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Aula 3 Meios Alternativos de solução de conflitos (1)

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OS MEIOS ALTERNATIVOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS COMO POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
1. Acesso à Justiça e Meios alternativos de solução de conflitos 
A ideia de acesso à justiça ficou famosa com a estruturação estabelecida pelo jurista italiano Mauro Cappelletti 
e . Em sua obra, o autor destaca ondas renovatórias que viabilizem o acesso à justiça: 
- A primeira dela se baseia no critério econômico, em específico, a prestação da assistência judiciária àqueles 
que não possuem condições para contratação de um profissional. Primeiramente, pelo sistema em que são contratados 
advogados particulares, pelo próprio estado, para o atendimento destes sujeitos sociais sem condições. Almeja-se aqui 
uma justiça em equilíbrio. O segundo sistema é por advogados de carreira pública, no caso, são remunerados diretamente 
pelo Poder Público, uma medida diretamente relacionada ao combate dos desiquilíbrios econômicos da sociedade. No 
caso brasileiro, a entrada da lei 1060/50 e a instituição da defensoria pública representaram um grande avanço. 
- A segunda onda reconhece a incapacidade do sistema vigente em tutelar direitos apenas por mecanismos 
individuais, uma vez que há inúmeros direitos difusos e coletivos necessitando da tutela do estado. O avanço, no caso 
brasileiro, se deu com o destaque da ação popular, ação cível pública e o mandado de segurança coletivo. 
- A terceira onda destaca a necessidade de amplo acesso à justiça por meios mais céleres e menos onerosos, 
incluindo a advocacia judicial e extrajudicial, além da abertura institucional a mecanismos mais simplificados. 
Historicamente, os meios alternativos de solução de conflito estão atrelados ao movimento do acesso à justiça 
deste a década de 70. Visava-se assim os melhores resultados às disputas existentes, com uma tentativa mínima de se 
garantir a reparação das relações sociais. Neste sentido, as técnicas e processos autocompositivos ganham relevância e 
passam a ser incorporados pelo sistema processual. 
Um exemplo pode ser dado a partir da inclusão, no âmbito dos juizados especiais, das práticas de conciliação, 
embora diametralmente distantes do conceito já consolidado no modelo norteamericano, em que se dava maior destaca 
que aplicação de técnicas de negociação e mediação, bem como ao treinamento dos profissionais que iriam atuar. 
Os meios autocompositivos visam: (i) criar um meio efetivo à solução de conflitos e que seja um instrumento 
de aprendizado ao mútuo reconhecimento dos interesses e também sentimentos das partes envolvidas; (ii) a 
reaproximação das partes envolvidas na disputa; (iii) humanização do conflito – logo, uma prática transformadora. 
Um eficaz resultado dependerá: das necessidades ou interesses dos sujeitos envolvidos; dos valores sociais 
atrelados às questões; da qualidade dos programas implantados (considera-se a realidade fática do público a ser atendido, 
da comunidade envolvida, o treinamento dos mediadores e também a adequada abertura a participação). Não se trata 
tão somente uma abordagem a partir da intuição, mas de técnicas adequadamente aplicadas. 
A preocupação daquele que intervém em alternativas autocompositivas, como os mediadores e conciliadores, 
deve estar voltada ao jurisdicionado e no contínuo melhoramento do uso das ferramentas e técnicas autocompositivas. 
 
1.1 Valores assimilados pelo Ordenamento 
O movimento voltado às práticas autocompositivas tem indicado a adoção de novos valores, seja pelo Novo 
Código de Processo Civil, pela Recomendação 50/2014 e a resolução 125/2010, do CNJ. 
- Quanto ao prisma temporal: 
Os meios autocompositivos são focalizados no futuro da relação entre as partes envolvidas, logo, é prospectivo. 
Os processos heterocompositivos examinam a relação e os fatos já ocorridos e definem modos de compensar e 
reparar as partes (logo, é retrospectivo). 
- Quanto às questões em foco: ambas visam a solução de conflitos, contudo de modos distintos. Os processos 
autocompositivos estão atentos aos distintos modos de solução e que atendam igualmente os interesses das partes 
(enfoque pluralista). Nos processos heterecompositivos há um destaque ao primado da culpa, ou seja, na definição de 
quem está certo e errado (enfoque monista). 
- Como os conflitos são tratados: no modelo autocompositivo, valoriza-se a relação colaborativa, enquanto o 
heterocompositivo está baseado, muitas vezes, na dinâmica do vencedor e do perdedor. 
- Quanto ao paradigma: o modelo autocompositivo está preocupado com a função prática da solução e do real 
atendimento dos interesses das partes (leitura pragmática); no modelo heterocompositivo está alicerçado nos pontos de 
segurança do sistema, logo, nas diretrizes dogmáticas. 
- Quanto ao grau de formalismo: o modelo autocompositivo permite diferentes níveis de formalismo, de 
acordo com o contexto, dos sujeitos envolvidos e das necessidades fáticas do caso, sendo definido pelo usuário. Já no 
heterocompositivo, em regra, observa-se maior rigidez e dependência do gestor do processo (magistrado ou árbitro). 
- Quanto à linguagem: no modelo autocompositivo, a linguagem e as regras são simplificadas, para atender a 
necessidade e o conforto dos sujeitos envolvidos. Na forma heterocompositiva, baseia-se na cultura processual inerente 
ao processo adotado. 
- Quanto à participação: no modelo autocompositivo, as partes são protagonistas e os advogados orientam 
(possuem duas relevantes funções: garantir que o cliente tem plena consciência dos direitos que estará renunciando e 
auxiliar para que a negociação seja persuasiva – como um técnico de negociação); nos modelos heterocompositivos, a 
participação ativa é dos operadores do direito e as partes apenas colaboram no esclarecimento de questões. 
- Quanto à atividade preponderante: o modelo autocompositivo se organiza num processo humanizado e a 
justiça é um valor construído pelas partes. No modelo heterocompositivo, prevalece o positivado e a justiça é restringida 
à adequada aplicação do procedimento previsto em lei. 
 
1.2 A Resolução 125 do CNJ 
O Judiciário não é visto apenas como aquele que presta serviços na relação processual, mas que incentiva a 
prevenção de demandas, por exemplo, com práticas autocompositivas inominadas para prevenção da violência 
doméstica, sobreendividamento e oficinas específicas a dependentes químicos. 
Almeja: uma cultura de pacificação e de estímulo a autocomposição dos conflitos; a implantação, organização 
e incremento dos programas de autocomposição do âmbito dos tribunais e fortalece o papel de apoio na constituição de 
políticas públicas do CNJ. 
A Resolução segue o modelo do sistema pluriprocessual, ou seja, não existe tão somente um processo de solução 
dos conflitos, como a tradicional atividade jurisdicional, mas alternativas como a mediação, a negociação direta e tantas 
outras. 
A definição do melhor processo a ser adotado irá variar, por exemplo, em razão dos elementos prioritários as 
partes, como o impacto financeiro, o grau de sigilo, a manutenção ou não do relacionamento, o interesse na flexibilização 
ou não do procedimento, os custos emocionais, a possibilidade de comprimento espontâneo e até as possibilidades de 
recurso. 
Por exemplo, se a manutenção das relações é um dos fatores de relevância, a mediação demonstra-se como uma 
boa alternativa. Se o objetivo for a construção de um precedente, a publicidade será o fator de relevância e talvez o 
processo judicial, com a maior possibilidade de recorribilidade seja a alternativa mais interessante. 
 O art. 7º da resolução foi responsável pela criação do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução 
de Conflitos. O art. 8º, por sua vez, pela criação Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania. 
A emenda nº 2/2016 introduziu a Cadastro Nacionalde Mediadores Judiciais e Conciliadores. 
 
TEORIA DO CONFLITO 
O conflito é usualmente definido como uma relação ou estado em que dois ou mais sujeitos possuem razões, 
interesses e objetivos incompatíveis, ou seja, divergentes. Dentro das relações sociais, trata-se de um fenômeno negativo. 
1º Quais palavras refletem a ideia do conflito? P. ex. guerra, briga, disputa, tristeza. 
2º Inúmeras reações fisiológicas, emocionais e comportamentais surgem do conflito, quais são elas? 
Transpiração, elevação da voz, irritação, raiva, etc 
3º E destas reações emergem algumas práticas, quais são elas? Repreensão dos comportamentos, julgar os atos, 
atirbuir culpa, repsonsabilizar, polarizar a relação. 
Mas nem tudo é só negativo. Dependendo da aplicação da técnica adequada, é possível a obtenção de elementos 
positivos do conflito, quais são os exemplos? P. ex. a solução consensual que gere a paz, o afeto, o crescimento dos 
vínculos e a aproximação. 
A leitura positiva é a concepção adotada pela moderna teoria do conflito. Cabe àqueles que atua no segmento 
saber tratar e contorna a leitura negativa, muitas vezes, reproduzida no comportamento dos demais envolvidos nos 
modelos autocompositivos, expressando também em seu comportamento e suas reações emocionais, por exemplo, a 
naturalidade, a compreensão, a consciência verbal, a serenidade, etc. 
Trata-se de uma opção consciente para que o mecanismo de luta e fuga não seja desencadeado e adote-se 
medidas para compreender comportamento, analisar intenções, resolver e gerir as próprias emoções. 
Adota-se aqui uma atuação para a relação de congruência entre os participantes do conflito e desencadeie-se um 
processo de despolarização (ou seja, para que o conflito não seja percebido como uma relação de posições antagônicas 
ou distintas) e evite-se também a criação de espirais de conflito (circulo vicioso marcado pela ação e reação e criação 
de novos pontos de disputa, isto é, as causas originárias perdem força e destaque, tornando-se secundárias). 
 
1. Processo construtivos e destrutivos (Zamorra, Castillo, Morton Deustsch). 
 Nos processos destrutivos, há o rompimento das relações sociais que existiam previamente e há um processo 
de expansão e crescimento acentuado do conflito no decorrer da relação processual, inclusive, tornando-se independente 
das causas originárias e adotando um caráter competitivo. 
Os processos construtivos são aqueles que permitem o fortalecimento da relação social com a conclusão da 
relação processual, pois: há um estímulo ao desenvolvimento criativo das soluções pelas partes e da compatibilização 
de interesses; ampliação da capacidade de condução do processo pelas partes, logo, de natureza prospectiva; 
desenvolvimento das condições que permitam a reformulação das questões e dos eventuais obstáculos. 
Os modelos tradicionais trazidos pelo ordenamento jurídico processual são, predominantemente, destrutivos, 
pois acirram as disputas e esquecem o componente principal: o ser humano. 
Referências 
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Azevedo, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação 
Judicial, 6ª Edição (Brasília/DF:CNJ), 2016 
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 
1988.

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