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Aula 03 cap6 contabilidade e planejamento tributario

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AULA 6
Planejamento tributário e desconsideração da person-
alidade jurídica
Caro(a) aluno(a)!
Ilustraremos nesta preleção questões relacionadas à teoria da desconsideração da personalidade jurídica com 
enfoque no planejamento tributário, chamando a sua atenção para alguns casos práticos que foram objeto de 
julgamento em âmbito administrativo e judicial, enunciando também exemplos colhidos da doutrina.
1. NOÇÕES PRELIMINARES
Também relacionada ao uso abusivo do direito, está a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica, 
conhecida no direito anglo-saxônico pela designação disregard of legal entity, ou lifting ou piercing the 
corporate veil.
Essa doutrina originou-se nos países da common law, tendo migrado, posteriormente, para a doutrina e 
jurisprudência dos países da civil law.
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
52
Quem primeiro se preocupou em estudar essa doutrina em nosso país foi o jurista Rubens Requião, 
professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, com um artigo publicado no 
final da década de 1960, sob o título “Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica” 
(Revista dos Tribunais, São Paulo, nº 410, dez. 1969, p. 12-24).
Por meio dessa doutrina, pretende-se impedir o uso ilícito ou abusivo da personalidade jurídica em 
detrimento de terceiros. Esta teoria consiste na possibilidade de, em determinadas situações, diante 
do abuso do direito e da fraude no uso da personalidade jurídica, prescindir-se da estrutura formal da 
pessoa jurídica para penetrar-se no seu âmago, alcançando as pessoas e os bens que se escondem 
debaixo de seu véu. Assim, quando se utiliza da pessoa jurídica com o objetivo de fugir às finalidades 
impostas pelo direito, o julgador pode desconsiderar a sua existência para, no caso concreto que lhe 
é submetido, responsabilizar os sócios (ou até outra pessoa jurídica) que pretenderem se esconder 
sob o manto daquela primeira. A pessoa jurídica é desconsiderada quando utilizada de modo ilícito ou 
fraudulento, seja para iludir credores, furtar-se a uma obrigação contratual ou fugir à aplicação da lei.
Inicialmente a aplicação da doutrina em nosso país foi contestada, em especial em matéria tributária, 
pela inexistência de norma escrita preexistente autorizando o seu emprego. Dessa forma, a doutrina 
desenvolveu-se por meio de construção jurisprudencial.
O instituto em foco foi expressamente reconhecido no Brasil no art. 20 do antigo Código Civil (Lei nº 
3.071/16), que dispunha que “[...] as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros” 
(BRASIL, 1916). Dessa maneira, em princípio, os bens da pessoa jurídica não se confundem com os 
bens dos seus sócios.
No entanto, essa distinção entre a pessoa jurídica e as pessoas que a compõe não pode ser considerada 
absoluta, havendo vários exemplos na nossa legislação em que ocorre uma limitação a tal distinção. 
A regra geral é de plena separação dos patrimônios das sociedades e de seus sócios. Entretanto, essa 
regra geral comporta algumas exceções.
2. EXCEÇÕES À REGRA GERAL DA SEPARAÇÃO PATRIMONIAL
I – LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS
a) Art. 158, da Lei nº 6.404/76, que dispõe, in verbis:
Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações 
que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; 
responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;
II - com violação da lei ou do estatuto. (BRASIL, 1976).
II – NO ÂMBITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO
Art. 135 do Código Tributário Nacional, in verbis:
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a 
obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou 
infração de lei, contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
[...]
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito 
privado. (BRASIL, 1966).
AULA 6 – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
53
III – CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO
Art. 2º, § 2º, da CLT – Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943:
Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, 
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração 
de outra, construindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade 
econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente 
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. (BRASIL, 1943).
IV – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – LEI Nº 8.078, DE 11.09.1990
O art. 28 proclama pela primeira vez na legislação civil pátria a teoria da desconsideração da 
personalidade jurídica da sociedade, in verbis:
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade 
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de 
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato 
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado 
de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocadas por 
má administração. (BRASIL, 1990).
V – CÓDIGO CIVIL VIGENTE
Art. 50, in verbis:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio 
de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento 
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que 
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos 
aos bens particulares dos administradores ou sócios das pessoas jurídicas. 
(BRASIL, 2002).
3. CASOS DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURÍDICA PELA JURISPRUDÊNCIA
I – JULGADO DA 8a CÂMARA DO 1o TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DE SÃO PAULO QUE, EMBORA NÃO SE 
REFIRA À MATÉRIA TRIBUTÁRIA É DIGNO DE NOTA:
[...]
A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica não visa anular o 
conceito de pessoa moral, ou coletiva, mas tem por objetivo desconsiderar, em 
determinados casos concretos e no resguardo de interesses de terceiros, a pessoa 
jurídica em relação às pessoas ou bens que atrás dela se ocultam. (1o TACIVL – SP 
– 8a Câm.; Ap. nº 353.867 – SP, rel. Juiz Celso Franco; j. 19.08.1986; v.u.).
Em seu voto, assim se manifestou o relator deste acórdão:
Existe, isto sim, apenas aparência de sociedade. Está ela só estruturalmente 
formada. Em outras palavras, unicamente a estrutura formal da pessoa jurídica 
é que está sendo utilizada. Não tem a empresa, na realidade, vida própria. 
Confunde-se, visivelmente, com a de seus sócios-apelados, bem assim também 
o seu patrimônio.
Existe um abuso quando se trata, com a ajuda da pessoa jurídica, de burlar a lei, 
violar obrigações contratuais ou prejudicar fraudulentamente terceiros. Supera-
se, daquele modo, a forma externa da pessoa jurídica para alcançar as pessoas e 
bens que sob o seu manto se escondem. A investigação se situa, portanto, dentro 
da chamada concepção realista da pessoa jurídica, a qual entende que é possível 
e até obrigatório atravessar a cortina daquele conceito formal, que estabelece 
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
54
uma radical separação entre a pessoa jurídica e os membros que a integram para 
julgar os fatos mais de acordo com a realidade, de maneira que permita evitar 
ou corrigir perigosos desvios na sua utilização. Em face da exaltação da pessoa 
jurídica como pura forma de organização, ganha terreno hoje em dia a idéia de 
que é necessário impor-lhe limitações de ordem moral e ética, como freios ante 
possíveis desvios em sua utilização. Já se começa a afirmar que não basta o frio 
e externo respeito aos pressupostos assinalados pela lei, para permitir que se 
oculte alguém sob a máscara da pessoajurídica e desfrute de seus inegáveis 
benefícios. Acredita-se ter sido encontrado pelos autores e pela jurisprudência 
o remédio para esses desvios no uso da pessoa jurídica, na possibilidade de 
prescindir da sua estrutura formal para nela penetrar até descobrir seu substrato 
pessoal e patrimonial, pondo assim a descoberto os verdadeiros propósitos dos 
que se amparam sob aquela armadura legal. (R.F. nº 188/269).
Sendo patente o uso particular e nocivo da sociedade E., pelos apelados, 
empresa essa que nada mais é do que a figura dos próprios apelados, tal a 
comunhão de objetivos e interesses, decorre, naturalmente, que o patrimônio 
de ambos deve ser havido como comum.
II – JULGADO DA 7a CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO:
OBJEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE
Ordem de penhora, em execução de sentença, sobre bens de sócios da 
executada.
[...]
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. Para a aplicação dessa regra 
de direito, que é excepcional, é necessário que haja deliberada intenção do 
sócio na utilização fraudulenta da pessoa jurídica, não bastando que sobrevenha 
prejuízo a terceiro em decorrência da autonomia patrimonial. Com efeito, se 
não há bens no patrimônio social suficientes para o pagamento de um credor, 
não poderá a personalidade jurídica da sociedade devedora ser desconsiderada 
somente por força deste prejuízo que sofrerá o credor, sendo imprescindível que 
o prejudicado prove ter ocorrido à utilização, fraudulenta ou abusiva, intencional 
da pessoa jurídica. Sem este elemento subjetivo, não se poderá invocar a teoria 
da desconsideração da personalidade jurídica. Recurso provido.
(TJSP – 7a Câm. de Direito Público; AI nº 318.301-5/6-00-Cotia-SP; Rel. Dês. 
Guerrieri Rezende; j. 16/6/2003; v.u.).
III – ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL NA SEARA DO DIREITO TRIBUTÁRIO:
[...]
Ementa oficial: Sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Execução 
fiscal com penhora em bens do sócio-gerente. Embargos de terceiro. Sociedade 
realmente fictícia em que sócio-gerente é dono de 99,2% do capital, sendo os 
restantes 0,8% de sua mãe e de um cunhado. A assertiva de que a pessoa da 
sociedade não se confunde com a do sócio é um princípio jurídico básico, não 
um tabu, e merece ser desconsiderado quando a sociedade é apenas um alter 
ego de seu controlador, em verdade comerciante em nome individual. Lição de 
Konder Comparato. Embargos de terceiro rejeitados. Apelação provida.
Ap. 583018577 (reexame) – 1a C. – J. 8.8.84 – REL. Des. Athos Gusmão Carneiro. 
(comarca de Lagoa Vermelha)
AULA 6 – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
55
IV – APELAÇÃO CÍVEL Nº 115.478 – RIO GRANDE DO SUL, SEXTA TURMA DO TRIBUNAL FEDERAL DE 
RECURSOS:
EMENTA
AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. IMPOSTO DE RENDA. LUCRO PRESUMIDO. 
OMISSÃO DE RECEITA.
- Legitimidade da atuação do Fisco, em face dos elementos constantes dos 
autos. 
- Constituídas foram, no mesmo dia, de uma só vez, pelas mesmas pessoas 
físicas, todas sócias da autora, 8 (oito) sociedades com o objetivo de 
explorar comercialmente, no atacado e no varejo, calçados e outros produtos 
manufaturados em plástico, no mercado interno e no internacional. 
- Tais sociedades, em decorrência de suas características e pequeno porte, 
estavam enquadradas no regime tributário de apuração de resultados com base 
no lucro presumido, quando sua fornecedora única, a autora, pagava o tributo 
de conformidade com o lucro real. 
- Reconhece-se à recorrente, apenas, o direito de compensação do imposto de 
renda pago pelas aludidas empresas. 
- Reforma parcial da sentença. 
- Apelação provida em parte. 
E consigna em seu voto o relator, Ministro Américo Luz, fazendo referência à decisão de 1º grau:
Eis outros tópicos importantes do decisum (fls. 1.070/1.071):
A realidade que tomou vulto nestes autos, através de minucioso levantamento 
das operações entre as aludidas sociedades e a autora, é de que elas só 
existem e só se justificam para dar lucro à autora, não têm finalidade própria, 
não têm objeto social próprio, não têm empregados, nem sede própria, pois 
não passam simulacros de pessoas jurídicas cujas atividades são pré-ordenadas 
mediante um plano concebido por três sócios da autora, que se revezaram nos 
quadros daquela, na faina de proporcionar à autora pelo artificioso confronto 
de dois regimes tributários, apreciáveis diferenças de receitas que podem ser 
consideradas omitidas pela autora, à luz da interpretação econômica dos fatos 
geradores.
As respostas do laudo não afirmam essa conclusão, porquanto enfatizam 
meramente o envoltório jurídico das operações cuja finalidade era acobertar a 
receita omitida representada pela diferença financeira resultante da justaposição 
de regimes tributários, privilegiados, de um lado, do lucro real de outro.
Eis um efeito tributário ilícito, não meramente elisivo, conclusão a que se chega 
inclusive pela via do absurdo que representa o garantir à autora o beneplácito a 
um procedimento que quebra o princípio da igualdade de tratamento tributário 
perante a comunidade de contribuintes. [...]
Não se diga, com a resposta do perito, que não se pode falar em lucro, senão após 
deduzidos gradativamente os valores das despesas comerciais, administrativas, 
provisionadas, financeiras, etc. (fls.884). Embora possível o conceito de lucro 
tributável de um tal enfoque, in casu, tais despesas inexistiram, haja vista que 
as entidades não passam de pessoas jurídicas – papel, (ditas com habilidade pelo 
culto patrono da autora, cujos trabalhos sempre honraram os processos desta 
vara, existentes, só necessariamente, são aproveitáveis teoricamente. Quanto 
às constatações contábeis, somente demonstram a preocupação constante de 
documentar operações comercialmente desnecessárias (a pseudo distribuição 
atacadista e consectários), mas, tributariamente úteis, sob o ponto de vista do 
sonegador de receitas tributáveis.
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
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4. O ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 DIANTE DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO 
NACIONAL
No Código Civil vigente, a desconsideração da personalidade jurídica é do tipo desconsideração-
imputação; trata-se de uma via de mão única; ela só é admitida para operar a transferência de 
responsabilidade por obrigações de uma pessoa jurídica para seus sócios ou seus administradores e, 
portanto, não é aplicável às situações em que a pessoa jurídica é utilizada como instrumento de fuga 
de responsabilidade que é empreendida pelo sócio ou administrador (LIMA, 2008, p. 5).
A questão que se coloca é: seria o art. 50 do CC o veículo introdutor da figura no direito tributário?
Com efeito, a desconsideração remove da pessoa jurídica a obrigação que, presume-se, tenha sido 
assumida por ela ou em que hajam dúvidas razoáveis que seja dela. O dever de suportar os respectivos 
efeitos é atribuído aos sócios. Este tipo de imputação ou transferência de responsabilidade, para o 
direito tributário, é matéria de responsabilidade tributária que está sob reserva de lei complementar.
Assim é que a responsabilidade dos sócios e administradores está delineada nas disposições dos 
arts. 134 e 135 do CTN; na falta de menção específica da lei, parece certo que as regras do art. 50 
do CC de 2002 não atingem o campo normativo das regras contidas no Código Tributário Nacional. A 
esse respeito Luciano Amaro (2005, p. 388) é enfático: “[...] o art. 50 do CC não inovou a questão da 
autonomia patrimonial das pessoas jurídicas para fins fiscais”.
Saliente-se que no campo tributário a matéria responsabilidade está sob a reserva de lei complementar, 
com base no art. 146 da CF, o que impediria a recepção do art. 50 do CC pelo direito tributário material 
(ANDRADE FILHO, 2005).
Contudo, se poderiacogitar da aplicação da desconsideração da pessoa jurídica em casos de fraude 
ou de abusos de modo a legitimar a desqualificação ou requalificação de certos atos ou negócios 
jurídicos em que a personalidade jurídica é instrumento de burla. O poder jurídico de requalificação, 
que é vinculado à lei, decorre do poder de autotutela que a ordem jurídica atribui à administração 
para executar, por seus próprios órgãos, os seus direitos. Pelo menos três preceitos do Código 
Tributário Nacional fundamentam esse direito de levar a cabo a desconsideração-nulificante ou a 
desconsideração-inoponibilidade: o parágrafo único do art. 116, o inciso I do art. 118 e o art. 148.
Um corolário deste poder de autotutela é o poder-dever de realizar o lançamento tributário ou rever 
os lançamentos realizados pelos particulares na forma da lei sem necessidade de ir ao Poder Judiciário 
solicitar a definição do direito aplicável em cada caso. Raramente a administração deve ir a juízo para 
exercer o direito de lançamento tributário; o caso mais recente é do art. 129 da Lei nº 11.196/2005 
que, ao mandar aplicar a regra do art. 50 do CC, colocou sob reserva de jurisdição a desconsideração 
da personalidade jurídica quando a sociedade vier a prestar serviços de caráter intelectual de natureza 
personalíssima.
Em síntese, no Brasil, as únicas possibilidades de desconsideração da personalidade jurídica são 
as hipóteses de fraude, dolo, sonegação ou conluio. Nestes casos, a administração pode negar, no 
todo ou em parte, efeitos à personalidade jurídica que for adotada como instrumento para perpetrar 
qualquer daqueles atos ilícitos.
AULA 6 – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
57
5. DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA E PLANEJAMENTO 
TRIBUTÁRIO
A desconsideração só tem lugar quando houver fraude, simulação ou abuso de direito que seja 
prejudicial a alguém. Dizer que algo é prejudicial a alguém significa afirmar que este sofre ou sofreu 
algum prejuízo ilegítimo, isto é, fora das circunstâncias em que a ordem jurídica permite o chamado 
dano lícito.
Eventuais problemas podem ocorrer quando alguém utiliza o arcabouço da figura pessoa jurídica 
para ter acesso a um regime mais favorável a si. Tal é o caso, por exemplo: um sujeito convida um 
amigo ou um parente para tornar-se sócio em determinada sociedade. Essa estratégia foi largamente 
adotada por certa classe de profissionais que, com o propósito de reduzir a carga tributária sobre 
sua remuneração, criaram pessoas jurídicas para prestar serviços de caráter personalíssimo, onde a 
prestação é fundamental na figura de um profissional.
De acordo com a legislação vigente em 2005, a prestação de serviços por intermédio de uma pessoa 
jurídica é altamente vantajosa, se comparada com a tributação que recai sobre os rendimentos de um 
trabalhador assalariado ou autônomo. A legislação do Imposto sobre Serviços (ISS) também prevê um 
tratamento mais ameno para as sociedades de profissão regulamentada, que pagam aquele imposto 
por cabeça ao invés de um percentual sobre o montante dos serviços, como ocorre com todos os 
outros sujeitos passivos.
Há outra nuança da desconsideração da personalidade jurídica que tem criado apreensão, 
especialmente para as pessoas que obtêm rendimentos por intermédio de uma pessoa jurídica mas 
prestam serviços de cunho pessoal; as autoridades fiscais têm lavrado auto de infração utilizando-se 
de critérios jurídicos próprios da legislação que rege as relações de trabalho de natureza empregatícia.
Esse problema afeta diretamente os prestadores de serviços que não se enquadram como empresa 
individual ou não estão organizados sob a forma de sociedade de profissão regulamentada. Ao ficarem 
impedidos de escolher a via de pessoa jurídica, esses trabalhadores ficam em posição de desvantagem 
em relação aos demais, o que traduz uma discriminação não razoável e, por tal razão, inconstitucional.
Não há dúvida acerca de que a desconsideração de personalidade jurídica é admitida em caso de 
fraude ou conluio. Ocorrendo qualquer destas figuras, a desconsideração pode ser levada a efeito 
pelas autoridades fiscais.
6. INTERPOSIÇÃO DE PESSOAS: AS SOCIEDADES HOLDINGS
Trata-se de um campo fértil para a aplicação das normas sobre desconsideração da personalidade 
jurídica.
O ordenamento jurídico brasileiro, em regra, outorga às sociedades holdings uma personalidade 
jurídica autônoma em relação a cada uma das sociedades relacionadas por qualquer forma. Em certas 
circunstâncias, essa autonomia é recortada por normas que estipulam solidariedade por obrigações. 
Por outro lado, do ponto de vista tributário, o ordenamento jurídico não cogita da tributação em 
conjunto que chegou a ser prevista como possibilidade jurídica, mas nunca foi adotada.
A chamada sociedade holding não é exatamente uma espécie societária. No ordenamento jurídico 
pátrio, as sociedades estão sujeitas ao princípio da tipicidade e, deste modo, não é possível escolher 
sociedades que não estejam tipificadas e expressamente previstas em lei. Logo, quando da criação de 
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
58
uma holding, esta deve submeter-se a um dos tipos societários previstos na legislação, e entre esses 
tipos existem inúmeras possibilidades, daí surgindo a sociedade por ações de capital aberto, de capital 
fechado, as sociedades limitadas, por conta de participação etc.
O uso de holdings para fins elisivos tributários teve pelo menos duas épocas de ouro num passado 
recente. A primeira delas ocorreu após a Constituição de 1988, devido à discussão que girava em torno 
do Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD). Os planejadores da época indicavam 
que as holdings poderiam ser um instrumento para adiantar a sucessão, de modo a evitar a incidência 
do imposto que viria a ser instituído.
Outra época de ouro dessa figura ocorreu no início dos anos 1990 com as privatizações. A Lei nº 
9.532/97 permitiu que o valor do ágio pago por investidores pudesse ser deduzido, dependendo 
da situação, no prazo de cinco anos, o que foi um atrativo para os adquirentes. Para que a dedução 
pudesse ser feita, todavia, era necessário criar um mecanismo que permitisse que ágio e atividade 
lucrativa estivessem num mesmo lugar. Assim, era sempre necessário que houvesse a interposição 
de sociedade holding que, posteriormente, seria incorporada ou que incorporaria a empresa lucrativa. 
Elas faziam o papel de ponte para dedução do ágio, já que a lei, praticamente, induzia esse arranjo.
A holding tem um importante caráter instrumental de organização empresarial. Não raro, os grandes 
grupos empresariais sempre têm uma sociedade holding debaixo da qual estão as sociedades 
operativas. Esse caráter instrumental permite que a holding seja utilizada como cash company, 
voltada para a administração financeira, e, em outros casos, elas são fornecedoras de utilidades. Tais 
utilidades são, em geral:
a) apoio jurídico; 
b) auditoria; 
c) processamento de dados; 
d) outros serviços que são adquiridos ou criados pela sociedade holding, que os distribui para as 
empresas operativas sob a forma de rateio de despesas. 
No que respeita as práticas elisivas propriamente ditas, via de regra, a figura da holding é bastante 
útil nos casos em que o grupo econômico tem negócios distribuídos em várias empresas no exterior 
que apuram lucros e prejuízos. A partir da Medida Provisória nº 2.158, versão 34, os lucros obtidos 
no exterior são tributados como equivalência patrimonial, mas não é permitida a compensação de 
prejuízos suportados por outras empresas. Assim, a interposição de uma sociedade holding permitiria 
a mistura do lucro e do prejuízo, e, desta forma, faria com que a tributação recaísse apenas sobre o 
resultado líquido das operaçõesrealizadas no exterior.
Outra variação desse mesmo tema acorrerá caso haja um negócio no exterior e esse negócio gere lucro 
e esteja localizado em país com o qual o Brasil celebrou tratado para evitar bitributação. Com Portugal, 
por exemplo, o acordo diz que só se podem tributar os lucros quando eles forem efetivamente 
distribuídos, e não quando apurados, segundo a MP nº 2.158/2001. A sociedade holding resolve esse 
problema, pois se houver a interposição de uma sociedade holding em Portugal, entra-se nas regras 
do tratado, que permite que a tributação ocorra apenas com a efetiva distribuição dos lucros.
A criação de sociedade holding não pode ser considerada a priori como uma forma de abuso da 
personalidade jurídica, pois isso implicaria em proscrever ou aniquilar a figura que tem importante 
papel instrumental na vida econômica. De qualquer sorte, as autoridades fiscais podem desconsiderar 
a personalidade jurídica nos casos de fraude, conluio ou sonegação.
AULA 6 – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
59
7. SOCIEDADES DE CURTA DURAÇÃO
As denominadas sociedades de propósito específico não constituem um tipo societário, são assim 
intituladas porquanto são constituídas para exploração de um específico negócio que pode ter duração 
curta ou longa, a exemplo do que pode ocorrer com a figura do consórcio societário.
As sociedades de propósito específico têm um importante caráter instrumental no mercado de capitais.
No Brasil, o problema do prazo de duração passou a ser secundário, após o advento do parágrafo único 
do art. 981 do CC, segundo o qual “[...] a atividade pode restringir-se à realização de um ou mais 
negócios determinados” (BRASIL, 2002). Portanto, a permanência ou duração de uma sociedade não 
é um requisito de validade para a constituição e a utilização de uma pessoa jurídica, pois o próprio 
ordenamento jurídico já se encarregou de realizar as valorações pertinentes ao tempo de duração de 
uma sociedade.
Em termos de planejamento tributário, vale o que já foi dito acerca das formas do direito privado; a 
lei tributária adota-as in totum, ou estabelece critérios de não aceitação ou consideração de apenas 
alguns efeitos de certos atos ou negócios jurídicos. Nesse campo, a lei é o único e idôneo juiz das 
valorações que fundamentam a validade ou invalidade.
8. PESSOA JURÍDICA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE NATUREZA PESSOAL
Em vários casos, as autoridades fiscais do Imposto de Renda, com lastro no parágrafo único do art. 
116 do CTN, desconsideram a pessoa jurídica criada para prestar serviços de natureza personalíssima.
Exemplos:
Um conhecido treinador de futebol que recebia a remuneração por seus serviços por intermédio de 
uma pessoa jurídica formada por ele e sua esposa.
As autoridades fiscais desconsideraram a pessoa jurídica e exigiram que o tributo fosse imputado à 
pessoa física porque entenderam que houvera simulação entre o treinador e a sociedade esportiva, 
que teriam agido em conluio para dissimular contrato de trabalho regido pela CLT. Para justificar a 
autuação, pesou o fato de que a pessoa jurídica não estava revestida sob a forma de sociedade civil 
de profissão regulamentada expressamente mencionada no § 3o do art. 146 do Regulamento do 
Imposto de Renda (RIR).
A certa altura, o relator, após transcrever trechos da CLT, anota:
A relação trabalhista entendida pelas autoridades lançadora e julgadora de 
primeira instância advém de o trabalho ser prestado de forma individual e 
personalíssima, repita-se, o que estaria conforme os ensinamentos doutrinários 
transcritos no Termo de Verificação Fiscal e no Acórdão recorrido. Se foi este, 
pessoa física, quem prestou os serviços, a este cabe a remuneração e a 
correspondente tributação do Imposto de Renda como determina a legislação 
tributária transcrita. (José Ribamar Barros Penha).
Decisão proferida quando do julgamento do Recurso nº 134.110, realizado pela 4a Câmara do 1o 
Conselho de Contribuintes.
O sujeito passivo, um conhecido clube de futebol, foi autuado porque remunerava jogadores de seu 
plantel sob a forma de direitos de imagem e direitos de arena pagos a uma pessoa jurídica titular 
daqueles direitos.
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
60
A decisão deu razão às autoridades fiscais que lavraram auto de infração desconsiderando a pessoa 
jurídica. Na ementa da decisão está dito que
[...] os jogadores e técnicos, cujos serviços são prestados de forma pessoal, 
terão seus rendimentos tributados na pessoa física, incluídos aí os rendimentos 
originados no direito de arena/cessão do direito de uso de imagem, sendo 
irrelevante a existência de registro de pessoa jurídica para tratar de seus 
interesses. (Decisão da 4a Câmara do 1o Conselho de Contribuintes de São 
Paulo, Recurso nº 134.110).
Outro caso envolvendo conhecido apresentador de programa de televisão, a mesma 4a Câmara do 
1o Conselho de Contribuintes manteve o entendimento de que a prestação de serviços de natureza 
pessoal não pode, para fins fiscais, ser feita por intermédio de uma pessoa jurídica.
Quando do julgamento do Recurso nº 127.793, de 4.12.2002, aquele Tribunal decidiu que:
[...] os apresentadores e animadores de programas de rádio e televisão, cujos 
serviços são prestados de forma pessoal, terão seus rendimentos tributados na 
pessoa física, sendo irrelevante a existência de registro de pessoa jurídica para 
tratar de seus interesses.
Decisão proferida quando do julgamento do Recurso no 145.322, ocorrido em 16.06.2005, pela 6a 
Câmara do 1o Conselho de Contribuintes.
Pode o Fisco desconsiderar a personalidade jurídica da empresa toda vez que 
restar caracterizada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação pela pessoa física 
responsável.
Mudança do quadro normativo acerca da sujeição passiva do Imposto de Renda para certas empresas 
prestadoras de serviços, com o advento da norma inserta no art. 129 da Lei no 11.196/2005.
Ao fazer menção ao caráter personalíssimo ou não dos serviços intelectuais, a sobredita norma indica 
que para sua aplicação basta a existência da sociedade legalmente constituída. O preceito acaba por 
permitir, para fins fiscais, a existência de uma sociedade sem empresa e a forma de tributação com 
base no lucro presumido.
Assim, a exploração de atividade de natureza científica, artística ou cultural pode ser feita por 
intermédio de uma pessoa jurídica sem que as autoridades possam contestar a natureza pessoal dos 
trabalhos que geram as receitas em cada caso.
SÍNTESE
Aplicado aluno(a), finalizamos a sexta aula concluindo que o instituto da desconsideração da 
personalidade jurídica é um instrumento de reação da ordem jurídica contra o uso abusivo e fraudulento 
da personalidade jurídica. Ela é como uma espécie de sanção e tem um pressuposto inarredável: só 
se pode cogitar de desconsideração se houver dano lesivo a terceiro e que tenha relação causal com 
o uso da pessoa jurídica para aquele específico fim ilícito.
nfim, convoco você a pesquisar de forma científica os temas abordados, visando a um aproveitamento 
mais eficaz sobre tão importante matéria.
Aguardo você na próxima aula.
AULA 6 – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
61
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
 » Comente acerca da teoria da desconsideração da personalidade jurídica a partir da visão do art. 
50 do Código Civil vigente.
 » O preceito normativo expresso no art. 50 do Código Civil vigente tem aplicação no âmbito 
tributário? Comente a resposta.
 » As disposições insertas nos arts. 134 e 135 do CTN podem ser consideradas como hipóteses 
configuradoras de desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária? Comente 
os dispositivos citados.
 » É correto afirmar que a desconsideração de personalidade jurídica é admitida em matériatributária 
em caso de fraude ou conluio? Comente a resposta, discorrendo sobre o que entende por fraude 
e suas manifestações.
LEITURAS INDICADAS
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <www.planalto.
gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 8 jan. 2010.
______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 5 jan. 2010.
______. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui 
normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm>. Acesso em: 8 jan. 2010.
SITES INDICADOS
http://www.planalto.gov.br/
http://www.senado.gov.br/
http://www.jus.com.br/
http://www.mundojuridico.adv.br/
http://recantodasletras.uol.com.br/textosjuridicos/274232

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