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Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Olá, seja bem-vindo ao Curso Ênfase. Estamos aqui para oferecer ensino com qualidade e excelência. Lembre que não é permitida a divulgação, reprodução, cópia, distribuição, comercialização, rateio ou compartilhamento, oneroso ou gratuito, de aulas e materiais, ficando a pessoa sujeita às sanções cíveis e penais. Confiamos em você! Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br SUMÁRIO 1. DANO MORAL, DANO EXISTENCIAL E DANO ESTÉTICO ........................................ 3 2. RESTRIÇÃO NORMATIVA .................................................................................... 3 3. CABIMENTO DE INDENIZAÇÃO ........................................................................... 5 4. BENS JURÍDICOS TUTELÁVEIS ............................................................................. 7 5. DANO EXTRAPATRIMONIAL X PESSOA JURÍDICA ................................................. 8 6. RESPONSABILIDADE ........................................................................................... 9 7. CUMULAÇÃO DE INDENIZAÇÕES....................................................................... 10 8. INCOMUNICABILIDADE DE INDENIZAÇÕES ........................................................ 11 9. CRITÉRIOS DE QUANTIFICAÇÃO ........................................................................ 12 Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br 1. DANO MORAL, DANO EXISTENCIAL E DANO ESTÉTICO Neste bloco 10, será abordada a figura do dano extrapatrimonial. Já neste início, chama-se a atenção para a nomenclatura. Veja-se que a CLT passou a prever a figura não de “danos morais”, mas sim, de “danos extrapatrimoniais”. Isto é interessante, pois, como se sabe, muitas vezes, a doutrina faz tal diferenciação, trazendo o dano extrapatrimonial como um gênero, dos quais seriam espécies, por exemplo, o dano moral, o dano existencial e o dano estético. Portanto, já existe esta uma opção mais técnica e mais abrangente no que tange à nomenclatura. Ao invés de se utilizar apenas “dano moral”, como se vê no Código Civil, trouxe a CLT, a figura mais abrangente do dano extrapatrimonial. Com efeito, destaca-se que pode um dano ser divido em dano patrimonial ou extrapatrimonial. O dano patrimonial, que é um dano material, ou seja, dano na matéria - em bens que são aferíveis economicamente, são prejuízos pecuniários, trata-se do dano tradicional. A doutrina, a legislação e a jurisprudência foram evoluindo no sentido de entenderem que nem todo dano ocorre por conta de uma violação a um bem material, aferível economicamente. Existem alguns valores, bens jurídicos e direitos que podem ser violados, mas que não geram uma repercussão financeira imediata. Evidente que gerará uma reparação/indenização, que será em dinheiro - já que o dinheiro é a forma que o Direito tem de quantificar um dano -, mas o dano não advém diretamente de uma questão financeira. Por essa razão é que se tem o dano extrapatrimonial, que abrange, como visto, o dano moral (que ocorre quando há violação aos direitos da personalidade do indivíduo); o dano existencial (dano à existência do indivíduo – prejuízo na sua vida de relações e projetos de vida); e a figura do dano estético, que, atualmente, desmembrou-se do dano moral, sendo, atualmente, reconhecido como dano autônomo (perda da harmonia física/corporal, como no caso de um sujeito que possui uma perna amputada ou uma cicatriz no rosto). 2. RESTRIÇÃO NORMATIVA Primeiro dispositivo da Reforma a tratar dos danos extrapatrimoniais. O art. 233-A da CLT traz uma restrição normativa: TÍTULO II-A DO DANO EXTRAPATRIMONIAL Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho apenas os dispositivos deste Título. Nos estudos dos primeiros blocos da Reforma Trabalhista, foi tratado sobre o “diálogo das fontes” e sobre “constitucionalização do direito privado”. Veja-se, no entanto, que a Reforma Trabalhista trouxe uma restrição normativa, dispondo que se aplicam à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho apenas os dispositivos deste Título. ➢ Que restrição normativa seria esta? O que pretendeu o legislador? Qual foi o alcance deste dispositivo? Não aplicar outros artigos da CLT ou não aplicar artigos do CC, ou até mesmo não aplicar artigos da Constituição Federal? Evidente que isso não é possível. Tal artigo será interpretado da maneira que deve ser interpretado. Haverá uma norma específica abordando o dano extrapatrimonial nas relações de trabalho - sem dúvida alguma há - e, naquilo que os dispositivos forem específicos, eles irão prevalecer, porém, existem conceitos e disciplinas legais, como, por exemplo, a disciplina dos “direitos da personalidade” que estarão previstos no Código Civil. O direito é um sistema uno e indivisível. Então, é importante que se diga aqui que o empregado, quando está na relação de trabalho, não deixa de ser cidadão e indivíduo que possui direitos protegidos. Assim, a mesma proteção constante da Constituição Federal, que foi repetida no Código Civil - que se fundamentou na CF/88 -, valerá a este trabalhador. Sem dúvida alguma, portanto, haverá uma interpretação restritiva deste dispositivo, porque, muitas vezes, será necessário o diálogo das fontes, diálogos estes que estão previstos no art. 8º da CLT: Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste. O art. 8º da CLT prevê expressamente que o direito comum será aplicável ao Direito do Trabalho. Inclusive, a Reforma Trabalhista, até mesmo ampliou a aplicabilidade do direito comum, já que excluiu àquela exigência de compatibilidade com os princípios do direito do trabalho. Direito do Trabalho – Dano ExtrapatrimonialO presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br Portanto, segundo o professor, trata-se de um dispositivo bastante “estranho”, ao dizer que será aplicado “apenas os dispositivos deste título”, quando, em verdade, o direito exige uma interpretação sistemática, que não será alcançada se forem separados totalmente os dispositivos trabalhistas dos dispositivos constitucionais e do direito civil. 3. CABIMENTO DE INDENIZAÇÃO Veja-se o que determina o art. 223-B da CLT: Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação. A partir do momento em que a lei passou a prever uma violação à esfera existencial, tem-se positivado, no Direito do Trabalho, o dano existencial. A depender da hermenêutica que se faça aqui, houve um avanço enorme, porquanto, tem-se, agora, no direito positivo, o reconhecimento do dano existencial expressamente. Dano existencial este que já vinha sendo aplicado pela Justiça do Trabalho, como, por exemplo, naquelas situações em que o trabalhador teve um prejuízo em sua vida de relações1. Enfim, tal dano está, agora, legitimamente no art. 223-B da CLT, que cuida da ofensa à esfera moral e à esfera existencial. Em verdade, este art. 223-B segue na linha do art. 186 do CC/02: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Note-se que este art. 223-B da CLT é mais amplo, trazendo, não apenas, o dano moral, mas também o dano existencial. A ideia de disciplinar o dano extrapatrimonial na CLT, sem dúvida alguma, advém da existência de indenizações muito altas na Justiça do Trabalho. No entanto, pontua o Professor que estas não são tão altas assim, sendo até muito mais baixas que em outros âmbitos do Poder Judiciário. As empresas, porém, sempre lutaram muito contra essas indenizações. Assim, a ideia da Reforma é limitar o valor destas indenizações, evitando-se indenizações excessivas, e ainda, também, trazer as possibilidades de indenização para a pessoa jurídica. 1 Ou seja, trabalhava tanto que não podia ter contato com família e amigos, além de prejuízos ao seu projeto de vida. Se ele quisesse estudar ou fazer um esporte, enfim, ter novos horizontes, não poderia em razão do excesso de trabalho, por conta da ausência de concessão de férias, abuso em horas extras, trabalhos em domingos e feriados. Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br Veja-se que, no artigo, já se deixou bem claro que se trata de dano causado à pessoa física, mas também às pessoas jurídicas. Logo, a ideia aqui é que possa ser responsabilizado não somente o empregador, mas também o empregado quando causar danos extrapatrimoniais ao seu empregador, o que é uma ideia, de certa forma, correta - tanto o empregado pode violar os direitos de personalidade do empregador, como este pode causar este tipo de dano ao empregado. Tem-se, de interessante, o reconhecimento expresso do dano existencial, que foi um aspecto positivo da Reforma. • Cabimento do dano estético: evidente que, ainda, não havendo uma previsão estética do dano estético, este já é consagrado na doutrina e na jurisprudência, portanto, não houve “revogação” pela Reforma Trabalhista. Há uma disposição interessante em “titulares exclusivas do direito à reparação”. A lei determina que as pessoas físicas ou jurídicas ofendidas sejam os titulares exclusivos do direito à reparação. Entretanto, é claro que isto deve ser interpretado de forma sistemática, conforme dito pelo professor no início. • Transmissibilidade do direito: O trabalhador ofendido, que teve os direitos da personalidade violados, é titular do direito à reparação. Naquele momento, o direito é exclusivo do trabalhador, mas isto não obsta que, em caso de falecimento deste titular, não o direito da personalidade em si – pois se sabe que este é intransmissível segundo está previsto no Código Civil -, mas a violação deste direito da personalidade gerará uma indenização. Esta indenização, este aspecto pecuniário, é transmissível, conforme regulado no CC/022. Desta forma, tem-se que o novo dispositivo celetista não obsta a transmissibilidade do direito à reparação. Assim, se o trabalhador falece antes do ajuizamento da ação, ou mesmo venha a óbito já durante o processo, nada impede que a reparação de um dano extrapatrimonial seja pleiteada por um herdeiro deste empregador. Dessa forma, interpreta o Professor. A lei não tem como fazer esta exclusão, até mesmo porque a norma não expõe isso claramente. 2 Nota do monitor: Cf. arts 11 e 12 do CC/02: Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br 4. BENS JURÍDICOS TUTELÁVEIS Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física. A Reforma Trabalhista traz neste art. 223-C da CLT quais são os bens jurídicos tuteláveis e aptos, caso violados, a configurar o dano extrapatrimonial. Determina a lei, a honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física. Quis a lei distinguir quais os direitos são aplicáveis à pessoa física e quais os direitos são aplicáveis à pessoa jurídica. Embora ambas possam sofrer lesões de natureza extrapatrimonial, são estas lesões diferentes, como, por exemplo, a ideia de honra subjetiva, que é uma ideia típica da pessoa natural, uma vez que a pessoa jurídica não possui tal honra. Daí, porque, é importante esta distinção. No entanto, sempre que se estiver vislumbrando estes bens jurídicos passíveis de ensejar o dano extrapatrimonial, deve-se entender que se trata de rol exemplificativo. Isso porque a CF/88 trouxe uma proteção ampla e irrestrita aos direitos da personalidade, não só no art. 5º, X, que trata da inviolabilidade à intimidade, vida privada, honra e imagem, mas também, quando traz a cláusula geral de respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes noPaís a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br Assim, qualquer tipo de violação, ainda que não esteja expressamente elencado como violação aos citados bens jurídicos, pode gerar reparação. Há que se entender, portanto, o rol do art. 223-C como meramente exemplificativo. A lei quis exemplificar, mas outras situações fora do artigo também podem ensejar indenizações. 5. DANO EXTRAPATRIMONIAL X PESSOA JURÍDICA Em relação à pessoa jurídica, a Reforma Trabalhista teve a preocupação de assegurar a pessoa jurídica3 e, quando esta traz a proteção a danos extrapatrimoniais de pessoas jurídicas, torna-se uma norma que visa favorecer as empresas. Em verdade, neste ponto da Reforma, trata-se de uma suposta inovação, pois é positivação de algo que já existe. O Código Civil, em seu art. 52 já faz tal previsão desde 2002: Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Evidente que, “no que couber”, pois nem todos os direitos da personalidade aplicáveis à pessoal natural, serão aplicáveis à pessoa jurídica. Assim, se o dano moral é uma violação aos direitos da personalidade, e a pessoa jurídica também possui proteção aos direitos da personalidade. Conclui-se que, no caso de violação aos direitos da personalidade da pessoa jurídica, como a sua imagem, por exemplo, esta pessoa jurídica terá, também, direito à reparação pelo dano moral. Isso é o que já entende o STJ: Súmula n. 227 do STJ A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Embora não sejam comuns ações envolvendo indenizações em favor da pessoa jurídica, esta súmula já era aplicada, inclusive, no âmbito da Justiça do Trabalho. Já que a Reforma quis trazer expressamente esta proteção do dano moral à pessoa jurídica, trouxe também quais são os bens jurídicos tuteláveis em seu favor. Bens jurídicos estes que, uma vez violados, ensejarão a reparação por dano extrapatrimonial: Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o sigilo da correspondência são bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica. 3 Como se sabe, a pessoa jurídica no Direito do Trabalho não pode ser empregado, de forma que será sempre o empregador, a não ser que haja uma fraude, uma pejotização. Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br Veja-se que trata de bens jurídicos mais específicos da atividade empresarial. No caso do sigilo da correspondência seria a hipótese do empregado que intercepta uma correspondência da empresa, inclusive, eletronicamente. Também, seria o caso de violação o empregado que revela uma questão interna da empresa, como o segredo empresarial, ou ainda, o empregado que suja o nome da empresa, sua imagem ou sua marca. Em todos estes casos, pode vir o empregado a indenizar a empresa. Interessante destacar que a violação ao sigilo de correspondência, nome, imagem, vale para ambos. O empregado não possui marca e nem segredo empresarial, mas o restante ele também possui. Uma empresa não pode, por exemplo, invadir o e-mail pessoal do empregado, o funcional, a depender do caso, até poderia. Embora a lei não preveja expressamente o sigilo de correspondência ao empregado, tem ele a sua privacidade, vida privada e intimidade, de forma que não pode ter uma correspondência sua violada. 6. RESPONSABILIDADE A Reforma Trabalhista pretendeu, ainda, disciplinar a responsabilização de todos aqueles que tenham concorrido para a ocorrência do dano. Diz o art. 223-E da CLT: Art. 223-E. São responsáveis pelo dano extrapatrimonial todos os que tenham colaborado para a ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão. Cada empregado que se consorciou a outro empregado, será responsabilizado no âmbito da sua atuação. Tal disposição é semelhante àquela contida no art. 942 do CC: Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas no art. 932. Todos aqueles que sejam responsáveis pela ocorrência de um dano, seja ele moral ou material, a alguém, serão obrigados a indenizar. Evidente que não se pode utilizar este artigo do CC para se referir a uma situação de bullying, de assédio moral ou de assédio sexual, por exemplo, praticado por um empregado contra um colega de trabalho. ➢ Será que se poderia utilizar o art. 223-C da CLT para responsabilizar apenas e tão somente o empregado, ou seja, o chefe, o gerente o encarregado que pratica o assédio sexual, mas não responsabilizar a empresa? Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br Não. O empregado que pratica um assédio moral ou sexual, pode (e deve), ser responsabilizado pela empresa, que pode dispensá-lo por justa causa, podendo ajuizar uma ação de regresso, caso a empresa seja condenada a pagar uma indenização. Isto tudo é possível. Aliás, não se pode perder de vista o que determina o art. 932, inciso III do CC: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Ou seja, toda vez que um gerente, um preposto, um encarregado, praticar ato ilícito que violem direitos extrapatrimoniais, o empregador será responsabilizado, uma vez que o empregado estará atuando em nome do empregador. 7. CUMULAÇÃO DE INDENIZAÇÕESA Reforma Trabalhista também permite expressamente a cumulação de dano moral com dano material, o que já era consagrado na jurisprudência não apenas do TST, mas também dos demais Tribunais, e também, do STJ. O dano moral e o dano material possuem finalidades e origens distintas. O dano material surge quando há uma violação a um bem, cuja aferição econômica é imediata, como, por exemplo, uma colisão de veículos e um desabamento de uma casa, que causa prejuízos financeiros imediatos. Assim, a finalidade da indenização de um dano material é recompor/ressarcir aquela despesa. No caso do dano moral, é diferente. Nele, o que existe é uma violação a direito da personalidade como a intimidade, a imagem e a honra. O dano moral se presta muita mais a compensar a vítima e, eventualmente, a punir o ofensor a ressarcir. Como diz o ditado “palavras jogadas ao vento não voltam mais”, ou seja, uma vez violada a imagem de um trabalhador, não há como se retornar ao status quo anterior. O que se faz é compensá-lo, mas nunca retornar ao que era antes. Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br O STJ já possui súmulas autorizando a cumulação de dano material com dano moral - o que já era aplicado também pela jurisprudência trabalhista-, e até mesmo a cumulação de indenizações por dano estético e dano moral. Súmula n. 37 do STJ São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. Súmula n. 387 do STJ É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral. A jurisprudência trabalhista já autorizava o pagamento de dano moral, dano material e dano estético, ou seja, três espécies de danos que possuem origens distintas, embora, eventualmente, possam surgir de um mesmo fato, mas, por origens distintas. Desta forma, traz o art. 223-F da CLT a possibilidade expressa de cumular danos extrapatrimoniais - dano existencial, dano moral ou estético - com danos materiais: Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida cumulativamente com a indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato lesivo. §1º - Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão, discriminará os valores das indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza extrapatrimonial. §2º - A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danos emergentes, não interfere na avaliação dos danos extrapatrimoniais. Estes danos extrapatrimoniais podem ser cumulados entre si, e também, cumulados com danos materiais. A Reforma Trabalhista, portanto, trouxe uma forma bem ampliativa que, em verdade, já era aplicada pela jurisprudência no âmbito do Direito do Trabalho, tanto pelos juízes, como Tribunais Regionais do Trabalho e pelo TST. 8. INCOMUNICABILIDADE DE INDENIZAÇÕES A Reforma Trabalhista, também, traz uma questão interessante, que é a incomunicabilidade de indenizações. Destaca-se a possibilidade de cumular o dano material com o dano moral; O dano patrimonial com o dano extrapatrimonial, pois estes possuem origens distintas - ainda que decorram do mesmo fato -, de forma que cumprem finalidades diversas, daí porque um não pode interferir no outro, devendo eles estar corretamente discriminados e separados. Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida cumulativamente com a indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato lesivo. Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br §1º - Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão, discriminará os valores das indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza extrapatrimonial. §2º - A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danos emergentes, não interfere na avaliação dos danos extrapatrimoniais. Esta discriminação, inclusive, os juízes já faziam. O juiz, por exemplo, não pode condenar o réu a pagar 100 mil reais por dano moral e material. Deve, por exemplo, condenar 30 mil a título de dano moral, em razão de tais coisas - elencando os critérios de quantificação, e 50 mil por dano material, comprovados pelas seguintes formas (indicações do dano). Assim, no âmbito da sentença, deve haver a separação/discriminação do dano material e do dano extrapatrimonial. O artigo apresenta também que a composição das perdas e danos, ou seja, das indenizações por dano material, que envolverão, tanto os lucros cessantes - o que deixou de ganhar -, como os danos emergentes - prejuízo imediato -, não interferem na avaliação dos danos extrapatrimoniais. Isso porque, poderia haver a confusão do dano moral com o dano material, imaginando-se que um dano material muito alto deveria gerar um dano material mais baixo, por exemplo. Porém, a lei deixa claro que uma coisa não interfere com a outra. O fato de ter havido um dano material, não interfere na quantificação de um dano moral ou existencial, pois estes são danos diferentes e que cumprem finalidades distintas, nada impedindo que se tenham valores diferentes. Ademais, um não será compensado com o outro. O juiz não pode fazer isso. Esta alteração é positiva ao trabalhador, porquanto deixa bem claro que, se ele tiver múltiplos danos, estes podem ser indenizados de forma diferente. 9. CRITÉRIOS DE QUANTIFICAÇÃO A Reforma Trabalhista trouxe também os critérios para quantificação das indenizações por danos extrapatrimoniais. Tratam-se de critérios muito importantes, uma vez que, hoje, sem dúvida alguma, uma das tarefas mais difíceis e complicadas é a quantificação de indenização por danos morais, dado que não se têm critérios claros e objetivos. Neste ponto, a Reforma foi também positiva, considerando esta ideia de trazer critérios. Se os critérios foram bons ou não, é outra discussão. No entanto, haver critérios de Direito do Trabalho – Dano Extrapatrimonial O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br arbitramento e balizamentos é muito importante. Evita-se, assim, que juízes em casos idênticos arbitrem de forma diferente4. Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará: I - a natureza do bem jurídico tutelado; II - a intensidade do sofrimento ou da humilhação; III - a possibilidade de superação física ou psicológica; IV - os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão; V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa; VI - as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral; VII - o grau de dolo ou culpa; VIII - a ocorrência de retratação espontânea; IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa; X - o perdão, tácito ou expresso; XI - a situação social e econômica das partes envolvidas; XII - o grau de publicidade da ofensa. §1º - Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido; IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido. §2º - Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dos mesmos parâmetros estabelecidos no § 1o deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor. §3º - Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor da indenização. Observação final: O Professor encerra informando que, diante do tempo de aula, deixará para o próximo bloco a finalização do tratamento sobre o dano extrapatrimonial. 4 É claro que não há como tarifar completamente. Isto não é possível. A lei até trouxe um tarifamento, mas não foi por completo.
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