimento de que está agindo para salvaguardar um interesse próprio ou de terceiro. 2018/2/23 FORMAS DE ESTADO DE NECESSIDADE.Quanto à titularidade do interesse protegido: • estado de necessidade próprio (quando o agente salva direito próprio); e, • Quanto ao aspecto subjetivo do agente: • estado de necessidade real (que efetivamente está ocorrendo); e, • estado de necessidade putativo (no qual o agente incide em erro – discriminante putativa). • Quanto ao terceiro que sofre a ofensa: • estado de necessidade agressivo (caso em que a conduta do agente atinge direito de terceiro inocente); e, • estado de necessidade ofensivo (caso em que o agente atinge direito de terceiro que causou ou contribuiu para situação de perigo). 2018/2/23 Estrito cumprimento do dever legal (ART. 23, III, 1ª parte, C.P.) • Exemplos de estrito cumprimento de dever legal, são o do policial que viola domicílio onde está sendo praticado um delito, ou emprega força indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso, o do soldado que mata o inimigo no campo de batalha, o oficial de justiça que viola domicílio para cumprir ordem de despejo, dentre outros. • É de se destacar que estão excluídas da proteção legal as obrigações morais, sociais, religiosas etc. 2018/2/23 ART. 23, III, 2ª parte – Exercício regular de direito. • Exemplos de exercício regular de direito largamente difundidos são o desforço imediato no esbulho possessório, o direito de retenção de benfeitorias previsto no C.C., a correção dos filhos pelos pais etc. • O agente deve obedecer estritamente, rigorosamente, aos limites do direito exercido, sob pena de abuso. 2018/2/23 Consentimento do ofendido • A orientação dominante é de que o consentimento do ofendido na prática do delito somente é possível tratando-se de direitos disponíveis, de interesse exclusivamente privado. Nesses casos, não obstante a prática de um fato típico, estará afastada a ilicitude pelo consentimento do ofendido na lesão ou ameaça a seu bem jurídico disponível (patrimônio, honra etc). • Não é possível, entretanto, que o consentimento do ofendido seja causa de exclusão da antijuridicidade, em se tratando de direitos indisponíveis, uma vez que há interesse coletivo na sua preservação, como é o caso do direito à vida, do direito à integridade corporal etc. 2018/2/23 ART.23, Parágrafo único - Excesso punível. • Em cada uma das hipótese de causas excludentes da ilicitude, verifica-se a existência de requisitos, traçados pela própria lei, que devem ser obedecidos pelo agente. • O excesso ocorre quando o agente extrapola os limites traçados pela lei para as causas excludentes da antijuridicidade. Pode ele ser: • doloso – quando o agente, já tendo atuado em conformidade com o direito na conduta inicial da excludente, avança voluntariamente os limites impostos por lei e produz dolosamente resultado antijurídico; • culposo – quando o agente, já tendo atuado em conformidade com o direito na conduta inicial da excludente, avança os limites impostos por lei, por imperícia ou negligência, produzindo culposamente resultado antijurídico. 2018/2/23 CULPABILIDADE • O crime é um fato típico e antijurídico, mas somente estará ligado ao agente se este for culpável. • A culpabilidade não se confunde com a culpa. CULPA é elemento subjetivo do crime, encontrando-se situada no fato típico, juntamente com o dolo. • CONCEITO – culpabilidade é juízo de reprovação social, funcionando como pressuposto de aplicação da pena. • A concepção de culpabilidade, a partir da Escola Clássica do Direito Penal, era a do víncuilo psicológico entre o autor e ofato criminoso. Para que o fato típico fosse considerável culpável, era necessário que, entre aquela descrição típica e o sujeito, houvesse um vínculo psicológico. 2018/2/23 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE: • Imputabilidade – a capacidade do agente de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. • Potencial consciência da ilicitude – o agente deve ter a possibilidade de conhecer a antijuridicidade do fato, deve, portanto, potencialmente saber que o fato é ilícito e que a conduta que está praticando é vedada por lei. • Exigibilidade de conduta diversa – exige-se que o agente, nas circunstâncias do fato, tenha a possibilidade de realizar, ao invés do comportamento criminoso, um comportamento de acordo com o ordenamento jurídico. 2018/2/23 Imputabilidade Penal Imputabilidade Conceitos – “é a capacidade do agente de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” “É a possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade por algum fato, ou seja, o conjunto de condições pessoais que dá ao agente a capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de uma infração penal.” Art. 26 – Inimputabilidade Conceito – é a incapacidade do agente de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, seja em virtude de doença mental, ou de desenvolvimentomental incompleto (menoridade penal) ou retardado, seja em virtude de embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior. 2018/2/23 Critérios para a definição da inimputabilidade Biológico – leva em conta apenas o desenvolvimento mental do acusado (quer em face de problemas mentais ou da idade do agente).PSICOLÓGICO – considera apenas se o agente, ao tempo da ação ou omissão, tinha a capacidade de entendimento e autodeterminação. Psicológico – considera apenas se o agente, ao tempo da ação ou omissão, tinha a capacidade de entendimento e autodeterminação. Biopsicológico – adotado pelo atual Código Penal, segundo o qual, num primeiro momento, se verifica se o agente, na época do fato, era portador de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado; num segundo momento, se verifica se era ele capaz de entender o caráter ilícito do fato: e, num terceiro momento, se verifica se ele tinha capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento. 2018/2/23 “ACTIO LIBERA IN CAUSA” A imputabilidade, como juízo de reprovação social e como pressuposto de aplicação da pena, deve existir ao tempo da prática do fato. Ocorre a ”actio libera in causa” (ou ação livre em sua causa) quando o agente coloca-se, propositadamente, em situação de inconsciência, para a prática de conduta punível. São casos de conduta livremente desejada, mas cometida no instante em que o sujeito se encontrava em estado de inconsciência. Nesses casos, o agente responde normalmente pelo delito que praticou, pois se colocou voluntariamente em situação de inconsciência, desejando o resultado ou assumindo o risco de produzi-lo. 2018/2/23 Causas excludentes da imputabilidade doença mental – pressuposto biológico da inimputabilidade. Doença mental deve ser entendida como toda moléstia que cause alteração da saúde mental do agente. Persiste a tipicidade e a antijuridicidade, faltando ao agente a culpabilidade, que é pressuposto de aplicação da pena; desenvolvimento mental incompleto – assim deve ser entendido aquele que ocorre nos inimputáveis em razão da idade e, também como aquele que ocorre nos silvícolas inadaptados; e, desenvolvimento mental retardado – é o estado mental característico dos oligofrênicos, que podem ser classificados em débeis mentais, imbecis e idiotas. A perfeita caracterização de cada uma dessas anomalias é dada pela medicina forense. No curso do processo penal, a perícia é inafastável. 2018/2/23 ART. 28, I – Emoção e paixão Emoção – é um estado súbito e passageiro de instabilidade psíquica, uma perturbação momentânea da afetividade. Paixão – é um sentimento duradouro, caracterizado por uma afetividade permanente. A emoção e a paixão, apesar de não excluírem o crime, podem funcionar como atenuantes genéricas (Art. 65, III, a) ou como causas de diminuição de pena (art. 121, § 1º), desde que acompanhados de outros requisitos. 2018/2/23 ART. 26 – Parágrafo único - semi-imputabilidade Se em razão de doença mental o do desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o agente, ao tempo da ação ou omissão, estava parcialmente privado de sua capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com tal entendimento, a pena será reduzida de 1/3 a 2/3. 2018/2/23 ART. 27 – Menoridade Nos termos do artigo sob exame (consagrado também no artigo 228 da Constituição Federal), os menores de 18 anos são inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Adotou-se, portando, o critério biológico, que presume, de forma absoluta, ser o menor de 18 anos inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. A legislação especial que regulamente as sanções aplicáveis aos menores inimputáveis é o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), que prevê a aplicação de medidas sócio- educativas aos adolescentes (maiores de 12 e menores de 18 anos), consistente em advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade ou internação e, a aplicação de medidas de proteção às crianças (menores de 12 anos) que venham a praticar fatos definidos como infração penal. 2018/2/23 ART. 28, II – Embriaguez É uma intoxicação aguda e passageira provocada pelo álcool ou por substância de efeitos análogos (cocaína, maconha etc) que apresenta uma fase inicial de euforia, passando pela depressão e sono, podendo levar até ao coma. 2018/2/23 • Acidental Quando a ingestão do álcool ou da substância de efeitos análogos não é voluntária e nem culposa, podendo ser proveniente de: caso fortuito – em que o agente desconhece o efeito da substância que ingere ou desconhece alguma condição sua particular de suscetibilidade a ela; e, força maior – quando o agente não é responsável pela ingestão da substância alcoólica ou de efeitos análogos, como nos casos de ser forçado a dela fazer uso. No caso de embriaguez acidental completa proveniente de caso fortuito ou força maior, o agente é inimputável, faltando-lhe culpabilidade. No caso de embriaguez acidental incompleta proveniente de caso fortuito ou força maior, deverá ser aplicada a regra do Art. 28, § 2º, do CP, se o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Trata-se de capacidade relativa, em virtude de embriaguez incompleta, sendo o agente apenado com pena reduzida. 2018/2/23 Formas de embriaguez e as conseqüências em relação à imputabilidade: •Não-acidental: voluntária – o agente quer embriagar-se. Pode ser completa, quando retira a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente, ou incompleta, quando não retira tal capacidade; culposa – completa ou incompleta. O agente não quer embriagar-se, mas, agindo imprudentemente, ingere doses excessivas e acaba embriagando-se. Em todos os casos não há exclusão da imputabilidade nos termos do art. 28, II, do C.P., que estabelece não excluir o crime a embriaguez voluntária ou culposa. Mesmo no caso da embriaguez completa, não fica excluído o crime, pois se adotou a tese da “actio libera in causa”, segundo a qual o agente, ao se embriagar, sabia da possibilidade de praticar o delito e era livre para decidir. 2018/2/23 Dependência de substância entorpecente Nos termos do art. 19, “caput”, da Lei 6368/76 (Lei de Tóxicos), é isento de pena (inimputável) o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou omissão, qualquer que tenha sido a infração praticada (do CP, da Lei de Tóxicos ou qualquer outra lei), inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Se a redução dessa capacidade for apenas parcial, o agente é considerado imputável, mas sua pena será reduzida de 1/3 a 2/3 (parágrafo único). A inimputabilidade pode ocorrer, portanto, em duas situações: dependência de substância entorpecente; e estar o agente sob o efeito de substância entorpecente, proveniente de caso fortuito ou força maior. Potencial consciência da ilicitude • A aplicação da pena ao autor de uma infração penal somente é justa e legítima quando ele, no momento da conduta, era dotado, ao menos, da possibilidade de compreender o caráter ilícito do fato praticado. • Exige-se, para a configuração da imputabilidade penal do acusado, a potencial consciência da ilicitude de sua conduta. • O sistema clássico ou causal, por alocar o dolo na culpabilidade, considerava a consciência da ilicitude como integrante do dolo, que era normativo. • No sistema finalista, o dolo e a culpa foramtransferidos para a conduta, passando a compor a estrutura do fato típico. O dolo, agora, natural é desprovido da consciência da ilicitude, que permanece na culpabilidade. • O finalismo também transforma a consciência da ilicitude em potencial. A falta da consciência da ilicitude, no sistema clássico, excluía o dolo. No sistema finalista, o dolo permanece íntegro, afastando-se a culpabilidade. Critérios para determinação do objeto da consciência da ilicitude. • Juan Córdoba Roda, em trabalho específico do tema, apresenta três critérios para determinação do objeto da consciência da ilicitude: • a) Critério Formal: proclama ser necessário o conhecimento do agente sobre a violação de alguma norma penal. Desenvolvido por Binding, Beling e von Liszt, não encontrou acolhimento, pois somente os juristas, conhecedores do direito, poderiam cometer crimes. • b) Critério Material: baseia-se numa concepção material do injusto, exigindo o conhecimento da antissociabilidade, da injustiça e da imoralidade de uma conduta. Defendido por Max Ernst Mayer e Kaufmann, esbarrou na existência de infrações penais de pura criação legislativa, que não correspondem ao conceito de injusto material, bem como em condutas reconhecidamente danosas, embora não tipificadas pelo Direito Penal. • c) Critério Intermediário: sustenta que o conhecimento da ilicitude não importa em conhecimento da punibilidade, nem em conhecimento da lei que proíbe o seu comportamento. O sujeito deve apenas, com o esforço de sua consciência, conhecer ou poder conhecer, o caráter ilícito de sua conduta. É o critério de maior aceitação. • Em suma, basta o esforço normal da inteligência do agente para aferição da potencial consciência da ilicitude. Exclusão: erro de proibição escusável. • A potencial consciência da ilicitude é afastada pelo erro de proibição escusável (CP, art. 21,caput). • No Direito Romano falava-se em erro de direito, referindo-se à ignorância ou falsa interpretação da lei. Era a opção acolhida pelo Código Penal de 1940. • Coma reforma da parte geral, o erro de direito cedeu espaço sobre o erro sobre a ilicitude do fato, disciplinado pelo art. 21, chamado erro de proibição. • Para possibilitar a convivência harmoniosa de todos em sociedade, o direito organiza normas de conduta que devem ser observadas. Trata-se do ordenamento jurídico, que impõe uma presunção absoluta acerca do conhecimento da lei por todas as pessoas. • Ademais, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, em seu art. 3º, determina que ninguém poderá alegar desconhecimento da lei, cujo conhecimento geral de todos começa com a sua publicação. • Entretanto, o conhecimento da lei não significa o conhecimento do seu conteúdo. E é nesse caso que surge o instituto do erro de proibição. • O erro de proibição, ou erro sobre a ilicitude do fato, pode ser definido como a falsa percepção do agente acerca do caráter ilícito do fato típico por ele praticado, de acordo com um juízo profano. • Trata-se de causa de exclusão da culpabilidade, quando o erro for escusável, ou causa de diminuição da pena, quando inescusável. • O erro de proibição (ou erro sobre a ilicitude do fato) relaciona-se com a culpabilidade, podendo excluí-la ou não, se escusável ou inescusável, respectivamente. • O erro de proibição escusável, inevitável ou invencível compreende no equívoco do agente sobre a ilicitude de sua conduta que, contudo, ainda que houvesse se esforçado, empregando as diligencias necessárias, não poderia evitá-lo. • Nesse caso, exclui-se a culpabilidade em face da ausência de um de seus requisitos: a potencial consciência da ilicitude, conforme CP, art. 21,caput. • Já o erro de proibição inescusável, evitável ou vencível poderia ser evitado diante de maior cuidado, com as diligências normais, seria possível compreender o caráter ilícito do fato. Assim, subsiste a culpabilidade, mas a pena pode ser diminuída, em face da menor censurabilidade da conduta, conforme CP, art. 21,caput. • O critério para aferir se o erro era escusável ou inescusável é o perfil subjetivo do agente. Com efeito, com relação à matéria culpabilidade, levam-se em conta as particularidades do responsável pelo fato típico e ilícito, com a finalidade de se alcançar a sua culpabilidade. Inexibilidade de conduta diversa Coação irresisitível. • É a coação irresistível causa que exclui a culpa (em sentido amplo). Ocorre quando uma pessoa, mediante força física ou moral, obriga outra a fazer ou não fazer alguma coisa. • COAÇÃO FÍSICA: também chamada de “vis corporalis”, “atrox”, ou absoluta, situa-se no campo da causalidade: não há propriamente ação do coagido; ele é um instrumento nas mãos do coator; a ação que devolve e produz o evento não lhe pode ser imputada fisicamente. Compreende-se ser, então, bastante rara nos crimes comissivos, apresentando-se antes nos omissivos ou nos comissivos-omissivos. • COAÇÃO MORAL: “vis compulsiva”, “vis conditionalis”, em que a ação coatora se exerce sobre o ânimo do coagido, compelindo-o a agir ou deixar de agir. É a ameaça a forma típica da coação moral: consiste em prometer um mal a alguém. • Ela torna inculpável a ação do coagido. É exato que este, ao contrário do que ocorre no constrangimento físico, pode deliberar e resolver; porém sua vontade não é livre, já que está subordinada à necessidade de evitar um dano maior. Ilícita é sua conduta, porém não culpável, dada à anormalidade do elemento volitivo. • Em ambas as hipóteses – diz a lei no artigo 2 – a coação tem de ser irresistível. Se ela podia ser vencida, não ocorre a excludente da culpa: poderá haver, quando muito, a atenuante genérica do artigo 65, III, c. • A violência pode ainda ser praticada por meio de inebriantes, entorpecentes etc., não se exigindo sejam ministrados à força. Quanto ao hipnotismo, tendo-se em vista tudo quanto ele oferece à discussão, será também meio violento, a ser apreciado no caso concreto. Causa excludente da culpabilidade: • Considerando-se a técnica do Código, é a coação irresistível uma dirimente ou causa da exclusão da culpa (em sentido amplo), pois soa o artigo 22 “...só é punível o autor da coação...”. Em outros termos: não é punível o coato. • Alguns poucos autores, de maneira confusa, sustentam tratar-se de causa excludente da antijuridicidade, justificativa ou descriminante. • Tal modo de ver é improcedente. Na coação irresistível, o ato do coagido não é lícito: o que ocorre , como em outras causas semelhantes, é que ele não é livre. Não há conseqüentemente dolo, porque este não pode existir sem vontade livre e consciente. É de se ter também em conta o requisito da não-exigibilidade de outra conduta, elemento integrante da culpabilidade. • Complementando a análise do que contém o artigo 22, que expressa que o coator é punido, isto é, responde pelo crime executado pelo coagido. Como também, pela ação contra este, que tipifica o constrangimento ilegal (Art. 146). Estrita obediência. • Isenta o Código, no mesmo dispositivo, o que cumpre ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Somente este é punido – é o que declara o legislador. • Abre-se, aqui, exceção para o erro de proibição. Com efeito, enganando-se sobre a legalidade da ordem, tendo-a como lícita quando não o é, o agente imediato erra quanto à sua admissibilidade jurídica. • Claro é que não há de ser manifestamente ilegal, quando, então, não poderia ensejar o erro do executor. • Pressupõe ela a existência de certos requisitos: subordinação hierárquica; competência funcional de quem a dá; forma legal. É mister que o executor se ache em situação de dependência funcional, relativamente a quem dá a ordem. Exclui-se qualquer outra subordinação: é somente a hierárquica que se considera. Deve haver competência, isto é, emanar de pessoa habilitada a dá-la, bem como se enquadrar dentro das atribuições do destinatário. Finalmente, a legitimidadeda ordem depende do modo ou do veículo pelo qual é transmitida, v.g ., o escrito. • Se o subordinado reconhece sua ilegalidade e a cumpre, não se exime de pena. Haverá, no caso, co-autoria em fato delituoso. • Às vezes a responsabilidade do executor salta aos olhos. Assim, se o oficial diz a sua ordenança para quebrar certa vitrina com uma pedrada, quando ambos passam por um magazine, e ela cumpre a ordem, não há negar sua responsabilidade de autor material. • O dispositivo reza que a obediência tem de ser estrita, isto é, o autor imediato não deve exceder ao que lhe foi ordenado; se o fizer, responderá pelo excesso, como quando, por exemplo, um oficial diz ao subordinado para correr atrás de um ladrão e prende-lo, e o inferior, na corrida, saca do revolver e prostra a tiros, ferido ou morto, o perseguido. Causa de exclusão da culpa • A lei confere a esta causa a natureza de excludente da culpabilidade. • Não se trata, contudo, de orientação pacífica. Alguns a consideram como causa de exclusão da antijuridicidade. • Mais procedente é a opinião do Código. Quem cumpre uma ordem, considerando-a legal, isto é, que tem o dever de executar, não age com dolo. Existe aqui, como no caso da coação irresistível, erro de proibição de excepcional relevância. O que mentalmente se representa ao agente não corresponde à realidade e, portanto, o fato se prende ao elemento subjetivo. Objetivamente é o ato ilícito; se não o fosse, não permitiria à pessoa, a quem a ordem visa, defender-se do ato de executor, pois tal defesa tipificaria, então, o crime de resistência (Art. 329). • A outra conclusão leva, ainda, à consideração da presente causa como excludente da ilicitude: não se punir a quem deu a ordem, já que o ato é ilícito. Por outro lado, convenha-se em que, se é ilícita, não é por cumpri-la o subordinado que ela passa a ter licitude. O erro no direito penal. Erro de tipo e erro de proibição. _ • ERRO E IGNORÂNCIA: • Distinguem-se erro e ignorância. • Erro é o conhecimento falso acerca de um objeto, ao passo que a ignorância é a ausência total desse conhecimento. Ninguém pode alegar ignorância para escusar-se da punibilidade, todavia, o erro exime o agente da punição, em algumas circunstâncias. ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO: • A moderna doutrina penal não mais alude a erro de fato e erro de direito, mas sim a erro de tipo ou erro sobre elementos do tipo e erro de proibição ou sobre a ilicitude do fato. • A nova legislação sobre a Parte Geral do Código Penal, seguindo o que já ocorrera com o Anteprojeto de 1969, adotou a moderna classificação: erro de tipo (Art. 20) e erro de proibição (Art. 21). • ERRO DE TIPO – “é o desconhecimento de circunstâncias do fato pertencentes ao tipo legal, com independência de que os elementos sejam descritos ou normativos, jurídicos ou fáticos”. • ERRO DE PROIBIÇÃO – “é todo erro sobre a antijuridicidade de uma ação conhecida como típica pelo autor”.(MAURACH) • Se o agente apanha um objeto alheio, supondo ser de sua propriedade, está diante de um erro de tipo; se o credor trabalhista por salário apanha dinheiro do empregador, acreditando ter o direito de assim se pagar, encontra-se diante de um erro de proibição. ERRO DE TIPO • É o que faz o agente supor a inexistência de um elemento ou circunstância que compõe a figura típica. O agente que contrai matrimônio com pessoa já casada, desconhecendo a existência do casamento anterior, supõe não existir um dos componentes da figura típica caracterizadora do crime de bigamia. • O dolo estará excluído se presente o erro de tipo, podendo o agente responder por crime culposo. • ERRO DE TIPO ESSENCIAL – é o que recai sobre elementares ou circunstâncias do crime, o que faz com que o agente, em razão do falso conhecimento ou do desconhecimento, não possa compreender a natureza criminosa do fato praticado. • Pode ser invencível ou escusável, quando não puder ser evitado, agindo o agente com a normal diligência que é exigível a qualquer pessoa comum; ou, vencível e inescusável, quando puder ser evitado diante de uma prudência comum ou um comportamento exigível para o homem médio. • ERRO DE TIPO ACIDENTAL – é o que recai sobre elementos secundários da figura típica e não aproveita ao agente. ERRO DE PROIBIÇÃO • ERRO DE PROIBIÇÃO pode ser traduzido como aquele no qual incide o agente que, por falso conhecimento ou desconhecimento, não tem possibilidade de verificar que o comportamento é ilícito, sendo inevitável tal situação. Portanto exige dois elementos: a inevitabilidade e a impossibilidade do conhecimento sobre a ilicitude do fato. Trata-se, portanto, de um erro sobre a ilicitude do fato, através do qual o agente supõe lícita a ação cometida. • O erro de proibição pode ser representado de duas formas diferentes: • ERRO DE PROIBIÇÃO ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL – quando inafastável em ralação ao homem médio, isto é, ao prudente, e com discernimento. É o que se deflui do Art. 21, parágrafo único. • ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL – quando o agente é a ele levado por imprudência, descuido, desídia, isto é, quando lhe era possível nas circunstâncias em que se encontrava ter um correto conhecimento. • Repise-se que o critério diferenciador está no estudo da culpa, consistente na consideração das circunst6ancias do fato e da situação pessoal do autor. • Apenas o erro de proibição escusável afasta a culpabilidade da conduta do agente. Já o erro de tipo inescusável enseja apenas diminuição da pena. • Também no erro de proibição ocorrem as chamadas descriminantes putativas, aplicáveis, da mesma forma ao erro de tipo. • Nas descriminantes putativas o agente, por erro (que pode ser de tipo ou de proibição), supõe situação de fato que, se existisse, tornaria legítima a ação. • À vista do teor dos Arts. 20, § 2º e 21, do Código Penal, três modalidades de erro poderão ser apontadas nas descriminantes putativas: • a) O agente supõe a existência de causa de exclusão da antijuridicidade que não existe. Essa hipótese é de erro de proibição. • b) O agente incide em erro sobre os limites da causa de exclusão da antijuridicidade. Essa hipótese também é de erro de proibição. • c) O agente incide em erro sobre a situação de fato que, se existisse, tornaria legítima a ação (estado de necessidade putativo, legítima defesa putativa, estrito cumprimento do dever legal putativo e exercício regular de direito putativo). Esse caso é de erro de tipo, daí porque é denominado erro de tipo permissivo ou descriminante putativa. ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO E ERRO SOBRE A PESSOA: • Se quem comete o erro foi a ele levado por outrem, responde este pelo fato, que será doloso ou culposo, conforme sua conduta. Se um médico entrega a pessoa da casa uma droga trocada para ministra-la ao enfermo, sobrevindo morte ou lesão deste, responde o profissional por crime contra a pessoa, doloso ou culposo, consoante elemento subjetivo. • No § 3º do Art. 20, lei do “error in objecto”ou “error in persona”. É uma espécie de erro acidental. Recai sobre elemento não- fundamental do fato, de modo que sem ele o crime existiria do mesmo modo. “A” quer matar “B” e toma “C” por este, alvejando-o e prostrando-o morto. É claro que há crime, pois a vida de “C” vale tanto quanto a de “B”. ERRO NA EXECUÇÃO: • Do “error in persona” difere o de execução, que constitui objeto dos Arts. 73 e 74. Já agora não existe representação subjetiva errônea do sujeito ativo, que age contra o que desejava atuar, mas vem a alcançar objeto diverso, embora da mesma espécie, por erro, desvio ou falha na execução. Trata-se da “ABERRATIO ICTUS”: “A”atira em “B”, mas o projétil atinge “C”, que se acha próximo. • Ainda aqui, o Código vê apenas um crime: um homicídio. • A regra do Art. 73, que versa a “ABERRATIO DELICTI”, manda que se puna como crime culposo o
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