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JUIZADOS ESPECIAIS – AULA 2 1. Campo de atuação (teoria dualista e unitária): é possível encontrar certa divergência quanto ao campo de atuação no âmbito dos juizados. Isto se dá, pois a lei 9.099/95 teria unido, em um mesmo órgão, as atribuições em razão da matéria (art. 98, I, CF) e também a competência decorrente do valor da causa (art. 24, X, CF). Para Rocha (2017), algumas causas poderiam ser processadas nos juizados ainda que excedessem o valor de 40 salários mínimos, no caso, aquelas em razão da menor complexidade e que estão dispostas no art. 3º, II (causas submetidas ao rito sumário) e III (despejo para uso próprio). Os outros casos, trazidos nos incisos I e IV, estão limitados pelo valor, logo, são de pequenas causas. Contudo, como destaca o próprio autor, o entendido adotado tem sido limitar, mesmo nas causas de menor complexidade, ao valor de 40 salários mínimos, expressando-se assim uma teoria unitária, como para Humberto Theodoro Junior e Luiz Fux. Art. 3º § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação. Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo. Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei. Art. 39. É ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta Lei. 2. Competência: ela pode ser fixada a partir de diferentes critérios. Chiovenda destacava 3 critérios: (i) o objetivo; (ii) territorial e funcional. As três estão presentes na lei dos juizados. a) critério objetivo: arts. 3º, 53 e 57; b) critério territorial: art. 4º; c) critério funcional: arts. 3º, § 1º, II, 41, § 1º, e 52. 2.1 Critério objetivo: tem como fundamento o valor e a matéria da causa. Os art. 3º, 53 e 57 são exemplos típicos de competência a partir do critério objetivo. Críticas: houve um uso indevido por parte do legislador ao utilizar o valor como um fator a definir a complexidade. Além disto, as ações enumeradas como a possessória, podem ter uma sensível complexidade, por exemplo, ao se considerar a relevância social. Por isso, talvez, o legislador só teria acertado ao dispor as hipóteses do art. 3º, II (submetidas ao procedimento sumário) e o art. 57 (homologação de acordos extrajudiciais). Por isso, é possível classificar as causas do seguinte modo: - Pequenas causas: Sejam elas de natureza cognitiva ou de ordem executiva que tenham valor até 40 salários mínimos. Para tanto, é preciso passar por duas fases. Primeiro. Não se enquadrar em hipótese vedada pelo art. 3º, §2º da Lei 9099: § 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos1 e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial. Segunda fase, não poderão demandar atividade probatória profunda, tendo em vista os limites impostos pelos art... 33 a 36. [..] atualmente, tem-se que as pequenas causas se dividem em dois grupos: de um lado, aquelas relativas aos Juizados em que o Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) figura no polo passivo (subdividido em pequenas causas federais e pequenas causas fazendárias), com teto de 60 salários mínimos,10 e, do outro, as pequenas causas estaduais, aplicáveis aos Juizados Especiais, com limite de 40 salários mínimos. A própria legislação prevê a possibilidade de renunciar o valor que supera o teto de 40 salários mínimos para poder utilizados o procedimento previsto pela lei 9099. A renuncia poderá se dar de modo tácito (quando se demonstra de maneira inequívoca a sua pretensão de renunciado do excedente) ou expresso (quando se manifesta, seja escrito ou verbalmente). Embora exista posicionamento em contrário, havendo dúvidas, o juiz deverá provocar a parte para se manifestar acerca da renúncia ou encaminha para a assistência judiciária ou mesmo encerrando sem resolução do mérito. Ainda que seja possível manifestar a renúncia na petição inicial, ela se concretizará somente na audiência de instrução em julgamento, pois o juiz alertará as partes das consequências quando ao prosseguimento da demanda no juizado. Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei. Uma vez renunciada, a parcela não poderá ser cobrada nos juizados e nem em outro juízo. A renúncia será possível em causas que seja possível cindir a ação. No caso de uma ação de desejo para uso próprio, o valor será determinado pela soma de 12 meses de aluguel, logo, não seria possível a renuncia conforme a lei do inquilinato por se tratar de definição de modo objetivo segundo o art. 58, III da Lei 8245/1991. Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar -se - á o seguinte: III - o valor da causa corresponderá a doze meses de aluguel, ou, na hipótese do inciso II do art. 47, a três salários vigentes por ocasião do ajuizamento A não renúncia implica na desistência da demanda, porém ela não é dependente da concordância do réi, logo, não se aplica o disposto no art. 329, II, CPC. Se não houver possibilidade de renúncia, será hipótese de incompetência absoluta do juizado. Se houver possibilidade, o auto deverá renunciar. Caso a causa seja julgada, não haverá nulidade, apenas ineficácia parcial da decisão, conforma art. 39 da lei 9099. Ressalta-se que a incompetência só poderá ser declarada após a fase de autocomposição, pois o art. 3º, §3º admite conciliações acima do teto estabelecido. - Causas de menor complexidade: aquelas que possam ser instruídas pelo sistema adotado pelo juizado e que é marcado pela oralidade e informalidade. Por exemplo, a ação de homologação de acordo extrajudicial (art. 57). Afirma Rocha (2017, s.p.): [...] está em sintonia com os preceitos tradicionalmente considerados para definir as causas de natureza patrimonial, com reduzido campo probatório e pouca repercussão fora da órbita privada das partes. A exceção fica por conta da ação de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio (art. 275, II, b, do CPC/1973). Esta hipótese, apesar de se enquadrar no conceito de menor complexidade, esbarra na exigência de que o autor tenha personalidade jurídica própria (art. 8º, § 1º). Importante frisar que, em nossa visão, somente as causas expressamente previstas no corpo do inciso II do art. 275 do CPC/1973 é que podem ser propostas nos Juizados Especiais. O art. 275, CPC continua em vigor para fins de definição de competência dos juizados, conforme expressamente dispôs o CPC: Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, inciso II, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Caso proponha a ação de despejo para uso próprio, não poderá cumular com o pedido de cobrança dos valores em atraso, poishá limitação expressa de que o despejo se dê por necessidade de utilização do imóvel. - pequenas causas de menor complexidade: é o caso das ações possessórias em que o valor dos bens imóveis não supere a 40 salários. Ou seja, une-se o critério do valor e da matéria (posse). Porém, seguirá o sito da lei 9099/1995 (sem liminar), embora passível da utilização das disposições gerais que sejam compatíveis: como a fungibilidade entre os procedimentos possessórios, a cumulação de pedido e a proibição de discutir-se o domínio. 2.2 Critério territorial: o artigo 4º traz hipóteses de competência territorial. Assinala Rocha (2017, s. p.): a)o domicílio do réu (inciso I); b)o local onde a obrigação deva ser satisfeita (inciso II); c)o domicílio do autor ou do local do ato ou fato nos casos de indenização de qualquer natureza (inciso III). - Domicílio do réu: há uma ampliação comparado ao CPC, que “ a regra do domicílio do réu somente pode ser aplicada nas ações pessoais ou reais sobre bens móveis” (ROCHA, 2017). Há possibilidade, inclusive, de demandar na localidade de referência onde exerce a atividade profissional ou econômica, ainda que não esteja relacionada ao objeto da ação. O local de processar ações possessórias de bens imóveis (competência territorial absoluta) é o local onde encontra-se o imóvel, art. 47, do CPC, como ficaria a regra geral trazida pela lei 9099? É normal especial e pode prevalecer. Aplica-se, para todos efeitos e de modo subsidiário, o disposto pelo art. 46, §§1º, 2º e 3º do CPC: Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. - Local onde a obrigação deve ser cumprida: é idêntico ao dispositivo 53, III, d do CPC, observadas as limitações do art. 62, CPC. Se puder se cumprida em mais de um foro e ser passível de escolha do autor, ele poderá ajuizar em qualquer uma das localidades. Se a escolha couber ao devedor, a regra será o domicílio do réu se não quiser instá-lo a se manifestar. - Foro de eleição: a maioria da doutrina entende que a competência territorial nos juizados é absoluta e não seria adequada a adoção do foro de eleição. Dispõe o art. 63, CPC: Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. § 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. § 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. Para Rocha (2017), mesmo no juizado a competência territorial é relativa. - as ações de indenização, o domicílio do autor ou o local onde ocorreu o fato danoso: essa é a regra é ampliada, se comparada ao disposto pelo CPC. No CPC, a competência será do lugar do fato, ressalvada a hipótese trazida pelo art. 53, V, CPC: Art. 53. É competente o foro: V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. No Juizado, todas as ações indenizatórias poderão ser ajuizadas no domicílio do autor ou do fato danoso. Em caso de violação, Rocha faz uma importante distinção: Na disciplina estabelecida pelo CPC, a incompetência territorial é tida, na maioria das vezes, como relativa (art. 63 do CPC), ou seja, passível de convalidação se não impugnada em momento oportuno pelas partes (art. 65 do CPC) e insucessível de declaração ex officio pelo juiz (Súmula 33 do STJ). Somente em casos excepcionais, quando fixada por critérios de ordem pública, é que a incompetência territorial gera a nulidade absoluta, como ocorre, por exemplo, no art. 47 do CPC (forum rei sitae), insuscetível de prorrogação. Nos Juizados Especiais, entretanto, o reconhecimento da incompetência territorial provoca o encerramento do procedimento sem resolução do mérito (art. 51, III). Por conta de tal regra, a porção majoritária da doutrina e jurisprudência tem defendido que a incompetência territorial gera nulidade absoluta, passível de reconhecimento de ofício, em qualquer tempo ou grau de jurisdição. Para Rocha, contudo, o art. 4º, p.u.., reconheceu a natureza dispositiva das regras de fixação de competência territorial em razão da expressão “a critério do autor”, logo, somente seria possível seu reconhecimento por meio de alegação da ré, sob pena de restar preclusa. Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro: I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório; Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo. Neste sentido, se não fosse alegada na contestação, a competência se prorrogaria. 2.3 Critério Funcional: como ressalta Rocha (2017, s. p.): “serve para disciplinar a distribuição de funções que devem ser exercidas num mesmo processo entre juízos diferentes (tanto no plano horizontal, como vertical) ou para estabelecer a competência decorrente de procedimentos que possuam vínculo jurídico”. E ainda complementa: a)a fixação no Juizado da competência para execução dos seus próprios julgados (arts. 3º, § 1º, II, e 52); b)a fixação da competência para julgamento do “recurso inominado” pelas Turmas Recursais (art. 41). 2.4 Nas hipóteses de conexão e continência, se estiverem no mesmo segmento do poder judiciário, serão agrupadas junto ao juízo considerado prevento (art. 59, CPC). Se estiverem em Estados diferentes, não será admitida a reunião. Se for nos Juizados e nas varas comuns, serão reunidas na vara comum. Rocha critica, dizendo que não é possível “se deslocar as ações propostas nos Juizados para outro juízo”, pois a competência dos juizados tem fundamento constitucional e lá podem atuar inclusive sem advogado. Recomendando-se a suspensão até que seja proferida a decisão que tramita junto ao Juizado. A reunião só poderá ocorrer até que a sentença seja prolatada, conforme Súmula 235 do STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”. 2.5 Diversidade de causas fundada no mesmo fato: é possível que ocorra a reunião por conexão e a parte não tenha que renunciar o valor que supere 40 salários, pois são “ações autônomas, postulando obrigações autônomas” (ROCHA, 2017, s.p.). Mas não é possível fracionar uma mesma obrigação para respeitar o teto dos 40 salários mínimos. 2.6 Ações coletivas: embora aparente ser possível o ajuizamento de ações coletivas no âmbito dos juizados, Rocha defende ser inviável, pois demandam um procedimento especial e dilatado, admitindo a habilitação nos polos da demanda, concessão de liminares, entre outros atos, inclusive, limitadas ao teto de 40 salários mínimos. 2.7 Acordo referendado pelo Ministério Público: o art.57, p.u. da Lei 9099, dispõe: Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poderá ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a sentença como título executivo judicial. Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o acordo celebrado pelas partes, por instrumento escrito, referendado pelo órgão competente do Ministério Público. O art. 784, IV, por sua vez dispõe que: Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; Rocha sustenta uma interpretação mais ampla e em consonância com o CPC, afirmando que: “. Por ser dotado de maior carga de eficácia, o dispositivo do parágrafo único do art. 57 deve ser lido em consonância com a regra prevista no CPC, para se concluir que nos Juizados o acordo celebrado pelas partes e referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal é título executivo” (ROCHA, 2017, s.p.). 2.8 Conflito de competência: por falta de regra específica, seguirá a mesma para os demais órgãos judiciais, ou seja, “conflito de competência entre dois Juizados, entre um Juizado e uma Vara, entre um Juizado e uma Turma Recursal, entre duas Turmas Recursais e entre uma Turma Recursal e uma Vara, todos da mesma região, deveria ser resolvido no Tribunal de Justiça. Até mesmo o conflito de competência entre um Juizado ou uma Turma e o Tribunal de Justiça também deveria ser julgado por este último” (ROCHA, 2017, s.p.). O STJ já editou a súmula 428 no sentido de que: “compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária”. Na prática, conflito entre juizados do mesmo poder judiciário são julgados pelas suas turmas recursais, contrariando ao disposto pela lei complementar 35/1979 (lei orgânica da magistratura). Art. 101 - Os Tribunais compor-se-ão de Câmaras ou Turmas, especializadas ou agrupadas em Seções especializadas. A composição e competência das Câmaras ou Turmas serão fixadas na lei e no Regimento Interno. § 3º - A cada uma das Seções caberá processar e julgar: b) os conflitos de jurisdição relativamente às matérias das respectivas áreas de especialização; Além disto, o STF já decidiu que na hipótese de conflito entre juizado e vara pertencente ao mesmo segmento do poder judiciário (mesmo tribunal), caberia ao STJ resolver a questão. Contudo, para Rocha trata-se de um equívoco do STF, pois “os Juizados Especiais (tanto o Juizado, como a Turma Recursal) estão instalados na primeira instância do Poder Judiciário Estadual e Distrital, o locus adequado para a definição sobre os conflitos de competência é o Tribunal de Justiça. Somente na hipótese de o Juizado ou a Turma Recursal estar em conflito com um órgão de outra região ou de outra Justiça (em sentido estrito) é que a questão seria decidida pelo STJ, nos termos do art. 105, I, d, da CF” (ROCHA, 2017, s. p.). Referência: ROCHA, Felippe Borring Manual dos juizados especiais cíveis estaduais: teoria e prática 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017, e-book.
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