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Crime e costume na sociedade Selvagem. Bronislaw Malinowski. Resenha da parte I.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA GERAL
Resenha: Parte I do livro: “Crime e costume na sociedade selvagem”. – Bronislaw Malinowski.
Docente: Dr. Douglas Araújo
Discente: Arthur Vinícius Alencar Praxedes
	A primeira parte do livro “Crime e costume na sociedade selvagem”, produzido pelo antropólogo Bronislaw Malinowski, é dividida em 13 capítulos que tratam sobre o comportamento e ordenamento da vida selvagem de uma tribo na região da Melanésia. Pioneiro do método da observação-participante, em que o estudioso se insere e participa das eventualidades do grupo estudado, Malinowski é considerado um dos fundadores da antropologia social e do método funcionalista.
No primeiro capítulo da obra (“A submissão automática ao costume e ao problema real”) - o autor faz, de certa forma, uma crítica às concepções de muitos antropólogos sobre a natureza da ordem selvagem. Acreditar que os métodos controladores nessas sociedades seriam oriundo dos “costumes”, do “consentimento” geral dos indivíduos e da “submissão instintiva” não parece convencer Malinowski de que isso serviria para explicar a organização social desses primitivos. Para ele, pensar que todo um ordenamento encontrado nessas tribos seria vinculado por “um mero sentimento” [MALINOWSKI, p. 18] é pensar de maneira incorreta. Desse modo, o autor aborda e estuda sob uma perspectiva mais complexa da origem e dos motivos que mantém essas organizações selvagens. 
No segundo capítulo (“Economia da Melanésia e a teoria do Comunismo primitivo”), Bronislaw começa a desenvolver seu trabalho a partir dos estudos realizados na região da Melanésia. Em um dos arquipélagos daquela área, determinada tribo realizam atividades de pesca, bem como a divisão das tarefas e da economia, muito bem organizadas. Uma verdadeira equipe de trabalho é observada nesses subclãs, com suas devidas funções e recompensas para cada participante. O autor refuta, ainda, o “equivocado pensamento” de alguns autores em considerar essas organizações como “comunistas”. Para Malinowski, há uma distinção e definição clara dos direitos de cada um nesses povos, o que torna incabível atribuir esse conceito a eles. Desse modo, há um sistema de obrigações mútuas entre si, em que o “individualismo” ou “comunismo” não pode ser utilizado para definição. Na verdade, esse sistema que acontece na canoa nativa é o “somatório dos deveres, dos privilégios e das reciprocidades que ligam os condôminos ao objeto e uns aos outros [...] somos apresentados à lei e à ordem definidas e a um sistema bem desenvolvido de obrigações”. [MALINOWSKI, p.23].
No terceiro capítulo (“A força vinculante das obrigações econômicas”), ao continuar falando sobre o trabalho da pesca, o autor percebe que há relações mútuas e comunicações também entre comunidades. Ao fazerem a troca do “peixe” pelos vegetais, percebe-se uma permuta de caráter econômico. Isso envolve todo um papel mútuo de obrigações, em pagar sempre que receber algo. Em suma, conclui-se que há uma relação muito grande de reciprocidade; “[...] há uma dependência artificial e culturalmente criada entre os dois distritos, uma dependência recíproca. Desse modo, em um todo, cada comunidade tem muita necessidade dos seus parceiros.” [MALINOWSKI, p. 25]. Há, portanto, todo um sistema recíproco que envolve todos nessas organizações sociais.
No quarto capítulo da obra (“Reciprocidade e organização dual”), Malinowski continua com o estudo baseado na premissa da reciprocidade. Além de, novamente, acentuar o déficit de teses que adentram a temática da reciprocidade nas tribos selvagens, encontrando apenas um escritor que fala – mais ou menos – sobre isso, o autor comenta que na relação mútua da troca de alimentos entre dois indivíduos de tribos diferentes, há uma parceria que “estabelece um sistema de laços sociológicos de natureza econômica”, onde, segundo ele, a regra desse movimento também seria ditada e sancionada por um princípio recíproco. Tomando como exemplo a pescaria, o dono da canoa “media” as distribuições justas para cada tripulante, sem aceitações de privilégios ou coisa do tipo, uma espécie de controle que também é observado no chefe da comunidade. “A maneira livre e fácil na qual as transações são feitas, as boas maneiras que atravessam todas as coisas e cobrem quaisquer dificuldades [...] tornam difícil para um observador superficial ver o autointeresse aguçado e o cauteloso cálculo que atravessa todas as coisas”. [MALINOWSKI, p. 28].
No capítulo 5 (“Lei, autointeresse e ambição social”), o autor percebe que os habitantes de Trobriand consideram a generosidade como a mais importante e elevada virtude, sendo provedora de uma elevação da personalidade. A exibição da comida como principal fonte de riqueza também está presente. No que se refere às leis e regras, Malinowski critica o modo como é apresentado os dogmas dos selvagens – que foi citado no capítulo 1 -, pois ele impede que se observe a fundo o comportamento dentro dessas organizações, sendo muito mais complexo que “meras proibições”. Nesse ponto, o autor relata que o que é ensinado na antropologia sobre esse assunto não tem, de fato, semelhança com o que realmente acontece. “(...) um estudo da lei puramente criminal entre os selvagens deixa escapar os fenômenos mais importantes da sua vida legal”. [MALINOWSKI, p. 31]. Além disso, o comprimento dessas leis, sem caráter religioso, é visto como algo satisfatório. 
Já no capítulo 6 (As regras da lei nos atos religiosos), embora o autor tenha citado nos capítulos anteriores as relações econômicas, a lei civil baseada na reciprocidade também é claramente encontrada nos rituais dessas tribos. É citado o exemplo do luto em que, para demonstrar sua verdadeira compaixão e tristeza pela morte do marido, a esposa deve transmitir um sentimento verdadeiro de pesar intenso. Isso serviria para proporcionar satisfação direta aos irmãos e aos parentes maternos do morto, que seriam as pessoas realmente enlutadas. Além disso, um tempo após o ocorrido, a viúva recebe um pagamento ritual e substancial por isso. Portanto, até aqui é observado atitudes recíprocas. “(...) para os nativos o luto é somente uma ligação na cadeia da vida de reciprocidades entre o marido e a esposa e entre as respectivas famílias.” [MALINOWSKI, p.35].
Continuando a questão do marido e da mulher, outro importante acontecimento na lei nativa é a lei do casamento, abordado no capítulo 7. O autor comenta que, mais uma vez, a reciprocidade está ativamente vinculada a este acontecimento. Uma vez que uma esposa tem um irmão, este se torna o seu protetor e, principalmente, provedor de suas necessidades. Quando se casa, em uma atitude baseada na relação familiar, ambição e para o reconhecimento social, o irmão da futura esposa supre grande parte de sua alimentação por toda a vida - o que, para nós, pode soar como estranho, uma vez que isso seria “papel do marido”-. Malinowski, ironicamente, relata que esse tipo de ação é tratada como comunista por muitos leigos que não observam, mais a fundo, os acontecimentos tribais. Futuramente, quando os filhos da irmã do “doador” crescer, serão assiduamente prestativos com o seu tio, ajudando-o em todas as suas precisões em uma ação totalmente recíproca.
Nos demais capítulos, de forma geral, Malinowski continua discorrendo que as obrigações vinculantes estão presentes em todos os aspectos da vida tribal. Afirma, adiante, que os exemplos das obrigações econômicas nos atos de pesca, das relações entre comunidades, dos rituais de luto, da lei do casamento e os demais acontecimentos em uma tribo nativa vão além de um dever baseado no instinto ou impulso intuitivo ou “sentimento de grupo misterioso, mas ao trabalho detalhado e elaborado de um sistema, no qual cada ato tem o seu próprio lugar e deve ser realizado sem falha (...) todas essas divisões são caracterizadas por um sistema de serviços e deveres recíprocos, um jogo de dar e receber.” [MALINOWSKI, P.40-43]. 
 O autor faz um comentário assíduo sobre o pensamentoabordado no início da obra. Segundo ele, não é possível definir e/ou distinguir as regras do costume, das leis, da conduta e da moral caso considere-se que elas são envolvidas por uma “obediência automática”. Diante disso – nesse ponto ele fala, mais uma vez, de maneira crítica – caso essa hipótese venha a ser tomada como verdade, “a antropologia tem de desistir de qualquer tentativa de introduzir nos fatos uma ordem e uma classificação, que é a primeira tarefa da ciência” (MALINOWSKI, p. 46.). Em suma, portanto, finalizando essa primeira parte, Bronislaw Malinowski afirma que, mediante todos os estudos realizados por ele, de forma mais específica – saindo da tese “bolo de costumes” – as forças vinculantes da lei civil na Melanésia está, na verdade, baseada nos serviços mútuos de reciprocidade. De caráter ímpar, sem dúvidas essa é uma das obras revolucionárias da antropologia, relatando de maneira concreta e consistente a sociedade selvagem.

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