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Rio de Janeiro / 2008 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA BIOQUÍMICA I Un3b Universidade Castelo Branco Bioquímica I / Universidade Castelo Branco. – Rio de Janeiro: UCB, 2008. - 64 p.: il. ISBN 978-85-86912-74-0 1. Ensino a Distância. 2. Título. CDD – 371.39 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br Responsáveis Pela Produção do Material InstrucionalResponsáveis Pela Produção do Material Instrucional Coordenadora de Educação a DistânciaCoordenadora de Educação a Distância Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Coordenador do Curso de GraduaçãoCoordenador do Curso de Graduação Maurício Magalhães - Ciências Biológicas ConteudistaConteudista André Sias das Neves Supervisor do Centro Editorial – CEDISupervisor do Centro Editorial – CEDI Joselmo Botelho Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profi ssional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafi rmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhe- cimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Orientações para o Auto-Estudo O presente instrucional está dividido em oito unidades programáticas, cada uma com objetivos defi nidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades com- plementares. As Unidades 1, 2, 3 e 4 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das oito unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o conteúdo de todas as Unidades Programáticas. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos! Dicas para o Auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5 - Não pule etapas. 6 - Faça todas as tarefas propostas. 7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 9 - Não hesite em começar de novo. SUMÁRIO Quadro-síntese do conteúdo programático ................................................................................................. 11 Contextualização da disciplina ................................................................................................................... 12 UNIDADE I COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS SERES VIVOS 1.1 – Água ................................................................................................................................................... 13 1.2 – Produto iônico da água ....................................................................................................................... 14 1.3 – Conceitos de ácidos e bases ............................................................................................................... 14 1.4 – pH ....................................................................................................................................................... 14 1.5 – Tampão biológico ............................................................................................................................... 15 1.6 – Íons minerais e osmolaridade ............................................................................................................. 16 1.7 – Aminoácidos ...................................................................................................................................... 17 1.8 – Proteínas ............................................................................................................................................. 17 1.9 – Vitaminas e coenzimas ....................................................................................................................... 20 UNIDADE II ENZIMOLOGIA 2.1 – Conceito ............................................................................................................................................. 24 2.2 – Regulação da atividade enzimática .................................................................................................... 25 2.3 – Cinética enzimática ............................................................................................................................ 25 UNIDADE III ENERGÉTICA BIOQUÍMICA 3.1 – Princípios de termodinâmica .............................................................................................................. 28 3.2 – Papel de aceptores de energia ............................................................................................................ 28 UNIDADE IV METABOLISMO DE CARBOIDRATOS 4.1 – Estrutura geral .................................................................................................................................... 30 4.2 – Respiração celular e fermentação ...................................................................................................... 30 4.3 – Fotossíntese ........................................................................................................................................ 34 4.4 – Shunt das pentoses ............................................................................................................................. 37 4.5 – Glicogenólise e glicogênese ............................................................................................................... 38 4.6 – Gliconeogênese .................................................................................................................................. 39 UNIDADE V METABOLISMO DE LIPÍDIOS 5.1 – Estrutura geral .................................................................................................................................... 41 5.2 – Metabolismo de lipídios ..................................................................................................................... 41 5.3 – Biossíntese de esteróides ....................................................................................................................42 5.4 – Prostaglandinas, prostaciclinas e leucotrienos ................................................................................... 43 UNIDADE VI METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS 6.1 – Ciclo da uréia ..................................................................................................................................... 44 6.2 – Biossíntese de aminoácidos naturais .................................................................................................. 45 UNIDADE VII REGULAÇÃO ENDÓCRINA DO METABOLISMO 7.1 – Insulina ............................................................................................................................................... 46 7.2 – Glucagon e adrenalina ........................................................................................................................ 46 UNIDADE VIII METABOLISMO DE PURINAS E PIRIMIDINAS 8.1 – Bases nitrogenadas ............................................................................................................................. 50 8.2 – Biossíntese de nucleotídios ................................................................................................................ 50 8.3 – Metabolismo de nucleotídios ............................................................................................................. 51 8.4 – Importância biológica dos nucleotídios ............................................................................................. 52 Glossário ..................................................................................................................................................... 55 Gabarito ....................................................................................................................................................... 57 Referências bibliográfi cas ........................................................................................................................... 61 11 I – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS SERES VIVOS 1.1 – Água 1.2 – Produto iônico da água 1.3 – Conceitos de ácidos e bases 1.4 – pH 1.5 – Tampão biológico 1.6 – Íons minerais e osmolaridade 1.7 – Aminoácidos 1.8 – Proteínas 1.9 – Vitaminas e coenzimas II – ENZIMOLOGIA 2.1 – Conceito 2.2 – Regulação da atividade enzimática 2.3 – Cinética enzimática III – ENERGÉTICA BIOQUÍMICA 3.1 – Princípios de termodinâmica 3.2 – Papel de aceptores de energia IV – METABOLISMO DE CARBOIDRATOS 4.1 – Estrutura geral 4.2 – Respiração celular e fermentação 4.3 – Fotossíntese 4.4 – Shunt das pentoses 4.5 – Glicogenólise e glicogênese 4.6 – Gliconeogênese V – METABOLISMO DE LIPÍDIOS 5.1 – Estrutura geral 5.2 – Metabolismo de lipídios 5.3 – Biossíntese de esteróides 5.4 – Prostaglandinas, prostaciclinas e leucotrienos VI – METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS E PRO- TEÍNAS 6.1 – Ciclo da uréia 6.2 – Biossíntese de aminoácidos naturais VII – REGULAÇÃO ENDÓCRINA DO METABO- LISMO 7.1 – Insulina 7.2 – Glucagon e adrenalina VIII – METABOLISMO DE PURINAS E PIRIMIDI- NAS 8.1 – Bases nitrogenadas 8.2 – Biossíntese de nucleotídios 8.3 – Metabolismo de nucleotídios 8.4 – Importância biológica dos nucleotídios UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS • Indicar a composição dos organismos e as principais classes de moléculas neles encontradas. • Reconhecer as espécies de reações catalisadas por enzimas e aspectos da especifi cidade enzimática. • Entender a variação de energia que acompanha as reações bioquímicas; • A bioenergética fornece os princípios básicos que explicam porque algumas reações bioquímicas podem ocorrer enquanto outras não. • Reconhecer os carboidratos como moléculas amplamente distribuídas nas plantas e animais, onde desempenham tanto funções estruturais quanto metabólicas. • Identifi car os lipídeos como um grupo heterogêneo de moléculas orgânicas; • Perceber que os lipídeos são a principal fonte de energia para o corpo, além de outras funções; • Perceber que defi ciências ou desequilíbrios no meta- bolismo dos lipídeos possam levar a alguns dos principais problemas clínicos observados. • Entender que as proteínas são as moléculas mais im- portantes e com maior diversidade de funções nos sistemas vivos. • Entender como os hormônios atuam intracelularmente, particularmente em relação à regulação do metabolismo dos carboidratos. • Entender a digestão, a biossíntese e o catabolismo dos nucleotídeos de purinas e de pirimidinas, bem como certas doenças associadas com defeitos genéticos nestes processos. Quadro-síntese do conteúdo programático 12 Contextualização da Disciplina Não se sabe exatamente quando a Bioquímica começou a emergir como disciplina independente. Na Alemanha se estabeleceu o primeiro departamento de Química Fisiológica e o primeiro periódico de bioquímica. Hoje, existem várias dezenas de periódicos, cada qual dando enfoque maior a determinada área da bioquímica. É importante ressaltar a enorme infl uência que a bioquímica vem exercendo em todas as ciências biológicas, tornando-se uma ciência básica por excelência. A bioquímica se constitui numa tentativa de descrever vida em termos químicos. Não se limitando, no entanto, a um simples relato das análises da matéria viva e das várias reações através das quais os componentes da vida são metabolizados, mas a maneira pela qual as reações biológicas são controladas. Considerando que a vida na célula depende de milhares de reações químicas diferentes, cada uma catalisada por enzima específi ca, é de grande interesse saber como estão elas sincronizadas. A investigação dos mecanismos reguladores constitui um dos capítulos mais atraentes da bioquímica. Espera-se ainda que, à medida que os conhecimentos básicos de bioquímica se tornem maiores, seja possível dirimir questões como a da transformação de células cancerosas e de diversas outras doenças. 13UNIDADE I COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS SERES VIVOS 1.1- Água A água é a substância mais abundante nos sistemas vi- vos, perfazendo 70% ou mais da massa da maioria dos organismos. A água permeia todas as porções de todas as células e é o meio no qual ocorrem o transporte de nutrientes, as reações metabólicas catalisadas enzima- ticamente e a transferência de energia química. Todos os aspectos da estrutura celular e de suas funções são adaptados às propriedades físicas e químicas da água. A molécula de água e seus produtos de ionização, H+ e OH-, infl uenciam profundamente a estrutura, a auto- montagem e as propriedades de todos os componentes celulares, incluindo as enzimas e outras proteínas, ácidos nucléicos e lipídios. As pontes de hidrogênio entre as moléculas de água fornecem as forças coesivas que fazem da água um líquido à temperatura ambiente e que favorecem o or- denamento extremo das moléculas de água cristalizada (gelo). As biomoléculas polares dissolvem-se facilmen- te na água porque elas podem substituir as interações moleculares água-água energeticamente favoráveis por interações ainda mais favoráveis, como água-soluto. Diferentemente, as biomoléculas não polares interfe- rem com as interações água-água e são muito pouco solúveis na mesma água. Estas moléculas não-polares tendem, quando em solução aquosa, a agregarem-se de forma a minimizar os efeitos energeticamente desfa- voráveis provocados por sua presença. Quando comparada com a maioria dos outros líquidos comuns, a água tem ponto de fusão, ponto de ebuliçãoe calor de vaporização maiores que todos. Estas pro- priedades incomuns da água são uma conseqüência da existência de forças de atração fortes entre moléculas de água adjacentes, e estas forças dão à água líquida uma grande coesão interna. As biomoléculas polares, porém não carregadas, como os açúcares, dissolvem-se facilmente na água devido ao efeito estabilizador das numerosas pontes de hidrogênio que elas formam entre os grupos hidroxila e o oxigênio do grupo carbonila do açúcar de um lado, e as moléculas polares da água de outro. Os alcoóis, aldeídos e cetonas formam, todos, pontes de hidrogênio com a água, como também o fazem compostos con- tendo ligações N - H, por isso, as moléculas contendo tais grupos tendem a ser solúveis na água. A água é um solvente polar. Ela dissolve facilmente a maioria das biomoléculas, as quais são, geralmen- te, compostos carregados eletricamente ou polares; compostos que se dissolvem facilmente na água são hidrofílicos. Em contraste, solventes não-polares, como o clorofórmio e o benzeno, são solventes muito pobres para as biomoléculas polares, mas dissolvem facilmente as biomoléculas não-polares como os lipídios e as ceras. A água dissolve sais como o NaCl por hidratação e estabilização dos íons sódio e cloreto, enfraquecendo suas interações eletrostáticas e, desta forma, contra- pondo-se à tendência deles a se associarem, formando uma rede cristalina. Os gases biologicamente importantes CO2, O2 e N2 são não-polares. Esses gases são muito pouco solúveis em água. Por isso, alguns organismos têm proteínas solúveis na água que são transportadoras de O2 (he- moglobina e mioglobina) e que facilitam o transporte do mesmo. Em solução aquosa, o dióxido de carbono forma ácido carbônico (H2CO3) e este é transportado na sua forma dissociada. Outros dois gases, NH3 e H2S, também têm funções biológicas em alguns organismos. Estes, entretanto, são polares e se dissolvem facilmente na água. Compostos anfi páticos têm regiões que são polares (ou carregadas) e regiões que são não-polares. Quando compostos anfi páticos são misturados com a água, as duas regiões da molécula do soluto experimentam tendências confl itantes; a região hidrofílica, polar ou carregada, interage favoravelmente com o solvente que tende a dissolver a molécula, entretanto a região hidrofóbica não-polar tem a tendência oposta, ou seja, a de evitar o contato com a água. Muitas biomoléculas são anfi páticas, proteínas, pigmen- tos, algumas vitaminas, esteróides e fosfolipídios de mem- brana têm regiões superfi ciais polares e não-polares. 14 1.2 - Produto Iônico da Água Embora muitas das propriedades solventes da água possam ser explicadas em função das características da molécula de H2O eletricamente não-carregada, é também necessário levar em consideração o pequeno grau de ionização da água em íons (H+) e íons hidroxila (OH-). Quando ácidos ou bases fracos são dissolvidos na água, eles podem produzir H+ por ionização (se forem ácidos) ou consumir H+ ao serem protonizados (se forem bases); esses processos são também governados pelas respecti- vas constantes de equilíbrio. A concentração total do íon hidrogênio originário de todas as fontes é experimental- mente mensurável; ela é expressa como pH da solução. 1.3 - Conceitos de Ácidos e Bases Os ácidos são compostos moleculares que, quando em solução aquosa, se ionizam, formando uma solu- ção eletrolítica, sendo que o cátion é sempre o hidro- gênio. Essa é a defi nição de Arrhenius para ácidos. De modo geral, os ácidos têm sabor azedo, como pode ser observado quando se experimenta o limão (ácido cítrico) ou o vinagre (ácido acético). Embora esses dois ácidos sejam orgânicos, essa propriedade também está presente nos ácidos inorgânicos. Na dissociação, o cátion é sempre hidrogênio, mas o ânion pode ser composto de átomos de mais de um elemento. Veja os exemplos abaixo: Solução de ácido clorídrico – HCl HCl → H+ + Cl- Solução de ácido sulfúrico – H2SO4 H2SO4 → 2 H + + SO4 -2 Solução de ácido fosfórico – H3PO4 H3PO4 → 3 H + + PO4 -3 Por formarem uma solução eletrolítica, em solução aquosa, os ácidos conduzem eletricidade. As bases, também chamadas de hidróxidos, são com- postos químicos que se ionizam na água, como os áci- dos; e o ânion formado é sempre OH-, conhecido como radical hidroxila. O cátion, em geral, é um metal. As bases têm gosto adstringente (que produz constri- ção, “amarra” a boca), como banana verde ou caju. Veja alguns exemplos: Hidróxido de sódio (soda cáustica) – NaOH NaOH → Na+ + OH- Hidróxido de cálcio – Ca(OH)2 Ca(OH)2 → Ca 2+ + 2 OH- Hidróxido de potássio – KOH KOH → K+ + OH- Assim como os ácidos, as bases formam soluções ele- trolíticas, por isso conduzem corrente elétrica. Soluções básicas também são chamadas de soluções alcalinas. A grandeza que indica o quanto uma solução é ácida ou alcalina chama-se pH. Envolve números que vão de 1 a 14. Soluções com pH inferior a 7 são ácidas, e com pH superior a 7 são alcalinas. Soluções neutras, como a água, têm pH 7. Quanto menor o pH de um ácido, mais forte ele é. Quanto maior o pH de uma base, mais forte ela é. 1.4 - pH As moléculas de água têm uma pequena tendência para ionizar-se reversivelmente e liberar o íon hidro- gênio e o íon hidroxila, dando o equilíbrio: H2O ↔ Η++ΟΗ−. Esta ionização reversível é crucial para o papel da água nas funções celulares. Quando as con- centrações de H+ e OH- são exatamente iguais, como na água pura, a solução é dita estar em pH neutro. A escala de pH designa a concentração de H+ e OH-. O produto iônico da água é a base para a escala de pH. O valor 7,0 para o pH de uma solução precisamente neutra não é um número escolhido arbitrariamente; ele deriva do valor absoluto do produto iônico da água a 25oC. As soluções que têm pH maior que 7 são alcalinas ou básicas; a concentração de OH- é maior que aquela de H+; por outro lado, soluções que têm pH menor do que 7 são ácidas. Figura 1 15 As medidas de pH são um dos procedimentos mais importantes e mais freqüentes na prática bioquímica. O pH afeta a atividade e a estrutura das macromoléculas biológicas, como a atividade catalítica das enzimas. As medidas do pH do sangue e da urina são comumente empregadas no diagnóstico de doenças. O pH do plasma sanguíneo de pessoas com diabetes severa, por exemplo, é freqüentemente menor que o valor normal de 7,4; esta condição é chamada de acidose. Em outros estados pa- tológicos, o pH do sangue é maior que o normal e esta condição é conhecida como alcalose. Quase todos os processos biológicos são dependentes do pH; uma pequena variação no pH do meio produz uma grande variação na velocidade da maioria dos processos biológicos que se desenvolvem neste mesmo meio. 1.5 - Tampão Biológico As células e os organismos matam um pH citosólico constante e específi co, geralmente próximo de pH 7,0, o que mantém as biomoléculas em seu estado iônico ótimo. Em organismos multicelulares, o pH dos fl ui- dos extracelulares (sangue, por exemplo) é também estreitamente regulado. A constância do pH é conse- guida primariamente através da existência de tampões biológicos; estes são misturas de ácidos fracos e suas bases conjugadas. O tamponamento biológico pode ser ilustrado pela descrição do funcionamento dos sistemas tampões fosfato e carbonato em seres humanos. Tampões são substâncias que em solução aquosa dão a estas soluções a propriedade de resistir às va- riações do seu pH quando às mesmas são adicionadas quantidades relativamente pequenasde ácido (H+) ou base (OH-). O plasma sangüíneo é tamponado, em parte, pelo siste- ma tampão bicarbonato que consiste de ácido carbônico (H2CO3) como doador de prótons e do (HCO3 - ) como receptor de próton H2CO3 ↔ H++HCO3- . O pH do sistema tampão bicarbonato depende da concentração do H2CO3 e do H2CO3 - , os compostos que doam e recebem os prótons, respectivamente. A concentração de H2CO3, por sua vez, depende da con- centração do CO2 dissolvido, o qual depende da con- centração ou da pressão parcial do CO2 na fase gasosa; desta forma, o pH do tampão bicarbonato exposto a uma fase gasosa é, em última análise, determinado pela concentração de HCO3 - na fase aquosa e pela pressão parcial de CO2 na fase gasosa. Nos animais com pulmões, o sistema tampão bicar- bonato é um sistema tampão fi siológico efetivo em va- lores de pH próximos a 7,4 porque o H2CO3 do plasma sanguíneo está em equilíbrio com um reservatório de CO2 (g) de grande capacidade localizado nos espaços aéreos dos pulmões. Este sistema tampão envolve três equilíbrios reversíveis entre o CO2 gasoso nos pulmões e o bicarbonato HCO3 - no plasma sanguíneo. Quando H+ é adicionado ao sangue, como ocorre quando ele atravessa os tecidos, a reação 1 desloca-se para um novo equilíbrio, no qual a concentração de H2CO3 está aumentada. Isto aumenta a concentração de CO2 (d) no sangue (reação 2), o que faz com que a pressão de CO2 (g) nos espaços aéreos pulmonares aumente (reação 3); o CO2 extra é expirado. Por sua vez, quando adicionamos ao plasma sangüíneo ocorrem os eventos opostos: a concentração de H+ diminui, provocando a dissociação do H2CO3 em H + e HCO3 - , isto causa uma maior dissolução de CO2 (g) no plasma sangüíneo. A velocidade respiratória, quer dizer, a velocidade com que o CO2 é inalado e expi- rado, pode ajustar rapidamente esses equilíbrios com a fi nalidade de manter o pH do sangue praticamente constante. O pH do sangue humano tem um valor próximo a 7,40. Sempre que os mecanismos reguladores do pH falham ou são sobrepujados, como pode acontecer em casos de diabetes grave, não-controlada, quando uma superprodução metabólica de ácidos causa acidose, o pH do sangue pode cair para 6,80 ou menos, provocan- do danos celulares irreparáveis e, por conseqüência, a morte. Em outras doenças o pH pode elevar-se a níveis mortais. Embora muitos aspectos de estrutura celular e de seu funcionamento sejam infl uenciados pelo pH, é a atividade catalítica das enzimas que é especialmente sensível. As enzimas mostram, tipicamente, atividade catalítica máxima em um valor de pH característico, chamado pH ótimo. Em cada um dos lados do pH ótimo a atividade enzimática declina rapidamente. Assim, uma pequena variação do pH pode provocar uma grande diferença na velocidade de algumas rea- ções cruciais catalisadas enzimaticamente. O controle biológico do pH das células e dos fl uidos corporais é, portanto, de importância central em todos os aspectos das atividades celulares e do metabolismo. 16 Figura 2 Os organismos têm se adaptado efetivamente aos seus ambientes aquosos e têm desenvolvido maneiras de explorar as propriedades incomuns da água. O alto calor específi co da água (a energia calórica necessária para aumentar de 1ºC a temperatura de um grama de água) é útil para as células e organismos porque possibilita que a água atue como “tampão de calor”, permitindo que a temperatura de um organismo permaneça relativamente constante, mesmo que a temperatura do ar fl utue e que calor seja gerado em quantidades relativamente grandes como um produto colateral do metabolismo. Além disso, alguns verte- brados exploram o alto valor do calor de vaporização da água usando (e, portanto, perdendo) o excesso de calor corporal para evaporar o suor. O alto grau de coesão interna da água líquida, devido às pontes de hidrogênio, é explorado pelas plantas como um meio de, durante o processo de transpiração, transportar nutrientes dissolvidos das raízes até as folhas. Mesmo a densidade mais baixa do gelo que a da água líquida tem conseqüências biológicas importantes nos ciclos vitais de muitos organismos aquáticos. Poços e lagoas congelam da superfície para o fundo, e a camada de gelo na superfície isola a água imediatamente abaixo dela do ar muito mais frio, impedindo que a lagoa, e os organismos que nela vivem, congelem totalmente. De fundamental importância para todos os organismos vivos é o fato de que muitas das propriedades físicas e biológicas das macromoléculas celulares, particular- mente das proteínas e dos ácidos nucléicos, derivam da sua interação com as moléculas de água do meio ambiente em que se encontram. A infl uência da água no curso da evolução biológica tem sido profunda e determinante. Se alguma forma de vida evoluiu em alguma outra parte do universo, é improvável que ela se assemelhe àquelas da Terra, a menos que seu lugar de origem também seja um local no qual existe grande quantidade de água líquida como um solvente acessível. 1.6 - Íons Minerais e Osmolaridade Os eletrólitos mais importantes encontrados nos fl uidos biológicos são Na+, K+, Ca++, Mg++ e H+, entre os cátions, e Cl-, fosfatos, bicarbonatos e ácidos orgâ- nicos, entre os ânions. A apresentação da distribuição dos eletrólitos em compartimentos baseia-se no fato de que os cátions não são capazes de atravessar as membranas celulares, senão lentamente, já que só a água passa livremente, de um compartimento para outro. Assim, os ajustes osmóticos entre os compartimentos fazem-se à custa dos movimentos livres da água. A composição do líquido intersticial é próxima do plasma sanguíneo, exceto quanto às proteínas, que existem em pequena quantidade. No sangue, a dis- tribuição dos cátions e ânions é diferente, mas suas cargas elétricas estão em equilíbrio, isto é, a soma dos ânions é igual à dos cátions, quando são expressos em miliequivalente por litro. O sódio, na concentração de 142 mEq/litro, e os de- mais (K+, Ca++, Mg++) perfazem o total de 153 mEq/litro de fl uido extracelular; o ânion principal é o cloreto, acompanhado de bicarbonato, fosfato, sulfato, ânions de ácidos orgânicos (piruvato e outros). Osmolaridade (Efeito Gibbs-Donnan) Quando duas soluções de concentrações diferentes estão separados por uma membrana, o movimento dos líquidos faz-se do ambiente menos concentrado para o mais concentrado. Esse é o processo da os- mose, e as substâncias dissolvidas exercem pressão osmótica, que motiva a passagem dos líquidos. A pressão osmótica é função do número de partícu- las dissolvidas e não depende nem do peso, nem da valência, e nem da carga elétrica das mesmas. O equilíbrio osmótico faz-se pela entrada e saída de água entre os compartimentos, podendo os sais acompanhar o movimento da água. Os animais superiores têm a prioridade de manter constante, dentro de certos limites, sua composição em eletrólitos e a percentagem de água do meio interno. A existência de um meio interno foi estabelecida por Claude Bernard, que lançou a “constância ou a fi xi- dez do meio interno é a própria condição da vida”. A manutenção dessa constância foi denominada de ho- meostase, e depende das forças osmóticas dos líquidos biológicos e da sua regulação por meio de glândulas endócrinas e pela excreção renal. 17 1.7 - Aminoácidos Os aminoácidos têm características estruturais comuns. Todos os 20 aminoácidos encontrados nas proteínas têm um grupo carboxila e um grupo amino ligados ao mesmo átomo de carbono (o carbono α). Eles diferem um dos outros através de suas cadeias laterais ou grupos R, os quais variam em estrutura, tamanho e carga, e infl uenciam a solubilidade do ami- noácido em água. Os aminoácidos em soluções aquosas estão ionizados epodem agir como ácidos ou bases. Aproximadamente 300 aminoácidos adicionais foram en- contrados nas células e têm uma grande variedade de funções, mas eles nunca aparecem em proteínas. A ornitina e a citrulina merecem uma nota especial, porque são intermediárias impor- tantes na biossíntese da arginina e no ciclo da uréia. Os peptídeos que ocorrem biologicamente variam muito de tamanho, desde moléculas pequenas contendo dois ou três aminoácidos até grandes macromoléculas contendo milhares de aminoácidos. Duas moléculas de aminoácidos podem ser unidas covalen- temente através de uma ligação amida substituída, chamada ligação peptídica, para formar um dipeptídio. Tal ligação é formada por remoção dos elementos da água de um grupo α- carboxila de um aminoácido e do grupo α-amino de outro. R H R H N CH C OH + H N CH COO O 1 2 + 3 - R H R H N CH C N CH COO O 1 2 + 3 - H O2 Três aminoácidos podem ser reunidos por duas liga- ções peptídicas para formar um tripeptídio, da mesma maneira, os aminoácidos podem ser reunidos para formar tetra e pentapeptídios. Quando um pequeno número de aminoácidos é reunido desta forma, a es- trutura é chamada de oligopeptídio e quando muitos aminoácidos são reunidos, o produto é chamado de polipeptídio. As proteínas podem ter milhares de unidades de aminoácidos. Embora os termos “pro- teína” e “polipeptídios” possam ser, algumas vezes, intercambiáveis. As ligações peptídicas podem ser hidrolisadas por aquecimento tanto com ácido forte quanto com base forte, para liberar os aminoácidos, para liberar os aminoácidos unidos por elas. As ligações peptídicas podem também ser hidroli- sadas por determinadas enzimas chamadas proteases. Elas são enzimas proteolíticas e são encontradas em todas as células e tecidos, onde elas degradam proteínas que se tornaram desnecessárias ou danifi - cadas, além de ajudarem na digestão dos alimentos protéicos. Existem muitos oligopeptídios e polipeptídios pequenos que ocorrem naturalmente, possuem atividades biológicas importantes e pronunciadas e, por isso, exercem seus efeitos em concentrações muito pequenas. Por exemplo, um certo número de hormônios de vertebrados são polipeptídios pe- quenos. O hormônio insulina contém duas cadeias polipeptídicas, uma com 30 resíduos de aminoácidos e a outra com 21. Outros hormônios polipeptídios são o glucagon, um hormônio pancreático de 29 resíduos que tem ação oposta àquela da insulina, e a corticotrofi na, um hormônio com 39 resíduos de aminoácidos, secretado pela hipófi se anterior e que estimula o córtex adrenal. 1.8 - Proteínas Quase tudo que ocorre nas células envolve uma ou mais proteínas. As proteínas fornecem a estrutura, catalisam as reações celulares e executam milhares de outras tarefas. O papel central ocupado por elas é evidenciado no fato de que a informação genética é, em última instância, expressa como proteínas. Para cada proteína existe um segmento de DNA (um gene) que guarda a informação, especifi cando sua seqüência de aminoácidos. Em uma célula típica existem milhares de diferentes tipos de proteínas, cada uma delas codifi cada por um gene e, cada uma delas, executando uma função específi ca. As proteínas estão entre as macromoléculas biológicas mais abundantes e também são extremamente versáteis em suas funções. Funções biológicas das proteínas 1. Enzimas – o grupo de proteínas mais variado e mais altamente especializado é aquele cujos compo- 18 nentes exibem atividade catalítica – as enzimas. São virtualmente catalisadas por enzimas todas as reações químicas nas quais participam as biomoléculas orgâ- nicas das células. Muitos milhares de enzimas dife- rentes, cada uma capaz de catalisar um tipo de reação química diferente, foram descobertos em diferentes organismos. 2. Proteínas transportadoras – proteínas transpor- tadoras existentes no plasma sanguíneo ligam-se a íons ou a moléculas específi cas os quais são transportados de um órgão para outro. A hemoglobina dos eritrócitos liga-se ao oxigênio à medida que o sangue atravessa os pulmões, transporta-os até os tecidos periféricos e, aí, libera-o para que possa participar da oxidação dos nutrientes, com concomitante liberação de energia. O plasma sanguíneo também contém lipoproteínas que transportam lipídios do fígado para outros órgãos. Outros tipos de proteínas de transporte estão presentes nas membranas plasmáticas e nas membranas intra- celulares de todos os organismos; elas estão aptas a ligarem-se, por exemplo, à glicose, aos aminoácidos ou às outras substâncias e transportá-las através dessas membranas. 3. Proteínas nutrientes e de armazenamento – as sementes de muitas plantas armazenam proteínas nu- trientes necessárias para a germinação e o crescimento do broto. Exemplos particularmente bem estudados são as proteínas das sementes do trigo, milho e arroz. A ovoalbumina, a principal proteína da clara do ovo, e a caseína, a principal proteína do leite, são outros exemplos de proteínas nutrientes. A ferritina encon- trada em algumas bactérias e em tecidos animais e vegetais armazena átomos de ferro. 4. Proteínas contráteis ou de motilidade – algumas proteínas habilitam células e organismos com a capa- cidade de contraírem-se, de mudarem de forma, ou de se deslocarem no meio ambiente. A actina e a miosina funcionam no sistema contrátil do músculo esquelé- tico e também em muitas células não musculares. A tubulina é a proteína com a qual os microtúbulos são construídos. Os microtúbulos agem de forma concen- trada com a proteína dineína nos cílios e fl agelos para propelir as células. a) Proteínas estruturais – muitas proteínas servem como fi lamentos de suporte, cabos ou lâminas para fornecer proteção ou resistência a estruturas biológicas. O principal componente das cartilagens e dos tendões é a proteína fi brosa colágeno, a qual tem alta resistên- cia à tensão. O couro é quase que colágeno puro. Os ligamentos contêm elastina, uma proteína estrutural capaz de distender-se em duas dimensões. O cabelo, as unhas e as penas consistem principalmente da proteína resistente e insolúvel denominada queratina. O maior componente das fi bras da seda e da teia das aranhas é a fi broína. Os ligamentos “em dobradiça” das asas de certos insetos são feitos de resilina, uma proteína que tem propriedades elásticas próximas da perfeição. 5. Proteínas de defesa – muitas proteínas defendem os organismos contra a invasão de outras espécies ou os protegem de ferimentos. As imunoglobulinas ou anticorpos, proteínas especializadas sintetizadas pelos linfócitos dos vertebrados, podem reconhecer e preci- pitar, ou neutralizar, invasores como bactérias, vírus ou proteínas estranhas oriundas de outras espécies. O fi brinogênio e a trombina são proteínas que participam da coagulação do sangue que previne a perda de sangue quando o sistema vascular é lesado. Venenos de ser- pente, toxinas bacterianas e proteínas vegetais tóxicas, como a ricina, também parecem ter funções defensivas. Algumas destas proteínas, incluindo o fi brinogênio, a trombina e alguns venenos também são enzimas. 6. Proteínas reguladoras – algumas proteínas aju- dam a regular a atividade celular ou fi siológica. Entre elas estão muitos hormônios. Alguns exemplos incluem a insulina, a qual regula o metabolismo dos açúcares e o hormônio do crescimento da hipófi se. A resposta celular a muitos sinais hormonais é freqüentemente regulada por uma classe de proteínas que se ligam ao GTP e são chamadas proteínas G (o GTP é estreita- mente relacionado ao ATP com a guanina substituindo a adenina). Outrasproteínas reguladoras ligam-se ao DNA e regulam a biossíntese de enzimas e das molé- culas de RNA envolvidas na divisão celular, tanto em procariotos como em eucariotos. 7. Outras proteínas – existem numerosas outras proteínas cujas funções podem ser ditas exóticas e de difícil classifi cação. A monelina, uma proteína de uma planta africana, tem um sabor intensamente doce. Ela está sendo estudada como um adoçante não-tóxico e quase sem calorias para uso humano. O plasma san- guíneo de alguns peixes da Antártica contém proteínas anticoagulantes, as quais protegem do congelamento o sangue destes animais. É extraordinário que todas estas proteínas, com suas propriedades e funções tão diferentes, sejam constru- ídas com o mesmo grupo de 20 aminoácidos. Algumas proteínas contêm grupos químicos dife- rentes dos aminoácidos. Muitas proteínas, como as enzimas ribonuclease e quimotripsina, contêm apenas aminoácidos e nenhum outro grupo químico; elas são consideradas proteínas simples. Entretanto, algumas proteínas contêm componentes químicos em adição aos aminoácidos; elas são chamadas proteínas conjugadas. A parte não-aminoácido de uma proteína conjugada é geralmente chamada de seu grupo prostético. As prote- ínas conjugadas são classifi cadas com base na natureza química dos seus grupos prostéticos; por exemplo: 19 lipoproteínas contêm lipídios, glicoproteínas contêm moléculas de açúcares e metaloproteínas contêm um metal específi co. Um certo número de proteínas contém mais do que um grupo prostético. Geralmente o grupo prostético desempenha um papel importante na função biológica da proteína. Proteínas Conjugadas Grupo prostético Lipídios Carboidratos Grupo fosfato Heme (ferro- porfi rina) Nucleotídeos de fl avina Ferro Zinco Cálcio Molibdênio Cobre Classe Lipoproteínas Glicoproteínas Fosfoproteínas Heme- proteínas Flavoproteínas Metaloproteína Exemplo Β1-lipoproteína do sangue ImunoglobulinaG Caseína do leite Hemoglobina Succinato desidrogenase Ferritina Álcool desidrogenase Calmodulina Dinitrogenase Plastocianina Função de uma proteína depende da sua seqüência de aminoácidos A bactéria E. coli produz perto de 3.000 proteínas diferen- tes. Um ser humano produz de 50.000 a 100.000 proteínas diferentes. Em ambos os casos, cada tipo separado de proteína tem uma estrutura única e esta estrutura confere a ela uma função única. Mais de 1.400 doenças genéticas hu- manas têm sido identifi cadas como resultantes da produção de proteínas defeituosas. Talvez um terço dessas proteínas defeituosas assim o são, porque um único aminoácido da seqüência foi mudado; portanto, se a estrutura primária é alterada, a função da proteína também pode mudar. A seqüência de aminoácidos pode ser deduzida da seqüência de bases no DNA O desenvolvimento rápido dos métodos de seqüen- ciamento do DNA, a elucidação do código genético e o desenvolvimento de técnicas para o isolamento de genes tornam possível deduzir a seqüência de um polipeptídio pela determinação da seqüência de nucleotídeos em seu gene. As duas técnicas são com- plementares. Existem quatro níveis na arquitetura das proteínas: 1. Estrutura primária – inclui todas as ligações covalentes entre os aminoácidos que compõem uma proteína e é defi nida pela seqüência dos aminoácidos unidos por ligações peptídicas e pela localização das pontes dissulfeto. O arranjo espacial relativo dos ami- noácidos não é especifi cado. 2. Estrutura secundária – refere-se aos arranjos regulares e recorrentes no espaço de resíduos de ami- noácidos adjacentes em uma cadeia polipeptídica. 3. Estrutura terciária – refere-se ao relacionamento espacial entre todos os aminoácidos em um polipep- tídio. 4. Estrutura quaternária – especifi ca a relação espacial dos polipeptídios, ou subunidades, no interior de uma dada proteína. 20 As proteínas perdem a estrutura e a função, quan- do desnaturadas A maneira de demonstrar a importância da estrutura específi ca das proteínas para a função biológica que exercem é alterar esta estrutura e determinar o efeito que isto causa nesta função. Uma alteração extrema é a perda total da sua estrutura tridimensional, um processo chamado desnaturação. Este é o processo familiar que ocorre quando um ovo é cozido. A clara do ovo, a qual contém a proteína solúvel albumina do ovo, ou ovoalbumina, coagula pelo aquecimento para formar uma substância branca e sólida. Esta substância não redissolverá, quando resfriada, para reproduzir a solução límpida de proteína que era, Figura 3 antes do aquecimento, a clara do ovo original. O aquecimento da albumina do ovo produziu, portanto, uma mudança irreversível. Este efeito do calor ocorre em, virtualmente, todas as proteínas globulares, in- dependentemente do seu tamanho ou da sua função biológica, embora, a temperatura precisa, na qual o processo ocorre, possa variar e o seu efeito nem sempre será irreversível. Algumas proteínas globu- lares desnaturadas pelo calor, extremos de pH, ou reagentes desnaturantes, recuperarão a sua estrutura nativa e sua atividade biológica, um processo chama- do renaturação. Quando estes agentes são retirados da solução em que as proteínas se encontram, esta mesma solução retorna às condições nas quais a conformação protéica nativa é possível e estável. A mudança na estrutura produzida pela desnaturação é quase invariavelmente associada à perda de função. Isto é uma conseqüência esperada do princípio de que a estrutura tridimensional específi ca das proteínas é crítica para o exercício de suas funções. As proteínas podem ser desnaturadas não somente pelo aquecimento, mas também por valores extremos de pH, por alguns solventes orgânicos miscíveis com a água, como o etanol e a acetona, por algumas subs- tâncias em solução como a uréia, ou por exposição da proteína a substâncias detergentes. 1.9 - Vitaminas e Coenzimas Vitaminas são compostos orgânicos não-relacionados qui- micamente, que não podem ser sintetizados por humanos e, portanto, devem ser suprimidos pela dieta. Nove vitaminas (ácido fólico, cobalamina, ácido ascórbico, piridoxina, tiamina, niacina, ribofl avina, biotina e ácido pantotênico) são classifi cados como hidrossolúveis, enquanto quatro vitaminas (vitaminas A, D, K e E) são ditas lipossolúveis. As vitaminas são requeridas para a execução de funções celulares específi cas. Por exemplo, muitas das vitaminas hidrossolúveis são precursores de coenzimas para as enzi- mas do metabolismo intermediário. Em contraste com as vitaminas hidrossolúveis, somente uma vitamina liposso- lúvel (vitamina K) tem função de coenzima. Ácido Fólico O ácido fólico (ou folato), o qual desempenha um pa- pel chave no metabolismo dos grupos de um carbono, é essencial para a biossíntese de vários compostos. Cobalina (Vitamina B12) A vitamina B12 é necessária em humanos para duas reações enzimáticas essenciais: a síntese de metionina e a isomerização da metilmalonil-CoA, que é produ- zida durante a degradação de alguns aminoácidos e de ácidos graxos com número impar de átomos de carbonos. Quando a vitamina é defi ciente, ácidos graxos anormais acumulam-se e são incorporados nas membranas celulares, incluindo as do sistema nervoso. Isso pode contribuir para algumas das manifestações neurológicas da defi ciência da vitamina B12. Ácido Ascórbico (Vitamina C) A forma ativa da vitamina C é o ácido ascórbico. A principal função do ascorbato é como agente redutor em diversas reações diferentes. A vitamina C tem um papel muito bem-documentado como coenzima nas reações de hidroxilação, como por exemplo na hidroxilação dos resíduos prolil- e lisil- do colágeno. A vitamina C é, dessa forma, necessária para amanu- tenção normal do tecido conectivo, assim como para recompor tecidos danifi cados. A vitamina C também facilita a absorção do ferro da dieta no intestino. Piridoxina (Vitamina B6) Vitamina B6 é um termo coletivo para piridoxina, pi- ridoxal e piridoxamina, todos derivados da piridina. A 21 piridoxina ocorre principalmente nas plantas, enquanto o piridoxal e a piridoxamina são encontrados em ali- mentos obtidos de animais. Todos os três compostos podem servir como precursores da coenzima biologi- camente ativa, o piridoxal-fosfato. O piridoxal-fosfato funciona como uma coenzima para um grande número de enzimas, particularmente aquelas que catalisam reações envolvendo aminoácidos. Tiamina (Vitamina B1) O pirofosfato de tiamina (TPP) é a forma biologica- mente ativa da vitamina, formada pela transferência do grupo pirofosfato da ATP para a tiamina. O piro- fosfato de tiamina serve como coenzima na formação ou na degradação de α-cetóis pela transcetolase e na descarboxilação oxidativa dos α-cetoácidos. A beri- béri é uma grave síndrome de defi ciência de tiamina observada em áreas onde o arroz polido é o principal componente da dieta. Niacina Niacina, ou ácido nicotínico, é um derivado subs- tituído da piridina. As formas biologicamente ativas da coenzima são nicotinamida-adenina-dinucleotídeo (NAD+) e seu derivado fosforilado, nicotinamida- adenina-dinucleotídeo-fosfato (NADP+). O NAD+ e o NADP+ servem como coenzimas nas reações de oxidação-redução nas quais a coenzima sofre redução do anel piridina, pela incorporação de um íon hidreto (átomo de hidrogênio + um elétron). As formas redu- zidas do NAD+ e do NADP+ são NADH e NADPH, respectivamente. Riboflavina (Vitamina B2) As duas formas biologicamente ativas são fl avina mononucleotídeo (FMN) e fl avina adenina dinucleo- tídeo (FAD), formadas pela transferência de um AMP do ATP para FMN. O FMN e o FAD são capazes de aceitar reversivelmente dois átomos de hidrogênio, formando FMNH2 ou FADH2. O FMN e o FAD são fortemente ligados – algumas vezes covalentemente – a fl avoenzimas que catalisam a oxidação ou a redução de um substrato. Biotina A biotina é uma coenzima nas reações de carboxila- ção, nas quais ela serve como carregador do dióxido de carbono ativado. A biotina liga-se covalentemente ao grupo ε-amino de resíduos de lisina nas enzimas dependentes de biotina. A defi ciência de biotina não ocorre naturalmente porque a vitamina está amplamen- te distribuída nos alimentos. Além disso, uma grande porcentagem da biotina necessária para os humanos é suprimida por bactérias intestinais. Entretanto, a adição de claras de ovos cruas à dieta como uma fonte de proteína induz sintomas de defi ciência de biotina, isto é, dermatite, glossite, perda de apetite e náusea. As claras de ovos cruas contém uma glicoproteína, a avidina, a qual se liga fortemente à biotina e impede a sua absorção a partir do intestino. No entanto, com uma dieta normal, estima-se que seriam necessários 20 ovos por dia para induzir uma síndrome da defi ciência. Assim, a inclusão ocasional de ovos crus à dieta não leva à defi ciência de biotina. Ácido Pantotênico O ácido pantotênico é um componente da coenzima A, a qual atua na transferência de grupos acila. A coen- zima A contém um grupo tiol que transporta compostos acila como ésteres de tiol ativados. Exemplos de tais estruturas são a succinil-CoA, a acil-CoA e a acetil- CoA. O ácido pantotênico é também um componente da sintetase dos ácidos graxos. Os ovos, o fígado e as leveduras são as mais importantes fontes de ácido pantotênico, embora a vitamina seja amplamente distribuída. Vitamina A Os retinóides, uma família de moléculas relacionadas ao retinol (vitamina A), são essenciais para a visão, a reprodução, o crescimento e a manutenção dos tecidos epiteliais. O ácido retinóico, derivado da oxidação do retinol da dieta, medeia a maioria das ações dos reti- nóides, exceto para a visão, a qual depende do retinal, o derivado aldeídico do retinol. O ácido retinóico liga-se com alta afi nidade a proteínas receptoras específi cas, no núcleo de células-alvo, tais como as células epi- teliais. O complexo ativado receptor-ácido retinóico interage com a cromatina nuclear, estimulando a síntese de RNA retinóide-específi co, resultando na produção de proteínas específi cas, as quais medeiam várias funções fi siológicas. Por exemplo, os retinóides controlam a expressão do gene da queratina na maior parte dos tecidos epiteliais do corpo. As proteínas receptoras específi cas do ácido retinóico são parte da superfamília dos reguladores transcricionais que incluem os hormônios esteróides e da tireóide, e o 1,25-diidroxicolecalciferol, os quais funcionam de maneira similar. Vitamina D As vitaminas D são um grupo de esteróides que apresentam uma função do tipo hormonal. A molécula ativa, 1,25-diidroxicolecalciferol (1,25-diOH-D3), liga- se a proteínas receptoras intracelulares. O complexo 1,25-diOH-D3-receptor interage com o DNA no núcleo 22 de células-alvo de modo semelhante à vitamina A e estimula seletivamente ou reprime de modo específi - co a transcrição gênica. A ação mais proeminente do 1,25-diOH-D3 é a regulação dos níveis plasmáticos de cálcio e fósforo. Vitamina K O principal papel da vitamina K é exercido na modifi cação pós-traducional de vários fatores de coagulação sangüínea, quando essa vitamina serve como uma coenzima na carboxilação de certos resíduos de ácido glutâmico presentes nessas pro- teínas. A vitamina K existe em diversas formas. Por Exercícios de Auto-Avaliação 1. A fenilcetonúria é uma doença que resulta de um defeito na enzima fenilalanina hidroxilase, que participa do catabolismo do aminoácido fenilalanina. A falta de hidroxilase produz o acúmulo de fenilalanina que, por transaminação, forma ácido fenilpirúvico. Quando em excesso, o ácido fenilpirúvico provoca retardamento mental severo. Por outro lado, o portador desse defeito enzimático pode ter uma vida normal desde que o defeito seja diagnosticado imediatamente após o nascimento e que sua dieta seja controlada. A fenilcetonúria é tão comum que mesmo nas latas de refrigerantes dietéticos existe o aviso: “Este produto contém fenilalanina!”. Qual o principal cuidado a tomar com a dieta alimentar de um portador desse defeito enzimático? Por quê? 2. O gato siamês é um animal de rara beleza, pois a pelagem de seu corpo é clara com extremidades – orelhas, focinho, pés e cauda – pretas. A presença do pigmento que dá a cor negra a essas extremidades é o resultado da atividade de uma enzima que fi ca inativada acima de 34°C. Explique por que esses animais têm a pelagem negra nas extremidades do corpo. 3. O gene A é responsável pela produção do polipeptídeo X. Seu alelo a não produz o polipeptídeo X. Assim, indivíduos de genótipos AA ou Aa produzem o polipeptídeo X, que está ausente nos indivíduos aa. Os dois gráfi cos, I e II, referem-se à velocidade de formação de um determinado produto (VFP), em mg/hora, em dois indivíduos da mesma espécie, quando suas temperaturas variam. Sabendo que a velocidade de formação do produto (VFP) está relacionada à presença ou ausência do poli- peptídeo X, responda: a) Qual dos gráfi cos se refere a indivíduo AA ou Aa e qual se refere a indivíduo aa? b) Pelos dados dos gráfi cos, qual seria a função mais provável do polipeptídeo X no processo de formação do produto? Como você explicaria o comportamento da curva no gráfi co correspondente ao indivíduo AA ou Aa? 4. Quais são os principais sinais que surgem no organismo humano como resultado da falta das seguintes vitaminas: B1, B12‚ e K, respectivamente. 5. Dê exemplos de alimentos que possuem grande quantidade de água. exemplo, nas plantas ela existe como fi loquinona(ou vitamina K1) e nas bactérias da fl ora intestinal como menaquinona (ou vitamina K2). Para a terapia, está disponível um derivado sintético da vitamina K, a menadiona. Vitamina E As vitaminas E consistem em oito tocoferóis de ocor- rência natural, dos quais o α-tocoferol é o mais ativo. A principal função da vitamina E é como antioxidante na prevenção da oxidação não-enzimática de componentes celulares (por exemplo, ácidos graxos poliinsaturados) pelo oxigênio molecular e por radicais livres. 23 6. A vitamina A, conhecida como beta caroteno e retinol, é importante para o bom funcionamento da visão e para a integridade da pele. Cite um alimento de origem animal e um de origem vegetal ricos nesta vitamina. 7. Qual é a vitamina cuja falta acarreta o escorbuto, avitaminose que se manifesta como sangramento nas gengivas, queda dos dentes e rachaduras na pele? 8. Por que a vitamina D (esteróide) é importante para o crescimento? 9. Uma prática corriqueira na preparação de comida é colocar um pouco de “leite” de mamão ou suco de abacaxi para amaciar a carne. Hoje em dia, os supermercados já vendem um amaciante de carne industrializado. a) Explique o amaciamento da carne promovido pelo componente presente no mamão, no abacaxi ou no ama- ciante industrializado e compare esse processo com a digestão. b) Se o amaciante, natural ou industrializado, for adicionado durante o cozimento, qual será o efeito sobre a carne? Por quê? 10. É muito comum que mulheres apresentem um quadro de anemia durante a gravidez. As mulheres anêmi- cas queixam-se de cansaço constante, além de uma acentuada “falta de ar”. Essa condição, em geral, pode ser tratada por meio da ingestão de sais de ferro, ou de uma dieta rica em ferro. Explique de que forma a dose extra de ferro alivia os sintomas de falta de ar. 11. Em condições normais, nem todo o gás oxigênio transportado pelo sangue é liberado nos tecidos corporais; um pouco dele continua retido nas moléculas de hemoglobina. No entanto, um aumento da temperatura ou uma queda do pH faz com que a hemoglobina libere uma quantidade adicional de gás oxigênio. a) Explique a relação entre atividade muscular e aumento de temperatura. b) Explique a relação entre atividade muscular e queda de pH. c) Explique de que maneira o comportamento da hemoglobina, descrito no texto, pode ser benéfi co para músculos em atividade intensa. Atividades Complementares Depois de ler a Unidade I, sublinhe os termos que você não conhece pesquisando sobre eles. 24 UNIDADE II ENZIMOLOGIA 2.1 - Conceito Praticamente todas as reações no corpo são mediadas por enzimas, as quais são proteínas catalisadoras que aumentam a velocidade das reações, sem sofrerem alterações no processo global. Dentre as muitas reações biológicas que são ener- gicamente possíveis, as enzimas seletivamente canalizam reatantes (chamados substratos) para rotas úteis. As enzimas direcionam, assim, todos os eventos metabólicos. Os nomes de enzimas mais comumente usados têm o sufi xo “-ase” adicionado ao nome do substrato da reação (por exemplo, glicosidase, urease, sacarase) ou à descri- ção da ação realizada (por exemplo, lactato-desidrogenase e adenilato-ciclase). Algumas enzimas mantêm seu nome trivial original, o qual não tem qualquer associação com a reação enzimática, por exemplo, tripsina e pepsina. As enzimas são catalisadores protéicos que aumentam a velocidade de uma reação química e não são consumidos durante a reação que catalisam. Alguns tipos de RNA po- dem atuar como enzimas, geralmente catalisando a quebra e a síntese de ligações fosfo-diéster. Os RNAs com atividade catalítica são chamados ribozimas e são encontrados com muito menos freqüência que as proteínas catalisadoras. As moléculas de enzimas contêm uma região específi ca formando uma fenda que é chamada sítio ativo. O sítio ativo contém cadeias laterais de aminoácidos, as quais criam uma superfície tridimensional complementar ao substra- to. O sítio ativo liga o substrato, formando um complexo enzima-substrato (ES). O complexo ES é convertido em enzima-produto (EP), o qual subseqüentemente se dissocia em enzima e produto. As enzimas são altamente especí- fi cas, interagindo com um ou alguns poucos substratos e catalisando apenas um tipo de reação química. Praticamente todas as reações têm uma barreira de energia separando os reatantes dos produtos. Essa barreira, denominada energia livre de ativação, é a diferença entre a energia dos reatantes e aquela de um intermediário de alta energia, que ocorre durante a for- mação do produto. Por exemplo, a fi gura abaixo mostra as alterações na energia durante a conversão de uma molécula do reatante A no produto B, passando pelo estado de transição (intermediário de alta energia). Energia livre de ativação: O pico de energia é a diferença na energia livre entre os reatantes e T, onde um intermediário rico em energia é formado durante a conversão do reatante em produto. Devido à grande energia de ativação, as velocidades das reações quími- cas não-catalisadas são freqüentemente lentas. Velocidade da reação: Para as moléculas reagirem, devem conter energia sufi ciente para superar a barreira de energia do estado de transição. Na ausência de uma enzima, somente uma pequena proporção da popula- ção de moléculas pode possuir energia sufi ciente para atingir o estado de transição entre reatante e produto. A velocidade da reação é determinada pelo número dessas moléculas “energizadas”. Em geral, quanto menor a energia livre de ativação, mais moléculas têm energia sufi ciente para superar o estado de transição e, assim, mais rápida é a velocidade da reação. Fatores que afetam a velocidade da reação As diferentes enzimas mostram diferentes respostas às alterações de concentração de substrato, tempera- tura e pH. Concentração do substrato: A velocidade de uma reação (v) é o número de moléculas de substrato convertidas em produto por unidade de tempo. A velocidade de uma reação catalisada por enzima au- menta conforme a concentração do substrato, até uma velocidade máxima (Vmax) ser atingida. Figura 4 Figura 5 25 Temperatura: A velocidade de reação aumenta com a temperatura, até um pico de velocidade ser atingido. Esse aumento é devido ao aumento do número de moléculas com energia sufi ciente para atravessar a bar- reira de energia e formar os produtos da reação. Uma elevação maior da temperatura resulta em redução na velocidade de reação, como resultado da desnaturação da enzima, induzida pela temperatura. Figura 6 Figura 7 pH: Valores extremos de pH também podem le- var à desnaturação da enzima, pois a estrutura da molécula protéica cataliticamente ativa depende do caráter iônico das cadeias laterais dos aminoácidos. O pH no qual a atividade máxima da enzima é atin- gida difere para cada enzima e, geralmente, reflete a [H+] na qual a enzima funciona no organismo. 2.2 - Regulação da Atividade Enzimática A regulação da velocidade das reações enzimá- ticas é essencial para o organismo coordenar seus numerosos processos metabólicos. As velocidades da maioria das enzimas respondem a mudanças na concentração dos substratos, pois, o nível intracelular de muitos dos substratos se encontra na faixa do KM (constante de Michaelis). Dessa forma, um aumento na concentração do substrato é refl etido no aumento da velocidade de reação, o que tende a fazer a con- centração do substrato retornar ao valor normal. Além disso, algumas enzimas com funções reguladoras especializadas respondem a efetores alostéricos ou a modifi cações covalentes, ou ainda, possuem a velo- cidade de sua síntese alterada quando as condições fi siológicas são alteradas. Sítios alostéricos de ligação: As enzimas alostéricas são reguladaspor moléculas chamadas efetores (tam- bém chamados de modifi cadores ou moduladores), os quais ligam-se de forma não-covalente a outro sítio que não o sítio catalítico. Regulação de enzimas por modifi cação covalente: Muitas enzimas podem ser reguladas pela adição ou pela remoção de grupos fosfato de resíduos específi cos. A fosforilação de proteínas é reconhecida como uma das principais formas pelas quais os processos celulares são regulados. Indução a repressão da síntese de enzimas: Os me- canismos reguladores descritos previamente modifi cam a atividade de moléculas enzimáticas existentes. Entre- tanto, as células também podem regular a quantidade de enzima presente – em geral alterando a velocidade da síntese da enzima. O aumento (indução) ou a diminuição (repressão) da síntese da enzima leva a uma alteração nas população total de sítios ativos (nesse caso, a efi ciência das moléculas existentes na enzima não é afetada). 2.3 - Cinética Enzimática Michaelis e Menten propuseram um modelo sim- ples, que explica a maioria das características das reações catalisadas por enzimas. Nesse modelo, a enzima combina-se reversivelmente com o substrato, formando um complexo ES que, subseqüentemente, degrada-se em produto, regenerando a enzima livre. O modelo, envolvendo uma molécula de substrato, é representado a seguir: K1 K2 E + S ↔ ES → E + P K-1 onde S é o substrato E é a enzima ES é o complexo enzima-substrato K1, K - 1 e K2 são as constantes de velocidade Equação de Michaelis-Menten A equação de Michaelis-Menten descreve como a velo- cidade da reação varia com a concentração do substrato: VO = VMAX [S] Km + [S] 26 Onde VO = velocidade inicial de reação VMAX = velocidade máxima KM = constante de Michaelis = (K- 1 + K2 )/ K 1 [S] = concentração de substrato Ao derivar-se a equação de velocidade de Michaelis- Menten, são feitas as considerações a seguir. 1. Concentrações relativas de E e S: A concentração de substrato ([S]) é muito maior do que a concentração da enzima ([E]), de modo que a porcentagem de substra- to ligado à enzima em qualquer tempo é pequena. 2. Hipótese do estado de equilíbrio: A [ES] não varia com o tempo hipótese do estado de equilíbrio), isto é, a velocidade de formação de ES é igual àquela da degradação de ES (para E + S e para E + P). Em geral, um intermediário em uma série de reações é dito estar em estado de equilíbrio quando sua ve- locidade de síntese é igual a sua velocidade de degradação. 3. Velocidade inicial: Somente as velocidades iniciais da reação (VO) são utilizadas na análise das reações enzimáticas. Isso signifi ca que a velocidade de reação é medida assim que a enzima e o substrato são misturados. Nesse momento, a concentração de produto é muito pequena e, assim sendo, a velocidade de reação inversa de P para S pode ser ignorada. Conclusões importantes sobre a cinética de Mi- chaelis-Menten 1. Características do KM. KM - a constante de Mi- chaelis – é característico de uma enzima e de determinado substrato seu, e refl ete a afi nidade da enzima para aquele substrato. O KM é numericamente igual à concentração do substrato na qual a velocidade da reação é igual a ½ VMAX.. O KM não varia com a concentração da enzima. Figura 8 a. Km baixo – Um Km numericamente pequeno refl ete uma alta afi nidade da enzima pelo substrato, pois uma baixa concentração de substrato é neces- sária para atingir a metade da saturação da enzima – isto é, atingir a velocidade que é ½ Vmax (fi gura ao lado). b. Km alto – Um Km numericamente grande (ele- vado) refl ete uma baixa afi nidade da enzima pelo substrato, pois é necessária uma alta concentração de substrato para atingir a metade da saturação da enzima. 2. Relação entre a velocidade e a concentração da enzima – a velocidade da reação é diretamente proporcional à concentração da enzima em qual- quer concentração de substrato. Por exemplo, se a concentração da enzima é reduzida pela metade, a velocidade inicial da reação (VO), assim como Vmax, são reduzidas à metade da velocidade ori- ginal. 3. Ordem de reação – quando a [S] é muito menor que o Km, a velocidade da reação é aproximadamen- te proporcional à concentração do substrato. A velo- cidade da reação é então dita de primeira ordem com relação ao substrato. Quando a [S] é muito maior do que o Km, a velocidade é constante e igual à VMAX. A velocidade da reação, nesse caso, é independente da concentração de substrato e é dita de ordem zero em relação à concentração de substrato. Figura 9 Exercícios de Auto-Avaliação 1. As estatinas, por seu grande êxito na prevenção da doença coronariana, estão entre os medicamentos mais prescritos no mundo. Essas substâncias atuam sobre a enzima que regula a síntese de colesterol pelo fígado, denominada, simplifi cadamente, de HMG-CoA redutase. 27 Para testar a efi ciência de vários derivados de estatinas, utilizou-se uma preparação de HMG-CoA redutase isolada de tecido hepático. A velocidade de reação dessa preparação enzimática foi medida em função de con- centrações crescentes de seu substrato HMG-CoA, na ausência e na presença de uma concentração fi xa de três derivados de estatina. Nesses experimentos, o pH, a temperatura, a concentração da enzima e a concentração dos co-fatores necessários foram sempre mantidos constantes. O gráfi co a seguir representa os resultados en- contrados; a curva 1 foi obtida na ausência de estatinas. a) Nomeie o tipo de mecanismo de ação das estatinas sobre a enzima HMG-CoA redutase hepática e justifi que sua resposta. b) Aponte uma substância sintetizada a partir do colesterol em nosso organismo, não caracterizada como hormônio, e sua respectiva função. 2. A glicoquinase e a hexoquinase são duas enzimas que reagem com o mesmo substrato, a glicose. Ambas são enzimas intracelulares que fosforilam a glicose formando glicose 6-fosfato (G6P). Dependendo da enzima produtora, a G6P pode ou ser degradada na via da glicólise para gerar energia ou então ser usada para síntese de glicogênio. A glicólise ocorre nos tecidos em geral e a síntese de glicogênio ocorre principalmente no fígado. A síntese do glicogênio somente acontece quando existe excesso de glicose no sangue. Essa é uma forma de armazenar esse açúcar. Observe a fi gura a seguir, que apresenta as velocidades de reação dessas duas enzimas em função da concen- tração da glicose. Níveis normais de glicose no sangue estão ao redor de 4mM. Qual das duas enzimas gera G6P para síntese de glicogênio hepático? Justifi que sua resposta. Atividades Complementares Depois de ler a Unidade II, sublinhe os termos que você não conhece pesquisando sobre eles. 28 UNIDADE III ENERGÉTICA BIOQUÍMICA 3.1 - Princípios de Termodinâmica A bioenergética descreve a transferência e a utilização da energia em sistemas biológicos. Ela utiliza algumas idéias básicas da termodinâmica, em especial o con- ceito de energia livre. Mudanças na energia livre (ΔG) fornecem uma medida da possibilidade, em termos energéticos, de que uma reação química ocorra e nos permitem, portanto, prever se uma reação ou processo pode acontecer. O sinal de ΔG prediz o sentido da reação A variação na energia livre, ΔG, pode ser utilizada para predizer o sentido de uma reação em condições de pressão e temperatura constantes. Considere a reação:A ↔ B. 1. ΔG negativo. Se ΔG é um valor negativo, há uma perda líquida de energia, e a reação anda espontane- amente no sentido em que está escrita, ou seja, A é convertido em B. A reação é dita exergônica. 2. ΔG positivo. Se ΔG é um valor positivo, há ganho líquido de energia e a reação não anda espontaneamente de B para A. A reação é dita endergônica, e alguma energia deve ser adicionada ao sistema para fazer com que a reação ande de A para B. 3. ΔG igual a zero. Se ΔG = 0, os reatantes estão em equilíbrio (quando uma reação ocorre esponta- neamente – ou seja, alguma energia livre está sendo perdida – a reação então continua, até que ΔG atinja o zero e o equilíbrio seja estabelecido). ΔG de reações no sentido direto e inverso A energia livre de uma reação (A´B) no sentido direto (aquele em que está escrita) é de igual magni- tude, mas de sinal oposto àquela da reação no sentido inverso (B´A). Por exemplo, se o ΔG da reação no sentido direto é -5.000 cal/mol, então o ΔG da reação no sentido inverso é +5.000 cal/mol. 3.2 - Papel de Aceptores de Energia ATP como um Carregador de Energia Reações ou processos que apresentam ΔG muito maior que zero, como íons movendo-se contra um gradiente de concentração através de uma mem- brana celular, podem ocorrer pelo acoplamento do movimento endergônico dos íons com um segundo processo espontâneo que apresente um ΔG bastante negativo, como a hidrólise de trifosfato de adenosina (ATP). A fi gura abaixo mostra um modelo mecânico de acoplamento de energia. Uma engrenagem à qual está amarrado um peso gira espontaneamente no sentido de alcançar o estado de menor energia, nesse caso com o peso na posição mais baixa (fi gura A). O movimento contrário (fi gura B) é energeticamente desfavorecido e não ocorre espontaneamente. A fi gura C mostra que o movimento energeticamente favorável de uma engrenagem pode ser utilizado para girar uma segunda engrenagem em um sentido para o qual ela não giraria espontaneamente. O exemplo mais simples de acoplamento energético em reações biológicas ocorre quando as reações que requerem energia e as reações que produzem energia compartilham um intermediário comum. Figura 10 29 O ATP consiste em uma molécula de adenosina (adenina + ribose) à qual estão ligados três grupos de fosfato. Se um fosfato for removido, será produzido o difosfato de adenosina (ADP); se dois fosfatos forem removidos, teremos como resultado monofosfato de adenosina (AMP). A energia livre padrão para a hidró- lise do ATP, ΔG0, é aproximadamente -7.300 cal/mol para cada um dos dois grupos fosfato terminais. Em função desse ΔG0 grande e negativo, o ATP é denomi- nado um composto fosfatado de alta energia. 30 UNIDADE IV METABOLISMO DE CARBOIDRATOS 4.1 - Estrutura Geral Os carboidratos são as moléculas orgânicas mais abundantes na natureza. Eles possuem uma grande variedade de funções, as quais incluem o forneci- mento de uma fração signifi cativa da energia na dieta da maioria dos organismos e a atuação como uma forma de armazenamento de energia no corpo e como componentes da membrana celular, mediando algumas formas de comunicação intracelular. Os carboidratos também servem como componentes estruturais de muitos organismos, incluindo a pa- rede celular de bactérias, o exoesqueleto de muitos insetos e as fi bras de celulose das plantas. A fórmula empírica para muitos dos carboidratos mais simples é (CH2O)n, daí o nome “hidratos de carbono”. Os monossacarídeos (açucares simples) podem ser classifi cados de acordo com o número de átomos de carbono que contêm. Exemplos de alguns monossa- carídeos comumente encontrados em humanos estão listados na fi gura A. Os carboidratos com um aldeído como seu grupo funcional mais oxidado são deno- minados aldoses, enquanto aqueles com um grupo cetona como seu grupo funcional mais oxidado são chamados cetoses (fi gura B). Por exemplo, o glice- raldeído é uma aldose, enquanto a diidroxiacetona é uma cetose. Os carboidratos que apresentam um grupo carbonila livre recebem o sufi xo “-ose”. (As cetoses [com algumas exceções, como a frutose] recebem duas letras adicionais no seu sufi xo; “-ulose”, como xilulose). Os monossacarídeos podem ligar-se por ligações glicosídi- cas, criando estruturas maiores. Os dissacarídeos contêm duas unidades de monossacarídeos, os oligossacarídeos contêm cerca de 3 a 12 unidades de monossacarídeos e os polissacarídeos contêm mais de 12 unidades de mo- nossacarídeos, podendo chegar a centenas de unidades de açucares em sua estrutura. 4.2 - Respiração Celular e Fermentação Respiração Aeróbica O metabolismo oxidativo nas mitocôndrias é alimentado não só pelo piruvato produzido a partir da glicólise de açúcares no citosol, mas também a partir de ácidos graxos. A B Figura 11 31 Figura 12 O piruvato e os ácidos graxos são seletivamente transportados do citosol para a matriz mitocondrial onde são quebrados a grupamentos acetílicos de dois carbonos da acetil coenzima A (acetil CoA); o grupa- mento acetílico é então introduzido no ciclo do ácido cítrico para futura degradação, e o processo termina com a passagem dos elétrons de alta energia derivados do acetil para a cadeia respiratória. Para assegurar um suprimento contínuo de combus- tível para o metabolismo oxidativo, as células animais armazenam ácidos graxos, na forma de gorduras, e glicose, na forma de glicogênio. O glicogênio é um polímero de glicose grande e ramifi cado contido em grânulos no citoplasma; a sua síntese e degradação são altamente reguladas de acordo com a necessidade. Quando tal necessidade aumenta, as células degradam o glicogênio para liberar glicose 1-fosfato, a qual é então submetida à glicólise. As reações de glicólise convertem a molécula de glicose de seis carbonos (e açúcares relacionados) a duas moléculas de piruvato de três carbonos. Figura 13 O piruvato é transportado do citoplasma para a matriz mitocondrial, onde ele encontra um comple- xo multienzimático gigante, o complexo piruvato desidrogenase. Este complexo – que contém múl- tiplas cópias de três enzimas, cinco coenzimas e duas proteínas regulatórias – rapidamente converte o piruvato em acetil CoA, liberando CO2 como produto lateral. O ciclo do ácido cítrico responde por cerca de dois terços da oxidação total dos compostos de carbono da maioria das células, e os seus produtos fi nais são CO2 e elétrons de alta energia, os quais passam via NADH e FADH2, para a cadeia respiratória. O CO2 é liberado pelas células como produto residual desprezível, enquanto os elétrons de alta energia são movidos ao longo da cadeia respiratória e fi nalmente combinados com o O2 para produzir H2O. 32 O ciclo do ácido cítrico se inicia quando a acetil CoA, formada a partir de ácidos graxos ou piruvato, reage com o composto de quatro carbonos oxalacetato para produzir o ácido cítrico de seis carbonos, de onde o nome do ciclo é derivado. A seguir, como resultado de sete reações seqüenciais mediadas por enzimas, dois átomos de carbono são removidos na forma de CO2 e o oxalacetato é regenerado. Cada volta do ciclo produz duas moléculas de CO2 a partir dos dois átomos de carbono que entraram nos ciclos prévios. Porém, o resultado líquido, no que concerne o grupamento ace- tílico da acetil CoA, é CH3COOH (como acetil CoA) + 2H2O + 3NAD + + FAD ligado à proteína → 2CO2 + 3H+ + 3NADH + FADH2 ligado à proteína. Figura 14 A mais importante contribuição do ciclo do ácido cítrico para o metabolismo é a extração de elétrons de alta energia durante a oxidação dos dois átomos de carbono do acetil para o CO2. Estes elétrons, tran- sitoriamente sustentados pelo NADH e pelo FADH2,
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