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MÓDULO I - ORGANIZANDO A ORGANIZAÇÃO 1. Organizando as organizações Amitai Etzioni, considerado um dos criadores da Teoria Estruturalista, já escrevia na década de 1960 que “nascemos, somos educados, trabalhamos, nos divertimos e morremos em organizações”, dando a devida dimensão da importância das organizações para a existência do ser humano. Nesse sentido é que se insere a disciplina Estruturas Organizacionais, que tem por objetivo básico responder à seguinte pergunta: Como fazer a ORGANIZAÇÃO da ORGANIZAÇÃO? De um lado, podemos considerar a ORGANIZAÇÃO como uma entidade social, na qual pessoas e recursos diversos se agrupam a fim de atingir objetivos específicos. A empresa na qual trabalhamos, por exemplo, dá a idéia de um local físico, concreto, estabelecido. Por outro lado, também é válido considerar a ORGANIZAÇÃO como uma das funções administrativas, encarregada de dar forma ao trabalho, ou seja, o seu projeto organizacional, de maneira que essas pessoas e recursos consigam os melhores resultados possíveis. Embora distintas, as duas definições encontram-se estreitamente ligadas. Existe uma diversidade de setores, áreas de atuação, características, que diferenciam as empresas umas das outras. Por exemplo, uma indústria de transformação, que produz bens, precisa transformar insumos como matérias primas, energia, tecnologias diversas em produtos, utilizando instalações, maquinário e trabalho especializado. Já em um comércio de varejo, muitas vezes encontra-se uma estrutura bastante enxuta, bastando um espaço para a apresentação dos produtos, um local de estocagem e alguns poucos vendedores. A situação pode ser ainda mais distinta se essencialmente não existir um bem material envolvido. Uma empresa de consultoria presta serviços e pode executar vários projetos ao mesmo tempo, compartilhando os seus especialistas. Na mesma linha, uma universidade oferece diversos campos e áreas de atuação, mas oferecendo basicamente conhecimento e formação. Ao considerarmos os exemplos de organizações acima, encontramos diferenças de tal porte que é inconcebível que possam ter as mesmas soluções administrativas. Para cada situação específica, deve-se orientar o projeto de estrutura organizacional, que leve à obtenção de resultados mais satisfatórios, tentando obter o máximo em ganhos de eficiência e eficácia, ou seja, a excelência no desempenho. Exercício: Das atividades listadas abaixo, qual não se encaixa na definição de “organização como entidade social”? a) Indústria metalúrgica b) Comércio de alimentos orgânicos c) Escola de inglês d) Artesanato individual e) Escritório de contabilidade Alternativa correta: “d” I.2. A ORGANIZAÇÃO COMO ENTIDADE SOCIAL Como comentado no item anterior, as organizações podem assumir atividades e configurações bastante distintas. Assim, como podemos defini-las? Existem diversas definições, mas para este texto utilizamos a definição de Richard Daft: “Organizações são entidades sociais, orientadas por metas, projetadas como sistemas de atividades deliberadamente estruturados e coordenados e ligados ao ambiente externo”. São entidades sociais porque é resultado de um agrupamento social, pela necessidade de se atingir metas que não seriam alcançadas a partir de esforços individuais. São sistemas de atividades porque os recursos precisam ser convenientemente alocados e as atividades dos diversos atores coordenadas, visando a obtenção de sinergia e flexibilidade. E a ligação com o ambiente externo é essencial, já que são inevitáveis as interações e influência mútua entre as organizações e o ambiente em constante mudança. As organizações estão cada vez mais redefinindo o conceito de fronteira que, em vez de claramente definida, se torna mais tênue e difusa. Fig.1 – Zona de influência entre empresa e ambiente externo Um exemplo dessa fronteira tênue é dado pela relação entre as montadoras de automóveis e suas fornecedoras. O desenvolvimento de componentes é assumido em grande parte pelas empresas parceiras, reduzindo os ciclos de desenvolvimento e lançamento de produtos, mas perdendo-se em controle. talvez essa seja a explicação para o número recorde de recalls de automóveis no ano de 2010. Veja a notícia completa no Portal de Notícias G1: http://g1.globo.com/carros/noticia/2010/10/numero-de-recalls-no-brasil-supera-recorde-registrado-no-ano-passado.html. Exercício: A importância das organizações inclui todos os seguintes conceitos, exceto: a) Criar valor para acionistas, clientes e empregados b) Estabelecer importantes relacionamentos com o governo c) Facilitar a inovação d) Reunir recursos para atingir metas e retornos desejados e) Permite definir metas mais desafiadoras Alternativa correta: “b” I.3. A ORGANIZAÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO Aquela velha organização estática, previsível, fechada e tentando solucionar seus próprios problemas, deixou de existir há muito tempo. Os administradores encontram novos desafios na função, ligados ao extremo dinamismo da vida moderna e às possibilidades de integração que a tecnologia oferece. Griffin apresenta uma interessante perspectiva dos novos desafios e suas conseqüências: (GRIFFIN, R.W.Introdução à administração. São Paulo: Ática, 2007): o Economia instável Como planejar em um ambiente econômico tão instável quanto nos deparamos hoje em dia? A euforia foi rapidamente substituída por desespero na crise de 2007-2008. o Globalização Efetivamente oferece-nos uma possibilidade de expansão do mercado para uma escala mundial, mas ao mesmo tempo podemos encarar uma competição mais acirrada. Outro ponto importante diz respeito à necessidade de se lidar com diferenças culturais e comportamentais, o que pode dificultar tentativas de se padronizar a administração. É emblemático observar os choques culturais que aconteceram na fusão entre a Chrysler e a Daimler-Benz e que resultou em um grande fracasso. o Diversidade Se no início da administração procurava-se a padronização como condição essencial à produtividade, hoje pensamos em diversificação para atender aos diversos públicos ou mesmo em personalização do bem ou serviço. É só observar as gritantes diferenças entre o Ford T (“pode comprar de qualquer cor, desde que seja preto”) e os pedidos individualizados dos computadores Dell. o Tecnologias É crescente a importância das diversas tecnologias como instrumento para o incremento da competitividade. Em contrapartida, é também crescente a necessidade de investimentos, limitando a concorrência. A tecnologia da informação, a microeletrônica, a nanotecnologia são exemplos de áreas que direcionam as pesquisas e os novos rumos das empresas. o Trabalho O trabalho regular, com horário fixo, passa por transformações. Termos como flexibilização, trabalho remoto, terceirizações, quarteirizações e muitas outras ditam novas condições, possibilidades e desafios para os trabalhadores. o Qualidade Ela ressurge não mais como finalidade maior das organizações, como colocado nas décadas de 1980/1990, mas sim como mais um fator de competitividade, ligada diretamente com as decisões de consumo, pela valorização dos produtos. Mas internamente também possui influência importante como elemento essencial para o aumento de produtividade e redução de custos. o Setor de serviços Atualmente representa a maior parcela das economias mais desenvolvidas ao redor do mundo. Com o aumento da automação e a conseqüente substituição crescente da mão de obra industrial, esta tem como principal destino a prestação de serviços. Considerando que as abordagens administrativas tiveram historicamente um cunho industrial, é necessário o desenvolvimento de novas soluções gerenciais, mais específicas à administração de serviços. o Governança corporativa e responsabilidade corporativa Novamente aqui nos deparamoscom uma nova condição da sociedade. Com o intenso processo de financeirização das economias mundiais, busca-se a valorização das organizações através das condições de imagem e retorno aos acionistas e proprietários. O valor das ações é mandatório. Nesse sentido, boas práticas de governança e atitudes sociais responsáveis são ingredientes fundamentais para o sucesso dos empreendimentos. Resumindo, podemos aproveitar o trabalho de Stephen P. Robbins (2002), que apresenta um quadro resumo comparando a “velha” e a “nova” organização: Velha Organização Nova Organização Fronteiras nacionais limitam a competição As fronteiras nacionais são quase insignificantes na definição dos limites de operação de uma organização Empregos estáveis Cargos temporários Mão-de-obra relativamente homogênea Mão-de-obra diversificada A qualidade é uma reflexão tardia O aprimoramento contínuo e a satisfação do cliente são essenciais As grandes corporações fornecem segurança no emprego As grandes corporações estão reduzindo drasticamente o número de funcionários Se não quebrou, não conserte Redesenhe todos os processos Disperse os riscos pela participação em múltiplos negócios Concentre-se em competências centrais A hierarquia proporciona eficiência e controle Desmantele a hierarquia para aumentar a flexibilidade Jornadas de trabalho definidas, como de 9 às 18h Os expedientes não possuem nenhum limite de tempo O trabalho é definido pelos cargos O trabalho é definido em termos das tarefas a serem realizadas O pagamento é estável e relacionado ao tempo de serviço e nível do cargo O pagamento é flexível e de ampla faixa Os gerentes tomam decisões sozinhos Os funcionários participam das decisões A tomada de decisão é motivada pelo utilitarismo Os critérios de decisão são ampliados para incluir direitos e justiça Quadro 2.1 – A organização em transformação (adaptado de ROBBINS, S.P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2002) Exercício: Analise a empresa na qual trabalha (ou trabalhou) seguindo os critérios de Robbins, completando a tabela abaixo. Você diria que ela está organizada de forma mais tradicional ou moderna? Critério Sua Organização Fronteira Estabilidade Mão-de-obra Qualidade Downsizing Processos Diversificação Hierarquia Jornada de trabalho Conteúdo do trabalho Pagamento Participação Tomada de decisões Padrão de resposta: Efetivamente não existe um padrão que possa ser utilizado. O resultado do exercício é qualitativo: sua empresa está mais para tradicional ou para moderna? I.4. O HOMEM FLEXÍVEL A mudança nas organizações vem acompanhada por modificações ou redefinições no perfil da mão de obra. Robbins apresenta algumas dessas modificações (ROBBINS, S.P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2002). o Classes de força de trabalho Os empregos industriais, devido à automação, estão sendo suprimidos e o excedente redirecionado a outros setores. Sai de cena a estabilidade, entra a flexibilidade. É altamente indicada a leitura do artigo Mercado de trabalho: evolução recente e perspectivas, de Passos, Ansiliero & Paiva, disponível em http://www.ipea.gov.br/pub/bcmt/mt_26h.pdf. o Rotatividade Existem profundas mudanças nas relações empregado-empresa. As empresas mantêm os trabalhadores enquanto estes adicionam valor às operações. Em contrapartida, os trabalhadores permanecem enquanto enxergam desafios e retornos condizentes à contribuição oferecida à empresa. o Carreira Não existe lógica em investir em um trabalhador que tem um futuro incerto na empresa. Assim, a responsabilidade pela administração da carreira está a cargo do próprio trabalhador. o Equipes Ao invés de seguir normas e procedimentos individuais, o trabalho em equipe visa o aumento do rendimento através do aproveitamento de sinergias, mas que exigem o desenvolvimento de novas habilidades e competências. o Estresse A intensa aceleração das mudanças na sociedade têm importante conseqüência para as nossas vidas. Se por um lado evita-se uma possível monotonia, por outro pode trazer consigo preocupação e estresse. Redução de quadros, pressão por resultados, insegurança, são alguns desses componentes. Robbins (op.cit.) sumariza algumas dessas mudanças: O funcionário O colaborador Cargos industriais eram de baixa qualificação, mas bem remunerados Cargos de baixa qualificação são mal pagos Troca a sua lealdade à empresa por segurança no emprego. A segurança no emprego é mínima A organização é responsável pelo desenvolvimento da carreira O funcionário é responsável pelo desenvolvimento da carreira É um realizador individual É um participante de equipe A previsibilidade e a estabilidade minimizam o stress A imprevisibilidade e a instabilidade aumentam o stress Quadro 2.2 – Mudança no perfil do funcionário (adaptado de Robbins (2002)) Exercício: Analise a sua função (atual ou anterior) seguindo os critérios de Robbins, completando a tabela abaixo. Você está mais para funcionário ou para colaborador? Critério Você Qualificação e remuneração Segurança Carreira Equipe Estresse Padrão de resposta: Efetivamente não existe um padrão que possa ser utilizado. O resultado do exercício é qualitativo: você é um funcionário ou um colaborador? EXERCÍCIOS DE REVISÃO 1) Responda FALSO ou VERDADEIRO a. Um elemento chave de uma organização é a definição de um conjunto de políticas e procedimentos, não as pessoas ou seus relacionamentos. b. As organizações precisam estabelecer meios para se protegerem do ambiente externo, evitando serem influenciadas pelo que acontece fora de seus limites. c. A melhor maneira de uma organização lidar com as mudanças ambientais é seguir os ensinamentos de Ford, padronizando ao máximo os produtos. Respostas: a.) F; b.) F; c.) F
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