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AULA 2 Decisões de financiamento: uso de capital de terceiros Autora: Renata Ferreira Caro(a) aluno(a), Um gestor financeiro, além das decisões sobre os projetos de investimento de uma empresa, deve se preocupar com os recursos necessários para propiciar tais investimentos. Brealey et al. (2002) afirmam que as decisões de financiamento são mais complicadas do que as decisões de investimento. E são mesmo! O mercado financeiro, seja ele bancário ou de capitais, apresenta diversas formas de se obter recursos, mas é difícil um financiamento barato e de longo prazo, especialmente no Brasil, que as linhas de financiamento de longo prazo são escassas. As grandes empresas ainda conseguem recursos no mercado internacional e possuem estrutura para participar do mercado de capitais. Os pequenos empresários têm menos opções, ficando restritos basicamente ao mercado bancário, e se deparam com taxas mais altas. Em se tratando de taxas, no Brasil o custo de capital ainda é elevado se comparado aos países desenvolvidos e a outros países emergentes, o que afeta negativamente a competitividade das empresas no mercado global e interfere no sucesso dos negócios. “O sucesso de uma empresa depende muito do custo que ela incorre para financiar seus projetos” (LEMES JUNIOR, 2010). GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 28 Este custo é, portanto, o padrão financeiro para a avaliação dos projetos de investimento das empresas e é determinado conforme sua estrutura de capital, ou seja, conforme a distribuição dos recursos captados. Assim, a determinação do custo de capital de uma empresa depende das suas escolhas quanto às fontes de financiamento. O objetivo desta unidade é descrever as características básicas e o custo das fontes de financiamento com capital de terceiros para as empresas brasileiras (empréstimos, financiamentos e títulos), fontes estas que afetam o endividamento da empresa. Vamos lá? 1. FONTES DE FINANCIAMENTO EMPRESARIAL Existem várias fontes de financiamento disponíveis para uma empresa. De forma simplificada, elas podem ser divididas em fontes externas e internas, conforme ilustra a figura a seguir. Fontes de Recursos para Financiamento Empresarial Fonte: Baseado em Cavalcante (2005). As fontes internas são aquelas nas quais os recursos são gerados no curso normal das operações da empresa e podem ser divididas em capital de terceiros e recursos próprios. As fontes internas de recursos próprios são formadas pelos lucros retidos e também são denominadas de autofinanciamento. Depois de deduzidos os dividendos do lucro líquido, os fundos remanescentes são geralmente reinvestidos na empresa. Os lucros retidos são registrados no Balanço Patrimonial, nas contas de Reservas de Lucros ou de Lucros Acumulados. Não existem custos de colocação associados aos lucros retidos, entretanto, como toda fonte de financiamento, devemos considerar um custo pela sua utilização. Como os lucros retidos são considerados substitutos da emissão de ações, o custo de financiamento dos lucros retidos é o mesmo da emissão de novas ações. Além disso, quando os lucros são retidos, em vez de terem sido usados para pagar dividendos, os acionistas consideram que estes fundos retidos devem render à taxa de retorno exigida pelo mercado sobre as ações, por isso consideraremos que as duas fontes (ações e lucros retidos) possuem o mesmo custo de capital. AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 29 As fontes internas de recursos de terceiros correspondem às diversas obrigações decorrentes das atividades operacionais da empresa, tais como: salários, impostos, contas a pagar etc. (ATHAR, 2014). Braga (1995) ressalta alguns aspectos: » os créditos dos empregos, diretores e acionistas representam recursos de terceiros, pois se deve separar a empresa das pessoas que nela trabalham ou detenham participação societária; » a partir do fato gerador e durante o prazo concedido para pagamento ou recolhimento, os impostos, as contribuições, as contas e os outros compromissos são considerados recursos de terceiros. As fontes externas de recursos próprios correspondem à subscrição e integralização de aumentos de capital, que para as empresas de capital aberto ocorre através do lançamento de novas ações no mercado. Discutiremos em outra unidade as características desta fonte de financiamento e o seu custo. Já “[...] as fontes externas de recursos de terceiros podem ser geradas espontaneamente, como o crédito concedido pelos fornecedores e os adiantamentos de clientes relativos a bens e serviços encomendados.”(ROCHA, 2003, p. 94). Essas fontes são classificadas como não onerosas, pois não trazem um custo financeiro à empresa. As fontes externas de capital de terceiros classificadas como onerosas são constituídas, basicamente, pelos empréstimos e financiamentos contratados no mercado nacional e internacional e a colocação no mercado de capitais de títulos de dívida emitidos pela empresa. As decisões de financiamento de uma empresa refletem diretamente na estrutura do Balanço Patrimonial, especificadamente no Passivo. Podemos dividir as contas que compõem o lado direito do Balanço Patrimonial em duas categorias: capital próprio e capital de terceiros. A figura apresenta um balanço patrimonial simplificado, destacando as principais divisões do passivo, decompondo-o em capital próprio e capital de terceiros. As fontes de financiamento de longo prazo, formadas pelos recursos próprios e pelas exigibilidades de longo prazo, correspondem à Estrutura de Capital de uma empresa, foco de estudo desta disciplina. GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 30 2. CRÉDITO BANCÁRIO: EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS A crescente concorrência internacional tem obrigado as empresas a alongarem prazos de vendas e, para tanto, buscam no mercado financeiro fontes de financiamento de menor custo e com prazos cada vez mais longos. Porém a captação de recursos de terceiros de longo prazo ainda é um aspecto crítico no Brasil, especialmente pelas altas taxas de juros praticadas pelas instituições bancárias que operam no País. A dificuldade de obtenção de crédito de longo prazo e o desconhecimento sobre o mercado de capitais tornam os empréstimos bancários a fonte de recursos de terceiros mais procurada pelas empresas, especialmente as de pequeno porte. As instituições financeiras bancárias são os intermediários financeiros mais importantes e estão divididos em bancos múltiplos, bancos comerciais e caixas econômicas. Um banco múltiplo surgiu da Resolução no 1.524, de 21 de setembro de 1988, do Banco Central do Brasil com o objetivo de dar mais racionalidade ao sistema financeiro nacional. O banco múltiplo agrega as carteiras de banco comercial e de investimento, as sociedades de crédito, financiamento e investimento e as sociedades de crédito imobiliário. Segundo Oliveira et al., (2006), os bancos de investimento e de desenvolvimento são “[...] instituições financeiras não bancárias, porque não se caracterizam por tomar recursos via depósito à vista e criar moeda”. Os bancos de investimento atuam fortemente em transações do mercado de capitais, e os bancos de desenvolvimento são instituições públicas que buscam incentivar as economias regionais e urbanas. Os bancos comerciais e múltiplos constituem a base do sistema monetário e atendem basicamente as operações de curto e médio prazos, especialmente as necessidades de capital de giro. Também possuem modalidades de longo prazo e fazem uma série de exigências para a liberação dos recursos. Essas exigências dizem respeito às demonstrações financeiras, quitação de impostos, transparência de informações, fluxo de caixa, entre outros. De modo geral, as grandes empresas não têm problemas para cumprir tais exigências, para pequenas empresas algumasexigências são verdadeiros obstáculos, dada a precariedade e qualidade das informações formais disponíveis. Nesses casos, os bancos tendem a exigir garantias reais para a concessão dos empréstimos e ainda elevam as taxas de juros dado o risco da operação. Independentemente do porte da empresa, a maior reivindicação dos empresários é quanto ao tamanho dos juros pagos. E este problema é reforçado quando analisamos o spread bancário. O spread bancário (diferença entre os juros pagos pelos bancos na captação de recursos e a taxa aplicada por eles nos empréstimos que concedem) no Brasil é o maior do mundo, sendo onze vezes maior que nos países desenvolvidos (GODOY, 2009). Quanto maior o spread bancário, maior é o lucro que os bancos têm nas operações de crédito. Realmente, essa diferença afeta negativamente a competitividade das empresas brasileiras no cenário internacional, porque elevam o custo do capital. Com relação aos principais instrumentos de intermediação financeira, o Brasil possui uma variedade de produtos e serviços bancários extremamente eficientes e adaptados ao cenário internacional. Oliveira et al. (2006) apontam que, apesar do grande número de produtos, apenas 25% do Produto Interno Bruto (PIB) é aplicado em operações ativas pelas instituições financeiras contra mais de 40% do PIB nos países desenvolvidos. Os principais produtos de curto prazo para captação de recursos via sistema bancário são os listados a seguir. AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 31 » Capital de Giro: empréstimo, sem direcionamento específico, por meio do qual o cliente capta recursos para cobrir descasamentos em seu fluxo de caixa. Pode ser taxas pré-fixadas (quando a taxa apresenta um valor fixo, definido no ato da contratação da operação. Exemplo: 2,5% ao mês) ou pós-fixadas (quando um componente da taxa está vinculado a um indexador. Exemplo: 0,5% + CDI). O prazo deste tipo de operações é de no mínimo 15 dias. Podem ser exigidas garantias para a liberação dos recursos. » Conta Garantida: limite rotativo de crédito (separado da conta corrente) feito para suprir necessidades de capital de giro imprevistas. O cliente utiliza o recurso toda vez que a conta- corrente fica devedora. Os juros podem ser pré ou pós-fixados. Os encargos são pagos ao final de cada mês ou na data de aniversário do contrato, e o principal pode ser amortizado total ou parcialmente a qualquer tempo, durante a vigência do contrato, por solicitação à instituição financeira, que transferirá o valor solicitado para amortização, da conta-corrente para a conta garantida (GUIA PEGN, 2004, p. 104). Geralmente esta operação exige a apresentação de garantias, como nota promissória com assentimento dos sócios ou terceiros que possam apresentar algum bem, caução de títulos de crédito (duplicatas ou cheques pré-datados), entre outras. » Financiamentos: operação em que a empresa pega um valor emprestado para aquisição de bens, maquinários, imóveis, que será pago ao longo de um período de tempo acrescido dos juros. Existe uma diferença entre financiamento e empréstimo. No caso do financiamento, a operação está vinculada à compra de um bem, como é o caso do financiamento da casa própria ou financiamento de um carro. Já no empréstimo isso não acontece, a empresa pode fazer qualquer coisa com o dinheiro. Geralmente nos financiamentos, o bem financiado é dado como garantia da operação. 3. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES) O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), órgão do Governo Federal, é hoje o principal instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia. “Tem por objetivo primordial apoiar programas, projetos, obras e serviços que se relacionem com o desenvolvimento do país” (BRASIL, 2002), atuando tanto na concessão de financiamentos como no mercado de capitais. O banco foi criado em 1952 como BNDE, com a finalidade de ser o órgão responsável pela formulação e execução da política nacional de desenvolvimento econômico, investindo inicialmente em infraestrutura, mas a criação de estatais aos poucos liberou o Banco para investir mais na iniciativa privada e na indústria (BRASIL, 2014). Em 1982, passou a denominar-se BNDES, reforçando a integração das preocupações sociais à política de desenvolvimento. Durante a década de 1980, ganhou força o conceito da integração competitiva, que buscava expandir o mercado interno e, ao mesmo tempo, habilitar a economia brasileira para disputar a preferência dos compradores externos (BRASIL, 2014). O Banco passa a estimular o comércio exterior, através do incentivo para que as empresas brasileiras concorressem com os produtos importados e dos programas de financiamento às exportações (BRASIL, 2014). Nos anos 1990, o BNDES teve papel importante na privatização das grandes estatais brasileiras. O Banco foi o órgão responsável pelo suporte administrativo, financeiro e técnico do Programa Nacional de Desestatização, iniciado em 1991 (BRASIL, 2014). GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 32 Recentemente, o banco iniciou o processo de constituição de uma nova empresa – a BNDES Limited, em Londres, com o objetivo de intensificar a estratégia de apoio à internacionalização das empresas. Conforme Lemes Junior et al. (2010), o BNDES permanece como a principal instituição financeira do País e suas atividades são orientadas para os seguintes objetivos: » impulsionamento do desenvolvimento econômico, visando estimular o processo de expansão da economia nacional e o crescimento continuado do Produto Interno Bruto (PIB); » fortalecimento do setor empresarial nacional, estimulando a formação da grande empresa nos setores básicos que exigem operações em grande escala e apoiando as pequenas e médias empresas em todo o País; » atenuação dos desequilíbrios regionais, estimulando a formação de novos polos de produção; » promoção do desenvolvimento integral das atividades agrícolas, industriais e de serviços, visando aumentar o dinamismo econômico; » crescimento e diversificação das exportações, considerando como prioritárias as iniciativas capazes de contribuir para a realização dessa meta. Resumidamente, o BNDES financia projetos de implantação, expansão, modernização, capacitação tecnológica, relocalização, exportação, melhoria da qualidade e aumento da produtividade, conservação do meio ambiente, conservação de energia, gastos com infraestrutura econômica e social e participação de capitais privados nos investimentos em infraestrutura (LEMES JUNIOR et al., 2010). O BNDES opera diretamente ou indiretamente, através de uma rede de agentes financeiros públicos e privados credenciados. Para cada setor de atividade, o Banco possui linhas de crédito, com condições que levam em conta o porte da empresa, a atividade e a localização regional. As principais linhas de financiamento são: » BNDES Automático: atende aos quatro setores de atividade, financiando projetos de implantação, ampliação, recuperação e modernização de empresas, incluindo as obras civis, instalações, aquisição de equipamentos novos de fabricação nacional, além do capital de giro associado ao projeto. Financia projetos de até R$ 10 milhões (BRASIL, 2014). O prazo para pagamento varia conforme o projeto, e a carência são de até 12 meses. A taxa de juros da operação é formada por: CustoFinanceiro (Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP + 1% ao ano) + Remuneração do BNDES (até 2,5% ao ano) + Taxa de Intermediação Financeira (0,5% ao ano) + Remuneração da Instituição Financeira Credenciada (até 4% ao ano). » Finem – Financiamento a Empreendimentos: apoia projetos de investimentos destinados à implantação, expansão emodernização de empresas. Podem ser financiados máquinas e equipamentos novos de fabricação nacional, credenciados pelo BNDES, ou importados sem similar nacional, bem como capital de giro associado ao investimento, entre outros itens. Esta linha de crédito é destinada a financiamentos de projetos com valor superior a R$ 10 milhões. A taxa de juros é formada pelo Custo Financeiro (TJPL + 1% ao ano) + Remuneração do BNDES (até 2,5% a.a.) + Taxa de Risco de Crédito (até 3,57% a.a.) (BRASIL, 2009). AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 33 » Finame – Fundo de Financiamento para Aquisição de Máquinas e Equipamentos: linha de crédito destinada à compra de máquinas e equipamentos de produção nacional, junto a fabricantes cadastrados pela instituição, por empresas de todos os portes. Empresas de qualquer porte classificadas no setor agrícola, inclusive cooperativas e pessoas físicas, podem obter recursos através de uma modalidade especial denominada Finame Agrícola. O financiamento se dá por intermédio de instituições financeiras credenciadas. O prazo máximo para pagamento é de 60 meses, com carência de até 24 meses. A taxa de juros é formada por: Custo financeiro (TJPL + 1%a.a.) + Remuneração do BNDES (até 2,5%a.a.) + Taxa de Intermediação Financeira (0,5% a.a.) + Remuneração da Instituição Financeira Credenciada (até 4% a.a.). » BNDES-EXIM: criado em 1991 com o objetivo de apoiar as exportações das empresas estabelecidas no Brasil. O financiamento pode acontecer tanto na fase pré-embarque como na fase pós- embarque. Este produto representa um terço das operações do BNDES e serve de apoio à política de exportações do governo. » Cartão BNDES: voltado para Micros, Pequenas e Médias Empresas, consiste em um Crédito rotativo, pré-aprovado, de até R$ 500 mil, para aquisição de produtos credenciados no Portal de Operações do Cartão BNDES. A taxa de juros é definida mensalmente, em função da taxa a termo divulgada pela Andima, calculada com base nas Letras do Tesouro Nacional. O prazo para amortização é de 3 a 48 prestações mensais, fixas e iguais (BRASIL, 2014). A tabela a seguir mostra os desembolsos do BNDES por modalidade de crédito. Os programas Finame e Finem são as linhas mais utilizadas, representando juntas 70% do total de recursos ofertados pelo banco. Desembolsos por modalidades BNDES Em R$ milhões MODALIDADE VALOR DA LIBERAÇÃO PERCENTUAL Finame 67.430,23 41,2% Finem 47.208,45 28,8% Pré-Embarque 23.679,33 14,5 BNDES Automático 8.704,51 5,3% Project Finance 6.213,40 3,8% MAQ/EQUIP 5.498,03 3,4% Limite de Crédito 1.635,28 1,0% Demais Modalidades 3.305,91 2,0% Total 163.675,13 100% Fonte: BNDES, RJ, 2010. Autoria: BNDES/AF/DEREI, RJ, 2010. O gráfico, a seguir, mostra que o volume de desembolsos do BNDES foi crescente em toda a década. Os aportes da instituição passaram de R$ 25,7 bilhões em 2001 para R$ 168,4 bilhões em 2010, acompanhando a velocidade da procura das empresas por apoio da instituição. As consultas ao BNDES, que servem como termômetro de investimentos na economia, passaram de R$ 37,2 bilhões para R$ 255,9 bilhões no mesmo período. Esses dados revelam que o aumento dos desembolsos da instituição tem contribuído para sustentar o crescimento econômico do País. GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 34 Desembolso BNDES - em R$ Bilhões Fonte: BNDES, 2011 Por meio das diversas linhas de financiamento, o BNDES atende aos quatro setores da economia: indústria, agropecuária, infraestrutura e comércio-serviços. O volume de recursos destinados a estes setores está apresentado no gráfico a seguir. Nota-se que a maior parte dos recursos é destinada para a infraestrutura e para a indústria de transformação. Desembolso do BNDES por setor - em Bilhões Fonte: BNDES, RJ, 2010 - Autoria: BNDES/AF/DEREI, RJ, 2010. Ainda segundo dados do BNDES, o setor de infraestrutura (total de R$ 7,1 bilhões) respondeu por 41% dos desembolsos do próprio banco no primeiro bimestre do ano de 2011, com destaque para as liberações à energia elétrica. Já a indústria de transformação e extrativa (R$ 5,5 bilhões) representou 32% do total liberado pelo Banco no período. O setor de comércio e serviços ficou com R$ 3,1 bilhões (18% do total) e agropecuária com R$ 1,5 bilhão (9%). AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 35 Apesar de ser a principal fonte de financiamento de longo prazo do País, o BNDES ainda é uma opção destinada às grandes empresas, que representam 66,8% do total de clientes que utilizaram recursos da instituição. As micro e pequenas empresas representam apenas 15,8% do total de clientes, o que sugere que a principal fonte de capital de terceiros destas empresas ainda é o crédito bancário (mais oneroso e com prazo menor para pagamento). Desembolso por parte das empresas - em milhões Fonte: BNDES, RJ, 2010 Autoria: BNDES/AF/DEREI, RJ, 2010. Cabe ressaltar que os bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – também possuem linhas de crédito especiais de longo prazo, direcionadas para setores ou produtos específicos. Você sabia? Você sabe o que é a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo)? A Taxa de Juros de Longo Prazo foi instituída pela Medida Provisória nº 648, de 31.12.1994, sendo definida como o custo básico dos financiamentos concedidos pelo BNDES. Seu valor é fixado trimestralmente pelo Banco Central de acordo com as normas do Conselho Monetário Nacional (CMN). “É calculada a partir dos seguintes parâmetros: i) meta de inflação calculada pro rata para os doze meses seguintes ao primeiro mês de vigência da taxa, inclusive, baseada nas metas anuais fixadas pelo Conselho Monetário Nacional; ii) prêmio de risco.”(BRASIL, 2001). Por exemplo, para o primeiro trimestre de 2011, a TJLP foi fixada em 6% ao ano (valor que se mantém desde 2009). GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 36 4. CUSTO DO CAPITAL DOS EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS O custo específico de cada financiamento é o seu custo de obtenção, ou seja, a taxa efetiva da operação após o imposto de renda. Como os encargos financeiros ligados aos financiamentos são contabilizados no Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) em despesas financeiras, afetam a apuração do lucro e, consequentemente, interferem no Imposto de Renda a ser pago pela empresa. Quanto mais despesas a empresa possui, menor será o seu lucro líquido e menor o imposto de renda a pagar. Com isso, podemos afirmar que os encargos financeiros permitem uma dedutibilidade fiscal, reduzindo o seu custo final. O custo de capital após o imposto de renda pode ser obtido pela fórmula: Kt = Kf (1-T) Sendo: Kt = custo do capital de terceiros Kf = custo efetivo do financiamento T = alíquota do Imposto de Renda Para ilustrar o cálculo do custo de capital dos financiamentos, considere um financiamento de R$100.000 tomado à taxa de juros de 60% ao ano. A alíquota do Imposto de Renda mais a contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) totalizam 24%. O custo de capital desta fonte de financiamento é: Kt = 0,60 (1 - 0,24) Kt = 0,60 (0,76) Kt = 0,456 = 45,6% a.a. Despesas financeiras brutas = R$ 60.000,00 (R$ 100.000,00 x 60%) (-) “Economia de Imposto de Renda” = R$ 14.400,00 (R$ 60.000,00 x 24%) Despesas financeiras líquidas = R$ 45.600,00 Taxa líquida dos encargos kt = R$ 45.600,00R$ 100.000,00 Kt= 0,456 = 45,6%a.a 5. TÍTULO DA DÍVIDA CORPORATIVA Os títulos típicos de dívida, também chamados de obrigações privadas, são um instrumento que indica que uma empresa tomou emprestada certa quantia e promete restituí-la no futuro sob condições claramente definidas. Estes títulos são classificados como títulos de renda fixa negociados no mercado de capitais. Os títulos mais comuns no mercado brasileiro sãoas notas promissórias (ou commercial papers) e as debêntures. Existem ainda os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). As debêntures são os títulos da dívida corporativa mais emitidos no mercado de capitais brasileiro, seguidas das notas promissórias, que apresentam um crescimento significativo desde 2008. Já os títulos CRI e FIDC ainda têm pouca representatividade dentro do mercado de capitais nacional e por isso não serão tratados nesta unidade. Os títulos de renda fixa podem ser pré ou pós-fixados. Um título de renda fixa é pré-fixado quando o rendimento e o valor de resgate do título no vencimento são conhecidos no momento inicial da operação. O título de renda é considerado pós-fixado quando o rendimento é conhecido no momento AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 37 da aplicação, mas o valor de resgate só poderá ser calculado na data do vencimento do título. Nestes títulos, o rendimento normalmente é representado por dois componentes: um indexador e uma taxa pré-fixada. A taxa pré-fixada de um título é denominada de cupom, e os indexadores mais comuns para os títulos pós-fixados são o DI (Depósito interfinanceiro), IGP (Índice Geral de Preços), TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) e a TR (Taxa Referencial). 6. NOTAS PROMISSÓRIAS (OU COMMERCIAL PAPERS) O commercial paper constitui-se, na prática, em uma nota promissória de curto prazo emitida por uma Sociedade por Ações (S.A.) para financiar seu capital de giro. A garantia do título é o próprio desempenho da empresa, e os títulos podem ser adquiridos pelas instituições financeiras para sua carteira própria ou repasse a seus clientes investidores. De acordo com Assaf Neto (2008), a principal vantagem do emitente do título é a possibilidade de tomar recursos a um custo muitas vezes inferior às taxas de juros praticadas nos empréstimos bancários. Também para Assaf Neto (2005), o barateamento das taxas pagas ao commercial paper ocorre, em grande parte, pela eliminação da intermediação bancária no processo de captação e aplicação de recursos. Os principais investidores de commercial paper são as carteiras de bancos, fundos de pensão e seguradoras. São atraídos peladiversificação que o título pode proporcionar em suas carteiras de investimento e a curta maturidade. O prazo mínimo da nota promissória é de 30 dias, e seu prazo máximo é de 180 dias. A rentabilidade da nota promissória não possui cupom de juros. Seu rendimento pode ser pré-fixado (na forma de deságio em relação de face da nota promissória na época de sua negociação), ou pós-fixado (na forma de correção do valor de face) por indexadores como o DI, SELIC, TR e TJLP. (ANDIMA, 2008). No Brasil, a maioria das notas promissórias possui taxas de juros pré-fixadas, mas existem NP pós-fixadas, também existe a possibilidade de emissão de NP em dólares. É um título sem garantias diretas. Para o investidor (comprador da commercial paper), é uma aplicação de curto prazo, adquirida por meio dos fundos de investimento e, por isso, incide IR sobre o rendimento. As notas promissórias são muito difundidas nos EUA e largamente utilizadas pelas empresas americanas. Instituídas pela primeira vez nos EUA em Nova York e Boston em 1790, porém só foram reconhecidas em 1830, quando suas transações passam a ser publicadas no Financial Register of the United States. Barbosa (apud MARTINS, 2008) faz uma comparação interessante: em 1968 as Commercial Papers eram responsáveis por 8,6% do mercado de capitais americano, e em 1978 atingiram 17% deste mercado (o que representava na época metade do PIB brasileiro). As notas promissórias negociadas no mercado de capitais foram instituídas no Brasil em 1990 e não podem ser emitidas por instituições financeiras, sociedades corretoras, distribuidoras de valores mobiliários e sociedades de arrendamento mercantil (empresas de leasing) (BERTOLO, 2014). A emissão de uma commercial paper pode ocorrer de duas formas. » Emissão Direta: emitida diretamente pela empresa. Isso ocorre apenas com grandes empresas que possuem boas condições patrimoniais e boa perspectiva de rentabilidade. Neste caso, o desconto do título é menor. » Dealers: a grande parte das empresas utiliza um intermediário na operação, chamado dealer. Esta operação apresenta três tipos: GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 38 a) antecipado: empresa emissora recebe no ato o valor do título deduzindo o desconto e a comissão. O risco de revender a Commercial paper é do intermediário; b) postecipada: o intermediário busca no mercado o melhor preço para a transação e somente depois de “fechada” a negociação repassa para a emissora; c) mistura dos dois: emissora recebe parte adiantado e após as vendas no mercado recebe a diferença. Exemplo Uma empresa emitiu R$ 3,5 milhões em commercial papers por 180 dias. A remuneração oferecida aos aplicadores é uma taxa de desconto de 1,2% ao mês. A empresa incorre, ainda, em despesas de emissão de 0,4% do valor emitido (BERTOLO, 2014). Qual o valor líquido recebido pela empresa e qual o custo efetivo da operação? Commercial paper utiliza o cálculo de Desconto (juros simples). Assim: D = N.d.n Sendo: N = Valor de face do título d = Taxa de desconto n = prazo D = valor do desconto Lembre-se que o período da taxa deve ser igual ao período do prazo. Se não forem iguais, podemos encontrar a proporcionalidade entre eles. No nosso exemplo, a taxa está na forma mensal e o prazo em dias, para ajustar basta dividir a taxa por 30. Resolvendo o exemplo: A) Calculando o desconto: N = R$ 3.500.000 d = 1,2% ao mês n = 180 dias D = 3.500.000 x 0,012 x 180/30 D = R$ 252.000 B) Calculando as despesas de emissão Despesas de emissão = 0,4% do valor do título Despesas de emissão = 3.500.000 x 0,004 Despesas de emissão = R$ 14.000 C) Apurando o valor líquido VL = Valor do título – desconto – despesa de emissão VL = 3.500.000 – 252.000 – 14.000 VL = R$ 3.234.000 D) Calculando o curso efetivo da operação Para calcular o custo efetivo utilizamos a seguinte fórmula: ( N )1 i = f VL – Sendo: N = valor do título VL = valor liberado (valor líquido) p = prazo do título (meses) AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 39 Assim: P = 180 dias p = 6 meses i= (3.500.000/3.234.000)1/1/6-1 i = (1,08251)1/6 -1 i = 1,013261 – 1 i = 0,013261 i = 1,3261% ao mês Podemos calcular este custo também pelo Excel ou pela HP-12C. Como o custo de capital de uma empresa é calculado anualmente, precisamos transformar a taxa encontrada, usando a fórmula da taxa equivalente: iq = (1+it)q/t -1 Tenho a taxa para 1 mês e quero a taxa para 1 ano. Fazendo a equivalência de períodos: 1 ano = 12 meses. Na fórmula: Tenho = t = 1 — Quero = q = 12 i = (1 + 0,013261)12 – 1 i = (1,03261)12 -1 i = 1,4697– 1 i = 0,4697 i = 46,97% ao ano Este é o custo efetivo da operação no mercado financeiro. Como commercial paper é um capital de terceiros, os juros pagos vão para o Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) como despesas financeiras, e assim como os financiamentos, a existência desta despesa acaba significando uma redução do Imposto de Renda. Assim, o custo de capital da debênture deve ser tratado da mesma forma que o custo de um empréstimo ou financiamento: Kt = Kf (1-T) Considerando que a empresa tem uma alíquota de Impostos de Renda de 24%, temos: Custo de capital da commercial paper: Kt = 0,4697 (1-0,24) Kt = 0,4697 (0,76) Kt = 0,3570 Kt = 35,70% ao ano. Este é o custo de capital do título que será considerado para o cálculo do custo total da política de financiamentos da empresa. GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 40 7. DEBÊNTURE Segundo Lemes Junior etal. (2010), debêntures são títulos nominativos e negociáveis que representam uma parcela do empréstimo total efetuado pela empresa, em geral para financiamento de projetos de investimento ou alongamento do perfil do passivo. Na definição da Bovespa (2005): Debêntures são títulos de dívida de médio e longo prazo emitidos por sociedades por ações, que conferem ao debenturista (detentor do título) um direito de crédito contra a emissora. No Brasil, as debêntures constituem uma das formas mais antigas de captação de recursos por meio de títulos. A origem de sua regulamentação remonta à época do Império. (BRASIL, 1882). Apenas as Sociedades por Ações (S.A.), tanto de capital aberto como fechado, registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) podem efetuar emissões públicas de debêntures. Com a estabilidade monetária advinda do Plano Real, as empresas começaram a vivenciar um processo de alongamento dos prazos das dívidas, de reestruturação patrimonial e financeiro, além da intensificação do processo de privatizações. Esse novo cenário fortaleceu o papel das debêntures como instrumento de captação de recursos de longo prazo, especialmente para empresas de arrendamento mercantil (leasing), administração e participação, serviços de utilidade pública, comércio e insumos intermediários. As debêntures apresentam algumas características. Quanto à sua forma, podem ser nominativas ou escriturais. A debênture nominativa é aquela em que o registro e controle das transferências são realizados pela companhia emissora no Livro de Registro de Debêntures Nominativas, ou seja, possuem certificado (documento físico) no qual é definido o nome do titular da debênture. “A escritural, por sua vez, é aquela cujas custódia e escrituração são feitas por instituição financeira autorizada pela CVM para prestar tais serviços” (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 4), ou seja, não possuem certificado, mas também estão em nome de seus titulares e são mantidas em conta de depósito em uma instituição financeira. Quanto ao seu tipo, as debêntures podem ser: » conversíveis em ações: são aquelas em que permitem, além do resgate em moeda nacional, a conversão do valor em ações da empresa emitente, nas condições estabelecidas na escritura de emissão (ANDIMA; ABRASCA, 2008); » não conversíveis, ou simples: podem ser resgatadas apenas em moeda nacional; » permutáveis: podem ser transformadas em ações de uma outra empresa que não a emissora do título. Geralmente o vencimento de uma debênture é determinado, mas podem ser emitidas debêntures de prazo indefinido (chamada de debênture perpétua). “Nesse caso, o vencimento é condicionado a eventos especiais expressos na escritura da emissão ou nos casos de inadimplência do pagamento de juros e dissolução da companhia.” (BOVESPA, 2005, p. 10). As debêntures podem ainda ser de diferentes espécies conforme o tipo de garantia dada à emissão (ANDIMA; ABRASCA, 2008). » Debêntures com garantia real: o título é garantido “[...] por bens integrantes do ativo da companhia emissora, ou de terceiros, sob a forma de hipoteca, penhor ou anticrese” (BOVESPA, 2005, p. 8), isto é, respectivamente, por bens imóveis, bens móveis ou direitos sobre frutos e rendimentos de bens imóveis. Os bens podem ser fornecidos pela companhia emissora, por empresas pertencentes ao mesmo grupo ou ainda por terceiros. Podem ser emitidas quando o valor de emissão for superior ao do capital social em até 80% do valor dos bens gravados na empresa. AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 41 » Debêntures com garantia flutuante: título com garantia baseada no “[...] privilégio geral sobre o ativo da emissora, em caso de falência. Os bens objeto da garantia flutuante não ficam vinculados à emissão, o que possibilita à emissora dispor desses bens sem a prévia autorização dos debenturistas” (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 5). Têm o valor de sua emissão limitado a 70% do valor contábil do ativo da empresa, descontado o valor de outras dívidas garantidas por direitos reais. » Debênture quirografária, ou sem preferência: não oferecem privilégio algum sobre o ativo da emissora, concorrendo em igualdade de condições com os demais credores sem preferência (quirografários), em caso de falência da companhia (BOVESPA, 2005, p. 8). Podem ser emitidas até o valor do capital social da empresa. » Debênture subordinada: título sem garantia e que, na hipótese de liquidação da companhia, estará à frente apenas dos acionistas no direito sobre o ativo remanescente da companhia emissora. Não apresentam limites máximos para sua emissão. O quadro a seguir traz um resumo das principais características das debentures. QUANTO À (AO) AS DEBÊNTURES PODEM SER Forma Normativas: quando forem representadas por certificados emitidos em nome do titular e registrados em livro próprio mantido pela emissora. A transferência de titularidade e efetuada por endosso em preto, substituindo-se posteriormente o certificado. Atualmente, todas as debêntures são nominativas, ou seja, estão em nome de seus titulares, visto que as debêntures ao portador foram oficialmente ditas pela Lei no 9 .45 719 7. Escriturais: quando não possuírem certificados representativos, sendo mantidas em nome do titular em conta de depósito em instituição financeira depositária designada pela emissora. Essa é a forma mais utilizada. Classe/Tipo Conversíveis em Ações: quando, além de serem resgatáveis em moeda, puderem ser convertidas em ações de emissão da empresa, nas condições estabelecidas pela escritura de emissão. Não Conversíveis ou Simples: quando não puderem ser conver tidas em ações, ou seja, resgatáveis exclusivamente em moeda nacional. Permutáveis: quando puderem ser transformadas em ações de emissão de outra compa- nhia que não a emissora dos papéis ou, ainda, apesar de raro, em outros tipos de bens, tais com títulos de crédito. GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 42 QUANTO À (AO) AS DEBÊNTURES PODEM SER Espécie/Garantia Garantia Real: quando são garantidas por bens (imóveis ou móveis) dados em hipoteca, penhor ou anticrese pela companhia emissora, por em presas de seu conglomerado ou por terceiros. Garantia flutuante: quando possuem um privilégio geral sobre o ativo da empresa, o que não impede, entretanto, a negociação dos bens que compõem esse ativo. As debêntures com garantia flutuante possuem preferência de pagamento sobre debêntures de emissões anteriores e sobre outros créditos especiais ou com garantias reais (firmados anteriormente à emissão). Quirografárias (sem preferência): debêntures que não possuem as vantagens dos dois tipos anteriores. Assim, os debenturistas, em caso de falência, equiparam-se aos demais credores quirografários (não privilegiados) da empresa. Subordinadas: quando não possuem garantia, o que significa que, em caso de liquidação da companhia emissora, os debentu ristas têm preferência apenas sobre os acionistas. Vencimento Definido: quando tiverem o vencimento definido na escritura de emissão. Indeterminado (debênture perpétua): quando não tiverem vencimento determinado. Nesse caso, o vencimento é condicionado apenas a eventos especiais expressos na escritura da emissão ou nos casos de inadimplência do pagamento de juros; e dissolução da companhia. A empresa também pode prever casos de resgate parcial ou total das debêntures, situações em que podem ser pagos prêmios. Fonte: Bovespa (2005). A remuneração de uma debênture pode vir por meio de três formas. » Juros: esta alternativa de remuneração de uma debênture pressupõe um pagamento periódico de juros. A taxa de juros é calculada sobre o valor nominal do título. A taxa de juros é calculada sobre o valor nominal do títuloatualizado pelo indexador da operação (para os títulos pós- fixados). » Correção monetária: atualiza o valor nominal de debêntures e deve ter como base os indexadores dos títulos da dívida pública federal, variação cambial ou índices de preço. As emissões com correção monetária, atreladas a índices de preço, devem observar o prazo mínimo de um ano para vencimentos e repactuação. A correção monetária é paga no vencimento da operação. » Prêmio: a debênture pode pagar prêmio, uma remuneração adicional que eleva a taxa de retorno da debênture, podendo compensar uma remuneração baixa de juros ou correção monetária. O prêmio da debênture pode ter como base a variação da receita ou a variação do lucro da companhia emissora, porém o prêmio não pode ter como referencial índices de preço, taxa de juros ou variação cambial (BOVESPA, 2008). AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 43 1) Assembleia Geral de Acionistas: Por ser um título de longo prazo, a decisão de sua emissão é estratégica e, portanto, a emissão de debêntures deve ser decidida em Assembleia Geral de Acionistas (AGE) ou em reunião do conselho de administração da emissora, ambos com poderes para estabelecer todas as condições da emissão (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 7). 2) Definição do intermediário financeiro: a companhia deve escolher uma instituição financeira (banco de investimento ou múltiplo, corretora ou distribuidora de títulos e valores mobiliários) para estruturar e coordenar todo o processo de emissão (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 6). 3) Formação do consórcio de Distribuição: enquanto o processo está em andamento na CVM, os intermediários financeiros podem se organizar sob a forma de consórcio com o fim específico de distribuir as debên tures no mercado e/ou garantir a subscrição da emissão. Os consórcios de distribuição podem chegar a ter vários participantes de diversos portes, entre bancos, Corretoras e distribuidoras de valores (BOVESPA, 2005, p. 10). 4) Escolha do agente fiduciário: a companhia emissora, em conjunto com o intermediário financeiro, deverá contratar um agente fiduciário, para representar a comunhão dos debenturistas perante a companhia emissora. De modo geral, cabe ao agente fiduciário o acompanhamento das atividades da companhia, de forma a verificar o cumprimento das disposições da escritura de emissão e de outras obrigações assumidas BOVESPA, 2005, p. 23). 5) Escolha de agência de ratting (opcional): tal classificação tem setornado cada vez mais comum, seguindo tendência internacional e atendendo às demandas dos investidores institucionais domésticos. Para atribuir sua classificação, a agência desenvolve análises, tanto da capacidade de pagamento das obrigações financeiras como das eventuais garantias oferecidas pelo emissor (BOVESPA, 2005, p. 24) 6) Escritura de Emissão: é o documento em que estão descritas as condições sob as quais a debênture será emitida, tais como direitos conferidos pelos títulos, deveres da emissora, montante da emissão e quantidade de títulos, datas de emissão e vencimento, condições de amortização e remuneração, juros, prêmio etc. (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 4). 7) Registro na Bovespa e na CVM. 8) Marketing para atingir os investidores potenciais: com um prospecto preliminar, os distribuidores da operação começam a procurar poten ciais investidores de forma a agilizar a oferta pública quando esta for deferida pela CVM. (BOVESPA, 2005, p. 32). Conforme a legislação, qualquer texto publicitário só pode ser veiculado com a autorização prévia da CVM. 9) Anúncio de início da distribuição pública: concedido o registro pela CVM, inicia- se o processo de distribuição pública. Este deve ser amplamente divulgado, por meio do Anúncio de Início de Distribuição Pública, veiculado em jornal de grande circulação ( BOVESPA, 2005, p. 33). 10) Subscrição e liquidação financeira: a colocação primária pode se dar por meio de leilão (eletrônico ou à viva voz) ou pelo registro no sistema BOVESPA FIX. A liquidação é realizada pela CBLC (Central Brasileira de Liquidação e Custódia), que coordena a entrega do título contra o pagamento, presta informações aos emissores e fornece serviços de custódia aos debenturistas. 8. PROCESSO DE EMISSÃO DE UMA DEBÊNTURE O processo da emissão de uma debênture pode ser simplificado em dez passos, conforme ilustra o quadro a seguir. GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 44 Por que emitir debêntures? As empresas emitem debêntures para a captação de recursos. Conforme informações da Bovespa (2005), os principais motivos para a emissão de debêntures são: » captação de recursos para investimentos: “A captação de recursos por meio do lançamento de debêntures é uma alternativa aos financiamentos bancários, abrindo para a companhia um amplo número de investidores potenciais, tanto no Brasil quanto no exterior.” (BOVESPA, 2005, p. 14); » reestruturação de passivos: as debêntures são utilizadas para consolidar as dívidas de diversas naturezas da empresa e têm como vantagens a diminuição de seu custo médio (inclusive o custo e a complexidade da administração da dívida) e o alongamento dos prazos (usar estes recursos de longo prazo para quitar as dívidas com vencimento mais recente) (BOVESPA, 2005, p. 14); » agilidade na captação de recursos: “Com o procedimento simplificado de registro e a possibilidade de registro de um Programa de Distribuição junto à CVM, é possível aos emissores grande rapidez na emissão de debêntures e captação de recursos de maneira mais ágil, por exemplo, em um momento em que as taxas de juros são atraentes.” ( BOVESPA, 2005, p. 15); » entrada no mercado acionário: o lançamento de debêntures pode ser considerado como um estágio preliminar a uma plena abertura de capital realizada por meio da emissão de ações, especialmente no caso de debêntures conversíveis.” (BOVESPA, 2005, p. 15). A tabela a seguir mostra o destino dos recursos captados pela emissão de debêntures em quatro períodos: 2006, 2008, 2009 e 2011 conforme dados do Sistema Nacional de Debêntures (SND.: Volume Registrado no SND por destinação de recursos (em %). DESTINAÇÃO DE RECURSOS 2006 2008 2009 2011 (ATÉ MARÇO) Investimentos ou Aquisição de Participação Societária 38,3% 14,47% 9,84 8,45 Aquisição de Bens para arrendamento 29,6% 18,50% 18,65 14,13 Capital de Giro 14,0% 34,72% 34,71 28,10 Alongamento de Dívidas 10,4% 21,84% 16,30 14,76 Recompra ou Resgaste de Debêntures 4,0% 1,99% 1,87 2,47 Outros 3,7% 12,48% 18,63 15,38 Não informou - 16,71 Fonte: SND (ANDIMA). Repare que a crise financeira afetou a destinação dos recursos captados pela emissão de debêntures. Em 2006, a maior parte dos recursos era destinada à aquisição de outras empresas e de bens para arrendamento. Com a crise financeira, o crédito ficou escasso e as empresas emitiram debêntures para financiar capital de giro, ou seja, usaram recursos de longo prazo para financiar operações de curto prazo, além de quitar dívidas com vencimento recente, alongando o seu perfil de endividamento. O volume destinado para aquisição de bens para arrendamento continua elevado, pois no mercado brasileiro grande parte das empresas emissoras não são empresas de leasing. Em 2009, e início de 2011, a destinação dos recursos seguiram a mesma tendência de 2008, mas podemos destacar a AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 45 elevação do item outros, que comporta, entre outros itens, os investimentos em imobilizado e a implantação de projetos. Em 2011 tivemos um fato curioso: 16,71% das empresas não declararam a destinação dos recursos. Veja alguns exemplos de empresas que utilizaram a emissão de debêntures para captação de recursos. Exemplo TAM busca captar R$600 mi em debêntures para reforçar caixa A TAM, maior companhia aérea brasileira, anunciou que pretende captar 600 milhões de reais por meio da emissão de debêntures não conversíveis em ações com vencimento em 2013. “Os recursos obtidos com a emissão serão destinados para o reforço do capital de giro”, disse a companhia, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A emissão, coordenada pelo BB Banco de Investimento, prevê a distribuição dos papéis apenas a investidores qualificados. As debêntures, não conversíveis em ações, têm valor unitário de 1 milhão de reais e vencerão em 24 de julho de 2013. A companhia oferece ao investidor um prêmio equivalente a 126,5 por cento do CDI. O valor do principal será amortizado em 13 parcelas trimestrais nos meses de janeiro, abril, junho e outubro de cada ano, segundo o comunicado. Já os juros serão pagos mensalmente (ALVES, 2009). Exemplo Rossi propõe emissão de R$ 202,5 mi em debêntures A Rossi Residencial convoca seus acionistas para assembleia geral extraordinária (AGE) no dia 15 de abril para aprovação da emissão de R$ 202,5 milhões em debêntures simples, não conversíveis em ações. Os títulos terão valor nominal unitário de R$ 300 mil, em série única, com garantia real. No edital de convocação da reunião, a Rossi informa que os créditos imobiliários decorrentes das debêntures serão vinculados à primeira emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), da 216ª série (AGÊNCIA ESTADO, 2011). Mercado primário e secundário Chamamos de mercado primário aquele em que os títulos são ofertados pela primeira vez pela companhia emissora, obtendo assim recursos para suprir suas necessidades financeiras (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 10). A operação de distribuição primária de debêntures é chamada de subscrição ou underwriting. Para conhecer mais sobre as debêntures, acesse <www.debentures. com.br>. Para conhecer o mercado de títulos da dívida privada, acesse a Boves- pa Fix: <www.bovespa.com.br/rendafixa>. Já o mercado secundário é aquele em que são efetuadas as operações de compra e venda de debêntures pelos investidores (ANDIMA; ABRASCA, 2008, p. 4), ou seja, é neste mercado que ocorrem as transferências de títulos entre investidores e instituições. O mercado secundário proporciona liquidez aos papéis emitidos no mercado primário. GESTÃO FINANCEIRA AVANÇADA 46 Os objetivos desses mercados podem ser assim sintetizados: O primeiro passo para o cálculo do custo de capital de um título é encontrar a taxa efetiva da operação e, para tanto, precisamos montar seu fluxo de caixa. Considere o exemplo aseguir. Admita que uma empresa tenha colocado 10.000 debêntures no mercado no valor de R$ 1.000 cada uma com uma remuneração prometida aos investidores de 15% ao semestre. O prazo do título é de três anos e o pagamento do cupom é semestral. O principal é pago apenas no resgate do título. Sabe-se que a colocação das debêntures ocorreu mediante um deságio de 8% sobre o valor da emissão. Qual a rentabilidade efetiva deste título? Duração do fluxo de caixa = 3 anos = 6 semestres Encargos semestrais (cupom) = R$ 10.000.000,00 x 15% = R$ 1.500.000,00 Valor de resgate (a ser pago no vencimento) = R$ 10.000.000,00 Valor bruto da operação = R$ 1.000,00 x 10.000 debêntures = R$ 10.000.000,00 (-) Deságio (8%) = R$ 800.000,00 (=) Valor líquido (negociado na data 0) = R$ 9.200.000,00 O fluxo de caixa da operação para a empresa emitente é: SEMESTRE FLUXO Para calcular a taxa efetiva, basta calcular a TIR do fluxo de caixa. (Você pode calcular pela HP-12 C ou pelo Excel) Cupom do período + valor de resgaste 0 9.200.000,00 1 (1.500.000,00) 2 (1.500.000,00) 3 (1.500.000,00) 4 (1.500.000,00) 5 (1.500.000,00) 6 (11.500.000,00) AULA 2 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO: USO DE CAPITAL DE TERCEIROS 47 Na calculadora HP-12C: Como o custo de capital de uma empresa é calculado anualmente, precisamos transformar a taxa encontrada, usando a fórmula da taxa equivalente: iq = (1+it)q/t -1. Tenho a taxa para 1 semestre e quero a taxa para 1 ano. Fazendo a equivalência de períodos: 1 ano = 2 semestres Na fórmula: Tenho = t = 1 — Quero = q = 2 i = (1 + 0,1724)2/1 – 1 i = (1,1724)2 -1 i = 1,3745 – 1 i = 0,3745 i = 37,45% ao ano Este é o custo efetivo da operação no mercado financeiro. Como a debênture é um capital de terceiros, os juros pagos vão para o Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) como despesas financeiras, e assim como os financiamentos, a existência desta despesa acaba significando uma redução do Imposto de Renda. Assim, o custo de capital da debênture deve ser tratado da mesma forma que o custo de um empréstimo ou financiamento. Kt = Kf (1-T) Considerando que a empresa tem uma alíquota de Impostos de Renda de 24%, temos: Custo de capital da debênture: Kt = 0,3745 (1-0,24) Kt = 0,3745 (0,76) Kt = 0,2846 Kt = 28,46% ao ano. Este é o custo de capital do título que será considerado para o cálculo do custo total da política de financiamentos da empresa.
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