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animal e o código civil brasileiro

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Fórum de Direito Urbano e Ambiental - FDUA 
Belo Horizonte, ano 14, n. 81, maio/jun. 2015
O animal e o Código Civil brasileiro
Edna Cardozo Dias 
Resumo: Este artigo faz um estudo comparado do status jurídico do animal no Código Civil brasileiro com o status do animal
no código de países europeus que reconhecem que os animais não são coisas e que são seres sensíveis. Termina com a
proposta de que a legislação brasileira seja alterada no sentido de criar um título próprio no qual os animais sejam tirados da
condição de bens para serem reconhecidos como seres vivos.
Sumário: 1 Introdução – 2 Código Civil brasileiro – 3 Legislação europeia – 4 Conclusão – Referências
 
1 Introdução
As relações jurídicas dos homens com os homens, dos homens com a sociedade e o meio ambiente são regidas por leis, que pretendem
proteger a vida e os bens materiais e imateriais. O nosso Código Civil brasileiro só prevê dois regimes para regulamentar as relações
jurídicas, o de pessoas e o de bens. Não prevê uma categoria de direitos atinentes à tutela do animal como ser vivo e essencial à sua
dignidade, como já acontece em legislação de países europeus.
Vamos fazer um estudo comparativo de nosso Código Civil com os de países que já alteraram sua lei para ao final reconhecer que é
necessário estabelecer uma categoria distinta para as relações jurídicas que envolvem animais.
2 Código Civil brasileiro
2.1 Das pessoas
No nosso Código Civil, as pessoas podem ser pessoas físicas ou naturais ou jurídicas.
As pessoas naturais são aquelas capazes de adquirir direitos e deveres na ordem civil (“Código Civil, Parte Geral, Livro I, Das pessoas,
Título I – Das pessoas naturais, art. 1º e 2º.”
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (art.
2º)1 e termina com a morte (art. 6º).
As pessoas jurídicas podem ser de direito público interno ou externo, e de direito privado (CC, Título II, Capítulo I, Disposições Gerais, art.
40).2
As pessoas jurídicas de direito público interno são a União, os Estados, Distrito Federal e Territórios, os Municípios, autarquias/associações
públicas, e demais entidades de caráter público criadas por lei (CC, art. 41).
As pessoas jurídicas de direito externo são os Estados estrangeiros e demais pessoas regidas pelo direito internacional público (CC, art. 42).
As pessoas jurídicas de direito privado são as associações, as sociedades, as fundações, organizações religiosas, partidos políticos,
empresas individuais de responsabilidade limitada (CC, art. 44).
Pelo exposto, deduz-se que os animais não se enquadram dentro do conceito de pessoa e, portanto, às relações dos homens com os
animais não se aplicam estes dispositivos. Entretanto, já desponta uma “Teoria dos direitos dos animais” que evolui no sentido de que os
animais devem ser reconhecidos juridicamente como pessoas não humanas (ou seres vivos sensíveis), assim como as pessoas morais ou
jurídicas e os incapazes. E, também, como sujeitos de direitos e não como objetos do direito, tal como já ocorre com os incapazes e pessoas
morais. Para uma corrente jusanimalista que desponta no universo jurídico, ser sujeito de direitos significa ter a capacidade de adquirir
direitos, independentemente da capacidade de adquirir obrigações. Além de titulares de direitos por representatividade, os animais, segundo
este novo paradigma que surge, deveriam ser reconhecidos como sujeitos de direitos. Entretanto, o Código Civil brasileiro tem sido um
grande entrave na evolução e aceitação desta nova teoria.
2.2 Dos bens
Não sendo reconhecidos como pessoas, os animais estão regidos pelo regime de bens, sejam silvestres, exóticos ou domésticos. Enquanto
os animais silvestres são considerados bens de uso comum do povo e bens públicos (Constituição da República – CR, art. 225; Código Civil,
arts. 98/99), os domésticos, de acordo com o Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), são considerados bens móveis/coisas
(CC, art. 82).
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No Código Civil brasileiro de 2002, existem cinco categorias de bens. Dos bens considerados em si mesmos, arts. 79 a 91 (móveis, arts. 82 a
84; imóveis, arts. 79 a 81; fungíveis, arts. 85 a 86; divisíveis, arts. 87 a 88; singulares e coletivos, arts. 89 a 91); bens reciprocamente
considerados (arts. 92 a 97, os bens públicos, arts. 98 a 103).3
Os bens móveis, onde se enquadram atualmente os animais domésticos e exóticos, estão regulamentados no Livro II, seção II “Dos bens
móveis”, que são conceituados como todos aqueles suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da
substância ou da destinação socioeconômica.
Os animais, seres dotados de movimento próprio, são considerados semoventes e, portanto, um bem. Vejamos o que diz a lei:
Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
Livro II
Seção II - Dos Bens Móveis.4
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da
destinação econômico-social.
Aqui se enquadram, atualmente, os animais domésticos e exóticos na legislação brasileira vigente. São passíveis de direitos reais e se
submetem às regras do direito de propriedade, sempre interpretadas à luz do sujeito do direito, o homem, ficando o animal sendo o objeto da
relação.
Já no caso dos animais silvestres que são classificados como bem de uso comum do povo pela CR, sua natureza jurídica está prevista nos
arts. 98/99 do Código Civil, e são bens públicos.
CAPÍTULO III Dos Bens Públicos5
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são
particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Art. 99. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual,
territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de
cada uma dessas entidades.
Os animais silvestres estão equiparados a rios, mares e praças. E os domésticos e exóticos a mesas, cadeiras e outros bens móveis.
Entende Caio Mario Pereira que “uma casa, um animal de tração são coisas, porque concretizado cada um em uma unidade material e
objetiva, distinta de qualquer outra.”[6]
3 Legislação europeia
Alguns países europeus avançaram em sua legislação e já alteraram o seu Código Civil fazendo constar expressamente que os animais não
são coisas ou objetos, embora regidos, caso não haja lei específica, pelo regime dos bens. Isto já é um avanço, pois esta medida simbólica
pode ser considerada um primeiro passo em direção à evolução do status jurídico dos animais. Isto representa um avanço na discussão que
pode redundar no reconhecimento de que os animais, ainda que não sejam reconhecidos como pessoas, não são objetos ou coisas.
3.1 Bens e coisas
Nosso Código não separa coisa de bem ou objeto. Para Fiuza, “Bem é tudo aquilo que é útil às pessoas. Coisa para o direito é todo bem
econômico, dotado de existência autônoma, e capaz de ser subordinado ao domínio das pessoas.”7 E acrescenta: “Conclui-se neste sentido
que coisa é sinônimo de bem”.
Na interpretação de Venosa, “No campo jurídico bem deve ser aquilo que tem valor, abstraindo-se daí a noção pecuniária do termo”. E coisas
“são os bens apropriáveis pelos homens”.8
O Agravo regimental desprovido (AgRgno REsp nº 959.099/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe, 03 set. 2009. Superior Tribunal de
Justiça (STJ), 11.12.2013, p. 1614) vem resolver o impasse na doutrina brasileira sobre o conceito de coisa e bem:9
Com efeito, como noticia Pablo Stolze GAGLIANO e Rodolfo PAMPLONA FILHO (In “Novo curso de Direito Civil: Parte Geral”, v. I, 8ª.
ed., rev., atual., e ampl., São Paulo: Saraiva, 2007), há na doutrina pátria forte divergência acerca da distinção entre bem e coisa – uma
vez que para alguns autores bem é gênero e coisa é espécie (v.g Orlando Gomes e Teixeira de Freitas) enquanto para outros a coisa é
o gênero e o bem é a espécie (v.g. Maria Helena Diniz e Silvio Venoza), sendo certo que Washington de Barros MONTEIRO (In “Curso
de direito civil. V.1: parte geral”. 40. ed. Rev. e atual. Por Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto. São Paulo: Saraiva, 2005).
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Não obstante essa divergência, adota-se no caso concreto a opinião doutrinária de Orlando Gomes e Teixeira de Freitas, consoante
argumentos de Pablo Stolze GAGLIANO e Rodolfo PAMPLONA FILHO (Op. Cit., p. 256):
Preferimos, na linha do Direito alemão, identificar a coisa sob o aspecto de sua materialidade, reservando o vocábulo
aos objetos corpóreos. Os bens, por sua vez, compreenderiam os objetos corpóreos ou materiais (coisas) e os ideais
(bens imateriais). Dessa forma, há bens jurídicos que não são coisas: a liberdade, a honra, a integridade moral, a
imagem, a vida. (Grifo nosso)
Por conseguinte, a expressão “coisa diversa” contida no art. 743, II , do CPC diz respeito a bens jurídicos materiais (vg., casa, carro,
etc.), em oposição aos bens jurídicos de natureza abstrata.10
Os países pioneiros na alteração da natureza jurídica dos animais são a Suíça, a Alemanha, a Áustria e a França. Os três primeiros fazem
constar de seu Código Civil que os animais não são coisas ou objetos. O Código Civil francês reconhece os animais como seres sensíveis.
Vejamos.
3.2 Legislação suíça
A Suíça alterou o status dos animais em seu Código Civil de 1907 (com alteração de 2002, art. 641 a), livro IV, Título 18, art. 164).
Code Civil Suisse du 10 décembre 1907.11 Livre quatrième: Des droits réels. Première partie: De la propriété. Titre dix-huitième:
Dispositions générales.
Art. 641 Eléments du droit de propriété
I. En général1
1 Le propriétaire d’une chose a le droit d’en disposer librement, dans les limites de la loi.
2 Il peut la revendiquer contre quiconque la détient sans droit et repousser toute usurpation.
1 Nouvelle teneur selon le ch. I de la LF du 4 oct. 2002 (Animaux), en vigueur depuis le 1eravril 2003 (RO 2003 463; FF 2002 3885
5418).
Art. 641a1
II. Animaux
1 Les animaux ne sont pas des choses.
2 Sauf disposition contraire, les dispositions s’appliquant aux choses sont également valables pour les animaux.
1 Introduit par le ch. I de la LF du 4 oct. 2002 (Animaux), en vigueur depuis le 1er avril 2003 (RO 2003 463; FF 2002 3885 5418).
Código Civil Suíço de 10 de dezembro de 1907, com alteração de 2002.
Livro quarto: Dos direitos reais. Primeira parte: Da propriedade. Título dezoito: Disposições gerais
Art. 641
A - Elementos do direito e da propriedade
I Em geral
O proprietário de uma coisa tem o direito de dela dispor livremente, nos limites da lei. Ele pode reivindicá-la de quem a detém sem
direito e reaver toda usurpação.
Art. 641 a (Introduzido em 4 de outubro de 2002 e em vigor depois de abril de 2003).
II os animais não são coisas.
Salvo disposição em contrário, os dispositivos das coisas são igualmente válidas para os animais.[12]
3.3 Legislação da Alemanha
O Código Civil alemão assim dispõe:
GERMAN CIVIL CODE – BGB13
Civil Code in the version promulgated on 2 January 2002 (Federal Law Gazette [Bundesgesetzblatt] I page 42, 2909; 2003 I page 738),
last amended by Article 4 para. 5 of the Act of 1 October 2013 (Federal Law Gazette I page 3719)14
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Division 2 – Things and animals
Section 90 – Concept of things
Section 90 a – Animals
Division 2
Things and animals
Section 90
Concept of the thing
Only corporeal objects are things as defined by law.
Section 90a
Animals
Animals are not things. They are protected by special statutes. They are governed by the provisions that apply to things, with the
necessary modifications, except insofar as otherwise provided.15
CÓDIGO CIVIL ALEMÃO
Divisão 2 - Coisas e animais
Seção 90 - Conceito de coisas
Seção 90 a - Animais
Animais não são coisas. Eles são protegidos por estatuto especial. Eles são regidos pela legislação aplicável às coisas, com as
necessárias modificações, exceto quando houver disposições em contrário.[16]
3.4 Legislação da Áustria
Na Áustria, o artigo 285ª do Código Civil Austríaco ABGB (Allgemeines Bürgerliches Gesetzbuch) entrou em vigor em 1º de julho de 1988 e
dispôs expressamente que “animals are not objects; they are protected by special laws” = “animais não são objetos; eles são protegidos por
leis especiais” e as leis que dispõem sobre os objetos “do not apply to animals unless there is a contradictory provision” = “não se aplicam
aos animais exceto se houver disposição em contrário”.[17]
3.5 Legislação da França
A França foi o país que alterou o Código Civil mais recentemente, em 28 de janeiro de 2015. O maior mérito da legislação francesa é que,
enquanto a Suíça, a Alemanha e a Áustria procuram proteger os animais usando uma negativa, ou seja, “os animais não são coisas”, a
França introduz uma proteção afirmativa, fazendo constar que os animais são seres vivos dotados de sensibilidade.
Código Civil Francês18
Livre II : Des biens et des différentes modifications de la propriété
Article 515-14 Les animaux sont des êtres vivants doués de sensibilité. Sous réserve des lois qui les protègent, les animaux sont
soumis au régime des biens.19
(Dernière modification du texte le 22 mars 2015 - Document généré le 01 avril 2015 - Copyright (C) 2007-2008 Legifrance)
“Versão consolidada em 22 de março de 2015
Livro II: dos bens e das diferentes modificações da propriedade.
Artigo 515-14 Os animais são seres vivos dotados de sensibilidade. Observadas as leis que os protegem, os animais são submetidos
ao regime de bens.”20
O artigo 515-14 foi criado pela lei 2015-177 de 16 de fevereiro de 2015, aprovado pela Assembleia Nacional em reunião histórica em
28 de fevereiro de 2015.21
Ainda na França, o Código Rural e da Pesca Marítima já reconhecia os animais como seres sensíveis.
Code rural et de la pêche maritime22
Version consolidée au 1 avril 2015
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Chapitre IV : La protection des animaux.23
Section 1 : Dispositions générales (Articles L214-1 à L214-4)
Section 2 : Dispositions relatives aux animaux de compagnie (Articles L214-6 à L214-8)
Section 3 : Dispositions relatives à d’autres animaux (Articles L214-9 à L214-10)
Section 4 : Transport des animaux vivants (Articles L214-12 à L214-13)
Section 5 : Lieux de vente, d’hébergement et de stationnement d’animaux (Articles L214-14 à L214-18)
Section 6 : Recherche et constatation des infractions (Article L214-20)
Section 7 : Inspection et contrôle (Article L214-23)
Section 1 : Dispositions générales
Article L214-1
Tout animal étant un être sensible doit être placé par son propriétaire dans des conditions compatibles avec les
impératifs biologiques de son espèce.
 
Código Rural e da Pesca Marítima
Capítulo IV – A proteção dos animaisSeção 1 – Disposições gerais (artigos L214 a L214-4)
Seção 2 – Disposição relativa aos animais de companhia (artigos L214 a L214-8)
Seção 3 – Disposições relativas a outros animais (artigos L214-9 a L 214-10)
Seção 4 – Transporte de animais vivos (artigos L214-12 a L214-13)
Seção 5– Locais de venda, alojamento e guarda de animais (artigos L214 a L214-18).
Seção 6 – Pesquisa e constatação de infrações (artigo L214-20)
Seção 7 – Inspeção e controle (artigo L214-23)
 
Seção 1 – Disposições gerais:
Todo animal é um ser sensível e deve ser colocado por seu proprietário em condições compatíveis com os imperativos
biológicos de sua espécie.[24]
3.6 Histórico da alteração do Código Civil francês
Em 2013, a ONG francesa “Fondation 30 millions des amies” lançou nas redes socais um abaixo-assinado que pretendia recolher 1.000.000
(um milhão) de assinaturas, a ser entregue à Assembleia Nacional francesa pleiteando a alteração do status jurídico dos animais naquele
país. Conseguiu recolher 770.000 (setecentos e setenta mil) assinaturas, com apoio de vinte quatro intelectuais, entre eles Jean-Pierre
Marguénaud,25 professor da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas de Limoges, que assinaram o seguinte manifesto:
PELA EVOLUÇÃO DO REGIME JURÍDICO DO ANIMAL NO CÓDIGO CIVIL
RECONHECIMENTO DE SUA NATUREZA DE SER SENSÍVEL
Os animais são ainda definidos pelo código Civil como coisas, sobre as quais o homem pode por consequência exercer o direito
absoluto. Não ignoramos que toda tentativa de fazer evoluir esta classificação se choca com a força dos hábitos e levanta
invariavelmente objeções de ordem econômica. Não ignoramos muito menos que é o que acontece cada vez que se reclama a legítima
consideração devida a um grupo explorado ou oprimido. É verdade que os animais não são seres humanos. Não é, portanto, a
proclamação de uma dignidade metafísica, mas certos atributos – capacidade de sentir prazer e dor principalmente – que os humanos
partilham com todos os vertebrados, que embasam os direitos fundamentais. Além disso, em diversos regulamentos franceses e
europeus os animais são reconhecidos por sua qualidade de “seres sensíveis”, encorajados neste sentido pelo progresso do
conhecimento científico, mas eles permanecem de modo contraditório como bens móveis no nosso Código Civil.
PARA QUE OS ANIMAIS SE BENEFICIEM DE UM REGIME JURÍDICO CONFORME SUA NATUREZA DE “SERES VIVOS VIVENTES
E SENSÍVEIS” E PARA QUE A MELHORIA DE SUAS CONDIÇÕES POSSA SEGUIR SEU JUSTO CURSO, UMA CAGEGORIA
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PRÓPRIA DEVE SER ACOLHIDA NO CÓDIGO CIVIL.26
A Assembleia Nacional francesa acabou aprovando a redação sugerida, conhecida como emenda Glavany, “os animais são seres vivos
dotados de sensibilidade”. E a França veio a se tornar a Nação que saiu na vanguarda do aperfeiçoamento da legislação em favor dos
animais.
A Revue Semestrielle de Droit Animalier, da Université de Limoges (Observatoire des Mutations Institutionnelles et Juridiques) e
Université Montpellier 1 (Institut de Droit Européen des Droits de L’homme, dirigido pelo professor Jean-Pierre Marguénaud), trouxe o tema a
debate no artigo “La question du statut juridique de l’animal : le passage irréversible de l’étape du ridicule à l’étape de la discussion”, sem. 2,
2013, p. 157/179 (MARGUÉNAUD, Jean-Pierre).
No referido artigo, o prof. Marguénaud cita várias opiniões sob pontos de vista diversos e levanta a questão da dificuldade em se aplicarem
as alterações mencionadas. Ficou claro que os jusanimalistas entendem ser o mais correto a criação de uma categoria sui generis para os
animais, de acordo com a sua própria natureza. Alguns cientistas que se opõem à redação tal como está no Código francês entendem ser
um absurdo falar em um bem móvel sensível.
O artigo relata a destacada atuação na defesa da criação de uma terceira categoria para os animais da jurista Madame Suzane Antoine,
advogada presidente da Câmara Honorária da Corte de Apelo de Paris e membro da Liga Francesa dos Direitos dos Animais (falecida em
março de 2015). Para a doutora Suzane, os animais deveriam ser classificados como “bens protegidos”.27
Madame Suzane Antoine apresentou duas propostas no sentido de se criar uma nova categoria para os animais, sugerindo as seguintes
emendas ao Código Civil francês, que não foram acatadas, e que transcrevemos pela importância para a evolução do debate. Ambas levam
em conta os interesses dos animais na aplicação das leis:
Article 515-9
Les animaux sont des êtres vivants doués de sensibilité. En toutes circonstances, ils doivent bénéficier de conditions conformes aux
impératifs biologiques de leur espèce et assurant leur bien-être.28
[Os animais são seres vivos dotados de sensibilidade. Em todas as circunstâncias, eles devem se beneficiar de condições conforme os
imperativos biológicos de sua espécie e ter assegurado o seu bem-estar.]29
Article 516
Les biens comportent d’une part les animaux, qui sont des biens protégés en leur qualité d’êtres vivants et sensibles, d’autre part les
immeubles et les meubles.30
[Os bens compreendem de um lado os animais, que são bens protegidos em sua qualidade de seres vivos e sensíveis, e de outra parte
os imóveis e os móveis.]31
Em maio de 2015, Dra. Suzane escreveu o texto “Rapport sur le regime juridique de l’animal”, publicado pelo Ministère de la Justice da
França,32 resultado da proposta conjunta de vários juristas para tratar da inserção no Código Civil de um novo conceito de animal como ser
sensível.
Para o prof. Marguénaud, à luz do Direito Civil vigente, as restrições às prerrogativas do proprietário em relação a seu bem só se fazem por
interesse público ou interesse de terceiro. E, se admitirmos restrições ao direito de propriedade devido à coisa apropriada, o conceito
clássico de direito real fica abalado.33
Em seu livro La personalité juridique des animaux et l’animal en droit privé, Marguénaud afirma:
A inarredável constatação de que o animal está protegido no seu próprio interesse, notadamente contra os atos de crueldade e maus
tratos daquele, que por força do hábito, ainda se chama proprietário, gera uma dificuldade jurídica de se poder afirmar que está
submetido ao direito de propriedade.34
Não obstante as críticas, o fato de os animais serem reconhecidos como “não objetos” ou “seres sensíveis” é um grande passo para uma
mudança de paradigma jurídico em relação ao Direito Animal, mesmo estando ainda regidos pelo mesmo regime jurídico dos bens. O direito
de propriedade é limitado pelo Direito Penal que protege os animais dos atos de maus tratos.
No Congresso Nacional já tramita o PL nº 6.799/2013, do Deputado Ricardo Izar nesse sentido.[35]
4 Conclusão
Apesar de a CR garantir aos animais direitos fundamentais e a Lei nº 5.197/1967 regulamentar a proteção dos animais silvestres, falando
ambas de conservação das espécies e dos ecossistemas, os animais como indivíduos atualmente só estão protegidos pela lei penal.
A complexidade da mudança do status jurídico dos animais esbarra na dificuldade de se atribuir um status que se aplique a todos os
animais, sem fazer distinção. Cada espécie é diferente da outra, não só sob o ponto de vista biológico, mas tem relação diferente com os
seres humanos. Todavia, a alteração do status jurídico dos animais é urgente e necessária para que se tratem os animais como seres vivos
que são.
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De forma que o reconhecimento legal de que os animais são seres sensíveis dotados de sensibilidade, e o reconhecimento expresso na lei
de que não são bens ou coisas, viria, sem dúvida, a dinamizar a eficácia das leis de proteção aos animais. De outrolado, isto iria incentivar e
respaldar o Judiciário para aplicar as leis sob o ponto de vista dos animais, criando novos paradigmas para interpretação no campo do
Direito Civil. Assim como no âmbito do Direito Penal Ambiental se aplicam princípios peculiares que divergem do Direito Penal Clássico, é
hora de o direito Civil Clássico agasalhar novos princípios em favor de todos os seres vivos, pois a vida é um bem genérico, anterior ao
direito de propriedade. A vida não é apenas um bem para o ser humano, mas para todo ser vivo. Toda vida deve ser igualmente protegida.
Os interesses dos animais devem ser levados em conta na interpretação e aplicação das leis. Temos que aplicar uma justiça além da
humanidade e criar uma justiça para a biodiversidade.
Isto só será possível em se criando uma categoria distinta de pessoas, as pessoas não humanas, como já acontece com as pessoas
jurídicas ou morais, sejam elas personalizadas ou despersonalizadas. Alguns acham que os animais devem ser equiparados aos incapazes
e outros às pessoas morais, enquanto grande número de pessoas clama pela criação de uma categoria intermediária entre pessoa e bens:
os animais, como seres vivos ou bens protegidos. O fato é que a reforma do Código Civil brasileiro neste sentido é urgente.
Reconhecer que os animais não são coisas já é um bom começo. Aqui fica a nossa proposta.
 
Referências
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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2013.
21/03/2018 Editora Fórum - Plataform Fórum de Conhecimento Juridico
http://bidforum.com.br/bidBiblioteca_periodico_print.aspx?i=236265&p=3 8/9
1 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 04 abr. 2015.
2 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 04 abr. 2015.
3 Código Civil. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 39-43.
4 BRASIL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 06 abr. 2015.
5 BRASIL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>.
6 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
7 FIUZA, César. Direito Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p. 183.
8 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2013. p. 308.
9 Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/62848438/stj-11-12-2013-pg-1614/pdfView>. Acesso em: 14 abr. 2015.
10 Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/62848438/stj-11-12-2013-pg-1614/pdfView>. Acesso em: 14 abr. 2015.
11 Switzerland Code Civil Suisse French, Italian, and German. Disponível em: <http://www.admin.ch/ch/f/rs/c210.html>. Acesso em: 25 abr.
2015.
12 Tradução de Edna Cardozo Dias, em 04.04.2015.
13 Disponível em: <http://www.gesetze-im-internet.de/englisch_bgb/>.
14 Germany Bürgerliches Gesetzbuch German. Disponível em: <http://www.datenschutz-berlin.de/recht/de/rv/szprecht/bgb/English> (Enter
“Civil Code” in the search field).
 
15 Germany Bürgerliches Gesetzbuch German. Disponível em: <http://www.datenschutz-berlin.de/recht/de/rv/szprecht/bgb/ English> (Enter
“Civil Code” in the search field). Acesso em: 1º abr. 2015.
16 Tradução de Edna Cardozo Dias.
17 CERCEL, Sevastian. The Juridical Regime of Animals According to the New Romanian Civil Code. Faculty of Law and
Administrative Sciences, University of Craiova, Romania. Abstract. Disponível em:
<https://www.law.muni.cz/sborniky/dny_prava_2011/files/prispevky/03%20ZVIRE/CERCEL_SEVASTIAN_%286999%29.pdf 4/4/2015>.
18 France Code Civil French, Spanish, and English. Disponível em: <http://www.bicentenaireducodecivil.fr/leger/legifrance.htm>.
19 Disponível em: <http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do?cidTexte=LEGITEXT000006070721&dateTexte=20150402>.
20 Tradução de Edna Cardozo Dias.
21 Disponível em: <http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do;jsessionid=50599A382C721CA5FDB66F65525686D8.tpdila19v_1?
idSectionTA=LEGISCTA000006090204&cidTexte=LEGITEXT000006070721&dateTexte=20150402>. Acesso em: 1º jan. 2015.
22 Disponível em: <http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do?cidTexte=LEGITEXT000006071367&dateTexte=20150402>. Acesso em: 1º
jan. 2015.
23 Disponível em: <http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do;jsessionid=50599A382C721CA5FDB66F65525686D8.tpdila19v_1?
idSectionTA=LEGISCTA000022200247&cidTexte=LEGITEXT000006071367&dateTexte=20150402>. Acesso em: 04 abr. 2015.
24 Tradução de Edna Cardozo Dias.
25 Autor do livro Animaux et droits européens au-delà de la distiction entre les hommes et les choses. (Editions A.
Pedone/França, 2009); diretor da Revue Semestrielle de Droit Animalier, Université de Limoges. Professor de Direito Privado e de
Ciências Criminais, Université de Limoges. Membro do Institut de Droit Européen des Droits de l’Homme-I.D.E.D.H. (EA 3976), Université
Montpellier 1.
26 Tradução de Edna Cardozo Dias, 05.04.2015. Disponível em: <http://www.30millionsdamis.fr/fileadmin/user_upload/actu/10-
2013/Manifeste.pdf>. Acesso em: 1º abr. 2015.
27 MARGUÉNAUD, Jean-Pierre. Revue Semestrielle de Droit Animalier, sem. 2, 2013, p. 161.28 ESTIVA, Reus. Le rapport sur le régime juridique de l’animal de Suzanne Antoine. Cahiers-Antiespeciste. Disponível em:
<http://www.cahiers-antispecistes.org/spip.php?article275#nb1>. Acesso em: 06 abr. 2015.
21/03/2018 Editora Fórum - Plataform Fórum de Conhecimento Juridico
http://bidforum.com.br/bidBiblioteca_periodico_print.aspx?i=236265&p=3 9/9
29 Tradução de Edna Cardozo Dias.
30 REUS, idem.
31 Tradução de Edna Cardozo Dias.
32 Disponível em: <http://www.ladocumentationfrancaise.fr/var/storage/rapports-publics/054000297/0000.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2015.
33 MARGUÉNAUD, ibidem, p. 163. Disponível em: <http://www.unilim.fr/omij/files/2014/03/RSDA-2-2013.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2015.
34 MARGUÉNAUD, Jean Pierre. La personalité juridique des animaux. Paris: Dalloz, 1998. p. 205. Apud LOURENÇO, Daniel Braga.
Direito dos animais. Porto Alegre: Sergio Fabris, 2008. p. 487/8.
35 Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=FD7B491279BC8CB6B68CADBCBF15B4E6.proposicoesWeb2?
codteor=1198509&filename=PL+6799/2013>. Acesso em: 21 abr. 2015.
 CÂMARA DOS DEPUTADOS PROJETO DE LEI Nº , DE 2013 (Do Sr. Ricardo Izar) Acrescenta parágrafo único ao artigo 82 do Código
Civil para dispor sobre a natureza jurídica dos animais domésticos e silvestres, e dá outras providências.
 O Congresso Nacional decreta: Art. 1º - Esta Lei estabelece regime jurídico especial para os animais domésticos e silvestres.
 Art. 2º - Constituem objetivos fundamentais desta Lei:
 I. Afirmação dos direitos dos animais e sua respectiva proteção;
 II. Construção de uma sociedade mais consciente e solidária;
 III. Reconhecimento de que os animais possuem personalidade própria oriunda de sua natureza biológica e emocional, sendo seres
sensíveis e capazes de sofrimento.
 Art. 3º - Os animais domésticos e silvestres possuem natureza jurídica sui generis, sendo sujeitos de direitos despersonificados, dos quais
podem gozar e obter a tutela jurisdicional em caso de violação, sendo vedado o seu tratamento como coisa.
 Art. 4º - O artigo 82 do Código Civil passa a vigorar com a seguinte redação:
 Art. 82.....................................................................................
 Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica aos animais domésticos e silvestres.
 Art. 5º- Esta lei entra em vigor 60 (sessenta dias) após sua publicação. CÂMARA DOS DEPUTADOS.
 JUSTIFICATIVA A presente proposta visa tutelar os direitos dos animais, domésticos e silvestres, conferindo-os lhe novo regime jurídico,
suis generis, que afasta o juízo legal de “coisificação” dos animais – que os classificam como meros bens móveis –, e prevê nova natureza
jurídica que reconhece direitos significativos dos animais. Em análise ao tema, conclui-se que as normas vigentes que dispõem sobre os
direitos dos animais incidem sob a ótica de genuína proteção ambiental, desconsiderando interesses próprios desses seres, de modo que o
bem jurídico tutelado fica restrito à função ecológica. Com o fim de afastar a ideia utilitarista dos animais e com o objetivo de reconhecer que
os animais são seres sencientes, que sentem dor, emoção, e que se diferem do ser humano apenas nos critérios de racionalidade e
comunicação verbal, o Projeto em tela outorga classificação jurídica específica aos animais, que passam a ser sujeitos de direitos
despersonificados. Assim, embora não tenha personalidade jurídica, o animal passa a ter personalidade própria, de acordo com sua espécie,
natureza biológica e sensibilidade. A natureza suis generis possibilita a tutela e o reconhecimento dos direitos dos animais, que poderão ser
postulados por agentes específicos que agem em legitimidade substitutiva. Para o reconhecimento pleno dos direitos dos animais há de se
repensar e refletir sobre as relações humanas com o meio ambiente. O movimento de “descoisificação” dos animais requer um esforço de
toda a sociedade, visto que, eles próprios não podem exigir sua libertação. Como seres conscientes, temos não só o dever de respeitar
todas as formas de vida, como o de tomar providências para evitar o sofrimento de outros seres. Sala das Sessões, 20 de novembro de
2013. Deputado Ricardo Izar PSD/SP.
Como citar este conteúdo na versão digital:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte
forma: 
DIAS, Edna Cardozo. O animal e o Código Civil brasileiro. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 81, maio/jun. 2015. 
Disponível em: <http://www.bidforum.com.br/PDI0006.aspx?pdiCntd=236265>. Acesso em: 21 mar. 2018.
Como citar este conteúdo na versão impressa:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico impresso deve ser citado da seguinte
forma: 
DIAS, Edna Cardozo. O animal e o Código Civil brasileiro. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 14, n. 81, p. 9-15, maio/jun.
2015.

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