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A montanha dos sete abutres

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Segunda-feira, Agosto 15
Resenha do filme A Montanha dos Sete Abutres 
Charles Tatum, interpretado por Kirk Douglas, é um jornalista que, após perder diversos empregos em jornais grandes, consegue se empregar no pequeno jornal de uma cidade interiorana chamada Albuquerque. Contudo, manter-se nesse jornal não é a meta de Tatum, que espera ansiosamente por um furo de reportagem que o recoloque na grande imprensa. Inescrupuloso e capaz de manipular, distorcer ou inventar fatos, Tatum está disposto a tudo para conseguir a grande matéria que o levará de volta para a sua antiga posição.
Um tanto contrariado e a pedido de seu editor, Tatum é enviado para cobrir uma caça às cascavéis em uma cidade vizinha. É justamente nessa viagem que ele se depara com a aguardada grande notícia. E como o próprio Tatum prega que “a morte de centenas ou milhares de pessoas não tem o mesmo interesse que a morte de uma única pessoa”, um homem, Leo Minosa, que está praticamente soterrado numa caverna, vira presa fácil para um jornalista ambicioso e meticuloso que está em busca de uma grande matéria.
O desfecho da história se torna um tanto óbvio para quem percebe que o jornalista descarta a necessidade da veracidade para a notícia. Tatum debocha do quadro escrito “diga a verdade”, posto na redação do jornal. Aproveitando a ambição pessoal da mulher de Minosa e do Xerife, Tatum consegue corromper a todos, incluindo também o fotógrafo, que acaba ignorando seus princípios perante a idéia de sucesso de Tatum.
O filme, apesar de ter sido produzido na década de 50, mostra um pouco das trapaças e falcatruas que naqueles tempos eram absurdos e chocantes (basta notar a reação do editor do jornal quando Tatum faz seus comentários) e que hoje nada mais são do que normais, naturais e até mesmo aceitáveis. A Montanha dos Sete Abutres é retrato do que era e ainda é o meio jornalístico (ainda com mais densidade que antigamente), o que o torna, por si só, atual.
É possível notar na imprensa (principalmente na grande imprensa) o quanto alguns profissionais (da informação) não estão preocupados com a notícia, mas, sim, com a autopromoção. Transformam notícias em mercadorias, apenas mais um produto para ser colocado no mercado e consumido. Portanto, manipulam-se fatos para tornar a matéria mais atraente para uma população que também está preocupada em apenas consumir e não em se informar, ignorando questões básicas e não questionando a veracidade (ou qualquer coisa que o valha). Tatum é o arquétipo desse tipo de jornalismo, capaz até mesmo de “morder um cachorro” na falta de notícias.
O filme, apesar de ser considerado um clássico do cinema americano, sofreu algumas dificuldades quando lançado, o que já devia ser esperado. Afinal, ele não poderia ser bem aceito pela imprensa marrom que se sentiu atacada, e nem pelo público que se viu caricaturado.
Billy Wilder produziu um filme que, se é clássico, é o muito mais para o jornalismo, merecendo, portanto, espaço e discussão em torno dele nos cursos de Comunicação para sabermos o que queremos fazer e o que está sendo feito com a informação nos dias de hoje.
posted by Thiago Duran Nogueira @ 1:39 PM 
1 Comments:
At Agosto 16, 2005 3:12 PM,  Rafael Galvão said... 
A discussão sobre jornalismo acaba ofuscando um pouco do filme. É um clássico absoluto, feito por um diretor que praticamente não fez filmes ruins. Cá do meu canto acho que é muito mais uma observação sobre o cinismo e a miséria humanas do que especificamente sobre jornalismo.
Tem gente muito boa que considera esse o melhor filme de Wilder; eu não chego a tanto, mas é um filme absolutamente maravilhoso.
MÍDIA E CINEMA
Notícias e abutres
Alexandre Gomes
Todo fazedor de jornais deve tributo ao Maligno. [La Fontaine]
Clássico do cinema americano, A montanha dos sete abutres (Ace in the hole), quase vale por um curso de Jornalismo, por apresentar reflexões tão atuais que mal se pode acreditar que tenha sido feito no início da década de 50 (1951). Assistir a este filme – como ler Ilusões perdidas, de Balzac – é essencial a quem se aventura no terreno a cada dia mais pantanoso do jornalismo.
A história do filme é relativamente simples. Um jornalista desempregado nos grandes centros por conduta questionável busca refúgio em pequeno jornal da província, em Albuquerque, no estado do Novo México. Após longo e tedioso ano ele finalmente encontra uma matéria que pode levá-lo de volta ao grande circuito: um homem preso em velhas ruínas indígenas, justamente na Montanha dos Sete Abutres que dá o título do filme em português – até mais adequado que o título original.
O drama humano, as circunstâncias reais ou inventadas pelo repórter para a trama e a abordagem sensacionalista logo chamam a atenção do público. Aos poucos o repórter envolve tudo no enredo da sua história, manipula o xerife para ter acesso exclusivo às ruínas, controla a mulher da vítima para que ela a contragosto desempenhe um papel teatral como semiviúva. Por fim, ele obriga o empreiteiro responsável pelo salvamento a adotar um método de resgate que demoraria uma semana, em vez de outro que libertaria a vítima em menos de 24 horas, pois precisa prolongar o espetáculo ao máximo. Quando estão próximos de serem salvos – o soterrado da caverna e o repórter do ostracismo provinciano – a vítima morre de pneumonia e acaba por provocar um surto de remorso no jornalismo.
Mas não só o enredo principal permite uma reflexão profunda sobre o jornalismo: a todo momento o protagonista dita suas máximas e conselhos sobre o ele considera notícia. Apesar de quase caricaturais, já que ele enuncia coisas que nem sempre são ditas, as reflexões dele revelam toda a ideologia da "penny press" americana. "Eu posso cuidar de grandes notícias e pequenas notícias, e se não houver notícias eu saio e mordo um cachorro" ("I can handle big news and little news. And if there’s no news, I’ll go out and bite a dog"), diz Charles Tatum ao pedir emprego no jornal de Albuquerque, brincando com a clássica definição do que é notícia.
Num dos trechos mais elucidativos da ideologia da "penny press" – quando Tatum discute durante uma viagem com o novato Herbie Cook o que é jornalismo e o que é notícia – o protagonista diz que os anos de faculdade de Cook foram inúteis, muito mais útil teria sido a experiência de Tatum como vendedor de jornais pelas esquinas de Nova Iorque. Desta experiência ele aprendeu o que é notícia – entendida como sendo aquilo que interessa ao público, que vende jornal.
A morte de centenas ou milhares de pessoas, prega Tatum, não tem o mesmo interesse que a morte de uma única pessoa. Neste evangelho do penny press a morte de milhares é apenas um número, enquanto a morte de uma única pessoa tem "interesse humano", faz com que as pessoas "tenham interesse em saber tudo sobre ele".
A necessidade da notícia de impacto – que vende – independe da verdade, tanto que o quadro com a frase "Diga a verdade" na redação do jornal de Albuquerque é constantemente ironizada por Tatum e, pressionado por temores de consciência, é com ela que ele tenta se reconciliar no final do filme. A "construção da notícia" também é enfocada por Tatum durante a viagem já mencionada. Ele e Herbie vão cobrir um festival de "caça a cascavel" e Tatum menospreza o evento, a despeito das centenas de serpentes. "Não preciso de centenas de cascavéis, dêem-me apenas umas 50 no Centro de Albuquerque", diz ele. O pânico causado pelas cascavéis caçadas pelas ruas da cidade seria amplificado quando uma única cobra ainda restasse, e este último réptil estaria guardado na gaveta de Tatum, escondida para que a história prosseguisse.
Quase não há inocentes na história brilhantemente dirigida por Billy Wilder, a despeito de ela ter sido um grande fracasso comercial. Tatum é quase tão vítima como o acidentado Leo Minosa. O público que acorre em massa ao local do acidente (que gerou um segundo título pelo qual o filme é conhecido, The big carnival), que acompanha com grande interesse por jornais
e rádios a epopéia, é que fornece o leit-motiv da abordagem sensacionalista.
A mulher de Minosa, ansiosa por dinheiro e por sair ela também do buraco, o xerife ambicioso, que se submete à conspiração de Tatum para garantir sua reeleição, são apenas os atores mais evidentes de um enredo de oportunismo do qual só escapa a patética, quixotesca figura do pai de Leo, emblematicamente a única a ficar defronte das ruínas após Tatum anunciar a morte de Leo.
Se os jornalistas que acorrem em massa ao evento – como no caso real do soterramento de Floyd Collins em 1925, que inspirou o filme e inaugurou a "história de fundo humano" como produto da imprensa – protestam contra Tatum não é pela manipulação da notícia e da emoção dos leitores, mas sim porque ele conseguiu o monopólio do acesso a Leo com suas maquinações. Mesmo o aparentemente inocente Herbie demonstra-se encantado com as teorias de Tatum e ansioso por segui-lo na fama, deixando de lado seus princípios.
O fracasso do filme é facilmente explicável, afinal dificilmente ele seria bem visto pela imprensa que se veria retratada nele – e com isto compartilha o destino de seu contemporâneo Cidadão Kane. Retrata também o gosto da massa, dos consumidores de notícias ansiosos por uma desgraça que lhes traga alguma emoção à vida, e por isto certamente também não agradou.
O filme tem um final dramático, no qual transparece um fundo moral que quase empobrece a trama com uma alegoria melada. Mas é sobretudo um final otimista porque demonstra alguma esperança de uma renovação ética do jornalismo. Em resenha clássica, William Shriver disse que o filme é para o jornalismo impresso o que outro clássico, Rede de intrigas (Network), é para a TV, ainda que a comparação brilhante seja talvez imprecisa.
Rede de intrigas – outro filme essencial aos jornalistas – é apenas uma atualização do filme de Wilder para a década de 70. A grande diferença é que Network não comporta a mesma esperança no final, porque já demonstra a informação em adiantado estado de mercantilização, não mais fazendo sentido senão como produto de uma indústria cultural, feita não mais para informar, mas apenas para ser consumida.
Se em 1951 Tatum era um caso extremo, hoje ele seria a regra absoluta de um jornalismo que não é só industrial por adotar modernos processos de produção e disciplina fabril, mas também porque não produz informação, e sim mercadoria. Hoje já não haveria espaço para Mr. Boot – o editor do jornal de Albuquerque que orgulhosamente exibe o quadro "Tell the truth" e tenta conter os excessos de Tatum –, porque sua visão de que a informação é um meio para as pessoas viverem melhor e não um fim em si mesmo já não tem mais vez no jornalismo industrial moderno.
É o segundo melhor filme dele.....
O que me lembro deste filme na época, e o que ficou marcante de genial do diretor, e que vai além da interpretação dos atores, pq os supera, é que B. Wilder faz uma magistral alegoria, colocando todos os personagens principais e inclusive a sociedade (aqui alegoricamente colocada como verdadeiro personagem principal a partir de uma etapa do filme), coloca todos no "buraco", enterrados: 1- o personagem mineiro, fisicamente no buraco, nem precisa disso explicação, mas sim o que decorre deste fato fisíco, e que passa a ser, em decorrência, a gerar, um fato moral 2- o jornalista, ta no buraco moral, quer subir a qualquer preço, às custas dos outros, subir na profissão e subir para a capital, sair do "buraco" que é a cidadezinha do interior 3 - o xerife, quer ser reeleito e para isso não tem vergonha de usar o caso do mineiro para tentar conseguir subir, tá no buraco tb, 4 - a da "viúva" que deseja até a sua morte para que possa sair daquela cidade e dá em cima do jornalista, que tb dá em cima dela e depois dá uma de certinho e arrependido e enojado, qdo o mineiro morre 5- por fim, também está no buraco, em um grande buraco, o principal, o maior de todos, a sociedade, a massa, o povo, que vai para lá não para ajudar, mas movido pela curiosidade mordaz, pelo desejo do mal, que ele ocorra ou se perpetue, pelo espetáculo, para lucrar, por tudo estar transformado em um grande espetáculo em que a sociedade assim passa a ser o ator principal, e para nos passar uma verdadeira imagem disto, o diretor insere no espetáculo, como analogia, no local onde ocorre a tragédia, um parque de diversões!!! Isto mesmo, logo surge os que irão querer lucrar com a tragédia, não apenas o jornal, xerrife, o jornalista, a mulher "viúva", logo montam barracas de cachorro-quente, vendem tudo e para todos de comida à diversão, e todo tipo de gente vai para lá, ou seja, toda a sociedade representada, e aquele imenso parque, com sua grande roda gigante, transformando tudo em um grande espetáculo, ficando a tragédia apenas no fundo, lá no fundo... do buraco!!!!! Esta é a visão de Wilder, da sociedade desta época, da sua sociedade da década de 50, época do macarthismo, sociedade de classes extremada ideologicamente, em que um grande redemoinho moral empurra para baixo tudo que possa prestar, arrastando para o fundo, o fundo do inferno moral, ou da "peste emocional" como diria o psicólogo Reich. O filme expressva o mal estar de toda uma sociedade, de todos, da hipocrisia social das máscaras, e sendo assim, poucos "cidadaos de bem" gostaram do filme, principalmente, os que perceberam toda a alegoria traçada em sua amplitude pelo mestre Wilder. Este filme tem sua história, assim como outro filme trágico do mesmo diretor "crepusculo dos deuses" este odiado até pelos próprios produtores de hollywwod bem como toda hollywood, pois era o ocaso alegórico do proprio cinema, pq os desmascarava, e nada puderam fazer para impedir Wilder de o fazer, pq ele já estava famoso e tinha uma certa "autonomia de voo". Pois enquanto ele fazia comédia tudo bem, até aceitavam pq ainda fazia rir, e de quebra ainda lhes enchia os bolsos (dos diretores e dos produtores de cinema) de dinheiro, mas quando o filme era uma tragédia, ahhh, aí a coisa ficava complicada, pois não tinha meio-termo ou risinho de canto de boca, não havia escapismos. Por tudo isto, este filme devia estar melhor pontuado, só perdendo para o "crepúsculo dos deuses.”
A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (1951)
Ace in the Hole
Ficha Técnica
	Outros Títulos:
	El gran carnaval (Espanha) 
L'asso nella manica (Itália) 
Le gouffre aux chimères (França) 
	Gênero:
	Drama, Filme Noir
	Direção:
	Billy Wilder
	Roteiro:
	Billy Wilder, Walter Newman, Lesser Samuels
	Produção:
	Billy Wilder
	Música Original:
	Hugo Friedhofer
	Fotografia:
	Charles Lang
	Edição:
	Arthur P. Schmidt
	Direção de Arte:
	Hal Pereira, A. Earl Hedrick
	Figurino:
	Edith Head
	Maquiagem:
	Wally Westmore
	Efeitos Sonoros:
	Harold Lewis, Gene Garvin
	Pais:
	Estados Unidos
	Nota:
	8.8
	Filme Assistido em:
	1952
Elenco
	Kirk Douglas
	Charles 'Chuck' Tatum
	Jan Sterling
	Lorraine Minosa
	Robert Arthur
	Herbie Cook
	Porter Hall
	Jacob Q. Boot
	Frank Cady
	Sr. Federber
	Richard Benedict
	Leo Minosa
	Ray Teal
	Xerife Gus Kretzer
	Lewis Martin
	McCardle
	John Berkes
	Papa Minosa
	Frances Dominguez
	Mama Minosa
	Gene Evans
	Policial
	Frank Jaquet
	Sam Smollett
	Harry Harvey
	Dr. Hilton
	Geraldine Hall
	Nellie Federber
	Richard Gaines
	Nagel
	Edith Evanson
	Srta. Deverich
	Ken Christy 
	Jessop
	Francisco Day
	Fotógrafo
	Lester Dorr
	Padre Diego
	Charles Griffin
	Sr. Wendel
	Frank Keith
	Bombeiro
	Bert Moorhouse
	Josh Morgan
	Bert Stevens
	Repórter
Prêmios
Festival Internacional de Veneza, Itália
Prêmio Internacional (Billy Wilder) 
Indicações
Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Roteiro Original 
Festival Internacional de Veneza, Itália
Prêmio Leão de Ouro (Billy Wilder) 
Videos
Sinopse
Charles Tatum é um repórter que, após ser despedido de diversos empregos em grandes jornais do Leste, chega sem dinheiro
à pequena cidade de Albuquerque, no Novo México. Ao passar defronte ao “Sun Bulletin”, ele decide entrar e pedir uma oportunidade ao Sr. Jacob Q. Boot, dono e editor-chefe desse pequeno jornal da cidade. Ao Sr. Boot, ele diz ser um repórter de US$250 semanais, mas termina concordando com apenas US$50 por semana oferecidos pelo editor.
Manter-se nesse jornal não é sua meta, que espera ansiosamente por um furo de reportagem que o recoloque na grande imprensa. Inescrupuloso e capaz de manipular, distorcer ou inventar fatos, ele está disposto a tudo para conseguir a grande matéria que o levará de volta à sua antiga posição. 
Sentindo-se um tanto entediado e sem motivação, Tatum é enviado para cobrir uma caça às cascavéis em uma cidade vizinha, juntamente com o repórter fotográfico Herbie Cook. No meio do caminho, eles param para abastecer o carro, quando Tatum toma conhecimento que Leo Minosa, um jovem proprietário, acha-se preso em uma caverna onde fora procurar relíquias indígenas. Quando lhe é dito que a caverna acha-se localizada na sagrada Montanha dos Sete Abutres, o repórter sente que essa pode ser a grande chance que esperava, mas para isso precisa ter o controle da situação.
Ignorando as ordens do xerife, ele e Herbie vão até a caverna onde descobrem Leo preso numa estreita e instável fenda. Tatum acalma o apavorado Leo, tira uma foto dele e, ao retornar, telefona para Boot e lhe fala sobre o grande furo jornalístico. Assim, ele transforma o resgate de Leo em um assunto nacional, atraindo milhares de curiosos, cinegrafistas de noticiários e comentaristas de rádio, além de forçar Lorraine, a mulher de Leo, a se fazer passar por uma esposa arrasada. Na verdade ela ia abandonar o marido nesse trágico momento, mas Tatum a faz ver que ela pode ganhar um bom dinheiro na sua lanchonete quando as pessoas começarem a chegar para ver o que está ocorrendo. 
No dia seguinte, quando o primeiro artigo é publicado no “Sun Bulletin”, o ponto comercial de Lorraine é invadido por um grande número de visitantes. Por outro lado, ao saber das condições de saúde de Leo, através do Dr. Hilton, Tatum propõe ao xerife Gus Kretzer que estenda a operação de resgate por uma semana, alegando que, agindo assim, os dois vão ganhar muito em publicidade.
Quando outros repórteres reclamam da posição privilegiada de Tatum, o xerife anuncia que não permitirá ninguém mais na caverna por razões de segurança. Lá, Leo diz a Tatum que espera que esse seu acidente ajude de alguma forma a salvar seu casamento. Ao retornar da caverna, Tatum esbarra em Boot, que descobrira sua esperteza e o condena pelo tipo não ético de fazer jornalismo.
Nagel, um editor de Nova York, telefona para Tatum e concorda em lhe pagar US$1000 por dia pela cobertura da história. Irrequieta, Lorraine pede a Tatum que a leve consigo para Nova York, e ele lhe responde com um beijo.
Dr. Hilton informa a Tatum que Leo desenvolveu uma pneumonia e que precisa ser resgatado o mais rapidamente possível. Já Leo, pede ao jornalista que lhe traga um padre. Na manhã seguinte, Leo, com dificuldades para respirar, pede a Tatum que entregue à Lorraine um presente que ele comprou para ela. Desesperado e furioso, o jornalista a encontra e a força a vestir o presente do marido, uma barata estola de peles. Ela reage, ele tenta estrangulá-la com a estola e ela o apunhá-la com sua tesoura. Embora sangrando, Tatum leva o padre até a caverna. Leo morre enquanto o padre faz suas orações.
Sentindo muitas dores e cheio de culpa, Tatum telefona para Nagel, a quem declara ter sido ele o responsável pela morte de Leo. De volta aos escritórios do “Sun Bulletin”, ele diz a Boot que o editor não vai poder mais contar com ele para nada, caindo, logo em seguida, morto.
Críticas
“A Montanha dos Sete Abutres” é mais um brilhante filme do grande mestre Billy Wilder, responsável por inúmeras pérolas do cinema, dentre as quais cito, como exemplos, “Farrapo Humano” (1945), “Crepúsculo dos Deuses” (1950) e “Pacto de Sangue” (1944). Tendo recebido, ao longo de sua carreira, 20 indicações ao Oscar e sido agraciado com 6 estatuetas como diretor e/ou roteirista, neste filme ele assina a produção, a direção, além de co-assinar o roteiro. Com um roteiro ambicioso, Wilder procura focar a manipulação de notícias por pessoas que só desejam explorar o sensacionalismo a custas do sofrimento humano.
A trilha sonora de Hugo Friedhofer encaixa-se perfeitamente com as ações, assim como ocorre com a fotografia de Charles Lang, que se acha em completa harmonia com a atmosfera decorrente do roteiro. A trama procura chamar atenção para o poderoso xerife corrupto, para a imprensa interessada apenas em vender notícias, para a vítima usada para outros interesses que não o seu resgate e para o povo completamente manipulado e com memória curta.
No elenco, Kirk Douglas nos brinda com uma brilhante atuação no papel do repórter sem escrúpulos. Jan Sterling, no papel de uma mulher obstinada e sexy, apresenta-nos um ótimo trabalho, assim como, os coadjuvantes Richard Benedict e Robert Arthur.
Enfim, “A Montanha dos Sete Abutres” é um filme imperdível.
CAA
A Montanha dos Sete Abutres 
Com as asas dos urubus
A Montanha dos Sete Abutres é um filme de 1951 que ainda mantém uma atualidade gritante. Ok, é um filme feito há mais de cinco décadas, rodado em preto e branco e protagonizado por Kirk Douglas – na época em que ele ainda fazia papel de mocinho. Ou seja, essa fita de Billy Wilder carrega um estilo imagético já superado pela indústria cinematográfica. Mas o seu discurso não envelheceu em nada, sobretudo quando lembramos que vivemos em tempos de George W. Bush. O filme trata de um assunto exaustivamente discutido nas universidades de comunicação, a credibilidade e imparcialidade jornalística.
Em A Montanha dos Sete Abutres, Kirk Douglas vive o jornalista Charles Tatum, que saiu desempregado dos grandes centros por causa de sua conduta pouco ética. E ele só consegue emprego em um pequeno jornal de uma província do Novo México. Tatum está com o ego ferido. Acostumado com o glamour de Nova Yorque, ele sente-se rebaixado no novo trabalho. Mesmo assim, se mantém no jornal, cobrindo pequenas notícias. Tudo o que ele espera é o dia em que acontecerá um grande acontecimento por aquelas banda. Dessa forma, ele planeja catapultar seu nome de volta à elite da imprensa americana.
E o dia chega quando ele descobre um homem soterrado em uma antiga mina. Tatum vai utilizar aquele incidente da forma que mais lhe convém. Ele manipula a família do homem e faz uma matéria sobre o caso. No dia seguinte, o homem ainda está soterrado. Os curiosos começam a chegar no local e, como ele esperava, a imprensa de Nova Yorque. O jornalista fará de tudo que estiver ao seu alcance para se manter na linha de frente daquela cobertura, inclusive mantendo a vítima do incidente soterrada por mais alguns dias. Como um abutre que circunda em espera do animal moribundo, ele planeja a melhor forma de degustar a refeição futura.
A Montanha... denuncia o que há de mais infame no jornalismo: a manipulação da informação e, o que é pior, a manipulação do fato em si. Tatum finge ajudar a família da vítima e convence o xerife local a ajudá-lo em sua farsa. É uma alegoria que discute até onde vai o poder da imprensa, até que ponto devemos fazer vista grossa para o dito “jornalismo marrom”.
Entretanto, o que há de mais cruel no longa metragem de Billy Wilder é a noção de que praticamente todos estão colaborando de alguma forma para o circo que é literalmente armado em volta daquela tragédia (chegam a montar um parque de diversões, obviamente atraídos pela multidão de curiosos que acampa próximo à mina). Apenas três pessoas parecem não querer aproveitar (de forma lúdica ou financeira) aquela situação: o dono do pequeno jornal, o pai e a mãe do homem soterrado. A própria esposa da vítima, que no início da história ensaia uma fuga com os poucos dólares da caixa registradora do pequeno comércio que são donos, retrocede
de sua empreitada ao perceber que poderia ganhar muito dinheiro com o acontecimento. E ganha. Além dos muitos hambúrgueres que vende aos famintos curiosos, ela chega a cobrar a entrada no local.
Dessa forma, A Montanha dos Sete Abutres levanta um questionamento que ultrapassa a mera crítica à imprensa. Billy Wilder afirma em letras garrafais que o problema está é no ser humano. Tatum é apenas o estopim para que essas pessoas se prontifiquem a transparecer alguns dos piores traços de caráter imagináveis. Ele demonstra isso claramente com a corrupção da polícia, com a ganância da esposa ou com a covardia do empreiteiro (que cede à chantagem do xerife que o obriga a fazer o resgate da forma mais difícil e demorada).
De qualquer modo, o filme deixa no fim uma luz de redenção, embora tardia. Ao término da fita, o homem que está soterrado não resiste e morre de pneumonia. Tatum cai em si. O jornalista que fora capaz de enganar tantas pessoas; manter um homem preso em uma mina durante sete dias; capitalizar perversamente o seu “furo” jornalístico, não resiste a culpa de seus atos. É uma conclusão cristã, pois o pecador se pune em busca de algum perdão. É Tatum quem anuncia à multidão a morte do homem. Na mesma penitência, ele desiste de escrever a matéria que o devolveria à elite jornalística. E, por fim, na última seqüência ele retorna cambaleante à redação do pequeno jornal que abandonara. E como São Francisco de Assis que se expropria de toda a riqueza dos pais, Tatum oferece seus serviços de graça ao antigo chefe. A queda do personagem, no último plano do filme, é a metáfora do homem derrotado e humilhado.

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