Buscar

cultura da convergencia

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Artes e Comunicação
Departamento de Rádio, TV e Internet
Comunicação Comparada – Patricia Horta
Aluna: Ingrid de Moura Costa
Resenha: JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.
	
Na introdução de “Cultura da Convergência”, Henry Jenkins explicita os três conceitos que permearam as páginas a seguir: convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva. O livro se estrutura em seções que tratam da cultura da convergência a partir de casos de produtos culturais e softwares característicos desse paradigma: Survivor, American Idol, Matrix, Guerra nas Estrelas, Harry Potter, Photoshop e YouTube. Depois de rastrear a problemática a Ithiel de SolapOol, que tratou do poder de transformação dos usuários nas indústrias midiáticas, Jenkins fala dos meios como sistemas de distribuição. Entender a convergência midiática nessa perspectiva é mais precisa: tecnologias não morrem ou são substituídas, mas incorporadas e transformadas por novas tecnologias e práticas culturais. 
O primeiro capítulo fala da inteligência coletiva mobilizada em torno do objetivo de descobrir os segredos do reality show Survivor. Jenkins conta a história de Chill One, como era conhecido um usuário que publicava informações sobre o que ainda estava para acontecer no programa. O autor fala de um texto de Emily Nussbaum chamado “The End of the Surprise Ending”, no qual se discute como a busca incessante por informação em torno de obras seriais acaba por minar experiências consolidadas historicamente como surpresas e reviravoltas. O mais interessante, entretanto, neste capítulo, é a descrição de como os produtores lidavam com a discussão sobre o seriado nos fóruns. De um lado, tentava plantar desinformação para evitar a descoberta dos finais, mas de outro puderam utilizar a discussão como uma verdadeira inteligência coletiva que poderia ser analisada para identificar expectativas e desejos dos consumidores. 
Os reality shows como narrativa transmidiática que consegue esse status principalmente através da participação assíncrona é o tema do segundo capítulo. Em tempos de economia afetiva, explica Jenkins, os consumidores conseguem mostrar a redes e anunciantes que pode ser mais importante e lucrativo preferir espectadores mais engajados e envolvidos do que espectadores em maior número, porém pouco ligados às histórias, narrativas e produtos. Este capítulo traz a discussão sobre a efetividade da publicidade e novos tipos de publicidade. Começa essa discussão ao tratar dos problemas em se medir efetividade de anúncios – em diversos meios – através da métrica “impressão”. De certa maneira, medir a efetividade de um programa apenas por número único de espectadores é tão ineficiente quando medir publicidade por “impressões”. Jenkins cita o caso exemplar da Coca-Cola e sua produção de conteúdo de entretenimento associado à marca. Considerar programas televisivos a partir do grau de engajamento dos espectadores – fóruns, fan fictions, eventos etc – pode ser mais efetivo em um contexto transmidiático. 
A temática da narrativa transmidiática perpassa o terceiro capítulo. A franquia Matrix é discutida, especialmente os produtos criados em 2003, ano de lançamento das sequências Matrix Reloaded e Matrix Revolutions. Jenkins mostra como parte da crítica especializada representa um tipo de consumo midiático ainda não condizente com os novos tipos de narrativas. Ao criticar os dois filmes como produtos únicos e idealmente fechados, identificaram lacunas de sentido, falhas no roteiro e personagens soltos. O que estes críticos não perceberam é que os dois filmes estiveram inscritos em um universo transmidiático que utilizou suportes como quadrinhos, sites, animações e jogos eletrônicos. O autor explica como produtos culturais reconhecidos pela crítica como Casablanca devem parte do seu sucesso e status de cult às referências múltiplas que evoca. Matrix parte do mesmo princípio e guarda inúmeras referências como códigos, nomes de personagens, números etc. Estes elementos servem como deixas para a interação social e produção de paratextos pelos consumidores. Matrix, entretanto, leva essas estratégias à “enésima potência” e envolve também um tipo de complementaridade entre narrativas de diferentes mídias ainda pouco vista. O envolvimento necessário, diz Jenkins, pode ter resultado em que, para os fãs, os filmes ofereceram pouco e, para o consumidor comum, ofereceram demais. 
Também é interessante observar, neste capítulo, o caso do filme A Bruxa de Blair como exemplo de narrativa transmidiática de baixo orçamento. Criado por cineastas iniciantes, o filme começou a se tornar um fenômeno de arrecadação a partir das milhares de pessoas ansiosas pela exibição de uma suposta fita real citada por um site que exibia evidências, documentos, áudios e vídeos sobre bruxas nos Estados Unidos. Talvez associado com a crescente apropriação de elementos da estética do documentário pelo cinema ficcional, sintoma de uma sociedade cada vez mais vigiada, o sucesso de Bruxa de Blair também é um exemplo de narrativa transmidiática. 
Os filmes de Guerra nas Estrelas são o ponto de partida do quarto capítulo, no qual Jenkins discute interatividade e participação. Este primeiro conceito “refere-se ao modo como as novas tecnologias foram planejadas para responder ao feedback do consumidor”, enquanto participação se refere a práticas mais ilimitadas e controladas pelos consumidores. A web tem se tornado o espaço privilegiado de participação nos universos de produtos culturais como os filmes de George Lucas. 
Henry Jenkins trata da história das produções artísticas entre cultura tradicional, cultura de massa e cultura da convergência. Para o autor, a cultura da convergência estaria resgatando e transformando o papel da participação “popular”, relegado durante o século XX com a mídia de massa. Cita Lawrence Lessig, que já afirmou que “ninguém pode fazer com a Corporação Disney o que Walt Disney fez com os Irmãos Grimm” ao tratar do Digital Millenium Copyright Act. O que Jenkins pretende mostrar é que a produção cultural sempre se baseia em algo já produzido em maior ou menor grau. Leis e aparatos das grandes corporações ignoram este fato ao rechaçar a reapropriação feitas pelos usuários através de fan fictions, por exemplo. O final do capítulo se dedica a questões envolvendo o MMORPG Star Wars Galaxies. Neste caso, é realmente o próprio produto que é modificado pelos usuários, em uma complexidade digna de sistemas políticos nacionais. 
Letramento midiático é o tema do quinto capítulo, que discute a questão a partir das “guerras de Potter”. O autor se refere à tentativas da direita religiosa de tentar banir os livros da série Harry Potter das bibliotecas escolares e livrarias públicas e à tentativas da Warner Bros de proibir apropriações de fãs do universo dos livros e filmes de Harry Potter. Jenkins compara o letramento midiático, apropriadamente, ao alfabetismo tradicional: só é considerado alfabetizado e letrado alguém que saber ler e escrever. O mesmo deveria acontecer com as mídias. Não basta consumir, mas também saber produzir. Em relação à guerra “contra” os advogados de Warner Bros., Jenkins mostra como é uma luta não muito esperta: essas apropriações e expansões do universo de Harry Potter são parte do sucesso e continuidade dos produtos oficiais. Os cristãos mais ortodoxos, por sua vez, tentaram banir os livros, mas eram confrontados também por outros cristãos que mostram a importância da diversidade de consumo de obras, inclusive para associar à valores da religião. 
O sexto capítulo do livro e o posfácio tratam da utilização de softwares e plataformas online para fins políticos e democráticos. Hoje é possível utilizar programas do tipo WYSIWYG para criar montagens com tanto valor e densidade política quanto charges de grandes jornais. Jenkins discute o “photoshop” pela democracia ao tratar do apoio popular às campanhas de Howard Dean e a luta pela construção
de sentidos em eventos, como a suposta irregularidade da ausência de George W. Bush na Guerra do Vietnã. Este é um exemplo dos mais paradigmáticos neste capítulo. O autor mostra como cidadãos comuns, através de blogs, mostraram falhas e os aspectos falsos de memorandos que provariam que Bush utilizou da influência familiar para não lutar na guerra. O essencial aqui é observar como a rede de TV, a CBS, reagiu com descrédito para, mais à frente, ser obrigada a se desculpar publicamente e demitir produtores e repórteres envolvidos.
 O posfácio apresenta questões envolvendo o YouTube. Se programas simples de edição de vídeo já existem nos computadores há anos, o crescente aumento na banda e a possibilidade de publicação em sites de compartilhamento de vídeo em streaming ampliou as possibilidades e poderes dos cidadãos. Aqui a discussão se inicia com o relato de um debate entre candidatos nas prévias americanas que contou com perguntas enviadas à rede pelo YouTube. Nesta ocasião, também foi utilizada uma animação que mostrava um boneco de neve preocupado com o aquecimento global. Jenkins mostra opiniões divergentes sobre o uso de tal recurso e sobre a legitimidade e relevância da utilização de vídeos do YouTube. As características do YouTube, que permitem a participação através de produção, seleção e distribuição são enfatizadas pelo autor ao argumentar que esta plataforma pode ser usada para esquadrinhar e coletar fontes de discussão, para produzir a partir desses materiais ou originalmente e, claro, distribuir o conteúdo através dos recursos de favoritamento e compartilhamento social. Sobre a relação com a mídia mainstream, Jenkins mostra que a CNN, por exemplo, apresenta preferencialmente os vídeos mais pitorescos, dando a falsa impressão de que a internet é uma mídia que se resume a este tipo de conteúdo. O limite tênue entre entretenimento e participação política é um campo de disputas, como mostra o sucesso de outros vídeos produzidos com o personagem “boneco de neve”, que avançou a discussão sobre a diversidade da participação política. 
Parte da conclusão e do posfácio de Cultura da Convergência também servem como um contrabalanço com as possibilidades oferecidas pelas novas mídias. A produção de vídeos sexistas e racistas sobre Hillary Clinton e Barack Obama durante as primárias, por exemplo, mostram que nem sempre estas novas mídias são apropriadas com fins democráticos. Em relação à educação, Jenkins também mostra que muito ainda deve ser trilhado. A solução da “restrição” é a mais utilizada quando se trata de avaliar perigos que novas mídias podem representar, ao invés da ideal educação sobre como as novas mídias podem ser apropriadas. 
Recife, Junho de 2011

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais