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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Niedjha Lucienne Abdalla Santos Rogerio Chaves Reitor Prof. Celso Niskier Pro-Reitor Acadêmico Maximiliano Pinto Damas Pro-Reitor Administrativo e de Operações Antonio Alberto Bittencourt Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Viviana Gondim de Carvalho Redação Dtcom Análise educacional Dtcom Autoria da Disciplina Niedjha Lucienne Abdalla Santos e Rogerio Chaves Validação da Disciplina Marcia de Medeiros Aguiar Designer instrucional Christine Almeida Rodrigues Banco de Imagens Shutterstock.com Produção do Material Didático-Pedagógico Dtcom © Copyright 2017 da Dtcom. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada pela Dtcom. Bibliotecária – Andrea Aguiar Rita CRB) S237e Santos, Niedjha Lucienne Abdalla Ética e Responsabilidade Socioambiental/ Niedjha Lucienne Abdalla Santos, Rogério Chaves. – 1. ed.– Curitiba: Dtcom, 2017. 146 p. ISBN: 978-85-93685-01-9 1. Ética. 2. Responsabilidade Social. 3. Sustentabilidade CDD 658.408 Sumário 01 Conceitos gerais de ética ........................................................................................................7 02 Problemas morais e problemas éticos ..............................................................................14 03 Ética, moral e direito ...............................................................................................................21 04 Ética empresarial ....................................................................................................................28 05 Código de ética .......................................................................................................................35 06 Empresa, estado e sociedade civil ......................................................................................42 07 Conceito de responsabilidade socioambiental .................................................................49 08 Responsabilidade Social Corporativa .................................................................................56 09 Gestão ambiental e sustentabilidade .................................................................................63 10 Pacto Global ............................................................................................................................70 11 Globalização, democracia e cidadania ...............................................................................77 12 Relação entre ética, tecnociência e bioética .....................................................................84 13 Ética na era digital: propriedade intelectual, direito autoral e plágio ...........................91 14 Efeitos da corrupção ..............................................................................................................98 15 Compliance ........................................................................................................................... 105 16 Cultura e diversidade cultural ............................................................................................ 112 17 Assédio: moral, sexual e intelectual ................................................................................. 118 18 Responsabilidade social corporativa e direitos humanos ........................................... 124 19 Consumo consciente .......................................................................................................... 130 20 Norma SA 8000, NBR 16000 E ISO .................................................................................. 137 Conceitos gerais de ética Niedjha Abdalla-Santos Introdução Você sabia que os estudos sobre a ética existem há muitos séculos, e que a ética tem se mostrado um desafio intelectual de grandes proporções para pensadores de todo o mundo? Nesta aula, vamos compreender o que é ética, e qual a sua importância para a sociedade. Objetivos de Aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • identificar os conceitos gerais de ética; • compreender a importância da ética para a sociedade. 1 O que é ética? Temos, aqui, uma questão muito difícil de responder, pois não há um conceito único de ética. Há quem diga que ética é o estudo do que é bom e do que é mau, ilustrado pela Figura 1. Chauí (2010) chama atenção para o fato de que assuntos dessa natureza sempre fizeram parte da his- tória, desde a Antiguidade até nossos dias. É o caso, por exemplo, dos estudos sobre as possíveis formas de evitar e controlar a violência, a agressividade. Há a ideia que diversas culturas e sociedades definiram conjuntos de valores éticos para funcionarem como reguladores dos padrões de conduta de relações intersubjetivas e interpesso- ais. Trata-se, portanto, de uma forma de garantir comportamentos sociais capazes de alcançar a segurança física e psíquica dos membros daqueles grupamento (Chauí, 2010). Figura 1 – O dilema entre o bem e o mau. Fonte: jorgenmcleman/Shutterstock.com – 7 – TEMA 1 FIQUE ATENTO! Entenda que a ética não dita leis, normas, regras; ela desenvolve valores, a partir de reflexões que podem ajudar a melhorar o comportamento humano. Tenha em mente que a ética também pode ser entendida como a reflexão em torno da vida, das ações humanas e dos costumes da sociedade (GOLDIM, 2003). Ela não estabelece regras e é caracterizada pela busca contínua de sentido, de justificativa para o que é bom e mau, ou pela diferenciação entre o bem e o mal. EXEMPLO Um exemplo bastante atual de reflexão ética é a questão da utilização de células- -tronco (CT) embrionárias descartadas no momento do parto. Trata-se de uma questão delicada que gera dúvidas de ordem religiosa, moral e cultural. Como se portar em relação às possíveis razões para ser contra ou a favor do uso das CT para fins científicos ou terapêuticos? Está correto ou não? Questões éticas transitam por todas as áreas do conhecimento científico, por todas as fases da vida em sociedade, por todas as classes sociais. Sendo um tema de tamanha complexidade, nosso estudo jamais alcançaria resultados de grandes proporções em termos de conhecimentos sobre a ética. Entretanto, a melhor forma de superar essa dificuldade, e clarear nosso entendi- mento sobre os conceitos gerais, é descobrindo como alguns dos grandes pensadores da huma- nidade entenderam a ética. FIQUE ATENTO! Não existe um único conceito definido para a ética. A ideia de ética varia com a visão de mundo de cada pensador. Filósofos, psicólogos, sociólogos etc. desen- volvem suas reflexões em torno de alguns aspectos da vida que consideram mais importantes para tornar o homem melhor. Para Sócrates, pensador grego que viveu entre 470 e 399 a.C., ética era sinônimo de moral e o caminho para entender o que é justiça. Platão foi o mais famoso discípulo de Sócrates, e entendia a ética como a reflexão em torno do modo correto de agir e de sua relação com o alcance do bem supremo buscado por todos os homens: a felicidade (SANTOS, 2001). ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 8 – EXEMPLO Você acha que temos o direito de saber que tipo de alimento estamos compran- do? A corrida pelo lucro dá direito às grandes corporações desenvolverem alimen- tos transgênicos e colocarem à venda sem informarem sua origem nos rótulos? A identificação dos alimentos transgênicos é uma questão ética muito atual, tratada na Lei da Biossegurança (Lei n. 11.105/2005). Discípulo de Platão, Aristóteles discordava de seu mestre quanto à ética,pois entendia que o homem não luta para buscar um único bem supremo. Em sua visão, ele necessita de vários bens supremos e, para alcançá-los, busca a virtude, que seria a vontade e o esforço humano para desen- volver bons hábitos (ABIB, 2008). Na Idade Moderna, a ética de Immanuel Kant (1724-1804) buscou a igualdade entre os homens, o conhecimento verdadeiro, a liberdade do agir de forma única, racional, transcendental (HAMEL, 2011). Peter Singer é um filósofo contemporâneo que entende a ética como sinônimo de moral. Ele afirma que para muitos a ética não passa de algo que é bonito na teoria, mas não funciona na prática. Por isso, prefere ver a ética como uma reflexão contínua em torno do que fazemos e do deixamos de fazer (SINGER, 1993). Figura 2 – Crise ambiental, uma das questões discutidas por Zygmunt Bauman. Fonte: Smit/Shutterstock.com Zygmunt Bauman é outro pensador da atualidade que estuda a ética. Suas abordagens envol- vem preocupações com a pobreza, o fascismo, a desigualdade humana, as crises ambientais e outras consequências do que chama de capitalismo parasitário (BAUMAN, 1997). O autor afirma que, apesar da queda moral do homem pós-moderno, o estudo dos temas clássicos da ética ainda é muito importante (BAUMAN, 1997). Para Bauman, a ética é exatamente essa necessidade de pensar com profundidade em torno das crises atuais e de suas alternativas (BAUMAN, 1997). ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 9 – SAIBA MAIS! O volume 177 da coleção “Primeiros Passos”, da Editora Brasiliense, corresponde ao livreto O que é Ética. Vale a pena ler! O que acabamos de ver foi uma pequena amostra de pensamentos em torno da ética. São opiniões diferentes, mas poderíamos dizer que uma palavra-chave quando se trata de ética é “refle- xão”. Assim, será que poderíamos considerar a ética como uma reflexão filosófica ou científica em torno de temas importantes que buscam tornar o homem melhor? O que você pensa a respeito? Reflita um pouco sobre isso. Figura 3 – O ato da reflexão é um exercício que leva ao comportamento ético. Fonte: mimagephotography/Shutterstock.com Agora, que possivelmente conseguimos elaborar nossa própria definição de ética, analisare- mos, no próximo item, a importância da ética para a sociedade, tendo em vista as variadas abor- dagens que foram apresentadas até o momento. SAIBA MAIS! Zygmunt Bauman é um dos mais lúcidos pensadores sobre as questões da atualidade. Leia a entrevista publicada pela Revista Época e conheça mais sobre o pensador, acesse: <http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/02/bzygmunt- baumanb-vivemos-o-fim-do-futuro.html>. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 10 – 1.1 Importância da ética para a sociedade Observe que os textos iniciais de filosofia que apresentam a noção de ética costumam mos- trá-la quase sempre a partir de exemplos. Imagine aquelas situações em que nos sensibilizamos com algum tipo de desastre natural: quantas vezes nos mobilizamos individualmente, ou em sociedade, para buscar ajuda, coordenar atendimentos ou mesmo arrecadar verbas que possam ser revertidas em alguma espécie de socorro? Essas e outras tantas situações similares representam reações emocionais de cunho moral, às vezes com influência religiosa. São momentos em que somos postos à prova e nos quais, segundo Chauí (2010), nossa consciência moral exige que saibamos decidir o que fazer e como justificar nossas ações para nós mesmos e para o mundo. Figura 4 – Nossas decisões são influenciadas pela ética. Fonte: tomertu/Shutterstock.com Tais momentos representam a manifestação de sentimentos provocados por valores como justiça, generosidade, honradez, espírito de sacrifício, integridade, amor, vergonha, culpa, admi- ração etc. Mesmo variando muito e passando por uma lista enorme de sentimentos e emoções, podemos observar que tais valores poderiam ser divididos em dois grupos ou em duas categorias: o bem e o mal (o que nos torna bons ou maus). Esta é, enfim, a importância da ética para a sociedade; que está justamente em contribuir para que os seres humanos busquem sempre seu melhor lado. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 11 – Fechamento Nesta aula, você teve a chance de desenvolver um conceito próprio, e fez isso adotando a postura-chave da ética, que é a reflexão. Assim, já deve se sentir apto a identificar os conceitos gerais de ética que foram apresentados, bem como a compreender a importância da ética para a sociedade. Ao longo desta aula, você teve a oportunidade de: • distinguir alguns conceitos de ética; • descobrir como pensavam alguns dos grandes filósofos da Antiguidade e contemporâneos; • conhecer alguns exemplos importantes de questões éticas atuais. Referências ABIB, José Antônio Damásio. Ensaio sobre desenvolvimento humano na pós-modernidade. Psico- logia em estudo: Universidade Estadual de Maringá, Maringá, v. 13, n. 3, p. 417-427, jul./set. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n3/v13n3a02.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2016. BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de ativi- dades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Con- selho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegu- rança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm>. Acesso em: 15 jul. 2016. BAUMAN, Zygmunt. Ética pós-moderna. Tradução João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 1997. BAUMAN BRASIL, Zygmunt. Perfil Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/Bau- manBrasil/>. Acesso em: 15 jul. 2016. CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. GOLDIM, José Roberto. Ética, moral e direito,24 ago. 2003. Disponível em: <https:www.ufrgs.br/ bioetica/eticmor.htm>. Acesso em: 12 jul. 2016. HAMEL, Marcio Renan. Da ética kantiana à ética habermasiana: implicações sociojurídicas da reconfiguração discursiva do imperativo categórico. Rev. Katálysis: Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 164-171, Dez. 2011 . Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802011000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 12 jul. 2016. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 12 – SANTOS, Bento Silva. Ética e “Felicidade” em Platão e Aristóteles: semelhanças, tensões e conver- gências. Cadernos de Atas da ANPOF, no 1, 2001. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/parce- rias/sbp/pdf/3-jorge.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2016. SINGER, Peter. Ética prática. Lisboa: Cambridge University Press, 1993. VALLS, Álvaro, L. M. O que é ética. Coleção Primeiros Passos, 177. São Paulo: Brasiliense, 1994. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 13 – Problemas morais e problemas éticos Rogério Dias Chaves Introdução Sabemos que a sociedade é constituída por valores éticos e morais. Os valores, entretanto, mudam de acordo com os conceitos éticos e morais de cada país ou sociedade, ou seja, os valo- res no Brasil são diferentes de outros países. Isto ocorre principalmente pelos costumes que são criados e mantidos no decorrer dos anos. Um exemplo de costume é a criação de leis e normas formais que funcionam, na verdade, como regras de conduta, penalizando seus infratores. Tenha em mente, portanto, que os valores podem ser relacionados à ética, à moral, ao poder, a normas, regras e leis e são variáveis em cada sociedade. As regras básicas de respeito à vida e manutenção da família, no entanto, são valores éticos bastante comuns às sociedades em geral, havendo somente variação na aplicação de penalidades para as infrações dasleis vigentes. Nesta aula, vamos estudar os problemas morais e éticos que ocorrem no dia a dia e que afetam diretamente os membros da sociedade no que diz respeito às escolhas que fazemos, aos deveres que possuímos e às obrigações que temos perante à coletividade. Para que possamos compreender os problemas éticos e morais, vamos primeiramente ver a diferença entre eles. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer a diferença entre problemas morais e éticos; • identificar exemplos de problemas morais e éticos no dia a dia. Bons estudos! 1 Conceito de ética e moral A palavra ética vem do grego ethos, que significa conduta, agir corretamente e dentro de um padrão correto. Conforme Motta (2015), trata-se de um conjunto de valores que orienta o compor- tamento do homem em relação a outros membros da sociedade, ou seja, a ética é a forma com que o homem deve se comportar em seu meio social. – 14 – TEMA 2 Figura 1 – Valores éticos dizem respeito ao comportamento do homem no meio social. Fonte: solarseven/Shutterstock.com A ética é construída no decorrer dos anos Quando criança, o homem aprende as normas e padrões vigentes, que o auxiliam no sentido de poder discernir o certo e o errado. Existem, entre- tanto, os problemas éticos. Saber se furtar uma maçã de uma banca sem que o dono perceba é uma conduta correta ou não, por exemplo, é um dilema ético. Entenda que a ética diz respeito, portanto, à forma de agir dentro da sociedade, de maneira que o cidadão tenha consciência e saiba distinguir o que é certo e do que é errado de maneira cognitiva, ou seja, de acordo com o conhecimento acumulado durante os anos. Entretanto, a ética é essencial para as questões morais, posto que é formadora de opinião particular, como veremos a seguir. FIQUE ATENTO! Segundo Vázquez (2002), a ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, engloba uma forma específica de comportamento. Veremos, adiante, o que é moral. 1.1 O que é moral? Vázquez (2002) define moral como um sistema de normas, princípios e valores históricos que permeia as relações entre os indivíduos e que é aceito e acatado livremente, por convicção própria e consciência do cidadão. Já segundo Chauí (2008), a filosofia moral ou ética nascem quando existem ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 15 – senso e consciência moral individual. Neste caso, busca-se saber, além da correção dos costumes, sobre o caráter de cada pessoa, que fica bem definido através da conduta moral de cada indivíduo. Figura 2 – A moral diz respeito a um sistema de normas que permeia as relações sociais. Fonte: Scott Maxwell / LuMaxArt/Shutterstock.com SAIBA MAIS! Os padrões éticos e morais vão além da vida cotidiana em sociedade. O plano ético passa também pela vida profissional, ou seja, como ter uma conduta célere no ambiente de trabalho. Você pode saber um pouco mais sobre o tema por meio da obra “Ética e vida profissional”, de Nair de Souza Motta. Você já pensou na possibilidade de um juiz julgar um caso contra as próprias convicções morais, seguindo as regras e leis vigentes, ainda que elas destoem de suas crenças internas? Quer um exemplo dessa situação? Então confira a seguir! EXEMPLO No julgamento de um assaltante que roubou um pacote de bolachas no supermerca- do, o juiz sabe que ele roubou por uma atitude nobre, para saciar a fome, mas perante à sociedade, à justiça e perante às leis vigentes, ele deve julgar como crime comum de patrimônio, que prejudicou a ação comercial do supermercado e seus sócios. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 16 – Figura 3 – Problemas éticos e morais. Fonte: ra2studio/ Shutterstock.com Devemos, portanto, entender que a moral é a área dentro dos valores da sociedade em que o cidadão deve se comportar de acordo com o que é estabelecido por regras e normas, as quais definem o que é moral ou imoral. FIQUE ATENTO! A moral existe principalmente na vida social, ou na sociedade em que o indivíduo se encontra, através de normas, leis, regras pré-estabelecidas que devem ser obedeci- das. Ao transgredir estas normas, o cidadão fica sujeito à sanções e penalidades. A seguir, veremos as definições e exemplos de problemas morais e éticos. Continue acompanhando! 2 Problemas éticos e morais Saiba que existem diversos tipos de problemas éticos e morais. Problemas éticos geralmente estão atrelados às seguintes perguntas: “O que devo fazer e porquê?”; “Como devo agir?”; “Como agir no lugar dos outros?”; “O que é justiça?”; “O que é bem e mal?”; “O que é certo e errado?”. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 17 – EXEMPLO Um caso comum de dúvida ética é saber diferenciar o que é certo e errado. Com o passar dos anos, o cidadão desenvolve discernimento para julgar uma ação de acor- do com os conceitos já absorvidos. Este raciocínio lógico é interno e somente a pes- soa pode fazê-lo. É isso que torna os indivíduos livres em seus processos decisórios. A sociedade, através dos costumes, cria regras e valores que deverão ser seguidos para evitar o caos nas decisões unilaterais de cada cidadão. Caso isso não aconteça, o cidadão passa a se utilizar somente daquilo que é errado, livremente e sem nenhum tipo de controle. Já como problemas morais, podemos citar: “Roubar ou não?”; “Ter vantagem sobre outra pessoa é imoral?”; “Causar desfalques financeiros em uma empresa é imoral?”; “Matar ou não?”; “Ridicularizar outra pessoa é imoral?”; “Causar transtornos a terceiros trata-se de ato moral ou não?”. No caso dos problemas morais, muitas das dúvidas e dilemas são estabelecidos por lei, ou seja, existe uma regulamentação que vai decidir a moralidade do ato ou não. Nesse caso, mesmo que o indivíduo pense que esteja agindo eticamente pelo seu bem, pode causar mal a outrem, conforme Vázquez (2002). Evidentemente que existe um diferencial em cada sociedade, pois elas levam em conside- ração diferentes formas de punição para crimes iguais no mundo todo. Em alguns estados dos Estados Unidos da América, por exemplo, o crime de homicídio tem como condenação máxima a pena de morte, ao passo que em outras regiões, pune-se o infrator com prisão perpétua. No Brasil, a pena máxima de reclusão para este crime é de 30 anos. Isto ocorre pelo fato consuetudinário, ou seja, de acordo com os costumes que servem de base para as regras morais, as normas e a legislação no decorrer dos anos e que forçam os paí- ses a fazer e estabelecer leis para regularizar e regulamentar a questão moral entre os indivíduos. FIQUE ATENTO! Os problemas éticos são caracterizados pela sua generalidade, ou seja, existem diversas situações de dúvidas éticas no que se refere ao comportamento humano, diferente dos problemas práticos do dia a dia. Entretanto, a ética contribui para justificar a moralidade do que é certo e errado perante a sociedade. Neste caso, praticar um crime é ilegal e imoral. Como cidadão consciente, você pode ver e crer que existe uma coerência na moralidade, diferente dos preceitos éticos, que são definidos internamente pelo indivíduo. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 18 – Figura 4 – Ética, código de conduta reconhecido. Fonte: travellight/Shutterstock.com. (Adaptado). SAIBA MAIS! Você pode conhecer mais a fundo o tema problemas éticos e morais por meio do artigo: ‘’ Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno de um conceito comum” de Ana Paula Pedro, disponível em: < http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2014000200002> Com o passar dos anos e das mudanças da cultura e sociedade, o cidadão passa a adquirir novos conceitos de normas, regulamentos e valores. Esse processo é chamado de consuetudinário, isto significa que nossos valores partemdos costumes. Atualmente, o bem comum é alcançado pela harmonização dos interesses de cada indivíduo em relação aos valores gerais da comunidade. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 19 – Fechamento Concluímos esta aula relativa aos problemas morais e problemas éticos. Assim, você já pode saber a diferença entre os conceitos, suas particularidades, bem como quais são os problemas correlacionados às questões éticas e morais dentro da sociedade organizada. Com este estudo, você teve a oportunidade de: • debater o conceito de ética na sociedade e para o indivíduo; • debater o conceito de moral na sociedade e para o indivíduo; • entender que os valores da sociedade levam em consideração os conceitos éticos e morais através de leis, regras e regulamentações; • aprender as diferenças entre problemas morais e problemas éticos; • identificar os problemas morais e éticos na sociedade. Referências CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Rio de Janeiro: Ática, 2008. SILVA, José Cândido da; SUNG, Jung Mo. Conversando sobre ética e sociedade. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 2015. PEDRO, Ana Paula. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno de um con- ceito comum. Kriterion, Belo Horizonte , v. 55, n. 130, p. 483-498, Dec. 2014 . Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100=512-2014000200002X&lng=en&nrm- iso>. Acesso em: 18 jul. 2016. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 20 – Ética, moral e direito Rogério Dias Chaves Introdução Os conceitos de ética, de moral e de Direito relacionam-se intimamente, e marcam presença em nosso dia a dia. Mais que isso, muitas vezes criam e resolvem problemas que nos passam desapercebidos. E o fazem simplesmente porque podem e porque deixamos, pois são noções que acontecem, que passam por nós, exatamente enquanto estamos envolvidos com “coisas urgentes e importantes”. Como assim? Nesta aula, veremos algumas concepções a respeito da ética e da moral, acrescentando sua relação com a ideia de Direito. Buscaremos identificar os papéis da ética, da moral e do Direito na sociedade de modo geral, como forma de alcançar seus objetivos de aprendizagem. Objetivos de Aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • conhecer os conceitos de ética, moral e Direito; • compreender a relação dos três conceitos e seus papéis na sociedade. Bons estudos! 1 Os conceitos de ética, moral e Direito 1.1 Ética Como você já deve saber, a noção de ética varia com a forma pela qual o pensador vê o mundo. Entretanto, podemos observar que alguns elementos parecem estar sempre presentes quando se fala em ética. É o caso da palavra reflexão e dos questionamentos quanto às formas e os meios de apro- ximar o homem do bem e afastá-lo do mal. Por isso, concluímos que reflexão é uma espécie de palavra-chave quando se fala de ética, assim como: justiça; virtude; esforço; e vontade para discernir o que é bom do que é mau. – 21 – TEMA 3 EXEMPLO Dilemas éticos da atualidade incluem o consumismo exacerbado, a idealização de figuras públicas como modelos e jogadores de futebol, a intolerância com opiniões divergentes, entre outros. Figura 1 – Onde nos levam os questionamentos éticos. Fonte: Lightspring/Shutterstock.com Podemos definir a ética, então, como as reflexões filosóficas ou científicas em torno de temas considerados importantes para transformar o ser humano na melhor versão de si e para com o próximo. FIQUE ATENTO! Quando afirmamos que reflexão é uma palavra-chave associada à ideia de ética, você deve se lembrar igualmente de alguns sinônimos, como meditar, refletir, estudar, pensar etc. Ao se concentrarem intensivamente no dilema entre o bem e o mal, entre o que é bom e o que mau, os estudos da ética contribuem para a melhoria das sociedades humanas. Fazem isso na medida em que, com base em meditações éticas, o ser humano desenvolve uma série de valores positivos que passa a utilizar para nortear sua vida e seus relacionamentos interpessoais, profissionais e sociais. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 22 – SAIBA MAIS! O livro Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental, rico em informações de cunho ético e moral, é o 26° volume da Coleção Educação para Todos, lançada pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Está disponível integralmente para download no portal MEC, através do link: <http://portal.mec.gov. br/dmdocuments/publicacao4.pdf>. Nesse sentido, incluem-se entre os interesses de cunho ético a preocupação quanto ao poten- cial contemporâneo das ações humanas para destruírem tanto a natureza quanto a própria raça humana, a intervenção tecnológica sobre a natureza, muitas vezes com prejuízo à vida, a busca desequilibrada por lucros econômicos. Também podemos citar as formas de evitar e controlar a violência e a agressividade, a corrupção das instituições públicas e privadas etc. Vamos agora conceituar moral! 1.2 Moral Assim como no caso da ética, existem variações quanto à noção de moral. Podemos dizer que há, também, certa confusão entre os conceitos de ética e de moral, além de autores que os consideram sinônimos, inclusive alguns dicionários (LA TAILE, 2010). Figura 2 – Valores morais levam à preocupação com o meio ambiente. Fonte: Doin Oakenhelm/Shutterstock.com ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 23 – SAIBA MAIS! Conheça também a publicação Ética e Cidadania: Construindo Valores na Escola e na Sociedade, disponível para download integral e gratuito no website institucional do MEC: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Etica/liv_etic_cidad.pdf>. Entretanto, a ideia de moral tem sido aceita como uma espécie de código de valores, conjunto de normas, não necessariamente escritas, que regulamentam o comportamento do homem em sociedade. A moral, portanto, está associada ao que é certo ou errado, justo ou não, reprovável ou não, em termos de consciência humana, de costumes, de regras sociais. Passaremos, agora, à noção de Direito. 1.3 Direito No sentido subjetivo, afirmamos que direito é a faculdade de exigir, realizar, possuir ou fazer algo que esteja de acordo com a lei. Já no sentido objetivo, o Direito é o conjunto de leis que dirige o homem, indicando o que ele pode e deve fazer, ou não (SANTOS, 1959). Figura 3 – O Direito. Fonte: Mariusz Szczygiel/Shutterstock.com Em ambas as perspectivas, o aspecto a se destacar é o fato da coerção do Direito decorrer do poder e da força do Estado. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 24 – FIQUE ATENTO! Diferentemente das leis morais, as leis e normas jurídicas são, por regra, escritas, registradas por meio dos agentes públicos que detêm autoridade para criá-las. Sobre a relação entre ética, moral e Direito podemos elencar semelhanças e diferenças. Moral e Direito se assemelham pois, diferentemente da ética, ambas se baseiam na coerção das normas. Por outro lado, moral e Direito também se diferenciam na medida em que as leis do Direito são limitadas territorialmente pelo Estado, a cujo poder estão vinculadas, enquanto que as regras morais são pessoais e sociais, grafadas na consciência, como se costuma dizer popularmente, sem fronteiras geográficas. A ética, por sua vez, não diz respeito a leis, regras ou normas. A noção de ética está relacio- nada ao estudo, à reflexão em torno do que é bom e do que é mau, e representa uma busca volun- tária, uma virtude, uma vontade e esforço pela melhoria do ser humano. Veremos agora o papel que cada um dessesconceitos desempenha! 2 Os papéis de cada um O papel da moral na sociedade se evidencia na exigência de valores morais para mediar as relações sociais. Honestidade, solidariedade, decência, respeito mútuo, entre outros, são aspira- ções morais contínuas da coletividades na qual estamos imersos. O Direito fala por si só. Confiamos nos operadores do Direito (juízes, advogados, promotores, delegados), porém a sociedade, não raras vezes, ressente-se com os legisladores pela criação de leis que parecem muito mais defender interesses privados do que públicos. FIQUE ATENTO! Quando nos referimos ao Direito, envolvemos obrigatoriamente estruturas do Po- der Legislativo (que cria as leis), do Poder Executivo (que cobra o cumprimento das normas jurídicas) e do Poder Judiciário (que julga as desavenças em torno do cumprimento dessas regras). O papel da ética, portanto, está em contribuir com suas reflexões, isoladamente ou em con- junto com a moral e o Direito. Os estudos éticos devem ser aproveitados na elaboração de leis e códigos com maior capacidade de sanear as ações tanto do homem comum, quanto daqueles operadores do Direito e agentes políticos que tomam decisões pela sociedade. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 25 – Figura 4 – Valores para um mundo melhor. Fonte: maxstockphoto/Shutterstock.com EXEMPLO A redução da maioridade penal tem sido discutida intensivamente na sociedade brasileira e a polêmica que o assunto levante envolve questionamentos de ordem ética, pois invariavelmente deixa no ar a dúvida sobre julgar como adulto um ado- lescente de 16 anos. Por outro lado, questiona-se se estaria certo não fazê-lo, per- mitindo a possibilidade de alguém ser vítima desse hipotético jovem. Não se pode deixar em branco um outro questionamento quanto ao fato de que aquela mesma pessoa/criança/adolescente/jovem possa ser não um algoz, mas ele mesmo uma vítima da sociedade e do governo que o abandonou, desvalorizando sua vida. Ob- serve que são inúmeras as questões éticas, pautadas em valores morais, que in- fluenciarão em determinado momento a definição do Direito em nossa sociedade. Em relação às reações emocionais de cunho moral, às vezes com influência religiosa, que costumamos atribuir à nossa consciência moral, apresentamos o entendimento de Chauí (2010), segundo o qual tais momentos nada mais representam do que a manifestação de sentimentos provocados por valores como justiça, generosidade, honradez etc. Nessas situações, fica evidente o papel da ética, pois esses valores que guiam nossas deci- sões são fortemente influenciadas por ela. Podemos concluir que as reflexões éticas nos permi- tem desenvolver valores morais positivos, capacitando-nos como indivíduos e como sociedade. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 26 – Fechamento Concluímos esta aula. Ao longo dela, você teve a oportunidade de: • enriquecer alguns conceitos de ética; • conhecer as noções de moral e de Direito; • perceber a relação entre ética, moral e Direito; • entender os papéis de cada um na sociedade. Obrigada por sua atenção e bons estudos! Referências BARROSO, Luis Roberto. Discurso do Patrono da Turma Luis Roberto Barroso, 2005. Disponível em: <http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/etica_sucesso_e_felici- dade.pdf >. Acesso em: 12 jul. 2016. CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. LA TAILE, Yves de. Moral e ética: uma leitura psicológica. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2010, v. 26, n. especial, pp. 105-114. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental. Coleção Educação para Todos (UNESCO). Brasília: Ministério da Educação, 2006. ______. Ética e Cidadania: Construindo Valores na Escola e na Sociedade. Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Brasília: Ministério da Educação, Secre- taria de Educação Básica, 2007. SANTOS, Mário Santos Ferreira dos. Sociologia fundamental e ética fundamental. 2. ed. São Paulo: Logos, 1959. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 27 – Ética empresarial Rogério Dias Chaves Introdução Você já deve ter percebido que todas as corporações públicas (empresas estatais) ou pri- vadas têm seus códigos de conduta ética. São regras e valores trabalhados no intuito de evitar problemas que possam afetar a imagem da corporação, os valores e morais dos funcionários, clientes, fornecedores, parceiros, e até mesmo custos com multas e devolução de valores ao erário público, caso haja alguma infração da legislação penal vigente. Diferentemente do que sabemos sobre a ética individual, a Ética Empresarial é uma cadeia de valores que muda a cada corporação, porém ela é apenas norteadora e não define a conduta moral dos indivíduos. Ou seja, o fato de uma empresa possuir um rígido código de conduta de ética não significa que o funcionário agirá corretamente, pois as empresas são formadas por seres huma- nos, com pensamentos livres e ações que os diferenciam. Objetivos de Aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer o conceito de Ética Empresarial; • entender as relações entre Ética Empresarial e Responsabilidade Social. Bons estudos! 1 O que é Ética Empresarial? Uma corporação mira sempre no crescimento, na lucratividade e na produtividade para aten- der seu quadro societário. O conceito de Ética Empresarial envolve justamente as formas mais corretas de lidar com todos esses participantes, buscando a justiça de valores éticos e morais. EXEMPLO Uma empresa que lida com produtos e alimentos infantis precisa ter certeza de que as matérias-primas, os insumos e equipamentos não vão causar nenhum dano ao produto final, ou à marca e à imagem do produto, pois ele será consu- mido por seres humanos mais frágeis, que não sabem distinguir se o sabor e a textura são inadequados. – 28 – TEMA 4 Um conjunto de regras de valores éticos e morais definidos pela corporação é uma ferramenta essencial para tomadas de decisões por parte da diretoria. Também é norteador para colaborado- res e gerentes, levando-os a buscar atender os objetivos e metas especificadas pela empresa. FIQUE ATENTO! A visão, missão e valores das empresas delimita como deve ser a postura ética e conduta moral de seus funcionários. Desta forma, garante que a empresa tenha uma postura ética em relação aos seus pares, como são chamados os stakehol- ders, como acionistas, funcionários, poder público, clientes e sociedade, gerando códigos de ética para demonstrar que a empresa tenha responsabilidade social e ambiental, respeitando normas e regras vigentes. (HAMEL, 2007). O documento principal que deve ser elaborado pela corporação (e muitas vezes até servir de base para uma capacitação) é o Código de Ética Corporativo, contendo a missão, a visão e valores da corporação (SROUR, 2008). Este documento, entregue normalmente antes do início dos traba- lhos de um novo funcionário, deve conter todas as normas e valores que serão essenciais para a boa conduta dos colaboradores em relação às normas da empresa, às boas práticas de trabalho e à relação social e ambiental. Confira! • Compromisso ético da empresa perante a comunidade, público interno e público externo (Responsabilidade Social). • Práticas anticorrupção. Deve demonstrar todas as entradas e valores de serviços, bens e mercadorias de forma legal e lícita, com transparência dos registros e balanços perante os órgãos fiscais, para evitar práticas como “caixa dois”, sone- gação de tributos e corrupção do poder público, propinas e práticas de comissões irregulares e brindes. • Divulgação de balanço social para o público externo, em redes sociais e em jornais de grande circulação. • Governança corporativa. Se existe na alta direção da empresa consciênciados atos referentes às responsabilidades sociais. • Empregados dos fornecedores (se não utilizam mão de obra escrava ou infantil, por exemplo). • Gerenciamento do impacto ao meio ambiente, como solo, ar e água, além do ciclo de vida dos produtos, embalagens e insumos utilizados e pós-venda. • Educação ambiental e desenvolvimento de práticas e ações sustentáveis, entre outros. Entretanto, De Lucca (2009) relembra que não basta somente o Código de Ética como norma de conduta. A empresa deve ter um plano estratégico que garanta que todas as etapas dos proces- sos estejam de acordo com as normas e regras da legislação vigente, comprometendo-se com os valores éticos e morais que está solicitando de seus colaboradores. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 29 – Figura 1– Ética empresarial. Fonte: wk1003mike/shutterstock.com SAIBA MAIS! Para saber mais sobre missão, visão e valores (Principalmente valores, que são as regras de conduta da corporação) leia em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/ Portal%20Sebrae/Anexos/ME_Missao-Visao-Valores.PDF>. Passaremos agora ao conceito de responsabilidade social. Continue conosco! 2 O que é Responsabilidade Social? Tenha em mente que a ética praticada nas corporações está intimamente ligada à atuação que estas têm perante a sociedade, ou seja, a Ética Empresarial está ligada à Responsabilidade Social. As empresas e instituições públicas, além de terem internamente o Código de Ética e Con- duta Moral, têm o dever de praticar atos que estejam de acordo com a conduta moral e ética do público externo (DE LUCCA, 2009). FIQUE ATENTO! Conforme SROUR (2008), Responsabilidade Social acontece quando a empresa, de forma voluntária, assume posturas e atitudes que promovam o bem-estar do públi- co externo e interno (colaboradores e sociedade). ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 30 – Conforme pontuou De Lucca (2009), a responsabilidade em relação à comunidade se divide em: Responsabilidade Social Corporativa; Responsabilidade Social Empresarial; e Responsabili- dade Social Ambiental. A responsabilidade social corporativa diz respeito às preocupações sociais voltadas para o público interno e o ambiente de negócios de uma empresa, ao passo que a responsabilidade social empresarial tem mais beneficiários, como o público externo, fornecedores, clientes, sociedade, governo e envolve questões como a qualidade de vida e bem-estar do público interno. São as ações sociais que envolvem a comunidade. FIQUE ATENTO! Comportamento ético é diferente de Ética Empresarial. O comportamento ético é o que se espera de governos, pessoas, empresas e organizações em todos os sen- tidos, com bases nos valores como honestidade, equilíbrio e integridade, perante a comunidade e ao meio ambiente. O conceito de Responsabilidade Ambiental é o mais recente. Cada vez mais, fala-se em sus- tentabilidade ou no chamado desenvolvimento sustentável por meio de práticas, políticas e ações que vão além do atendimento ao ambiente interno das corporações, atingindo principalmente as questões do público externo, da comunidade e o meio ambiente em si. Figura 2 – Ética Empresarial x Responsabilidade Social. Fonte: totallypic/shutterstock.com ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 31 – EXEMPLO As empresas que atuam no segmento papeleiro ou na fabricação de papel, por exemplo, além de atenderem normas rígidas governamentais que determinam o plantio de certas árvores, o reflorestamento e cuidados com a fauna, devem levar em conta conceitos como reciclagem e reutilização de material para fabricação de papéis. Elas também devem possuir obrigatoriamente certificações socioambien- tais para se manter no mercado, como o certificado ISO14000. As empresas que têm responsabilidade social e cuja prática é baseada na sustentabilidade normalmente produzem ações voltadas à comunidade do entorno, mas também à sociedade em geral. Ao promover uma ação social colaborativa, a empresa muitas vezes fica marcada por esta atividade, e dependendo do setor, outras ações são quase obrigatórias. Figura 3 – Produtores de papel devem se comprometer com o reflorestamento. Fonte: Anna Moskvina/shutterstock.com Existem alguns tipos de certificação mais comuns, como o ISO9000 e ISO14000. Estes selos denotam que a empresa respeita os direitos humanos, gêneros, comportamento ético e é pautada pelo Estado de Direito. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 32 – SAIBA MAIS! ISO14000 é um sistema de gestão ambiental (SGA) segundo o qual empresas que demandam ou trabalham com algum tipo de produto que afete o meio ambiente devem obrigatoriamente ter premissas para serem aceitos por organizações e empresas (clientes finais também) em nível nacional e internacional. Para saber mais sobre ISO14000, leia o artigo disponível em: <http://www.qualidade.esalq. usp.br/fase2/iso14000.htm> Vamos conferir a seguir a relação entre esses dois conceitos! 3 Relação entre Ética Empresarial x Responsabilidade social Há uma falsa impressão de que as empresas são compromissadas socialmente e já cum- prem regiamente a lei. Para que uma empresa seja socialmente responsável, existem fatores a serem considerados, como práticas sustentáveis e o balanço social (GOMES e MORETTI, 2007). O principal desejo e meta das corporações é a lucratividade e o interesse financeiro de seus acionistas, entretanto a empresa que deseja ser socialmente responsável deve ouvir o que chama- mos de stakeholders, ou seja, colaboradores, fornecedores, clientes, parceiros e poder público e trazê-los para o centro das atividades sociais. Figura 4 – Sustentabilidade e Responsabilidade Social. Fonte: Suz7/shutterstock.com ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 33 – Entenda que não existe Responsabilidade Social sem ética nos negócios, por isso a necessi- dade dos códigos de ética empresariais. Não adianta a empresa ser corrupta, fraudar seus regis- tros e balanços e desenvolver ações sociais, pois quando estes padrões de comportamento virem à tona ela terá que responder por eles. A empresa deve cultivar em sua cultura organizacional a Responsabilidade Social e Ambien- tal, além da Ética Empresarial, para obter resultados objetivos no âmbito externo. Em outras pala- vras, ela deve atender inicialmente o público interno, mantendo seus padrões éticos, para poste- riormente entrar em uma atividade que envolva a comunidade. Fechamento Concluímos esta aula! Aqui, você pôde aprender sobre o conceito de Ética Empresarial e Res- ponsabilidade Social e Ambiental, além do conceito de sustentabilidade. Você teve a oportunidade de: • aprender o conceito de Ética Empresarial e Responsabilidade Social; • entender que toda corporação tem um código de ética formado basicamente pela mis- são, visão e valores e os códigos de conduta interno; • identificar o conceito de sustentabilidade em relação à Responsabilidade Social; • identificar as relações entre a responsabilidade social de uma empresa e a sustentabi- lidade ambiental. Referências DE LUCCA, Newton. Da Ética Geral à Ética Empresarial. São Paulo: Quartier Latin, 2009. SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Ferramenta: Missão, Visão, Valores (Clássico). Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ ME_Missao-Visao-Valores.PDF>. Acesso em: 02 ago. 2016. SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial: O ciclo virtuoso dos negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Else- vier, 2009. GOMES, Adriano; MORETTI, Sérgio. A responsabilidade e o social: uma discussão sobre o papel das empresas. São Paulo: Saraiva, 2007. SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial: A Gestão da Reputação. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. HAMEL, Gary. O futuro da Administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ÉTICAE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 34 – Código de ética Rogério Dias Chaves Você sabe o que é um código de ética? Conseguiria reconhecer as diferenças entre os diver- sos códigos de ética existentes? Nesta aula, vamos compreender tais materiais e descobrir as vantagens práticas da aplicação dos códigos de ética pelas organizações. Objetivos de aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • conhecer a função do código de ética; • compreender os diferentes tipos de código e as vantagens de sua aplicação na prática. Bom estudo! 1 Código de Ética: conceito e funções Sabemos que o comportamento guiado pela ética, ou seja, pautado em valores morais, é impor- tante nas sociedades atuais. Apesar disso, a existência de hábitos comportamentais dos indivíduos nas organizações pode representar obstáculos ao alinhamento de interesses necessários às corporações. Uma das formas de obter controle sobre tais desencontros comportamentais é a adoção de códigos de ética. Entenda que um código de ética é um conjunto sistematizado de normas por meio das quais as organizações definem os padrões de postura e de comportamento aceitáveis para seus gestores, associados, colaboradores, sócios, parceiros etc. A função dos códigos é regular as ações desses agentes e alinhar sua conduta à postura dos acionistas. Eles também vêm sendo utilizados como indicadores da preocupação ética, acrescen- tando valor às organizações (ZYLBERSZTAJN, 2002, p. 136). FIQUE ATENTO! Estruturas de controle como os códigos de ética são necessárias para direcionar o comportamento dos agentes de forma cooperativa, incentivando-os a seguirem voluntariamente os princípios da organização. – 35 – TEMA 5 Figura 1 – Código de ética como valor adicional às organizações. Fonte: Number1411/Shutterstock.com Assim, um código de ética pode ser entendido como uma espécie de contrato entre os entes corporativos. Entre seus objetivos, podemos citar o de manter os agentes interessados informa- dos quanto às expectativas dos acionistas ou do núcleo estratégico da organização. Dependendo do perfil corporativo, os agentes podem ser incentivados até mesmo financeira- mente para a adequação comportamental e divulgação do código de ética. A importância da ado- ção do código está no fato de que as questões éticas envolvem todas as áreas do conhecimento científico, todas as fases da vida em sociedade e todas as classes sociais. SAIBA MAIS! Segundo Lyra, Gomes e Jacovine (2009), stakeholder designa um grupo ou um indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelas ações de uma empresa, incluindo aqueles que detêm o poder ou habilidade para influenciar tais ações, e cuja atuação não deve ser negligenciada. Empresas decidem adotar códigos de ética por variados motivos. Tenha em mente que o código pode representar uma perspectiva distante da realidade da organização, tendo sido criado exatamente como uma forma de passar uma imagem institucional positiva ou, eventualmente, para servir como prevenção legal em casos de litígios judiciais. Entenda, portanto, que os códigos podem existir sem serem aplicados. Por outro lado, podem existir verdadeiros programas de estímulo à adequação da postura de clientes, fornecedores e colaboradores às definições do código de ética corporativo, como forma de fortalecimento e ampliação da imagem da organização. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 36 – FIQUE ATENTO! O simples fato de cumprir o código de ética de sua categoria profissional, de sua corporação, não confere a ninguém qualquer dignidade ou direito adicional. Não importa se por medo das consequências ou por convicção moral, o código deve ser cumprido em função do bom trato com o outro (RIBEIRO, 2003). Entre as várias justificativas que levam empresas a criarem e adotarem códigos de ética, podemos destacar: incentivos legais oferecidos por alguns países; a globalização que muitas vezes exige a adequação a outras culturas e regiões; prevenção de risco ou impossibilidade de eximir-se perante responsabilidades quanto a ocorrências que possam afetar negativamente a imagem da organização; adequação aos princípios e valores organizacionais. Figura 2 – Código de ética profissional. Fonte: jesadaphorn/Shutterstock.com SAIBA MAIS! O Código de Ética da Magistratura é uma ferramenta essencial para guiar os juízes em seus julgamentos, atestando perante à sociedade sua autoridade moral. O documento foi editado e aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está disponível no website institucional do CNJ. Vale a pena conferir: <http://www.cnj. jus.br/publicacoes/codigo-de-etica-da-magistratura>. Veremos agora os tipos de códigos de ética. Continue acompanhando! ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 37 – 2 Códigos de ética: tipos e vantagens práticas Como você já deve saber, moral e ética são termos considerados sinônimos. Os códigos de ética, portanto, são considerados como conjuntos de valores, princípios ou padrões de conduta moral vigentes dentro de uma organização, de um grupo profissional, de uma entidade pública ou privada. EXEMPLO Códigos não-escritos são pouco comuns, por isso valem ser exemplificados. Juttel e Mezzacappa (2008) apresentam um estudo que aponta a existência de um rígido código de ética dentro dos presídios. Segundo os autores, a quebra de suas nor- mas gera violentas sanções que podem ir desde repreensões até espancamentos e outras formas de violência. Figura 3 – Códigos de ética permitem alinhar ações dos colaboradores. Fonte: VLADGRIN/Shutterstock.com Saiba que os códigos de ética podem ser de diversos tipos. Há códigos de categorias profissio- nais (médicos, advogados, contadores, psicólogos etc.); de associações comerciais (de comerciantes ou de comerciários); públicos (de servidores, juízes, militares); e privados (de clubes recreativos, de grandes corporações, de micro e pequenas empresas). Independente da tipificação, a maioria dos códi- gos está associada à ideia de maior responsabilidade social por parte dos colaboradores envolvidos. Esses documentos podem, também, serem escritos como um conjunto de normas ou uma declaração de valores. Existem os que são voltados para compliance, ou seja, para auditoria, con- trole e prestação de contas, bem como os que almejam a assimilação de valores pelos funcio- nários e parceiros. Códigos de ética variam, ainda, conforme a área gestora, que tanto pode ser o departamento de gestão de pessoas, a auditoria jurídica ou contábil, quanto o mais alto nível estratégico. Os tipos podem até variar conforme sua implementação, posto que eles podem ser alimentados diária e continuamente ou existirem de forma alheia (CHERMAN; TOMEI, 2005). ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 38 – EXEMPLO Como código não-escrito, podemos citar ainda a referência de Burns (1964), que determinou como um rigoroso código de ética a regulamentação das atitudes do servidor público inglês em todas as suas relações de trabalho, seja com colegas, com o público em geral ou com seus superiores. Uma das vantagens de sua utilização está no fato de que os valores organizacionais expres- sos em códigos de ética acabam orientando a realidade prática das corporações, favorecendo o clima interno, o desenvolvimento de lideranças, assim como a tomada de decisões em maior conformidade com as estratégias das organizações (ALMEIDA, 2007). O alinhamento dos discursos e das posturas dos colaboradores facilita a construção da ima- gem institucional, sendo, dessa forma, um ganho adicional. Podemos perceber tal fator, por exem- plo, em associações de ordens profissionais: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Federal de Medicina (CFM). FIQUE ATENTO! Os códigos de ética podem ser entendidos como aspectos da ética aplicada às organizações,uma vez que estabelecem regras embasadas nos valores morais de- finidos a partir dos princípios éticos abraçados pelas entidades. Figura 4 – Somar forças em torno de valores codificados. Fonte: PHOTOCREO Michal Bednarek/Shutterstock.com Podemos concluir, portanto, que, independente da tipologia adotada, códigos de ética têm se mostrado vantajosos para as organizações. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 39 – Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • saber em que consiste e qual a função dos códigos de ética; • conhecer os tipos mais comuns desses códigos; • entender as vantagens práticas que levam as organizações a estabelecerem seus pró- prios códigos de ética. Referências ALMEIDA, Filipe Jorge Ribeiro de. Ética e desempenho social das organizações: um modelo teórico de análise dos fatores culturais e contextuais.Rev. adm. contemp., Curitiba , v. 11, n. 3, p. 105-125, setembro 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 65552007000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 jul. 2016. BRASIL, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Ética e cidadania: Construindo valores na escola e na sociedade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. BURNS, Tom. Política interna e patologia da organização. Rev. adm. empres., São Paulo , v. 4, n. 11, p. 167-198, junho 1964. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-75901964000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 jul. 2016. CHERMAN, Andréa; TOMEI, Patrícia Amélia. Códigos de ética corporativa e a tomada de decisão ética: instrumentos de gestão e orientação de valores organizacionais? Rev. adm. contemp., Curitiba , v. 9, n. 3, p. 99-120, setembro 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1415-65552005000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 jul. 2016. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Código de Ética da Magistratura. DJ, Brasília, 18 set. 2008, p. 1-2. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/publicacoes/codigo-de-etica-da-magistratura> Acesso em: 01 ago. 2016. JUTTEL, Luiz Paulo; MEZZACAPPA, Marina. Justiça com as próprias mãos. ComCiência, Campinas, n. 98, 2008. Disponível em: <http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519- 76542008000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 jul. 2016. LYRA, Mariana Galvão; GOMES, Ricardo Corrêa; JACOVINE, Laércio Antônio Gonçalves. O papel dos stakeholders na sustentabilidade da empresa: contribuições para construção de um modelo de análise. Rev. adm. contemp., Curitiba, v. 13, n. spe, p. 39-52, junho 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-65552009000500004&lng=en&nr m=iso>. Acesso em: 19 jul. 2016. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 40 – RIBEIRO, Renato Janine. Ética e Direitos Humanos. Interface (Botucatu), Botucatu , v. 7, n. 12, p. 149-166, fevereiro 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 32832003000100015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jul. 2016. ZYLBERSZTAJN, Decio. Organização Ética: um Ensaio sobre Comportamento e Estrutura das Organizações. RAC, v. 6, n. 2, maio/agosto 2002, p. 123-143. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/rac/v6n2/v6n2a08.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2016. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 41 – Empresa, estado e sociedade civil Rogério Dias Chaves Introdução Como ocorre em outros países, a sociedade brasileira consiste no que chamamos de socie- dade organizada. Normalmente, esse modelo é segmentado em primeiro, segundo, e terceiro setor, que são fundamentais para manutenção dos requisitos econômicos, políticos, governamentais e sociais do Estado. Ao longo das próximas páginas, veremos a definição de cada um deles. Nesta aula, também serão abordados os conceitos básicos do que é Estado, empresa e sociedade civil, bem como a inter-relação existente entre estes três segmentos produtivos da sociedade, finalidades, parcerias, aspectos e características. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer o conceito de Estado, empresa e sociedade civil; • entender as relações entre Estado, empresa e sociedade civil. Bons estudos! 1 Conceito de Estado Podemos definir Estado como uma organização estrutural política e econômica dentro de uma área territorial estabelecida, com população permanente e governo constituído, reconhecido por organismos internacionais, por outros países e que tenha soberania sobre seu território. O Estado deve ser constituído por três poderes independentes: Poder Executivo, Poder Judiciário e Poder Legislativo. FIQUE ATENTO! Nossa sociedade está organizada juridicamente em três setores, conforme o esta- belecido na Constituição Federativa do Brasil: o primeiro setor; o segundo setor; e o terceiro setor. – 42 – TEMA 6 Saiba que o primeiro setor corresponde a empresas, instituições e organizações públicas, ou seja, do governo. O segundo setor, por sua vez, diz respeito a empresas privadas dos segmentos de comércio, indústria e serviços, ao passo que o terceiro setor compreende as iniciativas no âmbito social, como ONGs (Organizações Não-Governamentais), fundações, instituições, cooperativas e empresas que não têm finalidade lucrativa, e cujo objetivo é promover o bem-estar da coletividade. Figura 1- Exemplo de estrutura empresarial. Fonte: Nataliya Hora/Shutterstock.com Segundo Clemente (2000), mesmo que o governo não seja constituído de forma democrática, ou seja, com eleição direta pela população para os cargos eletivos em todas as esferas (munici- pais, estaduais e federal), ele deve ser considerado Estado, pois os organismos internacionais o reconhecem baseados nos itens listados abaixo. • Território delimitado com fronteiras estabelecidas. • População permanente (ou seja, a população não é volátil ou nômade etc.). • Soberania sobre seu próprio território, ou seja, seu espaço aéreo, terrestre e aquático não pode ser invadido e suas leis internas devem ser respeitadas. EXEMPLO O Brasil é um Estado reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas), que é uma organização internacional da sociedade civil. Nosso país possui população estabelecida, tem fronteiras delimitadas com outros países, soberania em seus atos internos e governo definido. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 43 – Figura 2 - Estrutura do Estado - Congresso Nacional. Fonte: Rosalba Matta Machado/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! O Brasil é uma República Federativa cuja divisão se dá em 26 estados, mais o Dis- trito Federal e os municípios, todos com Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo. Entretanto, todos respondem ao poder central, que é o Governo Federal, por meio de seus três poderes, que são os líderes nas decisões de caráter nacional. Nosso país, pelo caráter de suas eleições para todos as esferas de poder público, é considerado uma república democrática. Cabe ao Estado, além de prover políticas públicas de fomento ao desenvolvimento, o combate aos problemas sociais e zelar pelo bem público, como saúde, segurança e educação. O Estado tam- bém é responsável pela boa condução da economia, por cobrar impostos e tributos, além de manter as boas práticas de funcionalismo público. Também deve criar, fiscalizar e controlar as leis, normas e regulamentos para cidadãos, empresas e instituições da sociedade civil (REQUIÃO, 2014). Como você deve ter notado, são muitas as atribuições do Estado, que se subdivide em diversos setores e esferas justamente para ter condições e maior capilaridade nos contatos com os contribuin- tes, sejam eles pessoas jurídicas (empresas ou instituições da sociedade civil) ou físicas (cidadãos).Agora que já falamos sobre o Estado, vamos saber um pouco mais sobre empresa e socie- dade civil. 2 Conceito de empresa Empresas são organizações privadas que têm finalidade lucrativa para com o seu quadro societário (REQUIÃO, 2014). As empresas, no que tange a sua forma, podem ser: ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 44 – • microempresas; • pequenas empresas ou de pequeno porte; • médias empresas; e • empresas de grande porte. As empresas podem ainda ser estatais ou privadas. Entenda que as empresas privadas podem ser empresas de execução de serviços, de fabricação de bens e itens (indústria), e também de importação, exportação, compra e venda de bens materiais e imateriais (comércio). As empresas interagem entre si em suas aquisições, compras, vendas, bem como em rela- ção aos clientes finais que são os cidadãos e empresas compradoras. Em espécie, as empresas se subdividem em comerciais e industriais, civis e públicas ou estatais. As empresas devem se enquadrar nos regimes estabelecidos pela lei civil e devem obedecer a normas externas e gover- namentais, além de recolher os devidos tributos e manter registros atualizados para análise e verificação da fiscalização. SAIBA MAIS! Existe uma distinção entre empresa e sociedade empresarial. A empresa é a vontade de cidadãos, pessoas físicas, de se tornarem pessoas jurídicas de fato. Já a sociedade empresarial é a subdivisão das cotas de ações e propriedade da empresa já estabelecida. Para saber mais sobre o assunto, confira a obra “Curso de Direito Comercial”, de Rubens Requião. A seguir vamos entender o conceito de sociedade civil ou terceiro setor! 3 Conceito de sociedade civil Sociedade civil é o conjunto de organizações ou instituições cívicas de trabalho voluntário e sem fins lucrativos que atuam em diversos segmentos dentro do Estado. A sociedade civil no Brasil abrange as empresas do terceiro setor. EXEMPLO Seguem alguns exemplos de entidades classificadas como sociedade civil: associa- ções de classe (como o CRA - Conselho Regional de Administração de Empresas), clubes sociais, cívicos e esportivos (agremiações de comunidades, bem como clubes de futebol, regatas, remo, ginástica etc.), cooperativas, grupos de defesa ambiental e ecológica (Greenpeace e Fundação S.O.S. Mata Atlântica), grupos culturais e religio- sos (instituições religiosas, de caridade como Cruz Vermelha Internacional), igrejas, partidos políticos, associações educacionais e órgãos de defesa ao consumidor. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 45 – Ainda existem associações de classe internacional como a ONU (Organização das Nações Unidas) e UNICEF que atuam no sentido de colaborar com questões do terceiro setor no cenário internacional. As empresas de sociedade civil têm caráter filantrópico e possuem regras internas a serem seguidas, entretanto, assim como as empresas e os cidadãos, devem estar submetidas à lei máxima que é a Constituição Federal, além de cumprirem todas as normas e exigências legais impostas pelo Estado. FIQUE ATENTO! Segundo Bulgacov (1999), as empresas da sociedade civil normalmente trabalham em atividades solidárias e de fomento em setores e segmentos que empresas pri- vadas e Estado não têm acesso. No entanto, precisamos lembrar que as empresas do terceiro setor são entidades não governamentais, ou seja, não pertencentes ao Estado ou à iniciativa privada. A gestão dessas empresas da sociedade civil é autônoma, formalmente constituída por regras e procedimentos internos bem definidos e todos os valores obtidos de cidadãos, empresas privadas e governo vão para a manutenção do empreendimento e a aplicação de políticas sociais. Figura 3 - Segmento de organização da sociedade civil Fonte: Africa Studio/Shutterstock.com ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 46 – SAIBA MAIS! A ideia do terceiro setor é buscar se inserir nas atividades que não puderem ser realizadas pelo poder público, isto é, aquelas que o governo não alcança. Podemos citar como exemplo as políticas de saneamento básico em periferias. Para saber mais sobre o tema, leia o artigo científico: “Terceiro setor: um estudo sobre a sua importância no processo de desenvolvimento socioeconômico”. Acesse: <http:// periodicos.ufpb.br/index.php/pgc/article/viewFile/12664/8472>. Agora que sabemos o conceito de empresa, Estado e sociedade civil, vamos entender as relações e interdependências destas três esferas da sociedade organizada. 4 Relações entre empresa, estado e sociedade civil As empresas, o Estado e a sociedade civil atuam de formas distintas, cada qual em seu regime e ramo de atividade. Em muitos momentos, entretanto, existem correlações entre estes três setores da economia nos mais diversos países. As empresas têm correlação forte com o Estado, pois dependem dele para abertura, manu- tenção, fechamento, pagamento de impostos, tributações, documentação e outras questões de ordem legal. Estão vinculadas também ao Direito trabalhista e tributário, seja de esfera estadual, municipal ou federal. As empresas também mantêm contato com as instituições da sociedade civil, seja como eventuais doadoras, fornecedoras e compradoras, mantenedoras de associações, ou até mesmo atuando em serviços colaborativos na responsabilidade social. Já a sociedade civil tem muita correlação em suas atividades com o Estado, visto que muitas destas empresas são consideradas Organizações Não-Governamentais, ou seja, atuam onde o Estado não consegue chegar (KISIL, 2004). Figura 4 - Relações entre Estado e empresas. Fonte: megaflopp/Shutterstock.com ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 47 – Podemos concluir, portanto, que esses três tipos de entidades mantêm contato no sentido de coordenarem sua atuação nos mais diversos segmentos. Fechamento Concluímos esta aula relativa ao conceito e relação entre empresas, Estado e sociedade civil. Aqui, você pôde aprender sobre os três setores nos quais encontra-se segmentada a sociedade organizada. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • aprender o conceito de empresas privadas; • entender o conceito de estado e sua formação; • compreender o conceito de sociedade civil; • identificar as relações entre o Estado, as empresas e as organizações de sociedade civil. Referências BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da política. Tradução Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. BULGACOV, Sérgio. Manual de Gestão Empresarial. São Paulo: Atlas, 1999. CLEMENTE, A. HIGACHI, H.Y. Economia e Desenvolvimento Regional. São Paulo: Atlas, 2000. KISIL, Rosana. Elaboração de projetos e propostas para organizações da sociedade civil. 3. ed. São Paulo: Global, 2004. MANÃS, Antônio Vico; MEDEIROS, Epitácio Ezequiel de. Terceiro setor: um estudo sobre a sua importância no processo de desenvolvimento socioeconômico. Perspectivas em Gestão & Conhe- cimento, João Pessoa, v. 2, n. 2, p. 15-29, jul./dez. 2012. Disponível em: <periodicos.ufpb.br/index. php/pgc/article/viewFile/12664/8472 >. Acesso em: 4 ago. 2016. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2014. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 48 – Conceito de responsabilidade socioambiental Rogério Dias Chaves Introdução Você já ouviu falar em responsabilidade socioambiental? Saiba que esta noção envolve pro- fundas reflexões de ordem ética, sendo um dos temas mais discutidos na atualidade. Nesta aula vamos saber mais sobre o assunto. Objetivos de aprendizagem Ao final deste conteúdo, você será capaz de: • identificar o conceito de responsabilidade socioambiental; • reconhecer a relação existente entre a responsabilidade social e o contexto de uma visão ecossistêmica da sociedade. Bom estudo! 1 Responsabilidadesocioambiental Como você já deve saber, o comportamento guiado pela ética e pautado em valores morais representa algo importante nas sociedades atuais. É importante compreender as perspectivas relacionadas à postura dos indivíduos e das organizações perante as questões éticas. O conceito de responsabilidade socioambiental é um desses aspectos. Entendê-lo requer o conhecimento prévio de responsabilidade social e responsabilidade ambiental, conceitos estes que estão intimamente ligados à percepção de desenvolvimento sustentável. Figura 1 – Responsabilidade socioambiental na preservação da vida. Fonte: CHOATphotographer/Shutterstock.com – 49 – TEMA 7 FIQUE ATENTO! A evolução do conceito de sustentabilidade envolve sua utilização em diversas áreas do conhecimento. Hoje existem até mesmo disciplinas acadêmicas, como é o caso da Engenharia da Sustentabilidade, que é parte do curso de Engenharia de Produção. Segundo Abdalla-Santos (2011), o conceito de desenvolvimento sustentável diz respeito à capacidade de promover o crescimento humano, econômico e social, com respeito ao meio ambiente, de forma a atender às necessidades do presente sem comprometer o direito das futu- ras gerações em suprir as próprias necessidades. Ao relacionar crescimento econômico e meio ambiente, temas historicamente conflitantes, a expressão engloba certa polêmica e dá margem a questionamentos. O dissenso em torno do conceito, entretanto, não chegou a impedir que a noção de desenvol- vimento sustentável se difundisse mundialmente (ABDALLA-SANTOS, 2011). Tal fato foi impulsio- nado com a divulgação do “Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi- mento”, o Relatório Brundtland, publicado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1987, sob o título de Nosso Futuro Comum (ABDALLA-SANTOS, 2011). O relatório declara não só a possibilidade, mas também a necessidade de se alcançar maior desenvolvimento sem destruir os recursos naturais, conciliando crescimento econômico e conser- vação ambiental. Preocupações semelhantes inseriram desenvolvimento sustentável nas ações prioritárias da Agenda 21 brasileira, declaração nascida após a conferência ECO-92, no Rio de Janeiro, e referendada na Conferência de Johanesburgo, em 2002 (AGENDA 21, 2004). SAIBA MAIS! A Constituição Federal brasileira de 1988 estende o conceito de meio ambiente ao ambiente de trabalho (art. 200, inciso VIII); à comunicação social (art. 220, parágrafo 3º, inciso II); aos princípios da ordem econômica (art. 170, VI); e à função social da terra (art.186, II), entre outros aspectos implícitos no texto constitucional. Confira em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Tais discussões trouxeram para as agendas públicas e privadas dos governos e das organiza- ções novos termos associados à ideia de desenvolvimento sustentável, cuja evolução sofreu a influên- cia da sustentabilidade, palavra muitas vezes utilizada de forma rasa, superficial, apesar de seu poten- cial. Por outro lado, essa mesma evolução caminhou junto com o entendimento de responsabilidade social, grande passo em relação à responsabilidade ambiental e, posteriormente, socioambiental. EXEMPLO Borato (2011) elaborou um estudo no qual a empresa ‘O Boticário’ foi apresentada como exemplo de organização cujos resultados são buscados em sintonia com a ética social. Trata-se de estratégia de responsabilidade socioambiental, de tal for- ma que a ética e o respeito norteiam os relacionamentos da organização, como forma de reforçar e tornar as parcerias mais duradouras. ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 50 – Responsabilidade ambiental trata do conjunto de posturas individuais ou organizacionais preocupadas com seu impacto sobre os recursos naturais ou construídos, no intuito de preservá- -los. A preocupação com o tema cresceu e instrumentos de regulação (normas legais, acordos, códigos de ética) surgiram, ampliando o alcance das questões ambientais para os espaços de trabalho, o meio urbano, os aspectos de saúde física e psicológica. Ampliado, o conceito praticamente deu lugar à ideia de responsabilidade social, uma espécie de compromisso assumido pela sociedade, de tal forma que nossas ações, esforços e desem- penho sejam sempre voltados para a melhoria das condições de vida de todos que fazem parte desse universo. Aqui, você pode perceber a íntima relação entre responsabilidade ambiental e res- ponsabilidade social. Figura 2 – Responsabilidade socioambiental nas relações humanas. Fonte: maxstockphoto/Shutterstock.com SAIBA MAIS! Para Edgar Morin (2000), os problemas de ordem moral e de natureza ética envolvem ao mesmo tempo dimensões de nossa participação individual, social e genérica em um mundo no qual os seres humanos compartilham um destino comum. Trata-se de uma visão ecossistêmica de mundo que ele convencionou chamar de antropoética. Saiba mais em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.pdf>. Surge, assim, a noção de responsabilidade socioambiental, que abraça todos os conceitos anteriormente apresentados, pois engloba a preocupação ambiental, a social, a individual e a orga- nizacional. Todos estes aspectos seriam considerados uma visão ampliada de meio ambiente. 2 Responsabilidade social e visão ecossistêmica da sociedade Os focos internacional e local se voltaram para aspectos da chamada economia sustentável e da responsabilidade social, criando expressões como responsabilidade social corporativa (RSC) e responsabilidade social empresarial (RSE). Noções que, segundo Sólio (2013), são importantes ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – 51 – para as organizações que praticam o discurso politicamente correto voltado ao marketing social, sendo, por vezes, utilizadas como sinônimos. FIQUE ATENTO! Na visão moriniana, o ambiente urbano é também considerado um ecossistema sociourbano, pois sobrevive dos alimentos extraídos do ecossistema natural (água, gás, carvão, gasolina), além de possuir elementos e sistemas vivos que constituem o meio natural, como clima, atmosfera, subsolo, microorganismos vegetais e ani- mais (MILIOLI, 2007). O desenvolvimento sustentável passou a ser buscado pela sociedade de forma geral. O inte- resse capitalista recaiu naturalmente sobre os consumidores que, quando não satisfeitos, impac- tam negativamente a imagem dos negócios alheios ao meio ambiente. Assim, questões como fuga de capital, desempenho e valorização das ações muitas vezes ativam a preocupação empre- sarial com o meio ambiente (SÓLIO, 2013). Firmaram-se, assim, os conceitos de responsabilidade social voltados às organizações. Embora haja várias versões de tais conceitos, uma abordagem bastante aceita entende a responsabilidade social empresarial (ou corporativa) como sendo a atitude ética dos cidadãos e das empresas em todas as suas atividades e nas relações com parceiros, clientes, fornecedores, funcionários, meio ambiente, governos, acionistas, concorrentes e comunidade (KARKOTLI, 2007). É o reconhecimento do papel de cidadão consciente a todo indivíduo com o qual a organização se relacione. O que se deu foi uma mudança de paradigma, que ressalta a importância de uma perspectiva ecológica. Boeira, Pereira e Tonon (2013) enfatizam o entendimento moriniano, segundo o qual torna-se fundamental entender o homem e suas relações como um sistema aberto vivo, auto-or- ganizador. Como tal, o ser humano se constrói multiplicando suas ligações com o ecossistema, de tal forma que, quanto mais evoluído, mais aberto (complexo) ele será. Dentro dessa visão, o homem é o sistema mais aberto (complexo), o que se evidencia na interde- pendência que ele mantém com a natureza, com o ecossistema técnico-social, social ou sociourbano. Esse ecossistema sociourbano consiste na sociedade moderna entendida sob o ponto
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