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A TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO NO CÓDIGO CIVIL : perfeita conceituação de título de crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos LUIZ ANTONIO GUERRA Professor do Centro Universitário de Brasília – UNICEUB. Advogado especialista em Direito Comercial-Empresarial. Consultor Jurídico de Companhias nacionais e multinacionais. 1. Introdução O legislador brasileiro inseriu, equivocadamente, a Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil/2002. A nosso sentir, o legislador incluiu, indevidamente, no Código Civil, parte do conteúdo da matéria mercantil, especificamente o Direito de Empresa e a Teoria Geral dos Títulos de Crédito, sem a mínima justificativa pedagógica e científica. Agindo assim causou prejuízo ao progresso e à evolução do Direito Empresarial. Com todo o respeito à Comissão Revisora e Elaboradora do Código Civil, o Brasil, cometeu enorme equívoco ao copiar o modelo do Código Civil italiano, de 1942. O Código Italiano foi aprovado sem a anuência do grande comercialista, Cesare Vivante - então o maior defensor da unificação das obrigações civis e mercantis na Itália e toda a Europa Central -, que instado a elaborar o código daquele país, recusou- se, por não mais acreditar na viabilidade da unificação. Vivante convenceu-se do equívoco e declarou, em 1919, publicamente, que os ramos do Direito Privado, àquela época, já haviam se consolidado e não mais seria possível a sua unificação num único corpo legislativo. O legislador nacional deixou de fora do Código Civil todos os demais institutos mercantis, os quais continuarão a ser regidos pelo combalido Código Comercial e pela legislação extravagante. Embora a A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos ciência mercantil tenha sofrido prejuízo estrutural, com a chegada do Código Civil, em 2002, é certo que o Direito Comercial manteve a sua autonomia legislativa, acadêmica e substantiva. Comparando os dois principais sistemas jurídicos sul- americanos, representados por Argentina e Brasil, diferentemente, na Argentina, o Código de Comércio, de 1889, embora tenha sofrido substanciais alterações ao longo de sua vigência, os nativos das terras de Dalmácio Velez Sarsfield não cogitaram de inserir matéria mercantil no Código Civil, mesmo tenha sido a Argentina, pioneira nos territórios das Américas, a adotar o regime da unificação das obrigações. Lá, Dalmácio Velez Sarsfield, rigorosamente, ao utilizar-se, por empréstimo, do Projeto e Esboço de Teixeira de Freitas, de 1855/89, limitou-se a utilizar apenas as idéias da unificação das obrigações, garantindo, no entanto, plena autonomia legislativa aos dois ramos do Direito Privado. Na Argentina, o Código de Comércio regula os aspectos gerais – a teoria geral dos títulos, enquanto que todos os títulos em espécie, a exemplo das letras de cambio y pagares estão em legislação especial, como apontam os arts. 589 a 738, no Título 10: De los títulos cambiários: letra de cambio y factura de crédito. Os demais institutos estão no Código de Comércio ou na legislação extravagante, como ocorre com a Ley de Concursos e Quiebras – Ley 24.552. O Brasil, por opção, embora equivocada, quis ser diferente. Seguiu, após 26 anos de tramitação de projeto de Código Civil no Congresso, o questionável modelo italiano. Em outras palavras, inseriu parte do conteúdo de matéria comercial no Código Civil. A suposta novidade apresenta-se pífia, porquanto, a um só tempo, não unificou o Direito Privado, tampouco retirou a autonomia substancial, acadêmica e formal ou legislativa do Direito Comercial. A reforma como ocorrida não se 2 A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos justificou, tecnicamente; ao revés, trouxe complicação didática ao estudo e ensino do Direito Empresarial. Em substância, a reforma é ruim, pois manteve tipos societários absolutamente em desuso, a exemplo, das sociedades em nome coletivo, em comandita simples e comandita por ações. Manteve, sem melhores aperfeiçoamentos, a criticada sociedade em conta de participação e, ainda, burocratizou, sem necessidade, a sociedade limitada, emprestando-lhe tratamento formal, sem qualquer diferenciação entre os empreendedores, submetendo todos os agentes, independentemente do porte, ao mesmo tratamento formal e burocrático. Em relação à Teoria Geral dos Títulos de Crédito nada de novo acrescentou, salvo a perfeita definição de título de créditos, com apoio no conceito formulado por César Vivante. Sabe-se que a aprovação Código Civil deu-se por acordos de lideranças no Congresso Nacional, tudo por conta do então interesse político de sua aprovação; daí as críticas. Dormitou por longos anos no Congresso e, depois, no apagar das luzes, foi aprovado, em regime de urgência, quando a grande parte dos institutos mercantis não mais condizia com a realidade empresarial. Prova disso é que tramitava, à época da aprovação do Código Civil, no Ministério da Justiça, Anteprojeto de Lei visando a Reforma da então Sociedade de Responsabilidade Limitada. O referido anteprojeto tinha por finalidade atualizar o regime jurídico da principal sociedade – a Sociedade de Responsabilidade Limitada. O Anteprojeto visava a reforma do Decreto 3.708/19, de modo que pudesse expressar a expectativa do mercado empresarial, com a inclusão no Direito Societário Brasileiro, de novidades fundamentais ao 3 A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos desenvolvimento econômico do País1, como se vê da Exposição de Motivos: II – As sociedades de responsabilidade limitada não foram, no Brasil, produto quer de necessidade premente do comércio e da indústria, quer de amadurecidos estudos, daí porque, conforme enfatizado pelo Professor Egberto Lacerda Teixeira, nasceu imperfeita. Falta ao Decreto 3.708, de 1919, a penetração doutrinária indispensável à exata configuração do novo instituto. Aparecendo no cenário jurídico, como adendo aos dispositivos do Código Comercial de 1850, disciplinadores das sociedades mercantis já existentes, as sociedades por quotas viram-se privadas de estruturação própria, autônoma, como era de desejar-se. A insuficiência do texto legal tem dado margem a impulsos interpretativos contraditórios. Ora, prevalecem as interpretações demasiadamente rígidas dos que subordinam a vida e o desenvolvimento das sociedades por quotas ao padrão estreito das sociedades solidárias ou em nome coletivo, ora, ao contrário, no intuito de libertá-las do jugo personalista das sociedades solidárias, juristas e tribunais, esquecidos do particularismo da nova instituição, acorrentam-se ao império de regras e soluções próprias ao regime do anonimato (Das Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada, São Paulo, 1956, p. 8 e 9). Porque “nasceu imperfeita”, sob a égide de uma concepção excessivamente individualista e liberal, e, sobretudo, por força da extraordinária evolução experimentada pela economia nacional e internacional nos últimos oitenta anos, impõe-se, como urgente e necessária, uma profunda reformulação no tratamento legal do instituto, inspirada na doutrina pátria e alienígena, no profícuo labor da jurisprudência nacional e nas inovações das mais modernas legislações estrangeiras, inclusive para criar, no Direito positivo brasileiro, atendendo a exigências de ordem prática, a empresa individual