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Módulo II Constitucional

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DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROFª ALINA ROSSI
MÓDULO II – CONSTITUIÇÃO: CONCEITOS, 
CLASSIFICAÇÕES, ELEMENTOS, BREVE HISTÓRICO 
E ESTRUTURA.
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
• A constituição é um texto complexo, é impossível estabelecer apenas um conceito.
• Sentido sociológico – Ferdinand Lassale – Defende que a constituição deveria representar
um somatório dos fatores reais do poder, caso isso não ocorresse, seria ilegítima e não
passaria de “uma folha de papel”.
• Sentido político – Carl Schmitt – A constituição deveria representar uma decisão política
fundamental. Assim, teria que dispor sobre assuntos essencialmente constitucionais (forma
de Estado, Governo, Poderes...). Demais normas não seriam consideradas “constituição”
mas meras “Leis Constitucionais”.
• Sentido jurídico – Hans Kelsen – A constituição é o vértice da pirâmide do ordenamento
jurídico, responsável por dar fundamento e validade às demais normas. Assim, ela é
suprema.
• Sentido material – Desse ponto de vista, para definirmos se a norma tem ou não caráter
constitucional, temos que analisar seu conteúdo, pouco importando a forma através da
qual ela foi introduzida em nosso ordenamento. Será constitucional a norma que definir os
alicerces fundamentais do Estado, suas regras estruturantes.
• Sentido formal – Por outro lado, aqui pouco importa o conteúdo, mas sim a forma pela qual
a norma foi introduzida pelo ordenamento jurídico. Para essa concepção são constitucionais
as normas introduzidas pelo poder soberano, por meio de um processo legislativo mais
criterioso, mais solene do que o das demais leis. Vide art. 242, § 2º, CF.
• Sentido culturalista, total – Canotilho, Meirelles Teixeira - A constituição é fruto da
atividade humana. “Produto de um fato cultural, produzido pela sociedade, e que sobre ela
pode influir” Lenza.
• “É a organização jurídica fundamental do Estado” - Celso de Melo.
• “Constituição é o conjunto de preceitos imperativos fixadores de deveres e direitos e
distribuidores de competências, que dão a estrutura social, ligando pessoas que se
encontram em dado território em certa época” – Michel Temer.
• Em suma: Constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do
Estado.
• Várias denominações de Constituição são utilizadas pelos autores, objetivando
destacar o caráter de superioridade das normas constitucionais em relação às
demais normas jurídicas, tais como: Magna Carta, Lei Fundamental, Lei Superior,
Lei Máxima, Lei Maior, Código Supremo e Carta Política.
CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
• Gozam de supralegalidade – condição de norma positiva suprema. Todas as
normas que integram o ordenamento jurídico devem guardar relação de
compatibilidade com as que se encontram no ápice da pirâmide. Exigível relação
de compatibilidade vertical.
• São revestidas de rigidez – podem ser alteradas, exceto as cláusulas pétreas, por
meio de Emenda Constitucional. , para EC é necessário 3/5 de votos, em 2
turnos, em cada casa do Congresso Nacional. O procedimento é mais formal,
mais solene. Isso caracteriza nossa CF como rígida.
CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES
a. Quanto à origem – processo de positivação
• Outorgadas – Impostas pela vontade unipessoal ou de um pequeno grupo de 
pessoas. Ato unilateral de uma vontade política soberana. Ex. CF 1937.
• Promulgadas, populares ou democráticas – Positivada por meio de votação dentro 
de um órgão colegiado. Existe participação popular por meio de democracia direta 
ou democracia representativa. Ex. CF 88.
• Cesaristas – Unilateralmente elaboradas por quem detém o poder, mas dependem 
de ratificação popular (referendo). Contudo, essa participação não é democrática.
b. Quanto à forma
• Escrita: é o conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento,
para fixar-se a organização fundamental.
 Sintética – Concisa – Ex. EUA.
 Analítica – Extensa – Ex CF/88.
• Não escrita: é o conjunto de regras não aglutinadas em um texto solene, mas
baseado em leis esparsas, costumes, jurisprudência e convenções. Também
chamada de costumeira. Exemplo: Constituição Inglesa.
c. Quanto ao modo de elaboração
• Dogmática: sempre escrita. Elaborada por um órgão constituinte, sistematizando os
dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito que prevalecem no
momento.
• Histórica: não escrita, é a resultante da lenta formação histórica, do lento evoluir
dos fatos sócio-políticos, das tradições, que se cristalizam como normas
fundamentais do Estado. Ex. Constituição inglesa.
d. Quanto ao conteúdo
• Material: são normas constitucionais aquelas que regulam a estrutura do Estado, a
organização de seus órgãos e os direitos fundamentais – considera-se o conteúdo,
independentemente de onde a norma esteja determinada.
• Formal: aqui a preocupação é com a forma. São constitucionais as normas que
fazem parte de uma constituição escrita, elaboradas em um procedimento especial
(mais rígido), pouco importando seu conteúdo.
e. Quando à estabilidade ou mutabilidade de suas regras
• Rígida: Quando o procedimento para alteração das suas próprias regras é muito
mais formal e solene do que o procedimento utilizado para as outras deliberações.
A CF/88 é rígida.
• Flexível: Corresponde aos textos escritos das constituições costumeiras. A alteração
desses textos tem o mesmo grau de formalismo das demais normas.
• Imutável: não admite qualquer modificação em seu texto.
• Semirrígida: exige um processo legislativo mais rígido para determinadas normas e,
para outros, permite a alteração por um procedimento mais simples.
f. Quando à correspondência com a realidade - critério Ontológico – Karl Loewenstein
Normativas Nominalistas Semânticas
Nelas o processo de poder está
disciplinado de tal forma que os
agentes do poder subordinam-se
às determinações constitucionais,
possuindo, assim, eficácia social e
política. Condiz com a realidade.
Aquelas que, apesar de
juridicamente e formalmente
existentes, não são respeitadas
nem efetivadas. Isso ocorre
quando os poderes constituídos
ignoram sua supremacia, não
cumprindo seus preceitos. São
constituições prospectivas,
voltadas para, um dia, serem
realizadas na prática. Se
preocupam com o futuro
São constituições usadas pelos
dirigentes dos Estados para sua
permanência no poder, havendo
um desvirtuamento da finalidade
constitucional: em vez da
constituição limitar a ação dos
governantes em benefício dos
indivíduos (seu verdadeiro fim) é
utilizada por estes para a
manutenção do próprio poder.
Esconde a realidade.
g. Quanto à finalidade
• Constituição-garantia: é o modelo clássico, proposto pelo movimento constitucionalista. A 
Constituição é responsável por estruturar e delimitar o poder do Estado, bem como 
estabelecer a divisão de poderes e assegurar direitos fundamentais. Típicas dos Estados 
liberais.
• Constituições-balanço: A constituição espelha a ordem política, econômica e social 
existente naquele momento. Quando esse momento é superado, uma nova Constituição 
deve ser promulgada. Ocorreu na União Soviética.
• Constituições-dirigentes: Traz, além do que propõe a constituição garantia, um plano de 
evolução política, contendo diretrizes a serem seguidas por ele. “Normas programáticas”, 
de cunho social, que trazem um rumo traçado e que deve ser buscado pelo Estado. CFBR 
88.
CLASSIFICAÇÃO DA CFBR 88
• Promulgada
• Formal
• Escrita
• Rígida
• Analítica
• Dogmática
• Dirigente
• Eclética
• Nominal
ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
• Agrupamento das normas constitucionais conforme sua finalidade.
• José Afonso da Silva identifica as seguintes categorias de elementos:
 Elementos orgânicos – regulam a estrutura do estado e do Poder. Ex. Título III; Título IV.
 Elementos limitativos – determinam direitos e garantias fundamentais – limitaa atuação 
do Estado. Ex. Título II.
 Elementos socioedeológicos – afirmam o compromisso do Estado social, 
internvencionista. Ex. Capítulo II do Título II.
 Elementos de estabilização constitucional – objetivam assegurar a solução de conflitos 
constitucionais, em nome da defesa das instituições democráticas. Ex. art. 102, I, “a”.
 Elementos formais de aplicabilidade – determinam as regras de aplicação da Constituição. 
Ex. preâmbulo.
BREVE HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Quantas Constituições o Brasil teve?
1. 1.824 (Constituição do Império) 
2. 1.891 (Constituição da República Velha)
3. 1.934
4. 1.937
5. 1.946
6. 1.967 
7. ?? EC 01/1969* - sofre profunda alteração por força de uma emenda constitucional outorgada 
pelos 3 ministros que tomaram o poder ???
8. 1.988 – Atual 
Dessa forma teríamos tido 7 constituições – posicionamento controvertido, porém majoritário.
*O STF disse que a EC 01 é uma nova Constituição e, portanto, possui autonomia.
CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO – 1.824
• Assembleia constituinte instaurada após a Proclamação da independência. Foi dissolvida por D. Pedro I,
que outorgou a constituição em 25/03/1824.
• É a que vigorou por mais tempo no nosso país
• Características:
 Modelo de Estado Imperial
 Vigia a monarquia hereditária
 O modelo de estado imperial era unitário (se contrapõe ao estado federal) o poder está centralizado, as províncias
não detinham nenhum poder de autonomia.
• Durante todo o império o Brasil foi um Estado confessional (contrapõe-se ao estado leigo, ou laico) – tem
uma religião obrigatória ligada ao Estado – Católica Apostólica Romana (os próprios padres eram pagos
pelo governo, como se fossem funcionários públicos). As outras religiões eram permitidas, mas desde que
com o culto doméstico, sem forma alguma exterior de templo.
• Existia o 4° poder: moderador – com a função de zelar pela harmonia entre os três poderes, o que
obviamente concentrava os poderes nas mãos do imperador.
• O sufrágio não era universal – só podiam votar as pessoas que demonstrassem ter uma certa renda, que
era aferida durante um censo. A doutrina o chama de sufrágio censitário.
• É semirrígida porque previa dois instrumentos diversos para alteração de suas normas.
1.891 – 1ª CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA
• 15/11/1889 – Declaração da República - o movimento republicano substitui a monarquia (a
família imperial Orleans e Bragança foi deposta). As forças armadas derrubam o imperador,
Teodoro da Fonseca assume o poder temporariamente.
• As províncias formaram os Estados Unidos do Brasil.
• Forma federativa de Estado e republicana de governo.
• Assegura a autonomia dos Estados – inspiração no modelo norte-americano de federação.
• Tripartição de poderes (Montesquieu) – abolido o poder moderador.
• Forma rígida da constituição – alteração por procedimento especial.
• Declaração de direitos e abolição da escravatura.
CONSTITUIÇÃO DE 1.934
• Marco no direito constitucional brasileiro, consagra o constitucionalismo social. É a 1ª que
constitucionaliza os direitos de 2ª geração (sociais, econômicos, do trabalho).
• Constituição promulgada
• Cria a justiça do trabalho dentro da CF
• Direito de voto das mulheres
• Estrutura do Estado é a mesma da Constituição de 1.891.
• Momento histórico mundial: a partir de 1933 na Europa começam a surgir os poderes
totalitários, Adolf Hitlher e Benito musoline.
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO NOVO – 1.937
• 10/11/37 – Getúlio Vargas dissolve a Câmara e o Senado e outorga a Carta de 1.937.
• Inspiração facista, autoritária: poderes nas mãos do Presidente da República.
• Chamada de Constituição Polaca – alusão à constituição Polonesa.
• Pena de morte para crimes políticos e censura prévia.
• Regime autoritário – ditadura de Vargas.
• Estado de exceção – derruba autonomia dos estados membros, determinando o
fechamento de todas as casas do poder legislativo e câmaras municipais. As leis dessa
época foram editadas pelo chefe do executivo, Getúlio Vargas, por meio de decretos
CONSTITUIÇÃO DE 1.946
• Término da 2ª Guerra mundial.
• Fim do Estado Novo: redemocratização do Brasil. Queda de Vargas.
• Promulgada – constituição democrática - restabelece o exercício pleno dos 3 poderes,
autonomia dos estados federativos.
• Adota a federação como forma de Estado – autonomia política para os Estados.
• Em 31/03/1964 – inicia movimento militar que, a princípio, resguardava de respaldo
popular. Inicia assim, a revolução que vai fazer com que os militares permaneçam no poder
por vários anos.
CONSTITUIÇÃO DE 1.967
• Outorgada na vigência da ditadura militar.
• Preocupação com a “segurança nacional” – centralização político- administrativa na união.
• Ampliação dos poderes do Presidente da República.
• Redução dos direitos individuais.
CONSTITUIÇÃO DE 1.969 (EMENDA 1 À 
CONSTITUIÇÃO DE 1.967)
• Formalmente é uma emenda à constituição de 1.967 – 1ª emenda.
• Contudo, para parte da doutrina, é considerada nova constituição outorgada.
• O Brasil é governado pelo Ato Institucional n° 5.
• Iniciou-se o movimento “diretas já”. 
• Tancredo Neves é eleito e adoece. Assume José Sarney.
• A EC 26 convoca o congresso constituinte.
CONSTITUIÇÃO DE 1.988
• Foi positivada pelo processo clássico de assembleia constituinte.
• Fim dos governos militares – redemocratização do país.
• “Pode-se, em uma grande síntese, afirmar que a constituição de 1988 pretendeu dar ao
Brasil a feição de uma social-democracia, de criar um verdadeiro Estado Democrático-Social
de Direito, com a previsão de uma imensa quantidade de obrigações para o Estado,
traduzidas em prestações positivas, passíveis, em tese, de serem exigidas pela população
em geral”. Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino.
• “Constituição Cidadã”.
• Ampliação dos direitos fundamentais.
• Fortalecimento de instituições democráticas (Ex. Ministério Público).
• Maior autonomia dos municípios.
• Fortalecimento do Poder Judiciário e do Poder Legislativo.
ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO
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IX 
D. C. G
ADCT – ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS 
TRANSITÓRIAS
• Reúne dois tipos de preceitos:
 Que regulam uma harmoniosa transição do regime constitucional anterior para o novo
regime constitucional. Ex. Art. 16 do ADCT.
 Que possuem caráter meramente transitório, com sua eficácia exaurida tão logo aconteça
a situação neles previstas, mas não dizem respeito à regras de transição. Ex. art. 3º ADCT.
• Norma transitória que perde sua eficácia jurídica quando a situação nele prevista se
concretiza.
• Possui numeração própria.
• É parte integrante da Constituição.
• Existem normas no ADCT que extrapolam essa finalidade básica – regular o período
de transição.
TDH – TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS
• CF, art. 5º, § 3º: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”.
• Tratados de Direitos Humanos.
• Aprovação pelo mesmo quórum exigido para Emendas Constitucionais.
• Atualmente
• Incluído pela EC 45/2004.
• Atualmente: Tratado dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência.

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