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Psicologia médica Humanização da medicina e Biomedicina

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AV1 de Psicologia médica (conteúdo) – Texto de BIOMEDICINA
Nosologia: Estudo e classificação de doenças
Epistemologia: Teoria do conhecimento
- Análise dos princípios teóricos e práticos em relação ao conhecimento científico
Racionalidade médica: sistema estruturado de forma teórica e lógica que tem 5 elementos:
Morfologia ou anatomia humanas
Dinâmica vital humana / Fisiologia
Sistema de diagnósticos
Sistema de intervenções terapêuticas
Doutrina médica
Fundamentos de racionalidades são baseadas em uma COSMOLOGIA (Perspectiva de ORDENAÇÃO geral do que existe)
Medicina Ocidental Contemporânea = Biomedicina 
- Está associada a um “imaginário científico” = Racionalidade da mecânica clássica 
\ Racionalidade se consiste em 3 fatores
Geração de discursos com validade universal (generalizante)
Caráter mecanicista (Universo visto como máquina gigante)
Caráter analítico (entender as partes para entender o todo)
- A fim de entender as “leis gerais” do funcionamento da “máquina universal”
# Racionalidade Biomédica 
Medicina originada a partir da ANÁTOMO-CLÍNICA é uma medicina do CORPO, LESÕES e DOENÇAS
Tinha-se, no século XVVIII, a necessidade de se explorar as doenças além de suas sintomatologias
Em 1761, em “De Sedibus”, produz um trabalho importante na comunidade médica, propondo a realização de exames de lesões de forma EMPÍRICA (conhecimento adquirido por meio da experiência, a qual é explorada por meio dos sentidos – ver, ouvir, cheirar, etc.)
\ Adicionou-se, portanto, a ANATOMIA PATOLÓGICA ao arsenal técnico-científico da medicina 
\ As doenças passaram a ser vistas não mais como um fenômeno vital (que é importante, parte do processo de vida), mas como sendo uma EXPRESSÃO DE LESÕES CELULARES. 
\ Desse modo, a Medicina Ocidental acaba se tornando uma “CIÊNCIA DAS DOENÇAS”, ao invés de uma ciência exclusivamente voltada para a “arte de curar”
>> A medicina que se tem desenvolvida a partir daí é uma MEDICINA HOSPITALAR (O hospital permite fazer as observações importantes para se descrever as patologias anatômicas)
\ Os hospitais naquela época ainda não podiam ser considerados uma máquina de tratar, porque os tratamentos eficazes ainda estavam SENDO PRODUZIDOS
\>> Hospital então visto como MÁQUINA DE PESQUISA E ENSINO
Importância da medicina nas cidades acontece a partir da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, onde se teve muita MIGRAÇÃO a partir do CAMPO. 
\ Isso justificava mais ou menos o porquê de a FRANÇA ser o PÓLO DE DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA naquela época.
>> Racionalidade médica então sempre referida às DOENÇAS naquela época. 
\> Doenças vistas como objetos com EXISTÊNCIA PRÓPRIA, só possíveis de serem entendidos a partir do conhecimento sobre o mecanismo das lesões cujas causas poderiam ser MÚLTIPLAS.
- Diagnósticos de doenças eram feitos então a partir da CARACTERIZAÇÃO das lesões
- Saúde era definida como AUSÊNCIA DE DOENÇAS
\>> A racionalidade médica era baseada em uma perspectiva DUAL de NORMALIDADE, que se consistia na OPOSIÇÃO À PATOLOGIA.
Tempos depois, com o desenvolvimento da MICROBIOLOGIA
- Pensava-se que quase todas as doenças eram fruto da atividade de MICROORGANISMOS
\> ATUALMENTE
- Modificou-se aquela PERSPECTIVA da microbiologia, por meio da BIOLOGIA MOLECULAR. Esta sugere que o MAPEAMENTO GENÉTICO torna possível RECONHECER, CURAR quase todas doenças. 
Para os primeiros ANÁTOMO-PATOLOGISTAS, as lesões eram simplesmente TECIDUAIS
- RECUSAVA-SE o uso do MICROSCÓPIO
\> Virchow sugere que a PATOLOGIA é de essencialmente CELULAR
->> Corpo humano visto pela medicina
- Ocorre divisão do corpo em SISTEMAS
\Divisão é parte MORFOLÓGICA, parte FUNCIONAL. Prioriza-se a última,
- O saber médico é caracterizado pela divisão entre “NORMAL/PATOLÓGICO”. 
Ex.: Fisiologia / Fisiopatologia 
Fisiologia, Fisiopatologia e Bioquímica:
- São disciplinas, por exemplo, mais voltadas ao MÉTODO EXPERIMENTAL que apresentam alguns conceitos:
1- Tem-se a ideia de haver um meio interno que é isolado do resto do universo por meio de BARREIRAS EPITELIAIS (pele e mucosas)
- A manutenção das condições internas é chamada de HOMEOSTASE. 
\> Os processos de manutenção são chamados de VIDA VEGETATIVA
\>Processos de interação voluntária com o resto do ambiente: VIDA DE RELAÇÃO
Prática médica pode muitas vezes se dar com FLEXIBILIDADE em relação ao seu “arsenal teórico”, tendo em vista a ideia de que “MULTICAUSALIDADE” pode ser muitas vezes sugerida como um MODELO EXPLICATIVO para determinadas enfermidade
- Embora também existam CAUSALIDADES LINEARES.
- Verifica-se, então uma FLUIDEZ TEÓRICO-CONCEITUAL 
Doutrina médica: Características
- É ÍMPLÍCITA
- Em relação à “FORMALIZAÇÃO”, pode-se encontrar algumas coisas como “não há doenças, e sim doentes”
- Mas, na prática, não existem ideais ÉTICO-NORMATIVOS EXPLÍCITOS que guiem as ações do médico
\> Exceto as LEGISLAÇÕES DEONTOLÓGICAS (parte da medicina que trata das relações do médico com os seus colegas de profissão e com os seus pacientes)
- Todas as ideias fundamentais da medicina (doença, saúde, cura, sentido de ser humano) são igualmente IMPLÍCITAS
->> Encaram a “TOTALIDADE” do homem de acordo com 3 domínios teóricos: BIOLOGIA, PSICOLOGIA e SOCIOLOGIA (BIOPSICOSSOCIAL)
->> Verifica-se também a existência de uma “DOUTRINA DA NÃO-DOUTRINA”, isto é, de um lado, haver uma forma convencional da prática médica enquanto do outro haver representações que mostram em que uma doutrina geral deveria se consistir. 
Importância da EPISTEMOLOGIA
- É muito importante a relação entre as disciplinas: CLÍNICA e EPIDEMIOLOGIA
\> Ambas se consistem na CARACTERIZAÇÃO de uma doença, no estabelecimento de RELAÇÕES entre AGENTES ETIOLÓGICOS e DOENÇAS. 
\>> Desse modo, a EPISTEMOLOGIA também se sujeita à COSMOLOGIA MECANICISTA
Doenças: 
HISTÓRIA NACIONAL DAS DOENÇAS (Segundo Leavell e Clark)
- Definidas como “PROCESSOS COM CAUSAS DEFINIDAS” – mesmo que essas causas sejam múltiplas – em um tempo determinado. 
- LÓGICA da intervenção médica: EVITAR ou RETARDAR a progressão de doenças 
- Não existe no saber médico um conceito GERAL sobre o que é uma doença, mas é possível identificar três aspectos fundamentais para se fazer a conceitualização, que está HIERARQUIZADA de acordo com grau de CIENTIFICIDADE: 
1- EXPLICATIVO
- Caracteriza doenças como sendo um PROCESSO podendo ter uma ou mais CAUSAS
2- MORFOLÓGICO
- DESCRIÇÃO de LESÕES em meio ao diagnóstico de doenças
\Envolve a realização de exames
3-SEMIOLÓGICO – Semiologia (Forma de se examinar uma pessoa enferma para identificar os seus sintomas)
- Doenças são vistas como conjunto de SINAIS e de SINTOMAS
- Esse eixo é relativamente DEPRECIADO em relação aos demais. Ele se consiste na “ARTE DA PRÁTICA MÉDICA”
\> As doenças são definidas de acordo com formações discursivas, que contemplam as DISCIPLINAS (área médica que compreende o estudo da doença), a CATEGORIA (causa/lesão), MÉTODO CARACTERÍSTICO (Experimental/descritivo), PERÍODO HISTÓRICO
\> !! A partir daquelas concepções, a INDIVIDUALIZAÇÃO dos casos clínicos são considerados para se ter uma análise semiológica mais específica. 
\ Isso acontece ao mesmo tempo que se tem uma certa GENERALIZAÇÃO, no sentido de se localizar o caso individual em um INVENTÁRIO de doenças. 
Durante a PRÁTICA médica, o que acontece é a inversão da ordem de importância para 3>2>1. Ou seja, o eixo MENOS VALORIZADO do ponto de vista de LEGITIMAÇÃO SOCIAL
- Observa-se a DISSOCIAÇÃO entre a CIÊNCIA das doenças e a ARTE DE CURAR.
Clínica e Epidemiologia se unem por um ideal comum:
- COLEÇÃO de doenças
# Diagnose médica: é dividida em ANAMNESE e EXAME FÍSICO.
>> Busca CARACTERIZAR doenças, de forma mais MINUCIOSA o possível
>> Se consiste na produção de conhecimentos feitas com base na INDIVIDUALIZAÇÃO de SINGULARIDADES cujos dados foram recolhidos de forma NÃO-SISTEMÁTICA
- ANAMNESE: Coleta da história do paciente, de dados de informação e sociodemográficos (idade, cor, profissão), juntamente coma QUEIXA do paciente com a posterior CRONOLOGIA de acordo com as reclamações e os SINTOMAS. 
>> Ocupa-se essencialmente dos SINTOMAS dos SINAIS
- EXAME FÍSICO: pode ser subdividido em 2 categorias:
>> Ocupa-se essencialmente dos EXAMES FÍSICOS DOS SINAIS
a) Semiologia ARMADA: faz o uso de EXAMES complementares
- É mais complexa, exigindo o emprego de determinadas tecnologias
- Esses exames vêm crescendo aos poucos em importância
\> São uma AMEAÇA à SEMIOLOGIA, já que pode tornar a mesma uma ARTE PERDIDA.
b) Semiologia DESARMADA: Só depende do médico – mesmo com o uso de instrumentos simples. 
Existe também o EXAME PSÍQUICO*
Ao se evidenciar LESÕES, tem-se como base a ideia de “NORMALIDADE” (uma espécie de pano de fundo contra o qual se contrastam CIRCUNSTÂNCIAS) opondo-se constantemente a:
ANOMALIAS: Presença de algo que NÃO DEVERIA estar lá
DISTORÇÕES: Alterações em RESULTADOS de algum exame
SUPRESÕES: Quando um evento DEIXA DE SER observado
VARIAÇÕES QUANTITATIVAS: Observada na SEMIOLOGIA desarmada.
# Sistema de intervenção terapêutica
A RACIONALIDADE médica ocidental apresenta uma DIVERGÊNCIA entre:
- Projeto CIENTÍFICO do estudo das doenças X Projeto ético da TERAPÊUTICA (Ambos nem sempre são CONCILIÁVEIS)
- Apesar de que VÁRIAS técnicas de intervenção DEVEM ser usadas, na PRÁTICA, só MEDICAMENTOS e CIRURGIAS são considerados como TERAPÊUTICA REAL. 
\>> É válido frisar que há a INEXISTÊNCIA da disciplina de TERAPÊUTICA em muitas escolas médicas.
\Isso abre muito ESPAÇO para as PROPAGANDAS das indústrias FARMACÊUTICAS. 
\\\ Outras técnicas de intervenção, como DIETAS, EXERCÍCIOS, etc. não possuem o mesmo “PESO” teórico que a “TERAPÊUTICA MAIS DURA” (a dos remédios) possui
\> Isso porque também se pressupõe que NINGUÉM vai SEGUIR aquelas recomendações. 
Há na BIOMEDICINA, as seguintes TÉCNICAS TERAPÊUTICAS:
MEDICAMENTOSA: Uso de fármacos
CIRÚRGICA: Manipulação direta de partes do corpo
- Essas duas primeiras têm maior valorização entre os médicos por terem CARACTERÍSTICAS exclusivamente médicas.
FÍSICA: Tais como por meio de EXERCÍCIOS, exposição a radiações de vários tipos, massagens (Pode ser recomendada por NUTRICIONISTAS)
DIETÉTICA (Pode ser recomendada por NUTRICIONISTAS)
Objetivo da TERAPÊUTICA:
- Deter o TRANSCURSO da doença o MAIS RÁPIDO possível
->> Classes da TERAPÊUTICA:
1- Sintomática: Promover a REDUÇÃO DE SINTOMAS (Geralmente porque não existem mais outras formas eficazes de se proceder)
2- Paliativa: Busca LIMITAR danos / desconfortos por meio de intervenções CIRÚRGICAS
3-Suportiva: Busca MANTER as condições gerais do paciente (Por exemplo, quando um paciente não consegue se alimentar de forma usual, precisando de aparelhos)
4-Etiológica: Busca RETIRAR causa original da doença (Por exemplo, por meio da administração de antibióticos)
\> Essa relação se apresenta na ORDEM INVERSA de VALORIZAÇÃO dos tipos de terapêutica
|Objetivo final das TERAPÊUTICAS seria sempre o de TIRAR AS CAUSAS DAS DOENÇAS
\> Ela se consiste na MAIOR EXPRESSÃO da ARTE DE CURAR
	 Texto de REHUMANIZAÇÃO DA MEDICINA
Desumanização: DIVÓRCIO entre a medicina e as humanidades
- Ocorreu a partir de fim do século XIX
A princípio, a medicina OCIDENTAL era uma ciência essencialmente HUMANISTA
- Entendia o homem como ser dotado de CORPO e ESPÍRITO
- As doenças não eram consideradas de forma ISOLADA
- O homem era visto como VÍTIMA da enfermidade. Era NELE, junto com todos os fatores BIOPSICOSSOCIAIS que o definem que o médico fixava a sua visão. 
- Causas de doenças eram buscadas não só no CORPO, mas também na ALMA – esse componente que DISTINGUE o homem dos demais seres vivos.
\> Médico então deveria ser um humanista, para médicos como HIPÓCRATES (nascido em aproximadamente 460 a.C.)
- Médico clássico é, a antes de tudo, um FILÓSOFO: conhecedor das leis da NATUREZA e da ALMA humana.
\ Medicina, a partir disso, era vista, não só como uma CIÊNCIA, mas também como ARTE.
Marie-François-Xavier Bichat, um dos mais importantes precursores da NOVA MEDICINA que ia florescer no século XIX, afirmou em seu manifesto “Societé Médical d’Emulation” que:
- “A arte médica devia PAGAR UM TRIBUTO à todas as ciências HUMANAS”. – Tais quais:
I- HISTÓRIA NATURAL
II- FILOSIFOA
III- MORAL 
Mesmo com o desenvolvimento do MÉTODO CIENTÍFICO durante o século XIX, a medicina HUMANÍSTICA continuou a dominar gerações de médicos em TODO O MUNDO. 
\ Nesse período, criou-se a IMAGEM ROMÂNTICA do médico SÁBIO (Conhecia tanto os AVANÇOS CIENTÍFICOS quanto sobre LITERATURA, FILOSOFIA e HISTÓRIA)
\> Aliava o médico romântico os conhecimentos CIENTÍFICOS com os HUMANÍSTICOS, usando a integração dos mesmos na FORMULAÇÃO de diagnósticos e prognósticos. 
- Médico, muito mais que proporcionar a cura, ACOMPANHAVA o enfermo e familiares (ajuda psicológica e moral na PREPARAÇÃO da morte)
\ Também intervia em assuntos diversos, tais qual o do DESPERTAR da sexualidade nos adolescentes, problemas de CASAL, etc. 
Século XIX também marcou a CRISE da medicina humanística
- A partir da segunda metade do século, houve avanços no ramo da MICROBIOLOGIA, que proporcionou muitas transformações no ramo da PATOLOGIA
\Sucedeu-se o desenvolvimento de ANÁLISES LABORATORIAIS e de outros MÉTODOS que ajudaram na FORMULAÇÃO de diagnósticos
\> Teve também o surgimento de novos MEDICAMENTOS, como a PENICILINA, que proporcionou mais EFICÁCIA ao processo de cura de doenças. 
>> A partir daqueles avanços, no início do século XX, tudo indicava que a medicina estava prestes a atingir a sua “IDADE DE OURO”, o seu estado de “CIÊNCIA EXATA”
- Porém, na medida em que o prestígio das CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS (Exatas e Biológicas) cresceu, o das CIÊNCIAS HUMANAS decresceu
- Então, mesmo podendo ser “ENRIQUECEDOR” estudar história no ponto de vista cultural, em termos de UTILIDADE, muitos médicos pensavam haver pouco que poderia ACRESCENTAR à formação do médico, ao contrário do estudo SISTEMÁTICO do comportamento FÍSICO-QUÍMICO de ÓRGÃOS, TECIDOS e CÉLULAS. 
- Nunca a medicina tinha se tornado tão DOGMÁTICA (Considerando que a CHAVE de todo conhecimento médico está nas CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS)
Perspectiva CIENTIFICISTA-EVOLUCIONISTA
- A história poderia servia somente para evidenciar os erros das TEORIAS e PROCEDIMENTOS médicos do PASSADO
Só se pode falar em EVOLUÇÃO do conhecimento BIOMÉDICO quando se busca INTEGRAR os saberes que vão além do FÍSICO-EXPERIMENTAL.

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