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Avaliação do Ressecamento em Camadas de Cobertura Executadas em Argila com Adição de Resíduos da Construção Civil - RCC Conceição de Maria Cardoso Costa Instituto Federal de Brasília, Brasília, Brasil, conceicao.costa@ifb.edu.br Guilherme Santiago Carrijo Cabral Sousa Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, guilhermesantiago@outlook.com Thiago Souza Nunes Rodrigues Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, thiaguinho1990@gmail.com Luís Fernando Martins Ribeiro Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, lmartins@unb.br Cláudia Márcia Coutinho Gurjão Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, cgurjao@unb.br RESUMO: O presente trabalho buscou avaliar a viabilidade de utilização de um material alternativo para execução de camada de cobertura de aterros sanitários, obtido pela mistura de um solo argiloso com Resíduos da Construção Civil (RCC). O solo utilizado foi coletado no local onde será implantado o novo aterro sanitário do Distrito Federal, localizado na Região Administrativa de Samambaia, próximo a Estação de Tratamento de Esgoto da CAESB. Foram utilizadas misturas de solo natural e RCC nos percentuais de adição de 0, 10, 20 e 30%. Para avaliar o desempenho dos materiais foram analisados os comportamentos hidráulicos do solo natural e das misturas antes e após três ciclos controlados de umedecimento e secagem. Para realização dos ensaios foram moldados corpos de prova cilíndricos, compactados na umidade ótima e na massa específica aparente seca máxima obtidas no ensaio de compactação com energia do Proctor Normal. Ao longo dos ciclos de umedecimento e secagem foram avaliados surgimento de fissuras, perdas de umidade e retração ao longo do tempo, assim como as alterações da permeabilidade em relação aos corpos de prova não submetidos aos ciclos de ressecamento. Os resultados obtidos, ainda que preliminares, evidenciam o potencial de utilização de RCC adicionados a solos argilosos como material alternativo para execução de camadas de cobertura. PALAVRAS-CHAVE: Ressecamento, resíduos da construção civil, camada de cobertura, aterros sanitários. 1 INTRODUÇÃO O aumento da produção de resíduos sólidos pela população mundial nas últimas décadas tem despertado o interesse da área técnica na busca por soluções adequadas para o tratamento e a disposição desses resíduos. Atualmente a destinação final dos resíduos sólidos tem-se dado por meio de lixões, aterros controlados, aterros sanitários, compostagem, incineração e outros. De todas as formas adotadas no Brasil, o aterro sanitário pode ser considerada a melhor alternativa por se tratar de uma solução de engenharia capaz de armazenar a massa de lixo com uma boa proteção tanto para solo, lençóis freáticos e ambiente, por um custo razoável. De acordo com Boscov (1997) é consenso entre os profissionais que a segurança dos aterros de resíduos sólidos está diretamente relacionada aos sistemas de drenagem e impermeabilização, de modo a minimizar a infiltração de água superficial para o interior do aterro, reduzindo a geração de percolados, além de evitar a contaminação do solo e do lençol freático subjacente ao aterro. Obter técnicas e materiais que garantam uma baixa condutividade hidráulica, durabilidade, segurança, resistência mecânica e a intempéries ao aterro são cada vez mais importantes. A baixa condutividade hidráulica é obtida normalmente utilizando-se solos de alta plasticidade que apresentam características de contração e expansão de acordo com as condições de temperatura e umidade do meio. No entanto, esses materiais devido às alterações no clima, principalmente nas estações mais secas do ano, podem ter fissuras devido ao ressecamento. Para tentar minimizar o surgimento de fissuras, uma das soluções é a utilização de areia associada com bentonita, como forma de aliar um material com maior trabalhabilidade a outro capaz de reduzir a condutividade hidráulica das camadas. Mais recentemente, alguns estudos têm procurado novos materiais alternativos que possuam características melhoradas, capazes de associar boa trabalhabilidade, baixa condutividade hidráulica, estabilidade climática e capacidade de absorver recalques diferenciais. Outros estudos avaliam ainda a adição de fibras e a utilização de resíduos industriais como cinzas de carvão, areia de fundição e Resíduos da Construção Civil (RCC) para melhorar o desempenho das camadas de cobertura (Heineck, 2002; Lukiantchuki, 2007). A possibilidade de utilização de RCC associado a solos argilosos pode ser uma alternativa viável sob o aspecto técnico, melhorando as propriedades desses solos e, principalmente, ecológico, possibilitando o reaproveiramento de um resíduo produzido em grandes quantidades pela maioria dos municípios e normalmente depositado sem tratamento e de forma desordenada em áreas clandestinas, causando graves prejuízos ao meio ambiente e à sociedade. O objetivo do trabalho é avaliar a viabilidade de utilização de diferentes percentuais de adição de um agregado miúdo reciclado de RCC a um solo argiloso tendo em vista sua utilização em camadas de cobertura de aterros sanitários, com ênfase na avaliação do ressecamento e da variação da condutividade hidráulica após ciclos de umedecimento e secagem. 2 ESPECIFICAÇÕES PARA CAMADAS DE COBERTURA A camada de cobertura é executada sobre a última célula do aterro e tem como funções principais: isolar a massa de resíduos do meio ambiente ao redor, controlar a entrada e saída de gases e minimizar a infiltração de água diminuindo o percolado gerado. Em seu projeto deve-se levar em consideração: tipo e classe de resíduo a ser recoberto, balanço hídrico e clima do local onde será implantado o aterro, estabilidade dos taludes do sistema de cobertura e recuperação da área do terreno por sistema de revegetação. O bom desempenho das camadas de solo compactado depende de dois aspectos fundamentais: o baixo valor de condutividade hidráulica, que de uma maneira geral está associada aos solos mais argilosos e mais plásticos, e à contração presentes nestes solos, uma vez que a abertura de fendas, gretas de contração e trincas de expansão causam formação de caminhos preferenciais de fluxo (Lukiantchuki, 2007). O solo mais indicado para construção das camadas impermeabilizantes é o argiloso e, de acordo com CETESB (1993), devem atender as seguintes características: classificado como CL, CH, SC ou OH, segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos; apresentar no mínimo 30% de partículas com diâmetro inferior a 0,075 mm (passante na peneira nº 200); coeficiente de permeabilidade mínimo de 10 -7 cm/s; LL maior ou igual a 30%; IP mínimo de 15%; pH mínimo de 7. Não existe na norma brasileira uma especificação exata da condutividade hidráulica para as camadas de um aterro sanitário. Quando citada, destaca que o coeficiente de permeabilidade deve ser menor ou igual a 10 -7 cm/s (Lukiantchuki, 2007). Outras normas, como a americana, são mais específicas na discretização de cada camada, delimitando espessura mínima e condutividade hidráulica, como mostrado na Tabela 1, a seguir: Tabela 1. Configurações adotadas para as camadas de cobertura com material argiloso (Fonte: U.S EPA, 2003). Tipo de cobertura Sistema de camadas recomendado (do topo para baixo) Espessura (cm) Condutividade hidráulica(cm/s) Camada simples de argila Camada de superfície 30 Não se aplica Camada drenante 30 1x10-4 a 1x10-5 Camada de argila 45 < 1 x 10-7 Camada simples de argila em clima semiárido Rip-rap 5-10 Não se aplica Camada drenante 30 1x10-4 a 1x10-5 Argila 45 < 1 x 10-7 3 RESSECAMENTO E FISSURAÇÃO O ressecamento é um fenômeno decorrente da perda de água do solo. Essa perda ocorre devido a evaporação através da superfície do solo, evapotranspiração dos vegetais ou pela drenagem, sendo essas as principais causa de fissuras no solo. A perda de água gera uma poro-pressão negativa que aumenta a pressão efetiva fazendo o solo contrair, quando o solo atinge seu limite de contração surgem as trincas por tração, como a poro-pressão atua em todas as direções as descontinuidades aparecem em todas as direções.. O desenvolvimento de fissuras de tração na camada de cobertura de aterros sanitários tem geralmente duas causas possíveis: recalques, decorrentes da redução de volume de massa de resíduos, ou ressecamento da cobertura final de solo. Essas trincas podem alterar algumas características do solo, como a condutividade hidráulica, um grande problema para as camadas de cobertura de aterros, principalmente em locais com grandes períodos de seca. Morris et al. (1992) explicou que a matriz de sucção em solos não fissurados produzem tensões de compressão entre as partículas de solo. Portanto, o fissuramento é mais favorável na superfície do solo, onde as tensões geradas pelo peso próprio são nulas e a matriz de sucção é máxima. Estes autores mostraram que a profundidade das trincas está relacionada com o aumento das tensões devido ao peso próprio do solo, e o comprimento superficial é limitado pela interseção com outras trincas. De acordo com Boscov (2008) o trincamento cria caminhos preferencias de fluxo e aumenta significativamente a permeabilidade da cobertura. O alargamento e a propagação das trincas podem resultar na inoperância e até o colapso da estrutura. Além disso, o fenômeno de ressecamento tende a causar mudanças irreversíveis em argilas, independente de sua composição. O ressecamento a elevadas temperaturas pode causar a remoção da água adsorvida e destruir as propriedades dos coloides e a capacidade expansiva das argilas (Unal e Trogol, 2001). As fissuras aparecem durante longos ciclos de seca. Durante os períodos de chuva a água preenche as trincas e fissuras sendo lentamente absorvida pela argila, aumentando o seu peso especifico e reduzindo sua resistência ao cisalhamento. Cria-se um efeito de encolhimento e inchamento, gerado pelos ciclos de seca e chuva, que aprofundam a zona trincada, e geram uma redução progressiva da resistência ao cisalhamento da argila, aproximando-se de uma resistência residual (Rayhani, 2007). Tang (2011) analisou o comportamento de uma argila submetida a cinco ciclos de umedecimento e secagem (W-D), e notou que após o quinto ciclo de W-D não se observa mais diferenças significativas no padrão de fissuras, o número correspondente de ciclos depende da natureza do material, necessitando um maior estudo para entender melhor o comportamento dos solos. 4 PROGRAMA EXPERIMENTAL O solo utilizado na pesquisa foi coletado na Região Administrativa de Samambaia, localizada no Distrito Federal, na região onde será construído o aterro sanitário. O RCC foi fornecido pela empresa Areia Bela Vista, localizada na Região Administrativa de Sobradinho e foi obtido pela britagem do RCC sem segregação prévia de materiais. As misturas de solo-RCC foram realizadas nos percenturais de 0, 10, 20 e 30% de adição de RCC em relação à massa de solo seco. A Tabela 2 apresenta os resultados dos ensaios de caracterização para o solo, RCC e misturas solo+RCC. Para avaliação das alterações da condutividade hidráulica em função do processo de ressecamento, foram utilizados corpos de prova cilíndricos, com 10 cm de diâmtro e 12,73 cm de altura (dimensões do cilíndro pequeno de compactação). Os corpos de prova (CP) foram moldados na umidade ótima e na densidade seca máxima obtidas nos ensaios de compactação, utilizando-se a energia do Proctor Normal. Foram moldados dois corpos de prova para o solo puro e dois para cada uma das misturas solo+RCC. Imediatamente após a moldagem, foram determinados os coeficientes de permeabilidade a carga variável, seguindo o método B, de acordo com a NBR 14545/2010. Para avaliar a influência do processo de ressecamento na condutividade hidráulica foram realizados ciclos de umedecimento e secagem (W-D), seguindo a metodologia proposta por Rayhani et al. (2007). O ciclo de ressecamento das amostras foi realizado utilizando uma estufa calibrada para simular a temperatura de um dia de sol. A temperatura foi controlada tentando mantê-la sempre na média de 35ºC. Foi utilizado um termohigrômetro para aferição da umidade relativa do ar no interior da estufa, que se manteve na faixa de 60%. Foram realizados três ciclos. O primeiro ciclo foi de ressecamento e iniciou-se logo após a compactação dos CP. Antes de coloca-los na estufa, as faces laterais foram revestidas com parafina para direcionar o fluxo de água pelas faces superior e inferior dos CP, de modo a se aproximar mais da condição real do solo no interior da camada. Antes do início do ciclo e durante o processo de ressecamento, foram realizadas medições de massa, diâmetro e altura dos CP. Procurou-se realizar as medidas sempre no mesmo horário, em intervalos de 24 horas A Figura 1 ilustra os corpos de prova revestidos e prontos para o inicio do processo de secagem e umidecimento. O primeiro ciclo de ressecamento foi concluído quando a perda de massa dos CP se estabilizou, considerando-se que nesse momento a amostra havia perdido toda a água possível de ser evaporada para a temperatura do ensaio. Tabela 2. Caracterização dos materiais e das misturas Solo+RCC. Legenda: SD – Sem defloculante; CD – Com Defloculante Por fim, no terceiro ciclo, os CP foram novamente ressecados em estufa seguindo o mesmo procedimento do primeiro ciclo. Após a conclusão do terceiro ciclo, foram realizados ensaios em cada CP para determinação do coeficiente de permeabilidade pós-ressecamento. A Figura 1 apresenta a superfície dos CP após os ciclos ressecamento e umedecimento. Figura 1. Corpos de prova prontos para o ciclo de ressecamento. Figura 2. Superfícies dos CP de solo puro após o 1º ciclo de ressecamento (a) e umedecimento (b). Após o ensaio de permeabilidade, os corpos de prova saturados foram retirados do permeametro e colocados em uma estufa a 110ºC. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados dos ensaios de caracterização apresentados na Tabela 2 observa-se que: o peso específico do solo e do RCC são, respectivamente, 27,9 e 25,8 kN/m 3 . Para as misturas solo-RCC os valores do peso específico reduziu à medida que o percentual de adição aumentou; de acordo com os ensaios de granulometria 64% das partículas de solo pertencem à fração argila, enquanto no RCC 92% das partículas pertencem à fração areia. Nas misturas o percentual da fração argila permaneceu próximo aos 50% e da fração areia próximoaos 30%; O Limite de Liquidez do solo é de 54%, reduzindo a medida que foi adicionado RCC, chegando a 40% para 30% de adição; O Índice de Plasticidade do solo puro é de 20% e das misturas variaram entre 15 e 19%; De acordo com o SUCS tanto o solo, quanto as misturas se classificam como ML; Com relação aos resultados dos ensaios de compactação observa-se que para o solo puro a hot foi de 34% e o dmax de 13 kN/m 3 . Com o aumento do percentual de adição de RCC os valores de hot foram reduzindo e os de dmax aumentando. De acordo com a CETESB (1993), o solo puro e as misturas atendem às recomendações para material de cobertura, excetuando-se a classificação. Os ensaios de permeabilidade realizados antes dos ciclos de ressecamento e umedecimento permitiram avaliar a variação da condutividade hidráulica para o solo puro e as diferentes misturas solo-RCC, conforme mostrado na Tabela 3. Tabela 3. Resultados dos ensaios de permeabilidade antes dos ciclos de ressecamento. Solo puro Solo + 10%RCC Solo + 20%RCC Solo + 30%RCC k (cm/s) 2,2x10-7 2,5x10-7 3,0x10-7 3,8x10-7 Os valores do coeficiente de permeabilidade para solo puro e para as misturas solo-RCC praticamente não variaram, permanecendo na mesma ordem de grandeza (10 -7 cm/s) e considerados adequados para material de cobertura de acordo com as normas. Os resultados dos ensaios de permeabilidade realizados após os ciclos de ressecamento e (a) (b) umedecimento encontram-se apresentados na Tabela 4. Pode-se observar que após os ciclos a permeabilidade aumentou em uma ordem de grandeza. Percebe-se ainda que as diferenças entre os coeficientes de permeabilidade do solo puro e das misturas foram maiores quando comparadas aos valores obtidos nos ensaios realizados nos CP não submetidos ao ressecamento. A maior diferença observada refere-se ao percentual de 30% de adição de RCC. Este aumento pode ser explicado pelo surgimento de trincas internas devido às tensões geradas durante o processo de ressecamento. Esse fissuramento pode ter gerado caminhos preferenciais de fluxo para água, diminuindo a altura efetiva da amostra. Esses resultados podem indicar que a adição de percentuais de RCC superiores a 20% tornam os materiais mais suscetíveis à criação de caminhos preferenciais ao fluxo. Tabela 4. Resultados dos ensaios de permeabilidade após os ciclos W-D. Solo puro Solo + 10%RCC Solo + 20%RCC Solo + 30%RCC k (cm/s) 3,7x10-6 4,1 x10-6 5,8 x10-6 9,0 x10-6 Nas Figuras 4 e 5 são apresentados os gráficos obtidos para perda de massa e variação da altura dos CP durante os dois ciclos de ressecamento. A retração foi avaliada unicamente pela redução da altura do corpo de prova, uma vez que a mensuração do diâmetro acabou sendo prejudicada pela irregularidade da camada de parafina e foi desconsiderada. Observa-se que, para os dois parâmetros analisados nos dois ciclos de ressecamento, o comportamento das misturas foi semelhante ao do solo puro. A perda de massa, representada pela evaporação da água, aconteceu de forma mais suave no primeiro ciclo, reforçando a hipótese do surgimento de caminhos preferenciais a medida que o material é submetivo a ciclos sucessivos de umedecimento e secagem. No entanto, considerando esse parâmetro, percebe- se que a adição do RCC não influenciou no comportamento do material. No caso da retração, percebe-se que nos dois ciclos de ressecamento os CP com adição de 20 e 30% de RCC foram os que mais retrairam. Inversamente ao observado com relação à perda de massa, a retração foi mais acelerada no primeiro ciclo, tendendo a estabilizar-se a partir do quinto dia. No segundo ciclo, a retração ocorreu de forma gradual ao longo do período de secagem, atingindo, no entanto, valores percentuais semelhantes ao do primeito ciclo. 6 CONCLUSÕES A adição de RCC ao solo argiloso analisado na pesquisa acarretou mudanças em algumas características importantes. Tendo em vista que o papel principal da camada de cobertura dos aterros sanitários é garantir impermeabilização da massa de lixo evitando o acréscimo na geração de percolado (chorume) oriundo da degração do aterro sanitário, o estudo focou na avaliação do comportamento hidráulico das misturas e a influência do ressecamento neste parâmetro. A partir do estudo realizado pode-se destacar que: 1) a adição do RCC, com características de uma areia fina, ao solo argiloso, composto por partículas finas, aumentou a permeabilidade das misturas, como era esperado; 2) os ensaios de permeabilidade realizados nos corpos de prova sem ressecamento prévio demonstraram que há um aumento da permeabilidade à medida que se aumenta a proporção de resíduo na mistura. Porém, esse aumento não foi significativo, principalmente para baixos percentuais de adição de RCC, mantendo a mesma ordem de grandeza do solo natural e atendendo aos limites especificados para materiais de cobertura; 3) os corpos de prova que passaram pelo ensaio de ressecamento mantiveram a mesma tendência. No entanto, houve uma maior elevação do coeficiente de permeabilidade para adição de 30% de RCC quando comparado ao solo puro, indicando que para este percentual de adição os efeitos do ressecamento foram mais significativos; 4) a relação área transversal e altura dos corpos de prova, sendo esta última considerada elevada proporcionalmente à área transversal, pode ter influenciado no não surgimento de fissuras. Em nenhum dos CP ensaiados foi possível detectar a olho nu o surgimento de trincas. No entanto, o aumento da permeabilidade em todos os corpos de prova após o ressecamento indica o surgimento de trincas internas, mesmo que em escala microscópica, facilitando assim a percolação de água nos corpos de prova. Desta forma, pode-se concluir que tanto a adição de resíduos quanto a submissão dos materiais a sucessivos ciclos de ressecamento e umedecimento elevaram a permeabilidade das misturas analisadas. Porém, esse aumento não ocasionou comprometimento significativo dos materiais quanto à condutividade hidráulica, mantendo valores de coeficiente de permeabilidade dentro dos critérios estabelecidos em norma, especialmente para a mistura com adição de 10% de RCC. Assim, a adição de RCC ao solo argiloso como material alternativo para execução de camadas de cobertura de aterros sanitários, pode ser uma alternativa viável. Contudo, para a adoção dessa solução recomendam-se estudos mais aprofundados para obter-se a proporção ideal de RCC incorporado ao solo e a análise de outros aspectos como o comportamento mecânico, fisuração por secagem, dentre outros. Figura 4. Perda de massa com o tempo para os 1º e 2º ciclos de ressecamento. Figura 5. Redução percentual de altura com o tempo para os 1º e 2º ciclos de ressecamento. REFERÊNCIAS ALVES, A. K. Proposta de manual técnico de medidas preventivas e corretivas para aterros sanitários encerrados. Dissertação (Mestrado). 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