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GÊNESE DO CAPITALISMO – AS MEDIAÇÕES HISTÓRICAS Quando Marx analise o início do capitalismo, ele não fixa leis gerais desse processo, ele enfatiza os momentos lógicos desse processo, tais como a necessidade de desenvolvimento prévio do capital mercantil da troca, dos mercados, da divisão do trabalho, da especialização da produção; a formação do mercado de trabalho a partir da violência da expropriação, os limites e debilidades do processo de acumulação na ausência de forças produtivas especificamente capitalistas, a consequente dominação do capital mercantil sobre a esfera produtiva, a ideia da industrialização como gestação de forças produtivas capitalistas, o papel essencial do departamento produtor de meios de produção para superar as barreiras externas à acumulação, o que promove a autodeterminação do capital, etc. Entretanto, não se pode concluir que em todos os países o início do capitalismo aconteceu de forma semelhante, porque cada país possuía circunstâncias históricas específicas e diferentes uns dos outros. MEDIAÇÕES HISTÓRICAS: O PASSADO NACIONAL As primeiras obras de Lênin surge em meio às contradições do marxismo e o populismo russo. Essa corrente política acreditava que era impossível o desenvolvimento do capitalismo na Rússia. No livro O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, Lênin critica os erros dos populistas russos sobre a questão dos mercados, ele analisa como se desintegrou a comunidade camponesa sob a ação do capital, demonstra como as formas tradicionais de organização da produção, como a indústria doméstica rural ou urbana já estavam dominadas pelo capital e acrescenta as relações entre a manufatura e a grande indústria já implantadas na Rússia. O que ele conclui é que o movimento da sociedade russa já possui contradições de tipo capitalista. O erro encontrado, de acordo com Lênin, no que os populistas diziam, é que eles achavam que a pequena produção agrícola ou artesanal servisse de base para uma nova ordem social na Rússia. Ele demonstra então que essa estrutura não se opõe ao capitalismo, já que, é a partir de sua desintegração que surgem os elementos fundamentais para o início do capitalismo. Uma outra conclusão de Lênin foi que “e as formas mercantis da produção popular apareciam como um resultado das transformações ocorridas nas formas comunais e artesanais, próprias da estrutura feudal, as quais, sob a ação do comércio, tendem a transformar-se num sentido capitalista, já que o processo termina por gerar os elementos do modo de produção capitalista. “ Uma primeira mediação histórica necessária à análise de qualquer capitalismo nacional é saber “ qual é a estrutura econômica da Rússia antes do capitalismo? “. Ou seja, a abordagem deve saber qual a estrutura econômica, qual o regime de produção que precede o capitalismo em cada país. Em primeiro lugar, essa observação permite pensar mais além, porque nas chamadas teorias do desenvolvimento o ponto de partida da observação é a sociedade tradicional. E olhando apenas a partir da sociedade tradicional, pouco poderia ser esclarecido sobre o movimento estudado. Em segundo lugar, observar a estrutura econômica antes do movimento que vai ser estudado permite conhecer as tendências que aquela estrutura econômica pode ter, e, assim, superar a postura historicista. Com essas observações, Lênin não se propôs a analisar as especificidades do capitalismo russo, mas demonstrar que esse regime de produção já era dominante nesse país. MEDIAÇÕES HISTÓRICAS: AS ETAPAS DO CAPITALISMO As análises feitas pelos populistas, de acordo com que a industrialização capitalista ia sendo difundido pela Rússia, foi se perdendo. Entretanto, uma nova polêmica estava sendo gerada, a partir da exacerbação da luta de classes. Os bolcheviques e os mencheviques faziam diferentes avaliações sobre a natureza do processo revolucionário. Ambas as análises possuíam o que havia em comum entre a experiência européia e a evolução da realidade na Rússia, mas a partir deste ponto as divergências apareciam. No início de século XX, já existia uma economia mundial capitalista, com uma rede de relações financeiras e comerciais, que a burguesia da Rússia participava. Em ordem mundial, as contradições entre a burguesia e o proletariado ficavam mais evidentes. Porém, o proletariado na Rússia já se manifestava totalmente organizado e era onde os movimentos revolucionários manifestavam-se. Lênin e Troski começavam a identificar as mediações históricas. Eles precisavam o marco histórico da dominação burguesa no plano mundial. Em seguida, foram levadas em conta as particularidades locais da luta de classes, que seriam determinadas pela natureza das estruturas sociais do passado do país. Trotski critica a análise dos mencheviques dizendo que a história não pode ser analisada e nem acontece a partir de modelos, sendo a postura correta de se tomar é voltar ao momento concreto do acontecimento. E, na obra de Lênin, iam sendo identificadas mediações históricas que propiciam a progressiva aproximação da realidade russa. “A identificação da natureza do passado russo e dos movimentos concretos da evolução do capitalismo no país permitiu que Lênin pudesse negar a este processo a especificidade absoluta que a ele era atribuída pelos populistas e concluir não somente que o país era capitalista, como também que a revolução era burguesa. “ (p.90). Quando Lênin precisou o marco histórico e as particularidades locais da luta de classes, pôde concluir qual a diferença da revolução burguesa ocorrida na Rússia, que foi a possibilidade da liderança operária nesse processo. A caracterização das circunstâncias internacionais, sendo um momento de análise dos processos sociais da Rússia e da Itália significava um avanço nas análises que viam as determinações externas como falsificação ou desvio da evolução original dos países. Então, foi necessário ser mais preciso quando se tratava de expressões como “história européia”, “marco histórico”, “desenvolvimento do capitalismo mundial”, entre outros, já que o desenvolvimento do capitalismo foi um processo complexo e não linear. Quem tenta resolver essas questões é Lênin. Então, ele volta para a tradição marxista e periodiza a evolução do capitalismo, o que aparece como um momento necessário na construção de sua história. Lênin concluiu então que o capitalismo ingressava em uma nova etapa de sua história e para identificar o lugar histórico do imperialismo, ele analisa como a monopolização da produção e do crédito implicava negação da propriedades fundamentais do capitalismo e, assim, a etapa imperialista aparecia como fase superior do capitalismo, como uma era de transição para uma nova ordem social.