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Prazo e Conteúdo da Contestação no CPC

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VI do caput”. Por isso, enquanto todos os réus não tiverem ainda sido citados, o prazo de nenhum
deles começa a correr. Se um foi citado antes, poderá aguardar a citação dos demais, para só então
apresentar a sua contestação. Isso explica a razão pela qual se um dos réus estiver citado e houver
posterior desistência da ação em relação aos que ainda não estiverem citados, aquele deverá ser
intimado, para que o prazo de resposta flua. O art. 345, § 2º, não deixa dúvidas: “Quando ocorrer
a hipótese do art. 334, § 4º, inciso II, havendo litisconsórcio passivo, e o autor desistir da ação em
relação ao réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que
homologar a desistência”. Isso para que o réu citado não seja surpreendido, enquanto aguarda a
citação dos demais. Se for realizada audiência de tentativa de conciliação, para a qual todos os réus
terão de ser citados, o prazo para todos começa a partir da audiência. Mas se, tendo havido
manifestação de desinteresse pelo autor na inicial e alguns réus, em litisconsórcio, também
manifestarem desinteresse, o termo inicial do prazo para cada um dos réus será a data da
apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência. Já para aqueles que não
manifestarem desinteresse, o prazo será contado da audiência.
O prazo de resposta será duplicado se o réu for a Fazenda Pública ou o Ministério Público (arts.
183 e 180); se houver no polo passivo litisconsortes com advogados diferentes, de escritórios
distintos, desde que não se trate de processo eletrônico (art. 229) ou se o réu for defendido por
órgão público de assistência judiciária, como a Defensoria Pública ou a Procuradoria do Estado
(art. 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/50 e art. 186 do CPC), será também dobrado.
Dentro do prazo, a resposta deve ser protocolada em Cartório, não bastando que seja despachada
pelo juiz: se o réu despacha no último dia do prazo e só protocola a contestação no dia seguinte,
haverá intempestividade.
■ 3.4. Da contestação
■ 3.4.1. Introdução
É, por excelência, a peça de defesa do réu, por meio da qual ele pode se contrapor ao pedido
inicial. Nela, concentrará todos os argumentos de resistência à pretensão formulada pelo autor,
salvo aqueles que devem ser objeto de incidente próprio.
Entre os quatro institutos fundamentais do processo civil figuram a ação e a exceção, o direito de
formular pretensões em juízo e o de defender-se e resistir às pretensões alheias. Se a petição inicial
é a peça que veicula o direito de ação, a contestação é a que se contrapõe àquela, ao apresentar a
resistência, a defesa do réu.
Ao apresentá-la, ele formula a pretensão de ver o pedido inicial desacolhido, no todo ou em
parte, apresentando os argumentos e fundamentos que servirão para convencer o juiz. Daí que a
pretensão contida na contestação é sempre declaratória negativa, de que o juiz declare que o autor
não tem razão, desacolhendo o pedido.
A contestação não amplia os limites objetivos da lide, aquilo que o juiz terá de decidir no
dispositivo da sentença. Tampouco o que nela contém serve para identificar a ação, pois tanto o
pedido quanto a causa de pedir são definidos e determinados na petição inicial. Somente os
fundamentos de fato e de direito que embasam o pedido inicial constituem a causa de pedir, não os
fundamentos da defesa, o que é de grande relevância para a identificação das ações e terá
importantes consequências em relação aos fenômenos da litispendência e da coisa julgada.
Entretanto, a contestação amplia a cognição do juiz, uma vez que, na sentença, ele terá de
examinar não apenas os fundamentos da pretensão inicial, mas os de defesa.
A regra é de que na contestação o réu não possa formular pedidos contra o autor, exceto o de que
as pretensões dele sejam desacolhidas. Se quiser apresentar pedidos de outra natureza, terá de
valer-se da reconvenção. Mas há ações — denominadas dúplices — em que o réu pode valer-se de
contestação não só para defender-se, mas também para formular pretensões em face do autor, sem
que haja a necessidade da reconvenção.
■ 3.4.2. Conteúdo da contestação
O art. 336 do CPC estabelece que “incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de
defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando
as provas que pretende produzir”.
Esse dispositivo consagra o princípio da eventualidade, em relação ao direito de defesa:
cumpre ao réu, na própria contestação, apresentar todas as razões que possam levar ao
desacolhimento do pedido, ainda que não sejam compatíveis entre si. Pode, por exemplo, apresentar
vários fundamentos de defesa, em ordem sucessiva para, caso o juízo eventualmente não acolha os
primeiros, possa aceitar os últimos. Todas as razões de defesa devem, em suma, estar
concentradas na contestação, uma vez que o réu não terá outra oportunidade de alegá-las. É
preciso, porém, lembrar que as defesas podem ser classificadas em duas categorias: as de ordem
pública, que poderiam ser conhecidas de ofício, e que não precluem, se não alegadas na primeira
oportunidade (objeções); e as que não são de ordem pública, e que precluirão, se não alegadas
(exceções).
O réu deverá apresentar, em sua defesa, tanto umas quanto outras. Mas com a ressalva de que
uma omissão em relação às exceções as tornará preclusas, o que não ocorre com as objeções, que
poderão ser alegadas mais tarde, pois poderiam até mesmo ser conhecidas de ofício. A omissão do
réu em relação às objeções não implica preclusão.
■ 3.4.2.1. Espécies de defesa que poderão ser apresentadas
As defesas podem ser classificadas em três categorias:
■ processuais, cujo acolhimento implique extinção do processo sem resolução de mérito (por
exemplo, a falta de condições da ação ou pressupostos processuais);
■ processuais, que não impliquem extinção do processo, mas a sua dilação (como a
incompetência do juízo ou o impedimento do juiz, que, se acolhidos, determinarão a remessa dos
autos a outro juízo ou juiz);
defesas substanciais ou de mérito.
Antes de apreciar as defesas de mérito, o juiz precisa examinar as processuais, por isso mesmo,
chamadas preliminares.
■ 3.4.2.2. Preliminares
O art. 337, do CPC, enumera as preliminares, questões que devem ser apreciadas pelo juiz antes
do passar ao exame do mérito. São as defesas de cunho processual, que podem ser de duas
espécies: as de acolhimento que implique a extinção do processo; ou as de acolhimento que resulte
apenas em sua dilação.
Como exemplos da primeira espécie, citados no art. 337: a inépcia da petição inicial, a
perempção, a litispendência, a coisa julgada, a convenção de arbitragem e a carência da ação; como
exemplos da segunda: a inexistência ou nulidade de citação (que não implicará a extinção do
processo, mas a necessidade de fazer ou renovar a citação), a incompetência absoluta e a relativa, a
conexão, a incorreção do valor da causa, a incapacidade da parte, o defeito de representação ou a
falta de autorização (que só causarão a extinção do processo se não regularizadas no prazo fixado
pelo juiz) e a indevida concessão do benefício da gratuidade da justiça.
O rol do art. 337 não é taxativo. Há outras defesas processuais que não foram mencionadas,
como a falta do recolhimento de custas e o descumprimento do art. 486, § 2º, do CPC.
As preliminares, à exceção da incompetência relativa e do compromisso arbitral, devem ser
conhecidas pelo juiz de ofício. Por isso, não precluem, ainda que não alegadas na contestação.
Três das matérias enumeradas no art. 337, entre as preliminares que o réu deve alegar em
contestação, eram antes do atual CPC alegáveis por via de incidentes processuais. A incompetência
relativa deveria ser alegada por exceção ritual, o erro na atribuição do valor da causa deveria ser
alegado pelo incidente de impugnação ao valor da causa e o erro na concessão da gratuidade da
justiça também por incidentepróprio. Esses incidentes desapareceram, e agora tais questões devem
ser suscitadas na própria contestação, em preliminar.
Alegada qualquer das preliminares do art. 337 em contestação, o autor será ouvido em réplica,
no prazo de 15 dias.
■ 3.4.2.3. Alegação de incompetência absoluta ou relativa
Caso o réu alegue, como preliminar, a incompetência do juízo, seja ela absoluta, seja relativa,
ele poderá apresentar a contestação no foro de seu próprio domicílio, o que deverá ser
comunicado ao juiz da causa de imediato, se possível por meio eletrônico. Se houver mais de um
juízo no foro de domicílio do réu, a contestação será distribuída para um deles. A distribuição será
por dependência para o juízo ao qual foi distribuída a precatória de citação do réu, se a citação for
feita por precatória. O juízo para onde foi distribuída, livremente ou por dependência, a contestação
do réu, tornar-se-á prevento, se for reconhecida a competência do foro de seu domicílio.
Se o réu alegar a incompetência, absoluta ou relativa do juízo onde corre o processo, a audiência
de tentativa de conciliação será suspensa até que a questão seja definida, após a qual será
designada nova data.
A incompetência absoluta deve ser arguida como preliminar de contestação, mas, como constitui
matéria de ordem pública, eventual equívoco ou demora das partes em alegá-la não implicará
preclusão. Nos termos do art. 64, § 1º, a incompetência absoluta pode ser alegada a qualquer tempo
ou grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício. Já a incompetência relativa tem de ser alegada
como preliminar em contestação, sob pena de preclusão.
Alegadas em contestação, o juiz ouvirá o autor em réplica, no prazo de 15 dias. Se a
incompetência absoluta for alegada em outra oportunidade, o juiz ouvirá a parte contrária. Em
ambos os casos, ele decidirá imediatamente em seguida a questão da competência, determinando a
remessa dos autos ao juízo competente, se acolher a alegação. A incompetência relativa poderá ser
alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar. Como a lei não faz ressalva, entende-se
que ele poderá fazê-lo mesmo quando atue como fiscal da ordem jurídica, caso em que não
apresentará propriamente contestação, mas se manifestará depois das partes. Nesse caso, caberá a
ele alegar a incompetência relativa na primeira oportunidade que tiver para falar nos autos.
Acolhida a alegação de incompetência, as decisões proferidas pelos juízos incompetentes
conservarão sua eficácia até que outra seja proferida pelo juízo competente, se for o caso. Caberá,
assim, ao juízo competente decidir se ratifica a decisão anterior ou se profere outra no lugar.
Enquanto não for proferida outra, a decisão anterior permanece eficaz (art. 64, § 4º, do CPC).
■ 3.4.2.4. A preliminar de ilegitimidade de parte e a substituição do réu
Os arts. 338 e 339 do CPC trazem importante regra, que flexibiliza, em parte, o princípio da
estabilidade da demanda. O art. 329 veda que, depois da citação do réu, haja alteração do pedido
ou da causa de pedir, a menos que haja o consentimento do réu. E, depois do saneamento, nem
mesmo com esse consentimento. Embora o dispositivo mencione apenas o pedido e a causa de
pedir, também não será possível, ressalvadas as hipóteses em que a lei expressamente o admite
modificar as partes, que devem permanecer as mesmas.
O art. 338, porém, permite a substituição do réu, sempre que ele alegar ser parte ilegítima ou
não ser o responsável pelo dano. No CPC de 1973, não havia, de forma genérica, essa
possibilidade. O que existia era uma figura de intervenção de terceiros, denominada nomeação à
autoria, por meio da qual o réu que fosse mero detentor ou que tivesse praticado ato lesivo por
ordem ou em cumprimento de instrução de terceiros, nomeasse a autoria o proprietário ou
possuidor, no primeiro caso, ou o responsável pela ordem, no segundo. Já se criticava a inclusão da
nomeação à autoria entre as espécies de intervenção de terceiro porque, sendo ela deferida, o que
havia era a substituição do réu que era parte ilegítima, pelo verdadeiro legitimado.
A nomeação à autoria foi substituída por um mecanismo mais amplo e eficiente de correção do
polo passivo no CPC atual, previsto nos arts. 338 e 339. A sua amplitude é muito maior do que na
lei antiga, na qual a nomeação só cabia em casos restritos. No atual, o mecanismo do artigo 338
aplica-se sempre que o réu alegar que é parte ilegítima ou que não é o responsável pelo prejuízo
invocado. Nesse caso, o autor será ouvido, podendo requerer, no prazo de 15 dias, o aditamento
da inicial com a substituição do réu originário pelo indicado na contestação, pagando ao
advogado dele honorários advocatícios entre 3% e 5% do valor da causa (art. 338 do CPC). Para
que isso se viabilize, manda a lei que o réu indique o nome do sujeito passivo da relação jurídica
discutida, sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e
prejuízos que causar ao autor pela falta de indicação. Aceita a indicação, o autor procederá à
alteração da inicial para substituir o réu. O novo mecanismo tem amplitude muito maior do que a
nomeação à autoria, pois permite a regularização do polo passivo em qualquer caso de
ilegitimidade, e não apenas nos casos em que a nomeação era cabível, previstos nos arts. 62 e 63 do
CPC de 1973.
■ 3.4.2.4.1. Procedimento
O réu que, ao contestar a ação, arguir a preliminar de ilegitimidade de parte deverá, sempre que
tiver conhecimento, indicar quem é o verdadeiro legitimado, isto é, o sujeito passivo da relação
jurídica discutida. Cabe a ele indicar, nomear aquele que é o verdadeiro responsável, o sujeito
passivo da relação.
Essa pessoa pode ser e é, frequentemente, o empregador do réu ou pessoa que lhe dirige ordens
ou comandos. Como, sem obrigatoriedade, o réu talvez preferisse não fazer a indicação, o art. 339
do CPC estabelece que ele arque com as despesas processuais e indenize o autor pelos
prejuízos decorrentes da falta de indicação. A mesma solução há de ser dada se ele indicar, de
má-fé, pessoa diversa do sujeito passivo da relação jurídica discutida. Não é lícito ao réu deixar de
fazer a indicação, a menos que não tenha conhecimento de quem é o responsável; se não o fizer,
responderá por perdas e danos decorrentes da extinção do processo sem resolução de mérito, já que
o polo passivo não será corrigido.
■ 3.4.2.4.2. A necessidade de aditamento da inicial
A arguição de ilegitimidade de parte com a indicação do verdadeiro legitimado poderá implicar
alteração do polo passivo, com a substituição do réu originário por outro. No entanto, como
compete ao autor decidir em face de quem ele quer demandar, seria impossível deferi-la, sem que
ele consentisse e promovesse o aditamento da inicial.
O juiz, feita a indicação, ouvirá o autor que, se com ela concordar, deverá aditar a inicial no
prazo de 15 dias, substituindo o réu originário equivocadamente demandado pelo verdadeiro
legitimado. O autor, ouvido sobre a contestação, poderá tomar uma de três atitudes possíveis:
aditar a inicial, discordar da indicação ou apenas silenciar.
No primeiro caso, o juiz, acolhendo o aditamento, determinará a exclusão do réu originário, que
será substituído pelo novo réu. Como ele teve de apresentar contestação, o juízo condenará o autor
a pagar honorários advocatícios de 3% a 5% do valor da causa ou, se este for irrisório, em quantia
fixada equitativamente.
Se o autor disser que não concorda, ou simplesmente silenciar, deixando de aditar a inicial, o
processo prosseguirá contra o réu originário, e o juiz, no momento oportuno, terá de apreciar a
alegação de ilegitimidade de parte, extinguindo o processo sem resolução de mérito, se a acolher.
A decisão sobre aditar ou não a inicial é do autor, que nem precisará fundamentá-la . Basta
que, no prazo de 15 dias, não adite a inicial, para que a indicação fique sem efeito, prosseguindo-se
contra o réu originário.Para que ocorra a substituição, não há necessidade de anuência ou concordância do novo réu, que
substituirá o anterior. Se ele entender que não tem a qualidade que lhe foi atribuída pelo réu
originário, deverá alegá-lo em contestação.
O art. 339, § 2º, autoriza o autor a aditar a inicial, no prazo de 15 dias, não para substituir o réu
originário pelo novo, mas para, mantendo o primeiro, incluir o segundo, como litisconsorte passivo.
Essa solução faz sentido se o autor tiver dúvida a respeito de quem é o sujeito passivo da relação
jurídica discutida ou se verificar que ela tem por titulares o réu originário e o indicado.
■ 3.4.2.5. Defesa substancial ou de mérito
Depois de arguir eventuais preliminares, o réu apresentará, na mesma peça, a sua defesa de
fundo, de mérito, que pode ser de dois tipos: direta ou indireta.
A defesa direta é aquela que nega os fatos que o autor descreve na inicial, ou os efeitos que deles
pretende retirar; a indireta é aquela em que o réu, embora não negando os fatos da inicial, apresenta
outros que modifiquem, extingam ou impeçam os efeitos postulados pelo autor.
Por exemplo: em ação de indenização por acidente de trânsito, haverá defesa direta se o réu
negar que houve o acidente, ou que ele ocorreu na forma descrita na petição inicial; haverá defesa
indireta se o réu reconhecer que houve o fato na forma narrada, mas alegar que já pagou, que houve
prescrição da pretensão indenizatória, ou que as partes já transigiram sobre a questão.
A alegação de prescrição e decadência constitui defesa substancial indireta, cujo exame deve
preceder ao das demais defesas substanciais, pois, se acolhida, implicará a extinção do processo
com resolução de mérito, sem necessidade de apreciação das demais alegações. Por isso, há quem
as denomine “preliminares de mérito”.
■ 3.4.2.6. Impugnação específica e genérica
O réu tem o ônus de impugnar especificamente os fatos narrados na petição inicial, sob pena
de presumirem-se verdadeiros. Cada fato constitutivo do direito do autor deve ser impugnado pelo
réu. É o que dispõe o art. 341 do CPC: “incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre
as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas
(...)”.
Todavia, há exceções à regra do ônus da impugnação especificada. O parágrafo único do art.
341, parágrafo único, estabelece que tal ônus não se aplica ao advogado dativo, ao curador
especial e ao defensor público. Estes podem contestar por negativa geral, sem impugnar
especificamente os fatos, tornando-os ainda assim controvertidos, sem presunção de veracidade.
Por exemplo: se o curador especial contesta por negativa geral, por falta de elementos para a
contestação especificada, o réu, conquanto revel, não sofrerá o efeito da revelia consistente na
presunção de veracidade dos fatos alegados na petição inicial.
■ 3.4.2.7. Indicação de provas e documentos
O art. 336 determina que compete ao réu não só alegar todas as matérias de defesa, na
contestação, mas ainda especificar as provas que pretende produzir. Trata-se de ônus equivalente
ao imposto ao autor na petição inicial.
Mas tem havido tolerância quanto ao cumprimento desse requisito, sobretudo porque, se o réu
alega fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito do autor, caberá a este oferecer
réplica, e só então eles se tornarão controvertidos. Seria temerário exigir do réu que, já na
contestação, pudesse precisar todas as provas necessárias para a demonstração daquilo que alegou.
Por isso, entende-se que a falta de protesto por provas não implica a perda de oportunidade
para requerê-las posteriormente.
A contestação, tal como a inicial, deve vir acompanhada dos documentos essenciais que
comprovem as alegações. Trata-se de exigência do art. 434 do CPC que, no entanto, tem sido
interpretado com largueza. O juiz não deixará de receber a contestação, nem mandará desentranhá-
la se já juntada aos autos, apenas porque desacompanhada de documentos comprobatórios. Ela
permanecerá nos autos e os documentos poderão ser juntados posteriormente, desde que deles se dê
ciência à parte contrária (arts. 435 e 437, § 1º, do CPC). Se não juntados, o juiz apenas
considerará não provados os fatos, que por meio deles seriam demonstrados.
■ 3.4.2.8. Defesas que podem ser apresentadas depois da contestação
O princípio da concentração da defesa exige do réu que alegue, na contestação, tudo aquilo que
sirva para resistir à pretensão inicial. A contestação é o contraposto da petição inicial: nesta, o
autor deve formular todos os pedidos e apresentar os respectivos fundamentos; naquela, o réu deve
oferecer todas as defesas que tiver.
Mas o art. 342, do CPC, apresenta algumas alegações que o réu pode apresentar a posteriori.
São as:
■ relativas a direito superveniente: essa hipótese relaciona-se com a do art. 493, que
determina ao juiz que leve em consideração, ao prolatar a sentença, os fatos e o direito
superveniente. Por isso, conquanto o inciso fale apenas em direito superveniente, deve-se
estender a possibilidade de alegação posterior também aos fatos, uma vez que o art. 493 é
expresso;
■ que competir ao juiz conhecer de ofício: as objeções processuais, defesas que digam
respeito a matérias de ordem pública. Em regra, as defesas processuais (entre as quais as
preliminares, mencionadas no art. 337, com exceção da incompetência relativa e do compromisso
arbitral). Não se sujeitam à preclusão, se não alegadas na primeira oportunidade. Mas há também
defesas substanciais, que podem ser conhecidas de ofício, como a prescrição e a decadência;
por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo ou juízo: essa
hipótese coincide, ao menos em parte, com a anterior, pois as matérias que o réu, por autorização
legal, pode apresentar depois são as de ordem pública, não sujeitas à preclusão.
CONTESTAÇÃO
Características Prazo Conteúdo
■ Peça de defesa por excelência,
deve veicular toda a defesa do réu. É
a peça que se contrapõe à petição
inicial, servindo para que o réu
resista à pretensão do autor. Pelo
princípio da eventualidade, todas as
defesas, ainda que não compatíveis
entre si, devem figurar na
contestação.
■ No procedimento comum, a
contestação deve ser apresentada no
prazo de quinze dias. Se o réu for
Ministério Público, Fazenda Pública,
Defensoria Pública ou litisconsortes
com advogados diferentes, de
escritórios distintos, não sendo o
processo digital, o prazo será em
dobro.
■ Deve conter as defesas processuais (preliminares que, em
regra, poderiam ser conhecidas de ofício, exceto a incompetência
relativa e o compromisso arbitral). E também as defesas
substanciais ou de mérito, que se classificam em diretas ou
indiretas. As diretas são aquelas que negam os fatos em que se
baseia o pedido do autor; e as indiretas são aquelas que,
conquanto não negando os fatos, apresentam outros
impeditivos, extintivos ou modificativos do direito do autor.
■ 3.5. Reconvenção
■ 3.5.1. Introdução

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