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6. A Economia Brasileira no Século XIX (8ª parte). Disciplina: Formação Econômica do Brasil UFRJ - Graduação em Ciências Econômicas (Bacharelado) 2º Semestre de 2015 Prof. Wilson Vieira 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro Componentes do complexo (cf. CANO, 1998: 33): I) A atividade produtora do café. II) A agricultura produtora de alimentos e matérias-primas, tanto dentro quanto fora da propriedade cafeeira. III) A atividade industrial. IV) A implantação e desenvolvimento do sistema ferroviário paulista. V) A expansão do sistema bancário. VI) A atividade do comércio de exportação e de importação. VII) O desenvolvimento de atividades criadoras de infraestrutura e daquelas inerentes à própria urbanização, como o comércio, por exemplo. VIII) A atividade do Estado (governos federal e estadual) pela ótica do gasto público.. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro Além dos elementos elencados, Cano (1998: 33) destaca as seguintes variáveis: I) O movimento imigratório. II) A disponibilidade de terras. III) Os saldos da balança comercial com o exterior e com o resto do país. IV) O capital externo. V) As políticas tarifária, monetária, de câmbio, e as políticas de defesa e valorização do café. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.1. O Café no Vale do Paraíba Crescimento da produção cafeeira do estado do Rio de Janeiro até 1882 (auge), quando, a partir daí, entraria em flagrante decadência. Segundo Cano (1998: 36-37): Planta que requer condições especiais de solo e de clima, o café encontraria, no Vale do Paraíba, uma séria limitação de terras para a sua expansão e rendimento econômico. Como demonstrou R. Simonsen, apenas nas terras mais altas (altitude entre 200 e 550 metros) do Vale do Paraíba se davam as condições para o plantio econômico do café, ao contrário das terras baixas e frias (Simonsen, 1973: 181-5). O esgotamento da região ocidental (Resende, Vassouras, Barra Mansa e outras) após 1860 provocaria o deslocamento do café para a região oriental (Cantagalo, Paraíba do Sul, etc.), principalmente terminando aí sua possibilidade de expansão. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.1. O Café no Vale do Paraíba Segundo Cano (1998: 37): Os rotineiros processos agrícolas empregados e as próprias condições do solo e da topografia fariam com que, à restrição ditada pela disponibilidade potencial de terras, fosse adicionada outra, gerada pela sua erosão e exaustão, diminuindo assim a oferta de terras para o café, acelerando novo deslocamento, agora em direção ao “Oeste Paulista”. Encarecimento crescente da mão de obra escrava a partir da repressão e fim do tráfico negreiro. Diminuição de áreas para cultivo alimentar complementar nas fazendas de café, levando ao aumento dos custos monetários. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.1. O Café no Vale do Paraíba Portanto, a expansão cafeeira ocorria com margem decrescente de lucros. Técnicas de produção rudimentares. A expansão ferroviária ocorre tardiamente, mas contribui para atrasar a sua decadência. E trouxe também o problema de concorrer com o antigo sistema de portos fluviais e marítimos e com suas rodovias, além dos armazéns localizados junto a esses portos. Ou seja, parte dos ganhos com a ferrovia eram anulados em parte pelos efeitos da desutilização de parte da infraestrutura preexistente (cf. CANO, 1998: 42). Expropriação do parco excedente agrícola cafeeiro pelo comércio urbano. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.1. O Café no Vale do Paraíba O desenvolvimento de um mercado de trabalho livre na cidade do Rio de Janeiro criou condições para o desenvolvimento de um mercado de bens de consumo corrente. 1.1.2. O Complexo Cafeeiro Escravista em São Paulo A expansão para o “Oeste Paulista” contou com disponibilidade de terras e com condições favoráveis de clima, fertilidade e topografia. Segundo Cano (1998: 44): “Persistiram ainda, por relativamente curto espaço de tempo, os problemas de transporte”. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.2. O Complexo Cafeeiro Escravista em São Paulo As técnicas agrícolas usadas eram mais eficientes que aquelas do Vale do Paraíba. Segundo Cano (1998: 44): A fertilidade das terras, a menor idade média dos cafeeiros e as técnicas agrícolas mais eficientes, proporcionavam ao café do oeste paulista uma produtividade física cerca de cinco vezes maior do que a verificada na antiga região, como se deduz do trabalho de Simonsen (1973: 189-94). A produtividade econômica aumentaria ainda mais com a introdução do uso das máquinas de beneficiamento de café a partir da década de 1870. As ferrovias “criaram” terras e diminuíram os gastos de transporte (feitos anteriormente por tropas muares), além de terem contribuído para elevar economicamente a produtividade física do café. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.2. O Complexo Cafeeiro Escravista em São Paulo Segundo Cano (1998: 47): Máquinas de beneficiamento e ferrovias, as primeiras aumentando a produtividade e as últimas reduzindo os custos, resultavam, assim, em forte ampliação das margens de lucros. Dada a disponibilidade de terras e o comportamento da demanda externa, isso implicava na necessidade de ampliar a acumulação cafeeira. É exatamente neste momento, que compreende os últimos anos da década de 1870 e os primeiros da década seguinte, que esse alto poder de acumulação explicita a impossibilidade da permanência do escravismo no café, dado o término do tráfico e a impossibilidade de criação de escravos no país, para ampliar a força de trabalho. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.2. O Complexo Cafeeiro Escravista em São Paulo Segundo Cano (1998: 48): A transição do sistema de trabalho escravo para o de trabalho livre, em São Paulo, adquiria, portanto, um caráter peculiar. Ela seria bastante difícil no Vale do Paraíba, que em 1883 ocupava 28,5% do total de escravos (174.622) existentes em São Paulo; e gradativa, nas zonas mais antigas do “Oeste Paulista” (regiões de Campinas, de Sorocaba e de Bragança) que detinham 42%; as cidades de São Paulo e de Santos, com suas regiões vizinhas, de inexpressiva produção cafeeira, detinham apenas 4,5% e a zona pioneira do “Oeste Paulista”, os restantes 25%. Entre 1876 e 1883 é dado o primeiro grande salto da expansão cafeeira de São Paulo, quando dobra a capacidade produtiva do café (já dentro de relações capitalistas de produção). 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.2. O Complexo Cafeeiro Escravista em São Paulo O trabalho de abertura das terras foi feito pela mão de obra livre nacional. A colheita e o trato do cafeeiro foram feitos, até 1886, conjuntamente, com mão de obra escrava, livre nacional e imigrante. 1. Complexo Cafeeiro Paulista e Alguns Complexos Regionais 1.1 Formação e Expansão do Complexo Cafeeiro 1.1.2.O Complexo Cafeeiro Escravista em São Paulo Segundo Cano (1998: 51): Coexistiram, durante algum tempo, nas lavouras cafeeiras do “Oeste Paulista”, distintos sistemas de emprego (além do escravista, naturalmente) e de remuneração da mão de obra: o de parceria, que permitia ao parceiro o plantio (intercalado ou não) de alimentos, e estabelecia a divisão, entre o proprietário e o parceiro, dos lucros obtidos tanto no café como na venda dos produtos agrícolas produzidos pelo parceiro; o de salário fixo; e o do “colonato”, que compreendia um sistema misto de pagamento e de renda: um salário fixo, pelo trato de determinado número de cafeeiros, um variável pela colheita de café e o direito de plantio e criação de animais dentro da propriedade cafeeira. 2. O Café e a Industrialização Fluminense Os interesses ligados ao café eram poderosos obstáculos à industrialização, mesmo o Rio de Janeiro tendo reunido as melhores condições potenciais para tal. Período 1808-1840: implantação manufatureira na forma de uma “pré-indústria”. A partir de 1808 temos os alvarás estimuladores de fábricas e alguns empreendimentos governamentais. Predominância de fábricas de bens de consumo não duráveis. Empreendimentos de Mauá: a exceção que confirma a regra. A partir da Tarifa Alves Branco (1844) e de medidas de amparo e estímulo às manufaturas (1846 e 1847), triplica-se o número de estabelecimentos manufatureiros nos anos 1850, cujos ramos mais importantes eram: têxtil, chapéus, fundição e máquinas, sabão e velas, rapé e papel. 2. O Café e a Industrialização Fluminense Segundo Vieira (2000: 47-48): Nos anos 1860, porém, os investimentos manufatureiros se retraíram e as manufaturas passaram por grandes dificuldades, como decorrência das reformulações tarifárias de 1857 e 1860, de caráter nitidamente fiscalista, com revogação dos incentivos previstos anteriormente (a fim de atender aos interesses dos grandes fazendeiros, que exigiam o barateamento dos gêneros de primeira necessidade). Além disso, tivemos a conhecida “lei dos entraves”, de 1860, que proibia a venda de ações antes da integralização total do capital, dificultando a formação de novas empresas. A partir de 1870, a expansão industrial seria qualitativamente diferente, por ter utilizado predominantemente trabalhadores livres e assalariados, num processo de “implantação de fábricas”, como decorrência da política monetária emissionista para financiar a Guerra do Paraguai, a qual trouxe novas possibilidades de concessão de créditos, apesar da tarifa de 1869 (de caráter liberal). 2. O Café e a Industrialização Fluminense A reformulação tarifária de 1874 leva a um novo período de dificuldades das manufaturas. Em 1879 é feita uma nova reforma tarifária sob o comando do Ministro Assis Figueiredo, a qual elevou consideravelmente as tarifas para os produtos industrializados importados. Juntamente com as transformações econômicas que começavam a se manifestar mais profundamente a partir do início dos anos 1880, temos como consequência uma recuperação efetiva das manufaturas e a configuração de um novo quadro para os investimentos industriais, os quais não arrefeceram, mesmo com a reforma tarifária de 1881 (feita pelo Ministro José Antonio Saraiva), a qual diminuiu as tarifas, mas num nível ainda superior ao de 1879 e que contou com a redução dos direitos cobrados às matérias-primas importadas. 2. O Café e a Industrialização Fluminense Segundo Soares (1984: 237), citado por Vieira (2000: 49): Assistia-se à crise final do modo de produção escravista- mercantil e a ampliação dos mercados propiciada pelo início do desenvolvimento capitalista. 3. Bibliografia CANO, Wilson. Complexo cafeeiro paulista e alguns complexos regionais. In: ________. Raízes da concentração industrial em São Paulo. 4. ed. Campinas: IE-UNICAMP, 1998, cap. 1, p. 29-54. VIEIRA, Wilson. Apogeu e decadência da cafeicultura fluminense. Campinas: IE-UNICAMP, 2000 (Dissertação de Mestrado em História Econômica do Instituto de Economia da UNICAMP).
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