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PROVA 2 de Modelos e Paradigmas- Constitucionalismo abusivo, ativismo judicial e fragilização da democracia

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PROVA 2- DARA ALDENY LIMA ALVEZ
MATRÍCILA: 16/0117372
Honduras é um país marcado pela instabilidade politico-institucional, especialmente a partir do século XX, com diversas interrupções do regime constitucional por governos militares, sendo um grande exemplo de país latino-americano onde a democracia, quando há, está constantemente ameaçada. O ataque de maior dimensão ao regime democrático do país foi, em 2009, a retirada à força do então presidente Manuel Zelaya por meio de um golpe militar; o chefe de Estado em questão pretendia fazer um referendo popular para tentar modificar o artigo 239 da Constituição Federal hondurenha para que se tornasse permitida a reeleição presidencial, não tendo apoio politico foi detido pela força militar, deposto e proibido de voltar a seu país, enquanto em seu lugar assumiu Roberto Micheletti que permaneceria até as próximas eleições. Esse evento reflete o cenário atual brasileiro onde a chefe de Estado eleita democraticamente foi impedida de continuar seu mandato e substituída sem novas eleições; além disso, o ocorrido deixa claro o uso abusivo das disposições constitucionais para romper a ordem democrática e defender os interesses políticos de determinados grupos, grupos econômicos. 
Os efeitos advindos do golpe foram a forte criminalização de movimentos sociais, silenciamento e perseguição de jornalistas, além de que os poderes judiciário, legislativo e executivo ficaram sob o controle de uma mesma autoridade, ameaçando sua efetiva separação. Mesmo as eleições que viriam posteriormente não estariam reestabelecendo a democracia no país, mas consolidando uma nova forma de golpe de Estado onde o Estado de Direito é ameaçado pelo uso da força e uma institucionalidade debilitada. O desenho institucional hondurenho contribuiu para o golpe de 2009, sendo que entre as elites politicas disseminavam no meio ideias anti-Hugo Chávez, lembrando que Zelaya era aliado de Chávez, mantendo um status quo conveniente aos grupos liberais e impedindo que mudanças fossem realizadas.
Assim como no Brasil o motivo utilizado ara justificar o impeachment da presidente (pedaladas fiscais) foi tornado licito logo após a execução do golpe, no ano de 2015 Honduras passou por um processo de abuso constitucional que iria afirmar o golpe de 2009. O então presidente Juan Orlando Hernández encaminhou à Corte Suprema de Justiça de Honduras, um requerimento de inaplicabilidade por inconstitucionalidade do artigo 239, 5 e 330 da CF que dispõe sobre impossibilidade de reeleição, assim como punições para quem incentivar ou tentar modificar ou instituir algo relacionado a reeleição presidencial; o fez alegando que os artigos em questão feriam direitos como liberdade de expressão, devido processo legal, liberddae de consciência, igualdade, direito de eleger e ser eleito e a participação política popular; isto é, o requerimento vinha defender exatamente o que foi usado como pretexto para depor Zelaya.
Isse acontecimento é um exemplo do que Lendau chama de constitucionalismo abusivo pois foi exatamente o uso de mecanismo constitucionais para possibilitar mudanças politicas, como também pode ocorrer por mio da chamada “democracia militante” ou com a doutrina em questão das “normas constitucionais inconstitucionais “. O requerimento foi acatado pela Corte que, na verdade, enquanto poder judiciário deveria proteger a Constituição e garantir a manutenção de seus preceitos, a fim de manter também a ordem democrática. A decisão da corte também declarou que a Constituição se encarrega ela mesma do controle direito da constitucionalidade e convencionalidade das leis, em seu caráter de interprete ultimo e definitivo da Constituição e, nesse caso, poderia solucionar ações contra a constitucionalidade de normas fundamentais que colidissem com outras de igual alcance e conteúdo. A sentença da Corte também usou com argumento o fato de os direitos que o requerente alegou serem ameaçados pelos artigos que se desejava revogar, foram estabelecidos por tratados que entraram em vigor antes da Constituição ser sancionada. Aqui fica evidente um caso de ativismo judicial muito presente no neoconstitucionalismo, onde frequentemente se faz referencia a hierarquia supraconstitucional de tratados de direitos humanos e outros mecanismo, a um conjunto constitucional de direitos e o controle de convencionalidade. Dessa forma, entende-se que a Corte modificou a Constituição afirmando garantir um conjunto de direitos ditos constitucionais, assim é, sua sentença queria expressar que a Corte teria desrespeitado a Constituição para defender a própria Constituição. É contraditória a afirmação da Corte de que estava defendendo a Constituição e, logo, a democracia, pois com um ativismo judicial tão forte a democracia estava claramente sendo fragilizada, uma vez que as decisões estavam sendo tiradas do povo e sendo postas sob total controle dos tribunais.

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