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As concepções éticas do direito ambiental diante do novo constitucionalismo latino americano

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21/03/2018 Editora Fórum - Plataform Fórum de Conhecimento Juridico
http://bidforum.com.br/bidBiblioteca_periodico_print.aspx?i=232376&p=3 1/21
80
Fórum de Direito Urbano e Ambiental - FDUA 
Belo Horizonte, ano 14, n. 80, mar./abr. 2015
As concepções éticas do direito ambiental diante do novo constitucionalismo latino-
americano
Bernardo Lima Vasconcelos Carneiro 
Resumo: O presente artigo examina as diferentes concepções éticas que procuram
justificar a finalidade última das normas protetivas do meio ambiente (antropocentrismo
e ecocentrismo), apontando os principais fundamentos jus-filosóficos utilizados por cada
uma. Passo seguinte, analisa o surgimento e as características conformadoras do
recente movimento denominado “novo constitucionalismo latino-americano”,
investigando qual perfil ético-ambiental é acolhido pelas pertinentes Cartas. Por fim,
pautando-se na pragmática jurídica, expõe uma visão crítica acerca da dogmática
incorporada por tais Constituições no que se refere ao direito ambiental.
Palavras-chave: Direito ambiental. Concepções éticas. Novo constitucionalismo latino-
americano.
Sumário: 1 Introdução - 2 As concepções éticas do direito ambiental - 2.1 O
antropocentrismo - 2.2 O ecocentrismo - 3 O novo constitucionalismo latino-americano -
3.1 O novo constitucionalismo latino-americano: formação e principais características -
3.2 A concepção ético-ambiental do novo constitucionalismo latino-americano - 4
Conclusão: nossa percepção sobre o tema - Referências
 
1 Introdução
Sem o objetivo de esgotar o tema, o presente trabalho se dedicará a examinar as diferentes
concepções éticas, de natureza jusfilosófica, que impregnam o direito ambiental, cada qual detendo
uma peculiar percepção sobre o propósito das normas protetivas do meio ambiente, variando-se de
uma postura centrada no homem, enquanto núcleo das preocupações do direito, a outra de viés
universalista, quase animista, passando por pontos intermediários.
Analisar-se-á também os principais elementos que caracterizam o que se convencionou chamar de
“novo constitucionalismo latino-americano”, enquanto movimento de renovação da dogmática jurídico-
constitucional verificada nos últimos anos em alguns países da América do Sul, para, em seguida,
focar-se nas pertinentes normas de proteção ambiental, especialmente no que toca à atribuição de
direitos, por tais Cartas, a seres vivos diversos do homem e, mesmo, a seres inanimados.
Por fim, expor-se-á nossa percepção crítica acerca do tema, focando-se na questão da utilidade
prática em se adotar uma das correspondentes correntes.
2 As concepções éticas do direito ambiental
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Entende-se por concepções éticas do direito ambiental as diferentes formas de se enxergar, de
se conceber a finalidade última das normas pertinentes ao citado ramo do direito, o que resulta dos
diversos modos possíveis de se entender o porquê da preocupação do homem com a questão
ambiental, o porquê da necessidade de preservação do meio ambiente. É que, tendo em vista a
possibilidade de assunção de distintos pressupostos jurídico-filosóficos atinentes ao tema do
relacionamento do homem com a natureza, cada qual erigido sobre bases discordantes, formam-se
múltiplas correntes doutrinárias sobre o questionamento acerca da razão de ser (a ratio essendi) do
próprio direito ambiental, cada qual pregando um objetivo ético próprio como norteador da aludida
produção jurídica.
A questão ganha maior relevância acadêmica e prática, todavia, na medida em que se tem em mente
que a adoção deste ou daquele alinhamento doutrinário-ideológico não diz respeito nem se resume
apenas a questões metafísicas ou jusfilosóficas. Muito pelo contrário, do ponto de vista estritamente
jurídico, o acolhimento de uma dessas vertentes repercute inevitavelmente na forma de se interpretar
e, consequentemente, também de se aplicar as normas do direito ambiental, como será melhor
compreendido com os exemplos citados mais abaixo.
Pois bem, a despeito de pequenas divergências terminológicas, pode-se dividir em basicamente duas
as linhas de pensamento a respeito do tema, tendo-se, de um lado, o antropocentrismo e, de outro,
o ecocentrismo.1 O marco divisório de tais posicionamentos vai residir na delimitação que cada um
dá à extensão significativa do conceito de “vida”, enquanto cerne da preocupação e objeto central de
proteção das normas ambientais. Como bem coloca Fernanda Andrade Mattar Furtado:
A partir da percepção do direito ambiental como direito à qualidade de vida, é que surgem as
controvérsias acerca da “vida” que se pretende proteger. Tendo como objeto de estudo a relação
do homem com a natureza, o direito ambiental pode ser centrado tanto na vida humana quanto
na vida sem adjetivações (humana ou não). Os movimentos ecológicos se posicionam sob dois
diferentes prismas: na defesa da dimensão antropocêntrica ou da dimensão ecocêntrica do
direito ambiental.2
Sumariamente explicitado o sentido que se atribui às concepções ético-ambientais e apontadas as
duas principais correntes formadas sobre o assunto, analisemos agora separadamente cada uma
delas, examinando suas características e pressupostos.
2.1 O antropocentrismo
Nas sociedades ocidentais,3 o direito como um todo, desde sua época clássica, sempre foi centrado
na ideia de que o homem era o criador e o destinatário único das regras jurídicas, sendo estas
elaboradas com o exclusivo objetivo de regulamentar harmoniosamente a convivência humana,
tornando-a possível e possibilitando o progresso social. Com efeito, o direito – enquanto ciência e
prática cotidiana, desde suas primeiras manifestações formais e escritas na Roma Antiga, passando
pela era das codificações positivista e liberais, verificada após o fim da regulamentação
consuetudinária, amorfa e estritamente local dos tempos medievais, até chegar à fase do
constitucionalismo – sempre teve como pressuposto a busca pela satisfação do homem, na medida
em que esta somente é alcançável através da segurança proporcionada pela pacificação social
almejada pela normatização de seu comportamento.
Para os que assim enxergam a questão, nem poderia ser diferente, já que o homem é o único animal
racional, o único ser vivo consciente de si mesmo, o único ser vivente que reflete sobre sua vida e sua
conduta, tendo por fim atingir determinados objetivos, de modo que apenas o comportamento do ser
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humano pode ser normatizado, isto é, pode ser objeto de normas jurídicas. E mais, se o direito é
criação da razão humana, fruto do desejo do homem de construir um mundo melhor para si e para
seus descendentes, as regras jurídicas somente podem ter por objetivo proteger e salvaguardar os
interesses do próprio homem.
Como se nota, o antropocentrismo possui como forte base filosófica o racionalismo, cuja origem
mais recente, enquanto movimento intelectual de reflexão crítica acerca da importância e do papel
desempenhado pela razão humana, remonta ao iluminismo do século XVIII.
Prosseguindo e de uma forma mais concisa, poder-se-ia dizer, então, de acordo com esta linha de
pensamento, que o direito sempre possui por finalidade o bem-estar do homem e nada mais. Ora,
trazendo esta concepção jus-filosófica para a seara do direito ambiental, tem-se que a proteção
jurídica do meio ambiente, por conseguinte, dar-se-ia também no exclusivo interesse do ser humano,
ou seja, a preservação da fauna, da flora e dos outros elementos abióticos que compõem os
ecossistemas visaria apenas garantir a sobrevivência, a qualidade de vida ou o simples deleite da
espécie humana. Sobre o ponto, traz-se a lição de Fagner Guilherme Rolla:
De acordocom esta visão, um bem que não seja vivo, material ou imaterial, assim como uma
vida que não seja humana, poderá ser tutelado pelo direito ambiental na medida em que for
relevante para a garantia da sadia qualidade de vida do ser humano, visto ser este o único
animal racional e por isto, destinatário das normas jurídicas.4
Pelo teor do trecho doutrinário transcrito, percebe-se mais uma vez a influência do racionalismo na
formação do pensamento antropocentrista. Contudo, deve-se abrir aqui um parêntese para frisar que,
por mais paradoxal que isso possa parecer à primeira vista, muitos dos adeptos da corrente
antropocêntrica erigem suas conclusões em pressupostos bem distintos dos apontados acima, vez
que baseados em argumentos teológicos, religiosos, notadamente aqueles de tradição judaico-
cristã. Com efeito, os que assim constroem seu raciocínio – se é que podemos utilizar este termo em
tal caso – baseiam-se na ideia de que o homem, sendo o único animal criado à imagem e semelhança
de Deus e tendo sido colocado sobre a Terra por aquela divindade para dela usufruir, procriar e
multiplicar-se, colocar-se-ia em uma posição de superioridade em relação aos demais animais e
outros elementos naturais existentes no planeta. Nesta condição, poderia o homem, então, desfrutar
da natureza a seu bel prazer, dela extraindo todas as utilidades de que necessite, inclusive sem
preocupações sobre um eventual esgotamento desses recursos, vez que a divindade criadora,
onipotente, estaria olhando por todos.
Feito o registro, importa notar que, como não podemos construir qualquer pensamento científico em
cima de argumentos religiosos e metafísicos, descartemos esses e fiquemos apenas com o
racionalismo como base de fundamentação teórico-filosófica para a defesa do antropocentrismo
enquanto concepção ética do direito ambiental.
Pois bem, partindo desse racionalismo antropocêntrico, constrói-se a ideia de que a proteção
jurídica do meio ambiente não é instituída porque este – enquanto universalidade de elementos
bióticos e abióticos que compõe os diferentes ecossistemas existentes no planeta, o qual, por sua
vez, pode também ser considerado um grande ecossistema global – é detentor de alguma especial
qualidade que por si mesma mereça ser preservada, como se a “Mãe Natureza” constituísse uma
subjetividade abstrata capaz de possuir direitos e prerrogativas próprias exercitáveis mesmo contra o
homem.
Pelo contrário, para o antropocentrismo ambiental, a preservação da natureza, a proteção dos bens
ambientais e a defesa do equilíbrio ecológico são formalizados através das regras jurídicas com o
objetivo último de garantir a sobrevivência do homem. De acordo com essa ótica, a exploração dos
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recursos naturais deve ser garantida e até mesmo incentivada, na medida em que é indispensável à
manutenção da vida e à obtenção de prazer pelo homem.
Seguindo-se a mesma lógica, contudo, há de se vedar aqueles comportamentos que, pautados em
valores puramente egoísticos e esquecendo a dimensão social e geracional da existência humana,
extrapolem o uso racional desses recursos, vez que capazes de deteriorar, destruir ou esgotar a fonte
da sobrevivência do homem.
Deve ficar claro, aqui, que a adoção da concepção ético-ambiental antropocêntrica, todavia, não
implica a afirmação de que apenas a vida do homem é objeto de proteção por parte do direito
ambiental. Não se trata disso. Na verdade, mesmo em se adotando tal concepção, parte-se do
pressuposto de que há de se proteger a vida em todas as suas formas, como, por sinal,
expressamente garante nossa ordem jurídica (art. 3º da Lei nº 6.938/81). Contudo, essa proteção,
para o antropocentrismo, fica condicionada à verificação de que o elemento protegido seja
efetivamente útil ao próprio homem. Isto porque, como será dito mais abaixo, existem certas formas
de vida que, em determinadas situações, em certa quantidade ou em ambientes específicos, são
prejudiciais ao homem, fazendo com que não mereçam a proteção conferida pelo direito ambiental.
A visão antropocêntrica vai mais além, permitindo até mesmo a proteção de elementos naturais
desprovidos de vida, como uma grande rocha que apresente uma bela composição estética, a
exemplo da conhecida “Pedra Furada” localizada na Praia de Jericoacoara, no Ceará. A proteção do
elemento natural, aqui, com prega o antropocentrismo, não é motivada pelo “valor da pedra em si” ou
pelo suposto “direito da pedra de continuar a ser pedra” ou, ainda, no “direito da pedra de continuar
apresentar a forma que possui hoje”. Não. A preservação da formação rochosa com seu peculiar
aspecto deve ser buscada, na medida do possível – isto é, até onde vai a capacidade humana de
evitar os naturais processos de erosão e outras formas de transformação do solo –, para se manter a
fonte de prazer estética gerada no homem através da contemplação.
O que interessa para o antropocentrismo, pois, é que a preservação do elemento da natureza, biótico
ou abiótico, seja do interesse do homem, quer porque essencial à manutenção da vida na Terra, quer
porque lhe seja útil do ponto de vista prático, representando alguma comodidade material, quer
simplesmente porque lhe proporciona deleite visual. Celso Antônio Pacheco Fiorillo, cuja visão
antropocêntrica é expressamente assumida, nos ensina o seguinte:
de acordo com esta visão, temos que o direito ao meio ambiente é voltado para a satisfação das
necessidades humanas. Todavia, aludido fato, de forma alguma, impede que ele proteja a vida
em todas as suas formas, conforme determina o art. 3º da Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei n. 6.938/81), cujo conceito de meio ambiente, foi, a nosso ver, inteiramente recepcionado.
Se a Política Nacional do Meio Ambiente protege a vida em todas as suas formas, e não é só o
homem que possui vida, então todos que a possuem são tutelados e protegidos pelo direito
ambiental, sendo certo que um bem, ainda que não seja vivo, pode ser ambiental, na medida
que possa ser essencial à sadia qualidade de vida de outrem, em face do que determina o art.
225 da Constituição Federal (bem material ou mesmo imaterial). Desta forma, a vida que não
seja humana só poderá ser tutelada pelo direito ambiental na medida em que sua existência
implique garantia da sadia qualidade de vida do homem, uma vez que numa sociedade
organizada este é o destinatário de toda e qualquer norma. [...] Na verdade, o direito ambiental
possui uma necessária visão antropocêntrica, porquanto o único animal racional é o homem,
cabendo a este a preservação das espécies, incluindo sua própria.5
Como se nota, a concepção antropocêntrica do direito ambiental possui uma nítida ótica utilitarista
quanto à preservação do meio ambiente, vez que se protege unicamente porque esta proteção é útil
ao homem, e não porque a natureza seja detentora, por si mesma, do “direito de continuar a existir”
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ou “do direito de não ser agredida”. As regras protetivas dos bens ambientais não teriam por
fundamento, pois, qualquer valor intrínseco que estes pudessem ter. De acordo com tal corrente, essa
proteção jurídica possui caráter meramente instrumental, vez que instituída apenas porque
serviente dos interesses do homem.
Nesse sentido, leciona Frederico Augusto de Trindade Amado que para a visão antropocêntrica, “a
proteção ambiental serve ao homem, como se este não fosse integrante do meio ambiente, e os
outros animais, as águas, a flora, o ar, o solo, os recursos minerais não fossem bens tuteláveis por si
sós, autonomamente, independentemente da raça humana”.6 E citando o professor português Antônio
Almeida, prossegue explicando que:
o antropocentrismodefende a centralidade indiscutível do ser humano e valoriza a natureza de
um ponto de vista instrumental. Tal centralidade não implica a negação da necessidade de
preservação da natureza, uma vez que o mundo natural constitui um recurso quase que
ilimitado, suscetível de poder ser utilizado para os mais diversos fins humanos (agrícola,
industrial, medicinal).7
Para os defensores da percepção antropocêntrica do direito ambiental, a “prova prática” – a que já se
fez referência acima – de que as normas ambientais, para além de qualquer dúvida, são criadas a
partir de uma visão antropocentrista, seria o fato de que amplamente se aceita a morte e a tentativa
de extermínio de todas as formas de vida que representem ameaça à saúde do homem ou mesmo a
suas plantações, rebanhos e demais fontes de alimento, como os vírus, bactérias, mosquitos, ratos,
baratas, cupins, entre outras pragas do gênero. As fábricas de inseticidas, fungicidas, antibióticos e
antivirais estariam aí para comprovar tal fato. Não sem uma ponta de ironia, os antropocentristas
perguntam se algum biocentrista seria capaz de defender seriamente o fim da perseguição humana
contra esses seres em nome da preservação ambiental.
Para os antropocentristas, assim, quando a cabeça do art. 225 da Constituição Federal assevera que
todos (aludindo-se a uma subjetividade dos destinatários da norma) têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações, a Lei Maior teria aderido à referida tese, visto que apenas o homem pode ser
sujeito de direito, ao passo que todas as outras coisas, incluindo os animais, são somente objeto
de direito.
Defendem os adeptos da corrente antropocêntrica, ainda, que a própria Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como ECO 1992, reconhecidamente progressista
em vários aspectos relacionados à proteção ambiental, teria assumido expressamente uma postura
antropocêntrica ao prever em seu Princípio 1º que “os seres humanos estão no centro das
preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em
harmonia com a natureza”.
Para os críticos do antropocentrismo, por sua vez, essa concepção ética do direito ambiental,
construída com base na “ultrapassada” filosofia liberal, racionalista e positivista que marcou o início da
era moderna e do próprio capitalismo – emergente quando do declínio do sistema econômico
medieval, este marcadamente agrário e fundado na produção de subsistência –, baseado, pois, na
lógica da produção excedente, da busca incessante do lucro e do proveito individual, fez com que o
homem se enxergasse como elemento estranho da natureza, visualizando-se como posicionado
verticalmente acima dos demais elementos naturais que o cercam. Essa equivocada percepção,
segundo esses críticos, proporcionadora de uma visão estritamente instrumentalizante dos bens
ambientais, acabou por incentivar a instituição de um sistema de exploração sistemática e
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indiscriminada dos recursos naturais, acelerando o processo de degradação ambiental e de
esgotamento desses recursos. Sobre o ponto, pondera Fernanda Furtado que:
Os direitos humanos como valores ocidentais foram concebidos sob a ótica individualista liberal,
e serviram de base para o desenvolvimento da economia capitalista. Nesse contexto, a natureza
sempre foi vista como um instrumental necessário para alcançar ganhos materiais. A natureza
pode ser dominada e explorada desde que se tenha em vista o benefício humano. Essa é uma
postura essencialmente patrimonialista e utilitária.8-9]
Como bem coloca Anatércia Rovani, a crítica descarregada contra a ética antropocentrista,
geralmente vinda de integrantes “mais radicais” dos recentes movimentos de conscientização
ecológica, “se empenha em enfatizar que o reducionismo da natureza à mera provedora de recursos
ignorou qualquer noção protecionista do meio ambiente”,10 pregando, assim, que a única solução
para a crise ecológica que catastroficamente se anuncia é a percepção das normas ambientais
enquanto instrumentos de proteção da própria natureza, enquanto detentora de valor por si mesma e
titular direitos autônomos. Cuida-se da tese do ecocentrismo.
2.2 O ecocentrismo
Para o ecocentrismo, como o nome está a indicar, as normas do direito ambiental são criadas não
em proveito do homem, buscando sua satisfação, mas sim com o objetivo de proteger a natureza,
porque ela, enquanto realidade concreta composta por todos os elementos naturais que nos cercam e
suas múltiplas interações, possui por si mesma o direito de ser protegida. Todos os elementos bióticos
e abióticos componentes dos ecossistemas de nosso planeta, para essa corrente, assim, merecem
proteção jurídica em função de valor intrínseco a eles próprios, independentemente de esta proteção
trazer qualquer benefício ao gênero humano.
Antes que sigamos, é importante fazer o registro de que existe ainda uma outra concepção ético-
ambiental que muitos autores apontam como uma terceira linha de pensamento, mas que, contudo,
pensamos seja melhor enquadrada dentro da corrente do ecocentrismo. Cuida-se do chamado
biocentrismo. Para este, em termos sucintos, o objeto do direito ambiental é proteção da vida em
todas as suas formas. Como se percebe, o biocentrismo encontra-se a meio caminho entre as duas
principais linhas de pensamento por nós já referidas. Com efeito, enquanto para antropocentrismo
apenas a forma de vida humana é objeto de preocupação das normas ambientais, possuindo a
proteção de todos os outros elementos naturais de caráter apenas instrumental, na medida em que é
instituída somente nas hipóteses em que proporcionar ao homem alguma utilidade; para o
ecocentrismo a proteção conferida pelo direito ambiental visa à conservação da integridade
ecológica de todos os componentes dos ecossistemas globais, detentores ou não de vida; e para o
biocentrismo as regras protetivas do direito ambiental possuem como meta preservar a vida, não
apenas a humana, mas a de todos os seres que habitam a Terra.
De toda forma, como já adiantado, acreditamos que, para fins didáticos e tendo em vista o objeto do
presente trabalho, podemos inserir o biocentrismo dentro do bloco do ecocentrismo, já que este,
sendo mais abrangente, abarca aquele. Feito o registro, prossigamos.
O ecocentrismo parte de uma fundamentação jus-filosófica que encara o homem como um animal
qualquer, tal como todos os outros que vagam sobre o planeta, não sendo detentor, pois, de nenhuma
qualidade especial que lhe confira a prerrogativa ou o direito de explorar e usufruir
indiscriminadamente dos demais seres vivos, bem como dos recursos abióticos existentes. Para os
defensores da visão ecocêntrica, esta, então, possibilita ao homem perceber-se enquanto elemento
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integrante da natureza, dela fazendo parte e dela dependendo inteiramente para sobreviver,
superando-se, assim, a concepção de que os bens ambientais existem para servi-lo. Sobre o ponto,
assevera Fernanda Furtado o seguinte:
No âmbito social, a teoria ecocêntrica propõe uma nova forma de solidariedade. O ser humano
não pode se colocar isolado ou superior ao meio natural que está a sua volta. É necessário que
haja um sentimento de pertença, o ser humano é parte do todo da biosfera, e como tal deve se
portar. O respeito mútuo entre os seres humanos deve se estender para abranger o respeito aos
seres vivos em geral, todos habitantes do mesmo espaço. Não há que se falar em hierarquia.11
Para oecocentrismo ambiental, todos os seres viventes, assim, estariam em igualdade de condições
no que se refere à necessidade (e ao direito) de ter a vida protegida e preservada, meta que se
alcança também por meio da regulamentação normativa levada a cabo pelo direito ambiental. Celso
Antônio Pacheco Fiorillo, citando a doutrina de Diogo de Freitas do Amaral, explica que para os
defensores da visão biocêntrica já não é mais possível considerar a proteção da natureza um objetivo
decretado pelo homem em benefício exclusivo do próprio homem, pois “a natureza tem que ser
protegida também em função dela mesma, como valor em si, e não apenas como um objeto útil ao
homem”.12 No mesmo sentido, Anatércia Rovani explica que para ética biocêntrica “a vida é valor
maior e deve ser sempre priorizada em quaisquer situações”. Ressalva a autora, todavia, que como “a
capacidade de dar valor as coisas é exclusiva do ser humano”, existiria aí “um elemento
antropocêntrico inevitável, que é parte substantiva da ética”.13
Nesses termos, sendo o homem o único animal racional, capaz, pois, de direcionar teleologicamente
suas ações para certos fins previamente traçados, caber-lhe-ia o papel de uma espécie de tutor dos
demais seres vivos e da própria natureza considerada em seu conjunto. Nessa condição, cumpriria ao
homem editar as normas protetivas do meio ambiente e fazer com que elas sejam obedecidas, de
modo que sua missão de protetor do planeta seja cumprida. Como logo se nota, a situação do ser
humano, nessa perspectiva, é um tanto contraditória, já que ele é também o único animal que polui,
entendido aqui o ato de poluição como atividade causadora de degradação ambiental que não tenha
como causa o suprimento de uma necessidade intrinsecamente natural relacionada à sobrevivência.
Assim, cabe ao homem proteger a natureza dele próprio.
A bem da verdade, segundo prega o ecocentrismo ambiental, não haveria propriamente uma relação
de oposição entre “homem” e “natureza”, na medida em que aquele é elemento componente desta,
fazendo parte das múltiplas relações de interação e sistemas de troca mantidos entre as diversas
entidades naturais, todas imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio ecológico, em uma espécie
de relação simbiótica, vez que geradora de vantagens recíprocas para todos os participantes do
sistema. A esse respeito, assevera Fagner Guilherme Rolla que:
A ética da natureza confere ao ser humano responsabilidades em relação ao meio ambiente e
dentro de uma concepção dialética da relação homem-natureza, a questão da oposição entre a
necessidade de restabelecer equilíbrios naturais e salvaguardar interesses humanos mostra-se
resolvida porquanto equilíbrios naturais são interesses humanos. O ser humano está ligado à
natureza em um equilíbrio simbiótico. O homem não se situa no exterior da natureza, mas é dela
um componente essencial. O logos reencontra a oikos num enlace, numa dialética fundamental
que liga o homem à natureza de maneira indissociável.14
Explica o mesmo doutrinador que, sendo o ser humano parte integrante das íntimas relações que
existem em todo o mundo natural, a consciência e a ética ecológica devem despertar nele a
compreensão de que “é apenas mais um ente entre tantos outros, ele é mais um elo do repertório
ecológico”.15 Assim, prossegue aduzindo que, existindo uma inter-relação de mútua dependência
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entre os entes da natureza, deve o homem perceber a existência de uma “paridade entre os entes do
repertório ambiental”,16 sob pena de que a interferência humana no meio ambiente, desprovida dessa
consciência, acabe por causar prejuízos tais que impossibilitem a sobrevivência de todos os seres
vivos do globo.
Deve-se ainda consignar aqui que, para a ala, digamos assim, mais “radical” do ecocentrismo, deve
ser aceito pelo ordenamento jurídico que mesmo os animais irracionais sejam titulares de direitos
subjetivos, passíveis, pois, de proteção judicial, cabendo ao homem, como único ser racional deste
planeta, garantir o exercício e a não violação destes direitos. Seguem essa lógica os defensores dos
chamados “direitos dos animais”, críticos, dentre outras práticas, do uso de bichos como cobaias em
experimentos médicos e farmacêuticos. Sobre essa tendência, explica Trindade Amado que:
conforme as lições de Peter Singer (autor da clássica obra “A Liberdade dos Animais”, 1975) e
de outros pensadores, sustenta-se a existência de valor nos demais seres vivos,
independentemente da existência do homem, notadamente os mais complexos, a exemplo dos
mamíferos, pois são seres sencientes (seres que possuem percepção, como dor e prazer). Por
essa linha, a vida é considerada um fenômeno único, tendo a natureza valor intrínseco, e não
instrumental, o que gerará uma consideração aos seres vivos não integrantes da raça humana.
De efeito, inspirada no biocentrismo nasceu a defesa dos direitos dos animais (abolicionismo),
movimento que vai de encontro à utilização dos animais como instrumento do homem, sua
propriedade, chegando a colocá-los como sujeitos de alguns direitos, notadamente os animais
sencientes autoconscientes.17
Para setor ainda mais sectário da linha ecocêntrica, também os elementos desprovidos de vida – tal
como uma pedra, um rio ou uma montanha – podem ser contemplados pela ordem jurídica objetiva
com a titularidade de posições jurídicas de vantagens, cujo respeito e observância poderiam ser
exigidas de seus correspondentes devedores, isto é, poderiam tais entidades abióticas serem
consideradas “sujeitos de direitos”, no que tal facção se distancia dos biocentristas.
Esse vanguardismo é possível, pois, a partir de concepções teológicas ou filosóficas fundadas em
pressupostos metafísicos, esta facção do ecocentrismo ambiental vislumbra a “Mãe Natureza” dos
povos bárbaros europeus, ou a “Gaia” dos gregos antigos, ou, ainda, a “Pacha Mama” dos povos
andinos pré-colombianos como uma entidade dotada, senão de um espírito transcendental, ao menos
de uma energia vital que lhe conferiria relevância moral capaz de justificar e demandar uma ação
humana voltada ao seu benefício. Na condição de sujeito de direitos, o meio ambiente, assim, surgiria
como uma universalidade de bens naturais cuja existência independeria da persistência temporal
deste ou daquele de seus elementos. Muito pelo contrário, assumindo atributos quase deísticos, sua
natureza holística e sua existência perene, embora paradoxalmente frágil, exigiria dos humanos
cuidado e veneração.
Partindo de certa forma em defesa dessa linha de pensamento, lembra Fagner Guilherme Rolla que
apesar de a ideia de o meio ambiente ser considerado objeto e, ao mesmo tempo, sujeito de direitos
causar, à primeira vista, “certa estranheza”, deve-se ter em mente que “no direito encontramos muitos
sujeitos que não são humanos, as pessoas jurídicas, as universalidades de direito, os órgãos formais
destituídos de personalidade jurídica, e outros”,18 aos quais são conferidos pelo ordenamento direitos
subjetivos, inclusive exercitáveis contra pessoas naturais. Para o citado professor, a mesma ficção
que possibilita a atribuição de personalidade jurídica a estes entes abstratos e incorpóreos também
possibilitaria, em tese, o reconhecimento formal, pela ordem jurídica, de personalidade à “Mãe
Natureza” ou mesmo aos seus elementos integrantes.
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Passando agora ao plano normativo,19 se é verdade que a Declaração do Rio assumiu uma postura
antropocentrista, como afirmado acima, cumpre destacar que a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, em um evidente engajamento na tese biocêntrica,
proclamou, em 1978, a Declaração Universaldos Direitos dos Animais, cujo objetivo era
influenciar os Estados a positivarem leis no mesmo sentido. O preâmbulo da declaração afirma
expressamente que todo animal possui direitos, tais como os direitos à existência, ao respeito e à
proteção do homem, além prever o direito à liberdade do animal selvagem. Ressaltava o citado
documento internacional também que a morte de um animal sem necessidade deveria ser qualificada
como um biocídio e ser considerada crime.20
Cumpre ainda consignar que, de acordo com alguns defensores do biocentrismo, a exemplo de Edis
Milaré,21 a previsão do art. 3º da Lei nº 6.938/81, o qual define o meio ambiente como “o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas”, traria em seu bojo também uma percepção biocêntrica
do direito ambiental, vez que demonstraria preocupação com a manutenção do equilíbrio ecológico
enquanto premissa para a preservação da vida, não necessariamente humana, na Terra. Acresça-se,
ainda, que, para os biocentristas, o disposto no inc. VII do art. 225 da Constituição Federal,
segundo o qual, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
incumbe ao Poder Público “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade”, representaria clara filiação da Carta Fundamental ao ideário da tese biocêntrica.
No âmbito da jurisprudência, há de se frisar que o Supremo Tribunal Federal, tendo como
fundamento a violação do aludido dispositivo, já teve oportunidade de declarar inconstitucional a
prática conhecida como “farra do boi”, tradicional no litoral de Santa Catarina (RE nº 153.531/SC),
além das “rinhas de galo” (ADI nº 3.776/RN; ADI nº 2.514/SC; ADI nº 1.856/RJ). Contudo, é
importante perceber que em nenhum desses julgados a Suprema Corte expressamente afirmou (ou
negou) que os animais possuíam direitos próprios. Na realidade, o Supremo não aderiu aberta e
claramente a qualquer das correntes tratadas pelo presente artigo, apenas reconhecendo que aquelas
atividades agrediam a citada norma constitucional.
Ainda sobre o mencionado preceito constitucional (art. 225, VII), importa notar que enquanto os
biocentristas afirmam enfaticamente que a norma ali veiculada se funda no direito dos animais à vida
e ao bem-estar, os antropocentristas, a seu turno, aduzem, não sem a mesma convicção, que, na
realidade, o preceito garante o direito dos seres humanos de não presenciarem – ou mesmo saberem
que não serão praticados ou tolerados – tais tipos de atividades, pois essas práticas trariam angústia
e desconforto para alguns.
3 O novo constitucionalismo latino-americano
Expostas, resumidamente e em linhas gerais, as principais características do pensamento adotado
pelas correntes antropocentrista e ecocentrista no que diz respeito à concepção ética do direito
ambiental, inclusive sumariando os argumentos invocados pelos defensores de cada uma dessas
vertentes, cumpre-nos, agora, para que alcemos os objetivos propostos pelo trabalho, examinar no
que exatamente constitui o chamado novo constitucionalismo latino-americano, bem como
identificar qual daquelas posturas jus-filosóficas foi acolhida por essa nova onda dogmático-
constitucional.
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3.1 O novo constitucionalismo latino-americano: formação e principais características
Percebe-se nos últimos anos uma significativa mudança nas bases políticas e institucionais de vários
países da América Latina. O aspecto mais evidente, à primeira vista, é a substituição do grupo
exercente do poder central, vez que saiu de cena – através de eleições democráticas – uma camada
da elite econômica que vinha comandando o país praticamente desde de sua emancipação da
metrópole europeia na primeira metade do século XIX, para ingressar setores tradicionalmente
excluídos dos espaços de decisão política.
Essa guinada efetivou-se alguns anos depois da derrocada dos muitos governos militares ditatoriais
que tinham lugar na região. O que ocorreu foi que, instaurado o processo de redemocratização,
voltaram a ocupar o lugar de mando desses países as mesmas velhas elites que sempre os
governaram, apenas trocando a farda militar pelo colarinho branco. É verdade que as torturas, os
desaparecimentos ou outras graves violações de direitos humanos cessaram, contudo a desigualdade
econômico-social e outras mazelas que perenemente afligiam estes povos tiveram continuidade. O
povo, então, cheio de ânsia por mudanças mais profundas nas relações sociais, organizando-se
politicamente, acabou por levar ao poder novos líderes, inspirados em novos ideais, apoiados por
novas bases. Enfim, uma mudança verdadeiramente sensível.
Ocorre que para que essa ruptura com o velho sistema de governo pudesse efetivamente enraizar-se,
perdurar e gerar frutos, fazia-se necessário mudar a Carta Política desses países, uma vez que é na
Constituição que estão dispostas as normas sobre a estrutura, a divisão e a forma de exercício do
poder pelo Estado, bem como os princípios fundamentais estruturantes da nação, além dos objetivos
perseguíveis pelos governantes, e, talvez o mais relevante, o rol de direitos humanos fundamentais
intangíveis, reconhecidos e garantidos à população. São promulgadas, pois, as primeiras
Constituições desse movimento vanguardista na dogmática constitucional: a Constituição da
Venezuela em 1999, a Constituição do Equador em 2008 e Constituição da Bolívia em 2009.
Esse processo, que ficou conhecido como novo constitucionalismo latino-americano – alguns
preferem adjetivá-lo de “sul-americano”, vez que, como se viu, seus países representantes estão
propriamente localizados na parte sul do continente americano –, pretendeu refundar as bases do
Estado, reconstruindo-o através da incorporação de novos valores democráticos e plurais, servindo
como uma espécie de “novo grito de independência” frente aos países de industrialização mais
adiantada, que durante a história sempre exploraram injustamente suas riquezas e interviram em seus
assuntos domésticos toda vez que os rumos que estavam sendo tomados não lhes agradavam.
Essas novas Cartas Constitucionais, criando um direito novo, ao mesmo tempo em que reconheceram
a pluralidade cultural e étnica desses países, buscaram integrar harmoniosamente todos os povos
existentes em seu território, muitos dos quais sempre haviam sido excluídos dos processos de
decisão política, como os indígenas do Altiplano boliviano ou da Amazônia equatoriana. Os novos
textos constitucionais buscaram instituir instrumentos garantidores de uma maior participação
democrática, cidadã, por meio da qual se pudesse construir uma sociedade mais livre, solidária e
justa, por meio de um maior e mais efetivo controle do governo estatal pela sociedade, pelo povo, tal
como é o caso do “Poder Cidadão” na Venezuela, ou do “Quinto Poder” no Equador, ou, ainda, do
“Controle Social” na Bolívia.
Como destacam os estudiosos do tema, com o surgimento desse novo constitucionalismo latino-
americano, os países economicamente periféricos da América do Sul deixaram de simplesmente
imitar, copiar, quase que literalmente transpor a doutrina e a produção normativo-constitucional da
Europa continental, como sempre ocorreu durante toda sua história, para passar a assumir uma
postura protagonista, inovadora no cenário do constitucionalismo mundial. Superando-se o mimetismo
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cultural, buscou-se a criação de um modelo próprio de Constituição, voltado à realidade e às
necessidades da região.Partindo ainda dos ensinamentos dos doutrinadores que já se debruçam sobre o tema – que não são
poucos – podemos nos arriscar em listar as principais características desse novo constitucionalismo.
Senão vejamos.
A primeira característica que podemos apontar é o fato de que o texto dessas Constituições foi
elaborado por uma assembleia constituinte de feição participativa, sendo o resultado das
discussões e votações posteriormente submetido à aprovação popular através de referendo
(referendums aprobatorios).
Uma segunda característica, também relacionada com a anterior, é que tais Constituições buscam
promover uma releitura do conceito de “soberania popular”, imprimindo-lhe um significado
prático mais efetivo por meio da criação de outros instrumentos de participação do povo no processo
de elaboração legislativa e no controle dos atos governamentais.
A terceira característica que merece ser destacada é o expresso reconhecimento, por estas Cartas
Constitucionais, da existência, em seu território, de uma sociedade, mais do que pluricultural,
plurinacional (conceito de plurinacionalidade), isto é, reconhece-se a convivência de múltiplas
nações em um mesmo Estado, detentoras cada uma de caracteres étnicos, linguísticos, religiosos e
culturais que lhes diferenciam das demais, o que, para longe de dúvida, representa uma quebra de
paradigma com a clássica noção do constitucionalismo europeu erguida em cima da máxima “um
Estado, uma nação, um governo”.
Uma quarta característica que podemos citar é o perfil analítico, minudente e dirigista dessas
novas Constituições, geralmente veiculadas em longos e detalhados textos, cujos preceitos
normativos buscam abarcar a totalidade das questões sociais, culturais, políticas e econômicas
consideradas relevantes para a sociedade. Por exemplo, a Constituição da Venezuela possui 350
artigos, a da Bolívia 411 artigos e a do Equador 444 artigos.
Pode-se ainda afirmar que uma quinta característica é a superação, sem abandono, da
dogmática constitucional construída pelo constitucionalismo social europeu. Isto é, partindo
das conquistas jurídicas proporcionadas pelas Constituições Sociais promulgadas na Europa no
decorrer do século XX, o novo constitucionalismo latino-americano tenta ir além, corrigindo distorções
que a transposição daquele modelo causou, bem como criando novos institutos ou alterando
mecanismos já existentes com o objetivo de melhor adaptá-los ao contexto subdesenvolvido dos
países da América do Sul.
Por fim, uma sexta característica que há de ser frisada é o rechaço, a postura declaradamente
refratária aos chamados ideais neoliberais, artificialmente incorporados e atrelados ao processo
de globalização econômica e sistematicamente difundidos por muitos dos organismos internacionais,
como a Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
Volta-se esse novo constitucionalismo ao redescobrimento dos valores e tradições locais, buscando
alcançar o desenvolvimento econômico nacional sem abrir mão de históricas conquistas sociais, não
significando isso, todavia, uma postura isolacionista, com o rompimento das relações internacionais.
Muito pelo contrário, nota-se também uma clara opção pela adesão a processos de interação e
colaboração entre os países, notadamente aqueles de feição regional, como o Mercosul e a Unasul.
Milena Petters Melo resume bem essas características no trecho abaixo:
Nesta nova fase, conhecida também como “constitucionalismo andino”, os textos constitucionais
são elaborados por assembleias constituintes participativas, sendo posteriormente objeto de
aprovação popular por meio de referendum. As cartas constitucionais são mais amplas,
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complexas e detalhadas, radicadas na realidade histórico-cultural de cada país e, portanto,
declaradamente comprometidas com os processos de descolonização. Ao mesmo tempo, as
novas Constituições conjugam a integração internacional à ‘redescoberta’ de valores, tradições e
estruturas locais e peculiares e estimulam, assim, um novo modelo de integração latino-
americana, de conteúdo marcadamente social, que supera o isolacionismo intercontinental de
origem colonial enfatiza a solidariedade neste novo contexto da integração.22
Uma outra característica do novo constitucionalismo latino-americano que deliberadamente ficou de
fora da listagem acima – justamente porque queríamos tratá-la de forma um pouco mais profunda
nesse momento – foi o ganho de preocupação dessas novas Constituições com a questão ambiental,
que nestas Cartas caminhou paralelamente ao tema do reconhecimento e proteção do pluralismo
cultural e multiétnico de sua população. Com efeito, nota-se nos tais textos constitucionais uma clara
ampliação nas regras de proteção do meio ambiente, declarando-se de forma expressa a
fundamentalidade do direito ao equilíbrio ecológico em benefício das presentes e futuras gerações, à
preservação da diversidade biológica, à manutenção dos ciclos vitais presentes na natureza e ao
desenvolvimento sustentável.
É verdade que a constitucionalização da proteção jurídica ambiental não foi uma inovação introduzida
por essas Constituições, tanto que o tema já havia sido positivado pela Constituição brasileira de
1988, dentre outras. Contudo, ainda assim, distinguem-se algumas notas peculiares na forma de
normatização do uso e da proteção do meio ambiente, entre as quais destacamos aqui – porque
pertinente ao tema desenvolvido no presente trabalho – a busca por uma sustentabilidade
socioambiental baseada no equilíbrio entre o uso dos recursos naturais, o almejado desenvolvimento
econômico e a valorização da diversidade histórico-cultural dos povos nativos, todos esses fatores
direcionados ao alcance de uma melhor qualidade de vida, o chamado buen vivir, o bem viver, ou
sumak kawsay da Constituição do Equador, ou, ainda a suma qamaña da Constituição da Bolívia.
A respeito do ponto, esclarece Fábio Corrêa Souza de Oliveira que:
Diversos analistas compreendem os direitos da natureza a partir da noção de buen vivir,
sumak kawsay (suma qamaña, expressão utilizada pela Constituição da Bolívia), que denota
cosmovisão ameríndia, um resgate do saber, da cultura de povos originários do continente, em
crítica, contraposição, diálogo com a (uma) epistemologia eurocêntrica, colonial, moderna. No
contexto da emancipação/valorização dos povos aborígenes, as Cartas Constitucionais do
Equador e da Bolívia vieram a estatuir a também inédita figura do Estado Plurinacional.
Embalando a noção de bem viver, há uma crítica de caráter econômico, endereçada ao
capitalismo, à coisificação da vida, à sociedade de consumo, à globalização
financeira/neoliberal, ao homo oeconomicus, ao padrão recorrente de desenvolvimento,
quantitativo, crescimentista, enfim, a este paradigma que se quer unidimensional, que vaticina o
fim da história.23
É seguindo essa lógica e pautando-se no valor incorporado na noção de “bem viver”, que emerge
nessas Constituições, paradigmas do novo constitucionalismo latino-americano, a questão do
engajamento em uma das concepções éticas do Direito Ambiental, como se exporá no tópico
seguinte.
3.2 A concepção ético-ambiental do novo constitucionalismo latino-americano
O reconhecimento oficial pelo Estado e a valorização da cultura ameríndia nativa, formalizadas pelas
novas Constituições, fizeram com que se incorporassem também na Lei Maior valores próprios
daquelas nações indígenas, completamente estranhos à tradição europeia que até então aparecia
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como hegemônica na ordem jurídica das antigas colônias americanas. Essa escolha do constituinte,
para além de consciente, foi marcadamenteideológica, vez que representativa de uma ruptura com o
colonizador branco dos primeiros séculos seguintes à “descoberta” das Américas, bem como o
capitalismo estrangeiro da era pós-moderna, já desnacionalizado, vez transitante de país em país em
busca do eterno incremento do lucro. Dentre esses novos valores, agora detentores de status
constitucional, estava a cosmovisão dos autóctones da América do Sul, em especial da região andina,
acerca da “Mãe Natureza”, por eles denominada de “Pacha Mama”.
Para essa visão, de inegável viés teológico, a natureza apresenta-se como portadora de atributos
quase divinos, sendo encarada como uma entidade subjetiva detentora de características e de uma
moralidade própria merecedoras de respeito e veneração por parte dos homens, na medida em que
se apresenta como provedora dos bens e recursos imprescindíveis à sua sobrevivência, tal como o ar,
a água e os alimentos. Dessa forma de percepção do mundo natural, como se disse, incorporada
pelos textos do novo constitucionalismo, decorreu por necessidade lógica a atribuição de
subjetividade e direitos – exigíveis e justiciáveis – a essa natureza, que deixa, então, de se apresentar
apenas como objeto de regulação para passar a ocupar a posição de titular de interesses e
prerrogativas. Em outros termos, assumiu o novo constitucionalismo latino-americano a concepção
ecocêntrica do Direito Ambiental, tal como exposto acima.
Com razão, é o que se extrai da Constituição do Equador de 2008, em cujo preâmbulo já se anuncia a
celebração de “la naturaleza, la Pacha Mama, de la que somos parte y que es vital para nuestra
existência”. Também o art. 10º da referida Carta, após asseverar que as pessoas, comunidades,
povos, nacionalidades e coletividades são titulares e gozarão dos direitos garantidos pela aludida
Constituição e pelos instrumentos internacionais, estatui expressamente que “la naturaleza será sujeto
de aquellos derechos que le reconozca la Constitución”.
No mesmo sentido, o art. 71 da mencionada Lei Fundamental, dentro do capítulo denominado
“Derechos de la Naturaleza”, prescreve que “la naturaleza o Pacha Mama, donde se reproduce y
realiza la vida, tiene derecho a que se respete integralmente su existencia y el mantenimiento y
regeneración de sus ciclos vitales, estructura, funciones y procesos evolutivos”, complementando em
seguida que “toda persona, comunidad, pueblo o nacionalidad podrá exigir a la autoridad pública el
cumplimiento de los derechos de la naturaleza”. Novamente assumindo uma postura francamente
ecocentrista, prevê o art. 72 da Carta Equatoriana que “la naturaleza tiene derecho a la restauración”,
restauração esta que é independente da obrigação que tem o Estado e as pessoas naturais ou
jurídicas de indenizar os indivíduos e coletividades que dependam dos sistemas naturais afetados.
A Constituição da Bolívia de 2009, por sua vez, já em seu preâmbulo e em tom poético, proclama que:
En tiempos inmemoriales se erigieron montañas, se desplazaron ríos, se formaron lagos.
Nuestra amazonia, nuestro chaco, nuestro altiplano y nuestros llanos y valles se cubrieron de
verdores y flores. Poblamos esta sagrada Madre Tierra con rostros diferentes, y comprendimos
desde entonces la pluralidad vigente de todas las cosas y nuestra diversidad como seres y
culturas. Así conformamos nuestros pueblos, y jamás comprendimos el racismo hasta que lo
sufrimos desde los funestos tiempos de la colonia.
Seguindo os novos valores constitucionais e com o intuito de conferir maior eficácia normativa aos
pertinentes dispositivos da Constituição, a Bolívia, em 2010, editou a chamada “Ley de Derechos de la
Madre Tierra”, em cujo art. 1º já esclarece que o referido diploma legal tem por objetivo “reconocer los
derechos de la Madre Tierra, así como las obligaciones y deberes del Estado Plurinacional y de la
sociedad para garantizar el respeto de estos derechos”. A conceituação do que seja a “Madre Tierra”
é dada pelo art. 3º da lei, que a define como sendo
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el sistema viviente dinámico conformado por la comunidad indivisible de todos los sistemas de
vida y los seres vivos, interrelacionados, interdependientes y complementarios, que comparten
un destino común. La Madre Tierra es considerada sagrada, desde las cosmovisiones de las
naciones y pueblos indígena originario campesinos.
Entre os princípios de “obligatorio cumplimiento” que regem a aludida lei, segundo o art. 2º, estão a
necessidade de as atividades humanas lograrem “equilibrios dinámicos con los ciclos y procesos
inherentes a la Madre Tierra”; a garantia de que o Estado em seus diferentes níveis e a sociedade, em
harmonia com o interesse comum, devem assegurar “las condiciones necesarias para que los
diversos sistemas de vida de la Madre Tierra puedan absorber daños, adaptarse a las perturbaciones,
y regenerarse sin alterar significativamente sus características de estructura y funcionalidad,
reconociendo que los sistemas de vida tienen límites en su capacidad de regenerarse, y que la
humanidad tienen límites en su capacidad de revertir sus acciones”; e a garantia de que o Estado e
qualquer pessoas individual ou coletiva devem respeitar e proteger “los derechos de la Madre Tierra
para el Vivir Bien de las generaciones actuales y las futuras”.
Conferindo, de forma clara, subjetividade jurídica à “Mãe Natureza”, estabelece o art. 5º da lei em tela
que, “para efectos de la protección y tutela de sus derechos, la Madre Tierra adopta el carácter de
sujeto colectivo de interés público”. E mais, prossegue o dispositivo legal asseverando expressamente
que “la Madre Tierra y todos sus componentes incluyendo las comunidades humanas son titulares de
todos los derechos inherentes reconocidos en esta Ley”, cuja aplicação deve tomar em conta as
especificidades e particularidades de seus diversos componentes.
Por outro lado, não podendo fugir do fato de que a “Madre Tierra”, querendo ou não, não deixar de ser
uma abstração cuja subjetividade é atribuída unicamente pela vontade humana, estando aquela
entidade, pois, impossibilitada de exercer por si própria os direitos que a ordem jurídica lhe concede,
esclarece o art. 6º da referida lei que “todas las bolivianas y bolivianos, al formar parte de la
comunidad de seres que componen la Madre Tierra, ejercen los derechos establecidos en la presente
Ley”. Segundo o mesmo dispositivo, o exercício desse “direito alheio” deve ser efetivado de forma
compatível com os direitos individuais e coletivos, presente a diretiva no sentido de que “cualquier
conflicto entre derechos debe resolverse de manera que no se afecte irreversiblemente la
funcionalidad de los sistemas de vida”.
Fixadas as premissas jurídico-ideológicas, a lei que ora estamos a comentar passa a listar, em seu
art. 7º, os tais direitos que são titularizados pela “Mãe Natureza” ou “Mãe Terra”, prevendo o direito à
vida, enquanto “derecho al mantenimiento de la integridad de los sistemas de vida y los procesos
naturales que los sustentan, así como las capacidades y condiciones para su regeneración”; o direito
à diversidade, compreendido como “derecho a la preservación de la diferenciación y la variedad de los
seres que componen la Madre Tierra, sin ser alterados genéticamente ni modificados en su estructura
de manera artificial, de tal forma que se amenace su existencia, funcionamiento y potencial futuro”; o
direito à água, entendido como “el derecho a la preservación de la funcionalidad de los ciclos del
agua, de su existencia en la cantidad y calidad necesarias para el sostenimiento de los sistemas de
vida, y su protección frente a la contaminación para la reproducción de la vida de la Madre Tierra y
todos sus componentes”; o direito ao ar limpo, o qual consiste no “derecho a la preservación de la
calidad y composición del aire parael sostenimiento de los sistemas de vida y su protección frente a la
contaminación, para la reproducción de la vida de la Madre Tierra y todos sus componentes”; o direito
ao equilíbrio, compreendido como “el derecho al mantenimiento o restauración de la interrelación,
interdependencia, complementariedad y funcionalidad de los componentes de la Madre Tierra, de
forma equilibrada para la continuación de sus ciclos y la reproducción de sus procesos vitales”; o
direito à restauração, consistente no “derecho a la restauración oportuna y efectiva de los sistemas de
vida afectados por las actividades humanas directa o indirectamente”; e, por fim, o direito ao viver livre
de contaminação, que é “el derecho a la preservación de la Madre Tierra de contaminación de
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cualquiera de sus componentes, así como de residuos tóxicos y radioactivos generados por las
actividades humanas”.
Pelos preceitos normativos acima referenciados, bem como por outros, que aqui se omitiram em
razão das limitações próprias a esta espécie de trabalho, pode-se com segurança chegar-se à
conclusão de que as recentes Constituições integrantes do denominado novo constitucionalismo
latino-americano indubitavelmente fizeram opção pela concepção ética ecocentrista do direito
ambiental, conforme as características próprias dessa corrente enunciadas no início do vertente
artigo.
4 Conclusão: nossa percepção sobre o tema
Embora permaneça vivo e flamejante o embate acadêmico entre os defensores das duas concepções
éticas ambientais de que tratamos no presente artigo, é interessante notar o fato de que as Cartas
Constitucionais recentemente promulgadas por países sul-americanos (Venezuela, Equador e Bolívia)
fizeram expressa opção pela ótica ambientalista ecocêntrica, atribuindo à “Mãe Natureza” ou à “Mãe
Terra” a condição de titular de direitos ambientais. Tal circunstância, à primeira vista, poderia sugerir
uma tendência global – ou ao menos regional – a uma progressiva adoção pelas ordens jurídicas
nacionais, ou mesmo internacional, dessa concepção jusfilosófica.
Todavia, investigando um pouco mais a fundo a questão, percebemos que não se trata propriamente
de fatos relacionados a alguma espécie de evolução doutrinária do direito constitucional ou do direito
ambiental, a qual seria fruto da consolidação de uma dogmática firmada sobre os pressupostos
filosóficos que dão sustentação à concepção ecocentrista da proteção jurídica do meio ambiente, dos
quais já falamos acima, do mesmo modo que não se logra enxergar um potencial universalizante em
tais movimentos constitucionais locais.
Na verdade, o que se nota ao examinar o contexto sociopolítico dos países em que foi acolhida a tese
ecocêntrica, é que a positivação constitucional de normas com esse teor foi o resultado de condições
materiais históricas muito peculiares a tais nacionalidades, notadamente o fato de que a formação
populacional de tais países contou com forte presença ameríndia, em especial das etnias andinas,
cuja cultura ancestral, como já consignado, é bastante marcada pela veneração dos elementos da
natureza, a qual, por sinal, ganha até o status de subjetividade mítica ou divina, como é o caso da
“Pacha Mama”.
Ora, está-se diante de típica manifestação de animismo, entendido o termo no sentido lhe atribuído
pelo antropólogo inglês Sir. Edward Burnett Taylor, significando aquelas manifestações religiosas
primitivas – o termo “primitivo” aqui fazendo referência ao fato de que existem desde o início da
humanidade, e não em um sentido pejorativo, como se fossem elas de alguma forma inferiores a
outras de formação histórica mais recente – que enxergam a ocorrência de intervenções divinas ou a
presença de energias metafísicas nos mais diversos elementos da natureza, desde corpos celestes
(como o Sol, a Lua e os planetas), fenômenos meteorológicos ou geológicos (como a chuva, o raio ou
os terremotos) ou ainda nos diferentes seres vivos (plantas e animais). Daí a origem do termo
“animismo”, de “ânima”, do latim “alma”, a qual estaria presente em todos aqueles elementos, bióticos
ou abióticos.
Para além desse caráter estritamente local, cultural, temporal e relativo, o ecocentrismo encontrado
nas Constituições do novo constitucionalismo latino-americano – na verdade, em nosso entender,
essa conclusão se aplica a qualquer manifestação ambiental ecocêntrica – é essencialmente
desnecessário do ponto de vista prático. Com efeito, pragmaticamente falando, não há a necessidade
de se atribuir direitos subjetivos à “Mãe Natureza” ou a determinado rio, ou a uma montanha para que
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esses bens ambientais sejam efetiva e eficazmente protegidos. A assunção, pela ordem jurídica
positiva, de uma espécie de “animismo jurídico”, atribuindo-se personalidade e conferindo-se direitos a
animais irracionais ou a objetos inanimados, em nada contribui para ampliar a proteção normativa do
meio ambiente.
Segundo pensamos, a inovação é inócua, vazia, sem sentido. E isso é percebido pela só constatação
de que, ao fim e ao cabo, será o homem que, se necessário, intervirá, inclusive judicialmente, em
busca da cessação de atividades consideradas nocivas a determinado ecossistema, já que, por óbvio,
não se pode esperar que o façam as árvores ameaçadas de corte ou o rio em cujo leito esteja sendo
derramado resíduos industriais tóxicos. Somente o homem pensa, somente o homem cria bens
culturais, somente o homem possui a capacidade de agir teleologicamente direcionado a um fim
previamente fixado por uma regra externa que não coincida com as suas mais prementes
necessidades biológicas. Daí, o direito só existe porque o homem o criou, e o fez visando a seu
exclusivo benefício. Fernanda Furtado, na passagem seguinte, parece concordar com nosso
raciocínio:
O problema do ecocentrismo é que ao afirmar que a vida tem um valor intrínseco e que qualquer
ser vivo possui direitos, e mais, que tais direitos são fundamentais, admite-se a desconstrução
de toda filosofia do direito formulada até hoje. Se estará questionando o próprio conceito de
“direito”. Ora, o direito só faz sentido como forma de regulação das condutas humanas nas
relações sociais.24
Nessa linha, há de se ter em mente que nada no mundo possui valor por si próprio, nenhum elemento
material, vivo ou não vivo, possui um “sentido”, um “valor” objetivo que mereça, para longe de
qualquer juízo subjetivo, ser preservado e protegido a todas as custas. Todos os “sentidos” e “valores”
são atribuídos unicamente pelo homem, que no exercício de sua razão estabelece uma hierarquia de
importância entre as coisas existentes, hierarquia esta que é sempre variante de acordo com o tempo,
o lugar e a pessoa que a estabelece. Todos os “valores”, então, não existem para além da
subjetividade humana e, por conseguinte, só existem porque e enquanto nós, homens, estamos
vagando pela Terra, de forma que desaparecerão junto conosco.
Portanto, comungamos com a ótica antropocentrista quando afirma esta que a proteção do meio
ambiente somente deve ser levada ao cabo na medida e na proporção em que se apresente como
vantajosa para o ser humano, dentro da lógica da já mencionada relação simbiótica mantida entre o
ser humano e a natureza, excluída, obviamente, qualquer visão míope que pretenda fazer prevalecer
aí uma espécie de utilitarismo imediatista que ignore a necessidade da sobrevivência humana no
longo e longuíssimo prazo, presente o conhecido pacto intergeracional, positivado, por sinal, por
nossa Constituição (art. 225, caput, CF/88). Nesse sentido é a lição do professor Celso Antônio
Pacheco Fiorillo:
Parece-nos inaceitável aludida concepção [biocentrismo], porquanto devamosconsiderar a
proteção da natureza como um objetivo decretado pelo homem exatamente em benefício
exclusivo seu. [...] De acordo com essa posição, os animais assumiriam papel de destaque em
face da proteção ambiental, enquanto destinatários diretos do direito ambiental brasileiro.
Todavia, não nos parece razoável a idéia do animal, da fauna, da vida em geral dissociada da
relação com o homem. Isso importa uma vez mais reiterar que a proteção do meio ambiente
existe, antes do tudo, para favorecer o próprio homem e, senão por via reflexa e quase
simbiótica, proteger as demais espécies.25
Consigne-se também que não nos impressiona nem nos convence o argumento de que a atribuição
de personalidade jurídica a elementos naturais ou mesmo à própria natureza considerada em seu
conjunto seria possível, pois nossa ordem jurídica já procede de forma semelhante ao reconhecer
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personalidade e a titularidade de direitos a sociedades empresárias, associações e outras entidades
sociais sem existência corpórea e não detentoras de um psiquismo próprio. É que essa ficção jurídica
– não passa disso! – é criada e aceita porque traz benefícios diretos aos homens, na medida em que
possibilita a estes, através da cooperação mútua, alcançar da melhor forma possível os objetivos a
que se predisponham. Isto é, o reconhecimento pelo direito da personalidade jurídica a tais entes
abstratos somente se dá porque é ele útil ao homem. Novamente o antropocentrismo! A esse
respeito, novamente pertinentes são as observações de Fernanda Furtado:
O contra-argumento a favor da natureza como sujeito de direito poderia ser o fato de que
pessoas jurídicas também podem ser titulares de direitos fundamentais. Entretanto, deve-se ter
em mente que essa titularidade só é admitida porque as pessoas jurídicas servem a um
propósito ligado ao homem. O titular último dos direitos emprestados a uma pessoa jurídica é o
homem que a integra. Não é possível ver na proteção dos animais ou vegetais, enquanto direito
fundamental, um titular que não seja o homem. Protegem-se as matas por elas serem
necessárias ao homem.26
Ocorre que, como se procurou demonstrar acima, a concepção ecocentrista do direito ambiental não
traz qualquer utilidade prática à proteção do meio ambiente e, consequentemente, ao próprio homem,
motivo pelo qual deve ser relegada.
Abstract: This article examines the different ethical views that seek to justify the
ultimate purpose of the rules protective of the environment (anthropocentrism and
ecocentrism), indicating the main jus-philosophical foundations used by each one. Next
step, analyzes the emergence and characteristics of the recent movement called “new
latin-american constitutionalism”, investigating which ethical environmental profile is
received by the corresponding Constitutions. Finally, based on legal pragmatic, is
exposed a critical view about the dogmatic incorporated by such Constitutions in relation
to environmental law.
Keywords: Environmental Law. Ethical Conceptions. New Latin-American
Constitutionalism.
 
Referências
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SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.
1 Como será explicitado mais abaixo, este englobando o biocentrismo.
2 FURTADO, Fernanda Andrade Mattar. Concepções éticas da proteção ambiental. Direito Público,
Porto Alegre, ano 1, n. 3, p. 151, jan./mar. 2004.
3 Fagner Guilherme Rolla entende, não sem razão, que o antropocentrismo é inerente à própria
condição humana, independentemente, pois, da condição ocidental ou oriental da sociedade. A ver:
“O antropocentrismo é uma característica encontrada nas diferentes sociedades humanas não sendo
assim característica exclusiva da cultura ocidental. A suposta prepotência do homem ocidental não se
sustenta já que dificilmente alguma sociedade se constituiu acreditando ser inferior às demais. A
forma de perceber o ser humano como centro pode variar entre diferentes sociedades contudo em
relação à natureza [...] não se conhece organização social que tenha atribuído ao Homem um papel
subalterno”. Pensamos, todavia, que a visão antropocêntrica é marcadamente mais forte na
civilização ocidental, de onde herdamos a maior parte da bagagem cultural, tendo tido ali seu
nascedouro, razão pela qual mantemos a indicação topográfico-cultural (ROLLA, Fagner Guilherme.
Ética ambiental: principais perspectivas teóricas e a relação homem-natureza. 2010. p. 9. Trabalho
de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais) - Faculdade de Direito,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em:
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/fagner_rolla.pdf>.
Acesso em: 29 jul. 2013).
4 ROLLA, Fagner Guilherme. Ética ambiental: principais perspectivas teóricas e a relação homem-
natureza. 2010. p. 3. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais) -
Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em:
21/03/2018 Editora Fórum - Plataform Fórum de Conhecimento Juridico
http://bidforum.com.br/bidBiblioteca_periodico_print.aspx?i=232376&p=3 19/21
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/fagner_rolla.pdf>.
Acesso em: 29 jul. 2013.
5 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 15-16.
6 AMADO, Frederico Augusto de Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. 2. ed. São Paulo:
Método, 2011. p. 3.
7 AMADO, Frederico Augusto de Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. 2. ed. São Paulo:
Método, 2011. p. 3.
8 FURTADO, Fernanda Andrade Mattar.Concepções éticas da proteção ambiental. Direito Público,
Porto Alegre, ano 1, n. 3, p. 155-156, jan./mar. 2004.
9 A mesma autora, em outro trecho, continua a desferir golpes contra o antropocentrismo,
argumentando que “a visão antropocêntrica da relação do homem com a natureza nega o valor
intrínseco do meio ambiente e dos recursos naturais, o que resulta na criação de uma hierarquia na
qual a humanidade detém posição de superioridade, acima e separada dos demais membros da
comunidade natural. Essa visão priva o meio ambiente de uma proteção direta e independente” (Ibid.,
p. 151).
10 ROVANI, Anatércia. Ética Ambiental. A problemática concepção do homem em relação à
natureza. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 78, jul. 2010. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8050>. Acesso em: 31 jul.
2013.
11 FURTADO, Fernanda Andrade Mattar. Concepções éticas da proteção ambiental. Direito
Público, Porto Alegre, ano 1, n. 3, p. 152-153, jan./mar. 2004.
12 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 18.
13 ROVANI, Anatércia. Ética Ambiental. A problemática concepção do homem em relação à
natureza. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 78, jul. 2010. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8050>. Acesso em: 31 jul.
2013.
14 ROLLA, Fagner Guilherme. Ética ambiental: principais perspectivas teóricas e a relação
homem-natureza. 2010. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Jurídicas e
Sociais) - Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010.
Disponível em:
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/fagner_rolla.pdf>.
Acesso em: 29 jul. 2013.
15 ROLLA, Fagner Guilherme. Ética ambiental: principais perspectivas teóricas e a relação homem-
natureza. 2010. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais) -
Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em:
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/fagner_rolla.pdf>.
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16 ROLLA, Fagner Guilherme. Ética ambiental: principais perspectivas teóricas e a relação homem-
natureza. 2010. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais) -
Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em:
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Acesso em: 29 jul. 2013.
17 AMADO, Frederico Augusto de Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. 2. ed. São Paulo:
Método, 2011. p. 4.
18 ROLLA, Fagner Guilherme. Ética ambiental: principais perspectivas teóricas e a relação homem-
natureza. 2010. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais) -
Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em:
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/fagner_rolla.pdf>.
Acesso em: 29 jul. 2013.
19 Englobadas aqui as chamadas soft law do direito internacional.
20 Eis alguns dos dispositivos da referida declaração:
 “Artigo 2º
 1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
 2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando
esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.
 3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.
 Artigo 3º
 1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis.
 2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo
a não provocar-lhe angústia.
 Artigo 4º
 1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio
ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.
 2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito.
 Artigo 5º
 1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do
homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são
próprias da sua espécie.
 2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins
mercantis é contrária a este direito.
 Artigo 6º
 1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida
conforme a sua longevidade natural.
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 2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.
 Artigo 7º
 Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de
trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso [...]”.
21 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, passim.
22 MELO, Milena Petters. O patrimônio comum do constitucionalismo contemporâneo e a virada
biocêntrica do “novo” constitucionalismo latino-americano. Novos estudos jurídicos, v. 18. n. 1,
2013. Disponível em: <http://www6.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/4485>. Acesso em: 1 ago.
2013.
23 OLIVEIRA, Fábio Corrêa Souza de. Direitos da natureza e direito dos animais: um
enquadramento. RIDB, ano 2, n. 10, 2013. Disponível em: <www.idb-
fdul.com/uploaded/files/2013_10_11325_11370.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2013.
24 FURTADO, Fernanda Andrade Mattar. Concepções éticas da proteção ambiental. Direito
Público, Porto Alegre, ano 1, n. 3, p. 158, jan./mar. 2004.
25 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 19.
Como citar este conteúdo na versão digital:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em
periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: 
CARNEIRO, Bernardo Lima Vasconcelos. As concepções éticas do direito ambiental diante do novo constitucionalismo latino-
americano. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 80, mar./abr. 2015. 
Disponível em: <http://www.bidforum.com.br/PDI0006.aspx?pdiCntd=232376>. Acesso em: 21 mar. 2018.
Como citar este conteúdo na versão impressa:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em
periódico impresso deve ser citado da seguinte forma: 
CARNEIRO, Bernardo Lima Vasconcelos. As concepções éticas do direito ambiental diante do novo constitucionalismo latino-
americano. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 80, p. 9-23, mar./abr. 2015.

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