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COMUNICAÇÃO CONSTRUTIVA Constantemente os seres humanos estão se comunicando, afinal, comunicação é interação e troca de informações e mensagens. Mesmo quando permanece inerte ou silente, há comunicação e pode influenciar ou não no comportamento de seus pares. As interações humanas são consideradas abertas, ou seja, é um comportamento equifinal (não são dependentes das condições iniciais). Por este motivo, seguindo o pensamento de Watzlavick, as condições como o gênero dos sujeitos envolvidos e como resultaram essas relações possuem menor relevância que a própria estruturação do modo atual de interação. Esta compreensão traça uma importante diretriz: é possível pela interação que sempre uma mensagem seja comunicada e a forma como se estrutura essa comunicação é mais relevante do que as condições iniciais ou já existentes. A pragmática comunicativa construtiva entende, desta maneira, como possível um reprocessar das interações. É essencial para a efetivação de práticas conciliadoras, de mediação e também de prevenção ao conflito a adoção de uma comunicação construtiva e não dominadora. Explica Vasconcelos (2008, p. 64): [...] uma comunicação construtiva contempla o completo de valores e práticas comunicativas complementares, decompostas consoante os seguintes preceitos: a) conotação positiva; b) escuta ativa; c) perguntas sem julgamento; d) reciprocidade discursiva; e) mensagem como opinião pessoal; f) assertividade; g) priorização do elemento relacional; h) reconhecimento da diferença; i) não reação; j) não ameaça. - Conotação positiva: o ponto de partida é a utilização de uma linguagem valorativo e que estimule ao acolhimento. Aqui há um reconhecimento do valor comunicativo pelo simples fato dele ser um ser humano, independentemente dos valores morais ou preceitos éticos que cada um acredite. Ou seja, há o “reconhecimento da inevitabilidade e da necessidade da diferença que o outro faz” (VASCONCELOS, 2008, p. 65). Por essa atuação se fortalece o desenvolvimento do processo comunicativo, com a autoafirmação dos participantes, interlocutores e catalisando-se o processo de solução, bem como as possibilidades de manutenção da relação. - Escuta ativa: é essencial que se dê um espaço para as pessoas expressarem o que sentem, afinal, oportunizar que o outro se expresse é o melhor modo de se comunicar. Não cabe a aplicação de broncas, sermões ou mesmo a introdução de conselhos. Lembre-se: as pessoas que percebem que são escutadas se dispõem a escutar. - Perguntas sem julgamento: as perguntas substituirão o aconselhamento, porém, primeiro, é necessário ouvir e tentar compreender as necessidades de expressão do outro. As perguntas servem ao esclarecimento, ajuda que o outro narre adequadamente suas necessidades e experiências e ajuda no aperfeiçoamento e melhora da interpretação atribuída ao próprio comportamento. Afinal, “as perguntas ajudam a esclarecer, contextualizar, capacitar” (VASCONCELOS, 2008, p. 66). Devem ser feitas para o detalhamento e também para a contextualização, mas não para o julgamento. Garante-se assim que o outro continue responsável pela definição de sua posição e que possa também reelaborá-la. As perguntas podem ser fechadas (tipo sim ou não) para aspectos específicos do conflito ou abertas para maior esclarecimento do problema. A recomendação trazida por Vasconcelos (2008) é que se adote o caráter circular, ou seja, acabe por vincular efetivamente as respostas e com “falas que as retroalimentam”. - Reciprocidade discursiva: após escutar o que o outro pretendia falar, é preciso constituir uma relação que ambos respeitem a necessidade do outro se expressa. A comunicação deve ser estabelecida como uma via em duplo sentido, logo, é preciso também estimular aquele mais tímido através de perguntar e sensibilizar o interlocutor mais eloquente a valorizar também a relação discursiva e o diálogo. - Mensagem como opinião pessoal: deve-se evitar falar pelo outro, por isso, o uso da primeira pessoa. Esta é uma orientação que deve ser transmitida aos interlocutores (envolvidos no conflito). - Assertividade: deve ser claro e seguro, sem receio da divergência. - Priorização do elemento relacional: primeiramente deve-se estar preocupado com a restauração da relação pessoal das partes e isso “pressupõe uma capacitação, uma conscientização, uma reelaboração dos sentimento e percepções de cada um dos mediandos, uma revisão das posições originais, o que enseja abertura para se estabeleça um diálogo identificador de interesses subjacentes, interesses comuns e opções” (VASCONCELOS, 2008, p. 69). - Reconhecimento da diferença: trata-se de uma postura a ser adotado por aquele que acompanha o processo autocompositivo, como também pelas partes da disputa. - Não reação: se ocorrer da atribuição de uma injusta acusação, a reação não é o meio apropriado. Reagir é revidar e romper. Com isso, as partes perdem o protagonismo. Em vez da reação, faz-se uso de reformulações por paráfrase ou por perguntas. - Não ameaça: não se trata de uma disputa entre adversários e nem se deve adotar o jogo da coerção. A ameaça ínsita a demonstração de quem tem mais poder. Não se trata de quem ganha ou perde, a prática autocompositiva deve ser vista como um processo em que ambos ganham. REFERÊNCIA: BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Azevedo, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação Judicial, 6ª Edição (Brasília/DF:CNJ), 2016 VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. São Paulo: Método, 2008.
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