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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
RESENHA: “Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão” – Ray Pereira
Disciplina: Psicologia Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais
Profa.: Regina Cláudia Barroso Cavalcante
Aluna: Carolina Pedroza Barros
O autor Ray Pereira inicia seu texto fazendo uma reflexão sobre as designações adotadas para se referir a pessoas com algum tipo de deficiência, apontando que esses termos, ao serem usadas para denominar qualquer diferença funcional, são “impróprios, inadequados e, não raro, pejorativos.” Defende o uso do termo “diferença funcional” em detrimento de termos que evoquem sentido de ineficiência e incapacidade, como os que geralmente são empregados e que trazem em si uma série de aspectos negativos e discriminatórios.
Aponta também que as terminologias acabam responsabilizando essa pessoa pela sua condição e isentando a sociedade de qualquer tipo de responsabilidade. Entretanto, de acordo com Omote (1994), a sociedade atribui a alguns tipos de deficiência “alguma significação de desvantagem e de descrédito social”, de forma que fica evidente que ela não está à parte do processo de construção do conceito de deficiência (ou, como Pereira prefere denominar, diferença funcional):
Em vez de circunscrever a deficiência nos limites corporais da pessoa deficiente, é necessário incluir as reações de outras pessoas como parte integrante crucial do fenômeno, pois são essas reações que, em última instância, definem alguém como deficiente ou não-deficiente. (OMOTE, 1994)
A proposição da terminologia diferença funcional vem, dessa forma, para operar uma mudança na forma de enxergar essas pessoas que costumeiramente são vistas como deficientes. “Aplicado o modelo ao coletivo – e considerando que as deficiências são muitas e diferentes entre si –, pessoas com deficiência são, portanto, pessoas com diversidade funcional, ou seja, que funcionam de forma diferente.” (PEREIRA, 2009). Ainda, Omote (1994) assinala que nenhuma diferença carregar a priori caráter de vantagem ou desvantagem, tudo depende das relações do portador com os outros e com o seu contexto.
Em seguida, o autor faz um apanhado histórico mostrando como lidava-se com a deficiência desde a Antiguidade. O mais comum era a exclusão desse indivíduo, ele era visto como “um empecilho, um peso morto, fato que o leva a ser relegado, abandonado”, situação que vemos ainda nos dias atuais, em que as pessoas que são diferentes funcionalmente são constantemente alvo de preconceitos e estigmas, além de estarem constantemente submetidas a situações em que são segregadas da dinâmica social, sendo responsabilizadas pelas suas diferenças e obrigadas a se adaptar “a uma sociedade que, de fato, foi construída para atender àqueles que correspondem ao padrão de normalidade.” (PEREIRA, 2009)
Pereira enfatiza ainda como as instituições de caridade reforçaram a visão de inferioridade dessas pessoas diferentes funcionalmente, de forma a perpetuar estigmas e fortalecer o preconceito e a discriminação, pois definia essas pessoas como “sujeitos de caridade alheia”. Além disso, a Revolução Industrial e o homem sendo valorizado por aquilo que conseguia produzir foram fatos decisivos para fortalecer a visão incapacidade das pessoas com diferenças funcionais, promovendo ainda mais exclusão. Posteriormente começaram a ser criadas instituições que tinham como intuito normalizar essas pessoas, não promovendo ou estimulando qualquer possibilidade de autonomia, de forma que muitas ficavam dependentes das instituições. “Submetidos a esse modelo, os sujeitos são homogeneizados, infantilizados e, ao mesmo tempo, naturalizados, valendo-se de representações sobre aquilo que estaria faltando em seus corpos, suas mentes e suas linguagens.” (PEREIRA, 2009)
Em 1979 surgiu um movimento no Brasil organizado pelas próprias pessoas com diferenças funcionais, não havendo interferência de técnicos ou especialistas, possibilitando que essas pessoas pudessem ser vistas como sujeitos e não apenas como portadores de uma condição. Fica claro, dessa forma, como é importante que haja diálogo com essas pessoas, que elas possam comunicar o que precisam e o que desejam, não sendo eficaz impor métodos e técnicas de inclusão social sem que essas pessoas possam opinar sobre tais políticas públicas, afinal é para elas que isso é feito.
REFERÊNCIAS
PEREIRA, Ray. Differently abled: difference and the historical model of the standard man. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 16, n. 3, p. 715-728, 2009.
OMOTE, Sadao. Deficiência e não-deficiência: recortes do mesmo tecido. Revista brasileira de educação especial, v. 1, n. 2, p. 65-73, 1994.

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