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1 MATERIAIS METÁLICOS CURSO: Engenharia Mecânica – 4º Semestre Prof. Francisco Nascimento NOTA DE AULA – 04 7. PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO AÇO Sendo o ferro gusa uma liga ferro-carbono em que o carbono e as impurezas normais (Si, Mn, P e S), principalmente o Si e o Mn, se encontram em teores elevados, a sua transformação em aço, que é uma liga de mais baixos teores desses elementos, corresponde a um processo de oxidação, por intermédio do qual, porcentagens desses elementos é reduzida até os valores desejados. Para isto, ou seja, para transformação do ferro gusa em aço, utilizam-se “agentes oxidantes’, os quais podem ser de natureza gasosa, como ar e oxigênio, ou natureza sólida, como minérios na forma de óxidos. Assim sendo, os processos para produção do aço podem ser classificados de acordo com o agente utilizado: => Processos pneumáticos, onde o agente oxidante é o ar ou o oxigênio; => Processos Siemens-Martin, elétrico, duplex, etc., em que os agentes oxidantes são substâncias sólidas contendo óxidos. Por outro lado, dependendo da composição do ferro gusa e do tipo de aço desejado, pode-se considerar ainda outra divisão dos processos de sua fabricação, qualquer que seja o tipo de forno: => Processos ácidos, em que podem ser diminuídos ou removidos facilmente os elementos carbono, silício e manganês, não acontecendo, entretanto, o mesmo com o fósforo e enxofre. => Processos básicos, em que todos os elementos acima podem ser reduzidos aos valores desejados. As propriedades dos aços e, portanto, suas aplicações práticas, são estreitamente condicionadas pelo teor de carbono. Numa mesma aplicação, pequenas variações no teor de carbono e de elementos de liga determinam o desempenho da peça a ser produzida. A fabricação do aço a partir do ferro gusa consiste essencialmente em se produzir, de forma controlada, a concentração dos diversos elementos que entram em sua composição inicial, conforme indicado na tabela abaixo: ELEMENTO FERRO GUSA ( % ) AÇO DOCE ( % ) Carbono 3 a 4 0,02 a 0,1 Silício 1 a 3 0,02 a 0,1 Manganês 0,5 a 1,5 0 a 0,02 Enxofre 0,01 a 0,2 0,01 a 0,1 Fósforo 0,05 a 2 0,05 a 0,2 7.1 Oxidação do Ferro Gusa A redução controlada dos teores dos elementos componentes do ferro gusa se deve ao fato de que os mesmos formam compostos intermetálicos com o ferro, os quais comprometem o desempenho do produto final. 2 O enxofre forma um sulfeto (FeS) de baixo ponto de fusão, que se precipita e segrega nos contornos de grão e que funde à temperatura de forjamento, provocando o surgimento da fragilidade a quente. O fósforo forma um fosfeto (Fe3P) de elevada dureza, que faz surgir à fragilidade a frio, impedindo o sucesso dos processos de conformação a frio. O próprio carbono forma a cementita (Fe3C), um carbeto de elevadíssima dureza. Assim sendo, tais elementos, devem ser mantidos em teores controlados, em níveis abaixo dos que caracterizam o ferro gusa. Isto é obtido simplesmente por meio de oxidação desses elementos, isto é, pela passagem de oxigênio (puro ou do ar) em meio à massa do ferro gusa em estado líquido (~ 1600 ºC). A tabela abaixo mostra as reações de oxidação dos componentes do ferro gusa na fabricação do aço. A oxidação do ferro é mostrada como referência. ELEMENTO REAÇÃO DE OXIDAÇÃO – 1600ºC Carbono 2C + O2 -------> 2CO Silício Si + O2 -------> SiO2 Manganês 2Mn + O2 -------> 2MnO Enxofre S + O2 -------> SO2 Fósforo 4/5P + O2 -------> 2/5P2O5 Ferro (referência) 2Fe + O2 -------> 2FeO Nas reações mostradas na tabela acima, podemos verificar que: • São reações nitidamente exotérmica, o que permite a manutenção da temperatura sem o auxílio de combustão paralela (queima de combustível); • O fósforo apresenta reação de oxidação menos viável e, visto que a oxidação é de caráter preferencial, será esse o elemento de mais difícil oxidação, com redução restrita do seu teor. 7.2 Oxidação em Conversores A oxidação do ferro gusa líquido pode ser feita por meio de insuflação de ar (pneumática) em fornos denominados “conversores Bessemer”, conforme mostra a figura abaixo. Esses fornos podem ser “ácidos” ou “básicos”, em função do tipo de escória e de refratário utilizados. 3 Os conversores ácidos são destinados a ferro gusa com teores desprezíveis de fósforo, caso em que se pode formar escória ácida e utilizar refratários ácidos à base de sílica (SiO2). Para ferro gusa com elevado teor de fósforo, utiliza-se o conversor básico (ou conversor de Thomas) no qual se forma escória básica por meio da adição de cal (CaO) como fundente, com a finalidade de escorificar o fósforo. Nesse caso, o refratário deverá ser também do tipo básico (a base de dolomita ou magnesita). A figura abaixo mostra o gráfico de variação da composição química do ferro gusa durante a sopragem de ar no conversor Bessemer para fabricação de aço. As reações de oxidação que ocorrem num conversor são suficientemente exotérmicas para aquecer o banho de 1300 ºC (ferro gusa líquido) a 1600 ºC (aço líquido) dispensando o uso de combustível, porém limitando a reciclagem de sucata de aço para um máximo de 10% em peso. O tempo de oxidação em um conversor, também denominado “período de sopragem”, é da ordem de 15 min., durante os quais se verifica a redução dos teores dos elementos, como mostra a figura acima. Devido ao uso do ar como veículo de oxigênio, haverá eventualmente um aumento no teor inicial de nitrogênio (principal componente do ar) que, em certos casos, poderá ser prejudicial. 7.3 Oxidação com Oxigênio Puro Para se evitar o aumento do teor de nitrogênio no aço, pode-se oxidar o ferro gusa com oxigênio puro ao invés do ar. Nessas condições, a sopragem levará mais tempo e terá o comportamento conforme mostra o gráfico abaixo. Isso pode ser obtido por meio de diversos processos, cuja vantagem é permitir uma adição de sucata de até 20% de carga, sem necessidade de se queimar combustível. 4 Os principais processos de oxidação em conversores por meio de oxigênio puro são: => Processo LD Basicamente similar ao do conversor Bessemer com exceção de que o forno não apresenta uma caixa inferior de sopragem, conforme mostra a figura abaixo. A sopragem do oxigênio puro é feita por meio de um tubo, denominado “lança”, que é introduzido pela boca superior do forno. Esse processo foi desenvolvido na Áustria, e o nome LD vem das iniciais das duas fábricas que primeiro o utilizaram: Linz e Donawitz. => Processo KALDO É uma derivação do processo LD, com a vantagem de se aplicar um movimento de rotação no corpo do conversor, a fim de se obter uma melhor homogeneização do banho de ferro gusa que se oxida o aço. Esse processo foi desenvolvido na Suécia e o nome KALDO é formado pela junção das primeiras letras do nome do seu inventor (Kalling) e da cidade onde o utilizou pelo primeira vez (Domnarfvert). A figura abaixo ilustra o referido processo. => Processo ROTOR Provavelmente o mais eficiente dos processos de oxidação por meio de oxigênio puro. Conforme mostra a figura abaixo, é um desenvolvimento do processo KALDO, consiste num forno cilíndrico que gira (~0,5 rpm) durante a oxidação e que apresenta duas lanças de oxigênio. Uma das lanças é inserida em meio ao banho de ferro gusa, onde sopra o oxigênio “primário”, destinado especificamente a oxidação. A outra lança sopra o oxigênio “secundário”, destinado à queima do monóxido de carbono que resulta da oxidação do carbono. Esse expediente permite que se possa colocar mais sucata, até 30% de carga. 5 => Processo SPRAY Este éo mais sofisticado dos processos de oxidação de ferro gusa por meio de oxigênio puro. Baseia-se na oxidação “gota-a-gota” do ferro gusa, portanto, de grande eficiência. Entretanto, o custo do aço produzido ainda não é competitivo com relação aos outros processos. A figura abaixo mostra o esquema de operação do processo de fabricação do aço por SPRAY. 7.4 Processo Siemens-Martin A necessidade de se reciclar grandes quantidades de sucata na fabricação do aço faz com que o processo Siemens-Martin ainda seja bastante utilizado hoje. Esse processo permite a utilização de ate 50 ou 60% de sucata na carga. Por esse motivo, necessita-se queimar combustível para que se possa fundir a carga. Para aumentar a eficiência térmica do processo, o forno Siemens-Martin conta com um sistema de regeneradores de calor que operam de forma alternada. Esse processo, cujo esquema de carga e vazamento foi desenvolvido de forma simultânea por Siemens (Alemanha) e por Martin (França) pode chegar a uma capacidade de carga de entre 500 e 600 toneladas de aço e seu tempo de operação pode variar de 8 a 16 horas. As figuras abaixo ilustram este processo. 6 7.5 Forno Elétrico Finalmente, a fabricação do aço, principalmente os de maior qualidade, pode ser feita em fornos elétricos. Este processo pode operar com até 100% de sucata e com carga sólida, motivo pelo qual necessita de grandes quantidades de energia, obtidas através da formação do arco elétrico entre três eletrodos de grafita e a carga sólida. Sua capacidade pode variar de 10 a 50 toneladas de aço e seu tempo de operação pode variar de 1 a 2 horas. A figura abaixo ilustra o referido processo.
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