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O Complexo de Castração e Seus Aspectos Comuns no Menino e na Menina Rodrigo Diniz

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O Complexo de Castração e Seus Aspectos Comuns no 
Menino e na Menina 
 
Rodrigo Diniz 
 
 
Resumo 
O complexo de castração é um dos principais conceitos da 
Psicanálise, descrito pela primeira vez em 1908, por Sigmund 
Freud. Este estudo trata de uma pesquisa, através de, 
principalmente, alguns de seus trabalhos, com o propósito de 
apresentar os principais acontecimentos desta experiência no 
desenvolvimento psicossexual infantil do menino e da menina e os 
aspectos em comum no que se refere à experiência de castração 
entre ambos os sexos. A universalidade do pênis e o papel da mãe 
como principal personagem até a castração se mostraram dois 
aspectos fundamentalmente comuns. Junto a estes, o autor propõe 
a adição de mais um traço em comum entre os sexos em relação a 
esta experiência: A importância da percepção da “mãe castrada” na 
experiência de castração. 
 
Palavras-Chave: complexo de castração, aspectos em comum, 
menino, menina, universalidade do pênis, falo. 
 
 
Introdução 
 
É meu propósito, no presente trabalho, apresentar um estudo sobre 
o complexo de castração a partir de alguns trabalhos de Sigmund 
Freud, dentre outros autores que abordaram este tema como uma 
experiência/etapa no desenvolvimento psicossexual infantil, 
atentando para a base, fundamentalmente na obra freudiana. 
O complexo de castração é considerado um dos principais 
conceitos da Psicanálise. Há muito já é sabido, desde a obra 
freudiana, sobre as diferenças (estrutura, efeitos, etc.) entre os 
meninos e as meninas no que se refere a sua realização. Através 
deste trabalho, contudo, não tenho pretensão de fazer um paralelo 
último, preciso e unívoco do complexo de castração entre os dois 
sexos ou apontar as diversas dessemelhanças que ocorrem entre o 
menino e a menina no que diz respeito a esta etapa, uma vez que 
estes seguem caminhos e se situam nela de formas totalmente 
diferentes, mas, trata-se de uma tentativa de identificar os aspectos 
em comum desta experiência em ambos os sexos, sendo este, o 
seu objetivo específico, ressaltando, em última instância, o objetivo 
geral de clarificar quais são os acontecimentos fundamentais 
desta experiência no menino e na menina para Freud. 
Em Lições sobre os sete conceitos cruciais de Psicanálise, Nasio 
(1997) aponta para dois únicos aspectos em comum entre o 
menino e a menina no que se refere ao complexo de castração. O 
primeiro se refere à universalidade do pênis como ponto de partida 
do complexo de castração. O segundo diz respeito à importância do 
papel da mãe como principal personagem até o momento da 
“separar-se da criança”. 
Realizarei, portanto, com base na bibliografia psicanalítica, um 
“percurso”, apontando para os principais acontecimentos do 
complexo de castração no menino e na menina, podendo confirmar 
a presença dos traços apontados por Nasio e/ou identificar outros 
aspectos em comum entre os sexos, iniciando, por algumas breves 
considerações a respeito do conceito de castração em Psicanálise. 
 
 
Conceito de Castração 
 
O complexo de castração foi descoberto/percebido por Sigmund 
Freud a partir da análise de um caso de fobia em um menino de 
cinco anos, o “Pequeno Hans”1 e descrito, pela primeira vez, em 
seu trabalho Sobre as Teorias Sexuais das Crianças (1908). De 
acordo com Nasio (1997), o conceito de “castração” não está 
relacionado com a experiência literal de mutilação dos órgãos 
sexuais masculinos, propriamente ditos. Em psicanálise, o conceito 
se refere a uma experiência psíquica, vivida pela criança (por volta 
dos cinco anos de idade) e determinante em sua futura identidade 
sexual. O aspecto essencial desta experiência leva à diferenciação 
 
1 FREUD, S. Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. 1909. In: Obras psicológicas completas. 
Ed. Standard Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. X. 
anatômica entre os sexos, vivenciada pela criança, ao preço da 
angústia, levando-a a aceitar que o mundo seja composto de 
homens e mulheres e à percepção dos limites de seu corpo. A 
experiência inconsciente da castração é incessantemente renovada 
ao longo de toda a existência e particularmente recolocada “em 
jogo” na cura analítica do paciente adulto. 
 
 
O Primado do falo 
 
Em A Organização Genital Infantil (Uma Interpolação na Teoria da 
Sexualidade), Freud (1923, p. 159-160) afirma que “o significado do 
complexo de castração só poderá ser corretamente apreciado se 
levarmos em consideração sua origem na fase da primazia fálica.” 
 
“[...] a característica principal dessa ‘organização genital infantil’ é 
sua diferença da organização genital final do adulto. Ela consiste no 
fato de, para ambos os sexos, entrar em consideração apenas um 
órgão genital, ou seja, o masculino. O que está presente, portanto, 
não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo.” 
(Id., Ibid., p.158) 
 
Portanto, Freud correlacionava o fálico à posse do pênis e o 
castrado à sua ausência, embora, de acordo com Rocha (2002), 
“pênis” e “falo” pertençam a dois registros totalmente diferentes: 
 
“O pênis é, sem dúvida, um órgão narcisicamente muito investido e, 
enquanto órgão sexual tem um papel decisivo na diferenciação 
entre o sexo masculino e o sexo feminino por ocasião da fase 
genital adulta (embora – como é sabido – masculinidade e 
feminilidade não se esgotem, de maneira alguma, nesta diferença 
de sexos). A identidade sexual do homem e da mulher, além da 
diferença orgânica dos sexos, supõe um complexo processo de 
identificações no qual estão em jogo as instâncias ideais do ego, 
ego-ideal, ideal do ego e superego. [...] O Phallus2 é da ordem dos 
símbolos.” (Id., Ibid., p. 135-136) 
 
O objeto de castração é, portanto, o falo e não o pênis. Embora 
Freud utilizasse o termo “pênis”, há muito este já se inscrevia num 
sentido simbólico e, em 1923, Freud inicia o uso do termo “falo”3 em 
A Organização Genital Infantil (Uma Interpolação na Teoria da 
Sexualidade), “inferindo” uma clivagem entre o anatômico e o 
psíquico. De acordo com Gorski (2000), “A distinção que se vê ao 
nível da percepção não se inscreve a nível psíquico. O complexo de 
castração é tomado como conseqüência da distinção 
anatômica.” 
 
 
Os Principais Acontecimentos do Complexo de Castração 
 
Freud descreveu, em seu trabalho sobre as teorias sexuais infantis, 
o ponto de partida do complexo de castração no menino e na 
menina; a ficção, da universalidade do pênis: 
 
“[...] A primeira dessas teorias deriva do desconhecimento das 
diferenças entre os sexos [...] Consiste em atribuir a todos, inclusive 
às mulheres, a posse de um pênis, tal como o menino sabe a partir 
de seu próprio corpo. É justamente na constituição sexual que 
devemos encarar como ‘normal’ que, já na infância, o pênis é a 
principal zona erógena e o mais importante objeto sexual auto-
erótico.” (Freud, 1908, p.195-196) 
 
A atribuição do pênis (tanto pelo menino, quanto pela menina) a 
todos os seres humanos assinala, então, a força da negligência da 
diferenciação dos sexos. Conforme Nasio (1997), o primeiro 
 
2 Embora o termo phallus seja correta e habitualmente traduzido, na língua portuguesa, pela palavra 
falo, o autor considerou a grafia latina, phallus, como fazem as línguas alemã, inglesa e francesa, por 
considerá-la mais expressiva para traduzir a dimensão mítica e simbólica que tem o phallus não só na 
literatura dos povos primitivos, mas também na teoria psicanalítica. 
3 FREUD, S. A organização genital infantil (Uma Interpolação na Teoria da Sexualidade). 1923. In: Obras 
psicológicas completas. Ed. Standard Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XIX, p.158. 
tempo4, para o menino, é marcado pela descoberta da realidade de 
um ser próximo que nãopossui o atributo supostamente universal – 
a mãe, a irmãzinha, etc. – fazendo fracassar a ficção e abrindo 
caminho para a angústia de um dia ficar, ele próprio, similarmente 
despossuído. O menino pensa que, se pelo menos um ser se 
revelou desprovido de pênis, não há garantias para a posse do seu 
próprio. Para a menina, não há a vagina. Assim como o menino, ela 
ignora a diferença entre os sexos e atribui ao clitóris o mesmo valor 
que o menino confere ao seu órgão. A partir desta etapa, o 
desenvolvimento psicossexual no menino e na menina segue por 
diferentes percursos com relação ao complexo de castração. 
 
 
O Complexo de Castração no Menino e na Menina 
 
A ameaça de castração incide sobre a fantasia do menino de um 
dia possuir o objeto amado, a mãe, sendo obrigado a renunciar as 
suas fantasias incestuosas, por conta da proibição de suas práticas 
auto-eróticas, como explica Freud: 
 
“A mãe do menino compreende muito bem que a excitação sexual 
dele relaciona-se com ela, mais cedo ou mais tarde reflete que não 
é correto permitir-lhe continuar. Pensa estar fazendo certo 
proibindo-lhe manipular seu órgão genital. Sua proibição tem pouco 
efeito; no máximo, ocasiona uma certa modificação em seu método 
de obter satisfação. Por fim, a mãe adota medidas mais severas; 
ameaça tirar fora dele a coisa com que a está desafiando. 
Geralmente, a fim de tornar a ameaça mais assustadora e mais 
crível, delega a execução ao pai do menino, dizendo que contará a 
este e que ele lhe cortará fora o pênis.” (Freud, 1938, p.203) 
 
Freud (1925) afirma que, para a menina, a etapa de descoberta 
visual da região genital masculina, através das observações do 
pênis grande e visível de um irmão ou colega de brincadeiras, a 
leva a reconhecê-lo como superior ao seu órgão pequeno e oculto, 
 
4 O autor esquematiza em quatro tempos o complexo de castração masculino e feminino In NASIO, J.-D. 
Lições Sobre Sete Conceitos Cruciais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p.14-21. 
o clitóris. Neste ponto, diferentemente do menino, a experiência 
visual da menina tem efeitos imediatos. Tais observações levam-na 
a admitir não possuir o verdadeiro órgão peniano, desde o início, 
por ela, invejado. Segundo Freud (1938), a menina, naturalmente, 
não receia a perda do pênis, mas, reage ao fato de não ter recebido 
um. Esta experiência ocorre, no menino, de forma gradual. De 
acordo com Nasio (1997), o menino não percebe o órgão genital 
feminino (vagina), mas, a falta do pênis. Inicialmente, o menino 
aparenta não mostrar interesse por essa falta, entretanto, sua 
experiência perceptiva (mais particularmente a visual), reativa as 
ameaças verbais anteriores. 
 
“[...] se na ocasião da ameaça ele pode recordar a aparência dos 
órgãos genitais femininos ou se pouco depois tem uma visão deles - 
de órgãos genitais, equivale a dizer, a que falta realmente essa 
parte supremamente valorizada, então ele toma a sério que ouviu e, 
caindo sob a influência do complexo de castração, experimenta o 
trauma mais sério de sua vida em início.” (Freud, op. cit., p.203) 
 
Freud (1923) havia denotado em A Organização Genital Infantil, a 
negligência do menino em conceber a falta do pênis nas meninas: 
 
“Sabemos como as crianças reagem às suas primeiras impressões 
da ausência de um pênis. Rejeitam o fato e acreditam que elas 
realmente, ainda assim, vêem um pênis. Encobrem a contradição 
entre a observação e a preconcepção dizendo-se que o pênis ainda 
é pequeno e ficará maior dentro em pouco, e depois lentamente 
chegam à conclusão emocionalmente significativa de que, afinal de 
contas, o pênis pelo menos estivera lá, antes, e fora retirado depois. 
A falta de um pênis é vista como resultado da castração e, agora, a 
criança se defronta com a tarefa de chegar a um acordo com a 
castração em relação a si própria.” (Id., Ibid., p.159) 
 
No menino, diferentemente das meninas, essa negligência perde 
força gradualmente. Conforme Nasio (1997), a despeito do corpo da 
menina, este persiste na crença de que as mulheres mais velhas e 
respeitáveis, como sua mãe, são dotadas de um pênis. Então, mais 
tarde, o menino percebe que a mãe também é desprovida do pênis, 
possibilitando, assim, o surgimento de uma angústia de castração 
(diferentemente da angústia que observamos nos pesadelos e 
medos das crianças, a angústia de castração é inconsciente, não 
sendo efetivamente sentida pelo menino). A visualização e 
percepção do corpo feminino sinalizam para a possibilidade de 
perda do órgão masculino, na medida em que despertam 
lembranças de ameaças verbais (reais ou imaginárias) proferida 
pelos pais, visando interditar suas “práticas masturbatórias”. Estas 
seriam as duas condições principais para o complexo de castração 
no menino. O menino, sob efeito da emergência da angústia de 
castração, aceita a proibição e opta por salvar seu pênis, mesmo 
tendo de renunciar a mãe como parceira sexual, encerrando-se 
assim, a fase do amor edipiano do menino e tornando-se possível a 
afirmação da identidade masculina e a capacidade de produzir seu 
próprio limite. O término do complexo de castração 
(particularmente, violento e definitivo), é para o menino, o término 
do complexo de Édipo. 
 
“Os resultados da ameaça de castração são multifários e 
incalculáveis; afetam a totalidade das relações do menino com o pai 
e a mãe e, mais tarde, com os homens e as mulheres em geral. [...] 
A fim de preservar seu órgão sexual, ele renuncia à posse da mãe 
de modo mais ou menos completo; sua vida sexual com freqüência 
fica permanentemente dificultada pela proibição.” (Freud, op.cit., p. 
203-204)5 
 
Freud (1931) afirmou que a menina, por sua vez, encara a 
castração, em um primeiro momento, como uma desgraça 
particular. Quando descobre sua deficiência (falta de um pênis), por 
perceber um órgão genital masculino, aceita este conhecimento 
com hesitação e relutância, se ancorando à expectativa de um dia 
possuir um órgão genital do mesmo tipo. Seu desejo persiste até 
muito tempo depois de sua esperança ter expirado. Mais tarde, ela 
vem a compreender que tal infortúnio se estende a algumas outras 
 
5 FREUD, S. Esboço de Psicanálise. 1938. In: Obras psicológicas completas. Ed. Standard Brasileira (ESB). 
Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XXIII. 
crianças e, finalmente, a alguns adultos (seres do sexo feminino). 
Ao tomar consciência de que as outras mulheres (dentre elas, sua 
mãe) sofrem da mesma desvantagem, esta despreza a mãe pela 
censura de não ter podido-lhe transmitir os atributos fálicos. Quando 
a menina compreende a natureza geral dessa característica, 
decorre a feminilidade, levando a menina a separar-se dela e 
escolher o pai como objeto de amor. De acordo com Freud (1938), 
se a menina persistir no desejo de transformar-se em menino 
(acreditar que um dia possuirá um pênis) acabará homossexual 
manifesta ou apresentará traços marcantemente masculinos na vida 
futura. Outro caminho ocorre através do abandono da mãe, 
colocando outra pessoa como objeto de amor – o pai. Ao perder um 
objeto de amor, a reação é identificar-se com ele, substituí-lo dentro 
de si própria. A identificação com a mãe, assim, pode ocupar o 
lugar de ligação com ela. A filha se põe no lugar da mãe nas 
brincadeiras. A menina tenta tomar o lugar da mãe, junto ao pai, 
passando a odiá-la por conta do ciúme e mortificação do pênis que 
lhe foi negado. Entretanto, a nova relação com o pai que, pode 
começar com o desejo de ter o pênis dele à disposição cede lugar 
para o desejo de ter um filho com ele, como presente. O anseio da 
menina em possuir um pênis é, na realidade, insaciável e pode 
encontrar satisfação se ela for bem sucedida em completar seu 
amor pelo órgão, estendendo-o aoseu portador. Para Nasio (1997) 
também há que se atentar, na menina, para uma terceira mudança, 
no que diz respeito aos substitutos do pênis: A mudança da zona 
erógena. Quando esta descobre a castração da mãe, o “clitóris-
pênis” perde a supremacia erógena, implicando em um 
deslocamento da libido no corpo da menina. No decorrer dos anos 
que se estendem da infância à adolescência, o clitóris, 
progressivamente, cede lugar à vagina. 
 
“É interessante que a relação entre o complexo de Édipo e o 
complexo de castração assuma forma tão diferente - uma forma 
oposta, na realidade - no caso das mulheres, quando comparada 
com a dos homens. Nos indivíduos do sexo masculino, como vimos, 
a ameaça de castração dá fim ao complexo de Édipo; nas 
mulheres, descobrimos que, ao contrário, é a falta de um pênis que 
as impele ao seu complexo de Édipo. Pouco prejuízo é causado a 
uma mulher se ela permanece em sua atitude edipiana feminina.” 
(Freud, op.cit., p. 207) 
 
 
Conclusão 
 
Concluindo, através deste trabalho, na tentativa de, ao menos, 
“esclarecer”, com base na perspectiva freudiana, como o complexo 
de castração, um dos principais conceitos da Psicanálise, ocorre no 
menino e na menina, também foi possível identificar a presença de 
aspectos comuns no desenvolvimento psicossexual dos dois sexos, 
no que diz respeito a esta etapa. 
O primeiro aspecto que se mostrou fundamental em ambos os 
sexos se refere à ficção da universalidade do pênis, enquanto uma 
teoria infantil que precede o complexo de castração. A segunda 
característica refere-se à importância do papel da mãe até o 
momento em que o menino se separa dela com angústia e a 
menina com ódio. A mãe continua sendo o personagem principal 
até o momento em que é descoberta como castrada por ambos os 
sexos. 
Os aspectos apontados por Nasio (1997) em Lições sobre os sete 
conceitos cruciais de Psicanálise foram logo percebidos na obra 
freudiana. O primeiro aspecto é descrito por Freud como a primeira 
e talvez principal teoria infantil em seu trabalho Sobre as Teorias 
Sexuais das Crianças, de 1908. A segunda característica comum 
pôde ser identificada em praticamente toda a obra freudiana 
relacionada ao complexo de castração, mas, mais clarificada em 
Esboço de Psicanálise, de 1938 (no que se refere a ambos os 
sexos) e em Sexualidade Feminina, de 1931, no qual este 
“movimento de separação da mãe” é mais explorado com relação 
às meninas. 
Junto a estes aspectos, proponho a adição de um possível outro 
traço em comum entre os sexos com relação ao complexo de 
castração, sujeito a um trabalho mais profundamente embasado e 
relacionando-se novamente com a importância do papel da mãe na 
perspectiva do complexo de castração como conseqüência da 
distinção anatômica, refere-se ao “choque” que a experiência 
perceptiva (mais particularmente visual) da mãe como um ser 
castrado impõe ao desenvolvimento psicossexual dos meninos e 
meninas e, principalmente, sua importância e implicações 
específicas no complexo de castração. A “experiência de 
percepção” (perceber/ver o órgão ou sua falta) se mostra relevante 
para o complexo de castração nos trabalhos de Freud, 
principalmente nos já citados Sexualidade Feminina (1931) e 
Esboço de Psicanálise (1938), no que abordam a percepção da 
mãe castrada pelo menino e pela menina, como em alguns outros 
trabalhos que os precedem, a saber: A Organização Genital Infantil 
(Uma Interpolação na Teoria da Sexualidade), de 1923, mais 
significativamente relacionado à experiência perceptiva e gradual 
dos “seres castrados (meninas)” pelos meninos e Algumas 
Conseqüências Psíquicas da Distinção Entre os Sexos, de 1925, 
abordando a percepção da “superioridade peniana de alguns seres 
(meninos)” pelas meninas. 
Notavelmente, esta experiência ocorre de diferentes maneiras para 
o menino e para a menina, porém, constitui-se um fator crucial na 
transição entre a negligência de diferenciação dos sexos e a 
emergência da angústia de castração, renúncia ao amor edípico, 
masculinidade no menino e o ódio pela mãe, mudança de parceiro 
amado, zona erógena e, por fim, objeto desejado, possibilitando a 
feminilidade na menina. 
À guisa da metáfora, poderíamos numa brincadeira, pensar que se 
todo este percurso, desde a teoria infantil da universalidade do 
pênis (onde não há ausência/castração do objeto fálico) até a 
masculinidade e feminilidade fosse o script6 de um filme, a 
descoberta da mãe castrada poderia ser um dos principais 
elementos de seu plot-point7 (ponto de virada). 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
6 Roteiro de cinema. 
7 O “plot-point” (ponto de virada) é um termo técnico utilizado na composição de roteiros 
cinematográficos. É descrito por Syd Field como “um incidente, ou evento, que ‘engancha’ na ação e 
reverte em outra direção” no capítulo “O Ponto de Virada (Plot Point)” in “Manual do Roteiro” – Ed. 
Objetiva, 1995. 
 FREUD, S. Sobre as teorias sexuais das crianças. 1908. In: 
Obras psicológicas completas. Ed. Standard Brasileira (ESB). Rio 
de Janeiro: Imago, 1996, v. IX. 
 
 _________ Análise de uma fobia em um menino de cinco 
anos. 1909. In: Obras psicológicas completas. Ed. Standard 
Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. X. 
 
 _________ A organização genital infantil (Uma Interpolação 
na Teoria da Sexualidade). 1923. In: Obras psicológicas completas. 
Ed. Standard Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XIX. 
 
 _________ Algumas conseqüências psíquicas da distinção 
entre os sexos. 1925. In: Obras psicológicas completas. Ed. 
Standard Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XIX. 
 
 _________ Sexualidade feminina. 1931. In: Obras 
psicológicas completas. Ed. Standard Brasileira (ESB). Rio de 
Janeiro: Imago, 1996, v. XXI. 
 
 _________ Esboço de Psicanálise. 1938. In: Obras 
psicológicas completas. Ed. Standard Brasileira (ESB). Rio de 
Janeiro: Imago, 1996, v. XXIII. 
 
 GORSKI, G. (2000). Algumas considerações sobre o 
complexo de Édipo em Freud e Lacan. Disponível em 
http://www.psiconica.com/psimed. Acessado em: 15/07/11. 
 
 NASIO, J.-D. Lições Sobre Sete Conceitos Cruciais da 
Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 
 
 ROCHA, Z. “Feminilidade e castração seus impasses no 
discurso freudiano sobre a sexualidade Feminina” (Revista 
Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. V, núm. 1, 
março, 2002, pp. 128-151). Associação Universitária de Pesquisa 
em Psicopatologia Fundamental. São Paulo, Brasil.

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