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Livro-texto Disciplina: Instituições de Direito Unidade: III 1. ÉTICA Um dos grandes desafios da sociedade contemporânea é saber lidar com o entendimento e o alcance do que é a Ética, bem como limitá-los. A palavra ética é de origem grega e derivada de ethos, que diz respeito aos costumes, aos hábitos dos homens vivendo em sociedade. No entanto, a difícil missão é saber como avaliar o comportamento do ser humano nesta “sociedade”. Sabemos que no mundo inteiro existem várias sociedades agindo e convivendo de forma diferente, com seus próprios costumes, religiões, regras de sobrevivência e outros aspectos diversos. Avaliar o que é correto vai além da forma pela qual fomos educados: é necessário saber avaliar que cada sociedade está ligada às suas origens e história. Se analisarmos a forma como a mulher é tratada em algumas sociedades islâmicas sob o olhar da nossa sociedade ocidental, certamente não poderemos compreender os regramentos. Contudo, quando analisamos sob o ponto de vista deles, dentro dos seus preceitos religiosos, legais e comportamentais, podemos entender. A ética serve para qualificar as organizações (empresa ética), as pessoas (sujeito ético) e os comportamentos (conduta ética) dentro de uma sociedade. Assim, podemos considerar que a ética de um indivíduo, grupo, organização ou comunidade seria a manifestação visível, por meio de comportamentos, hábitos, práticas e costumes, de um conjunto de princípios, normas, pressupostos e valores que regem a sua relação com o mundo. Uma condição fundamental para que o homem atinja seus objetivos é, sem dúvida nenhuma, que ele se associe. Sozinho o homem é incapaz de atingir grande parte de seus bens, objetivos, finalidades e interesses. Portanto, a sociedade é uma comunidade, uma comunhão, uma organização em que uns suprem o que aos outros falta e todos em conjunto realizam o que nenhum isoladamente seria capaz de conseguir. 1.1 Conceitos de Moral e de Justiça Se a Ética pode ser entendida como a forma pela qual o indivíduo se comporta em sociedade, a Moral pode ser definida como a maneira pela qual a sociedade enxerga este “ser” e seus atos perante ela. O conceito de Justiça, ou seja, o conceito do indivíduo sobre o que ele considera justo ou injusto, está diretamente ligado às suas convicções pessoais, íntimas, sobre o que ele entende por certo ou errado dentro daquilo que mais lhe convém. Um exemplo clássico que mistura o entendimento e a praticidade dos dois conceitos é dado na seguinte situação: um pai que entende como justo matar o homem que assassinou o seu filho. Essa situação é proibida (ilegal) e imoral dentro da sociedade brasileira, que não permite o “fazer justiça com as próprias mãos”, mas esse tipo de atitude, dentro do espaço íntimo de um pai que se encontra nessa situação, pode ser por ele considerada “justa”. A própria expressão “fazer justiça com as próprias mãos” já traz em seu contexto o conceito de justiça aqui descrito. Podemos identificar padrões morais estabelecidos em épocas diferentes na mesma sociedade. À medida que a sociedade evolui, ou até mesmo se globaliza, ela modifica os seus conceitos morais. Há algumas décadas, na sociedade brasileira, como em outras culturas, era totalmente imoral uma mulher ser mãe ou engravidar sem ter, anteriormente, feito os votos do matrimônio, bem como era imoral se casar sem ser virgem; inclusive, em determinada época, era quase que obrigatório estender o lençol sujo de sangue na varanda das casas para provar o defloramento da esposa. Atualmente, a sociedade em geral entende como normal esse tipo de acontecimento, sendo um assunto apenas discutido no seio de cada família. O comportamento moral não se baseia em uma reflexão, mas nos costumes de determinada sociedade em determinado lugar, em um tempo histórico preciso. A moral é habitualmente um meio mais poderoso do que a lei para reger o comportamento humano. Muitas vezes, é mais fácil infringir a lei para agir de acordo com a moral do que infringir a moral para agir de acordo com a lei. Embasando qualquer decisão que tomamos na vida profissional ou na vida privada, estarão sempre os nossos valores morais como orientação. Diante do conceito de ética descrito no tópico anterior e do conceito de moral disposto, podemos concluir que a moral baseia-se no comportamento da sociedade e que a ética, a partir da reflexão sobre esse comportamento, criará normas universais com a finalidade de estabelecer as melhores ações. 1.2 Ética empresarial A ética empresarial pode ser definida como o comportamento da pessoa jurídica de Direito Público (empresas públicas) ou de Direito Privado quando elas agem em conformidade com os princípios morais e éticos aceitos pela sociedade, ou seja, quando agem em conformidade com as regras éticas provindas do senso comum de uma sociedade. Este comportamento ético e moral é o que espera a sociedade na qual a pessoa jurídica está inserida, devendo a empresa agir com ética em todos os seus relacionamentos, especialmente com clientes, fornecedores, empregados, concorrentes e governo. É importante ressaltar que toda empresa tem o dever ético de cumprir a lei e os costumes. Segundo o autor Joaquim Manhães Moreira (apud COTRIM, 2008), são razões para a empresa ser ética: • custos menores, pois não faz pagamentos irregulares ou imorais, como o suborno; • possibilidade de avaliar com precisão o desempenho da sua estrutura; • legitimidade moral para exigir comportamento ético dos empregados; • geração de lucro livre de contingências, por exemplo, condenações por procedimentos indevidos; • obtenção de respeito dos parceiros comerciais; e • cumprimento do dever inerente à responsabilidade social da organização. 1.3 Responsabilidade Social Podemos conceituar a responsabilidade social como um processo instrutivo e dinâmico, baseado na ciência do dever humano e na ética, envolvendo ações governamentais e não governamentais pelos direitos fundamentais para a vida, as relações sociais e o equilíbrio ambiental. Essas manifestações, além de basear-se em regras de ordem moral, estão disciplinadas em códigos e instrumentos pátrios, como as leis de proteção ao consumidor, a crianças e adolescentes, às mulheres e aos idosos; no âmbito internacional, temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e as Convenções sobre as Condições de Trabalho, entre outros. Dentro das sociedades encontramos diversas formas de manifestação de Responsabilidade Social que podem ser exercidas pelo Governo Municipal, por meio de políticas públicas, e pelos cidadãos – desenvolvimento social com ações individuais, coletivas ou empresariais junto a órgãos públicos ou entidades privadas com a execução de trabalhos voluntários. 1.4 Responsabilidade Social Empresarial (RSE) Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é a forma de gestão empresarial que se define pela relação ética, moral e transparente da empresa com todos os seus públicos (clientes, fornecedores, empregados etc.) e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionam o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações presentes e futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. A responsabilidade empresarial, seguindo os ensinamentos de Robert Henry Srour (2000), adquire o caráter social pela adoção de um conjunto de práticas descritas a seguir. • Conjugar o desenvolvimento profissional dos colaboradores e sua coparticipação em decisões técnicas, estimular investimentosem segurança e melhores condições de trabalho, conceder participação nos lucros e nos resultados, assim como outros benefícios sociais. Seus impactos imediatos são: maior produtividade, mais eficiência nos processos, incremento do capital intelectual, maior assiduidade do pessoal e menor rotatividade. • Valorizar a diversidade interna da empresa, por meio do combate às discriminações – no recrutamento, no acesso ao treinamento, na remuneração, na avaliação do desempenho e na promoção das “minorias políticas”, como é o caso de uma política de emprego para portadores de deficiência física, da adaptação do ambiente de trabalho às suas necessidades e da previsão de vagas para jovens de pouca qualificação que recebem formação e capacitação adequadas. • Exigir dos prestadores de serviços que seus trabalhadores desfrutem de condições de trabalho semelhantes às dos próprios funcionários da empresa contratante. • Constituir parcerias entre clientes e fornecedores para gerar produtos e serviços de qualidade, garantir preços competitivos, estabelecer um fluxo de informações precisas e tempestivas, e para assegurar relações confiáveis e duradouras. • Contribuir para o desenvolvimento da comunidade local e, por extensão, da sociedade inclusiva, através da implantação de projetos que aumentem o bem-estar coletivo. • Incluir investimentos em pesquisa tecnológica para inovar processos e produtos, além de melhor satisfazer os clientes ou usuários. • Exigir a conservação e a restauração do meio ambiente por meio de intervenções não predatórias (consciência da vulnerabilidade do planeta) e de medidas que evitem externalidades negativas. • Implicar a publicação de um “balanço social”. No ano de 1998, o Conselho Empresarial Mundial, em convenção na Holanda, institui as bases para o conceito de Responsabilidade Social Corporativa (Empresarial), estabelecendo o comprometimento permanente dos empresários com comportamentos eticamente orientados e com o desenvolvimento econômico no intuito de melhorar a qualidade de vida dos empregados e de suas famílias, bem como da comunidade local e da sociedade de modo geral. As consequências trazidas para as empresas que adotam entre as suas estratégias a Responsabilidade Social podem ser resumidas da seguinte forma: • contribuição decisiva para a perenidade das empresas, uma vez que diminui sua vulnerabilidade ao reduzir desvios de conduta, processos judiciais e possíveis retaliações por parte dos stakeholders; • promoção da reputação das empresas, sobretudo junto aos clientes e às comunidades locais em que suas sedes estão implantadas; • conciliação da eficácia econômica com preocupações sociais; • fortalecimento interno da empresa, conquistando e retendo talentos, além de cultivar um relacionamento duradouro com clientes e fornecedores; • faz os projetos sociais serem agregados como valor aos produtos ou serviços prestados; • operar como fator inovador para alcançar o sucesso empresarial. Nesse sentido, as empresas têm a missão de competir não somente pela conquista do mercado para auferir lucros, mas também para conquistar um capital de reputação, de prestígio; elas querem dispor de uma reserva de credibilidade que lhes confira a “licença para operar” e, por conseguinte, o benefício da dúvida em situação de crise. Procuram obter, sobretudo, um crédito de confiança que lhes outorgue uma vantagem competitiva para incrementar sua rentabilidade (SROUR, 2000). 1.5 Código de Conduta de Ética O Código de Ética é um instrumento que busca a realização e a satisfação dos princípios, da visão e da missão da empresa. Serve para orientar e disciplinar as ações de seus colaboradores e explicitar a postura social da empresa em face dos diferentes públicos com os quais interage, como clientes, fornecedores e público em geral. É importante que seu conteúdo seja refletido nas atitudes das pessoas a que se dirige e encontre respaldo tanto na alta administração da empresa quanto no último empregado contratado, pois todos têm a responsabilidade de vivenciá-lo e praticá-lo. O Código de Ética formaliza um padrão de conduta considerado adequado para uma organização. Quando uma empresa decide adotar uma postura ética em seus relacionamentos é muito importante que essa resolução conste em um documento interno que será chamado de Código de Ética ou Código de Conduta. Sabemos que as pessoas que integram uma organização possuem formações culturais, intelectuais e científicas diferentes, experiências sociais diversas e opiniões diferentes sobre os fatos da vida. Contudo, o Código de Ética tem a missão de padronizar e formalizar o entendimento da organização empresarial, incluindo seus colaboradores em seus diversos relacionamentos e operações. A existência do Código de Ética evita que os julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena dos princípios. Podem-se traçar algumas formas para que a organização cumpra, ou melhor, obedeça ao Código de Ética estabelecido. São elas: • treinamento dos conceitos constantes do Código; • sistema de revisão e verificação do efetivo cumprimento das normas do Código de Ética; • criação de um canal de comunicação destinado a receber e a processar relatos sobre eventuais violações às normas traçadas no Código de Ética. A consciência ética das empresas, manifestada através de seus gestores cresce a cada dia, como se pode perceber pelo grande número de causas submetidas à Justiça. Essas causas revelam que, em todos os relacionamentos da empresa, a sociedade deseja obediência à legislação e à ética. O profissional da atualidade, no Brasil, está vivendo uma experiência ímpar ao integrar o mundo dos negócios nessa Era Ética. O Código de Ética, como ressaltado, irá formalizar em uma espécie de documento da empresa, seus padrões éticos e morais, criando assim regras de conduta. O autor Robert Henry Srour (2008) apresenta uma lista de alguns temas recorrentes nos códigos de ética no Brasil: • relacionamento com clientes, acionistas, colaboradores, fornecedores e prestadores de serviços, distribuidores, autoridades governamentais, órgãos reguladores, mídia, concorrentes, sindicatos, comunidades locais, Terceiro Setor, associações empresariais; • conflitos de interesse entre os vários públicos; • regulamentação da troca de presentes, gratificações, favores, cortesias, brindes, convites de fornecedores ou clientes; • observância das leis vigentes; • segurança e confidencialidade das informações não públicas, em especial das informações privilegiadas; • teor dos balanços, das demonstrações financeiras e dos relatórios da diretoria endereçados aos acionistas e seu nível de transparência; • propriedade intelectual dos bens simbólicos, patentes ou marcas; • espionagem econômica ou industrial versus pesquisas tecnológicas e uso do benchmarking e da inteligência competitiva; • postura diante do trabalho infantil e do trabalho forçado; • formação de lobbies ou tráfico de influência; • formação de cartéis e participação em associações empresariais; • contribuição para campanhas eleitorais; • prestação de serviços profissionais por parte dos colaboradores a fornecedores, prestadores de serviços, clientes ou concorrentes; • respeito aos direitos do consumidor; • relação com o meio ambiente: uso de energia, água e papel; consumo de recursos naturais; poluição do ar; disposição final de resíduos; • uso do tempo de trabalho para assuntos pessoais; • uso do nome da empresa para obter vantagens pessoais; • discriminação das pessoas em razão de gênero, etnia, raça, religião, classe social, idade, orientação sexual,incapacidade física ou qualquer outro atributo e regulação de sua seleção e promoção (questão da diversidade social); • assédio moral e assédio sexual; • segurança no trabalho, com adequação dos locais de trabalho e dos equipamentos para prevenir acidentes de trabalho e doenças ocupacionais; • uso de drogas ilícitas, ingestão de bebidas alcoólicas e prática de jogos de azar; • porte de armas; • relações de apadrinhamento (nepotismo, favoritismo, paternalismo, compadrio, amizade) e contratação de parentes ou amigos como colaboradores ou como terceiros; • troca de informações com concorrentes, fornecedores e clientes; • adoção de critérios objetivos e justos na contratação e no pagamento dos fornecedores ou prestadores de serviços para afastar qualquer favorecimento; • existência de interesses financeiros ou vínculos de qualquer espécie com empresa com a qual se mantenha negócios, para não ensejar suspeita de favorecimento; • posicionamento com relação à concorrência desleal; • difusão interna de fofocas ou rumores maliciosos; • privacidade dos colaboradores; • direito de associação dos colaboradores a sindicatos, igrejas, associações, partidos políticos ou organizações voluntárias; • restrição do fumo a locais ao ar livre ou a áreas reservadas; • proibição da comercialização interna de produtos ou serviços por colaboradores; • uso dos bens e recursos da empresa para que não ocorram danos, manejos inadequados, desperdícios, perdas, furtos ou retiradas sem prévia autorização; • utilização dos equipamentos e das instalações da empresa para assuntos pessoais dos colaboradores ou para assuntos políticos, sindicais ou religiosos; • proteção da confidencialidade dos registros pessoais que ficam restritos a quem tem necessidade funcional de conhecê-los, salvo exceções legais. Assim, pode-se dizer que administrar a ética dentro de uma empresa é gerir o alinhamento do comportamento dos seus colaboradores com um conjunto de normas que consideramos indispensáveis e que formam a base da cultura desejada para a corporação. O que se procura com essa Era Ética, assim denominada por vários doutrinadores, é estabelecer para sempre o orgulho de ser honesto, que será ostentado por empresários, acionistas, administradores, empregados, parceiros e agentes das organizações empresariais. O respeito aos Códigos de Ética depende da determinação de cada um dos envolvidos na organização empresarial em conhecer, seguir e disseminar os princípios éticos, assim como em exigir a sua observância por todos. 2. PROPRIEDADE INDUSTRIAL, LEI DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 9.279/96, MARCAS E PATENTES A propriedade industrial está amparada no Direito Industrial, também conhecido no Brasil como marcas e patentes. Direito Industrial é a divisão do direito comercial que protege os interesses dos inventores, designers e empresários em relação a invenções, Modelo de Utilidade, desenho industrial e marcas. 2.1 Bens da propriedade industrial São considerados bens integrantes da propriedade industrial a invenção, o Modelo de Utilidade, o desenho industrial e a marca. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), que é uma autarquia federal, é o órgão encarregado de emitir a concessão da patente ou do registro competente. 2.1.1 Invenção – art. 13, LPI A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorre de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. É algo novo, decorrente do intelecto humano, passível de aplicação industrial, no entanto, sem definição na lei. Dos bens considerados industriais, a invenção é a única ainda não definida pela lei. Essa ausência de definição é proposital, não só no âmbito nacional, mas também e principalmente no internacional, e é justificável pela extrema dificuldade de se conceituar a invenção. Saber o que é uma invenção é fácil, difícil é estabelecer os seus exatos contornos conceituais. Assim, podemos delimitar a invenção por critérios de exclusão, apresentando uma lista de manifestações do intelecto humano que não se consideram abrangidas na lei, em especial, no art. 10. Nesse sentido, não são invenções: • descobertas e teorias científicas (por exemplo: a Teoria da Relatividade, de Einstein); • métodos matemáticos (por exemplo: cálculo infinitesimal, de Isaac Newton); • concepções puramente abstratas (por exemplo: a lógica heterodoxa, de Newton da Costa); • esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização (a Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, é exemplo de método educativo); • obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética e programas de computador (tutelados pelo Direito Autoral); • apresentação de informações, regras de jogo, técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, terapêuticos ou de diagnóstico e os seres vivos naturais. 2.1.2 Modelo de Utilidade – art. 14, LPI Sempre que for inventado um aperfeiçoamento de algo já existente (pequena invenção), este será denominado Modelo de Utilidade. A lei define Modelo de Utilidade como objeto de uso prático ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhora funcional no seu uso ou em sua fabricação – LPI, art. 9º (BRASIL, 1996). Os recursos agregados às invenções para, de um modo não evidente a um técnico no assunto, ampliar as possibilidades de sua utilização, são Modelos de Utilidade. As manifestações intelectuais excluídas do conceito de invenção também não se compreendem no de Modelo de Utilidade − LPI, art. 10º (BRASIL, 1996). Para ser caracterizado como Modelo de Utilidade, o aperfeiçoamento deve revelar a atividade do seu criador. Deve representar um avanço tecnológico que técnicos da área reputem engenhoso. Se o aperfeiçoamento for destituído dessa característica, sua natureza jurídica será a mera “adição de invenção” − LPI, art. 76 (BRASIL, 1996). 2.1.3 Desenho industrial – art. 95, LPI (BRASIL, 1996) O desenho industrial − design − “é a alteração da forma dos objetos” (BRASIL, 1996). Está definido na lei como: “a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial” (BRASIL, 1996). A característica fundamental entre o desenho industrial e os bens industriais patenteáveis é a futilidade, ou seja, a alteração que o desenho industrial introduz nos objetos não amplia a sua utilidade, apenas lhes dá um aspecto diferente. Temos como exemplos de coisas que se podem projetar os utensílios domésticos, vestimentas, máquinas, ambientes, serviços, marcas e também imagens, como peças gráficas, famílias de letras (tipografia), livros e interfaces digitais de softwares ou de páginas da internet, entre outros. 2.1.4 Marca – art. 122, LPI (BRASIL, 1996) A marca é definida como o sinal distintivo, suscetível de percepção visual, que identifica, direta ou indiretamente, produtos ou serviços. A identificação da marca é realizada por meio da visualização do sinal no produto ou no resultado do serviço, nos eletrodomésticos, nas embalagens, nos anúncios, nos uniformes dos empregados, nos veículos e nos rótulos dos produtos em geral. Os doutrinadores costumam classificar as marcas em nominativas, figurativas ou mistas. • Nominativas: enquadram-se as marcas compostas exclusivamente por palavras, que não apresentam uma particularforma de letras. Exemplo: Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios. • Figurativas: as marcas consistentes de desenhos ou logotipos. Exemplo: os símbolos das montadoras de veículos. • Mistas: seriam palavras escritas com letras revestidas de uma particular forma ou inseridas em logotipos. Exemplo: Coca-Cola, NET etc. 2.1.5 Das invenções e dos Modelos de Utilidade não patenteáveis Nos termos do artigo 18 da LPI (BRASIL, 1996), não são patenteáveis: • o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas; • as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e • o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microrganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade − novidade, atividade inventiva e aplicação industrial — previstos no art. 8º (BRASIL, 1996) e que não sejam mera descoberta. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microrganismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais (BRASIL, 1996). 2.1.6 Segredo de empresa Apesar da frágil legislação e proteção sobre o tema, o segredo de empresa não está totalmente desamparado no direito brasileiro. Pelo contrário, a lei define como crime de concorrência desleal a exploração, sem autorização, de “conhecimentos”, informações ou dados confidenciais utilizáveis na indústria, no comércio ou na prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, se o acesso ao segredo tiver sido fraudulento ou derivado de relação contratual ou empregatícia – art. 195, incisos XII e XI, LPI (BRASIL, 1996). Assim, a usurpação de segredo de empresa gera responsabilidade tanto na área penal quanto na civil. É certo que apenas não haverá lesão a direito de um empresário se o outro que explora economicamente o mesmo conhecimento secreto também o tiver obtido graças às próprias pesquisas. Nesse exemplo, se nenhum dos dois registrar a patente, não haverá concorrência desleal; no entanto, quando dois ou mais empresários exploram o mesmo conhecimento secreto, o primeiro deles que depositar o pedido de patente poderá impedir que os demais continuem a explorar esse conhecimento. No Brasil, até o momento, não existe nenhum registro do segredo de empresa. Trata- se de um fato cuja prova deve fazer-se em juízo, pelos meios periciais, documentais ou testemunhais. São considerados bens integrantes da propriedade industrial: a invenção, o Modelo de Utilidade, o desenho industrial e a marca. 2.2 Desconsideração da personalidade jurídica A distinção entre pessoa jurídica e pessoa natural foi criada para proteger bens pessoais de empresários e sócios em caso da falência da empresa. Isso proporcionou mais segurança em investimentos de grande monta e é essencial para a atividade econômica. Contudo, em muitos casos, os empresários abusam dessa proteção para lesar seus credores. A resposta da Justiça a esse fato é a desconsideração da personalidade jurídica, que permite não mais separar os bens da empresa e dos seus sócios para efeito de determinar obrigações e responsabilidades de quem age de má- fé. A ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ, 2011), conta que a técnica jurídica surgiu na Inglaterra e chegou ao Brasil no final dos anos 1960, especialmente, com os trabalhos do jurista e professor Rubens Requião. “Hoje ela é incorporada ao nosso ordenamento jurídico, inicialmente pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) e no novo Código Civil (CC), e também nas Leis de Infrações à Ordem Econômica (8.884/94) e do Meio Ambiente (9.605/98)”, informou. A ministra adicionou que o STJ é pioneiro na consolidação da jurisprudência sobre o tema. Temos como exemplo o Recurso Especial (REsp) 693.235, relatado pelo ministro Luis Felipe Salomão (STJ, 2011), no qual a desconsideração foi negada. No processo, foi pedida a arrecadação dos bens da massa falida de uma empresa e também dos bens dos sócios da empresa controladora. Entretanto, o ministro Salomão considerou que não houve indícios de fraude, abuso de direito ou confusão patrimonial, requisitos essenciais para superar a personalidade jurídica, segundo o artigo 50 do CC, que segue a chamada Teoria Maior. 2.2.1 Desconsideração inversa É fato que pessoas naturais também tentam usar pessoas jurídicas para escapar de suas obrigações e responsabilidades. Temos exemplo em um julgado (REsp 948.117), em que um devedor se valeu de empresa de sua propriedade para evitar execução (STJ, 2011). Para a relatora, ministra Nancy Andrighi, seria evidente a confusão patrimonial e aplicável a “desconsideração inversa”. A ministra ressalvou que esse tipo de medida é excepcional, exigindo que se atendam os requisitos do artigo 50 do CC. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 2.2.2 Empresa controladora Também é suscetível de aplicação a desconsideração da personalidade jurídica da empresa controladora para poder penhorar bens a fim de quitar débitos da sua controlada. Se o credor não conseguir encontrar bens penhoráveis da devedora (a empresa controlada), a empresa controladora, tendo bens para quitar o débito, poderá ser responsabilizada. Para o ministro Beneti (STJ, 2011), o fato de os bens da empresa executada terem sido postos em nome de outra, por si só, indicaria malícia, pois estariam sendo desenvolvidas atividades de monta por intermédio de uma empresa com parco patrimônio. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988a. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 18 fev. 2013. ___. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Guia básico de marcas e manual do usuário sistema e-marcas. Rio de Janeiro, março 2013. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/guia_basico_de_marcas_e_manual_do_usuario _sistema_emarcas>. Acesso em: 2 março. 2013. ___. Superior Tribunal de Justiça. Desconsideração da personalidade jurídica: proteção com cautela. Brasília, 2011. Disponível em: <http://stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=103724> . Acesso em: 24 mar. 2015. COTRIM, G. Direito fundamental: instituições de direito público e privado. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. SROUR, R. H. Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000. ___. Ética empresarial: o ciclo virtuoso dos negócios. 3. ed. São Paulo: Elsevier, 2008.
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