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Ferenczi, Sándor A Elasticidade Da Técnica Psicanalítica

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FERENCZI, Sándor. La elasticidad de la técnica psicoanalítica: progresos en el conocimiento 
del sentido de realidad. In: Obras Completas, Psicoanálisis, Tomo III. Tradução de 
Alessandro José Berloffa Tofalini. Revisão da tradução de Juana Ester Kogan. Editora 
Espasa-Calpe S.A., Madrid, 1984. Disponível em: <http://www.indepsi.cl/ferenczi/articulos/1 
928c.htm>. Data de acesso: 01/05/2015. 
 
A ELASTICIDADE DA TÉCNICA PSICANALÍTICA (1928)1 
Progressos no Conhecimento do Sentido de Realidade 
 
Sándor Ferenczi 
 
 Os esforços para fazer acessível, a outros, a técnica que utilizo habitualmente em 
minhas análises me levaram, frequentemente, ao tema da compreensão psicológica em geral. 
É possivelmente certo, como afirmam tantos, que a compreensão dos processos que se 
desenvolvem na vida psíquica do outro dependem de uma atitude particular que se chama 
conhecimento dos homens, atitude que seria inexplicável enquanto tal e, portanto, 
intransmissível: dessa maneira, qualquer esforço para ensinar aos demais algo dessa técnica 
estaria condenado ao fracasso. Afortunadamente não há nada disso. Desde que Freud publicou 
seus “Artigos sobre técnica”, possuímos os primeiros elementos de uma investigação 
metódica sobre o psiquismo. Aqueles que não temam seguir as instruções do Mestre estarão 
em condições, ainda que não sejam gênios da psicologia, de ter acesso as insuspeitadas 
profundidades da vida psíquica dos demais, sejam sãos ou enfermos. A análise dos atos 
frustrados da vida diária dos sonhos e, sobretudo, das associações livres, lhes situará em 
condições de aprender de seus semelhantes muitas coisas que anteriormente somente eram 
capazes de captar alguns seres excepcionais. A predileção dos homens pelo maravilhoso 
haverá de lhes proporcionar a ocasião de acompanhar, com certo desagrado, essa 
transformação da arte do conhecimento humano em uma espécie de ofício. Os artistas e os 
escritores em particular, parecem ver nela uma espécie de intrusão em seu campo de trabalho 
e, ainda que se interessaram pela psicanálise um dia, costumam, agora, desestima-la como um 
método de trabalho mecânico e pouco sedutor. Essa antipatia apenas nos surpreende; a ciência 
é, por efeito, uma desilusão progressiva: no lugar do místico e do singular, coloca 
ininterruptamente e, em toda parte, essa legalidade estática que, devido à sua uniformidade, 
 
1 Conferência pronunciada na Sociedade Húngara de Psicanálise (ciclo 1927-1928). 
provoca facilmente o aborrecimento e, devido a sua trajetória coercitiva, o desagrado. Para 
acalmar os ânimos temos um pouco a acrescentar pois, tanto aqui como em qualquer outro 
ofício, haverá sempre artistas excepcionais dos quais esperamos o encontro de progressos e de 
novas perspectivas. 
 Desde o ponto de vista prático temos de considerar um progresso que a análise pôs nas 
mãos do médico e do sábio medianamente dotado de uma ferramenta de exploração matizada 
de humanidade. Ocorre como na cirurgia: antes de se descobrir a anestesia e a assepsia, 
somente alguns poucos tinham o privilégio de exercer a “arte de curar” cirurgicamente e 
podiam trabalhar “cito, tuto, et jucunde”.2 Supostamente, hoje em dia, há ainda artistas da 
técnica cirúrgica, mas o progresso permitiu a milhares de médicos normais desenvolver sua 
atividade útil e salvar, desse modo, muitas vidas. 
 Falou-se, também, da técnica psicológica à margem da análise do psiquismo; entendia-
se, por isto, os métodos de medida dos laboratórios psicológicos. Essa espécie de 
“psicotécnica” está hoje em moda ainda, e pode, inclusive, bastar para determinados trabalhos 
práticos. Na análise trata-se de algo mais importante: há que se captar a tópica, a dinâmica e a 
economia do funcionamento psíquico sem o impressionante enquadramento dos laboratórios, 
mas com uma pretensão de certeza sempre crescente e, sobretudo, com uma capacidade de 
rendimento incomparavelmente superior. 
 Sempre houve, e todavia ainda há, no interior da técnica psicanalítica, muitas coisas 
que davam a impressão de ser algo individual, dificilmente definível com palavras; a princípio 
o fato de que, nesse trabalho, a importância que se dava à “equação pessoal” fora maior do 
que devíamos aceitar no mundo científico. O próprio Freud, em suas primeiras comunicações 
sobre a técnica, deixava o campo livre a outros métodos de trabalho em psicanálise, ao lado 
do seu. É certo que essa declaração provém da época anterior à que cristalizou a segunda 
regra fundamental da psicanálise, a saber, que quem deseja analisar aos demais deve 
primeiro ser, ele mesmo, analisado. Depois da adoção dessa regra, a importância do dado 
pessoal do analista desvaneceu pouco a pouco. Qualquer pessoa que tenha sido analisada a 
fundo, que tenha aprendido a conhecer completamente e dominar suas inevitáveis fraquezas e 
particularidades de caráter, chegará necessariamente às mesmas constatações objetivas, no 
transcurso do exame e do tratamento do mesmo objeto de investigação psíquica e, em 
consequência, adotará as mesmas medidas táticas e técnicas. Na realidade tenho o sentimento 
de que, depois da introdução da segunda regra fundamental, as diferenças da técnica analítica 
 
2 “Rapidamente, com segurança e alegria.” 
estão em processo de desaparecimento. 
 Se tratamos, agora, de dar conta desse resíduo, ainda não resolvido, da equação 
pessoal, e se nos é possível observar a suficientes alunos e pacientes já analisados por outros e 
se, em especial, nós podemos, nos enfrentar, como a mim ocorre, com as consequências dos 
próprios erros anteriormente cometidos achamo-nos em disposição de emitir um juízo de 
conjunto sobre a maior parte de tais diferenças e erros. Estou convencido de que se trata, antes 
de tudo, de uma questão de tato psicológico, de saber quando e como se comunica algo ao 
analisando, quando pode se estimar que o material proporcionado é suficiente para tirar 
conclusões, de que forma deve ser apresentada a comunicação, como pode se responder a uma 
reação inesperada ou desconcertante do paciente, quando se deve calar e esperar outras 
associações e em que momento o silêncio é uma tortura inútil para o paciente. Como podem 
ver, com a palavra “tato” somente consigo expressar a indeterminação em uma fórmula 
simples e agradável. Mas, o que é tato? A resposta a essa pergunta não é difícil. O tato é a 
faculdade de sentir com3. Se conseguirmos, ajudados por nosso conhecimento, formado pela 
dissecção de numerosos psiquismos humanos e, sobretudo, pela dissecção do nosso Ego, fazer 
presentes as associações possíveis ou prováveis do paciente que ele, todavia, ainda não 
percebe, podemos adivinhar não somente seus pensamentos estancados como, também, as 
tendências que são para ele, inconscientes, ao não ter que lutar contra as resistências como ele 
deve fazer. Se, ao mesmo tempo, permanecemos atentos à força da resistência, não nos será 
difícil tomar a decisão da oportunidade de uma comunicação e da forma que ela deve ter. Esse 
sentimento nos protegerá de estimular a resistência do paciente de forma inútil ou 
intempestiva; é certo que a psicanálise não tem a capacidade de poupar qualquer sofrimento 
ao paciente e, pelo contrário, um dos resultados principais da psicanálise consiste em ensinar 
a suportar um sofrimento. Contudo, uma pressão inoportuna a esse respeito, se está 
desprovida de tato, proporcionará ao paciente a desculpa, ardentemente desejada em seu 
inconsciente, de escapar de nossa influência. 
 Em conjunto, todas essas medidas de precaução exercem sobre a análise uma 
impressão de bondade, embora as razões dessa sensibilidade provenham puramente de raízes 
intelectuais.Contudo, hei de justificar de agora em diante, em certo sentido, essa impressão 
do paciente. Não existe nenhuma diferença de natureza entre o tato que nos é exigido e a 
obrigação moral de não fazer ao outro o que, em circunstâncias parecidas, eu não gostaria de 
receber dos demais. 
 
3 Einfühlung. 
 Desde agora assinalarei que a capacidade de exercer essa espécie de “bondade” 
somente significa um aspecto da compreensão analítica. Antes que o médico se decida a fazer 
uma comunicação, deve retirar, por um momento, sua libido do paciente e pesar friamente a 
situação: em nenhum caso deve deixar-se guiar somente por seus sentimentos. Nas frases que 
seguem vou apresentar, em um resumo aforístico, alguns exemplos que ilustram essas 
considerações gerais. 
 Convém conceber a análise como um processo evolutivo que se desenvolve diante de 
nossos olhos, ou melhor, tal qual o trabalho de um arquiteto que tenta realizar um plano pré-
concebido. Ninguém deve se deixar arrastar, em nenhuma circunstância, a prometer ao 
analisando mais que isso: se se submete ao processo analítico acabará por saber muito mais 
sobre si mesmo e, se perseverar até o final, poderá adaptar-se melhor às dificuldades 
inevitáveis da vida, com uma distribuição de energia mais oportuna. Sendo rigorosos 
podemos dizer-lhe, também, que não conhecemos um tratamento dos problemas 
psiconeuróticos e de caráter que seja o melhor e o mais radical. Não lhe ocultaremos que 
também existem outros métodos que oferecem expectativas de cura muito mais rápidas e 
seguras e, no fundo de nós mesmos nos alegraremos, então, quando escutarmos os pacientes 
dizerem que já seguiram por anos tratamentos por métodos sugestivos, ergoterapia ou outros 
métodos fortalecedores da vontade, se não o fizermos assim, deixamos ao paciente a 
possibilidade de ensaiar um desses tratamentos tão promissores, antes de se entregar em 
nossas mãos. Mas não podemos desestimar a objeção que habitualmente levantam os 
pacientes em torno do fato de não acreditarem em nosso método ou em nossa teoria. 
Explicaremos, a eles, desde o princípio, que nossa técnica renuncia por completo ao presente 
imerecido de uma confiança antecipada; o paciente somente deve acreditar em nós se a 
experiência de sua cura o autorizar. E, tampouco, podemos subtrair valor a outra objeção que 
consiste em dizer que deixamos, a priori, a responsabilidade de um eventual fracasso do 
tratamento atribuindo-a à impaciência do enfermo e o que devemos é deixar ao paciente que 
decida, nessas difíceis condições, aceitar o risco que supõe a cura. Se essas questões 
fragmentárias não ficam esclarecidas desde o princípio, nesse sentido, se oferece a resistência 
do paciente um conjunto de armas temível que, cedo ou tarde, tratará de utilizar contra os 
objetivos da cura e contra nós. 
 Ninguém deve deixar-se desviar desses levantamentos por nenhuma outra questão, por 
espetacular que pareça. “Pode durar a cura dois, três, cinco ou dez anos?”, perguntarão muitos 
pacientes com visível hostilidade. “Tudo é possível”, será nossa resposta. “Ainda que, 
naturalmente, uma análise de dez anos equivalha, praticamente, a um fracasso, nunca 
podemos avaliar antecipadamente a importância das dificuldades a serem superadas, e não 
podemos prometer um resultado certo, de maneira que nos contentamos em recordar que em 
muitos casos bastam períodos mais curtos. Mas se você vive acreditando que os médicos 
desejam fazer prognósticos favoráveis e, como já ouviu, dão muitas opiniões desfavoráveis 
sobre a teoria e a técnica da psicanálise, é preferível que considere essa cura como uma 
experiência arriscada que lhe custará bastante esforço, tempo e dinheiro; se, apesar de tudo, 
você deseja desenvolver essa experiência conosco, deverá fazê-la depender de sua capacidade 
de sofrimento. Em qualquer caso, reflita antes de começar: iniciar sem a intenção de 
perseverar, corre o risco de agravar sua situação e somente conseguirá adicionar uma nova 
decepção às que já têm. 
 Creio que essa preparação bastante pessimista é, contudo, a mais adaptada ao objetivo 
que perseguimos: em qualquer caso corresponde às exigências da regra “sentir com”. Pois a fé 
entusiasta do paciente, frequentemente muito exagerada, oculta, quase sempre, uma boa dose 
de desconfiança que o enfermo trata de dissimular com as promessas de cura impetuosamente 
exigidas de nós. Há aqui uma questão que se nos apresenta frequentemente, inclusive nos faz 
passar toda uma sessão persuadindo ao paciente de que em seu caso consideramos a análise 
indicada: “Você acredita, doutor, que sua cura me ajudará eficazmente?” Seria um erro 
responder a essa pergunta com um simples “sim”. É preferível dizer ao paciente que não 
esperamos nada assegurando-lhe sempre o mesmo. Nem sequer o contínuo elogio da cura 
pode fazer desaparecer, na realidade, a secreta suspeita do paciente a respeito de que o médico 
é um homem de negócios e quer, a todo custo, vender seu método, isto é, sua mercadoria. A 
incredulidade oculta se faz transparente quando o paciente pergunta, por exemplo: “Você não 
acredita, doutor, que seu método poderia também ser prejudicial?”. Geralmente eu respondo 
desviando-me pelo seguinte caminho: “Qual é sua profissão?” A resposta pode ser: “Sou 
arquiteto.” “Então, o que você responderia a quem lhe perguntasse, ao apresentar-lhe os 
planos de um novo edifício, se seria fácil que a construção afundasse?” Geralmente as 
exigências de obter mais segurança são aplacadas então, e isso é o sinal de que o paciente se 
deu conta de que é preciso, em qualquer trabalho, confiar no homem que conhece o ofício, 
ainda que não se possam excluir, definitivamente, possíveis decepções. 
 Frequentemente se reprova à psicanálise o ocupar-se em excesso de questões 
financeiras. Creio que não se ocupa bastante ainda. Até o homem mais rico resiste a entregar 
seu dinheiro ao médico: algo em nós nos induz a considerar a ajuda médica – proporcionada 
na infância inicialmente por pessoas encarregadas dos cuidados da criança – como algo 
natural; ao final do mês, quando os pacientes recebem sua nota de honorários, a resistência do 
enfermo somente se dilui quando tudo o que está oculto, todo o ódio desvelado 
inconscientemente, toda desconfiança e toda suspeita ficam de novo dispostas à expressarem-
se. O exemplo mais característico da distância entre o consentimento consciente ao sacrifício 
e o desagrado oculto ofereceu um paciente que, no início da entrevista com o médico 
declarou: “Doutor, se me ajudar te darei toda a minha fortuna”. O médico respondeu: “Me 
contentarei com trinta moedas por sessão”. “Não é um pouco demais?”, foi a resposta 
inesperada do paciente. 
 Durante a análise é bom ter grande atenção para captar as manifestações ocultas ou 
inconscientes que mostram a incredulidade ou a rejeição, com o fim de discuti-las 
rapidamente a seguir. É compreensível que a resistência do paciente não perca nenhuma 
ocasião de aparecer. Qualquer paciente, sem exceção, capta as menores particularidades do 
comportamento, da aparência externa, da forma de falar do médico, mas ninguém se atreve, 
sem encorajar-se previamente, a dizer-nos na cara, ainda que com isto se falte gravemente à 
regra fundamental da análise: não nos sobra, pois, outro remédio que adivinhar cada vez, 
sobre a base do contexto associativo do momento, quando, ao espirrar ou ao limparmos 
estriptosamente o nosso nariz, golpeamos o paciente em seus sentimentos estéticos ou quando 
o incomodamos com nossa forma de olhar ou quando desejaria comparar nossa estatura com a 
dos demais muito mais imponentes. Tratei, em muitas ocasiões, de demonstrar que o analista 
deve se prestar no processode cura, frequentemente, durante várias semanas, ao papel do 
balanço4 sobre o qual o paciente projeta seus afetos de desprazer. Se não só não nos 
protegemos mas não nos entregarmos a essa desproteção em qualquer ocasião, embora o 
paciente seja tímido, recolheremos, antes ou depois, à merecida recompensa de nossa 
paciência em forma de uma nascente transferência positiva. Toda amostra de depreciação ou 
de sentimento vexatório por parte do médico, prolonga a duração do período de resistência: 
mas se o médico não se defende, o paciente se cansa, pouco a pouco, nesse combate 
unilateral; quando está suficientemente decepcionado, não pode deixar de reconhecer, ainda 
que seja com reticência, os sentimentos amistosos que estão ocultos por trás de sua atitude 
ofensiva, o que lhe permitirá, talvez, penetrar mais a fundo no material latente, em particular 
nas situações infantis em que a base de determinados traços de caráter malicioso5 tenham sido 
 
4 Watschermann. Em húngaro: “Debout-Jeanot”. Pequeno personagem com lastro em sua 
parte inferior que se põe na vertical a partir de qualquer outra posição. (N. do T.). 
5 Maliziös. Em alemão, o que se traduziria melhor por mal, maligno. (N. do T.). 
apresentados – geralmente por educadores incompreensivos6. 
 Não há nada mais prejudicial para a análise do que uma atitude de professor de escola 
ou de médico autoritário. Todas as nossas interpretações devem ter um caráter de uma 
proposição, mais do que o de uma afirmação certa e, isso não somente para não irritar o 
paciente, mas porque podemos efetivamente nos equivocar. O velho costume dos 
comerciantes que consiste em adicionar ao final de cada fatura o sinal “S.E.” (Salvo Errore: 
com exceção de erro) também deveria aplicar-se a respeito de toda interpretação psicanalítica. 
Por isso mesmo, a confiança em nossas teorias somente deve ser uma confiança convencional, 
pois pode se dar o caso da famosa exceção à regra ou, inclusive, se pode necessitar modificar 
algum aspecto da teoria em vigor até então. Já me aconteceu que um paciente sem cultura, de 
aparência ingênua, lançou contra minhas explicações e objeções que eu estava disposto a 
rejeitar de início; um exame mais pormenorizado me mostrou que eu não tinha razão mas, 
sim, o paciente e que sua objeção me havia ajudado a captar melhor a questão da qual se 
tratava. A modéstia do analista não é uma atitude aprendida mas, melhor, a expressão da 
aceitação dos limites de nosso saber. Assinalemos, de passagem, que é possivelmente esse o 
ponto no qual, com a ajuda da alavanca psicanalítica, começa a mudar a atitude anterior do 
médico. Compare-se nossa regra de “sentir com”, com a soberba habitual que utiliza o médico 
onisciente e onipotente para enfrentar-se com o paciente. 
 Supostamente não penso que o analista deva ser exclusivamente modesto; tem o 
direito de esperar que a interpretação apoiada na experiência se confirme, antes ou depois, na 
maior parte dos casos e que o paciente ceda à acumulação das provas. Mas, em qualquer caso, 
há que se esperar pacientemente que o enfermo tome a decisão; qualquer impaciência por 
parte do médico custa ao paciente tempo e dinheiro e, ao médico, uma sobrecarga de trabalho 
que poderia, perfeitamente, ter poupado. 
 Aceito como minha a expressão “elasticidade da técnica analítica” forjada por um 
paciente. Há que se ceder às tendências do paciente, como se tratássemos de um fio 
extensível, mas sem abandonar a atração na direção das próprias opiniões, enquanto a 
ausência de consistência de uma ou de outra dessas posições não se torne plenamente 
demonstrada. 
 Em nenhum caso deve alguém se envergonhar de seus erros anteriores. Não deve se 
esquecer jamais que a análise não é um procedimento sugestivo onde se deve preservar, antes 
de tudo, o prestígio e a infalibilidade do médico. A única pretensão do analista é a da 
 
6 Ver também, a esse respeito, a comunicação do Congresso de Innsbruck: “O problema do 
término da análise” (neste volume). 
confiança na franqueza e na sinceridade do médico e, a essa, não o prejudica o 
reconhecimento de um erro. 
 A posição analítica não exige do médico somente o controle rigoroso de seu próprio 
narcisismo mas, também, a vigilância extrema das diversas reações afetivas. Se antes se 
estimava que um grau excessivo de “antipatia” podia constituir uma contraindicação para o 
desenvolvimento de uma cura analítica, temos que excluir, em busca de uma melhor 
compreensão das circunstâncias, tal contraindicação, e esperar, por parte de um analista 
analisado, que o conhecimento e o controle de si mesmo sejam suficientemente fortes para 
não claudicar diante das idiossincrasias. Com efeito, esses “traços antipáticos” são, na maioria 
dos casos, simples fachadas, que dissimulam outros traços de caráter. Se o psicanalista cede, 
equivale a deixar-se dominar pelo paciente; deixar-se dominar é, frequentemente, o objetivo 
inconsciente de um comportamento intolerável. O saber nos permite considerar a pessoa mais 
desagradável como um paciente com necessidade de ser curado e, enquanto tal, digno de 
nossa simpatia. Por em prática essa humildade superior à cristã, forma parte das tarefas mais 
difíceis da prática psicanalítica. Se chegamos a ela, a correção pode triunfar inclusive nos 
casos desesperados. Devo assinalar, mais uma vez, que somente uma verdadeira disposição 
para “sentir com” pode nos ajudar; os pacientes perspicazes desmascararão rapidamente 
qualquer pose pré-fabricada. 
 Pouco a pouco a gente vai se dando conta da complicação que supõe o trabalho 
psíquico desenvolvido pelo analista. Permite-se atuar frente às associações livres do paciente 
e ao mesmo tempo se deixa brincar com a própria fantasia com esse material associativo; no 
intermédio se comparam as conexões novas com os resultados anteriores da análise; sem 
esquecer, nem por um instante, a tomada de consideração e a crítica de suas próprias 
tendências. 
 Na realidade poderia se falar, quase, de uma oscilação perpétua entre “sentir com”, 
auto-observação e atividade de julgamento. Essa última aparece de vez em quando e de forma 
espontânea, como um sinal que, naturalmente, só se valoriza no início enquanto tal; baseando-
se em um material justificativo suplementar pode, finalmente, se aventurar uma interpretação. 
 Uma das regras mais importantes da análise consiste em economizar interpretações, 
em não dizer nada supérfluo, em geral; o fanatismo da interpretação forma parte das 
enfermidades iniciais do analista. Quando se superam as resistências do paciente mediante a 
análise, se chega, às vezes, a estádios em que o paciente realiza todo o trabalho de 
interpretação praticamente sozinho ou com ajuda mínima. 
 Voltemos, mais uma vez, à minha “atividade” tão alabada e criticada7. Creio estar, já, 
em disposição de dar indicações precisas, pedidas por muitos, sobre o momento atual dessa 
medida técnica. Vocês sabem que a princípio me inclinava por prescrever, junto à associação 
livre, determinadas regras de comportamento, enquanto a resistência permitia essa sobrecarga. 
Mais para frente, a experiência me ensinou que não devia dar ordens nem apresentar 
proibições mas, no máximo, aconselhar algumas modificações na maneira de se comportar, 
ficando sempre disposto a retirá-las se se convertiam em um obstáculo ou se provocavam 
resistências. A opinião que mantive a princípio, isto é, que sempre era o paciente e nunca o 
médico, quem podia ser “ativo”, me levou finalmente à constatação de que devemos 
contentar-nos com interpretar as tendências à atuação, ocultadas pelo paciente, para apoiar as 
débeis tentativas de superar as inibições neuróticasque subsistem ainda, sem insistir primeiro 
sobre a aplicação e medidas coercitivas, nem sequer aconselhando-as. Se somos 
suficientemente pacientes, o paciente acabará perguntando se pode se aventurar a tal ou qual 
tentativa (por exemplo, ultrapassar uma construção fóbica), evidentemente não temos de 
recusar-lhe, então, nem nosso apoio nem nosso estímulo e, dessa maneira, obteremos todos os 
progressos esperados da atividade sem irritar ao paciente e sem perturbar as relações entre 
nós. Em outros termos: corresponde ao paciente determinar ou, ao menos indicar sem possível 
mal-entendido, o momento da atividade. Mas já se sabe que tais tentativas provocam 
variações de tensão nos sistemas psíquicos e que se demonstra que são um instrumento da 
técnica analítica ao lado das associações. 
 Em outro trabalho técnico8 chamei a atenção sobre a importância da translaboração; 
contudo falei dela em um sentido um pouco unilateral, como se se tratasse de um fator 
puramente quantitativo. No entanto, penso que a translaboração tem também um elemento 
qualitativo e que a reconstrução paciente do mecanismo de formação do sintoma e do caráter 
pode repetir-se enquanto se produza um novo progresso da análise. Cada nova compreensão 
das significações exige a revisão de todo o material precedente, o que poderia tergiversar 
fragmentos essenciais da construção que já acreditávamos terminada. Esse será o trabalho de 
uma dinâmica da técnica, que atenda a todos os detalhes, isto é, a de constatar as relações 
mais finas entre essa translaboração qualitativa e o fator quantitativo 
 Em cada caso parece retornar uma forma especial do trabalho de revisão. Penso, agora, 
na revisão das experiências vividas durante o tratamento analítico. Paulatinamente, a análise 
se converte em um fragmento da história do paciente e ele o repassa antes de se separar de 
 
7 Vejam-se os trabalhos sobre a técnica nos tomos III e IV. 
8 “O Problema do término da análise” neste volume. 
nós. Durante essa revisão, vê com certa distância e com maior objetividade as experiências do 
início de seu encontro conosco, as peripécias consecutivas da resistência e da transferência 
que durante um tempo lhe pareciam tão atuais e tão vitais, e desvia, em seguida, seu olhar da 
análise para dirigi-lo às implicações reais da vida. 
 Por último, desejaria assinalar alguns detalhes sobre a metapsicologia da técnica9. Em 
muitos dos meus textos se chama a atenção sobre o fato de que o processo de cura consiste, 
em grande parte, em que o paciente coloque o analista (o novo pai) no lugar do verdadeiro pai 
que ocupa um posto tão destacado em seu Superego e que, a seguir, prossiga vivendo com 
esse Superego analítico. Não nego que tal processo ocorre efetivamente em todos os casos e 
admito, inclusive, que essa substituição pode supor êxitos terapêuticos importantes, mas quero 
adicionar que uma verdadeira análise do caráter deve deixar, à margem, pelo menos no 
princípio, qualquer tipo de Superego, inclusive o do analista. Pois o paciente deve estar livre 
de qualquer laço emocional, na medida em que tal laço supere a razão e suas próprias 
tendências libidinosas. Somente essa espécie de construção de Superego pode facilitar uma 
cura radical; os resultados que somente consistiriam na substituição de um Superego por 
outro, devem ser considerados como transferenciais; não correspondem seguramente ao 
objetivo final do tratamento: livrar-se também da transferência. 
 Vou aludir a um problema que não apareceu até agora: a eventual metapsicologia dos 
processos psíquicos do analista durante a análise. Suas implicações oscilam entre a 
identificação (amor objetal analítico) por uma parte e controle de si ou atividade intelectual de 
outra. Durante sua grande jornada de trabalho, não pode se abandonar ao prazer de dar livre 
curso a seus narcisismos e a seu egoísmo na realidade, e na fantasia, só em alguns momentos. 
Não duvido que tal sobrecarga – que, ademais, apenas se encontra na vida – exigirá, cedo ou 
tarde, a elaboração de uma higiene particular do analista. 
 É fácil reconhecer os analistas não analisados (selvagens) e os pacientes 
incompletamente curados, eles sofrem de uma espécie de “compulsão a analisar”; a 
mobilidade livre da libido por trás de uma análise terminada, permite, pelo contrário, dirigir o 
conhecimento próprio e o domínio próprio analíticos, sem que isso impeça de gozar 
simplesmente a vida. O resultado ideal de uma análise terminada é, precisamente, essa 
elasticidade que a técnica exige também do psiquiatra. E ele é mais um argumento a favor da 
 
9 Por “metapsicologia” entendemos, como se sabe, a soma das representações que podemos 
fazer sobre a estrutura e o campo energético do aparelho psíquico baseando-nos na 
experiência psicanalítica Vejam-se os trabalhos metapsicológicos de Freud no tomo V 
das Gesammelte Werke. 
necessidade absoluta da “segunda regra fundamental da psicanálise”. 
 Dada a grande importância de qualquer conselho técnico não me decido a publicar 
esse artigo sem contar com a opinião crítica de um colega. 
 “O título (Elasticidade) é excelente”, declara meu crítico e deveria receber uma 
aplicação mais ampla, pois os conselhos técnicos de Freud eram, essencialmente, negativos. O 
que lhe pareceu mais importante era ressaltar o que não era conveniente fazer e assinalar as 
tentações que vinham contra a correnteza da análise. Quase tudo o que se pode fazer de 
positivo, o deixou a encargo do “tato” que menciona. Mas o resultado assim obtido foi que os 
sujeitos obedientes não captaram a elasticidade dessas convenções e foram se submetendo a 
elas como se se tratasse de leis-tabu. Era preciso revisar isso um dia, sem dúvida sem anular 
as obrigações. 
 “Ainda que o que você disse sobre “tato” é certo, me parece perigoso admiti-lo dessa 
forma. Aqueles que não o tem, verão nele uma justificativa do arbitrário, isto é, do fator 
subjetivo (influência dos complexos próprios irreprimíveis). Na realidade, estamos tentando 
sopesar, em um nível essencialmente pré-consciente, as diferentes reações que esperamos de 
nossas intervenções, o que conta, antes de tudo, é a avaliação quantitativa dos fatores 
dinâmicos na situação. Naturalmente não podem dar-se regras para tais medidas. A 
experiência e a normalidade do analista deverão decidir, no entanto, se deverá despojar o tato 
de seu caráter místico”. 
 Compartilho inteiramente a opinião do meu crítico, isto é, que essa indicação técnica 
conduzirá, como todas as precedentes e, apesar da maior prudência em sua formulação, a 
falsas interpretações e abusos. Sem nenhuma dúvida serão numerosos os que – não somente 
entre os debutantes mas, também, entre os que tendem ao exagero – aproveitarão minhas 
palavras sobre a importância de “sentir com” para situar o acento principal sobre o fator 
subjetivo do tratamento, isto é, sobre a intuição, desestimando o outro fator que considero 
decisivo, ou seja, a apreciação consciente da situação dinâmica. Vi alguns analistas utilizarem 
nossas tentativas de atividade que foram prudentes e ainda o serão mais – para aplicar a seu 
gosto medidas coercitivas, absolutamente não analíticas e, inclusive, impregnadas às vezes de 
sadismo. Não me surpreenderia, pois, escutar dentro de algum tempo que alguém tomou 
minhas considerações sobre a indispensável paciência e tolerância do analista como base para 
uma técnica masoquista. E, no entanto, o procedimento que aplico e recomendo, a 
elasticidade, não equivale em absoluto a ceder sem resistência. Todos tentamos certamente 
situar-nos na onda do paciente, sentir com ele todos os seus caprichos, todos os seus humores, 
mas todosnos atemos também, até o final, à nossa posição ditada pela experiência analítica: 
privar o “tato” de seu aspecto místico foi justamente o principal motivo que me impulsionou a 
escrever esse artigo; mas admito ter abordado simplesmente o problema sem conseguir 
resolvê-lo. No que concerne à possibilidade de formular conselhos positivos para a evolução 
de determinadas relações dinâmicas típicas eu seria, possivelmente, um pouco mais otimista 
que meu crítico. Por outra parte, sua exigência no que concerne à experiência e à normalidade 
do analista é quase equivalente à minha, isto é, que a única base confiável de uma boa técnica 
analítica é a análise acabada do analista. Em um analista bem analisado, os processos de 
“sentir com” e de avaliação, exigidos por mim, se desenvolverão não no inconsciente, mas 
sim, em nível pré-consciente. 
 As advertências apresentadas anteriormente me levam também a precisar outro ponto 
de vista já exposto nesse artigo. Trata-se da passagem em que se disse que uma análise de 
caráter, suficientemente ponderada, deve livrar-se de qualquer tipo de Superego. Um espírito 
excessivamente rigoroso poderia interpretar isso dizendo que minha técnica quer privar as 
pessoas de todos seus ideais. Na realidade meu combate se orienta contra a parte do Superego 
que se tornou inconsciente e por isso ininfluenciável; naturalmente não tenho nada que objetar 
a que um homem normal conserve em seu pré-consciente determinada quantidade de modelos 
positivos e negativos. No entanto, é certo que já não terá que obedecer como um escravo a 
esse Superego pré-consciente, como antes o fazia à imagem paterna inconsciente.

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