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Teoria e Fundamentos do Processo de Mediação

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Indaial – 2020
Teoria e FundamenTos do 
Processo de mediação
Prof.ª Isabel Maciel Mouquer
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.ª Isabel Maciel Mouquer
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
M932t
 Mousquer, Isabel Maciel
 Teoria e fundamentos do processo de mediação. / Isabel Maciel 
Mousquer. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 182 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0425-3
 1. Mediação. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 341.46
III
aPresenTação
Seja bem-vindo à Disciplina de Teoria e fundamentos do processo de 
mediação. 
Como futuro profissional da área do Direito, você perceberá o 
quanto utilizamos as ferramentas de outras áreas, afinal, a Mediação de 
Conflitos é uma grande área das Ciências Jurídicas e Sociais e é considerada 
multidisciplinar. Neste contexto, conheceremos alguns conceitos da 
Psicologia, da Pedagogia e do Serviço Social para utilizar em nossos 
processos de Mediação de conflitos. 
Nosso objetivo é oferecer noções básicas de técnicas de mediação 
nas temáticas que envolvem a moderna teoria do conflito, a administração 
e resolução de conflitos, a relação entre conflito, mediação e a busca da paz, 
a teoria do conflito, a teoria geral da mediação e fundamentos, o escopo da 
mediação e o papel do poder judiciário.
Para isso, contextualizaremos a história dos estudos dos conceitos 
iniciais e definições referentes à moderna teoria do conflito, para uma visão 
acerca da mediação e a busca da paz. Também buscaremos apresentar 
iniciativas de identificar os métodos autocompositivos e diferenciá-los 
da heterocomposição. Ao final desta disciplina, você compreenderá os 
princípios da mediação. 
Para isso, os conteúdos foram organizados em 3 unidades de 
aprendizagens. Na primeira unidade, conheceremos a administração e 
resolução de conflitos. Para tanto, compreenderemos a teoria do conflito, 
a conceituação de conflito como sendo uma desordem, um choque, um 
desentendimento sobre algo e sua relação com a mediação a qual pode ser 
entendida como aquela que possui um processo de autocomposição em que 
as partes envolvidas no conflito são auxiliadas na construção do diálogo 
por um terceiro imparcial, o mediador e a busca da paz como escopo da 
mediação, implicando assim o envolvimento do Poder Judiciário como o 
ente público gestor da facilitação da resolução dos conflitos por intermédio 
do magistrado, dirigindo e supervisionando o mediador na condução das 
sessões de mediação e posteriormente homologando seus acordos. 
Na segunda unidade abordaremos sobre o processo de mediação. 
Para tanto, compreendemos, inclusive, como se dá a comediação que é 
realizada por dois ou mais mediadores - que são os mediadores/agentes -, 
os quais os fatores e as etapas do processo de mediação - o agir do mediador 
na busca da solução do conflito -, bem como a conceituação e principais 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
diferenças existentes dentro do procedimento da mediação judicial e 
extrajudicial. Dentro do estudo das etapas do processo de mediação será 
estudada a pré-mediação, a fase de investigação, as sessões privadas ou 
cáucus, a fase de criação, avaliação e escolha de opções e o fechamento da 
sessão de mediação. 
Na terceira unidade focaremos na teoria dos jogos. Para tanto 
compreenderá aspectos históricos e conceituais da teoria dos jogos, a 
importância teoria dos jogos na resolução de conflitos baseada no agir 
comunicativo e o novo código de processo civil, o princípio do equilíbrio 
(John Nash), a prática da competição e da cooperação no conflito. 
A cada unidade você será convidado a praticar exercícios que 
ajudarão no processo de ensino e aprendizagem. 
Bons estudos! 
Profª Isabel Maciel Mouquer
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – A MODERNA TEORIA DO CONFLITO ...................................................................1
TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS .............................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 A RELAÇÃO ENTRE CONFLITO, MEDIAÇÃO E A BUSCA DA PAZ ....................................3
3 TEORIA DO CONFLITO .....................................................................................................................7
4 TEORIA GERAL DA MEDIAÇÃO E FUNDAMENTOS..............................................................11
5 ESCOPO DA MEDIAÇÃO E O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO ...........................................14
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................17
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................18
TÓPICO 2 – A MEDIAÇÃO ENQUANTO MÉTODO AUTOCOMPOSITIVO DE 
RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS .................................................................................21
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................21
2 O ACESSO À JUSTIÇA COMO FORMA MAIS ADEQUADA DE TRATAR OS 
CONFLITOS HUMANOS E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ...............................................21
3 DOS MECANISMOS AUTOCOMPOSITIVOS E HETEROCOMPOSITIVOS DE 
TRATAMENTO DE CONFLITOS: A MEDIAÇÃO, A NEGOCIAÇÃO, A CONCILIAÇÃO 
 E A JUSTIÇA RESTAUTATIVA ........................................................................................................27
3.1 CONCILIAÇÃO AUTOCOMPOSITIVA .....................................................................................31
3.2 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS POR MEIO DO EMPODERAMENTO DAS PARTES ..........32RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................34
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................35
TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO ......................................................................................39
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................39
2 IMPORTÂNCIA DA APLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS NA MEDIAÇÃO ....................39
3 PRINCÍPIOS NORTEADORES NO PROCEDIMENTO DA MEDIAÇÃO .............................40
3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE DAS PARTES .............................................41
3.2 PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO MEDIADOR ...........................................................42
3.3 PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA ............................................................................................43
3.4 PRINCÍPIO DA CREDIBILIDADE ..............................................................................................44
3.5 PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA ...............................................................................................44
3.6 PRINCÍPIO DA CONFIDENCIALIDADE ..................................................................................45
3.7 PRINCÍPIO DA DILIGÊNCIA ....................................................................................................46
3.8 PRINCÍPIO DO ACOLHIMENTO DAS EMOÇÕES DOS MEDIADOS ..............................47
3.9 PRINCÍPIO DA ISONOMIA ENTRE AS PARTES ...................................................................48
3.10 PRINCÍPIO DA ORALIDADE ..................................................................................................48
3.11 PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE .........................................................................................49
3.12 PRINCÍPIO DA BUSCA DO CONSENSO ...............................................................................49
3.13 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ .............................................................................................................50
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................56
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................58
sumário
VIII
UNIDADE 2 – O PROCESSO DE MEDIAÇÃO E OS DIFERENTES MODELOS DE 
MEDIAÇÃO ..................................................................................................................61
TÓPICO 1 – O PROCESSO DE MEDIAÇÃO ....................................................................................63
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................63
2 AGENTES E FATORES NO PROCESSO DE MEDIAÇÃO .........................................................63
3 O AGIR DO MEDIADOR NA BUSCA DA SOLUÇÃO DO CONFLITO .................................64
4 A MEDIAÇÃO JUDICIAL E A EXTRAJUDICIAL ........................................................................65
5 AS ETAPAS DA MEDIAÇÃO ...........................................................................................................66
5.1 A PRÉ-MEDIAÇÃO ........................................................................................................................67
5.2 A FASE DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................................68
5.3 AS SESSÕES PRIVADAS OU CÁUCUS (ART. 31 - LEI 13.140/2015) ......................................69
5.4 A FASE DE CRIAÇÃO, AVALIAÇÃO E ESCOLHA DE OPÇÕES .........................................70
5.5 O FECHAMENTO (ART. 20 - LEI 13.140/2015) ..........................................................................72
6 A COMEDIAÇÃO ................................................................................................................................73
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................78
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................80
TÓPICO 2 – TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO..........................................................................................83
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................83
2 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO ............................................................................................................83
2.1 O ESTABELECIMENTO DO RAPPORT (“EMPATIA”) E A APRESENTAÇÃO PESSOAL 
 DO MEDIADOR ...............................................................................................................................84
2.2 A ESCUTA ATIVA ............................................................................................................................85
2.3 A LIDERANÇA DO MEDIADOR .................................................................................................87
2.4 A RETROSPECTIVA POSITIVA DO CONFLITO ......................................................................88
2.5 CALÇANDO OS SAPATOS DO OUTRO ...................................................................................88
2.6 O MEDIADOR DEVER SABER RECUAR QUANDO FOR PRECISO.....................................89
2.7 FORNECER OPÇÕES AO MEDIANDOS ....................................................................................90
2.8 DEMONSTRAÇÃO POR PARTE DO MEDIADOR DE QUE O CONFLITO NECESSITA 
FICAR NO PASSADO .....................................................................................................................91
2.9 A MEDIAÇÃO NECESSITA DE TEMPO PARA SUA REALIZAÇÃO ....................................91
2.10 O MEDIADOR PRECISA SABER DIRECIONAR O FOCO DA CONVERSA ...................93
2.11 IDENTIFICANDO RUÍDOS/FALHAS NA COMUNICAÇÃO POR INTERMÉDIO 
 DA ESCUTA DINÂMICA ...........................................................................................................93
2.12 COMO O MEDIADOR DEVE REALIZAR O FECHAMENTO E A REDAÇÃO DO 
ACORDO ........................................................................................................................................94
2.13 ACERCA DOS ASPECTOS JURÍDICOS DO ACORDO ..........................................................95
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................97
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................99
TÓPICO 3 – MODELOS DE MEDIAÇÃO ........................................................................................101
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101
2 OS DIFERENTES MODELOS DE MEDIAÇÃO .........................................................................101
2.1 O MODELO TRADICIONAL/LINEAR (ESCOLA DE HARVARD) ......................................102
2.2 O MODELO TRANSFORMATIVO (FOLGER E BUSH) ..........................................................103
2.3 O MODELO CIRCULAR-NARRATIVO (SARA COBB) ........................................................103
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................105RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................111
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................112
IX
UNIDADE 3 – A TEORIA DOS JOGOS E OS FUNDAMENTOS DE NEGOCIAÇÃO 
 PARA MEDIADORES ..............................................................................................115
TÓPICO 1 – A TEORIA DOS JOGOS ...............................................................................................117
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117
2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DA TEORIA DOS JOGOS ............................117
3 A TEORIA DOS JOGOS NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS BASEADA NO AGIR 
COMUNICATIVO E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ...........................................119
3.1 O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO (JOHN NASH) .....................................................................121
3.2 A PRÁTICA DA COMPETIÇÃO E DA COOPERAÇÃO NO CONFLITO ...........................123
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................124
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126
TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS DE NEGOCIAÇÃO PARA MEDIADORES ............................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 CONCEITUAÇÃO E PRINCÍPIOS DA NEGOCIAÇÃO ...........................................................129
3 ELEMENTOS OBJETIVOS DA NEGOCIAÇÃO .........................................................................132
3.1 INTERESSE(S) ................................................................................................................................132
3.2 OPÇÕES ..........................................................................................................................................133
3.3 ALTERNATIVAS ..........................................................................................................................134
3.4 LEGITIMIDADE ...........................................................................................................................135
4 ELEMENTOS SUBJETIVOS DA NEGOCIAÇÃO .......................................................................136
4.1 COMPROMISSO ............................................................................................................................137
4.2 COMUNICAÇÃO ..........................................................................................................................138
4.3 RELACIONAMENTO ...................................................................................................................139
5 DAS FASES DA NEGOCIAÇÃO ....................................................................................................141
5.1 DA PREPARAÇÃO: A) DO LEVANTAMENTO DE INTERESSES, B) MASA E ZOPA, 
 C) DA INFORMAÇÃO, D) OPÇÕES E COMUNICAÇÃO, E) DO PROCESSO..................... 141
5.2 DA CRIAÇÃO: A) DOS INTERESSES COMUNS, B) DOS GANHOS MÚTUOS, C) DAS 
TROCAS DE BAIXO CUSTO, D) AS PREFERÊNCIAS DISTINTAS, E) CRIAÇÃO DE 
VALOR: COMUNICAÇÃO E OPCÕES, F) DA DISTRIBUIÇÃO, G) DO FECHAMENTO, 
 H) A RECONSTRUÇÃO ................................................................................................................145
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................150
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155
TÓPICO 3 – A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA MEDIAÇÃO ....................................................157
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157
2 BREVES COMENTÁRIOS A RESPEITO DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS MEDIADORES ....157
3 A FORMAÇÃO DO MEDIADOR ..................................................................................................160
3.1 PAPEL E ÉTICA DO MEDIADOR ...........................................................................................162
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................166
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................172
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................177
X
1
UNIDADE 1
A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: 
• entender os conceitos iniciais e definições referentes a moderna teoria do 
conflito;
• obter uma visão acerca da mediação e a busca da paz; 
• identificar os métodos autocompositivos e diferenciá-los da heterocom-
posição;
• compreender os princípios da mediação; 
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
TÓPICO 2 – A MEDIAÇÃO ENQUANTO MÉTODO AUTOCOMPOSITIVO 
DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e 
vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim 
absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, você aprenderá sobre a administração e resolução de 
conflitos, para tanto compreenderá a teoria do conflito, a conceituação de conflito 
como sendo uma desordem, um choque, um desentendimento sobre algo e sua 
relação com a mediação a qual pode ser entendida como aquela que possui um 
processo de autocomposição onde as partes envolvidas no conflito são auxiliadas 
na construção do diálogo por um terceiro imparcial, o mediador e a busca da 
paz como escopo da mediação, implicando assim o envolvimento do Poder 
Judiciário como o ente público gestor da facilitação da resolução dos conflitos 
por intermédio do magistrado, dirigindo e supervisionando o mediador na 
condução das sessões de mediação e posteriormente homologando seus acordos. 
2 A RELAÇÃO ENTRE CONFLITO, MEDIAÇÃO E A BUSCA 
DA PAZ 
Antes de tratarmos acerca da mediação e da busca da paz, é necessário 
conhecermos os aspectos histórico/evolutivos do conflito, bem como sua 
conceituação, como ele ocorre, suas formas de tratamento e prevenção. 
Etimologicamente a palavra conflito vem do latim conflictus originário do verbo 
confligo, confligere. 
No que tange ao conceito de conflito, trata-se de um choque, uma 
discussão e/ou uma desordem. É salutar frisar a mediação de conflitos e os 
pressupostos da teoria do discurso de Jürgen Habermas. Entretanto, o conceito 
de conflito sofreu uma evolução histórica, surgindo a partir do momento em que 
as primeiras relações sociais foram estabelecidas: 
Destarte, após o surgimento das primeiras civilizações e as primeiras 
relações sociais entre os homens antigos, ocorreram complexas 
transformações sociais, à medida que o homem passou de nômade 
a um ser sedentário, com o domínio das técnicas de agricultura e 
dos animais selvagens, passando a existir uma relação de controle 
e domínio entre os mais fortes e poderosos eos mais fracos e com 
menos poder. Com efeito, a dinâmica social e a descoberta de novas 
terras para exploração e colonização, fez com que as nações se 
desenvolvessem passando de simples cidades-Estado, para grandes 
estados nacionais, com o auge das monarquias absolutistas, e após as 
sangrentas revoluções sociais, chegamos a ideia de estado moderno, 
regidos sob a égide de uma constituição, norteadora dos fundamentos 
desse estado (OUTROS, 2013).
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
4
Observamos que o conflito é inerente ao ser humano e perpassa os ciclos 
evolutivos das relações sociais. Essas relações deveriam ser harmônicas com 
relação aos interesses e planos de ação individuais. 
Após todo esse processo de desenvolvimento histórico, é de fácil 
percepção que os conflitos sempre estiveram presentes em qualquer 
meio social tendo em vista a grande diversidade de interesses, 
mudando-se apenas suas formas de resolução de acordo com as 
normas de cada sociedade (OUTROS, 2013).
Acerca do conflito urge ressaltar que na busca do sucesso, os indivíduos 
perseguem os seus interesses individuais, para isso organizam uma estratégia 
baseada nas consequências de suas ações, para alcançar seus objetivos vale 
influenciar outros indivíduos, por exemplo: por intermédio de armas, bens, 
ameaças e seduções. 
Em qualquer eventual cooperação, cada indivíduo só está interessado 
no que pode ganhar individualmente com isso, chamamos esse tipo de ação de 
“ação estratégica” (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 105). 
O filósofo Jürgen Habermas defende, como proposta para a sociedade 
que transitamos progressivamente da ação estratégica para a ação comunicativa, 
nela a orientação deixa de ser exclusivamente para o sucesso individual, e passa a 
se denominar como orientação para o entendimento mútuo. Nesse novo âmbito, 
os atores procuram harmonizar seus interesses e planos de ação, por intermédio 
de um processo de discussão, buscando um consenso. 
A hermenêutica, em Habermas, designa precisamente o espaço da 
autorreflexão e crítica enquanto que a pragmática inclui o território 
discursivo cujo núcleo central é o entendimento. Assim, o autor em 
foco parte do pressuposto de que o traço fundamental da modernidade 
é a configuração do indivíduo como sujeito capaz de autorreflexão e 
crítica, o que lhe permite exigir igualdade de respeito e disponibilidade 
para o diálogo (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 106). 
 
Embora os dois tipos de orientação possuam a marca da racionalidade 
humana, a grande diferença é que na ação estratégica a definição da finalidade 
não abre espaço para ouvir os argumentos dos outros, enquanto no agir 
comunicativo há um espaço de diálogo em que se raciocina em conjunto sobre 
quais devem ser os melhores objetivos a serem buscados por um grupo social 
(GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 106). 
O entendimento mútuo, proveniente do agir comunicativo, será um 
importante facilitador da coordenação de ações, e servirá de base para a defesa 
da democracia no cenário político, com a crítica da repressão, censura e de outras 
medidas que não propiciam o diálogo dentro da sociedade.
 
Em suma, quanto à mediação de conflitos e os pressupostos da Teoria do 
discurso de Habermas, ele concebe a razão comunicativa e a ação comunicativa 
livre, racional e crítica como alternativa à razão instrumental e superação 
TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
5
da razão iluminista – “aprisionada” pela lógica instrumental, que encobre a 
dominação (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 106). 
Ao pretender a recuperação do conteúdo emancipatório do projeto 
moderno, na realidade Habermas está preocupado com o estabelecimento dos 
vínculos entre socialismo e democracia, segundo o autor, duas esferas coexistem 
na sociedade, o sistema e o mundo da vida. 
O sistema refere-se à “reprodução material”, regida pela lógica 
instrumental, ou seja, a adequação de meios a fins incorporada nas relações 
hierárquicas (poder político) e da economia, já o mundo da vida é a esfera de 
reprodução simbólica da linguagem, das redes de significados que compõe 
determinada visão de mundo, sejam eles referentes aos fatos objetivos, às normas 
sociais ou aos conteúdos subjetivos (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 107). 
 
Dentro do ciclo evolutivo histórico é conhecido o diagnóstico 
habermasiano da colonização do mundo da vida pelo sistema e crescente 
instrumentalização desencadeada pela modernidade, sobretudo com o 
surgimento do direito positivo, o qual reserva o debate normativo aos técnicos 
e especialistas. Contudo, desde a década de 1990, mudou sua perspectiva acerca 
do direito, considerando essencial a presença do mediador de conflitos entre o 
mundo da vida e o sistema. 
Na ação comunicativa ocorre a coordenação de planos de dois ou mais 
atores via assentimento a definições tácitas de situação, é uma visão reducionista 
deste conceito, entendido como mero diálogo, de fato ela pressupõe uma teoria 
social a do mundo da vida em contraposição a ação estratégica, regida pela 
lógica da dominação, na qual os indivíduos coordenam seus planos no intuito 
de influenciar, não envolvendo assentimento ou dissentimento (GAGLIETTI; 
ESPÍNDOLA, 2013, p. 107).
Habermas define sinteticamente a ação estratégica como “cálculo 
egocêntrico”, seus estudos estão voltados ao conhecimento e a ética, sua tese 
para explicar a produção do saber humano recorre ao evolucionismo, pois a 
racionalidade comunicativa é considerada “aprendente”.
 
A falibilidade possibilita desenvolver capacidades mais complexas 
de conhecer a realidade, além de representar garantia contra agressões 
metafísicas, com possíveis desdobramentos autoritários, evoluindo por 
intermédio de erros entendidos como falhas de planos de ação (GAGLIETTI; 
ESPÍNDOLA, 2013, p. 108). 
 
Ele defende também uma ética universalista deontológica, formalista 
e cognitivista, nesse caso os princípios éticos não devem ter conteúdo, mas 
garantir a participação dos interessados nas decisões públicas através de 
discussões/discursos, em que se avaliam os conteúdos normativos demandados 
naturalmente pelo mundo da vida (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 108). 
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
6
Não há como abordar a temática conflito, mediação e paz sem mencionar 
Luis Alberto Warat, pois ele propõe o desenrolar do conflito: 
Com a visão da mediação proposta por Warat, nós podemos garantir 
o desenvolvimento do conflito. O conflito no modelo estatal é 
manifestado pelo litígio, forma legalmente convencionada, segundo 
a qual o Estado-Juiz aponta a decisão correta: a lei no caso particular. 
Entretanto, com essa visão, o conflito é desqualificado e varrido para 
debaixo desse remédio-simulacro chamado processo. 
[...] na mediação uma proposta de resgate dessa promessa, do amor, 
do cuidado com os mínimos detalhes do outro qualquer. De recuperar 
a dimensão do problema humano e de assumirmos a responsabilidade 
pela realidade que co-produzimos com nossas práticas e posturas 
(WARAT, 2004, p.11).
Por exemplo: o comportamento individualista do ser humano somado ao 
desejo consumidor, aos relacionamentos voláteis e a imediatidade dos objetivos 
da vida, tudo isso contribui para fazer brotar o conflito. Por sua vez, ele é inerente 
a vida em sociedade e aos indivíduos: 
A mente é a criadora dos conflitos quando não está em sintonia com 
o sutil e com o invisível. O invisível é o que não pode ser visto no 
comum das coisas, pois se precisa de olhos mais refinados. Os olhos 
refinados precisam de harmonia e do silêncio. 
[...] Ser harmonizado é renunciar a tudo o que é falso, mas não 
renunciar ao mundo. Renunciar todas as respostas, mas ser sensível, 
espontaneamente sensível; não pensar nas razões, mas ser real 
(WARAT, 2004, p. 25). 
 
Portanto, surge a mediação como uma forma de solução ecológica de 
tratar os litígios, oriundos de um conflito o qual gerou uma lide, que na clássica 
acepção de Carnelutti é um conflito de interessesqualificado por uma pretensão 
resistida, o qual encontra um tratamento ecológico e possível solução por 
intermédio da mediação. 
O mediador deve usar toda a sua sabedoria para conseguir deixar o 
problema fervendo. Se deixar as partes mornas, será inútil o trabalho, 
pois elas ficarão novamente frias. Para ficar mediado é necessário 
chegar ao ponto de ebulição, à transformação alquímica (WARAT, 
2004, p. 25). 
Em suma, podemos afirmar que antes do surgimento da lide, essa por 
sua vez, a força propulsora do processo temos o surgimento do conflito, o qual 
necessita ser tratado sendo uma das formas de tratamento a mediação, pois sem 
tratarmos o conflito não existe paz. 
TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
7
FIGURA 1 – MODELO DE MEDIAÇÃO
FONTE: <https://www.researchgate.net/publication/320578659/figure/fig1/AS:552827517718528@
1508815759421/Figura-1-Modelo-de-mediacao-da-informacao-Dados-da-pesquisa-2014_Q640.
jpg>. Acesso em: 21 nov. 2019.
3 TEORIA DO CONFLITO 
A palavra conflito vem do latim conflictus originário do verbo confligo 
confligere. Segundo Vasconcelos (2016, p. 19) “(...) conflito ou dissenso é fenômeno 
inerente às relações humanas. É fruto de percepções e posições divergentes 
quanto a fatos e condutas que envolvem expectativas, valores ou interesses 
comuns.” 
Para tanto, Luis alberto Warat, menciona a necessidade do indivíduo de 
sentir o conflito, 
O grande segredo, a meu ver, da mediação, como todo segredo, 
é muito simples, tão simples que passa despercebido. Não digo 
tentemos, entendê-lo, pois não podemos entendê-lo. Muitas coisas 
em um conflito estão ocultas, mas podemos senti-las. Se tentarmos 
entendê-las, não encontraremos nada, corremos o risco de agravar 
o problema. Para mediar, como para viver, é preciso sentir o 
sentimento. O mediador não pode se preocupar por intervir no 
conflito, transformá-lo. Ele tem que intervir sobre os sentimentos 
das pessoas, ajudá-las a sentir seus sentimentos, renunciando à 
interpretação. Os conflitos nunca desaparecem, se transformam; isso 
porque, geralmente, tentamos intervir sobre o conflito e não sobre o 
sentimento das pessoas (WARAT, 2004, p. 26). 
Inf
orm
açã
o Comunicação
Protagonismo social/
Tornar-se sujeito na plenitude
Empoderamento/
Apropriação da informação
Desenvolvimento de
competências / Mediação
Serviços
de informação
Usuários da
informação
Conhecimento
M
ed
ia
çã
oInteligência
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
8
O mediador deve saber tratar o conflito compreendendo o seu 
posicionamento de não intervenção no mesmo, o papel dele deve ser o de auxiliar 
na construção do diálogo entre as partes, não direcionando o acordo, mas apenas 
auxiliando as partes. 
É fundamental para o mediador discernir o comportamento correto em 
sua atuação, 
O mediador deve entender a diferença entre intervir no conflito e 
nos sentimentos das partes. O mediador deve ajudar as partes, fazer 
com que olhem a si mesmas e não ao conflito, como se ele fosse 
alguma coisa absolutamente exterior a elas mesmas. [...] Quero falar 
da mediação indo ao fundo de nossos mal-estares, encontrar a raiz 
que gera um permanente estado de conflito conosco e com os outros 
de nosso convívio. O reencontro com o manancial que transforma. 
Vivemos em sociedades onde os resultados, o êxito pessoal, as 
armaduras com as quais construímos nossa imagem, os simulacros 
que realizam a vida, a adaptação conformista faz que nos afastemos 
radicalmente do que autenticamente sentimos, de todos os nossos 
sentimentos (WARAT, 2004, p. 27). 
O conflito precisa ser visto como algo recorrente, do cotidiano das 
pessoas, mas necessário ao crescimento individual devido ao enfrentamento 
que ele proporciona pelo reconhecimento do outro e, por consequência dos 
problemas do outro. Ao administrar o conflito por intermédio da mediação o 
mediador atuará como mero coadjuvante, pois os atores principais são as partes 
envolvidas na situação conflitiva. A construção do diálogo é fundamental para 
o indivíduo conhecer sua essência, ou seja, seus sentimentos para somente então 
poder entender os dos outros, facilitando a comunicação entre as partes. 
Tratar o conflito tem como fruto o acordo. Ele, por sua vez, satisfaz os 
anseios dos envolvidos e não o que a lei lhes concederia, caso a decisão fosse 
proferida pela Estado-Juiz. Por exemplo: em situações como a mediação familiar, 
onde os vínculos afetivos estão presentes, com sentimentos efervescentes, 
criadores de cortinas de fumaça dificultadoras da compreensão do que 
levou a determinada situação, e algumas vezes mascaram o real motivo dos 
desentendimentos. 
Os conflitos reais, profundos, vitais, encontram-se no coração, 
no interior das pessoas. Por isso, é preciso procurar acordos 
interiorizados, e a mediação precisa escolher outro tipo de linguagem. 
Ela precisa da linguagem poética, da linguagem dos afetos, que 
insinue, a verdade e não a aponte diretamente; simplesmente 
sussurre, e não grite. Uma linguagem usada como estratégia, de tal 
modo que os corações em conflito possam ser tocados. A linguagem 
que nos permite vincular, receber, como uma melodia, o sentido do 
amor. A linguagem que estou chamando do coração transmite aquilo 
que não pode ser transmitido pela linguagem fática (entendida 
intelectualmente) deseja dizer aquilo que não pode ser dito pela 
linguagem da comunicação ordinária (WARAT, 2004, p. 29). 
TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
9
O Direito decide por intermédio do Estado-Juiz o conflito de caráter 
jurídico, já que as partes no processo comum duelam pela vitória, para ao final 
com a prolação da sentença, somente um demandante ser proclamado vencedor, 
mas não trata o conflito e nem os sentimentos das partes envolvidas. 
Quando o conflito é tratado pela mediação, os sentimentos são igualmente 
tratados e reavaliados, para tanto o fomento do diálogo é essencial, pois as partes 
nesse momento reexaminam suas posições conflitivas. 
A mediação é um processo de sensibilidade que institui um novo 
tipo de temporalidade, de fazer do tempo um modo específico da 
autoalteração. [...] a mediação precisa ser entendida, vivida acionada 
com outra cabeça, a partir de outra sensibilidade, refinada e ligada 
com todas as circunstâncias, não só do conflito, mas do cotidiano de 
qualquer existência. Quem vai mediar, precisa estar ligado com a vida 
(WARAT, 2004, p. 30). 
A interação das partes envolvidas no conflito possibilita o exercício da 
cidadania, da participação trazendo a ressignificação dos sentimentos para poder 
entender os fatos e os acontecimentos posteriores pelas lentes da sensibilidade 
do mediador. Para Warat (2004, p. 31) “(...) a mediação, comprometida com a 
sensibilidade, rejeita o valor da conflitividade interior. Não descarta o valor 
positivo do conflito com o outro, porém não aceita como boa uma atitude interna 
conflitiva”. 
Na realidade os indivíduos não necessitariam do poder judiciário, nem 
recorreriam à justiça se fosse capazes de resolver seus próprios conflitos, seria 
uma forma de libertação do protecionismo estatal, representado aqui no processo 
pelo Juiz, como aquele ser que paira soberano sobre o conflito, analisando provas, 
coletando depoimentos das partes e testemunhas, para posteriormente aplicar/
adequar a norma jurídica ao caso concreto. 
Entretanto, a mediação vai além, pois prega a recomposição das relações, 
mas para isso, 
As pessoas têm que estar com seus conflitos internos resolvidos. 
Quem não resolve seus conflitos internos, não pode ficar aberto para o 
amor, não pode amar, não pode inscrever o amor no meio do conflito. 
[...] quando um outro gera conflitos, nos agride. Instala também, 
em nosso interior, conflitividade que a mente e o ego, egoicamente, 
melodramaticamente multiplica. A mente introduz pensamentos que 
poluem o que sentimos, daí nasce o conflito interior. A simplicidade 
consiste em afastar os pensamentos para recuperar o sentimento(WARAT, 2004, p. 31). 
 
Após analisarmos alguns aspectos a respeito do conflito cabe tratar de 
sua classificação/tipologia, aponta Fernanda Paola Daniel que (2011, p. 17), “(...) 
os conflitos podem ser analisados em dois sentidos, quando visto do estado de 
ânimo objetivo, e quando visto do estado de ânimo das partes conflitantes”. 
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
10
Em sua classificação pela teoria de Morton Deutsch, em 1973, temos seis 
tipos de conflitos: conflito verídico, conflito contingente, conflito deslocado, 
conflito mal atribuído, conflito latente e conflito falso. O conflito verídico é aquele 
que é facilmente percebido, tido como realístico e difícil de ser solucionado 
de forma amigável, necessitam de um indivíduo para auxiliar as partes, 
exemplificando a arbitragem vinculante (DEUTSCH, 1973). 
O conflito contingente é circunstancial e não é reconhecido pelas partes 
nele envolvidas: 
 
Aqui a existência do conflito é dependente de circunstâncias 
prontamente re-arranjáveis, mas isso não é reconhecido pelas partes 
conflitantes. [...] O conflito contingente desapareceria se os recursos 
alternativos para satisfazer as necessidades “conflitantes” fossem 
reconhecidos. Conflitos contingentes são difíceis de se resolver 
apenas quando as perspectivas das partes em conflito são estreitas 
e rígidas, o que é fruto de recursos insuficientes de cognição e de 
solução de problemas ou excessiva tensão emocional. Ademais, 
é claro, se as questões em risco no conflito contingente tenham se 
agravado a ponto de que aceitar um substituto equivalente implique 
a perda do cerne da questão, o conflito perdeu sua contingência 
(DEUTSCH, 1973, p. 38). 
No conflito deslocado as partes envolvidas estão discutindo sobre algo 
que não está certo, presentes o manifesto e o subjacente. Aponta Morton Deutsch 
(1973, p. 37) que, “(...) o conflito experienciado é o conflito manifesto; já o que não 
está sendo diretamente expressado é o conflito subjacente. O conflito manifesto 
em geral expressará o subjacente de uma forma simbólica ou idiomática”. 
Já o conflito mal atribuído é aquele que acontece erroneamente, tanto com 
relação as partes quanto ao assunto. O conflito latente é o que está encoberto, 
pois ele pode ter sido deslocado, reprimido ou mal atribuído, enquanto o conflito 
falso advém de uma comunicação malsucedida (DEUTSCH, 1973, p. 37). 
FIGURA 2 - MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
FONTE: <https://blog.softwareavaliacao.com.br/wp-content/uploads/2017/07/27.png>. 
Acesso em: 22 nov. 2019.
TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
11
4 TEORIA GERAL DA MEDIAÇÃO E FUNDAMENTOS
A palavra mediação tem origem no latim significa mediare, que quer 
dizer mediar e/ou intervir, é um meio não adversarial de tratar situações 
conflitivas, o qual privilegia o diálogo entre as partes envolvidas, visto 
como um método autocompositivo de tratamento de conflitos, pois nele as 
partes conjuntamente chegam a um acordo com o auxílio de um mediador 
(GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013). 
A mediação tem tradição milenar entre os postos antigos. Entre os 
judeus, chineses e japoneses, a mediação faz parte da cultura, e dos 
usos e costumes, muitas vezes integrandos os rituais religiosos. No 
Japão existe a figura milenar nas tradições de conflitos de direito 
de família denominada chotei, que significa uma conciliação quase 
judiciária, constituindo uma das atividades dos tribunais de família. 
Em síntese, o chotei consiste em confiar a uma terceira pessoa ou uma 
comissão formada por um magistrado e dois ou mais conciliadores, 
se necessário. Os conciliadores são nomeados pelo Supremo Tribunal 
para o período de dois anos. Na verdade, o critério da escolha recai 
sobre os notáveis da comunidade (BARBOSA, 2007, p. 12).
 
É notório que o mediador na maioria dos países tem sua atuação balizada 
pela comunidade, além disso a função está relacionada ao desenvolvimento da 
cidadania e deve possuir conhecimento técnico. Ainda merece destaque a forma 
como é feita essa escolha abrangendo aqueles indivíduos mais destacados na 
sociedade. Insta tratar acerca da mediação no Judaísmo com destaque para o 
papel do rabino nos casos de divórcio. Os chineses têm na mediação uma forma 
de acesso à justiça. 
No mundo ocidental a mediação veio com dois movimentos na Grã-
Bretanha e Estados Unidos e, posteriormente Canadá e a França, na área da 
mediação familiar, sendo que nos Estados Unidos, Noruega e Canadá a mediação 
é obrigatória e anterior ao processo judicial (BARBOSA, 2007, p. 12).
 
A autora supracitada aponta que, na Grã-Bretanha, o marco mediatório 
foi o “Parents for ever”, em 1977. Gwynn Davis formou o primeiro serviço de 
conciliação familiar judicial envolvendo crianças, visando a atuação antes da 
judicial, e em 1978, em Bristol, Inglaterra, surgiu o primeiro serviço de mediação 
familiar coordenado pela assistente social Lisa Parkinson, contribuindo para em 
1988, ocorrer a criação da FMA “Family Mediators Association”, evoluindo para 
a prática de sessões de mediação envolvendo crianças e questões financeiras 
acerca do divórcio: 
 
Assim, a mediação foi tema de estudos junto à Harvard Law School, 
concluindo por uma fundamentação teórica que limita seu conceito 
como um modo de resolução de conflitos, já que objetiva o acordo 
entre as partes, sem qualquer preocupação com as causas subjacentes 
ao impasse, portanto, sem caráter preventivo. Implantou-se, assim, a 
via intitulada ADR – Alternative Dispute Resolution, que se apresenta 
como uma alternativa rápida e econômica para a resolução de 
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
12
litígios. Diante do alto custo do Judiciário, aos cidadãos, nos Estados 
Unidos, os norte-americanos aderem, rapidamente, a essa forma de 
acesso à Justiça, porém, qualificada como “justiça de segunda classe” 
(BARBOSA, 2007, p. 13). 
 
No Canadá, a mediação chegou nos anos 80, em 1984 foi criado o primeiro 
serviço de mediação familiar de Montréal. Já na França foi em 1671 a primeira 
manifestação da mediação, na assembleia dos nobres e do clérigo encarregados 
de pacificar conflitos de processos e litígios. 
Para finalizar esse breve passeio histórico na mediação, trataremos do 
Brasil, tal instituto aqui chegou de duas formas em 1989, São Paulo, pelo modelo 
francês e através da Argentina ao Sul do país com o modelo dos Estados Unidos, 
no inícios dos anos 1990, e atualmente sua atuação é pautada pelo Código de 
Processo Civil e pela Lei de Mediação (BARBOSA, 2007).
 
A mediação possui algumas razões para que possa ocorrer. Por sua vez, 
elas constituem fundamentos para a existência do procedimento da mediação, 
tais como: a) a existência do conflito entre as partes; b) interesses contrapostos; 
c) um terceiro neutro (mediador); d) capacidade de auxiliar e facilitar o acordo 
(GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013). 
Também podemos citar como elementos: ter voluntariedade, o mediador 
precisa ser eleito, o aspecto privado, a cooperação entre as partes, a habilidade 
do mediador, reuniões agendadas pelos envolvidos, ser um procedimento 
informal, a possível existência ao final de um acordo mútuo, o fato de não ter um 
sentimento de vitória ou derrota (MARTÍN, 2005). 
 
Além disso, é preciso deixar claro que a mediação não se confunde 
com um processo terapêutico ou de acompanhamento psicológico ou 
psiquiátrico, embora seja extremamente desejável que o profissional 
da mediação tenha conhecimentos em Psicologia e, sobretudo, prática 
em lidar com as relações humanas e sociais. Por fim, ao final das 
sessões de mediação, a solução indicada pelas partes será reduzida 
a termo. [...] Nessa direção, a mediação pode ser percebida como um 
processo orientado a conferir às pessoas nele envolvidas a autoria 
de suas próprias decisões, convidando-as à reflexão e ampliando as 
alternativas. É um processo não adversarial dirigido à desconstrução 
de impasses (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 118). 
Por exemplo: a mediação pode ser utilizadana área familiar, pois 
vislumbra o reestabelecimento das relações, dos vínculos afetivos sendo salutar 
para o casal e principalmente para os filhos, quando envolvidos em um divórcio 
ou dissolução de união estável contendo guarda de menores, pagamento de 
pensão alimentícia e estipulação de visitas de um dos genitores. 
TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
13
Essa reaproximação dos genitores ocorre por intermédio de um 
terceiro não envolvido nos conflitos, o mediador nesse caso, tem fundamental 
importância busca demonstrar o aspecto natural e positivo existente na situação 
conflitiva. 
Além disso, a facilitação da comunicação entre os ex-cônjuges 
possibilita a escuta e o entendimento mais apurado das reais 
necessidades e sentimentos de cada um, auxiliando-os a desfazer 
as mágoas e a se respeitar mutuamente. Importa, ainda, citar 
algumas vantagens da Mediação Familiar: a diminuição dos 
custos financeiros e emocionais; a menor burocracia processual em 
comparação com os procedimentos tradicionais; uso de espaço em 
ambiente privado e acolhedor com apoio de um técnico cuja função 
é ajudar os intervenientes a estabelecer uma matriz de comunicação 
facilitadora na resolução de conflitos, de crises e estabelecer acordos 
aceitáveis; por fim, preservar a dignidade e autoestima da família 
em transformação, ajudando-a a estabelecer novos equilíbrios 
(GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 114). 
O mediador necessita lançar mão da neutralidade e da comunicação 
quando de sua atuação, mas mantendo a atitude respeitosa, profissional e 
ética com as partes. Ao se deparar com uma situação conflitiva em uma sessão 
de mediação, o mediador tem de paralisar atitudes e palavras ofensivas 
porventura proferidas na efervescência das emoções entre os envolvidos na 
sessão de mediação. 
 
Assim as partes com o acordo sentem mais satisfação com o resultado, 
do que aquele proferido por intermédio de uma sentença prolatada pelo Juiz 
de Direito em um processo comum, onde persiste o sentimento de perdedor em 
uma das partes ao final do processo. 
Em geral, as partes logo retornam aos fóruns e às salas de audiência 
ou aos tribunais com inúteis recursos. [...] Seria apenas uma forma 
de economia processual, uma forma de racionalizar a prestação 
jurisdicional e evitar a procura desnecessária pelo Poder Judiciário, 
promovendo-se, ademais, uma ampliação de métodos mais 
democráticos, participativos e, até mesmo, mais efetivos de solução 
dos conflitos (GAGLIETTI; ESPÍNDOLA, 2013, p. 105). 
A busca do mediador nas sessões de mediação precisa ser direcionada 
para a empatia e compreensão, harmonização do conflito e construção do diálogo 
entre as partes, já que o acordo ocorrerá como consequência desse direcionamento, 
nesse caso o que for acordado será fruto do consenso dos mediandos, isso na 
prática garante maior segurança jurídica quanto ao cumprimento daquilo que 
restou acertado. Por exemplo: para essa desenvoltura ser alcançada, entretanto o 
mediador precisa de técnicas como a escuta atenta e inclusiva das atitudes e fatos 
apresentados e o acolhimento dos envolvidos. 
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
14
FIGURA 3 – RAPPORT (EMPATIA)
FONTE: <https://cdn2-blog.sajadv.com.br/wp-content/uploads/2019/04/rapport-1024x501.jpg />. 
Acesso em: 22 nov. 2019.
5 ESCOPO DA MEDIAÇÃO E O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO
Ao estudarmos a mediação e as demais formas não adversariais de 
tratamento/resolução de conflitos observaremos que o escopo delas é a construção 
do diálogo, a reestruturação das relações pessoais, e consequentemente o acordo, 
ele proporciona a pacificação social. 
A busca da pacificação social, por sua vez, somente conseguirá ser 
alcançada quando as partes não se enxergarem mais no processo como oponentes 
prontos para um embate na arena chamada processo, pois o conflito somente 
começa a ser tratado para posteriormente ser resolvido (WARAT, 2004, p. 21).
Quando começamos a ver o outro com respeito e igualdade, ou seja, com 
empatia, como um ser humano sujeito as mesmas dores e frustações que nós, 
além disso é necessário um aparato estatal dotado de outra visão dogmática, 
capaz de enxergar o conflito como potencializador de crescimento humano e 
não apenas como algo que merece ser resolvido logo, para dizer “A venceu e B 
perdeu” (WARAT, 2004, p. 21).
Figurando como partes em um processo não temos somente o ponto 
central que é o litígio e, sim as partes que são seres humanos dotados de 
sentimentos, desejos, vontades e, para tanto, merecedoras de respeito, de uma 
análise humanizada do processo.
Tendo o cuidado de perceber o que realmente levou elas a judicializar 
aquela determinada causa, pois em alguns casos não é somente o objeto 
envolvido que importa para uma delas, muitas vezes, apenas um mero pedido 
de desculpas da parte contrária resolveria a situação, mas como o diálogo não 
existiu entre elas, ingressar com o processo pareceu ser a solução para aquele 
TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
15
caso. Por exemplo: e isso leva a existência de cada vez mais processos no 
judiciário, justamente nesse tipo de causa que a mediação pode ser utilizada 
quando já existe uma relação entre as partes, como é o caso da área familiar de 
cônjuges em situação de divórcio, partilha dos bens, guarda de filhos, fixação dos 
valores da pensão alimentícia, estipulação de horários para a visitação dos filhos. 
 
Frente a isso temos o Poder Judiciário e seu incontável número de 
processos e a afamada crise do Judiciário, sendo necessária a compreensão de 
como a crise surgiu e quais seus motivos. 
No Brasil há um ensino jurídico moldado pelo sistema da contradição 
que forma guerreiros, profissionais combativos e treinados para a 
guerra, para a batalha, em torno de uma lide, onde duas forças opostas 
lutam entre si e só pode haver um vencedor. Todo caso tem dois lados 
polarizados. Quando um ganha necessariamente o outro tem de perder. 
O modelo é adversarial [...]. De um conflito entre pessoas, analisado sob 
o prisma da lide em disputa, resultam sempre vencedores e vencidos. 
Durante muitos anos, talvez inspirados em Carnelutti, afirmamos que o 
objetivo do processo ou da própria jurisdição é a justa composição da 
lide – aquela porção circunscrita do conflito que a demanda polarizada 
evidência (AZEVEDO, 2016, p. 245).
Um dos fatores que desencadearam a crise do Poder Judiciário é 
exatamente a forma como os advogados enxergam o litígio dentro do processo, 
pois em nosso país tudo é judicializável, tudo é conflito, culturalmente ele 
privilegia o embate por intermédio da heterocomposição. Cabendo, tão somente 
ao magistrado a análise restrita daquilo que está contido nos autos, como 
elementos probatórios e formadores de uma verdade processual. 
Descabe ao magistrado, na técnica processual, conhecer de qualquer 
fato, argumento, justificativa ou razão que não constituam objeto 
do pedido, competindo-lhe apenas decidir a lide nos limites em 
que foi proposta. Assim, continuamos a repetir “o que não está nos 
autos de processo não está no mundo”! É assim com relação aos 
métodos heterocompositivos. É necessário que assim seja, na solução 
heterocompositiva (adjudicada), na medida em que ao juiz não será 
possível conhecer de aspectos do conflito que não integraram os autos 
de processo e que não constituem objeto do pedido (AZEVEDO, 2016, 
p. 245). 
Entretanto, o papel e a atuação dos magistrados devem ser vistos no que 
diz respeito a mediação, entendendo o seu papel de pacificadora de conflitos. 
Para isso o mediador judicial e o juiz precisam ter uma estreita relação de 
trabalho, já que é em nome dele e por sua delegação que ele atua, sendo que cada 
juiz pode quando de sua atuação utilizar as técnicas de mediação na audiência 
de conciliação (AZEVEDO, 2016). 
 
A mediação por intermédio da autocomposição dos conflitos está prevista 
em várias disposições legais (arts. 149, 334, 165, 695 e demais artigos do Novo 
Código de ProcessoCivil), por sua vez, a Lei de Mediação (Lei 13.140/15) veio 
aprofundar as regras de atuação do mediador. 
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
16
“A função do mediador dentro do processo está respaldada pela norma 
como um auxiliar da justiça, do processo e construtor da cidadania, conforme o 
artigo 149 do NCPC facilitando o diálogo entre os envolvidos no conflito, mas 
mantendo a imparcialidade” (AZEVEDO, 2016, p. 56). 
Para tanto, possui algumas atribuições na condução das sessões de 
mediação judicial: a) abertura e condução da sessão de mediação, supervisionado 
do Juiz togado, para promover o entendimento entre as partes; b) fazer a redação 
dos termos de acordo, incluindo os pedidos das partes, antes da homologação 
pelo Juiz togado; c) fazer constar todos os atos que ocorreram na sessão de 
mediação no termo de acordo; d) auxiliar na condução da comunicação entre as 
partes, não permitindo que ela se realize de modo desrespeitoso e/ou ineficiente 
(AZEVEDO, 2016). 
O papel do magistrado consiste em gerenciar um sistema público 
de resolução de disputas. Assim, considerando que a atuação do 
mediador pode ser delegada até mesmo para um voluntário e essa 
atuação de gestão sistêmica não, concluímos pela recomendação 
que, como regra, o magistrado não deva conduzir mediações 
principalmente para economizar esse recurso humano escasso. 
Naturalmente, essa mediação pode ser feita por um magistrado, 
em seu horário livre, como voluntário, em outra vara ou comarca. 
Esta recomendação se faz em razão de um princípio prático de que 
se um gestor deixa de delegar uma ação que poderia ser delegada 
provavelmente deixará de realizar algo que não poderia ser delegada 
(e.g. a instrução dos processos a serem julgados) (AZEVEDO, 2016, 
p. 51). 
O acordo fruto da mediação precisa espelhar o que foi dito durante as 
sessões de mediação e da realidade em que os envolvidos vivem, tanto financeira 
quanto moral. 
O autocompositor deverá tratar as partes com urbanidade, de forma 
respeitosa, mas sabendo evitar agressões verbais e físicas entre as partes, 
obviamente, isso não quer dizer que ele necessita interromper a fala de cada 
mediando sistematicamente. 
Contudo, é necessário entender que muitas vezes, haverá o enaltecimento 
dos ânimos por parte de um ou de ambos e isso implica a escuta inclusiva 
verbalizando os fatos ocorridos, nesse caso somente haverá intervenção na 
fala de um dos mediandos. Por exemplo: caso a fala de uma das partes se 
torne agressiva, já que é dada a palavra para cada um deles expressar os fatos 
conflitivos a seu modo, mas dentro dos limites do respeito. O mediador deve 
dominar a arte da boa comunicação, pois precisa interpretar exatamente aquilo 
que as partes expressarem, e a partir disso começar a tecer as linhas de um 
possível acordo. 
17
Neste tópico, você aprendeu que:
• A moderna teoria do conflito trata da administração e a resolução de conflitos. 
• Há uma estreita relação entre conflito, mediação e a busca da paz. 
• Etimologicamente a palavra conflito vem do latim conflictus originário do 
verbo confligo, confligere. 
• No que tange ao conceito de conflito, trata-se de um choque, uma discussão e/
ou uma desordem. 
• O comportamento individualista do ser humano somado ao desejo consumista 
dos relacionamentos voláteis e a imediatidade dos objetivos da vida, tudo isso 
contribui para fazer brotar o conflito.
• A teoria do conflito por intermédio da classificação pela teoria de Morton 
Deutsch, em 1973, elencou seis tipos de conflitos: conflito verídico, conflito 
contingente, conflito deslocado, conflito mal atribuído, conflito latente e 
conflito falso. 
• A palavra mediação tem origem no latim significa mediare, que quer dizer 
mediar e/ou intervir, é um meio não adversarial de tratar situações conflitivas, 
o qual privilegia o diálogo entre as partes envolvidas, visto como um método 
autocompositivo de tratamento de conflitos. 
• Existem fundamentos para o procedimento da mediação, tais como: a) a 
existência do conflito entre as partes; b) interesses contrapostos; c) um terceiro 
neutro (mediador); d) capacidade de auxiliar e facilitar o acordo. 
• Ao estudarmos a mediação e as demais formas não adversariais de tratamento/
resolução de conflitos observaremos que o escopo delas é a construção do 
diálogo, a reestruturação das relações pessoais e, consequentemente, o acordo. 
Ele proporciona a pacificação social.
• O papel do poder judiciário aqui representado pela figura do magistrado o 
qual supervisiona a atuação do mediador nas sessões de mediação consiste em 
gerenciar um sistema público de resolução de conflitos. 
RESUMO DO TÓPICO 1
18
1 (2018 - FCC - DPE-AP - Defensor Público) Com relação à conciliação e à 
mediação: 
a) ( ) As partes podem escolher, de comum acordo o conciliador e o mediador, 
desde que estejam cadastrados no registro do tribunal competente.
b) ( ) O conciliador atuará somente nos casos em que não houver vínculo 
anterior entre as partes, podendo sugerir soluções para o litígio, mas 
não impor a conciliação.
c) ( ) Em razão do dever de sigilo inerente as suas funções, o conciliador e 
o mediador não poderão divulgar os fatos ou elementos oriundos da 
conciliação ou da mediação, mas deverão depor se notados pelo juiz, 
pelo dever de colaboração para com o judiciário. 
d) ( ) O mediador que atuará preferencialmente nos casos em que houver 
vínculo anterior entre as partes auxiliará aos interessados a compreender 
as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo 
restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções 
consensuais que gerem benefícios mútuos. 
e) ( ) Os conciliadores e mediadores judiciais devidamente registrados no 
cadastro do Tribunal de Justiça, se advogados, não terão qualquer 
restrição ou impedimento para o exercício de suas atividades, uma 
vez que as atividades de solução consensual dos conflitos caracterizam 
obrigações públicas e de interesse social.
2 (2018 - FCC - PGE-AP- Procurador do Estado) Com relação à mediação e 
autocomposição de conflitos: 
a) ( ) Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo 
menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida 
pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola 
ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola 
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados − ENFAM 
ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo 
Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça.
b) ( ) O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas 
transigíveis, deve ser homologado em juízo, prescindível a oitiva do 
Ministério Público. 
c) ( ) Por não ter poder decisório, não se aplicam ao mediador as hipóteses 
legais de impedimento e suspeição do juiz. 
d) ( ) O mediador fica impedido, por tempo indefinido, de assessorar, 
representar ou patrocinar qualquer das partes, embora possa atuar 
como árbitro em conflito que as envolva. 
e) ( ) No desempenho de sua função, o mediador deverá reunir-se com as 
partes sempre em conjunto, a fim de não se levantar qualquer objeção 
quanto a sua imparcialidade. 
AUTOATIVIDADE
19
3 (2016 - FGV - COMPESA-Analista de Gestão – Advogado) Com relação à 
mediação, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:
( ) Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as 
partes deverão comparecer à primeira reunião de mediação.
( ) Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação, 
com exceção de proposta formulada por uma parte à outra na busca de 
entendimento para o conflito, será confidencial com relação a terceiros, 
não podendo ser revelada sequer em processo arbitral ou judicial salvo 
se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua 
divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo 
obtido pela mediação.( ) Ainda que haja processo arbitral ou judicial em curso, as partes poderão 
submeter-se à mediação, hipótese em que requererão ao juiz ou árbitro a 
suspensão do processo por prazo suficiente para a solução consensual do 
litígio.
As afirmativas são, respectivamente:
a) ( ) F - V - F. 
b) ( ) V - V - V. 
c) ( ) V - F - F. 
d) ( ) V - V - F. 
e) ( ) V- F - V. 
4 (2012-FUNIVERSA-Assistente Social) Com relação à mediação de conflitos, 
assinale a alternativa correta. 
a) ( ) A mediação de conflitos é uma categoria ontológica.
b) ( ) A mediação de conflitos é um processo informal em que não existe um 
modelo de atuação definido com etapas, diretrizes, princípios e regras.
c) ( ) O papel de mediador requer atributos indispensáveis como escuta e 
acolhimento da fala dos mediados, imparcialidade, confidencialidade, 
credibilidade e diligência. 
d) ( ) Constituem regras da mediação: o respeito mútuo, a não-violência e a 
participação incentivada e não-voluntária no processo de mediação. 
e) ( ) A mediação é um processo de resolução de conflitos em que uma 
terceira pessoa, parcial e independente, facilita o diálogo entre as partes 
para que melhor entendam o conflito e procurem alcançar soluções 
criativas e possíveis.
5 (2017- EDUCA-CRQ - 19ª Região (PB) - Coordenador Administrativo). 
Basicamente, pode-se dizer que a mediação é uma forma de lidar com um 
conflito, através da qual um terceiro (o mediador ou a mediadora) ajuda as 
pessoas a se comunicarem melhor, a negociarem e, se possível, a chegarem a 
um acordo. São finalidades da Mediação, EXCETO: 
20
a) ( ) Restabelecimento da Comunicação entre as Partes. 
b) ( ) Preservação de Relacionamentos entre as Partes. 
c) ( ) Prevenção de Conflitos. 
d) ( ) Exclusão Social.
e) ( ) Pacificação Social. 
21
TÓPICO 2
A MEDIAÇÃO ENQUANTO MÉTODO AUTOCOMPOSITIVO 
DE RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico você aprenderá sobre a mediação enquanto método 
autocompositivo de resolução dos conflitos, para isso é necessário estudar 
primeiramente o acesso à justiça como forma mais adequada de tratar os 
conflitos humanos e os direitos fundamentais por intermédio do estudo da 
evolução da ideia de justiça e da prática do acesso ao judiciário como um direito 
fundamental. Também abordaremos como objetivo geral dessa unidade de 
ensino os mecanismos autocompositivos e heterocompositivos de tratamento 
de conflitos, diferenciando auto e heterocomposição, depois abordaremos as 
diferentes formas de tratá-lo como a mediação, a negociação, a conciliação e a 
justiça restaurativa, e mais detalhadamente a conciliação autocompositiva e a 
mediação de conflitos por meio do empoderamento das partes. 
2 O ACESSO À JUSTIÇA COMO FORMA MAIS ADEQUADA 
DE TRATAR OS CONFLITOS HUMANOS E OS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
O conceito da expressão acesso à justiça apresentou variação ao longo 
do tempo devido a uma série de elementos, influenciadores de cunho político, 
religioso, sociológico e filosófico. Dentre as principais normas cuneiformes 
escritas, encontrou-se no Código de Hamurabi importantes garantias que, ao 
menos na teoria, impediam a opressão do fraco pelo forte, assegurando proteção 
às viúvas e aos órfãos, e incentivavam o enfraquecimento ao buscar a instância 
judicial (o soberano) para ele resolver a sua causa (CARNEIRO, 2000). 
O papel do soberano foi substituído pelo Estado-Juiz que por intermédio 
da figura do magistrado profere sentenças com a finalidade de dizer o direito no 
caso concreto, por exemplo.
Boaventura de Sousa Santos (1996, p. 25), no seu estudo sobre os tribunais 
nas sociedades contemporâneas, leciona que o significado tanto social quanto 
político dos tribunais nesse período contemporâneo, que ele chama período do 
Estado-providência, foi muito diferente daquele do período liberal:
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
22
Em primeiro lugar, a jurisdição do bem-estar social abriu o 
caminho para novos campos de litigação nos domínios laboral, 
civil, administrativo, da segurança social, o que, em uns países 
mais do que noutros, veio traduzir-se no aumento exponencial 
da procura judiciária e na consequente explosão da litigiosidade. 
As respostas que foram dadas a este fenômeno variaram de país 
para país, mas incluíram quase sempre algumas das seguintes 
reformas: informatização da justiça; incluindo a informatização e 
a automatização da justiça; criação de tribunais especiais para a 
pequena litigação de massas tanto em máteria civil como criminal; 
proliferação de mecanismos alternativos de resolução de conflitos 
(mediação, negociação, arbitragem); reformas processuais várias 
(ações populares, tutela de interesses difusos etc.). A explosão da 
litigação deu uma maior visibilidade social e política aos tribunais 
e as dificuldades que a oferta da tutela judicial teve, em geral, para 
responder ao aumento da procura suscitaram com grande acuidade a 
questão da capacidade e as questões com ela conexas: as questões da 
eficácia, da eficiência e da acessibilidade do sistema judicial.
Para Kantorowicz (1949), a reação dos tribunais também se projeta no 
plano da teoria da justiça, com uma visão mais crítica do positivismo extremado, 
e passa a engrandecer o valor da justiça e do homem, influenciados por 
importantes escolas filosóficas. 
Destaca-se, por exemplo, a Escola da Livre Pesquisa do Direito, que teve 
em François Gény seu idealizador. Essa escola influenciou a criação de outras, 
inclusive a do “Direito Livre”, que sob a orientação de Kantorowicz, compreendia 
que o direito justo deveria prevalecer ainda que contra legem. 
Todos esses estudos e movimentos são importantes inclusive na 
atualidade com as teorias e as correntes filosóficas mais modernas, por exemplo, 
a Teoria Tridimensional, em especial a de Miguel Reale, o Experiencialismo de 
Holmes, Teoria Egológica de Cossio, a Teoria da Argumentação de Perelman, 
dentre outras, todas elas convergem, na expressão de Reale: 
A aplicação do direito não se reduz a uma questão de lógica formal. 
É antes uma questão complexa, na qual fatores lógicos, axiológicos 
e fáticos se correlacionam segundo exigências de uma unidade 
dialética, desenvolvida ao nível da experiência, à luz dos fatos e de 
sua prova (1999, p. 286-288).
Essa grandiosidade teórica, que representa a superação do positivismo 
normativista, leva a uma nova leitura e, por consequência, a uma prática renovada 
da prestação jurisdicional. O desenvolvimento da prestação jurisdicional é, 
também, e não poderia ser diferente, resultado de um processo político que 
culminou na estabilização do Estado Democrático de Direito, com a superação 
do modelo liberal (KELSEN, 1984). 
TÓPICO 2 | A MEDIAÇÃO ENQUANTO MÉTODO AUTOCOMPOSITIVO DE RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS
23
Reale rejeita a possibilidade de apreensão do fenômeno jurídico a partir 
apenas de um de seus elementos, v.g., a norma. Assim, se o direito é um fenômeno 
tridimensional, a apreensão somente pode lograr êxito a partir da integração dialética de 
implicação-polaridade dos elementos fato-valor-norma. 
 Oliver Wendell Holmes é visto como precursor de uma corrente de pensamento 
que inclui juristas do porte de Llewllyn, Frank e Pound na Escola norte-americana que 
alcançou grande prestígio na Escandinávia. A base é de que a “vida do direito não foi a 
lógica, foi a experiência” (Holmes). Assim, a interpretação do direito se torna exercício de 
verificação em um tom empírico, sendo os tribunais e a sua prática o verdadeiro lugar 
de realização e criação dos direitos, restando um papel meramente ancilar para o texto 
legislativo. 
 Na teoria egológica, desenvolvendo uma classificação dos objetos, Cossio 
desloca o centro de referência do conhecimento do direito da norma para a conduta. A 
conduta define a norma e suas consequências. Como o centro de referência do direito é 
a conduta e não a norma, o direito passa a ser governado por um princípio de liberdade 
(medida da conduta). 
 Através desua nova retórica, e combinando elementos de retórica e dialética 
clássicas, e tópica, como substituindo a lógica formal por uma lógica argumentativa, 
Perelman vai desenvolver a ideia de que as teses (que embasam uma decisão judicial, por 
exemplo) não são verdadeiras em si mesmas, em verdade, são construídas no processo 
argumentativo, e aprovadas em razão da razoabiliadade (PERELMAN e OLBRECHTS-
TYTECA, 1996).
NOTA
Sobre este ponto, destaca-se a explicação de Barreto (1993, p. 29-37), em 
estudo específico sobre a cidadania, e o seu conceito atual:
A marca diferenciadora do conceito moderno de cidadania encontra-
se patente nos três momentos de afirmação dos conjuntos de direitos. 
Todos esses direitos foram reconhecidos em função da participação 
de diferentes grupos sociais face ao status quo. Afirmaram-se quando 
os componentes de segmentos sociais uniram forças políticas, sociais 
e econômicas diante do poder. Nasceram, esses direitos, não por 
benesses das elites dominantes, mas em virtude de reivindicações 
claramente definidas e duramente conquistadas.
Esse novo posicionamento do Juiz diante do fato mostra uma das faces da 
concepção de acesso à justiça dos dias de hoje. Portanto, cresce de importância, 
nesse momento, a concepção do real significado de acesso à justiça; é necessário 
que ele sirva a todos, ou seja, igualdade de direitos, desde os mais carentes 
aos mais privilegiados, desde o ser humano isoladamente considerado até a 
coletividade (CARNEIRO, 1999).
Surgiu assim, inicialmente nos países desenvolvidos, diante das 
reivindicações sociais, a demanda por formas céleres e efetivas de justiça para a 
comunidade em geral (CARNEIRO, 1999, p. 27). 
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
24
É notável, e merece destaque, a participação do professor italiano Mauro 
Cappelletti no movimento de democratização do acesso à justiça. Coordenando 
respeitado Instituto de Pesquisas, o professor Cappelletti desenvolveu pesquisas de alta 
relevância em diversas áreas do conhecimento jurídico. Contudo, foi no campo do acesso 
à justiça que Mauro Cappelletti plantou sua semente mais fecunda. 
 O professor efetuou uma série clássica de estudos doutrinários sobre a justiça e 
o Poder Judiciário, notadamente em suas dimensões ideológicas e sociais, englobando 
estudos importantes sobre justiça e pobreza na obra Processo, ideologias, sociedade 
(CAPPELLETTI, 1974). 
 Foi nessa área que o professor desenvolveu a pesquisa que pode ser considerada 
o turning point (expressão inglesa muito utilizada) do movimento de acesso à justiça. Com 
o apoio de seu Instituto de Pesquisas (Florença), da AIDP e de diversas Escolas no mundo 
inteiro, o professor colheu relatórios sobre a situação do acesso à justiça em diversos 
países e relatou com acuidade peculiar a situação global. 
 A divulgação de resultados desses estudos, com suas conclusões e sugestões 
(as três famosas ondas renovatórias) da sua obra, escrita em parceria com Bryant Garth, 
denominada Acessto justice, em quatro volumes, os dois primeiros com dois tomos cada, 
em Milão (Giuffré-Sijthoff, 1978), desencadeou um movimento mundial de busca pelo 
acesso à justiça, sendo que, ainda hoje, quase 30 anos depois das pesquisas, é uma obra 
fundamental no estudo do tema. 
 O tempo passado, que demonstra a urgência de pesquisas como a desenvolvida 
na tese presente, não invalida os resultados da pesquisa; o tempo, ao invés da invalidá-la, 
tornou-a clássica e indispensável. 
 Outro livro de leitura obrigatória, em nosso idioma, do professor Mauro Cappelletti: 
Acesso à justiça (Trad. por Ellen Gracie Worthfleek. Porto Alegre: Fabris, 1988), foi baseado 
em dois volumes também resultantes do Projeto de Florença, a saber: CAPPELLETTI, 
Mauro, Gordley; JOHNSON JR., e, Towardequal justice. A comparative study of legal Aid 
in modern societies.Milão/Dobbs Ferry, N.Y.: Giuffré/Oceana, 1975 e CAPPELLETTI, Mauro, 
JALOWICZ, J.A. Public interest parties and the active role of the judge in civil litigation. 
Milão/Dobbs Ferry, N.Y.: Guiffré/Oceana, 1975.
INTERESSA
NTE
Surgiram os chamados Juizados de Pequenas Causas, conhecidos nos 
Estados Unidos da América, no sistema da common law, como Small Claim Courts, 
para a defesa dos direitos individuais e, ainda, os caminhos jurídicos trilhados 
para defesa dos direitos coletivos, o que viria a ser o embrião da class action, 
ambos inseridos na Federal Rules (WATANABE, 1985). 
No mesmo período, os Estados Unidos da América procuraram 
desenvolver e incentivar métodos alternativos para a resolução de conflitos 
sem as formalidades exigidas pelos tribunais. Enquanto isso, as evoluções do 
acesso à justiça na Europa estavam vinculadas ao sistema romano-germânico, 
TÓPICO 2 | A MEDIAÇÃO ENQUANTO MÉTODO AUTOCOMPOSITIVO DE RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS
25
especificamente no que se refere à defesa individual de pequenas causas e de 
ações coletivas, foi diferente daqueles países vinculados ao sistema da common 
law, precisamente dos EUA. 
“Na organização funcional da justiça italiana, fazendo papel semelhante 
ao dos juizados, as Pretorias (Preture) e os Conciliadores (Conciliatori), estes 
últimos definidos como magistrados que julgavam causas de menor expressão e 
de valor (nominal em 1970) de 50.000 liras” (CARNEIRO, 2000, p. 29).
Já no campo das ações coletivas, a lei francesa Royer de 25 de dezembro 
de 1973, destinada à proteção do consumidor, acabou por conferir legitimidade 
as associações que preencheram os requisitos legais, precisamente de tempo 
de constituição e de número de associados, para a defesa de direitos coletivos 
(CARNEIRO, 2000). 
Apesar do Código de Processo Civil da Alemanha não conter a 
possibilidade de uma ação coletiva, há um precedente histórico importante de 
origem alemã em sede coletiva que influenciou a doutrina brasileira; trata-se 
de um instrumento de defesa coletiva no terreno da proteção à concorrência. A 
utilização desta ação foi ampliada a fim de acolher também outras categorias de 
direitos, nesse caso ambiental e do consumidor, embora seja pouco utilizada. Na 
atualidade, principalmente na última década, está havendo uma contrarreação 
ao chamado Estado social (CARNEIRO, 2000). 
Fala-se agora em uma terceira fase, que seria a fase pós-social; primeiro 
o liberalismo sem qualquer intervenção estatal, seguida do Estado social, com 
uma forte intervenção em função daquelas influências dos movimentos sociais, 
da filosofia marxista (CARNEIRO, 2000, p. 30).
Nesse momento a intervenção é cada vez menor, o que impossibilitaria 
manter importantes programas sociais, passando a optar pela privatização de 
serviços não essenciais e pela diminuição de seus investimentos, gerando crises 
de desemprego e insuficiente assistência a direitos básicos (CARNEIRO, 2000, 
p. 30).
Para tanto, nesse contexto, corporificam-se as reivindicações em prol dos 
direitos fundamentais e da possibilidade de efetividade deles, a exigir do Poder 
Judiciário meios de solucionar esses problemas, sejam os de cunho individual 
gerados por este novo mundo, esta nova forma de vida, como também aqueles 
que se põem no plano da coletividade. Segundo Santos: 
“Hoje, pode mesmo dizer-se que este movimento transborda dos 
interesses jurídicos das classes mais baixas e estende-se já aos 
interesses jurídicos das classes médias, sobretudo aos chamados 
interesses difusos, interesses protagonizados por grupos sociais 
organizados e protegidos por direitos sociais emergentes cuja 
titularidade individual é problemática” (SANTOS, 1999, p. 172).
UNIDADE 1 | A MODERNA TEORIA DO CONFLITO
26
A professora Ada Pellegrini Grinover, no seu excelente trabalho “Tutela 
jurisdicional dos interesses difusos no direito contemporâneo” (1990) adverte que 
na Alemanha, nem todos os atos de concorrência desleal podem ser atacados pelas 
associações. 
 Sua iniciativa processual é taxativamente limitada às hipóteses de publicidade 
enganosa, fraudes em liquidações, fraudes nas vendas a varejo por parte de atacadistas,

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