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as saida temporarias no processo de execução penal

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL MARCIA SALETE NICOLODI VIDAL AS SAÍDAS TEMPORÁRIAS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL Ijuí (RS) 2011 MARCIA SALENTE NICOLODI VIDAL AS SAÍDAS TEMPORÁRIAS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DEJ – Departamento de Estudos Jurídicos. Orientador: Msc. Sergio Luiz Fernandes Pires. Ijuí (RS) 2011 Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararamme durante estes anos da minha caminhada acadêmica, em especial a Tadeu e Rozani que não mediaram esforços para verem meu sonho realizado. AGRADECIMENTOS A Deus, pela oportunidade de realizar meu grande sonho e por ter me dado força e coragem para concretizá-lo. A minha mãe (in memoriam) que me ensinou que dividir é uma dádiva e ser justo é um dever. Ao meu pai que exemplificou com sua própria história que o caráter de um homem se molda pelo princíUNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MARCIA SALETE NICOLODI VIDAL
AS SAÍDAS TEMPORÁRIAS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL
Ijuí (RS)
2011 
MARCIA SALENTE NICOLODI VIDAL
AS SAÍDAS TEMPORÁRIAS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL
Monografia final do Curso de Graduação em
Direito objetivando a aprovação no
componente curricular Monografia.
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul.
DEJ – Departamento de Estudos Jurídicos.
Orientador: Msc. Sergio Luiz Fernandes Pires.
Ijuí (RS)
2011 
Dedico este trabalho a todos que de uma
forma ou outra me auxiliaram e ampararamme
durante estes anos da minha caminhada
acadêmica, em especial a Tadeu e Rozani
que não mediaram esforços para verem meu
sonho realizado. 
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade de realizar
meu grande sonho e por ter me dado força e
coragem para concretizá-lo.
A minha mãe (in memoriam) que me
ensinou que dividir é uma dádiva e ser justo
é um dever.
Ao meu pai que exemplificou com sua
própria história que o caráter de um homem
se molda pelo princípio da honestidade;
Irene e Adair luzes no meu caminho que
me guiaram e me ampararam quando tudo
parecia tão difícil.
A meu orientador Sergio Pires pela sua
disponibilidade e ensinamentos dispensados
à concretização dessa monografia.
A todos que colaboraram direta ou
indiretamente para que este trabalho fosse
realizado meu eterno agradecimento. ! 
RESUMO
O presente trabalho tece comentários sobre o processo de execução penal, tendo
como instrumento normativo a Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984, (LEP), e aborda o
paradoxo entre o caráter punitivo e o fim ressocializador da pena privativa de liberdade,
apresentando o instituto da saída temporária como meio preparatório para reinserção
do condenado no mundo externo ao cárcere. Primeiro são feitas considerações sobre a
execução da pena privativa de liberdade no Brasil, sua evolução histórica, abordando o
paradigma de concretizar a atividade punitiva do Estado e garantir os direitos
essenciais ao condenado visando a sua ressocialização. Ainda, nesta linha, apresenta
o sistema progressivo vigente e os principais institutos previstos na LEP que visam ao
cumprimento do seu fim ressocializador. Em um segundo momento, enfatiza o instituto
da saída temporária como um dos institutos mais importantes consagrados na LEP, que
embora seja um direito subjetivo é mecanismo fundamental do sistema progressivo,
pois permite a gradativa reintegração do preso à comunidade. Para isso, busca
demonstrar o papel da saída temporária na ressocialização, analisando as causas que
impedem a sua utilização concreta e que levam o indivíduo a perder o direito à
benesse. Por fim, aborda algumas perspectivas que possam propiciar adequado
cumprimento da pena e o preparo do indivíduo para retorno ao convívio social.
Palavras-chaves: Direito Penal. Direito Penitenciário. Execução Penal. Saída
temporária. Ressocialização. 
ABSTRACT
The paperwork comments the criminal enforcement process, and has the
normative instrument Law. 7210, July 11, 1984 (LEP), and discusses the paradox
between the punitive and the purpose of socializing custodial sentence, and it presents
the institute's temporary prison withdrawal as a means of preparation for reintegration of
the condemned in the world outside the prison. First we discuss the implementations of
the enforcement privation of freedom in Brazil, its historical development, addressing the
paradigm of achieving the state's punitive activity and ensure the essential rights of the
condemned to the convict seeking their socialization. Still, in this presents view the
current progressive system and the major institutions contained in LEP that aimed to
achieve its end socializing. In a second moment the institute emphasizes the temporary
output prison as one of the most important institutions established in the LEP, which,
though a subjective right is a fundamental mechanism of the progressive system, it
allows for the gradual reintegration the prisoner to the community. It thus tries to
demonstrate the role of socialization in the temporary output prison, analyzing the
causes that hinder their real practice use and which lead the individual to lose the right
to gain freedom. Finally, discusses some approaches that can provide appropriate
preparation and execution the sentence and to prepare the individual to return to social
life.
Keywords: Criminal Law. Penitentiary. Criminal Law. Enforcement Law. Out
temporary prison. .Socialization. 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9
1 EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ................................................... 11
1.1 História da execução penal no Brasil .................................................................................. 11
1.2 Fundamentação teórica ........................................................................................................ 15
1.3 Principais institutos da execução penal .............................................................................. 22
2 SAÍDA TEMPORÁRIA .......................................................................................................... 28
2.1 Previsão legal e aspectos doutrinários e jurisprudenciais ................................................ 28
2.2 Papel da saída temporária na ressocialização .................................................................... 33
2.3 Dificuldades na sua utilização concreta .............................................................................. 36
2.4 Perspectivas ........................................................................................................................... 41
CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 49 
9
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa pretende abordar o instituto da saída temporária como
sendo um meio preparatório de reinserção do individuo encarcerado ao mundo externo
ao cárcere, possibilitando reintegra-lo gradualmente e satisfatoriamente na sociedade.
 Para tanto, para que o instituto se perfectibilize como instrumento
ressocializador, necessário uma abordagem mais critica sobre os principais objetivos da
pena privativa de liberdade, que de certa forma, não se coadunam com as condições
precárias do sistema prisional brasileiro, pois falho na medida em que não proporciona
ao indivíduo encarcerado condições mínimas de recuperação.
 Ao longo dos tempos a execução da pena privativa de liberdade teve o escopo
tão somente de efetivar o poder punitivo do estado, sendo que não havia qualquer
preocupaçãoem garantir direitos básicos aos condenados, todavia a edição da Lei de
Execução Penal no ano de 1984 provocou profundas mudanças no cenário nacional,
acenando para novas perspectivas no campo da execução penal e consagrando
direitos fundamentais aos destinatários das penas privativas de liberdade.
No ano de 1988 é promulgada a nova Constituição Federal do Brasil, trazendo
em seu bojo mudanças substanciais concernentes a proteção da pessoa humana,
refletindo uma preocupação em preservar o princípio da dignidade da pessoa humana,
o que vem associar-se aos preceitos estipulados na LEP
Diante dessa nova ordem vivenciada a partir de 1988, a preocupação de garantir
direitos estende-se à massa carcerária, além de que se passa a ter uma maior 
10UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL MARCIA SALETE NICOLODI VIDAL AS SAÍDAS TEMPORÁRIAS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL Ijuí (RS) 2011 MARCIA SALENTE NICOLODI VIDAL AS SAÍDAS TEMPORÁRIAS NO PROCESSO DE EXECUÇÃO PENAL Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DEJ – Departamento de Estudos Jurídicos. Orientador: Msc. Sergio Luiz Fernandes Pires. Ijuí (RS) 2011 Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararamme durante estes anos da minha caminhada acadêmica, em especial a Tadeu e Rozani que não mediaram esforços para verem meu sonho realizado. AGRADECIMENTOS A Deus, pela oportunidade de realizar meu grande sonho e por ter me dado força e coragem para concretizá-lo. A minha mãe (in memoriam) que me ensinou que dividir é uma dádiva e ser justo é um dever. Ao meu pai que exemplificou com sua própria história que o caráter de um homem se molda pelo princípio da honestidade; Irene e Adair luzes no meu caminho que me guiaram e me ampararam quando tudo parecia tão difícil. A meu orientador Sergio Pires pela sua disponibilidade e ensinamentos dispensados à concretização dessa monografia. A todos que colaboraram direta ou indiretamente para que este trabalho fosse realizado meu eterno agradecimento. ! RESUMO O presente trabalho tece comentários sobre o processo de execução penal, tendo como instrumento normativo a Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984, (LEP), e aborda o paradoxo entre o caráter punitivo e o fim ressocializador da pena privativa de liberdade, apresentando o instituto da saída temporária como meio preparatório para reinserção do condenado no mundo externo ao cárcere. Primeiro são feitas considerações sobre a execução da pena privativa de liberdade no Brasil, sua evolução histórica, abordando o paradigma de concretizar a atividade punitiva do Estado e garantir os direitos essenciais ao condenado visando a sua ressocialização. Ainda, nesta linha, apresenta o sistema progressivo vigente e os principais institutos previstos na LEP que visam ao cumprimento do seu fim ressocializador. Em um segundo momento, enfatiza o instituto da saída temporária como um dos institutos mais importantes consagrados na LEP, que embora seja um direito subjetivo é mecanismo fundamental do sistema progressivo, pois permite a gradativa reintegração do preso à comunidade. Para isso, busca demonstrar o papel da saída temporária na ressocialização, analisando as causas que impedem a sua utilização concreta e que levam o indivíduo a perder o direito à benesse. Por fim, aborda algumas perspectivas que possam propiciar adequado cumprimento da pena e o preparo do indivíduo para retorno ao convívio social. Palavras-chaves: Direito Penal. Direito Penitenciário. Execução Penal. Saída temporária. Ressocialização. ABSTRACT The paperwork comments the criminal enforcement process, and has the normative instrument Law. 7210, July 11, 1984 (LEP), and discusses the paradox between the punitive and the purpose of socializing custodial sentence, and it presents the institute's temporary prison withdrawal as a means of preparation for reintegration of the condemned in the world outside the prison. First we discuss the implementations of the enforcement privation of freedom in Brazil, its historical development, addressing the paradigm of achieving the state's punitive activity and ensure the essential rights of the condemned to the convict seeking their socialization. Still, in this presents view the current progressive system and the major institutions contained in LEP that aimed to achieve its end socializing. In a second moment the institute emphasizes the temporary output prison as one of the most important institutions established in the LEP, which, though a subjective right is a fundamental mechanism of the progressive system, it allows for the gradual reintegration the prisoner to the community. It thus tries to demonstrate the role of socialization in the temporary output prison, analyzing the causes that hinder their real practice use and which lead the individual to lose the right to gain freedom. Finally, discusses some approaches that can provide appropriate preparation and execution the sentence and to prepare the individual to return to social life. Keywords: Criminal Law. Penitentiary. Criminal Law. Enforcement Law. Out temporary prison. .Socialization. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9 1 EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ................................................... 11 1.1 História da execução penal no Brasil .................................................................................. 11 1.2 Fundamentação teórica ........................................................................................................ 15 1.3 Principais institutos da execução penal .............................................................................. 22 2 SAÍDA TEMPORÁRIA .......................................................................................................... 28 2.1 Previsão legal e aspectos doutrinários e jurisprudenciais ................................................ 28 2.2 Papel da saída temporária na ressocialização .................................................................... 33 2.3 Dificuldades na sua utilização concreta .............................................................................. 36 2.4 Perspectivas ........................................................................................................................... 41 CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 46 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 49 9 INTRODUÇÃO A presente pesquisa pretende abordar o instituto da saída temporária como sendo um meio preparatório de reinserção do individuo encarcerado ao mundo externo ao cárcere, possibilitando reintegra-lo gradualmente e satisfatoriamente na sociedade. Para tanto, para que o instituto se perfectibilize como instrumento ressocializador, necessário uma abordagem mais critica sobre os principais objetivos da pena privativa de liberdade, que de certa forma, não se coadunam com as condições precárias do sistema prisional brasileiro, pois falho na medida em que não proporciona ao indivíduo encarcerado condições mínimas de recuperação. Ao longo dos tempos a execução da pena privativa de liberdade teve o escopo tão somente de efetivar o poder punitivo do estado, sendo que não havia qualquer preocupação em garantir direitos básicos aos condenados, todavia a edição da Lei de Execução Penal no ano de 1984 provocou profundas mudanças no cenário nacional, acenando para novas perspectivas no campo da execução penal e consagrando direitos fundamentais aos destinatários das penas privativas de liberdade. No ano de 1988 é promulgada a nova Constituição Federal do Brasil, trazendo em seu bojo mudanças substanciais concernentes aproteção da pessoa humana, refletindo uma preocupação em preservar o princípio da dignidade da pessoa humana, o que vem associar-se aos preceitos estipulados na LEP Diante dessa nova ordem vivenciada a partir de 1988, a preocupação de garantir direitos estende-se à massa carcerária, além de que se passa a ter uma maior 10 preocupação com a ressocialização do preso, porém esse processo, mesmo com todas as garantias advindas da Constituição e da LEP, muitas vezes fracassa e o retorno do indivíduo ao meio livre se dá de forma insatisfatória. Diante dessa realidade, é que o instituto da saída temporária apresenta-se como um dos principais institutos da execução penal, eis que pode ser considerado um meio preparatório à reinserção do condenado ao mundo externo do cárcere, o que nem sempre acontece de forma salutar. Assim, considerando essas questões, a presente pesquisa objetiva estudar a importância do instituto da saída temporária frente ao objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade, bem como averiguar as causas que influem na observância ou transgressão do uso adequado do direito à saída temporária. Este trabalho será realizado através de pesquisa bibliográfica, com a coleta de dados disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. No primeiro capítulo discutirá a execução da pena privativa de liberdade, analisando sua história, através de uma fundamentação teórica analisar deus fundamentos e objetivos e apresentar os principais institutos da LEP. Já no segundo capítulo, há uma abordagem mais profunda sobre a saída temporária, averiguando os aspectos doutrinários e jurisprudências, abordando o papel da saída temporária na ressocialização do encarcerado, bem como averiguar as dificuldades na utilização satisfatória do direito à saída temporária. 11 1 A EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE A pena privativa de liberdade é um mal necessário em todas as sociedades, pois o Estado ainda não encontrou forma menos drástica de efetivar seu poder punitivo, frente àquele individuo que comete uma transgressão tipificada como uma conduta criminosa. No Brasil, pode-se afirmar que já ao tempo do descobrimento se tratava das questões penais e da privação da liberdade, todavia não existia qualquer preocupação em se resguardar direitos básicos do condenado, fato este que só vem ocorrer com o advento da Lei n. 7.210 de 1984. Desta forma, este capítulo apresentará a história da execução penal no Brasil e a evolução da legislação pertinente ao tema, até o advento da Lei de Execução Penal (LEP). Em seguida, será enfocada uma fundamentação teórica objetivando-se descrever os fins da pena privativa de liberdade e as garantias trazidas pela LEP, editada sob a égide de um Estado Democrático de Direto, cujos institutos nela contidos têm por fim humanização e individualização das penas, com o fim de ressocializar o condenado. 1.1 História da execução penal no Brasil Com o descobrimento do Brasil, este se torna colônia de Portugal, assim sendo, a primeira legislação penal é oriunda da Coroa Portuguesa, a qual se resumia nas famosas Ordenações do Reino, ou seja, as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, as quais tratavam da matéria penal. Assim, a execução penal não é algo recente na História do Brasil. Conforme Mirabete (2002, p. 19) “não é de hoje que se discute a autonomia do chamado Direito Penitenciário, e agora já como parte denominada Direito da Execução Penal.” Eis que com a proclamação da independência surge a Constituição de 1824, a primeira outorgada no Brasil, que apesar de sua elaboração ter sido bastante conturbada, já demonstrava a autonomia jurídica do direito penitenciário, bem como, 12 trazia em seu artigo 179 recomendações sobre a execução das penas privativas de liberdade, as quais deveriam ser cumpridas com dignidade (MIRABETE, 2002). Entretanto, era necessário construir um código que estabelecesse normas pertinentes ao direito penitenciário, porquanto a matéria encontrava-se disposta tão somente no código Criminal do Império, datado de 16 de dezembro de1830. O referido código, segundo Shecaira e Corrêa Junior, (2002, p. 40) “reduzia o número de delitos punidos com morte de 70 para 3, quais sejam, a insurreição de escravos, o homicídio com agravante e o latrocínio”, o que leva a crer que seguia os preceitos da Constituição de 1824. Ainda, conforme Shecaira e Correa Junior (2002, p. 41) “neste momento histórico brasileiro, a prisão como pena substitui as penas corporais e mostra indícios de sua futura supremacia sobre as demais modalidades punitivas.” Como se percebe o Código Criminal do Império previa em suas regras a pena de morte, entretanto já acenava para a possibilidade de individualização da pena, bem como o julgamento especial para menores de 14 anos. Percebe-se que o sistema penal registra uma progressividade de tratamento sinalada por marcos históricos como a proclamação da República, no Brasil, em 15 de novembro se 1889, e, no ano seguinte a edição do Código dos Estados Unidos do Brasil que entrou em vigor em 1891, bem como do decreto nº 774/1890, que, como ensina Shecaira e Corrêa Junior (2002, p. 31) O Dec. 774/1890, que antecedeu o novo estatuto penal, já havia abolido a pena de galés, além de reduzir a 30 anos o cumprimento da prisão perpétua, instituir a prescrição das penas e estabelecer o desconto, na pena privativa de liberdade, do tempo de prisão preventiva. O Código Penal de 1890 traz grandes inovações, entre as quais está a abolição da pena de morte, conforme disposição do artigo 43, fato este ratificado pela 13 Constituição da República de 1891, que em seu artigo 72, §§ 20 e 21, além de abolir a pena de morte, também abolia de galés e de banimento judicial. (BRASIL, 2010) Contudo, os avanços eram lentos, e até então, passados mais de quatrocentos anos do descobrimento não se tinha uma lei que se constituísse em um instrumento adequado capaz se suprir a s exigências da execução penal. Neste sentido, Mirabete (2002, p. 21) observa que “no Brasil, a primeira tentativa de uma codificação a respeito de normas de execução penal foi o projeto de Código Penitenciário da República, de 1933, elaborado cor Cândido Mendes, Lemos de Brito e Heitor Carrilho.” Mesmo tendo sido publicado em 25 de fevereiro de 1937, no diário do Congresso, o referido Código, que estava em discussão, foi abandonado, pois em 1940 foi promulgado o Código Penal e entre eles havia grande discrepância. A promulgação do Código Penal não supriu a lacuna relativa à execução pena, pois na lição de Mirabete (2002, p. 21) [...] desde tal época, a necessidade de uma Lei de Execução Penal em nosso ordenamento jurídico foi posta em relevo pela doutrina, por não constituírem o Código Penal e o Código de Processo Penal lugares adequados para um regulamento da execução das penas e medidas privativas de liberdade. Ainda necessitando de uma legislação que tratasse especificamente da execução penal, foi que em 1946 o Brasil viu ser promulgada a constituição que segundo Shecaira e Corrêa Junior (2002, p. 44), era “a mais democrática de suas Constituições. Direitos e liberdades individuais foram restaurados [...]” Neste contexto, se acentua a necessidade de se atualizar a legislação sobre a execução penal, e é neste panorama de mudanças que m 02 de outubro de 1957 é aprovada a Lei nº 3.274, que dispunha sobre normas gerais do regime penitenciário. 14 Para Shecaira e Corrêa Junior (2002, p. 44), diante de limitação do poder punitivo do Estado a referida Lei: [...] declarou a necessidade de individualização da pena, da classificação dos delinquentes, da separação dos condenados em relação aos presos provisórios, além do oferecimento de trabalho assalariado aos presos, educação moral, intelectual, física e profissional, e assistência social aos sentenciados, egressos, suas famílias e familiares das vítimas. Entretanto, conforme Mirabete (2002, p. 21/2), “Tal diploma legal, porém, carecia de eficácia por não prever sanções para o descumprimento dos princípios e das regras contidas na lei, o que a tornou letra mortano ordenamento jurídico do país.” Diante disso, no mesmo ano de 1957, Oscar Penteado Stevenson, apresentou ao Ministério da justiça um novo anteprojeto de Código Penitenciário, o qual foi abandonado por motivos técnico e políticos. No ano de 1963, nova tentativa é feita por Roberto Lyra, mas é abandonada diante do movimento revolucionário de 1964. Da mesma forma, o anteprojeto do Código de Execuções Penais de Benjamim Moraes Filho de 1970, não foi aproveitado pelo Ministério da Justiça. Finalmente, em 1981, uma nova comissão apresentou anteprojeto da nova Lei de Execução Penal (LEP), que como ensina Boschi (1989, p. 14), “transformou-se em projeto e mais tarde na Lei 7.210, promulgada em 11 de julho de 1984, para entrar em vigor concomitantemente com a reforma da parte geral do Código Penal, em 13 de janeiro de 1985, o que de fato aconteceu.” Diga-se que a referida lei surge com o escopo de normatizar o processo de execução penal e como afirma Boschi (1989, p.14), “é diploma de profundo rigor científico e de ideologia avançada e progressista.” Essencialmente nasce com o propósito de suprir as falhas do Código Penal e do Código de Processo Penal, bem como, amenizar uma política penal repressiva, pois 15 além de estabelecer regulamento para execução de penas e medidas privativas de liberdade, assegura direitos fundamentais aos reclusos. Tal tendência é definitivamente confirmada em 1988 com a nova Constituição do País, a qual recepcionou a Lei de Execuções Penais que havia sido promulgada sob o império de constituição anterior, fato este que lhe conferiu validade plena. Promulgada a Constituição de 1988, a mesma vem coroar a efetivação de um Estado democrático de direito, bem como firmar um rol de direitos individuais, além de que, trouxe em seu bojo mudanças substanciais concernentes a proteção da pessoa humana, os quais se coadunam amplamente com as objetivos da LEP. Em suma, contemporaneamente temos uma LEP e uma Constituição Federal que entre seus fins tem a garantia de direitos daqueles indivíduos que tiveram a liberdade restringida pelo estado, visando um processo de ressocialização. Entretanto, a referida proposta de ressocialização enfrenta o paradigma de um sistema prisional em decadência, ao que se pressupõe, por não serem aplicadas as leis postas, caracterizando-se, assim, uma omissão do Estado e um afrontamento ao objetivo principal do ordenamento que é a proteção da pessoa humana. 1.2 Fundamentação teórica Não se olvida que uma das funções do Estado é a de punir com o objetivo de garantir segurança, proteção e paz social, de modo que qualquer indivíduo que cometeu um delito penal enfrentará, na maioria das vezes, a forma mais drástica da reação punitiva estatal, que é a que se refere à privação da liberdade do indivíduo. Assim sendo, o indivíduo que for efetivamente condenado, consequentemente terá que cumprir com as disposições da sentença penal condenatória, submetendo-se ao processo de execução penal. 16 De acordo com Marcão (2009, p.1): visa-se pela execução fazer cumprir o comando emergente da sentença condenatória ou absolutória imprópria, estando sujeitas à execução, também as decisões que homologam transação penal em sede de Juizado Especial Criminal. Todavia impõe-se que o processo de execução penal obedeça aos ditames constitucionais vigentes, atentando-se ao fato de que a Constituição Federal de 1988, consolida uma série de direitos individuais, os quais são extensivos, inclusive, a pessoa do condenado e que devem ser respeitados, sem qualquer distinção. Entre tais direitos, está o de que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano e degradante, previsto no artigo 5º, III, da Constituição Brasileira, ele deverá ser observado na execução da pena, para que não se ofenda a integridade humana, caso contrário, como afirma Weinmann (2004, p. 363), “todo edifício do Estado de Direito não tem como se sustentar.” Com relação a este tema, Celso Ribeiro Bastos (2001, p. 40) afirma que: Contudo é necessário reconhecer que tal direito obviamente tem que compatibilizar-se como o do Estado, consistente em punir e reprimir a criminalidade. Essa repressão não encontra ainda outras formas senão aquelas consistentes na privação de liberdade, que ainda compõe o núcleo do processo punitivo penal. Mas, ainda aqui, quando se trata de punir e reprimir é necessário que se evitem aquelas modalidades que transcendem o absolutamente indispensável para ingressar no campo da malvadeza, da crueldade e da selvageria. Diante desse paradigma de concretizar a atividade punitiva do estado e garantir direitos essenciais à preservação da dignidade da pessoa humana, é que se efetiva o processo de execução penal, amparado pela LEP. Com relação ao processo de execução penal e a sua natureza jurídica observa Nucci (2009, p. 432), que é “atividade jurisdicional, voltada a tornar efetiva a pretensão punitiva do Estado, em associação à atividade administrativa, fornecedora dos meios materiais para tanto.” 17 Não se dissocia tal afirmação da opinião de Marcão (2009, p.2) para quem “a execução penal é de natureza jurisdicional, não obstante a intensa atividade administrativa que a envolve.” De fato, não há como discordar de tal posicionamento, uma vez que o título que motiva a execução penal é decorrente da mais pura atividade jurisdicional explicita no processo de conhecimento. E por estar pacificado a natureza jurídica da execução penal, que segundo Marcão (2009, p. 2) “de tal conclusão segue que, também na execução penal, devem ser observados, entre outros, os princípios do contraditório, da ampla defesa, da legalidade e do due process of law.” Diga-se que o processo de execução penal tem como instrumento normativo a Lei 7.210 de 11 de julho de 1984 (LEP), que como ensina Boschi (1989, p.14), “é diploma de profundo rigor científico e de ideologia avançada e progressista.” Sinala-se que o reconhecimento da modernidade da referida lei e a sua função social, também foram observados por Albergaria (1987, p. 7) para quem “trata-se de moderno instrumento jurídico, cujo objetivo consiste na ressocialização de delinquente, contenção do crime e sua prevenção, bem como na proteção da sociedade.” A LEP surgiu da necessidade de suprir as falhas do Código Penal e o Código de Processo Penal, pois tais instrumentos não estabeleciam regulamento para execução de penas e medidas privativas de liberdade. Neste sentido, percebe-se que a LEP vai além de simples diploma que regulamenta a execução penal, ela surge como um instrumento normativo que reflete em seu texto uma preocupação do Estado com o preso e nela estão expressamente instituídos, bem como assegurados direitos jamais cogitados em toda legislação penal do País até então. (BOSCHI, 1989). 18 No mesmo sentido, afirma Mirabete (2000, p. 25), “com o fundamento nas ideias da Nova Defesa Social e buscando como base as medidas de assistência ao condenado é que se elaborou a LEP.” Não discrepa muito desses autores a opinião de Salo de Carvalho, para quem o direito penitenciário, sendo autônomo, tem princípios formadores diferentes daqueles que informam o direito penal e o direito processual penal que compõem uma sentença e se solidificam como coisa julgada. (CARVALHO, 2003). Por esta razão segundo ele (2003, p. 168), [...] a ampla discricionariedade no trato das questões internas à ordem penitenciária gerou um subproduto trágico característico das instituições totais, qual seja, a disfunção da atividade pelo arbítrio e pela lesão constante dos direitos dos presos, estabelecendo o que se conhece como ‘crise da execução da pena’. [...] A ação executiva é regida pelos princípios da disciplina e da ordem, e sob estes signos viu-se historicamente a justificativa da administração penitenciária para a restrição/violação de direitos do condenado que não foram limitados pela sentença penal. Dessa forma, para o autor, a LEP surge com o escopo de diminuir a violação de direitos dos presos bem como delimitar a atividade administrativa, pois ela normatizou a jurisdicionalização da execuçãoda pena, o que de certa forma, garantiu aos presos direitos mínimos (CARVALHO, 2003). Apesar de tal Lei, por sua modernidade ter sido um divisor de águas no que se refere à execução das penas, não ficou imune de algumas considerações e criticas. De acordo com Boschi (1989, p. 15): Trata-se, por conseguinte, de uma grande lei, nos planos filosóficos e formais. No entanto, trata-se, também, de uma lei com grande defeito, pois guarda quase completa dissintonia com a realidade do país que deve regular. Isto porque a Lei 7.210, a despeito de suas qualidades, peca por não considerar as mazelas do sistema penitenciário, as condições econômicas e políticas do país, a falta de infra-estrutura da rede prisional, inclusive no tocante aos recursos humanos adequados, pecado esse que compromete, como um todo, em termos de eficácia. 19 No entender do referido autor, [...] a Lei de Execução Penal, no plano formal, acentua o contraste com a realidade dos presídios e do próprio País, onde vivem milhões de indivíduos que nunca praticaram crimes e que até hoje permanecem à margem do consumo, da saúde, do trabalho e da educação. (BOSCHI, 1989, p. 15). Contemporaneamente, ainda relevantes as considerações acima transcritas, eis que se amoldam aos dias atuais, onde, de um lado temos aumento da violência, a sociedade clamando por mais segurança, e de outro, a massa carcerária fragilizada com a necessidade de que seja concreta a proteção de seus direitos básicos garantidos na LEP e na Constituição Federal. Diante desse paradoxo, muito se discute sobre a finalidade da pena, e a efetivação do disposto no artigo 1º da LEP que preconiza “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.” Para Nucci (2009, p. 434), [...] ela tem vários fins comuns e não excludentes: retribuição e prevenção. Na ótica da prevenção, sem dúvida, há o aspecto particularmente voltado à execução penal, que é o preventivo individual positivo (reeducação e ressocialização). Uma das importantes metas da execução penal é promover a reintegração do preso à sociedade. Acrescenta, ainda, o autor, que, “um dos mais relevantes fatores para que tal objetivo seja atingido é proporcionar ao condenado a possibilidade de trabalhar e, atualmente, sob o enfoque mais avançado, estudar.” (NUCCI, 2009, p. 434). Mirabete (2000, p. 25), vai além, deixando subentendido que para ressocializar é necessário garantir direitos: Tem-se entendido que à idéia central da ressocialização há de unir-se, necessariamente, o postulado da progressiva humanização e liberação da execução penitenciária, de tal maneira que, asseguradas medidas como a 20 permissão de saída, o trabalho externo e os regimes abertos, tenha ela maior eficácia. Diante de tais considerações não resta dúvidas, que além do caráter punitivo, as finalidades da pena privativa de liberdade são de recuperação, ressocialização, reinserção e reeducação social, entretanto para que isso realmente aconteça há um árduo caminho a percorrer, que nem sempre leva a concretização dos objetivos propostos. Na prática, a realidade do sistema prisional, faz com que muitos acreditem que a LEP não está conseguindo cumprir com seu papel, ou não conseguiu acompanhar a evolução dos tempos, principalmente quando a sociedade clama por segurança. Dessa forma a tão sonhada ressocialização não se cumpre, eis que o Estado não está assegurando direitos básicos ao encarcerado, mas contribuindo, inclusive, para piorar a situação do sistema prisional do País. Neste sentido têm-se severas críticas, como é o caso de Ana Lúcia Sabadell (2009, p. 34), para quem a prisão é mecanismo de exclusão: As prisões modernas servem como “depósito” temporário de pessoas. Não se trata mais de uma sociedade disciplinar, no sentido afirmado por Foucault. A disciplina não objetiva “disciplinar” aquela pessoa que ingressa na prisão, mas somente manter a ordem. [...] Não se objetiva mudar o condenado, mas simplesmente levá-lo a que aceite, e de modo passivo, permanecer na prisão pelo tempo que for necessário para o cumprimento da pena. Todavia, ela deixa claro o desinteresse do Estado pela pessoa do condenado, não interessando o que ela fará durante e após o cumprimento da pena e afirma que “não há interesse em desenvolver políticas de ressocialização do condenado.” Contudo, a responsabilização exclusiva do Estado-administração pela violação aos direitos dos presos e o não cumprimento da Lei de Execuções Penais por incompetência do Estado, bem como sustentar que os direitos dos apenados estariam garantidos caso o executivo prestasse seus serviços, é uma premissa determinada pela 21 ingenuidade do operador do direito em sede de execução penal, a qual, inclusive, impede a busca de soluções (CARVALHO, 2008). Entende-se, neste aspecto, que há uma deficiência no tratamento acadêmico da execução penal, uma lacuna no aprendizado que irá transparecer quando o jurista necessitar desempenhar seu papel, segundo Carvalho (2008, p. 25), [...] aos juristas a tarefa passa a ser extremamente árdua, visto que sequer conhecem razoavelmente o tema. Como consequência, a pratica jurídica passa ser superficial, pois ao ignorar a matéria, os problemas são mal colocados e as respostas, logicamente, inexistentes, irrisórias ou infelizes. Hoje se pode afirmar, que mesmo com suas falhas e com todos os problemas enfrentados, a LEP faz com que prevaleça a autonomia do direito de execução penal, onde a figura do juiz faz com que o sentenciado não permaneça sob o arbítrio da autoridade administrativa. Diga-se ainda, que é essa intervenção do juiz da execução penal que garante a aplicação do princípio da humanização da pena, bem como do princípio da legalidade, princípios esses necessários para garantir a dignidade do preso enquanto pessoa humana. Assim, independente das mazelas do sistema prisional, em primeiro lugar devese garantir os direitos do preso, que conforme assegura Lopes Jr. (2007, p. 403) “[...] apesar de condenado, não perdeu sua característica de ser ‘social’ e, como tal, merecedor de incondicional respeito de seus direitos e garantias fundamentais.” Entretanto, independente de qualquer posicionamento doutrinário, acredita-se que, apesar de toda precariedade do sistema, há uma possibilidade concreta de recondução do indivíduo ao convívio social de forma satisfatória. Tal inspiração positiva é reforçada na teoria de Franco (2009, p. 1), para quem: 22 [...] não se poderá jamais deixar de acreditar na melhora do homem, no crescimento pessoal e na recuperação porque, se perdida a esperança, então estará aberto o caminho para o abandono ainda maior de todos os apenados e para a própria falência da raça humana tomada como corpo inexorável de progresso. É obrigação de todos emprestarem aos demais seres humanos respeito, tolerância e dignidade. Este é um princípio inarredável da convivência humana fraterna. Numa análise final, constata-se que o ordenamento jurídico brasileiro possui uma Constituição e uma LEP que garantem direitos fundamentais ao cidadão carcerário, entretanto, necessário, a busca incessante pela aplicação da lei e conscientização da sociedade de que a ressocialização de um condenado não é tarefa exclusiva do Estado, é também responsabilidade dos homens livres. 1.3 Principais institutos da execução penal Como já mencionado anteriormente, a execução penal é a fase em que se viabiliza a condenação imposta ao sentenciado pelo juiz, tornando-se, assim a fase mais importante da pretensão punitiva do estado. Todavia, a LEP salienta em seu texto que, a intenção do legislador era apresentar princípios e garantias necessários para que cumprimento da pena privativa de liberdade atingisse os fins vislumbrados no ordenamento jurídico. Tais princípios, como o da jurisdicionalidade (artigo 2º), da igualdade, legalidade e liberdade (artigo 3º, e parágrafo único), da proporcionalidade, personalidade e individualização (artigo 5º e 6º), bem como o princípio da humanidadedas penas, além de assecuratórios, foram plenamente recepcionados pela nova ordem constitucional imposta a partir de 1988. Além dos princípios acima referidos, a LEP apresenta vários institutos, entre os quais, a progressão de regime, remição, saída temporária e livramento condicional, institutos estes que têm como objetivo fazer com que a referida lei cumpra com seu fim ressocializador. 23 Importante lembrar que no Brasil é adotado o sistema progressivo na execução da pena privativa de liberdade, apesar de não haver uma unanimidade de opinião quanto a esse sistema ser o mais apropriado para a realidade brasileira. Conforme Irene Batista Muakad (1996, p. 41) referindo-se ás divergências de opiniões quanto à execução penal, “outros preferem o isolamento celular durante todo o tempo, e ainda há os que acreditam nas prisões de segurança máxima como única solução para o grave problema da reincidência criminal.” Nesse aspecto é importante levar em consideração a crítica de Marco Antônio Bandeira Scapini (apud CARVALHO, 2002, p. 393), àqueles que sustentam que a LEP é excessivamente branda, contribuindo, assim para a reincidência criminal. [...] Na realidade, no Brasil, não há dados estatísticos confiáveis, mas vamos supor que os índices de reincidência girem em torno de 50%, como dizem. Para os “vingadores da sociedade”, esse dado aconselha que todos cumpram suas penas, integralmente, em regime fechado. Todavia, e disso esquecem, esse dado pode, perfeitamente significar que, apesar das péssimas condições das celas, das cadeias e das penitenciarias, apesar de toda a estrutura do sistema estar voltada, unicamente, para o castigo, a metade dos condenados não volta a delinqüir. Todavia, não se sustenta mais a idéia de cumprimento de pena privativa de liberdade em regime integralmente fechado, em primeiro lugar, tal sistema não é mais comportado pelo ordenamento jurídico pátrio, em segundo, é incompatível com a nova ordem vigente que busca a efetivação de um Estado Democrático de Direito. Deve-se, ainda, considerar que o sistema progressivo permite que se concretize uma das formas de individualização da pena, princípio este que visa limitar o poder punitivo do Estado, bem como preservar a dignidade da pessoa humana, e quando ocorre na fase da execução, segundo Ioniltom Pereira do Vale (2008, p. 463) tem “o escopo de reintegração do indivíduo.” Ele afirma ainda que (2008, p. 464): 24 Dessa forma, pode-se afirmar que o art. 112 da LEP atribui ao juiz a função de individualizar a pena em execução, levando em conta o homem e suas possibilidades – em razão de dados objetivos – de adaptação ao novo regime de cumprimento, seja em aberto, seja o semiaberto. Assim, consagrado o sistema progressivo, torna-se plenamente exequível o artigo 112 da LEP que prevê a progressão de regime que, aliás, é um dos institutos de maior relevância no cumprimento da pena privativa de liberdade, pois possibilita a transferência do condenado de um regime mais rigoroso a outro mais brando. Tem-se ainda o intitulo da remição, previsto no artigo 126 da LEP que prevê a possibilidade de que o condenado que cumpra pena no regime fechado ou semiaberto possa remir tempo de execução da pena, pelo trabalho, em razão de um dia de pena, por três dias trabalhados. Nota-se que tal instituto também está revestido de caráter ressocializador, pois é através do trabalho que o sentenciado, além de remir a pena, dá os primeiros passos para tornar-se produtivo, facilitando assim seu retorno à liberdade, bem como através da remuneração do trabalho desenvolvido, poderá prover alguma assistência à família e a si mesmo, fator esse de forte apelo moral. Márcia Silveira Borges de Carvalho pondera que (2009, p. 28): O benefício da remição da pena pelo trabalho é um ótimo mecanismo de incentivo à diminuição do ócio nas prisões e de reinserção do condenado na sociedade. Se o detento já trabalha no estabelecimento prisional, tem a oportunidade de se readaptar à vida social de maneira muito mais rápida e eficaz, além de ter maiores chances de voltar à sociedade inserido no mercado de trabalho. Não restam dúvidas quanto a importância do instituto da remição, pois conforme destaca Weinmann (2004, p. 381), “seus efeitos são levados em conta para o livramento condicional e para o indulto,” ele esclarece ainda que, “somente terá acesso à remição o apenado que verdadeiramente realizar alguma atividade laboral.” 25 Parece impertinente a colocação da necessidade de se realizar atividade laboral para se ter direito à remição, diante da clareza da lei, entretanto já houve grande divergência neste aspecto, conforme comenta Cezar Roberto Bittencourt (1993, p. 150), “alguns doutrinadores sustentam que a remição deve ser concedida, mesmo sem a realização do trabalho prisional, se este não ocorrer porque o Estado não ofereceu as condições necessárias, por considerá-lo um direito do apenado.” Quando essa questão já estava pacificada, outra se descortinava com grande ênfase, que é a perda do direito ao tempo remido, quando o condenado for punido com falta grave, havia entendimento que a regra contida no artigo 127 da LEP ofende princípios constitucionais e processuais como o da coisa julgada. Em razão disto e diante das divergências de julgados e entendimentos quanto à constitucionalidade do artigo 127 da LEP, é que em 2008 o Supremo Tribunal Federal edita a Súmula Vinculante nº 09, a qual preconiza “o disposto no artigo 127 da Lei n. 7.210/1984 (LEP) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.” (BRASIL, 2010). Como resultado, pode-se afirmar que o instituto de remição está estritamente vinculado ao bom comportamento carcerário e não tão somente ao trabalho e ao estudo do recluso. Como resultado do instituto da progressão de regime, que faculta ao condenado galgar regimes de cumprimento de pena mais brando e da remição que lhe proporciona abater parte da pena a cumprir, é que o reeducando adquire o direito e o lapso temporal necessário à concessão do instituto do livramento condicional. Diga-se, inicialmente, que a concessão do livramento condicional não está vinculada somente a requisitos objetivos, quais sejam: a pena aplicada deverá ser a privativa de liberdade superior a dois anos e o cumprimento de determinada parcela de pena da pena, tal instituto vincula-se também a requisitos subjetivos impostos pela lei. 26 Tais requisitos subjetivos são imprescindíveis para o livramento condicional e referem-se exclusivamente à pessoa do condenado, espera-se que este, se conduza com bom comportamento durante a execução penal e tenha aptidão para o trabalho facilitando, assim sue retorno ao convívio social. O livramento condicional é a ultima etapa do cumprimento da pena, daí porque se configura o instituto, em um dos mais relevantes da execução penal, conforme Cuello Calón, citado por Bitencourt (1993, p. 279), é um período de transição entre a prisão e a vida livre, período intermediário absolutamente necessário para que o condenado se habitue às condições da vida exterior, vigorize sua capacidade de resistência aos atrativos e sugestões perigosas e fique reincorporado de modo estável e definitivo à comunidade (...). Sinala-se, ainda, que o livramento condicional é concedido mediante condições expressas na lei, e que de certa forma, visam propiciar ao condenado a possibilidade de usufruir do livramento condicional de forma satisfatória. Cezar Roberto Bitencourt (1993, p. 302), por sua vez, aclara esse pensamento afirmando que: Visa esse instituto, acima de tudo, oportunizar a sequência do reajustamento social do apenado, introduzindo-o paulatinamente na vida em liberdade, atendendo, porém às exigências de defesa social. O liberado será, em outras palavras, submetido à prova. Entretanto, o livramento condicional não é um direito absoluto, pacificado está que se trata de um direito subjetivo do condenado, eis que, conforme a lei, o benefício é passível de revogação. Em conclusão tem-se que o livramento condicional setrata de um instituto de suma importância, pois permite a antecipação da liberdade do condenado, permitindo a ele desfrutar do convívio social novamente, embora que para isso necessite cumprir com algumas condições. 27 Ao lado disso, é que se deve lembrar a importância de outro instituto previsto na LEP, que é o instituto da saída temporária, um meio preparatório à reinserção do condenado ao mundo externo do cárcere, instituto este que pela sua importância deixa de ser analisado neste momento, para ser tema do próximo capitulo do presente trabalho. 28 2 SAÍDA TEMPORÁRIA A edição da Lei n. 7.210/94, LEP, inaugura uma nova fase no plano da execução da pena privativa de liberdade, estabelecendo-se normas para que o Estado concretize sua função punitiva, diante do cometimento de delito. Tal diploma é inovador, e tem como premissa básica o fim ressocializador da pena privativa de liberdade refletindo em seus postulados uma preocupação em assegurar direitos fundamentais ao sentenciado, de tal forma que a referida Lei foi plenamente recepcionada pela Constituição Brasileira de 1988. A LEP, como mencionado no capítulo anterior, prescreve institutos destinados a cumprir com as finalidades da pena privativa de liberdade além de assegurar direitos aos enclausurados, dentre eles a permissão de saída temporária. Assim, este capítulo apresentará as tendências doutrinárias e jurisprudenciais diante da previsão legal referente ao instituto da saída temporária, bem como fará breve analise sobre a importância do instituto para ressocialização do condenado, investigando as causas que levam o individuo a fazer uso inadequado de benefício tão importante, apontando algumas perspectivas possíveis para utilização do benefício de forma salutar. 2.1 Previsão legal e aspectos doutrinários e jurisprudenciais A saída temporária é um dos institutos mais importantes consagrados na LEP, lei esta, vale lembrar, originária de um momento ideológico de 1984, que vislumbrava um modelo penal integrado, amparado em uma política global de prevenção do crime e tratamento do delinquente (CARVALHO, 2003). O artigo 122 do referido diploma legal preconiza que: 29 Os condenados que cumprem pena no regime semiaberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: I – visita à família; II – frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do segundo grau, ou superior, na comarca do Juízo da Execução e III – participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. Vê-se que a saída temporária prevista no artigo 122 da LEP, não se confunde com a permissão de saída prevista nos artigos antecedentes do mesmo diploma legal, são institutos distintos, como distintas também são suas finalidades. .Conforme previsão expressa do artigo 124 da LEP, o condenado poderá usufruir até 35 dias por ano, fora do ambiente carcerário, sem vigilância1 , podendo nestes períodos manter contato não só com a família, mas também com a sociedade. Entretanto, a saída temporária é um direito subjetivo, uma vez que para conquistá-lo o apenado, além do cumprimento de um sexto da pena se não reincidente e um quarto se reincidente, deverá cumprir alguns requisitos subjetivos, que lhe permitam fazer jus ao beneficio. Assim, como afirmam Moraes e Smanio (2002, p. 192), “o preenchimento dos requisitos legais objetivos e subjetivos previstos em lei para a saída temporária confere ao condenado o direito público subjetivo à obtenção do benefício legal.” Tal questão já está pacificada pelos tribunais pátrios AGRAVO EM EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME. REQUISITO SUBJETIVO. ANÁLISE DO LAUDO TÉCNICO. POSSIBILIDADE. SAÍDA TEMPORÁRIA. INDEFERIMENTO. Não é vedada ao julgador a adoção de outros meios de prova na formação de sua convicção acerca do efetivo papel da pena, com seu caráter de retribuição ao mal causado e prevenção de futuros delitos, bem como, em tese, a ressocialização do apenado. Diante dessa possibilidade é que, existindo nos autos a prova técnica na forma de laudos psicossociais do segregado, esta pode e deve ser valorada no intuito de individualizar a aplicação da Lei Penal, cotejando-a com os demais elementos 1 A lei 12.258 de 15/06/2010 acrescentou parágrafo único ao artigo 122 da LEP que determina: “a ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução”, bem como acrescentou o § 1º ao artigo 124 que estabelece condições para as saídas temporárias. 30 apresentados, para levar a efeito aquela que é a real tarefa do julgador - analisar e decidir casos concretos dentro do estrito cumprimento das normas de direito. Embora o atestado carcerário certifique conduta plenamente satisfatória, os demais elementos probatórios desaconselham, por ora, a pretensa progressão de regime. Mantido o apenado no regime fechado, impõe-se o indeferimento da postulada saída temporária. AGRAVO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2010). Dessa forma, se justifica a opinião quase que unânime no sentido de que as saídas temporárias têm o escopo de preparar o indivíduo para o retorno ao convívio social de forma satisfatória, não sendo plausível usufruir de tal benefício, caso não apresentasse conduta condizente com os fins da execução. Neste sentido pondera Nucci (2009, p.540), Cuida-se de beneficio de execução penal destinado aos presos que cumprem pena no regime semiaberto, como forma de viabilizar, cada vez mais, a reeducação, desenvolvendo lhes o senso de responsabilidade, para, no futuro, ingressar no regime aberto, bem como para dar início ao processo de ressocialização. Ainda Nucci (2009, p. 541), aponta quais são as metas das saídas temporárias: Proporcionar ao preso de bom comportamento uma maior proximidade com a família, além de lhe garantir a possibilidade de estudar, uma vez que, na colônia penal onde se encontra, apesar de dever existir atividade laborativa, dificilmente se encontrará formação profissionalizante e de segundo grau, sendo quase impossível um curso superior, é alternativa positiva. A participação em atividades propiciadoras de convívio social também se incluem no mesmo contexto de ressocialização Por sua vez, Mirabete (2000, p. 415), afirma que “As saídas temporárias servem para estimular o preso a observar boa conduta e, sobretudo, para fazer-lhe adquirir um sentido mais profundo de sua própria responsabilidade, influindo favoravelmente sobre sua psicologia.” No sistema progressivo de cumprimento de pena ilustrado na LEP, o instituto das saídas temporárias torna-se um mecanismo fundamental desse sistema, pois conforme ensina Boschi (1989, p. 26), “[...] constitui etapa de ‘preparação’ do condenado do regime semiaberto à liberdade.” 31 Ainda diz que, Muito mais que um benefício, a saída temporária cumpre, na verdade esse importante papel, no âmbito do sistema progressivo, de também possibilitar ao condenado com mérito e certo tempo de pena, breves incursões no mundo livre, preparando-se, assim, para em pouco, obter a progressão ao regime aberto. (BOSCHI, 1989, p. 26). Para Gomes (2010, p. 1), “a saída temporária se funda na confiança e tem por objetivo a ressocialização do condenado, já que permite sua gradativa reintegração à comunidade.” Como se observou anteriormente, o direito às saídas temporárias é um direito subjetivo, pois não basta apenas o cumprimento de parcela da pena e o ingresso no regime prisional semiaberto, sendo este apenas um pressuposto que eventualmente legitima a concessão do benefício, mas não garante, necessariamente, a obtenção dessa benesse. (GOMES, 2010, p. 1). Ao lado disso, assenta-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que reafirma, reiteradamente, que, o ingresso no regime prisional semiaberto é apenas um pressuposto para justificar a concessão de saída temporária, entretanto não é fato garantidor para alcançar a obtenção desse benefício. Para ilustrar, destaca-se ementa de Habeas Corpus nº 102773, proferido pela Ministra Ellen Gracie(BRASIL, 2010): HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. SAÍDA TEMPORÁRIA. VISITA À FAMÍLIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INVIABILIDADE DA VIA ELEITA. ORDEM DENEGADA. 1. O fato de o paciente ter sido beneficiado com a progressão de regime para o semiaberto não obriga a concessão do benefício de visita à família. Cumpre ao juízo das execuções criminais avaliar em cada caso a pertinência e razoabilidade da pretensão, observando os requisitos subjetivos e objetivos do paciente. 2. Esta Corte tem orientação pacífica no sentido da incompatibilidade do habeas corpus quando houver necessidade de apurado reexame de fatos e provas, não podendo o remédio constitucional servir como espécie de recurso que devolva completamente toda a matéria decidida pelas instâncias ordinárias ao Supremo Tribunal Federal. 3. Ordem denegada. 32 Em outras palavras, além de estar no regime semiaberto, se faz necessário a observância de alguns requisitos subjetivos, como por exemplo, comportamento adequado, exigido pelo artigo 123 da LEP. Para Mirabete (2000, p. 419), “comportamento ‘adequado’ não basta que o condenado seja considerado de bom comportamento, mas é necessário que demostre senso de responsabilidade e disciplina [...]” Importante mencionar que, após o deferimento do benefício, para mantê-lo, há a necessidade do condenado se conduzir adequadamente, caso contrário, poderá ser a qualquer tempo revogado, bastando para isso à incidência de qualquer das hipóteses previstas no artigo 125 da LEP. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. CARACTERIZADO O COMETIMENTO DE FALTA DISCIPLINAR DE NATUREZA GRAVE. ART. 50, V, LEP. O RECONHECIMENTO DA PRÁTICA DE FALTA GRAVE ENSEJA, COMO COROLÁRIOS LÓGICOS, A REGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL, A CASSAÇÃO DA REMIÇÃO, A ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA A CONCESSÃO DE NOVOS BENEFÍCIOS AO PRESO, A REVOGAÇÃO DAS SAÍDAS TEMPORÁRIAS, BEM COMO DO TRABALHO EXTERNO. Agravo provido. (RIO GRANDE SO SUL, 2011). Todavia, entende-se que uma vez concedido o benefício ele poderá se tornar automatizado podendo para tanto as Varas de Execução Criminal editar Portarias regulamentando a forma de concessão, passando então a liberação do sentenciado a cargo do administrador da casa prisional. Neste sentido o Supremo Tribunal Federal já manifestou seu posicionamento: PRESO - SAÍDAS TEMPORÁRIAS - CRIVO. Uma vez observada a forma alusiva à saída temporária - gênero -, manifestando-se os órgãos técnicos, o Ministério Público e o Juízo da Vara de Execuções, as subsequentes mostramse consectário legal, descabendo a burocratização a ponto de, a cada uma delas, no máximo de três temporárias, ter-se que formalizar novo processo. A primeira decisão, não vindo o preso a cometer falta grave, respalda as saídas posteriores. Interpretação teleológica da ordem jurídica em vigor consentânea com a organicidade do Direito e, mais do que isso, com princípio básico da República, a direcionar à preservação da dignidade do homem.(BRASIL, 2010). 33 Por essa razão, concedido o benefício e não vindo o sentenciado a cometer falta grave, respaldado está o direito de usufruir as próximas saídas temporárias sem que tenha que movimentar o judiciário e acionar Ministério Público, desburocratizando assim, o processo de execução penal e facilitando o processo de ressocialização. 2.2 Papel da saída temporária na ressocialização Como se observou anteriormente, muito se discute os fins da pena privativa de liberdade, que na opinião de Shecaira e Corrêa Junior (2002, p. 146) “a ressocialização e a retribuição pelo fato são apenas instrumentos de realização do fim geral da pena: prevenção geral positiva.” Todavia, tais instrumentos, diante de um sistema prisional em crise, não estariam cumprindo com seu papel ressocializador, inclusive, levando os indivíduos à reincidência, sendo necessária uma mudança nas condições do cumprimento da pena, para que se possa, segundo os mesmos autores (2002, p. 147), buscar um “significado sociológico da função de ressocialização.” A ressocialização, porém deve ser encarada não no sentido de reeducação do condenado para que este passe a se comportar de acordo com o que a classe detentora do poder deseja, mas sim como reinserção social, isto é, torna-se também finalidade da pena a criação de mecanismos e condições ideais para que o delinquente retorne ao convívio da sociedade sem traumas ou sequelas que impeçam uma vida normal. (SHECAIRA; CORRÊA JUNIOR, 2002, p. 146). Indiscutível que o instituto da saída temporária torna-se mecanismo fundamental da reintegração do indivíduo ao meio externo do cárcere, bem como tem um papel imprescindível aos fins ressocializador da pena privativa de liberdade, visando o seu retorno gradativo ao convívio social e familiar de forma salutar. Antes de tudo, não se pode olvidar uma das finalidades da saída temporária é a reaproximação do indivíduo com a família, isto é, pai, mãe, padrasto ou madrasta, irmãos filhos, esposa, companheiro ou companheira, possibilitando a fortalecimento dos laços que os une. 34 Em outras palavras, permite que ele experimente a sensação de amparo e aconchego encontrado no âmbito familiar, ou, até mesmo, segundo Marcão (2009, p. 162) de ”outros familiares mais próximos com os quais o preso mantenha estreitos laços de consideração e afeto.” No entendimento de Renato Marcão (2009, p. 192) Visa-se com tal benefício o fortalecimento de valores ético-sociais, de sentimentos nobres, o estreitamento dos laços afetivos e de convívio social harmônico pautado por responsabilidade, imprescindíveis para a (res)socialização do sentenciado, bem como o surgimento de contraestimulo ao crime. Neste contexto há que mencionar também a importância do contato do indivíduo encarcerado com pessoas livres da sociedade, no entender de Dutra (2010, p. 21): Deixando de lado críticas sobre o próprio conceito de ressocialização não se pode, ao mesmo tempo, segregar pessoas e obter sua reeducação, numa lógica absurda de confinar para reintegrar; é indispensável um processo de comunicação entre prisão e sociedade visando aos valores da sociedade livre e vice-versa. [...] deve subsistir a preocupação com condições de manutenção do apenado na sociedade [...] Vê-se que o contato com o mundo exterior e com a família são elementos do tratamento educativo e que efetivamente se concretizam com a permissão de saída temporária, sobretudo porque a autorização de saída está vinculada ao chamado regime de confiança, regime este que juntamente com o livramento condicional preparam a transição da instituição penitenciária para a comunidade livre (ALBERGARIA, 1987). Prevê ainda a LEP no inciso II do artigo 122, a possibilidade da saída para “frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do segundo grau ou superior, na comarca do juízo da Execução.” Então, se grande parte da doutrina afirma que a maior fonte geradora da criminalidade é a desigualdade social, sendo que a educação figura como fator social 35 relevante, pois a falta dela marginaliza e impede o crescimento em todos os aspectos da vida do ser humano, não é extremado afirmar que ela é fundamental para ressocializar um indivíduo privado de sua liberdade. Marcia Silveira Borges de Carvalho (2009, p. 44) enfatiza que “como o objetivo da pena é a ressocialização do condenado, a assistência educacional mostra-se como um ótimo instrumento de reinserção do preso na sociedade, vez que lhe fornecerá melhor preparo profissional e possibilitará que se aperfeiçoe.” Além disso, o instituto da saída temporária assume relevância extraordinária quando se trata de analisar a concessão de indulto, decorrente de decreto presidencial, sendo que é a própria Lei que determina quem será beneficiado. Confira-se o Decreto nº 7.420 de 31/12/2010 (Brasil, 2010) Art. 1º É concedido indulto às pessoas: VII - condenadas à pena privativa de liberdade não superior a doze anos, desde que já tenham cumprido dois quintos da pena, se não reincidentes, ou três quintos, se reincidentes, encontrem-se cumprindo pena no regime semiaberto ou aberto e já tenham usufruído, até 25 de dezembrode 2010, no mínimo, de cinco saídas temporárias previstas no art. 122, combinado com art. 124, caput, da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, ou tenham prestado trabalho externo, no mínimo por doze meses nos três anos contados retroativamente àquela data; No entanto, faz-se necessária uma nova dinâmica do sistema prisional com a criação de mecanismos que se implementem os dispositivos da LEP, possibilitando desenvolver uma percepção do indivíduo encarcerado para que ele mesmo visualize a dimensão e amplitude do instituto da saída temporária e sua importância para o cumprimento satisfatório da pena, especialmente quanto a seu caráter ressocializador, permitindo o retorno gradual ao convívio em sociedade. 36 2.3 Dificuldades na sua utilização concreta Incontestável a importância do instituto abordado para fins de ressocialização e efetivação dos propósitos da execução penal. Contudo, mesmo conseguido o objetivo e tendo a oportunidade de usufruir tal beneficio muitos indivíduos não conseguem estabelecer este contato com a sociedade de forma salutar, frustrando expectativas, provocando um debate que ainda não encontra uma resposta concreta. Ao lado disso, surge um questionamento polêmico, o que é primordial? Assegurar direitos ao sentenciado, que à luz da Constituição Federal, é sujeito de direito igual a qualquer outro cidadão livre ou primar pela segurança e integridade da coletividade, o que também é um direito consagrado pela Carta Magna? E quando a opção escolhida é a de garantir direitos ao sentenciado, tal como o de lhe assegurar o benefício à saída temporária, na maioria das vezes, surge uma legião de opositores manifestando-se de forma radical e contrária à concessão da benesse. Essas vozes oposicionistas ganham força principalmente quando os meios de comunicação anunciam delitos cometidos por sentenciados durante o gozo do benefício, ou quando parcela desses sentenciados não retorna ao cárcere no final de período concedido, considerados assim, em fuga do sistema prisional. Todavia, a reincidência não pode ser creditada tão somente ao fato do sujeito ter sido beneficiado com as saídas temporárias, ou mesmo que só é praticada por aqueles que se encontram em gozo do benefício. Shecaira e Corrêa Junior (2002, pg. 157) ao analisarem a crise da prisão e a influência que a privação da liberdade exerce sobre cada recluso são categóricos ao afirmar que: “não se pode negar que o retorno à criminalidade, em alguns casos, se dá em razão da própria personalidade do sujeito.” 37 No tocante as fugas, são imprescindíveis as considerações tecidas pelo presidiário Alex Victor da Silva (2006, p. 4) Ao longo dos anos me acostumei a ouvir, de meus colegas de infortúnio que saíam queixas no sentido de que o momento de retornar ao presídio era dramático, terrível. Muitos diziam que "dá a maior neurose" ter que voltar para a prisão "com as próprias pernas", isto é, por conta própria. Tal pensamento reflete a "pressão" que esses reeducandos sofrem por parte de seus pares. Em alguns casos a tortura psicológica é tamanha que o reeducando não volta, justamente pelo fato de ter medo de sofrer possíveis – e até comuns, vale destacar – represálias. Diante disso, deduz-se que não é a concessão de um benefício como a saída temporária que automaticamente ira desencadear o desejo de reincidir ou fugir, obviamente que para aqueles cuja índole comporta esse desejo, é uma oportunidade, todavia o que não se pode fazer é privar todos os indivíduos de usufruir de um direito garantido em lei, por não ser possível prever quem o utilizará inadequadamente. Neste sentido, Marcochi (2006, p. 1) lembra que: [...] imperioso indicar que a concessão do referido benefício tem o condão de aos poucos inserir na sociedade aquele que em dado momento praticou uma conduta delituosa. Não há outra forma de (re)socializar alguém senão colocá-lo gradativamente em contato com o habitat futuro. Ainda Marcochi (2006, p.1) para ilustrar e tomando por base acontecimentos violentos ocorridos na cidade de São Paulo, no ano de 2006, informa e questiona: Os números publicados dão conta nesse diapasão que cerca de 10 a 12% dos beneficiados não retornam aos estabelecimentos prisionais e boa parte destes volta a delinquir, por vezes sendo presos no mesmo dia da soltura. O número é expressivo quando pensamos que 12% referem-se a cerca de 1.400 pessoas. Contudo, questiona-se: - e os 90% ou 88% restantes dos detentos que retornam ao estabelecimento mesmo tendo a oportunidade de não fazê-lo; devem ser esquecidos? Por si tal condição não deve ser considerada? Quem em sã consciência retornaria para o interior dos estabelecimentos prisionais (e muitas das pessoas que se manifestam acerca das modificações se quer estiveram dentro de uma cadeia) podendo permanecer com sua família senão aqueles que estão realmente imbuídos no sentimento de “pagar a dívida com a sociedade e ver-se livre em definitivo?” 38 Todavia, independentemente das críticas inexoráveis sofridas pelo instituto da saída temporária, torna-se evidente que a ressocialização jamais acontecerá dentro dos muros das penitenciárias e privar o sentenciado de usufruir um benefício tão importante quanto este só lhe acarretará maiores prejuízos e certamente nenhum favor imediato para a sociedade. Como já afirmava Jason Albergaria (1987, p. 238) “não é na vida monacal que se prepara para viver em sociedade”, enfatizando o mesmo autor a importância da efetivação do instituto, pois segundo ele, “há, pois, um sentido reeducativo na permissão da saída, que não se desvincula do processo de tratamento reeducativo [...]” Assim, criticar a concessão de tal benefício ou exigir a edição de leis mais severas, sempre com o escopo de endurecer o tratamento, restringir direitos, impor sanções graves, ou ainda, proibir indiscriminadamente a saída temporária é aceitar que os fins justificam os meios, é esquecer-se que 90% dos encarcerados realmente querem pagar sua dívida com a sociedade e que esses necessitam incentivo permanente para manter o efetivo bom comportamento (MARCOCHI, 2006, p. 2). Neste contexto, a questão mais latente quando se trata de saída temporária de apenados, é a que diz respeito à questão das fugas e da reincidência no período em que o indivíduo permanece livre e sem vigilância direta, o que em muitos casos, infelizmente, é fato concreto, sendo necessária uma abordagem mais apurada para averiguar as causas desse fenômeno. Parte da doutrina critica a abolição do exame criminológico que determinava o mérito do condenado e servia de condição para a concessão de benefícios, afirmando, inclusive que foi um retrocesso, pois hoje está ao arbítrio do diretor do estabelecimento penal aferir o bom comportamento carcerário que norteará a decisão de concessão de saída temporária (MARCOCHI, 2006, p. 2). 39 Entretanto Salo da Carvalho (2008, p. 185), ao referir-se ao controle de identidade do preso através de laudos e perícias criminológicas, informa: Já se disse que o mais perverso modelo de controle social é aquele que funde o discurso do direito com o discurso da psiquiatria, ou seja, que regride aos modelos positivistas de coalizão conceitual do jurídico com a criminologia naturalista. Outrossim, o sonho positivista de medição da periculosidade encontra guarida nesse sistema. Diante desse contexto poderão ocorrer equívocos ao se aferir as reais condições do preso candidato a usufruir do benefício da saída temporária, uma vez que o diretor não tem habilidade técnica para detectar possíveis problemas psicológicos ocasionados pelo encarceramento. Tais problemas existem, conforme explica Marques Junior (2007, p. 43) [...] com a imersão do indivíduo no cárcere, verifica-se primeiramente o fenômeno da prisionização, o qual é responsável por desestruturá-lo psicológica e socialmente. Porém, como consequência direta, tem-se que quando a pessoa alcançar novamente a liberdade estará ela completamente excluída do mundo, tendo perdido toda a percepção de sua individualidade e da sua inter-relação com a sociedade. Dessa forma, se estariaconcedendo o benefício da saída temporária àqueles condenados que não se encontram em condições psicológicas de enfrentar um estado de liberdade não vigiada. Para parte dos doutrinadores, o problema encontra-se arraigado no próprio sistema prisional, como é o caso de Shecaira e Corrêa Junior (2002, p.157), referindose sobre os efeitos criminógeno deflagrados pelo encarceramento como desastrosos. A começar pelas condições materiais das penitenciárias, os efeitos causados sobre os condenados são desastrosos. [...] O efeito psicológico deve também ser considerado negativo e infrutífero à medida que se formam associações criminosas dentro do cárcere e planos são feitos a fim de garantir uma futura ação delitiva quando colocados em liberdade. Por essa razão, ainda Shecaira e Corrêa Junior (2002, p.158) afirmam que a “característica da situação de crise em que se encontra a pena de prisão é o retorno à 40 ação criminosa, ou seja, a reincidência”, e em consequência tem-se o fracasso do objetivo ressocializador da prisão. Marcia Silveira Borges de Carvalho (2009, p. 36), vem corroborar este posicionamento ao afirma: [...] apesar de a Constituição e a legislação ordinária estabelecerem uma série de garantias aos presidiários, a análise da realidade prisional não demonstra a ampla efetividade desses direitos e aponta para um grave problema a ser resolvido pelos governos e pela sociedade. Entretanto esta posição não é uníssona, pois tem os que defendem a participação mais efetiva da comunidade no processo de execução, é o caso de Ayrton Vidolin Marques Júnior, que mesmo afirmando que “temas pertinentes à Execução Penal e à recuperação de delinquentes não alcançaram a necessária atenção do Poder Público”, a sociedade tem sua parcela de culpa. Para Marques Junior (2007, p. 2): [...] de um lado vê-se a inércia do Governo (aqui entendido como os entes políticos estatais) e de outro, que o restante da sociedade costuma ficar passivo frente aos problemas, não apresentando reações efetivas. Todos se alarmam com a elevada violência e manifestam reclamações. Porém, ninguém quer fornecer a sua contribuição pessoal para atenuar o problema. Desculpas são frequentes para a falta de ação, sendo que a mais comum consiste na mútua imputação de culpa. O governo responsabiliza a sociedade e vice-versa, de maneira a que ambos permaneçam estáticos, sem que se aborde em definitivo a questão. De fato, a comunidade deve participar da execução penal, não apenas com a finalidade de colaborar com o Estado, e sim como um dever, eis que o artigo 4º da LEP versa exatamente sobre esta possibilidade, visando esforço coletivo diante das dificuldades estatais, na busca de uma melhoria da sociedade e na qualidade de vida de todos, inclusive, daqueles que anseiam por um sopro de liberdade. 41 Todavia as posições até aqui apresentadas se coadunam com a posição de Barata (2002, p. 180), para quem, o sistema penal age no sentido oposto ao da integração, assim: [...] como no interior do microcosmo escolar, assim no microcosmo social, o mecanismo de marginalização posto em ação pelos órgãos institucionais é integrado e reforçado por processos de reação, que intervêm ao nível informal. Estes dizem respeito, sobretudo à “distância social”, que isola a população criminosa do resto da sociedade, e à “proibição de coalizão”, que desencoraja toda forma concreta de solidariedade com os condenados e entre eles [...] Diante desse contexto conclui-se que não é a concessão do benefício da saída temporária que induz o encarcerado à fuga e à reincidência, e quando esses fenômenos acontecem são consequência, entre outros, de conjunção de fatores relacionados às condições degradantes de cumprimento da pena privativa de liberdade, ao processo de estigmatização vivenciado e a inércia da sociedade no tocante à execução penal. 2.4 Perspectivas Por todo o contexto já explorado no presente trabalho vislumbra-se o quão distante se está de se presenciar um abolicionismo penal no atual sistema penitenciário, não havendo no momento outra alternativa senão a pena de prisão. É pois necessária, a busca de soluções a propiciar adequado cumprimento da pena e preparar o encarcerado para retornar ao convívio social. Contemporaneamente, instalado o Estado Democrático de Direito, impera a necessidade de rever a politica criminal vigente, adequando-a ao novo modelo constitucional bem como a busca de soluções para os problemas enfrentados pelo sistema penitenciário. Neste sentido, Jason Albergaria (1996, p. 281-282) já afirmava; 42 A moderna politica criminal desenvolve-se num contexto ético de respeito ao Estado Democrático de direito e à dignidade da pessoa humana do recluso. [...] A finalidade da política criminal, no contexto do Estado de Direito, orienta-se por justiça penal inserida na justiça social, para a readaptação do delinquente, numa atmosfera ética de respeito aos direitos fundamentais. Trata-se, pois de uma política penitenciária integrada na politica social, em que a reforma da execução constitui solução parcial da questão social. Questão fundamental e que se entende necessário no atual contexto é que se deve preparar o indivíduo encarcerado para enfrentar o contato com a liberdade, sem vigilância, todavia, latente na execução penal a problemática acerca da função dos técnicos criminólogos. Os técnicos tornaram-se meros confeccionadores de laudos para justificar decisões judiciais, distanciando-se, assim, das finalidades das Comissões e Centros de Observação, que segundo a LEP, deveriam realizar anamnese e prognósticos visando à reinserção do apenado, através de proposta de programa de tratamento penal que tivesse por fim reduzir os danos causados pelo cárcere (CARVALHO, 2008, p. 202). Neste sentido, Salo de Carvalho (2008, p. 202) aponta o caminho, enfatizando que a voluntariedade do sujeito é imprescindível, sob pena de violação do princípio da dignidade humana. Uma atividade pautada em programas humanistas de redução de danos possibilitaria construir com o apenado técnicas que possibilitassem a minimização do efeito deletério do cárcere (clinica de vulnerabilidade). Constatados problemas de ordem pessoal (uso de drogas, alcoolismo, por exemplo) ou familiar, deveria o técnico, junto com o apenado, e tendo como imprescindível sua anuência, colocar em prática um processo de resolução do problema, ou seja, fornecer elementos para sua superação da crise e não estigmatiza-lo, potencializando-a. Por essas razões, é de suma importância salientar que a preparação do individuo privado de sua liberdade, através de um tratamento previsto na LEP, para que ele possa usufruir de forma satisfatória o beneficio da saída temporária é um direito seu, todavia, deve-se respeitar, também, o seu desejo de usufruir ou não de tal direito. Outra questão relevante é abordada pela assistente social Mirian Krenzinger A. Guindani (apud CARVALHO, 2002, p. 188), que deixa subentendido a omissão do 43 Estado quanto a tratamento penal individualizado previsto no artigo 6º da LEP, ao afirmar ser possível com a intervenção do Serviço Social se criar um espaço reflexivo para resolução de questões referentes aos sujeitos apenados. A ação junto aos apenados tem de ser uma ação política-cultural e socioeducativa para a liberdade, e, por isso mesmo, ação com eles e não sobre eles! A vulnerabilidade emocional e social, fruto da situação concreta da dominação e exclusão em que se encontram, gera uma visão inautêntica, ingênua e violenta que serve para realimentar a dependência/rejeição de um mundo opressor, nesse caso, o próprio contexto que o exclui e o estigmatiza. Assim, não restam dúvidas de que o Serviço Social poderia ser fortalecido dentro do sistema prisional, passando atuar mais efetivamente nas questões cotidianas, como por exemplo, preparar o sujeito apenado para usufruir do benefício da saída temporária de forma satisfatória, bem como estender essa atenção àqueles que irão recebê-lo no mundo externo, ou seja, a família. Diga-se ainda, que com o fortalecimento do serviço social no sistema prisional,

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