Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
cespeUnB Centro de Seleção e de Promoção de Eventos DIDÁTICA GERAL SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO NO CARGO DE PROFESSOR PLENO I PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL 3 Autoras Sílvia Lúcia Soares Mírian Barbosa Tavares Raposo SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO NO CARGO DE PROFESSOR PLENO I PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL DIDÁTICA GERAL 2010 cespeUnB Centro de Seleção e de Promoção de Eventos 4 Módulo 4 - Didática Geral Reitor José Geraldo de Sousa Junior Vice-Reitor João Batista de Souza Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (CESPE) Ricardo Carmona Diretor-Geral Rosalina Pereira Diretora-Executiva Roger Werkhäuser Escalante Coordenadoria de Educação Corporativa e Eventos Roberta Freitas Soares Gerência de Formação de Pessoas Equipe Técnico-Pedagógica Ana Maria da Silva Peixoto Danielle Xabregas Pamplona Nogueira Lady Sakay Luís Fernando Tavares Santos Michelle Galdino da Silva Milene de Fátima Soares Nayara César Santos de Morais Vera Lúcia de Jesus Endereço Campus Universitário Darcy Ribeiro Edifício Sede CESPE/UnB Caixa Postal 04488 CEP: 70904-970 – Asa Norte, Brasília/DF Telefone: (61) 3448-0100 Fax: (61) 3448-0110 Site: www.cespe.unb.br E-mail: sac@cespe.unb.br AUTORA: Sílvia Lúcia Soares Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília, obteve grau de Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. É professora do Departamento de Método e Técnica da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, onde integra o grupo de pesquisa “A produção acadêmica sobre professores: estudo interinstitucional da Região Centro-Oeste”. Tem desenvolvido trabalho de elaboração e coordenação pedagógica em cursos de formação de professores realizada por meio de parceria firmada pela Universidade de Brasília com a Secretaria de Educação do Distrito Federal - Pedagogia para Professores em exercício em Início de Escolarização – PIE e com a Secretaria de Educação do Estado do Acre – Pedagogia a Distância - PEDEAD. Tem desenvolvido trabalho de formação dos cespeUnB Centro de Seleção e de Promoção de Eventos 5 tutores junto à Universidade Aberta do Brasil – UAB/UnB. Além disso, atua no ensino de graduação da Faculdade de Educação, mais especificamente com a formação de professores para a Educação Básica, como professora de Didática Fundamental. AUTORA: Mírian Barbosa Tavares Raposo Graduada em Pedagogia pela Universidade de Brasília, obteve grau de Mestre em Psicologia e Doutora em Psicologia pela mesma universidade. É professora do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, onde integra o grupo de pesquisa do Laboratório de Microgênese das Interações Sociais – LABMIS. Tem desenvolvido pesquisas nas áreas de Educação e Psicologia, com ênfase na Formação de Professores e Psicologia Educacional, desde as questões relacionadas à interação professor-professor (Mestrado) até àquilo que é ensinado de psicologia, nos cursos de graduação e licenciatura, analisando suas contribuições para a organização do trabalho pedagógico do professor (Doutorado). Além disso, atua no ensino de graduação e pós-graduação, com disciplinas que estão na interface da psicologia e da educação e em atividade de extensão, especificamente com a formação continuada de professores. 6 Módulo 4 - Didática Geral Alô Cursista, Neste módulo vamos desenvolver um diálogo sobre um dos temas que, sabemos, é objeto de preocupações constantes no fazer pedagógico do professor: a didática ou organização do trabalho pedagógico do professor. Sabemos que a atividade docente incorpora inúmeros aspectos, todos eles de ordem bem diferenciadas. Assim, para organizar uma aula, por exemplo, temos que saber: que homem/mulher queremos formar; para construção de qual tipo de sociedade; que conteúdos contribuirão para a construção desse sujeito; como devemos organizar o processo de ensino de forma que gere desenvolvimento e aprendizagem; que recursos temos disponíveis para essa organização; como devemos avaliar e acompanhar esse processo, etc. Nesse amontoado de informações, encontra-se a atividade pedagógica do professor. Nossa perspectiva nesse diálogo é que possamos construir conhecimento a esse respeito. Precisamos estudar o que vem sendo discutido sobre a didática e a organização do trabalho pedagógico do professor na escola e na sala de aula, para embasar e transformar nossa prática. Ao mesmo tempo, precisamos conhecer o que os professores vêm construindo em suas atividades docentes, de maneira que essas ações possam se tornar objeto de reflexão e construção de conhecimentos entre nós, pesquisadores e profissionais da educação. Sendo assim, neste módulo, iniciamos as discussões sobre o processo educativo na escola, especificamente na escola do Ensino Médio, tendo por base os seguintes objetivos: OBJETIVO GERAL Este módulo tem como objetivo contribuir para compreensão do cursista sobre as principais questões relativas à didática e organização do trabalho pedagógico do professor, no contexto do processo educativo no ensino médio, a fim de subsidiá-lo nos processos de tomada de decisões que envolvem a atividade pedagógica. Apresentação 7 OBJETIVOS ESPECÍFICOS De forma mais específica, pretende-se: Refletir sobre os diversos componentes da didática e da organização do trabalho pedagógico do professor na escola e na sala de aula; Compreender os diversos tipos de planejamento como eixos articuladores desses componentes; Analisar cada uma dos componentes do planejamento de ensino e aprendizagem, a fim de reconhecê-los como integrantes de um mesmo processo educacional. 8 Módulo 4 - Didática Geral Sumário UNIDADE 1 - DIDÁTICA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO 9 Revendo nossas concepções 9 ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA COMO PROCESSO CÍCLICO 11 Considerações finais 13 UNIDADE 2 - PLANEJAMENTO COMO EIXO ARTICULADOR 14 2.1. O ato de planejar 14 2.2. Planejamento Educacional 16 2.3. Planejamento Escolar ou Institucional 17 2.4. Planejamento de Ensino 22 Considerações finais 23 UNIDADE 3 - COMPONENTES DO PLANEJAMENTO 25 3.1. Objetivos 25 3.2. Conteúdos 26 3.3. Metodologia 28 3.3.1. Métodos/estratégias de ensino. 33 3.3.2. A organização do trabalho pedagógico e as novas tecnologias 38 Considerações finais 40 UNIDADE 4 - AVALIAR PARA APRENDER. APRENDER PARA AVALIAR 41 4.1. A avaliação na área educacional 41 4.2. O Sistema de Avaliação do Estado do Ceará – SPAECE 44 Considerações finais 46 FINALIZANDO 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49 9Unidade I - Didática e Organização do Trabalho Pedagógico DIDÁTICA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO Nessa unidade discutiremos a respeito da didática e da organização do trabalho pedagógico do professor na escola e na sala de aula. É nosso objetivo específico contribuir para que você compreenda os diversos componentes dessa organização e que entenda a importância de colocar todos eles em constante articulação. Para isso, dividimos a unidade em duas partes. Na primeira delas, discutiremos sobre nossas concepções e relacionaremos cada uma delas à nossa atividade pedagógica. Verá como é interessante perceber que agimos muito mais a partir de nossos valores e crenças do que de nossos ideais e sonhos. Na segunda parte, analisaremos a atividade pedagógica como um processo cíclico entre os diversos componentes da Didática, o que poderá servir como uma significativa contribuição para ressignificarmos nossa atuação enquanto profissionaisda educação. Vamos começar? REVENDO NOSSAS CONCEPÇÕES Iniciamos nossa unidade propondo a você um desafio: o de refletir sobre a educação que você vive e viveu nas suas escolas. Pensar sobre as aulas que tem ou teve, oferece aos seus alunos ou já ofereceu, sobre a forma que elas foram organizadas, sobre as coisas explícitas e implícitas que aprendeu por causa dessa organização e sobre que tipo de processo pedagógico gostaria de construir na sua vida profissional daqui pra frente, como professor. É necessário se pensar no tipo de mundo que queremos construir e em que pessoas poderão trabalhar nessa construção, ou seja, nas competências que precisarão desenvolver para isso. Nesse sentido, precisaremos pensar nos conteúdos que utilizaremos, nas metodologias, nos recursos adequados, nas avaliações. Isso tudo é só para começar. Além disso, precisaremos considerar cada pessoa que faz parte desse processo, seu desenvolvimento, suas relações, suas histórias, seus contextos, igualdades e diferenças. UNIDADE I Você já parou para pensar na quantidade de coisas que envolvem e interferem na organização de uma aula ou de um curso? 10 Módulo 4 - Didática Geral Enfim, pensar na organização de uma aula ou de um curso é uma atividade que vai muito além da sala de aula e da escola. Ela está vinculada às nossas concepções de mundo, homem/mulher, desenvolvimento, educação, escola, ensinar-aprender, professor, aluno, avaliação e na relação de todos eles. A Didática surge, assim, com a preocupação de nos oferecer instrumentos que permitam reconhecer a relação indissolúvel entre o ato pedagógico e o contexto social, político e econômico no qual ela se insere e, ainda, contribuir para que compreendamos as diferentes formas de conceber o fenômeno educativo. No entanto, essa orientação didática passa por diferentes idéias a respeito da forma como nos desenvolvemos e como aprendemos sobre os objetos, o mundo e sobre nós mesmos, ou seja, cada um tem uma concepção própria de homem/mulher, mundo e sociedade. Essa interpretação resulta da relação sujeito-ambiente, isto é, deriva de uma tomada de posição epistemológica em relação ao sujeito e ao meio. Os inatistas, por exemplo, afirmam que as formas de conhecimento estão predeterminadas no sujeito, ou seja, as capacidades e qualidades de cada pessoa já estão prontas quando ela nasce e, durante a vida, vão sendo melhoradas a partir da influência do meio. Nessa concepção, portanto, o desenvolvimento obedece a um processo de maturação interna, que pode ser acelerado ou reprimido pelas influências do meio, mas não pode ser transformado. As implicações educacionais que essa concepção traz nos são bem conhecidas e representam aquelas argumentações recorrentes de que o aluno pode ou não ter aptidões para aprender algumas coisas ou de que há necessidade de se esperar o desenvolvimento biológico e a maturação do aluno para que determinados conhecimentos sejam ensinados. Além disso, é comum vermos professores que acreditam que o aluno terá muito mais possibilidades de desenvolver se puder expressar suas tendências naturais e trabalhar para o desenvolvimento delas a partir de seus interesses pessoais. Nesse caso, cabe ao professor o papel de organizar o ambiente para facilitar o desenvolvimento do aluno. A outra concepção de desenvolvimento que discutiremos tem sua origem no empirismo, ou seja, prima pelo objeto e é denominada ambientalismo. Os ambientalistas, ao contrário dos inatistas, consideram que o indivíduo está sujeito às contingências do meio, sendo o conhecimento uma cópia de algo dado no mundo externo. Nesse sentido, o indivíduo é construído a partir das influências do meio, ou seja, suas experiências vão dando origem a comportamentos determinados por esse meio. Os reflexos dessa concepção na educação é a organização de um espaço educacional munido com um grande número de informações e programas educacionais que 11Unidade I - Didática e Organização do Trabalho Pedagógico produzem transformação, correção e estimulação do aluno, a partir do uso programado de técnicas e metodologias adequadas à aprendizagem do aluno. Por fim, a última concepção que discutiremos é a interacionista. Do ponto de vista interacionista, o sujeito se constitui historicamente nas interações com o meio, com os objetos e, principalmente, com as outras pessoas. Nesse sentido, o desenvolvimento ocorre dinamicamente, durante toda a vida da pessoa, de forma que homem/mulher e mundo vão se transformando ativamente pela ação do outro. A educação, nessa concepção, exerce um papel fundamental no desenvolvimento humano. No entanto, ela não acontece de forma unidirecional. Ao contrário, professor, alunos e comunidade educacional atuam uns sobre os outros de forma que cada um deles vai ativamente transformando suas ações internamente. Segundo os interacionistas, o processo de construção de conhecimentos acontece nas relações sociais estabelecidas no contexto escolar. Por esse motivo, as metodologias de ensino devem criar situações coletivas que promovam conflitos, problemas e desafios nas tarefas, de forma que o aluno possa construir o conhecimento ativa e interativamente. Como pudemos ver, dependendo da nossa concepção de desenvolvimento e aprendizagem, organizaremos atividades pedagógicas de formas diferenciadas. Subjacente a essas atividades estão presentes – implícita ou explicitamente, de forma articulada ou não, consciente ou não – um referencial teórico que estará vinculado com o tipo de mundo que queremos ter, o tipo de homem/mulher que queremos formar para contribuir na construção desse mundo e o tipo de educação que propiciará o desenvolvimento desse homem/mulher. A partir dessa percepção, a Didática nos oferece algumas linhas pedagógicas expressas sob a forma de abordagens. Cada uma delas está baseada em uma concepção teórica de desenvolvimento humano diferente. ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA COMO PROCESSO CÍCLICO O processo de construção de uma proposta pedagógica coerente com os nossos referenciais pessoais e contextuais de mundo, homem/mulher, sociedade e educação tem sido motivo de muitas preocupações e um grande desafio na organização do trabalho pedagógico das escolas. Isso se dá principalmente porque as diferentes concepções teóricas de desenvolvimento modificam sistematicamente a forma de interpretarmos a realidade educacional, o desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito. 12 Módulo 4 - Didática Geral Coerentes com esse paradigma e baseadas na figura da metodologia como um processo cíclico, organizada por Branco e Valsiner (1997, p. 39), Raposo e Maciel (2008) desenvolveram uma metodologia com orientação sociocultural construtivista, que ressalta a relevância do contexto cultural e social para o processo educacional. As autoras consideram que a pessoa constrói o conhecimento no seu processo da vida, que é organizado pelo mundo social onde a pessoa vive. O processo pedagógico, portanto, deve buscar incluir a interrelação das várias partes do processo educacional. Apresentam, assim, um modelo de organização pedagógica como um processo cíclico no qual o aluno é orientado para objetivos por meio de procedimentos específicos situados no contexto de um círculo de ações educativas. Os processos de pensamento e reflexão do professor estão em contínua interação dialética com o aluno levando-o, assim, à construção de novos conhecimentos: Nessa perspectiva, consideram que o processo pedagógico de qualquer área deve contemplar tanto as relações que se dão entre os sujeitos que dela participam e entre os sujeitos e instrumentos implicados na dita atividade, quanto nas relações entre os diferentes sistemas implicados. Desse modo, Raposo e Maciel (2008) acreditam que o professor deve considerar na organização de sua proposta pedagógica a trama das relações contextuaisressaltando, especificamente: suas concepções de homem, de mundo e de sociedade, de educação; suas concepções de desenvolvimento e aprendizagem; o conhecimento que pretende trabalhar; os métodos e instrumentos envolvidos no processo de ensino e de avaliação; tudo isso mediado pelas experiências intuitivas do aluno e do professor. Conceções teóricas Método Avaliação Experiência Intuitiva Objetivos Conhecimentos Organização Pedagógica como um Processo Cíclico 13Unidade I - Didática e Organização do Trabalho Pedagógico O espaço no qual o professor irá organizar todos esses referenciais em ações pedagógicas a fim de alcançar seus objetivos educacionais é reconhecido na Didática como o planejamento. Dedicamos o capítulo a seguir a seu respeito. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa unidade discutimos a respeito da Didática e a Organização do Trabalho Pedagógico do Professor. Esperamos que você tenha reconhecido o papel social da Didática e compreendido a importância da articulação de suas atividades docentes com todos os componentes e recursos tecnológicos que envolvem a educação. Nessa unidade vimos que o ensino pode ser concebido sob duas concepções distintas: • Como algo endógeno, que vem de dentro para fora. Essa tendência fundamenta- se no inatismo; • Como construção simultânea dos objetos de conhecimentos e das estruturas cognitivas de conhecimento e das estruturas cognitivas e coordenadas internas – o processo cíclico. Observamos que a Organização Pedagógica como um Processo Cíclico representa um conceito que sintetiza essa responsabilidade do professor e da escola. A partir dessas informações, consideramos que será mais fácil compreender sobre planejamento e seus componentes, informações fundamentais para ressignificação de seu fazer pedagógico. Agora, vá ao Ambiente Virtual de Aprendizagem e realize a atividade da unidade 1. cespeUnB Centro de Seleção e de Promoção de Eventos 14 Módulo 4 - Didática Geral PLANEJAMENTO COMO EIXO ARTICULADOR A atividade de planejar é mais corriqueira do que imaginamos. Somos seres de planejamento. Não raramente fazemos planos. Ainda jovens, crianças ou adolescentes, pensamos no que queremos fazer quando formos adultos, imaginamos profissões, viagens, etc. Na vida adulta passamos boa parte de nosso tempo planejando. Como economizar a compra daquele carro ou para aquelas férias, em realizar alguns desejos que, dada a vida agitada e os compromissos que ela nos impõe, se não nos programarmos não passarão de sonhos, nunca vindo a se concretizar. Sendo assim, podemos de maneira superficial entender por planejamento o conjunto de ações que materializam os sonhos. A organização das decisões no sentido de tornar um desejo, um objetivo, em realidade. Nesta unidade conversaremos um pouco sobre o conceito e a importância do planejamento nas diversas atividades desenvolvidas pelo homem, nas mais diversas áreas e mais especificamente na educação. Abordaremos o conceito e os diversos tipos de planejamentos aplicados na área da educação em nível nacional, estadual, municipal, como também dentro da escola e em sala de aula. Como diz Geraldo Vandré “quem sabe faz a hora não espera acontecer”. É necessário planejar, agir, mudar. Tornar possíveis as utopias, trilhar os sonhos, buscar possibilidade. Assumir o compromisso histórico com o processo de transformação. Procurar sempre ver para além da realidade dada (BOFF 1998, p. 98). 2.1. O Ato de Planejar Na música “Cotidiano”, Chico Buarque de Holanda nos mostra a rotina que se faz presente em nossas vidas. Alerta-nos para a necessidade de criar, inovar, fazer diferente, tornar exclusiva a normalidade, enfim dar sentido e significado a vida... humanizar. UNIDADE II Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. (HOLANDA) 15Unidade II - Planejamento como Eixo Articulador Entre os animais apenas o homem tem a capacidade de projetar-se, lançar-se a frente, por isso é considerado um ser racional. O que lhe assegura a condição de pensar, crescer, evoluir, criar, construir, desconstruir, antecipar e retroagir no tempo, ou seja, ele é capaz de projetar suas ações antes de executá-las. Isso o diferencia dos demais seres vivos, pois não apenas convive com a natureza, mas a transforma para garantir sua sobrevivência. Age de forma pensada, planejada, intencional. O ato de planejar faz parte da história do desenvolvimento humano, pois a necessidade de tornar realidade o antes pensado é inerente ao homem. Desde as épocas mais remotas, ele sempre fez uma previsão das suas ações, sempre pensou e imaginou em algo que deveria ser realizado. Ícaro, uma das personagens da mitologia grega, tinha a intenção de chegar ao céu. Queria alcançar o inalcançável. Para isso, projetou asas que o fizessem voar. Teseu, outro personagem da mitologia, foi designado para matar o Minotauro. Entrou no labirinto e, buscando a saída do labirinto, marcou o seu caminho com um novelo de linha. Perdeu-se e com a sua astúcia, procurou caminhos para encontrar o Minotauro, matá-lo e sair do labirinto. (ARAÚJO, 2001). Nessa perspectiva, o planejamento faz parte de nossa vida, e, mesmo que indiretamente, está presente em nosso cotidiano. Estamos sempre refletindo, tomando decisões, prevendo possibilidades. De acordo com Padilha (2001), planejamento é a busca de equilíbrio entre meios e fins. Na área educacional o planejamento pode ser considerado como um instrumento político-pedagógico. Político por basear-se em determinados princípios, valores e na concepção que temos e buscamos de homem, cultura e sociedade. Pedagógico por ser intencional e por efetivar-se nas ações pedagógicas, em determinadas concepções de currículo, trabalho e gestão. Em síntese, é a organização das políticas educacionais no âmbito nacional, estadual, municipal e escolar e a garantia de unidade entre esses níveis. O ato de planejar é sempre um ato de reflexão, de tomada de decisões sobre a ação, de previsão de recursos disponíveis a serem utilizados na busca de determinado objetivo, estando presente nos mais diferentes setores da vida social: na política, na economia, na agricultura, na saúde, na vida familiar e na educação. 16 Módulo 4 - Didática Geral 2.2. Planejamento Educacional De acordo com Libâneo (1991), o planejamento educacional consiste na tomada de decisões sobre a educação no conjunto do desenvolvimento geral do país. A elaboração desse tipo de planejamento requer a proposição de objetivos a longo prazo que definam uma política da educação. É realizado pelo Governo Federal, através do Plano Nacional de Educação e da legislação vigente. É amplo, geral e abrangente e determina as diretrizes da política nacional e estadual de educação. São exemplos de planejamento educacionais: • Plano Nacional de Educação – PNE O PNE é respaldado legalmente na Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, que determinam um plano nacional de educação, com duração de dez anos, em sintonia com a Declaração Mundial de Educação para Todos. Subsidia a elaboração dos planos decenais dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. • Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs São referências de qualidade para os Ensinos Fundamental e Médio do país, elaboradas pelo Governo Federal. O objetivo é propiciar subsídios à elaboração e reelaboração do currículo. • Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs São normas que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Têm origem na LDB de 1996. Dessa forma, foram estabelecidas Diretrizes Curriculares Nacionais para: a Educação Infantil, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e para a Formaçãode Professores. • Referências Curriculares Nacionais – RCNs São elaborados para áreas que necessitem de informações adicionais, além dos documentos normativos (PCNs – DCNs). Por isso, são divididos em categorias, de acordo com o nível de ensino a que se referem, constituindo, por exemplo, os PCNs para a Educação Infantil, os PCNs para a Educação Indígena e os PCNs para a Educação Profissional. • Planos Decenais: Estados, Distrito Federal, Municípios – Base: PNE São estruturados em consonância com a Constituição de 1988, concebida como “um conjunto de diretrizes políticas, em contínuo processo de negociação (...)” Com base no Plano Nacional de Educação – PNE, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar planos decenais correspondentes. 2.3. Planejamento Escolar ou Institucional O planejamento escolar ou institucional é a etapa em que se determina os rumos da escola e se define sua função social, estabelecendo-se o eixo norteador de todas as ações nela desenvolvidas. Conforme Libâneo (1992), o planejamento escolar é 17 o planejamento global da escola, envolvendo o processo de reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. "É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social" (p. 221). Em sua elaboração devem ser observadas as finalidades da educação; a função social da escola; as bases teórico-metodológicas, ou seja, o tipo de homem que se pretende formar; a organização do trabalho pedagógico; as teorias de ensino-aprendizagem. São exemplos de planejamento escolar: • Planejamento curricular É o "processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno" (VASCONCELLOS, 1995, p. 56). Essa modalidade de planejar constitui um instrumento que orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao aluno, por meio dos diversos componentes curriculares. Portanto, a escola deve ter como referência os parâmetros curriculares nacionais e adequá-los à sua realidade. • Projeto Político-Pedagógico – PPP O PPP é o documento onde estará todo o planejamento das ações educativas a serem desenvolvidas pela escola. Nele constarão as diretrizes para o planejamento das disciplinas, para as ações interdisciplinares e para a orientação do estabelecimento das parcerias com a comunidade e demais órgãos públicos educacionais e não diretamente vinculados à educação. A elaboração do Projeto Político-Pedagógico deve contar com a participação dos diversos sujeitos educativos e irá determinar a autonomia, a identidade e a função social da escola. Enfim, ao elaborá- lo estabelece-se o eixo norteador de todas as atividades a serem desenvolvidas pela escola, num determinado tempo histórico. O PPP é a coluna vertebral da escola, deve ser construído no chão da escola, por meio do movimento de seu cotidiano, considerando seus anseios, dificuldades e possibilidades. Um projeto que busque assegurar seus valores, crenças, formas de pensar, de agir e de ser (SOARES, 2009). Veiga (1999) afirma que o PPP, ao mesmo tempo em que exige a participação da comunidade educativa na definição do tipo de escola que se quer construir, exige também a definição do tipo de Unidade II - Planejamento como Eixo Articulador 18 Módulo 4 - Didática Geral sociedade e de cidadão que se pretende formar. Nele detalha-se “as ações específicas para obtenção desses fins” (p. 17). • Plano de Metas do Diretor – PLAMETAS O Plano de Metas representa o compromisso inicial do diretor com a Escola e a SEDUC, servindo de base para a redefinição, junto à comunidade escolar, dos instrumentos de gestão da Escola. Esse plano tem como referência a Agenda Estratégica da Secretaria da educação do governo do Ceará - SEDUC. Cada escola da rede pública de ensino deve elabora seu PLAMETAS, considerando a realidade da escola, seus indicadores e fragilidades. Nesse plano são definidos objetivos estratégicos, metas e ações que visam atender às evidências apontadas pelos indicadores. Os objetivos estratégicos são de natureza qualitativa, especificam a maneira com as metas serão alcançadas. As metas são os fins, ou seja, os resultados que a escola pretende alcançar. A referência para sua elaboração é o último ano do período do plano (2012), e anuais. Devem ser estratificadas por níveis e modalidades de ensino e por turno (diurno e noturno) e sempre conter: um objetivo gerencial, valor e prazo. Para cada meta deve ser definido um grupo de ações. É, portanto um instrumento da gestão, considerado como a Agenda Estratégica da Escola. Assim, podemos destacar itens que compõem o Plano de Metas a partir de um exemplo deste Plano. Uma escola estadual de ensino médio da rede estadual de educação do Ceará apresenta o seu Plano de Metas com a seguinte estrutura: MISSÃO: Garantir educação básica com equidade e foco no sucesso do aluno. VISÃO: Ser uma organização eficaz com um ambiente de trabalho acolhedor e propício ao desenvolvimento de pessoas, assegurando, até 2010, a matrícula de todas as crianças e jovens de 4 a 18 anos, a melhoria dos resultados de aprendizagem em todos os níveis de ensino e a efetiva articulação do ensino médio à educação profissional. Objetivos Estratégicos Institucionais: • Fortalecer o regime de colaboração com foco na alfabetização das crianças na idade certa. 19 • Melhorar a qualidade da educação básica em todos os níveis de ensino. • Proporcionar a oferta do ensino médio com currículo diversificado compatível com as estratégias de desenvolvimento local/regional; • Valorizar os profissionais da educação, assegurando seu desenvolvimento, direitos e deveres; • Desenvolver modelos de gestão organizacional e escolar, focados na aprendizagem. Considerando a MISSÃO, a VISÃO e os OBJETIVOS ESPECÍFICOS INSTITUCIONAIS, o diretor da referida escola elaborou o seu Plano de Metas. Neste Plano, um dos OBJETIVOS ESTRATÉGICOS é: Aumentar o índice de aprovação no ensino fundamental e médio. Partindo deste OBJETIVO, foram estabelecidos: Indicadores: Taxa de aprovação, Taxa de reprovação, Taxa de abandono, Frequência dos alunos, Acompanhamento pedagógico, Desempenho acadêmico dos alunos do Ensino Fundamental e Médio. Linhas de base: • Taxa de aprovação: o Ensino Médio Diurno Geral: 2008 – 80% o Ensino Médio Noturno Geral: 2008 -78% • Taxa de reprovação: o Ensino Médio Diurno Geral: 2008 – 2% o Ensino Médio Noturno Geral: 2008 – 2,02% • Taxa de abandono: o Ensino Médio Diurno Geral: 2008 – 18% o Ensino Médio Noturno Geral: 2008 – 19,08% Desta forma, as METAS GLOBAIS (2009 a 2012), definidas para o objetivo supramencionado são: • Ensino Médio Geral: o Aumentar a taxa de aprovação para 87% Unidade II - Planejamento como Eixo Articulador 20 Módulo 4 - Didática Geral o Reduzir a taxa de reprovação para 2% o Reduzir a taxa de abandono para 11% Definidos os OBJETIVOS e as METAS, o próximo item que o Plano de Metas apresenta é a definição das AÇÕES, que visam à concretização das METAS estabelecidas. Desse modo, das ações relacionadas gostaríamos de destacar a ação a seguir: As indicações do Plano de Metas servirão a você, professor, para pensar e efetivar o seu planejamento de ensino. Se a ação descrita no Plano requer como procedimento planejar aulas práticas, isto deve ser considerado no momento da elaboração do seu planejamento de sala de aula, articuladas com as proposições do planejamento curricular e do Projeto Político-pedagógico da escola. Pedagogia de Projetos: uma alternativa epistemológica Projeto pode ser entendido comoprojeção, processo de formação de uma idéia que admite modificações, que mantém um diálogo constante com o contexto, com as circunstâncias, com os indivíduos. É a confluência das diversas áreas do conhecimento, é o estabelecimento de conexões múltiplas, a geração de transformações e a exploração de caminhos alternativos. Os projetos podem ser entendidos como um dos veículos para o desenvolvimento do trabalho. Abrantes, (1995, p. 62) aponta algumas características fundamentais do trabalho com projetos: Um projeto é uma atividade intencional, tendo um objetivo que lhe dá unidade e sentido às várias atividades. O envolvimento dos alunos é uma característica- chave. Num projeto, a responsabilidade e a autonomia dos alunos são essenciais. Um projeto é uma atividade intencional, tendo um objetivo que lhe dá unidade e sentido às várias atividades. O envolvimento dos alunos é uma característica- chave. Num projeto, a responsabilidade e autonomia dos alunos são essenciais. Eles são corresponsáveis pelo trabalho e pelas escolhas ao longo do desenvolvimento do projeto. Em geral, fazem-no em equipe, motivo pelo qual a cooperação está AÇÃO PRAZO PROCEDIMENTO Estimular e monitorar as atividades laboratoriais, tendo como foco o sucesso do aluno Mensalmente Planejando aulas práticas 21 também quase sempre associada ao trabalho. A autenticidade é uma característica fundamental. O problema a resolver é relevante e tem caráter real para os alunos. Não se trabalha com conteúdos prontos. O problema faz parte do contexto sociocultural e os alunos constroem respostas pessoais e originais. Um projeto envolve complexidade e resolução de problemas. O objetivo central constitui um problema ou uma fonte geradora de problemas. Um projeto percorre várias fases: escolha do objetivo central, formulação dos problemas, planejamento, execução, avaliação e divulgação dos trabalhos. Mas como organizar um projeto de trabalho? Inicialmente deve ser escolhido e definido o problema a ser pesquisado pela turma com o envolvimento de todos. Nesse momento de problematização o professor detecta o que os alunos já sabem e o que ainda não sabem sobre o tema em questão. A partir das questões apontadas nessa etapa, o projeto é organizado pelo grupo. O problema é, então, o eixo orientador da organização do projeto. A próxima etapa será do desenvolvimento do projeto, ou seja, é o início do processo de pesquisa, quando se estabelecem as estratégias a serem utilizadas na busca da resposta do problema apresentado. Nessa fase, selecionam-se as fontes bibliográficas ou de informação, como os critérios de ordenação e de interpretação das fontes. Pode acontecer que, no desenrolar do projeto, novas dúvidas surjam, o que irá exigir que se estabeleçam relações com outros problemas. Por último teremos a síntese, o processo de compreensão do problema, de reconhecer diferentes versões de um fato. É a ressignificação de conceitos e valores por meio de procedimentos construídos coletivamente. Portanto, a reelaboração e produção do conhecimento, quando as convicções iniciais são superadas e outras mais complexas vão sendo construídas. 2.4. Planejamento de Ensino É o processo que envolve "a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os educadores e entre os próprios educandos" (FUSARI, 1989, p. 10). Consiste em traduzir, em termos mais concretos e operacionais, o que o professor fará na sala de aula para mediar o processo de construção do conhecimento do aluno e ajudá-lo a alcançar os objetivos educacionais propostos. São exemplos de planos de ensino: Unidade II - Planejamento como Eixo Articulador 22 Módulo 4 - Didática Geral • Plano de curso ou de disciplina É o planejamento organizado das atividades pedagógicas a serem desenvolvidas em todo o não letivo. Pode ser denominado também de plano de curso ou plano de aprendizagem e ser organizado por unidades didáticas. No plano de curso acontece a distribuição do conteúdo/conhecimento/atividade a ser trabalhado num determinado período de tempo. Em sua elaboração devem ser considerados o planejamento educacional, o planejamento institucional e o curricular, a realidade sociocultural, a idade e desenvolvimento dos alunos, as condições necessárias para a efetivação do processo ensino-aprendizagem, além dos seguintes componentes: • Plano de aula O plano de aula pode ser considerado como o detalhamento do plano de curso ou disciplina. É onde as idéias transformam-se em ações e fazem com que ocorra, cotidianamente, o fazer pedagógico em sala de aula. Conforme Anastasiou (2004) é quando se dá sabor ao conhecimento, quando se mexe com o desejo e o prazer do aprender. Segundo a autora, também pode ser lugar de opressão, amargura e exclusão dependendo da forma como o professor organiza seu trabalho pedagógico. Ao organizar a aula o professor não deve estabelecer um divórcio entre a vida e a escola, entre o ter que e o querer que. Isso só é possível por meio de utilização de metodologias socializantes, inovadoras e ativas. Anastasiou (2004) diz que o assistir ou dar aulas precisa ser substituído pela ação conjunta do fazer aulas. Talvez, seja necessário que o professor desaprenda a dar aula e aprenda a fazer aula junto com seus alunos. De acordo com Libâneo (1999), ao preparar a aula o professor deve considerar os seguintes aspectos: • Tempo de duração da aula; • Objetivos específicos e aplicação do conhecimento apreendido; • Natureza e especificidade do conteúdo a ser trabalhado; • Sequência lógica; • Desenvolvimento metodológico – preparação e introdução do assunto; desenvolvimento e estudo ativo; sistematização e aplicação; • Aplicação/avaliação – realizada no início para saber o que o aluno sabe a respeito do conteúdo; durante e no final da aula. Deve conjugar formas variadas de verificação e ter como referência o objetivo específico da aula. 23 Não devemos desconsiderar a importância da aula para o processo ensino aprendizagem do aluno. Para Mariz apud Soares (2009) o espaço-atividade sala de aula pode ser um banquete onde se faz e degusta o pensar criador, como podemos presenciar no filme “A Festa de Babette”, onde as pessoas, espantadas e resistentes por motivos religiosos, se vêem sentadas frente a um banquete com todo o requinte da culinária francesa, degustando lentamente sabores diferentes. Num movimento de medo e descobertas, de alegria e espanto, elas experimentam algo semelhante ao movimento de aprender! Rubem Alves (2005) nos diz que saber é saborear. Portanto, para poder levar o sabor do conhecimento ao aluno, é necessário que o professor também o saboreie. Que planeje sua aula também com desejo e pergunte a si mesmo: eu gostaria de assistir essa aula? É fundamental ao professor colocar-se no lugar do outro, transformar a aula em magia, em espaço de trocas, descobertas e muita vontade de aprender a aprender. Para finalizar essa unidade recorro ao grande educador Paulo Freire: Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria. (1998, p. 80) Unidade II - Planejamento como Eixo Articulador 24 Módulo 4 - Didática Geral Considerações Finais Nesta unidade estudamos sobre os três tipos de planejamento existentes na área educacional e suas respectivas funções. Foram ressaltadas as características de cada um deles bem como sua forma de elaboração. Observamos que o planejamento é um atributo da racionalidade, ou seja, só aos seres racionais é dado planejar, antever os seus atos, prevendoobjetivos e possíveis efeitos negativos a serem evitados. E, dada essa característica da previsão, o planejamento tenha se tornado fundamental nas diversas áreas da vida humana, principalmente na educação. Nessa área, pode ser considerado como norteador das políticas educacionais, dos rumos da escola e a das ações pedagógicas em sala de aula. Planejar é prever, pois antecipadamente estabelecemos objetivos. O planejamento deve iniciar-se pela sondagem da realidade, depois passa pelo levantamento de disponibilidades e recursos existentes. Aponta caminhos: partindo do que temos, projetamos o que queremos. Com isso, vamos, agora, ao Ambiente Virtual de Aprendizagem para responder ao questionário da Unidade 2. cespeUnB Centro de Seleção e de Promoção de Eventos 25Unidade III - Componentes do Planejamento COMPONENTES DO PLANEJAMENTO A elaboração de um planejamento de ensino, independente do tipo, utiliza-se dos seguintes componentes do processo de ensino: • Objetivos; • Conteúdo; • Metodologia/procedimentos; e • Avaliação; Nesta unidade discutiremos a respeito de cada um desses componentes. É nosso objetivo específico que você compreenda cada uma das partes do planejamento, bem como reconheça a importância da relação entre elas e entre todos os outros níveis de organização pedagógica estudados pela Didática. 3.1. Objetivos Os objetivos de ensino determinam a intencionalidade, ou seja, o que se pretende buscar. São, portanto, o marco inicial do processo social e pedagógico. De acordo com Libâneo (1994), na educação os objetivos de ensino apresentam-se em três níveis de abrangência: o primeiro nível é o sistema escolar que determina as finalidades educativas de acordo com a sociedade em que está inserido; o segundo é determinado pela escola que estabelece as diretrizes e princípios do trabalho escolar; o terceiro nível é o professor que concretiza tudo isto em ações práticas na sala de aula. Os objetivos podem ser gerais e específicos. Os objetivos gerais são mais amplos e abrangentes, apresentam propósitos. São alcançados num período maior de tempo; ao final do curso, da disciplina, do ano letivo. Os específicos são mais detalhados e precisos, representam ações observáveis. São detalhamentos do objetivo geral, os degraus a serem calcados para se chegar ao objetivo geral. Para Vasconcellos (2006), a formulação dos objetivos ajuda no pensar e no elaborar da ação, além de servir de critério para se saber em que medida eles foram alcançados. É a elaboração dos objetivos que determina a postura ativa do sujeito no processo educativo. De acordo com o autor, “estabelecer objetivos é ter habilidade de dialogar, de perscrutar o mundo, descobrir-lhe o sentido, e devolver à comunidade de forma orgânica, como um convite, um desafio” (VASCONCELLOS, 2006, p.112). UNIDADE III 26 Módulo 4 - Didática Geral Importante, entretanto, ressaltarmos o vínculo da formulação dos objetivos com os aspectos sócio-históricos, políticos e culturais do grupo. A esse respeito Freitas (1995) afirma que a reflexão a respeito de onde queremos chegar não pode ser desenvolvida sem que seja contextualizada dentro da organização do trabalho pedagógico da escola, já que esses níveis são históricos e, portanto, mudam sob o impulso do fluxo da mesma história. Para o autor, as categorias conteúdo/forma e objetivos são fundamentais nessa organização dos trabalhos sendo que esse último é que determina a relação entre os outros. Em outras palavras, o autor considera que os objetivos conduzirão e definirão os conhecimentos que serão discutidos na organização do trabalho pedagógico da escola, bem como as metodologias que serão utilizadas pelos seus profissionais da educação. No entanto, Freitas (1995) ressalta que a categoria mais decisiva para assegurar a função social que a escola tem é a avaliação, uma vez que ela é a “guardiã” dos objetivos. É por meio da avaliação que os objetivos são expressos no cotidiano escolar e estão concentradas importantes relações de poder que modulam a categoria conteúdo/forma. Para Freitas, portanto, existe uma estreita vinculação entre objetivos e avaliação e significativos efeitos deles sobre o conteúdo/método. De acordo com o autor, é a partir do que será avaliado socialmente e no interior da organização do trabalho pedagógico da escola que são definidos os objetivos da escola e os conseqüentes conteúdos/métodos. 3.2. Conteúdos Os conteúdos de ensino expressam os conhecimentos construídos ao longo da história da humanidade. Expressam o resultado da atividade humana nas suas relações, consigo mesmo, com o outro e com o meio. De acordo com Libâneo (1994), os conteúdos de ensino são conjuntos de conhecimento, habilidades e hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados didática e pedagogicamente, buscando a assimilação ativa e aplicação prática na vida dos alunos. São, assim, recortes da realidade organizados pedagogicamente com determinada intencionalidade e utilizados como meios para se alcançar os objetivos propostos. O currículo oficial, portanto, possui uma seleção dos conteúdos e saberes considerados importantes para determinada época da sociedade. O que as pessoas podem ou devem saber é estipulado pelo poder vigente que diz que tipo de ser humano é desejado. 27 Esses conhecimentos vão garantir o consenso e a hegemonia. Essa definição dos conhecimentos, portanto, está diretamente ligada a um momento histórico, a uma determinada sociedade e às relações que esta sociedade elabora como conhecimento. Ela é a representação oficial daquilo que se estipulou como conhecimento válido e importante. Silva (2001) ressalta, entretanto, que quem define esses conhecimentos pode, além de produzir conhecimentos que distorcem a realidade, também produzir uma versão particular da verdade. Essa definição expressa, então, os interesses dos grupos e classes que estão em vantagem, ajudando a reforçar as relações de poder já existentes. Para a autora, o poder existe e está presente no currículo e nas relações sociais da escola. Muitas vezes, ele não se manifesta de uma forma clara. Ele se manifesta sutilmente, reproduz e perpetua as identidades sociais da relação de poder. Assim, por trás da faceta do currículo oficial, vêm outros currículos que se impõem, veladamente, pela própria característica não reveladora. São os chamados currículos silenciado e oculto que estão presentes desde a elaboração do currículo oficial até sua execução em sala de aula. O currículo silenciado refere-se ao currículo não incorporado ao currículo oficial. Ele representa o conjunto de conhecimentos, habilidades, crenças e valores que são omitidos aos professores e alunos, uma vez que as informações nele contidas poderão, de alguma forma, comprometer o poder vigente. “O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial explícito, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes” (p.78). Os dois currículos, oculto e silenciado, apresentam grande poder social/cultural porque contribuem, inexoravelmente, de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes. Manifestam-se nas relações de poder em várias esferas da instituição de ensino, além de perpetuar atitudes, comportamentos, valores e orientações. (Sacristán, 2000, p. 172). Assim, as escolas não ensinam apenas a ler, escrever, calcular e outros conteúdos, em geral, mas, também são espaços de socialização, onde convivem perfeitamente o currículo formal, o currículo silenciado e o currículo oculto ou informal (Silva, 2005). Tomando ciência do currículo oculto e de suas implicações na vida escolar do aluno, o professor pode redirecionar sua prática e estimular seus alunos a refletirem criticamente para poderematuar no mundo de forma mais eficaz. Através de discussões conscientes, Unidade III - Componentes do Planejamento 28 Módulo 4 - Didática Geral desenvolver metodologias que liguem a teoria à prática, valorizem a utilidade social dos conteúdos e estimulem a consciência da importância social e pessoal da participação ativa e do pensamento crítico. De acordo com Giroux (2005, p. 68), “Os valores e processos sociais que fornecem o sustentáculo teórico da educação social incluem o desenvolvimento nos alunos de um respeito pelo compromisso moral, solidariedade de grupo e responsabilidade social”. Freire (1978) ainda argumenta que se deve ensinar aos alunos a prática de refletir sobre a prática, ou seja, não só refletir ou criticar, mas também transformar as experiências em ações concretas para que o discurso não caia no vazio. 3.3. Metodologia Metodologias são as estratégias selecionadas para alcançar o objetivo. Representa, então, o que fazer para articular concepções, objetivos e conteúdos, professor e aluno a fim de gerar desenvolvimento e aprendizagem. Como já vimos anteriormente, qualquer definição pedagógica está ciclicamente relacionada às nossas concepções. Para se definir metodologias de ensino e aprendizagem, portanto, faz-se necessário pensarmos sobre nossas concepções de homem, mundo, educação, desenvolvimento, aprendizagem, objetivos, conhecimentos etc. Importante também pensarmos em nossos valores e crenças, nossas histórias, bem como na figura do nosso aprendiz, como alguém que precisa estar em constante interação conosco. Só para que você tenha uma dimensão de como essa relação acontece, trazemos o exemplo de uma concepção de desenvolvimento específica para compreender o que se depreende dela no que se refere ao papel do professor, à aprendizagem do aluno e seu papel e, especificamente, sobre as metodologias de ensino A abordagem teórica escolhida foi a abordagem histórico-cultural, que tem como principal representante o russo Lev Vygotsky (1896-1934). Essa é uma abordagem interacionista e, nesse sentido, o homem é reconhecido como produto da interação dos aspectos biológicos e sociais, dentro de um tempo e espaço determinado e num processo permanente de construção histórica. Vygotsky dedicou-se a estudar, prioritariamente, as funções psicológicas superiores, também chamadas de processos mentais superiores. Segundo Vygotsky as funções psicológicas superiores representam a capacidade estritamente humana de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos ou planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores, de maneira intencional e voluntária. Tais funções, segundo o teórico, são desenvolvidas permanentemente ao longo da história do indivíduo, 29 por meio da sua interação com uma determinada cultura, em um momento histórico determinado. Vygotsky trabalha com a noção de que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta. Essa relação, de acordo com o teórico, é uma relação mediada por instrumentos e signos, que representam instrumentos auxiliares da atividade humana. O instrumento é entendido como um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. Um machado, por exemplo, representa um instrumento mediador da relação do indivíduo com o mundo uma vez que o mesmo corta mais e melhor que a mão humana. Os instrumentos são, pois, elementos externos ao indivíduo que têm como função provocar mudanças nos objetos e controlar processos da natureza. Os signos, por sua vez, são orientados para o próprio sujeito. Eles dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. São interpretáveis como representação da realidade e podem referir-se a elementos ausentes do espaço e do tempo presentes. Fazer uma lista de compras por escrito, utilizar um mapa para encontrar um determinado local ou dar um nó no lenço para não esquecer um compromisso são exemplos de como recorremos à mediação de signos para melhorar nossa possibilidade de armazenamento de informações e de controle da ação psicológica. A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc.), é análoga à invenção e ao uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho(VYGOTSKY, 1984, p.59-60). O conceito de mediação, nesse sentido, torna-se o centro da explicação vygotskyana sobre o funcionamento psicológico e é reconhecido como o processo essencial para tornar possíveis atividades psicológicas voluntárias, intencionais e controladas pelo próprio indivíduo. Segundo o teórico, ao longo do desenvolvimento de cada indivíduo, a utilização das marcas externas vai se transformar em processos internos de mediação, ou seja, o indivíduo constrói ao longo de sua história representações mentais que substituem os objetos do mundo real. Esse mecanismo é chamado por Vygotsky de internalização. Para ele essa capacidade de lidar com representações que substituem o próprio real é que possibilita ao homem libertar-se do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, imaginar, fazer planos e ter intenções. De acordo com Vygotsky, ao longo da história da espécie humana os signos passam Unidade III - Componentes do Planejamento 30 Módulo 4 - Didática Geral a ser compartilhados pelo conjunto dos membros do grupo social, permitindo a comunicação entre os indivíduos e o aprimoramento da interação social. Os sistemas de representação da realidade, portanto, são socialmente dados, ou seja, “é o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo” (OLIVEIRA, 1997, p. 36). Nesse sentido, a interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel fundamental na construção do ser humano: é através da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo vai chegar a interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Entretanto, o processo pela qual o indivíduo internaliza as informações, conceitos e significados culturais não é um processo de absorção passiva, mas de transformação e síntese. Tal processo ocorre num constante movimento de recriação e reinterpretação, onde cada sujeito é ativo e onde acontece a interação entre o mundo cultural e o mundo subjetivo de cada um. Pensar o processo de desenvolvimento do ser humano marcado por sua inserção em determinado grupo social é reconhecer que o mesmo se dá ‘de fora para dentro’. Em outras palavras, nessa perspectiva, o indivíduo primeiramente realiza ações externas, que serão interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. Em seguida o indivíduo poderá atribuir significados para suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio. Essa perspectiva de desenvolvimento explicitada por Vygotsky enfatiza a importância do aprendizado. Nessa perspectiva, existe um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam. Afirma: “o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores culturalmente organizadas e especificamente humanas” (VYGOTSKY, 1984, p. 101). Essa concepção de aprendizagemreforça a importância que Vygotsky dá ao papel do outro social no desenvolvimento dos indivíduos, uma vez que, segundo o teórico, não há desenvolvimento pleno sem suporte de outros indivíduos da mesma espécie. Para explicar essa relação com o outro Vygotsky oferece um conceito específico essencial de sua teoria: zona de desenvolvimento proximal - ZDP. Segundo Vygotsky (1984) A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução 31 independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p. 97). A ZDP refere-se, então, ao caminho que o indivíduo percorre para desenvolver suas funções mentais superiores. Ela está em constante transformação num movimento em que o processo de aprendizagem desperta processos de desenvolvimento. Fundamental lembrar, ainda, que para Vygotsky o adulto ou a criança mais experiente devem interferir constantemente nessa ZDP a fim de movimentar o processo de desenvolvimento da criança. Apresentamos um exemplo de como podemos agir na ZDP: Vamos supor que uma criança esteja aprendendo a andar e o nível real do seu desenvolvimento, ou seja, o que ela consegue fazer sozinha, é representado pela sua capacidade de engatinhar. Nessa fase, se um adulto ou uma criança mais velha pegar a mão da criança ela conseguirá andar, partindo inicialmente de um processo de imitação do adulto. Essa capacidade de andar com a ajuda de um outro ser social mais competente representa o nível de desenvolvimento potencial da criança e a distância entre engatinhar e andar é a ZDP. À medida que a criança vai sendo mediada por um ser outro social, ela vai internalizando o andar num plano intrapsicológico até conseguir desenvolver a atividade sozinha. No momento em que a criança conseguir andar sozinha, seu nível de desenvolvimento real passa a ser ‘andar’, e o potencial será uma outra atividade mais difícil, como ‘correr’ ou ‘saltar’, por exemplo. Importante, então, que o mediador esteja sempre atento àquilo que a criança já faz sozinha a fim de conduzi-la a níveis mais avançados de desenvolvimento, por meio de processos de aprendizagens. Segundo a abordagem histórico-cultural de Vygotsky, a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Caberá a ela conhecer o nível de desenvolvimento real dos alunos e dirigir o ensino para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando como um motor de novas conquistas psicológicas. Vygotsky destaca, então, a necessidade de a escola fazer a ponte entre os conhecimentos espontâneos gerados pela observação e experiências dos alunos, com os conteúdos científicos, desenvolvidos pelo homem nas diversas áreas de conhecimento. O processo de ensino na escola deve ser construído tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, supostamente adequados ao grupo de crianças. O percurso será balizado pelo nível de desenvolvimento potencial da criança, de forma que ela possa avançar em sua compreensão de mundo a partir dos conhecimentos já consolidados e tendo como meta etapas posteriores, ainda não alcançadas. Nesse Unidade III - Componentes do Planejamento 32 Módulo 4 - Didática Geral sentido, o único bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. O professor, nesse processo, assume um papel especial de mediador das relações interpessoais e o conhecimento construído historicamente. Em outras palavras ele será um intermediário entre o conteúdo em si e a atividade construtora dos alunos determinando em grande parte que esta esteja estabelecida de tal forma que o aluno possa produzir determinadas atividades (COLL e COL, 1996). Além disso, ele terá um papel explícito de interferir na ZDP dos alunos, provocando avanços que não aconteceriam espontaneamente. O professor poderá usar, então, diferentes procedimentos de ensino, como demonstrações, assistência, fornecimento de pistas, instruções etc., todos eles essenciais para a promoção do ‘bom ensino’. Vygotsky também sugere que se faça uso da imitação, não como mera cópia do modelo, mas como uma reconstrução individual daquilo que é observado nos outros. Segundo o teórico esse procedimento possibilita que a criança realize ações que estão além de suas próprias capacidades, o que contribui para o seu desenvolvimento. Por fim, destacamos outro aspecto muito enfatizado na teoria, que se refere à interação entre os alunos. Segundo o teórico, os grupos de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode contribuir para o desenvolvimento de outras. Assim como o adulto, uma criança também pode funcionar como mediadora entre outra criança e as ações e significados estabelecidos como relevantes no interior da cultura (OLIVEIRA, 1997, p. 64). Apesar da avaliação também fazer parte do planejamento como um componente fundamental, deixamos para ela um capítulo especial por reconhecermos sua natureza e especificidade no processo de ensino-aprendizagem. Por reconhecermos a importância da visão cíclica na escolha de opções metodológicas e de quaisquer outros componentes do processo pedagógico, deixamos para você alguns exemplos de método/estratégias de ensino com base em Anastasiou (2004), referências que poderão ser significativas na organização de seu trabalho pedagógico. 33 3.2.1. Métodos/estratégias de ensino. Estudo de texto Descrição Estudo crítico de um texto e/ou busca de informações e explorações de idéias dos autores estudados Operação de pensamento Identi�cação/ Obtenção d dados/ Interpretação/ Crítica/ Análise/ Reelaboração/ resumo Dinâmica de atividade. • Contexto e texto – data, tipo de texto, autor e dados sobre ele; • Análise textual – preparação do texto: visão de conjunto, busca de esclarecimento, veri�cação de vocabulário, fatos autores citados, esquematização; • Análise interpretativa/ exploração de texto – levantamento e discussão de problemas relacionados com a mensagem do autor; • Problematização – interpretação da mensagem do autor: corrente �losó�ca e in�uências, pressupostos, associação de idéia, crítica; • Síntese – reelaboração da mensagem, com base na contribuição pessoal; Avaliação Produção, escrita ou oral, com comentários do aluno tendo em vistas as habilidades de compreensão, síntese, julgamento, inferências interpretação dos conteúdos fundamentais e as condições a que chegou. Unidade III - Componentes do Planejamento 34 Módulo 4 - Didática Geral Mapa conceitual Descrição Construção de um diagrama que indica a relação de conceitos em uma perspectiva bidimensional, procurando mostrar as relações hierárquicas entre os conceitos pertinentes à estrutura do conteúdo. Operação de pensamento Interpretação/ Classificação/ Crítica/ Organização de dados/ resumo Dinâmica de atividade. O professor poderá selecionar textos, dados, objetos, informações sobre uma temática e propor as seguintes atividades: • Identi�car conceitos chaves do objeto ou texto estudado; • Selecionar os conceitos por ordem de importância; • Incluir conceitos e idéias mais especí�cas; • Estabelecer relações entre conceitos por meio de linhas e identi�cá-las com uma ou mais palavras que expliquem essa relação; • Buscar estabelecer relações horizontais e cruzadas, traçá-las; • Perceber que há várias formas de traçar mapa conceitual • Compartilhar o mapa conceitual coletivamente, comparando-ose complementando-os; • Justi�car a localização de certos conceitos, verbalizando seu entendimento. Avaliação Acompanhar a construção do mapa conceitual a partir da de�nição coletiva dos critérios de avaliação: • Conceitos claros; • Relação justi�cada; • Riqueza de idéias; criatividade na organização; • Representatividade do conteúdo trabalhado. 35 Estudo dirigido Fórum Descrição É o ato de estudar sob a orientação e diretividade do professor, visando sanar di�culdades especí�cas. Operação de pensamento Identi�cação/ Obtenção e organização de dados? Busca de suposições? Aplicação de fatos e princípios a uma nova situação. Dinâmica de atividade Prevê atividades individuais ou grupais, podendo ser socializadas: • Leitura individual a partir de um roteiro elaborado pelo professor; • Resolução de questões e situações-problemas, a partir do material estudado; • No caso de grupo de atendimento, debate sobre o tema estudado, permitindo socialização dos conhecimentos, a discussão de solução, re�exão e o posicionamento dos alunos antes a realidade vivida. Avaliação Será realizada pelo acompanhamento da execução da atividade realizada Descrição Espaço “tipo” reunião onde todos os participantes têm oportunidade de participar do debate sobre determinado tema ou problema. Operação de pensamento Busca de suposições/ Hipótese/ Obtenção de organização dados/ Interpretação/ Resumo. Dinâmica de atividade • O professor deve explicar os objetivos do fórum; • Delimitar o tempo total (40 min) ou parcial de cada participante; De�ne as funções dos participantes: Coordenador Grupo síntese Público participante • Ao �nal um membro do grupo de síntese relata resumo elaborado. Avaliação A avaliação, estabelecida previamente, levará em conta: Participação dos alunos debatedores e/ou como participante; • A habilidade de atenção e concentração; • A síntese das idéias apresentadas; • A apresentação de argumentos consistentes; • A produção de síntese. Unidade III - Componentes do Planejamento 36 Módulo 4 - Didática Geral Estudo de caso Lista de discussão por meios informatizados Descrição Análise minuciosa e objetiva de uma situação real que necessita ser investigada e é desa�adora para os alunos. Operação de pensamento Análise/ Interpretação/ Crítica? Levantamento de dados? Busca de suposições/ Decisão. Dinâmica de atividade. • O professor expõe o caso a ser estudado e apresenta o roteiro de orientação do trabalho e o instrumento de avaliação a ser utilizado. • O grupo analisa o caso, expondo pontos de vista e os aspectos sob os quais o problema pose ser enfocado; • O grupo debate a solução, discernindo a melhores conclusões. Avaliação Será realizada por meio de �cha com critérios a serem considerados, tais como: 1. Aplicação do conhecimento – argumentação; 2. Coerência da prescrição; 3. Riqueza dos argumentos. Descrição Debater à distância um tema Operação de pensamento Comparação? Organização/ Busca de suposições? Construção de hipótese? Obtenção e organização de dados. Dinâmica de atividade. • Debate realizado em fórum, com a intervenção do professor. Não é um momento de perguntas ou respostas entre o aluno e o professor, mas entre todos os componentes do grupo. Avaliação Acompanhamento das participações, qualidades das inclusões, da elaboração apresentada. 37 Solução de problemas Phillips 66 Descrição Pensamento re�exivo a partir de dados expressos em problemas; demanda a aplicação de princípios, leis que podem ou não ser expressas em fórmulas matemáticas. Operação de pensamento Identi�cação/ Obtenção e organização de dados? Planejamento? Imaginação/ Elaboração de hipótese/ Interpretação? Decisão. Dinâmica de atividade. • Apresentar ao aluno um determinado problema, mobilizando-o para a busca de solução; • Orientar o aluno no levantamento de hipótese e na análise de dados; • Executar as operações e comparar soluções obtidas; • A partir da síntese, veri�car a existência de leis e princípios que possam se tornar norteadores de situações similares. Avaliação Observação das habilidades dos alunos na apresentação das idéias quanto a sua concisão, logicidade, aplicabilidade e pertinência, bem como seu desempenho na descoberta de soluções apropriadas ao problema apresentado. Descrição É uma atividade grupal quando se realiza a discussão de um tema/problema Operação de pensamento Análise/ Interpretação? Crítica/ Levantamento de hipótese/ Busca de suposições/ Obtenção de organização de dados Dinâmica de atividade. • Dividir os alunos em grupo de seis membros, que durante 6 minutos podem discutir um assunto, tema, problema na busca de resolução ou síntese provisória. A síntese pode ser exposta, durante seis minutos; • Os grupos podem ter como suporte um texto ou simplesmente aporte teórico; • Todos os grupos devem explicitar o resultado pelo seu representante. Avaliação A avaliação deve ser realizada em relação aos objetivos pretendidos, destacando-se: • O envolvimento dos membros dos grupos; • A participação conforme os papéis estabelecidos; • A pertinência das questões e/ou síntese elaborada; • O processo de autoavaliação dos participantes. Unidade III - Componentes do Planejamento 38 Módulo 4 - Didática Geral 3.2.2. A organização do trabalho pedagógico e as novas tecnologias Não podemos mais desconsiderar a importância das tecnologias no processo educativo. Portanto, no contexto da educação, elas não devem ser consideradas apenas como uma alternativa metodológica, mas como forma de interação humana, educativa e social. Hoje, o ensino aprendizagem mediado por tecnologias é uma realidade, a Educação a Distância – EaD - está cada vez mais presente na vida das pessoas. Por meio da internet, surgem outras formas e possibilidades e formas de socializar o conhecimento e de fazer educação. A EaD possui natureza e especificidades que a diferencia da educação presencial. Nessa modalidade de educação os professores e os alunos estão distante fisicamente, porém mediados e conectados por meio de tecnologias tais como: internet, rádio, televisão, videoconferências, CD-ROM, telefone, fax, entre outras. Uma das opções que temos nos cursos a distância é a utilização de ambientes on-line de aprendizagem, que também podemos chamar de plataformas de aprendizagem. Pietro (1996) considera como características da EaD: • A “distância” física professor-aluno - a interatividade e realizada virtualmente; • Estudo individualizado e independente: o aluno constrói seu próprio caminho; • Processo de ensino-aprendizagem mediatizado: realizada em ambientes virtuais de aprendizagem, por meio de materiais didáticos e tutoria; • O uso de tecnologias: os recursos técnicos de comunicação, que hoje têm alcançado um avanço espetacular (correio, rádio, TV, audiocassete, hipermídia interativa, internet), permitem romper com as barreiras das distâncias; • A comunicação bidirecional: são estabelecidas as relações dialogais, criativas, críticas e participativas no ambiente virtual de aprendizagem. Mas como usar as tecnologias no ensino presencial no dia a dia da sala de aula? As tecnologias podem ser utilizadas de diversas maneiras, em todos os níveis de ensino. Portanto, não podemos desconsiderar que, para o uso pedagógico das tecnologias na escola e mais especificamente em sala de aula, é preciso, sobretudo, oportunizar espaços de formação continuadas do educador. Isso é fundamental, pois não se ensina aquilo que não se sabe. Entendemos as tecnologiascomo meio de conexão dialética entre os pares homem/ máquina, técnica/educação, tecnologia/emancipação. No entanto, quando falamos em tecnologia não estamos nos referindo apenas ao computador e à internet. Embora concepção seja muito comum entre nós, é uma compreensão muito restrita de tecnologia e precisa ser ampliada. Romper com a concepção da tecnologia apenas como recurso externo ao homem. 39 As tecnologias não são recursos totalmente externos ao homem, pois é inerente ao homem. Podemos dar como exemplo dessa premissa a linguagem, considerada como uma tecnologia de comunicação. Ela proporciona ao ser humano sua interação com o outro, com o meio e consigo mesmo. O corpo também é considerado como uma tecnologia estética e rítmica. Ambas são fundamentais na vitalidade social, subjetiva e cultural do homem. A utilização dessas tecnologias no desenvolvimento do trabalho pedagógico pode contribuir, significativamente como o processo de formação dos alunos do Ensino Médio. O cinema é uma rica alternativa metodológica. Conforme Coutinho (2005, p. 1), “a presença do cinema na escola pode se constituir em momentos de reflexão que transcendam os próprios filmes ao incluir o olhar de cada um à narrativa que o diretor propôs e nos ofereceu, em imagens e sons”. Eles podem tanto enriquecer os conteúdos como também introduzir novas linguagens à experiência escolar. A fotografia é outra importante alternativa didática. Podem ser consideradas como espelho da realidade, por meio do qual podemos transpor distância e tempo. A análise realizada com fotografia possibilita a ampliação da análise de mundo, enriquece as possibilidades de representação dos fatos, objetos, pessoas e acontecimentos. A dança, a expressão do corpo, não pode estar ausente em uma educação que considera a complexidade e a totalidade do ser em formação. A importância estético – social da dança e porque não dizer da música pode ser percebida com nitidez em dois filmes magníficos e de nacionalidades diferentes: Vem dançar (EUA, 2006) e No ritmo do amor (ISRAEL, 2006), ambos retratam problemas na adolescência ou na juventude em que a escola auxiliada pela arte da dança pode, magnificamente, ajudar a educação a transformar vidas (SOARES, 2009). Agora sim, vamos falar do computador, da internet e outras tecnologias e de seu uso no Ensino Médio presencial e virtualmente. O computador, a internet podem ser usados de diversas maneiras em inúmeras situações. Desde a criação de página virtual até a elaboração colaborativa de tarefas. A página virtual é um recurso pedagógico que pode ser criado pelo professor ou pelos alunos. Nesse espaço, o professor pode comunicar-se com seus alunos e os alunos com os demais alunos da turma. Podem também ser realizadas discussões acerca de temáticas relacionadas às disciplinas da série com a participação de todos os alunos e educadores, o que torna as atividades virtuais mais ricas e dinâmicas. O uso das tecnologias de informação e comunicação na organização do trabalho pedagógico ampliam significativamente o papel do professor, que deixa de ser o informador e se transforma em orientador de aprendizagem (MORAN, 2000). Porém, não se pode esquecer que, primeiramente, devemos proporcionar aos alunos o domínio Unidade III - Componentes do Planejamento 40 Módulo 4 - Didática Geral das ferramentas da WEB para que aprendam a navegar e sintam-se mais seguros diante a essa nova situação. Para realização desse tipo de trabalho é importante que todos alunos tenham seu endereço eletrônico (e-mail). Assim, é possível elaborar a lista eletrônica que pode a ser usada para comunicação, envio de trabalhos, realização de trabalho em grupo, aprofundamento de estudo, exercícios avaliativos, entre outros. Outra forma de utilização dessas tecnologias é aula-pesquisa que transforma uma parte das aulas em processos contínuos de informação, comunicação, busca e descobertas. Para sua organização, é viável a escolha de temas, conteúdos ou assuntos relacionados à disciplina, organizar o roteiro de pesquisa que pode ser desenvolvido individualmente ou em pequenos grupos, com o acompanhamento o do professor. Há ainda a construção colaborativa, ou seja, o trabalho conjunto entre professores/ alunos e alunos/alunos. Cria-se um espaço de comunicação, por exemplo, fóruns, onde cada aluno acrescenta sua colaboração sobre uma tarefa, a construção de texto, pesquisa temática, levantamento de opiniões, etc. Ao final dessa atividade é elaborado um hipertexto com a síntese do trabalho realizado. Essa atividade pode inclusive ser elaborada por um grupo de alunos e depois socializada com a turma. Como podem observar, as tecnologias podem contribuir na organização didática do conhecimento e enriquecer as aprendizagens, portanto pode realizar o trabalho em sala de aula utilizando as mais diversas tecnologias de informação e comunicação. Cabe a cada professor de acordo com seu contexto, a melhor maneira de utilizá-las em sala de aula, de forma a ajudar aos alunos a construir e reconstruir de maneira prazerosa e significativa o conhecimento. Considerações Finais Essa unidade destinou-se a discutir sobre os principais componentes do planejamento educacional, enfatizando, em todos eles, as relações cíclicas que precisam ser estabelecidas entre eles e em cada um individualmente. Nosso objetivo específico era que, além de saber reconhecer cada desses componentes, que você consiga trabalhar com a sua utilização, sempre permeados pela Organização Pedagógica como um Processo Cíclico, apresentada no primeiro capítulo do nosso módulo. Para finalizar essa unidade, vá ao Ambiente Virtual de Aprendizagem e realize as atividades da Unidade 3. cespeUnB Centro de Seleção e de Promoção de Eventos 41 AVALIAR PARA APRENDER. APRENDER PARA AVALIAR. A avaliação sempre esteve presente na vida do homem. Avaliamos e somos avaliados constantemente pelas ações que executamos, pelas escolhas que fazemos, pelas decisões que tomamos, enfim, pelo que somos e representamos. Conforme Freitas (2009, p.7) “A avaliação mexe com a vida das pessoas, abre portas, fecha portas, submete ou desenvolve, enfim é uma categoria permeada de contradições”, o que torna seu campo conceitual amplo e polêmico. A origem da avaliação remonta à antiguidade. Conta-se que, há mais de 2 mil anos, a China já fazia exame de seleção para serviços públicos e a velha Grécia praticava a docimasia, que consistia numa verificação das aptidões morais daqueles que se candidatavam à função pública, o que demonstra de alguma forma o sentido de interesse público no caráter da avaliação (SOBRINHO, 2003). Nos tempos atuais, o campo da avaliação e sua aplicação tem se alargado e intensificado no campo das políticas públicas e, mais especificamente na educação, onde é aplicada em múltiplas e diversas áreas, tais como: sistemas, instituições, cursos, currículos, programas, instituições, aprendizagem, etc. Nessa unidade abordaremos a função da avaliação nos diferentes âmbitos da área educacional e a importância da articulação entre esses níveis para melhor organização e estruturação do processo ensino-aprendizagem. 4.1. A avaliação na área educacional Atualmente, na área educacional, os sistemas de avaliação têm sido amplamente utilizados em todos os níveis e modalidades e se efetivam em três níveis respectivos, porém articulados entre si: avaliação em larga escala, como aquelas realizadas em âmbito nacional, estadual e municipal; avaliação institucional realizada por cada escola e pelo seu coletivo; avaliação da aprendizagem efetivada em sala de aula sob a responsabilidade do professor (FREITAS, 2009). A avaliação em larga escala, também conhecida como de redes de ensino ou externa, constitui instrumento de acompanhamento global de redes de ensino. No Brasil, o sistema de avaliação
Compartilhar