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__________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 A IMPORTÂNCIA DO ENQUADRAMENTO DO REGIME TRIBUTÁRIO PARA A VIDA EMPRESARIAL Cleomara Gonsalves Gonem 1 Desemira Cervi² Janete Probst Munhoz³ RESUMO: Este artigo tem como objetivo demonstrar as dificuldades que as empresas brasileiras possuem em analisar o custo benefício do enquadramento tributário mais adequado à sua condição empresarial. Identifica-se que a maioria das empresas tem o senso comum da teoria do "achismo", fator que demonstra a ausência de estudo sobre as legislações vigentes, o que dificulta o feedback com o profissional contábil. As variáveis deste estudo são endógenas, sendo um estudo do processo interno das empresas, mais especificadamente do regime tributário. Para a estruturação do presente artigo, efetuou-se pesquisa bibliográfica sobre o tema “carga tributária”, dando ênfase ao enquadramento tributário, onde se procurou relacionar e combinar informações pertinentes ao tema. Na tentativa de entender a influência e consequências deste processo, pôde se perceber que ainda existe um árduo caminho a percorrer até que empresário alcance a visão de empreendedor, pois a grande maioria não distingue investimento de custo. As principais conclusões foram de que muitas empresas poderiam estar pagando menos impostos se estivessem enquadradas no regime tributário correto ao seu faturamento e sua atividade empresarial. Palavras-chave: Empresa; Regimes tributários; Custo benefício. 1 INTRODUÇÃO No Brasil, a conceituação de empresa ainda se depara com divergências conceituais e operacionais, fator que dificulta um consenso entre os estudiosos e aumenta a dificuldade de muitos empresários em conceituar e definir-se, pois não existe o hábito de primeiro planejar e conhecer aquilo a que se propõe, mais sim em realizar e ver qual será o resultado, fator que demonstra a importância de se deter o conhecimento sobre aquilo que está propenso a realizar, 1 Pós - Graduada em Direito e Processo do Trabalho. Docente do Curso de Direito das Faculdades Guarapuava; Endereço: Rua Novo Ateneu, 1015 - Vale do Jordão, CEP: 85015-080, Guarapuava – PR. Brasil. E-mail: cleogonem@hotmail.com (autora responsável para correspondência). ² Especialista em Contabilidade Financeira. Contadora do Escritório Excellence – GUARAPUAVA. ³ Mestre em desenvolvimento econômico. Docente do Curso de Administração e RH das Faculdades Guarapuava. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 pois, tanto conceito como legislação, remetem ao enquadramento tributário, fator que será o diferencial entre o sucesso ou a falência de uma empresa. As empresas brasileiras sejam elas grandes, médias, pequenas e micro, ao se constituírem, devem optar pelo enquadramento em um regime tributário adequado à sua realidade empresarial, ou seja, com base em seu faturamento e atividade, elas são remetidas a um tipo de regime tributário para poder pagar seus tributos. No entanto, a grande maioria dos empresários baseia-se na teoria do “achismo”, acreditando que o regime simplificado - SIMPLES FEDERAL é o melhor regime tributário para sua empresa, sem ter conhecimento da legislação aplicável, tão pouco das possibilidades que a própria legislação disponibiliza para análise do custo benefício. O presente artigo se subdivide em três capítulos. No primeiro capítulo estabelecerá um conceito de empresa no Brasil e suas peculiaridades; o segundo capítulo fará uma abordagem sobre o enquadramento de regime tributário empresarial, demonstrando as diferenças e/ou semelhanças entre os tipos de regimes, e no terceiro capítulo abordará estudos de casos que identificam e quantificam a variação de alíquotas aplicáveis nas legislações brasileiras e demonstram contabilmente a importância de se enquadrar no regime mais adequado para geração de economia em pagamento de tributos. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CONCEITO DE EMPRESAS E SUAS PECULIARIDADES No Brasil a conceituação de empresa depara-se com divergências, tanto no aspecto jurídico quanto econômico em relação ao consenso de sua definição. Sá; Sá (2005, p. 170), autores do dicionário de contabilidade, definem empresa como “aziendas2 de fins lucrativos em que o patrimônio recebe o nome de capital”. Já Sandroni, (2002, p. 204) autor do dicionário de economia, faz a seguinte definição: 2 Azienda significa fazenda em Italiano, termo este usado pelo autor por representar o fato de sua existência, ou seja, ela tem formação própria e existem independentemente de sua constituição jurídica. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 [...] organização destinada a produção e ou comercialização de bens e serviços tendo como objetivo o lucro. Em função o tipo de produção distinguem-se quatro tipos: agrícolas, industrial, comercial e financeira, cada uma delas com um modo de funcionamento próprio como independentemente da natureza do produto, a empresa define-se pelo seu estatuto jurídico podendo ser público, privada ou de economia mista. Na concepção jurídica, empresa significa uma atividade produtiva exercida pelo empresário, a qual na definição de Requião (2005) poderia ser delineada como: [...] a organização técnico-econômica que se propõe a produzir a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados à troca (venda), com esperança de realização de lucros, correndo riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob sua responsabilidade. Observa-se que, apesar de todas relacionarem a questão lucro, cada definição tem suas peculiaridades ao definir e conceituar empresa, pois contabilmente a personalização jurídica é que reflete na funcionalidade empresarial; já em termos econômicos a definição e conceituação é muito mais abrangente, pois caracteriza não só a sua definição em termos de personalização, mas também em tipificação e classificação, fator que congrega também a personalidade jurídica, diferindo-se da conceituação jurídica que remete à pessoa física do empresário total responsabilidade sobre a empresa, sendo ela para essa ciência, o objeto de direito, porque não se pode falar em personificação da empresa. 2.2 CONCEITO DE EMPRESAS E SUAS PECULIARIDADES Com base na legislação brasileira vigente, as empresas devidamente constituídas são classificadas em três aspectos: econômico, administrativo e jurídico. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 2.2.1 Aspecto Econômico No aspecto econômico, as empresas classificam-se em três grandes grupos ou setores de atividade, conforme pontua Neto (2000, p. 24): a. Setor primário, em que se relacionam as empresas cujas atividades se identificam diretamente com o cultivo e a exploração do solo, com a finalidade de obter alimentos, matérias-primas e combustíveis. B. Setor secundário, em que se relacionam as empresas de transformação, ou seja, as empresas industriais. Pela utilização dos fatores de produção, essas empresas elaboram, por diversos processos,um produto diferente do original, para posterior comercialização. C. Setor terciário, em que se relacionam as atividades de comércio e de prestações de serviços. A empresa comercial atua como intermediária entre o produtor e o consumidor, por meio da compra de mercadorias para revenda. Por outro lado, a empresa de serviço atua na prestação de serviços por meio de pessoas e equipamentos. 2.2.2 Aspecto Econômico Quanto ao aspecto administrativo, as empresas classificam-se em estatais, mistas e privadas, conforme especificação: a) A Empresa Estatal: Na conceituação do dicionário de economia, trata-se de uma organização destinada a garantir a produção de bens e serviços fundamentais à coletividade, sendo o capital controlado totalmente pelo poder público (SANDRONI, 2002). b) A Empresa Mista: é aquela cujo capital origina-se parte do setor público, parte do setor privado, independentemente do controle que um ou outro setor possa deter. c) Empresa Privada: organização pertencente a indivíduos e/ou grupos, cujo capital e administração são de total responsabilidade da iniciativa particular. Seus objetivos, sua gestão e política de funcionamento são definidos pelo empresário privado, sendo que a influência do Estado se concentra, basicamente, nos aspectos legais de funcionamento. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 2.2.3 Aspecto jurídico No aspecto jurídico, as sociedades comerciais podem ser classificadas em dois grandes grupos: empresa individual e empresa societária. Empresa individual É aquela cujo capital pertence a uma só pessoa. Para Neto (2000, p. 26) “[...] esse único dono será o responsável por todos os resultados da empresa. Poderá apoderar-se de todos os lucros conseguidos; mas, por outro lado, dará seu nome a todos os seus bens como garantia dos resultados adversos que possam vir a ocorrer”. Empresa societária É a empresa cujo capital foi constituído por duas ou mais pessoas. Essa sociedade constituída por sócios, tendo como principal objetivo a obtenção de lucros em suas atividades de intermediação de bens e serviços no mercado. No Brasil, as sociedades obedecem basicamente à seguinte classificação: a) sociedade em quotas de participação: institucionalizada no Brasil em 1919, cujo capital é representado por quotas e distribuído aos sócios de acordo com o aporte financeiro de cada um, sendo que a responsabilidade limitada corresponde ao valor de suas respectivas participações em quotas na sociedade; deve-se considerar para esse efeito que o capital da sociedade se encontre totalmente integralizado; b) sociedade em comandita simples: é a entidade constituída por sócios que possuem responsabilidade ilimitada e solidária. Segundo Rubens Requião (2000) ocorre “[...] quando duas ou mais pessoas se associam, para fins comerciais, obrigando-se uns como sócios solidários, ilimitadamente responsáveis, e sendo outros simples prestadores de capitais, com a responsabilidade limitada às suas contribuições de capital”. A legislação vigente, a lei 10.406/02, regida pelos artigos 1045 a 1047: __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota. Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários. Art. 1.046. Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis com as deste Capítulo. Parágrafo único. Aos comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos sócios da sociedade em nome coletivo. Art. 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado. Parágrafo único. Pode o comanditário ser constituído procurador da sociedade, para negócio determinado e com poderes especiais. c) sociedade em comandita por ações: Santos (2001), autor do Dicionário Jurídico Brasileiro, define essa sociedade como: “sociedade personificada em que o capital é dividido em ações, respondendo os sócios ou acionistas, tão-somente, pelo valor das ações subscritas ou adquiridas, com responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada dos diretores ou gerentes pelas obrigações sociais”. No direito brasileiro as sociedades em comanditas por ações estão regulamentadas pela Lei nº 6.404/76 e pelo Código Civil, lei 10.406/02, nos artigos 1.090 a 1.092: Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e opera sob firma ou denominação. Art. 1.091. Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade. § 1 o Se houver mais de um diretor, serão solidariamente responsáveis, depois de esgotados os bens sociais. § 2 o Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem no mínimo dois terços do capital social. § 3 o O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração. Art. 1.092. A assembléia geral não pode, sem o consentimento dos diretores, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital social, criar debêntures, ou partes beneficiárias. d) sociedade em nome coletivo: pode ser exercida atividade econômica, comercial e civil e todos os sócios são pessoas físicas, podendo ser empresário individual ou não, e responsáveis solidários pelas obrigações sociais, devidamente definidas nos art. 1039 a 1044 do Código civil: Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. Art. 1.040. A sociedade em nome coletivo se rege pelas normas deste Capítulo e, no que seja omisso, pelas do Capítulo antecedente. Art. 1.041. O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a firma social. Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes. Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor. Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando: I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente; II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicaçãodo ato dilatório. Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência. e) sociedade por quotas de responsabilidade limitada: enquadra-se nesta modalidade a empresa que é constituída por duas ou mais pessoas e que se responsabiliza de forma limitada a sua participação quotista, ou seja, pelo número de quotas integralizadas, podendo ser melhor explicitada através da verificação de sua definição no código civil brasileiro, lei 10406/02, art. 1052 a 1059: Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples. Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima. Art. 1.054. O contrato mencionará, no que couber, as indicações do art. 997, e, se for o caso, a firma social. Seção II Das Quotas Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. § 1 o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade. § 2 o É vedada contribuição que consista em prestação de serviços. Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no artigo seguinte. § 1 o No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido. § 2 o Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de quota indivisa respondem solidariamente pelas prestações necessárias à sua integralização. Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes. Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital. f) sociedade anônima: é o tipo de empresa societária que mais se desenvolve nos últimos anos. Seu capital social é dividido em parcelas, as quais são representadas por valores mobiliários denominados ações. De acordo com a lei 10406/02 a sociedade anônima está pautada na seguinte definição: Art. 1.088. Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Art. 1.089. A sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código. A sociedade anônima é uma empresa de responsabilidade limitada, não havendo a preocupação em identificar o acionista. A responsabilidade destes reside na integralização efetiva das ações subscritas e, a partir desse ponto, a quantia realizada pertencerá integralmente à empresa, que a lançará a crédito de seu patrimônio líquido. Assim, verifica-se que a sociedade por quotas de responsabilidade limitada e a sociedade anônima são os dois principais tipos de empresa societária. As demais sociedades não são muito comuns, estando algumas delas, quase em desuso, fator que remete à importância de se conhecer as definições e/ou conceituações de empresa na legislação brasileira, aplicável no momento de constituição e/ou alteração do contrato social, bem como no enquadramento tributário de melhor custo benefício à empresa, desde que o empresário assim o entenda. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 2.3 REGIMES TRIBUTÁRIOS Toda empresa, seja ela indústria, comércio ou de serviço, precisa deter um enquadramento tributário, sendo este o regime em que a empresa se adéqua para recolhimento de tributos. Para cada regime existe uma alíquota e uma base de cálculo, dependendo do faturamento e da atividade empresarial. 2. 3.1 Tipos de enquadramento Na legislação brasileira são quatro os enquadramentos tributários possíveis: Micro empreendedor individual O empreendedor individual é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. Para ser um empreendedor individual, é necessário faturar no máximo até R$ 60.000,00 por ano, e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular, podendo ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da categoria. A Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, criou condições especiais para que o empreendedor individual seja enquadrado no Simples Nacional e fique isento dos tributos federais (IR, PIS, COFINS, IPI e CSLL), pagando apenas um valor fixo de 32,10 (trinta e dois reais e dez centavos) quando for comércio ou indústria e de R$ 36,10 (trinta e seis reais e dez centavos) quando for prestação de serviço, sendo estes valores atualizados anualmente. Simples Nacional De acordo com o Ministério da Fazenda O Simples Nacional é um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido previsto na Lei Complementar nº 123, de 14.12.2006 aplicável as micro e pequenas empresas. Já na definição da Secretaria da Receita Federal, o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES) é um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 previsto na Lei Complementar nº 123, de 14.12.2006, aplicável às Microempresas e às Empresas de Pequeno Porte, a partir de 01.07.2007 (BRASIL, 2007). O Simples Nacional implica o recolhimento mensal, mediante documento único de arrecadação - DAS, dos seguintes tributos: Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS); Contribuição para a Seguridade Social (quotas patronal); Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Para determinação da alíquota, o empresário irá utilizar a receita bruta acumuladanos 12 meses anteriores ao do período de apuração. Já o valor devido mensalmente será o resultante da aplicação da alíquota correspondente sobre a receita bruta mensal auferida, a qual se inicia em 4% indo ao teto máximo de 15% de carga tributária, conforme anexos da lei complementar 123/06. Ressalta-se que, apesar do facilitador de um pagamento unificado e normalmente visto como o mais viável em termos econômicos pela grande maioria dos empresários existe no mercado algumas empresas que evitam transações comerciais com empresas enquadradas no simples por não poder se creditar de ICMS, PIS e COFINS. Lucro Presumido Neste tipo de regime tributário, o montante a ser tributado é determinado com base na receita bruta, através da aplicação de alíquotas variáveis em função da atividade geradora da receita. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 O Lucro Presumido como o próprio nome diz, trata-se de presumir o lucro, regime este que só é eficaz para empresas que desconhecem seu faturamento, lucram mais de 30% do valor da receita ou que não se enquadram no regime tributário de lucro real e do simples. Deve-se esclarecer que as empresas que optam por este regime não possuem a possibilidade de se creditarem de PIS, COFINS, ICMS no sistema não cumulativo, o que pode caracterizar-se como uma desvantagem. Lucro Real Para Silva (2006, p. 01) “Lucro Real é o lucro líquido do período, apurado com observância das normas das legislações comercial e societária, ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas pela legislação do Imposto de Renda”. Estão obrigadas a optar pela tributação com base no Lucro Real as pessoas jurídicas que estiverem enquadradas nas seguintes condições: I – Que tenham receita total, no ano-calendário anterior, superior a R$ 48.000.000,00, ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 meses; II – cujas atividades sejam de instituições financeiras ou equiparadas; III – que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital, oriundos do exterior; IV – que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam benefícios fiscais relativos à isenção ou redução do imposto; V – que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado pagamento mensal pelo regime de estimativa, inclusive mediante balanço ou balancete de suspensão ou redução de imposto; VI – cuja atividade seja de factoring. Para as demais pessoas jurídicas, a tributação no lucro real é uma opção, pois a maior vantagem caracterizada neste regime é que caso haja prejuízo, a empresa não será tributada em CSLL e IR. Também poderá utilizar-se dos créditos de PIS e COFINS, porém como desvantagem existe um alto nível de exigência nos controles e na contabilidade, pois algumas despesas não são consideradas como dedutíveis para o cálculo do lucro real. Neste capítulo foi possível verificar que as empresas, de modo geral possuem opções de enquadramento tributário, as quais exigem um bom planejamento empresarial, ou seja, um plano de negócio antes de qualquer constituição empresarial, ou um estudo de caso quando já está em __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 funcionamento, pois isso remete a análise de viabilidade financeira, fator que submete a possibilidade de enquadramento, repercutindo diretamente no pagamento de tributos. Afinal, cada modalidade de regime possui suas peculiaridades e consequentemente normas legais que possibilitam uma decisão que poderá repercutir em economia tributária para a empresa e consequentemente para seus proprietários. 3 ESTUDO DE CASOS Neste Capítulo se apresentam dois casos distintos, sendo que o primeiro refere-se a uma empresa enquadrada no regime do SIMPLES FEDERAL, que foi excluída em data de 31/07/2011, recaindo automaticamente para o Regime de apuração pelo Lucro Real a partir de 01/08/2011, sendo, portanto analisado o período de 01/08/2011 a 31/12/11 para efeitos de apuração de carga tributária comparativa nos dois regimes: MESES RECEITAS SIMPLES INSS PIS COFINS C.SOCIAL IRPJ JAN 754.011,02 -63.789,33 71.103,55 - - - - FEV 28.085,81 -2.376,06 60.213,10 - - - - MAR 488.379,01 -60.803,19 98.347,61 - - - - ABR 1.158.438,08 -170.985,46 129.353,31 - - - - MAI 1.036.878,25 -191.822,48 194.920,73 - - - - JUN 709.544,10 -131.265,66 256.615,63 - - - - JUL 1.699.744,52 -314.452,74 427.736,13 15.306,98 70.605,72 - - AGO 791.792,16 477.455,37 18.998,57 87.657,73 - - SET 1.015.867,89 551.788,24 18.932,80 87.416,41 27.447,47 35.080,56 OUT 54.741,35 519.544,49 26.685,36 123.128,46 - - NOV 46.234,83 486.832,89 33.863,41 156.193,74 - - DEZ 1.778.436,30 514.138,15 27.822,12 128.594,98 44.773,73 60.825,34 __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 SOMA 9.562.153,32 -935.494,91 514.138,15 27.822,12 128.594,98 44.773,73 60.825,34 -935.494,91 776.154,32 QUADRO 01 - Análise da Carga Tributária no Regime do Simples Versus Lucro Real. FONTE: Dados coletados pelas autoras (2012). Conforme exposto no quadro 01, a empresa acumulou, no período de janeiro a julho, enquanto estava enquadra no Simples Nacional, a importância de R$ 935.494,91 de imposto (Simples) a recolher. No mesmo período também podemos observar que a empresa acumulou crédito de INSS no valor de R$ 427.736,13, R$ 15.306,98 de PIS e R$ 70.605,72 de COFINS, que foram retidos nas Notas Fiscais emitidas no mesmo período. Já, no período de agosto a dezembro, quando foi enquadrada no lucro real não possui débitos de impostos a recolher, pois vem fazendo as compensações devidas mês a mês e acumulando o saldo dos créditos remanescentes. Desta forma, verifica-se que a empresa recai na mesma condição que a grande maioria das empresas brasileiras na atualidade, ou seja, em virtude do sendo comum achou que o regime do SIMPLES Federal era a melhor opção para o seu negócio, fator que conforme tabela acima demonstra bem ao contrário, ou seja, no regime de lucro real o mesmo teve uma redução de pagamento de impostos em virtude das compensações permitidas, conforme legislação vigente. O segundo caso, se refere a um estudo de alteração societária, sendo objetivada pelo empresário a transformação de uma empresa de comercialização de grãos para uma cooperativa. Assim, o quadro abaixo busca demonstrar um comparativo entre o lucro real e o presumido quanto as alíquotas cabíveis a cada uma, uma vez que a empresa de comercialização pode enquadrar-se tanto no lucro real quanto no presumido, já a cooperativa só no lucro real. Cooperativa de trabalho Tributo Regime apuração Ato Cooperado Ato não- cooperado Empresa de comercialização de grãos IRPJ Lucro real estimativa Isento 15% 15% Lucro real trimestral Isento 15% 15% __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 Lucro presumido Isento 15% 15% Adicional Isento 10% 10% CSLL Lucro real estimativa Isento 9% 9% Lucro real trimestral Isento 9% 9% Lucro presumido Isento 9% 9% PIS-Faturamento Cumulatividade 0,65% 0,65% Não- cumulatividade 1,65% PIS Folha pagamento 1% 1% COFINS Cumulatividade 3% 3% 3% Não- cumulatividade 7,6% INSS Retençãocooperados 11% Folha pagamento 20% 20% GILL-RAT e terceiros 6,5 a 8,8 % 6,2 a 8,8% Contratação Cooperativa de trabalho 15% FGTS Empregados 8% 8% ISS (*) Serviços 5% 5% Quadro 02 - Quadro Comparativo entre cooperativa versus empresa nas alíquotas: FONTE: Dados coletados pela autoras (2012). * A alíquota varia de 2% a 5%, dependendo do Município. TRIBUTOS REGIME ATO ATO NÃO- APURAÇÃO COOPERADO COOPERADO LUCRO REAL ISENTO 15.000.000,00*15% ESTIMATIVA 2.250.000,00 IRPJ 15% LUCRO REAL ISENTO 15.000.000,00*15% TRIMESTRAL 2.250.000,00 LUCRO ISENTO 15.000.000,00*15% PRESUMIDO 2.250.000,00 __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 LUCRO REAL ISENTO 15.000.000,00*9% ESTIMATIVA 1.350.000,00 CSLL 9% LUCRO REAL ISENTO 15.000.000,00*9% TRIMESTRAL 1.350.000,00 LUCRO ISENTO 15.000.000,00*9% PRSUMIDO 1.350.000,00 CUMULATIVIDADE 15.000.000,00*0,65% 97.500,00 PIS 0,65% NÃO CUMULATIVIDADE CUMULATIVIDADE 15.000.000,00*3% 15.000.000,00*3% 450.000,00 450.000,00 COFINS 3,00% NÃO CUMULATIVIDADE TOTAIS 450.000,00 2.700.000,00 Quadro 03 - Exemplificação de Carga Tributaria Nesta Categoria com Base no Rendimento da Empresa em 2011. FONTE: Dados coletados pela autoras (2012). Nota: o quadro acima foi elaborado pelos autores com base na receita bruta no ano calendário de 2011. No caso estudado, se tornaria economicamente viável a alteração de empresa para cooperativa, se o faturamento da cooperativa fosse, à sua totalidade, declarado como ato cooperado, porém, como isso perante a legislação não é permitido, sendo apenas algumas situações negociais possíveis declarar ato cooperado, tal situação não remeteria a uma condição __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 de economia tributária desejada, uma vez que ao migrar do regime presumido para o real a empresa já deteve grande economia tributária. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o estudo de casos apresentados, pode ser constatada a importância de se pensar a empresa, pois cada empresa possui uma realidade e peculiaridades diferentes, demonstrando que é fator preponderante a análise do custo benefício ao constituir-se e ao permanecer no mercado, pois conhecer a legislação e suas aplicabilidades, bem como analisá-la constantemente, possibilita reduzir a carga tributária empresarial. Observa-se, no entanto, que grande parte das empresas brasileiras está enquadrada no regime do SIMPLES Nacional, conforme dados SEBRAE (2010), no entanto, foi demonstrado neste estudo que não necessariamente representa economia tributária para as empresas que realizam tal opção, fator que comprova a necessidade de se realizar estudo de caso sobre o melhor regime para o exercício vindouro, ou seja, planejar a empresa anualmente, sempre analisando quando houver alteração de atividade e/ ou de faturamento e ainda de mercado de atuação, uma vez que de estado para estado temos diferenças de legislações. __________________________________________________________________________________________ Diálogos Multidisciplinares (PR) v. 1 n. 2 p. 134 – 151 out./2012 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2000. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. São Paulo: Manole, 2004. BRASIL. Secretaria da Receita Federal. Lei Complementar n° 123, de 14 de Dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LeisComplementares/2006/leicp123.htm> Acesso em: 04 de Outubro de 2012. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1998. JUSBRASIL. Disponível em: www.jusbrasil.com.br - acessado em 04/10/2012. REQUIÃO, Rubens. Conceito de Empresa. Disponível em <http:/ www.direitonret.com.br/resumos/exibir/843/Conceito-de-empresa>. Acesso: 03 de outubro de 2012. RUSSOMANO, Celso. Código Civil Brasileiro, lei 10.406. São Paulo: Editora Escala, 2003. SÁ, Antonio Lopes de. SÁ, Ana Maria Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2005. SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. 10 ed. São Paulo, Editora Best Seller, 2002. SEBRAE, As Pequenas Empresas do Simples Nacional. 2010 <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/9BB59A59F0E2E04583257957004777CE/$Fi le/NT000470DE.pdf>. acesso em: 04 de outubro de 2012. SILVA, J. Miguel; RODRIGUES, Agostinho Inácio. Lalur: Guia Prático de Escrituração do Livro de Apuração do Lucro Real 2006. 4. ed. São Paulo: Cenofisco, 2006. SILVA, Maurício alvarez da. Manual básico de tributação: manual do aprendiz tributário. 1. ed. São Paulo: Portal Tributário Editora Ltda., 2012.
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