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OFICINAS DE CRIATIVIDADE - DESLOCAMENTOS E COM-POSIÇÕES ÂNGELA NOBRE DE ANDRADE QUEM SOMOS NÓS - WHAT THE BLEEP DO WE MNOW' De modo simplificado, poderíamos dizer que o ser humano é, antes de tudo, umjer_4§jly?I?' Pois pauta seu ex ist i rem modelos transcendentes, creditados como naturais e verdadeiros. Trata-se do pensamento metafísico, alicerce dos valores e formações societárias ocidentais, que opera a duplicação da vida através da separação entre um mundo sensível (espaço do erro, ilusão, aparência e inconstância) e um mundo inteligível (espaço do conhecimento das essências^ da objetividade, da verdade e da estabilidade), com supremacia deste sobre o primeiro. Tal deslocamento ótico, fruto de^um desejo dejconhecer, explicar/juMJficaiLaMáa, imprime uma inversão no modo de valorar a existência: à experimentação, norteadora e suporte da avaliação ética, sobrepõem-se as abstrações arbitrárias que, baseando-se num sistema de julgamento externo, estabelecem uma valoração moral norteadora do existir humano. 7. "What the bleep do we (k)now" é o título de um filme produzido em 2004, dirigido por William Amtz, Betsy Chasse e Márc Vicente. Espécie de documentário que, ao discutir as descobertas da Física Quântica e suas' consequências para a existência humana, apresenta pontos relevantes e comuns à discussão que se segue. 54 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA: OFICINAS NA PRÁTICA À crítica que Nietzsche desenvolve ao longo de sua obra sobre o valor da verdade ou, segundo o autbr, ' a : crença na verdade', está diretamente associada ao seu trabalho de genealogia da moral. Nietzsche cria um conceito fundamental, "vontade dê verdade", í partir do qual articula ordem moiral e Ordem epistemológica, ambas calcadas na crença de uma essência (verdade) que se oporia a uma aparência (erro). A crítica da vontade de verdade qi^e atua no conhecimento é o ponto de base para todas as reflexões nietzschianas sobre a ciência (e a moral): a oposição entre o universaUsmo e o perspectivismo do conhecimento, a crítica das noções sujeito e objeto, assim como a necessidade de superar a dicotomia essência-aparência e todas as demaiç consequentes dicotomias presentes no modelo predominante de pensar nossa existência humana. A crença metafísica de que existe um verdadeiro superior a , um falso, de que a verdade tem mais valor que a aparência^ é o postulado tanto das ciências quanto da moral. O que, porém, coage a isso, àquela incondicional vontade de verdade, é a crença no próprio ideal ascético, inesmo que como seu imperativo inconsciente, que ninguém se iluda sobre isso é a crença em um valor'metafísico', em um valor'em si da verdade', tal como somente naquele ideal está garantida e credenciada.; [...] É que o ideal ascético foi até agora 'senhor" sobre toda a filosofia, é que a verdade foi posta como ser, como Deus, como instância mal^alta mesmo... Desde o instante que a crença no Deus do ideal ascético é negada, 'há também um novo problema: o do valor da verdade'. A vontade de verdade precisa de uma crítica; determinemos com isso nossa própria tarefa, o valor da verdade deve alguma vez, experimentalmente, ser 'posto em questão'..." (Nietzsche, 1983, aforismo 24) ' Em outro texto, Nietzsdie desenvolve uma análise da proveniência do "impulso à verdade" e nos mostra a arbitrariedade das designações (presentes nas convenções de linguagem) que passam a ser consideradas como verdades. A linguagem designa apenas as relações das coisas aoç homens e, para essa expressão, utiliza uma série de metáforas das coisas que, de modo algum, correspondem às entidades de origem. CHRIST INA M. B. CuPEKTtNO ( O R G A N I Z A D O R A ) O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo Uso, parecem a um povo sólidas, canónicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram ? gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e N agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas. (Nietzsche, 1983, Aforismo 1) Denuncia, portanto, a/o negação/aprisionamento da imanente expansão da vida por transcendentais de estabilidade, essências. • Verdadeiras e modelos de julgamento. As conseqiiências de tal inversão estão na base do 'sentir-se' humano, coagido a ^im eterrtò sofrimento e/. ^ '.ou falta, uma vez que "existe" um mundo verdadeiro, sçm coritradições, ; incondicionado, naturalmente em equihlario e harmonia. Espinosa, já no século XVII, denunciava essa riegação da vida em sua expansão e potência de agir (sentimento de alegria) em proveito.do ; sofrimento humano como condição inexorável de impotência e falta. l • .OusgL^vâQ-g?'Sger a representação^onsciência) como campo de acesso à verdade, o ser humano descõnhêce~"o que um corpo^põgi*'; a rnnsrjpnría rernlhp apenas ns efeitos sobre o cnrpn falegri^ ejTJstpy.a), ignorando as causas. Lugar dedescQnhp£.itgent»e-ilusaa-a.con.sciêncía í nos leva a ter ideias inadequadas e mutiladas, degendaazuggjse^^ ' Jgarajexplicar/juétificar e f e i t o s . a ^ ^ de "--joampjQSisãQ-fiZca^^ Instaura-se, nesse momento, a Moral; a ilusão dos valores morais se confunde com a ilusão da consciência: basta nãojcompreender para ynnrMf^r^ Por exemplo, quando nãó compreendemos uma lei, esta nos aparece sob a espécie moral de um"Deve-sé" (Espinosa, 2004) . Á Moral é^ pois, um sistema de julgamento externo e, como tal, incondicionado e absoluto, que relaciona sempre a existência a valores transcendentes. A Ética de Espinosa é úma tipologia de modos de existência imanentes qué '•- • desarticula esse sistema (dé Bem e Mal) pela diferença qualitativa de modos de existência humana em seus efeitos de composições e/ou decomposições (bom e mau) (Deleuze, 2002) . O predomínio dos valores morais na produção e sustentação de , um modelo existencial, em que só resta à condição humana o (desejo 56 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA:OFICINAS NA PRÁTICA de) padecimento, pois jamais alcançará a essência perfeita e verdadeira (Deus, Razão Suficiente, Corpos Perfeitos, Alma Gémea, Madre Tereza de Calcutá, Mao, Tom Cruise, Michele Pfeiffer... a lista de idealizações é infinita!), Espinosa credita à Trindade Moralista: o escravo, o tirano e o padre. Seres humanos das paixões tristes, unja vez ignorantes e impotentes. O primeiro combate por sua servidão como se fosse sua salvação' (crença religiosa em uma outra e verdadeira vida); o segundo é aquele que explora essas pabcões tristes, precisa delas para estalielecer seu poder e o terceiro se entristecq^ com as paixões do homem em geral, cumprijido seií destino de minimizar tal sofrimento inerente à condição humana. O que os une é o ódio à vida, o ressentimento. O homem do ressentimento, para o qual qualquer tipo de felicidade é uma ofensa, faz da miséria ou da impotência sua única paixão (Deleuze, 2002) . Nesta descrição de tipos existenciais, não consigo me furtar a pensar que a psicologia, depois da "morte de deus", institui-se para ocupar o lugar do padre! Não se trata de um pensamento fortuito (relação entre psicólogo e padre), uma vez que a psicologia tem sua genealogia nessa inversão e somente toma corpo em funçaõ do predomínio dos valores morais; seu arcabouço teórico visa não somente exphcar/compreender as faltas e sofrimentos humanos, como 'consertá-los' no reencontro com urn suposto equilíbrio natural. Sustenta-se instituindo (e reforçando) tais necessidades de explicação e referências que garantam um controle do eu (consciência) sobre a vida. Entretanto, como tOda instituição, é percorrida por embatese contradições desde seu nascimento, inerentes à própria conformaçãc^ sócio-histórica. De acordo com MuUer-Lauter (2005), ajites da virada do século XIX e nos anos subseqiientes, observa-se uma "crise metafísica'^ com a^ negação de toda pretensa ordem de sentido e de valores. Se, no primeiro momento, essa negação foi vivida como uma libertação da corrente despótica dos valores morais e uma confiança na infinita possibilidade de expansão da humanidade, no segundo momento, após a prirneira guerra, essa alegria afirmativa do pluralismo cede lugar a um niilismo desconfiado das forças criadoras do homem. Niilismo diagnosticado por Nietzsche, em que a felicidade estaria ancorada no dever, na adaptação, na sujeição, no sacrifício do próprio eu. Na seqiiência de sua análise, Muller-Lauter avalia que, dos três pensadores que marcam CHRISTINA M. B. CUPERTINO (ORGANIZADORA) 0 início da modernidade - Nietzsche, Freud e Marx - coube ao primeiro a crítica e a dissolução dos códigos sociais estabelecidos. Entretanto, a essa possibilidade de expansão livre e criativa, "ségue-se, com o apelo , a Marx e Freud, a recodificação mediante os dois sistemas fundamentais do marxisiho e da psicanálise, enquanto ordens qué fixam a vida pública, de um lado, e a vida privada, de outro" (Muller-Lauter, 2005:72) . j ' A psicologia parece ter suas raízes nesse movimento de forças j a n t ^ n i c a s . De um lado, temos os "indivíduos" sofrendo com a perda ' das referências tradicionais e buscando na psicologia um suporte para estas vivências disruptoras; um suporte para a instituição de novos modos de existência. De outro, sistemas de verdade reguladores recodifícando os fluxos expansivos da vida, demandando à psicologia teorias ' estruturalistas e funcionalistas, voltadas para oS ideais de adaptação e equilíbrio. Ou seja, regras comportamentais que não permitissem sobras •-J0U restos - daí a importância do diagnóstico psicplógico para justificar cientificamente os inaptos ao modelo - a fim de não ameaçarem o projeto da modernidade, quál seja, a supremacia da racionalidade técnico-científica. Diversos (muitas vezes antagónicos) são os objetos "de estudo abordados e teorizados pela psicologia, xefletindo a própria ambivalência do projeto moderno de construção social, que pretende um indivíduo racional, estável e asséptico, mas ao mesmo tempo se depara com um ser humano pleno de paixões e impulsos não capturáveis pelo campo representacional.^ ^ ^ As vertentes psicológicas sustentadas pela mçtafi'sica negani a processualidadè imanente ávida e, em nome de verdades estabelecidas como universais, trabalham com categorias modelares apriorísticas e objetivantes (advindas dos valores morais de Bem e Mal) que, facilmente, são transpostas para definir saúde/doença, normal/patológico e toda a gama de classificações arbitrárias. Separando e desvalorizando o universo sensível da experimentação, negam a alteridãde imanente aos encontros e os estranhamentos daí advindos são avaliados como desequilíbrios dòs sujeitos. Estas concepções, além de considerarem os conflitos como des-ordem, como uma des-harmonia de uma suposta 8. Análises cuidadosas sobre a emergência da psicologia e os embates presentes em sua instituição histórico-social podem ser encontradas em Figueiredo, L. C. 1991, 1993 e 1994. • ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIAOFICINAS NA PRÁTICA : estabilidade natural, tendem a situar no indivíduo o foco do problema, ^ "descons ide rando as dimensões históricas, pohticas e sociais presentes \ ^ e m qualquer configuração. É importante enfatizar que os conceitos de alteridãde e subjetividade aqui utilizados referem-se a um modo de pensamento em que o mundo é concebido em permanente transformação; a imanência da vida está na produção de diferença - processos de diferenciação - e não na estabihdade. Ou seja, não existe uma ordem à qual se fará contrapor um caos, mas transformações sucessivas em velocidade infinita com a qual as formas surgem para desaparecer em seguida, dando lugar a outras formas, outras conexões (Deleuze, 1992). Um processocontínuo de engéndramento. A subjetividade não áe restringe ao aspecto identitário do eu (não devendo ser confundida coiti o conceito de sujeito) e, num outro plano, está constantemente esboçando novas composições. Estas geram em nós estados inéditos, inteiramente estranhos em relação àquUo de que é feita a consistência subjetiva de nossa atual figura. Podemos dizer que a cada vez que isso acontece é uma violência vivida por nosso corpo em sua forma atual, pois nos desestabiliza e nos coloca a exigência de criarmos um novo corpo - em nossa existência, em nossamodo de sentir, de pensar, ^ de agir etc. --que venha encarnar esse estado inédito que se fez em nós, esta diferença que fica reverberando a espera de um corpo que a traga pata o visível. E a cada vez que respondemos à exigência imposta pòr um desses estados - ou seja, a cada vez que encarnamos uma diferença - nos tomamos outros. Assim, a alteridãde e seus efeitos, embora invisíveis, são reais: nossa natureza é essencialmente produção de diferença e a diferença é génese de devir-outro. Se considerarmos que a processualidadè é.este devir-outro - ou seja, a corporificação, no visível, das diferenças que vão se engendrando no invisível - ganha maior consistência a ideia de que a processualidadè é intrínseca à(s) , ordem(ns) que nos constitui(em). (Rolnik, 1994:161) Um modelo de pensamento diferente desse, entretanto, é ainda predominante na formação académica do psicólogo e apresènta-se particularmente danoso em países como o Brasil, em que a maioria da CHRISTINA M. B. CUPERTINO.(ORGANIZADORA) 59 população é alijada de seus direitos dé cidadania e de participação na distribuição de renda do país. A ausência de debates nos congressos brasileiros, ao longo de anos de sua história, das dimensões éticas, estéticas e políticas das práticas psicológicas, é bastante reveladora do predomínio dessa racionalidade técnico-instrumental em nossas academias. Somente recentemente, há unS cinco ou seis anos, o Conselho . Federal de Psicologia (CFP) "conclamou" seus pares a debaterem sobre Direitos Humanos nos congressos nacionais. Tal constatação é surpreendente se pensarmos que o psicólogo é um profissional do encontro (bem definido por Figueiredo) e, como tal, deveria estar em constante interrogação sobre os embates, afetações, valoras e sensações presentes nos diversos encontros - no entre - assim como aquilo que foi produzido a partir de. O alunado, herdeiro dos valores morais predominantes na sociedade (assim como todos nós), .experimenta constantes deslocamentos e estranhamentos ao longo de .sua formação, principalmente ao passar pela experiência de estágio, momento do encontro, em qile as tebriás, transmitidas de forma mais •••"ou menos dogmáticas, j amais "darão conta" daquele vivido. A intensidade dessa experimentação de estranhamento/desmanche, advindo da alterid9.de, está diretamente relacionada, não somente à abertura/despojamento pessoal paira tal, mas também à presença ou ausência de espaços múltiplos de experimentação ao longa da formaçãp/ que dêem suporte a tais vivências (Cupertino, 2001) . POR UMA PSICOLOGIA DO DESMASCARAMENTO Em muitas passagens de sua obra, Nietzsche se autodenomina psicólogo e se remete a uma "psicologia do desmascaramento". Esta deveria dedicar-se à crítica e denúncia dos valores morais que adoece— ou apequenam a vida humana. Necessitamos de uma,crítica dos valores morais, e antes de tudo deve discutir-se o valor destes valores, ç por isso é de toda necessidade conhecer as condições e circunstâncias em que nasceram, em que se desenvolveram e deformaram... As críticas ao predomínio da razão técnico-científicavêm sendo elaboradas há algumas décadas, principalmente, em outras áreas de produção de conhecimento. "Denúncias radicais" aos danos causados pela crença metaft'sica na existência humana já estavam presentes em 60 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA: OFICI.NAS NA PRÁTICA filósofos como Espinosa (séc. XVII) e, mais recentemente, Nietzsche (séc. X K ) . Considerados, entretanto, loucos e/ou malditos, suas reflexões pe rmanece ram à margem das diversas áreas de produção de conhecimento. Essas críticas foram retomadas, com diferentes olhares e problematizações, por filósofos como Heidegger, Arendt, Lévinas, Foucault, Deleuze, Morin, entre tantos outros. Pode-se dizer, porém, que a adesão maior, na contemporaneidade, à crítica dos pressupostos metafísicos foi provocada pela própria ciência através de autores como Prigogine (na química), Maturana e Varela (na biologia) e pelas descobertas da física quântica. Estas foram geradoras de importantes debates não somente na filosofia, mas em múltiplas áreas de conhecimento (Karl Popper, Cornélius Castoriadis e Boaventura Sousa Santos são alguns exemplos, além dos citados acima). , A inclusão da incerteza e do acaso nas ciências advém, paradoxalíhente, das chamadas "ciências exatas". É interessante observar que, exatamente no momento que as ciências hunianas objetivam se instituir nos moldes das ciências naturais (fim do séc. XIX) , a física/ química inicia um processo de questionamento a seus métodos e modelo de pensamento. Depara-se com a instabilidade, com perturbações subjacentes às estruturas organizadas. Deixa-se de pensar a oposição entre ordem e desordem (esta última concebida como um erro ou caso^ part icular ) e passa-se a trabalhar com os conceitos de Caos e Complexidade que contemplam uma relação perpianente, não excludente, entreordeine^lesordem.jí^^^ a ~õr3ècrí7TéstãBnídãdi7ên^^ em todos os níveis de observação, o papel primordial da§Jlutuaçõès e da instabilidade" l (Prigogine, 1996^122. -^ "Estê^uestionãmento aos referenciais transcendentes vem ocorrendo não somente nos debates científicos, mas também no campo das artes e, principalmente, na vida cotidiana das pessoas, nos modos existenciais contemporâneos. Não se trata de uma "coincidêjicia" a ocorrência, quase simultânea, de transformações nos modos de produção científica, artística e senso comum, tuna vez que não são "instâncias separadas", mas intrinsecamente interligadas, acontecem na tessitura concreta das existências e conformações societárias. Estas transformações e rupturas nos modos existenciais contemporâneos têm sido avaliadas pelos analistas de duas formas antagónicas; alguns CHRISTINA M.B. CUPERTINO (ORGANIZADORA) 61 consideram que a perda dos referenciais externos bem definidos e incorporados, modelos norteadores do existir/sentir humano, tem gerado sofrimento e desamparo nas pessoas; esta "crise da metafísica" é considerada, para estes, corno altamente prejudicial ao ser humano e às relações societárias. Outros, ao contrário, apontam para maior fluidez e abertura nos modos existenciais, permitindo a experimentação de novas e diferentes sensibilidades, até então não contempladas, o que possibilita aos seres humanos nortearem-se por referenciais próprios (e não, externos) daquilo que lhes compõe mais ou menos; haveria, nesse caso, uma sobreposição do agir sobre o padecer, conforme analisado por Espinosa, Nietzsche, entre outros. Tal debate é bastante instigante, porérp não é objetivo do presente texto, sendo apenas pontuado aqui. Pocjem-se tomar rapidamente, como exemplo ilustrativo desse modo de pensamento comum a uma dada conformação.sócio-histórica (ou moda moral, conforme designado por Nietzsche) as tr^sfprmações , ocorridas no campo cinematográfico nestes cem anos de siia existência. Os filmes produzidos até a década 60 do séc. XX, salvo algumas exceções, apresentavam um enredo linearmente definido - histórias com prindpio, meio e fim claramente reconhecidos pelo espectador - e personagens com características sohdamente apresentadas: mocinho ou bandido, herói ou vilão, casta ou prostituta, entre tantas outras dicotomias. Tais referenciais bem dertiarcados correspondiam aos valores morais rígidos que norteavam os modelos existenciais da época, em que a_"identidade ou p e r s o n a l i d a d g ^ cada um era uma unidade estável e estruturada, bem conhecida e e j ^ i c ada pela própria psicologia. Para toda (ou quase toda) a sociedade, os referenciais morais de Bem e Mal eram tidos como, naturais, dentro de uma concepção de natureza estável e harmónica, não havendo lugar para o (instigante) inesperado das ambivalências/contradições. Entretanto, como estas sempre estiveram presentes na vida humana, e não poderiam ser simplesmente ignoradas, eram reservadas aos personagens "desarrazoados".. Obviamente, associados aos valores idealizados de personalidade (bondade, coragem, solidariedade, inteligência, etc.) eram acrescidos os modelos de beleza física: o mocinho era sempre um ator considerado bonito e charmoso e o vilão apresentava traços fi'sicos esteticániente desvalorizados. A partir dos anos 60, iniciam-se movimentos contestatórios em diversos segmentos das sociedades, incluindo o cairipo do cinema. No Brasil, temos como referência Gláuber Rocha e o então chamado Cinema 62 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIAOFICINAS NA PRÁTICA Novo. Ora, ao observar a maior parte da produção cinematográfica contemporânea, percebe - se c l a r amen t e a r ad i c a l i d ade das transformações ocorridas. A importância da linearidade tempo/espaço desaparece para dar lugar a outras percepções e afetações, em que prepondera o instante ou o tempo intensivo; Os personagens transbordam em ambivalências e referenciais múltiplos, muitas vezes contraditórios, em que os limites rigorosos dos valores morais de Bem e Mal aparecem bem desvanecidos. E a atual sociedade, como Outrora, continua adorando, sensibilizando-se e, por que não, identifícando-se com esses personagens mais fluidos, híbridos e nómades. A "necessidade" de compreender/explicar objetívamente o eiuredo de um filme (como a própria vida) parece e S t ^ s e deslocando para uma maior abertura àà afetações, nem sempre capturáveis pelo campo da representação. Para o presente e rápido exemplo, não é necessário introduzir diretores "complexos" e/ou "controversos" como David Linch, que faz palestras para explicar seus filmes ao público.-Já que o teor desta reflexão remete-se às valorações morais, se pode tomar conío exemplo uni filme em que todos os personagens são híbridos, quando não "a-morais", quanto aos valores ainda pregnantes na maioria das sociedades ocidentais. Tratasse do( filtte "A Excêntrica Família de Antónia", produzido há alguns anos, tão bem acolhido pelos brasileiros. Produzido em 1995 por Hans De Weers, sob a direção de Marleen Gorris e cenário localizado na Bélgica, Inglaterra e Alemanha, foi definido como uma celebração da vida e da morte, mas vai além ao contar a Mstória de uma encantadora geração de mulheres. Comandada por Antónia, a saga familiar atravessa três_gerações, falando de força, de beleza e de escolhas que desafiam o tempo. Passear com Antónia por suas paisagens modificadas a qualquer moniento péla força da imaginação e conhecer seus curiosos personagens - o filósofo pessimista, a netinha superdotada, a filha lésbica, a avó louca, o padre herege, a amiga que adora procriar, a vizinha que sofre abusos sexuais e os muitos amigos que são acolhidos por sua generosidade - vai nos fazer lembrar do quanto ainda se pode fazer pelo mundo^ pela vida e por tudo que ekiste em nós e precisa ser modificado, simplesmente celebrando a felicidade. Cada personagem do filme encariia, de diferentes formas, modos devida até então rejeitados pela Moral (e seus pré-conceitos) supostamente predominante na sociedade brasileira. Entretanto, todos CHRISTINA M. B. CUPERTINO (ORGANIZADORA) 63 " amaram" O filme, consideraram um filme lindo e sensível! Esse exemplo, e tantos outros da vida cotidiana, aponta para mudanças significativas, engendradas e/ou em engendramento, nos modos de experimentar e valorar a existência presentes na população brasileira. Já há alguns anos, temos importantes trabalhos e pensadores críticos, alguns voltados para discutir a própria alienação da psicologia, que não conseguem, entretanto, atravessar as trincheiras metafísicas da academia e romper com o predomínio do pensamento modelar^ A - maioria dos debates académicos na psicologia, conhecidos tanto pelos discursos/práticas presentes na formação, quanto' pelas publicações científicas ou aquilo que é. avaliado como "científico" pelas revistas indexadas e seus pareceristas* parece a inda desconsiderar tais transformações, assim como o arcabouço de críticas à metafísica que ^alicerça as teorias e sistemas psicológicos. Vários autores têm apontado para o despreparo dos profissionais de psicologia na eíetivação dé uma praxis em que a dimensão ético/afetivo/política esteja presente, provocando e acompanhando transformações efetivas vividas pela população brasileira (Campos, 1992; Novo, 1998; Sav^raia, 1998, Andrade è Araújo, 2003). Tais avaliações criticam, exatamente, a herança epistemológica que sustenta e oriçnta a postura e a intervenção do psicólogo. Essa discussão sobre a impropriedade da formação do psicólogo ' para atuar junto à comunidade brasileira não é recente, nem marginal. Autores como Martins (1989), Chauí (1990), Patto (1991), Andrade , (2001), entre outros, vêm mostirando como "a crise de interpretação é nossa" (Valia, 1996:177), ap produzirmos a separação sistemática entre a racionalidade científicp-instrumental e os modos existenciais singulares e cotidianos. Ou seja, herdamos academicamente a ideia de que o profissional é que detém o conhecimento científico (a teoria) e o saber popular é menor (pois que "limitado" à experiência) ou incapaz de produzir mudanças; Falo de postura, referinc^o-riie à nossa dificuldade em ateitar que as pessoas "humildeis, pobres, moradoras da periferia" são capazes de produzir conhecimento. São capazes de organizar e , sistematizar pensamentos sobre a sociedade e, dessa forma, fazer uma interpretação que contribui para a avaliação que nós fazemos da mesma sociedade. (Valia, 1996:178)., ] 64 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRÁTICA Esta crítica é também desenvolvida por Martins (1989), que enfatiza a importância dos diversos saberes e compreende a cultura popular como conhecimento acumulado, sistematizado e interpretativo, ou seja, uma teoria imediata, elaborada^a partir de experiências concretas e cotidianas. Trata-se da típica postura académica em que o profissional se dispõe a trocar saberes com os demais, mas não permite a construção de um saber comum, um- conhecimento geradoí coletivamente no encontro. Algo que não é da ordem'do já constituído,^ mas da criação, que exige a desconstrução das configurações estáveis e cristalizadas para a produção conjunta.de outroj sentidos. E a grande dificuldade está, exatamente, em se despojar de um saber, constituído que, aparentemente, dá uma sensação de poder e tontrole sobre si eisobre o outro. Este nos parece ser o grande desafio na formação do psicólogo: que se consiga transmutar esses valores académicos (transcendentes e abstratos) na afirmação da multiplicidade imanente ao encontro, para que a produção coletiva ganhe corpo; afirmação da dimensão ético/ estético/política que fundamenta e direciona nossas açõçs. Filiar em produção coletiva implica, necessariamente, na abertura para o desconhecido, para algo que surge no encontro, algo que, não comporta o a priori Trata-se de uma invenção permanente geradora de um outro modo de conhecimento que emerge no entre é extrapola o saber/fazer que cada um detém em sua singularidade e formação (Andrade, 2003; Cupertino, 2001). ' Este outro modo de pensataento sempre esteve presente na história, porém, de forma marg ina l . Um^modo que procura ava l i a r o conhecimento a partir da vida, em toda sua Complexidade, sem eliminar o aleatório gerador de criação e transformação. Estes pensadores inquietos se debruçam exatamente na prodiação da diferença e n^o na repetição do mesmo. Neste debruçar, desenvolvem uma crítica radical ao nosso pensamento dorríinante que empobrece e simplifica o universo, reproduzindo práticas cotidianas seletivas e excludentes. Práticas presentes não somente em nossas vidas privadas, mas também na formação académica, pesquisas, métodos e construções teóricas. É a este debruçar crítico que Nietzsche nos convida quando cria a genealogia. CHRISTINA M.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 65 A DIMENSÃO ÉTICO/ESTÉTICO/POLÍTICA DA AVALIAÇÃO GENEALÓGICA Uma teoria psicológica não existe no abstrato. E la é construída a partir de determinados valores, de uma determinada concepção de mundo, de ser humano; valores também implicados nas escolhas metodológicas e na produção de conhecimento daí advinda. Estas produções se efetuam numa prática concreta, constituinte de subjetividades, de modos de estar no mundo. E , assim como as demais práticas sociais, o exercício da psicologia atualiza diversas fofças operando ao mesmo tempo, em constante dominação de umas sobre as outras, conforme o universo em quése desenvolvem. Encontramos, assim, uma produção de saber dominante, pautada no pensamento herdado, que tende a uma reprodução social da exclusão, na medida em que reproduz os valores morais normalizantes. í^alelamente, encontramos, ainda que marginais, saberes/práticas que criticam e denunciam ésfes valores dominantes, objetivando sua transmutação em uín outro modo de pensamento fundamentado na produção da diferença, na criação e instituição de outros modos de estar no mundo. A genealogia considera todo saber como peça de um dispositivo político articulado a uni contexto social-histórico. As produções da psicologia não são avaliadas a partir de um sujeito do conhecimento (o, psicólogo ou a teoria), mas das relações de forças presentes nessas produções e a direção que estas impr imem na constituição de subjetividades contemporâneas. Queria ver como estes problemas de constituição podiam.ser resolvidos no interior de uma trama histórica, em vez de remetê-los a um sujeito constituinte. É preciso se livrar do sujeito constituinte, livrar- se do próprio sujeito, isto é, chegar a uma análise que possa dar conta da-constituição do sujeito na trama histórica. É isto que eu chamaria de genealogia, isto é, uma forma histórica que dê conta» da constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, e tc , sem ter que se referir a um sujeito, seja perseguindo sua identidade vazia ao longo da história. (Foucault, 1985 :07 ) . Não se trata de buscar a origem histórica de uma problemática ou de Uma configuração, pois uma pesquisa da origem pressupõe que haja uma essência exata a ser encontrada ah, num suposto início; ou encontrar a verdade da coisa, como algo estático que se deu em 66 • ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOIOGIAOFICINAS NA PRÁTICA determinado momento. Essa busca captura o embate de forças em um referencial fixo inicial. Trata-se, antes, de encontrar a proveniência, a proliferação dos acontecimentos, através dos quais determinada configuração^ se constitui em constante movimento. Um conjunto de acidentes, de acontecimentos que, em sua atualização já trazem o devir- outro, pois a pesquisa da proveniência não funda, muito pelo contrário, ela agita o que se percebia imóvel,ela fragmenta o que se pensava unido. Conceber a vida como embate é, pois, cohcebê-la como uma relação de forças sempre em busca de domijiar e sobrepujar umas às Outras. Esse jogo de forças, entretanto, não obedece a um determinado fim ou a uma mecânica, mas se dá ao acaso da lyta. Q fundamental da genealogia é avaliar que cofqunto de forças produz certo tipo de valor e qual direção este valor imprime à vida (esta sendo concebida como movimento de expansão e não de adaptação). Uma direçãa ativa significa criar condições para que as forças expansivas afirmem o devir. Como, para Nietzsche^ nossos valores ocidentais doniinantes diminuem ávida, na medida em que há um predomínio de valores escravos (forças feativas), a genealogia age, sempre, no sentido de uma transmutação, de uma trans-valorização. . Nesta perspectiva, a genealogia imphca diretamente a postura existencial do pesquisador. Óu seja, ao desenvolver uma análise genealógica, o pesquisador, avaliando e apontando o sentido imprimido pelas forças presentes em uma determinada configuração, se implica nesta ação e seus efeitos visam, necessariamente, -a instituição de um outro sentido. Assim, uma avaliação genealógica traz consigo, é inseparável de uma dimensão política aítica da moral dominante que, atravessando os diversos saíjeres, nega a vida como^rodução permanente e exclui a diferença valorizando-á cpmo desvio, anormalidade. Nesse sentido, a genealogia não é uma metodologia, não comporta uma técnica^ a ser aplicada nas diversas situações. Trata-se antes, de uma postura, de um modo de estar no mundo que se presentifica em toda a ação do pesquisado^ em suas experiências, olhares e feias cotidianos (Andrade, 1999). Perante qualquer saber ou produção, a pergunta é: qual o sentido que está sendo produzido? Trata-se de uma reprodução dos valores dominantes ou, ao contrário, trata-se uma abertura para a construção de outros sentidos, de outros modos de estar no mundo? Avaliação dos diversos movimentos presentes em determinada prática, sua emergência CHRISTINA M.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 67 e em qual direção estão remetendo a vida: para sua expansão, potência de agir e intensificação (o que implica uma ética de afirmação da ^ alteridãde e do perspectivismo como fundamentos da vida) ou, ao ' contrário, para adaptação, conservação e constrição. Assim, a pesquisa genealógica não tem um instrumento construído . a priori que propiciará um conhecimento mais óu menos objetivo da problemática. A própria problemática será colocada em questão! Ou seja, a ação do psicólogo'se traduz num processo permanente de avaliação coletiva dos valores presentes nos diversos encontros. As -concepções, subjacentes à própria "pÉoblemátíca" levantada pelos 1 profissionais e população, serão avaliadas conjuntamente. Qual a ' (emergência de tal concepção? Quais valores a instituem e sustentam? A postura do psicólogo será sempre de estar provocando, desconfiando, num movimento contínuo de reflexão e análise, das diversas verdades ali apresentadas. Portanto, ele está impUcado durante todo o processo e, nesta implicação, ele também é avaliado, questionado e "chacoàlhado" '«'em suas verdades. As cristalizações não estão no indivíduo, mas na produção social, naquilo que é produzido nos diversos encontros. Tal processo de desmanche não se reduz ao conhecimento racional, ou seja, não é suficiente "falar" das cristalizações ou ter consciência delas para que algp se transforme. A,reflexão e a crítica são importantes, mas a transmutação implica também num processo de "afetação", que não é da ordem do racional, mas da ação, da abertura para oiltras sensibilidades que advéni dos múltiplos encontros cotidianos. Encontros estes que não se reduzem, também, a dois indivíduos, mas aos acontecimentos diários, como assistir a um filme, ler um livro, escutar música, entre tantos outros. A genealogia não concebe, assim, a problemática em questão como algo a ser conhecido/compreendido para, num segundo momento, ser corrigido ou transformado. E l a desconfia da própria problértiática. E seu o lhar estará voltado, principalmente, para o inesperado, para aquilo que está ah sendo negado, mas insiste em se produzir. O aleatório que surpreende e, quando afirmado, processualiza a criação de outros modos de estar. É uma ação ético/estético/política comprometida com a criação de ouOròs modos de existência cotidiana. De onde emergem aquelas falas, posturas, angústias, crenças, olhares? Não estão situados dentro dos indivíduos, mas nos valores morais dominantes, em determinado contexto, sustentando os modos de pensar, de sentir, de ser afetado e de afetár. 68 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIAOFICINAS NA PRÁTICA Quando se traz à tona tais questões, quando se desconfia e , provoca, Q psicólogo não está sendo neutro ou sem objetivos. Ao contrário, ele tein sim uma meta, instituir um outro sentido àquele embate de forças que está sendo aprisionante e excludente. Entretanto, não é o psicólogo que vai consertar o outro, fazê-lo enxergar de outra forma, mas a produção de sentidos que vai sendo instituída por todos, nos diversos encontros. Como esta produção não é exclusivamente da ordemda racionalidade e da objetividade, o psicólogo não sabe, jamais, o que ali vai, ser processualizado; ele não conta com aquilo que se repete (o mesmo), mas com aquilo que pode quebrar esta repetição para que algo seja criado. Trata-se de uma construção coletiva permanente, em que todos estão implicados. Não se pesquisa somente para conhecer, mas também para transformar. A transformação é inerente à investigação genealógica e ao conhecimento daí resultante. RECURSOS EXPRESSIVOS COMO POSSIBILIDADE DE ATUALIZAÇÃO DO VIRTUAL A oficina é o lugar para exercitar um abandono consenitido do que é sistemático, e nissp talvez esteja o último resíduo que permite que ainda a chamemos de Oficina de Criatividade, entendendo aqui o criativo quase que do ponto de vista amplo do senso comum, como o que se opõe ao sistemático. (Cupertino, 2001:200). O presente trabalho qbjetivou não somente apontar para o embate de forças presente na formação do psicólogo, mas por trazer exemplos de práticas que, efetivamente, subvertem o modelo hegeiiiônico. Não se trata, pois, de análise de discursos sobre as próprias concepções/práticas psicológicas - contemporaneamente todos adotam o d iscurso politicamente correto de respeito às diferenças (porém, identitárias) - mas de compartilhar esses fazeres e trazer para debate aqueles que, de fato e ainda que marginais, subvertem o modelo e funcionam na produção e afirmação da expansão imanente à vida. Dentre estas práticas, pude compartilhar o projeto coordenado pela Prof^. Dr^. Chr is t ina Cupertino, real izado com a lunos da Universidade Paulista (UNIP), através de Oficinas de Criatividade. O 'CÍHMSTINA M.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 69 projeto visa contribuir para uma formação profissional inserida sócio- ,Ciilturalmente, geradora de reflexões críticas sobre a constituição sócio- tóstórica do sujeito contemporâneo valorado, ainda predominantemente em«eus aspectos universais de estabilidade e conservação do mesmo7 É importante entendermos com clareza o que se compreende, j iesta proposta, por "reflexões críticas" e como desenvolvê-las, pois aqui keside todo o diferencial/potencial dessa prática em relação às demais. A preocupação primeira é que tais reflexões ocorram a partir da íj^erimentação própria e singtilar a cada aluno (e/ou pessoas envolvidas .'fla atividade) e não referenciada a algo externo,^já constituído e 'apresentado em sua unicidade e objetividade, algo distaiite/fora sobre o qual nos debruçamos para reflètir sobre. Ao contrário, estamos aqui no campo da Ética espinosiana, em,que a reflexãb é intrínseca à , experimentação, sentir e pensar torna-se a mesma coisa; o referencial é p próprio corpo afetado nos encontros e suas diversas composições e/ .-ou decomposições geradoras de potência de agir (sempre acompanhada do sentimento de alegria) ou padecer (tristeza). A concepção mora l norteadora da vida, base das teorias -psicológicas que se dedicam a refletir sobre a criatividade, é subvertida pela própria experiência dos alunos ao vivenciaremas oficinas. Não se trata de ensinar aos alunos técnicas novas a serem aplicadas no trabalho com a população ou ensinar como/azer oficina de criatividade; mais uma proposta alternativa no ofício profissional. Antes, a proposta é de uma "anti-receita", uma vez que visa a experiência singular do fazer/ sentir que, sendo única, impl ica èm um movimento de criação permanente; criação de si e, como consequência imediata, dp enprno ou de outrotmodos de existir/viver uma vida. Experirrientação no campo intensivo, das intensidades que deslocaní o instituído (extensão/forma) na produção de outras configurações. Para que tal processo ocorra, é necessário um espaço de afirmação/acolhimento a tais deslocamentos ou, dito de outra forma, uma postura afirmativa dessa expansão como imanente à vida e não como algo assustador que deva ser negado e capturado pelo julgamento moral que des-potencializae paralisa a ação. Esta sustentação advém, pois, da postura da própria Christina junto ao grupo de alunos e sua forma de concretizar as oficinas. Estas acontecem em diferentes atividades, propostas pela professora, que exigem a livre expressão. 70 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIAOFICINAS NA PRÁTICA através de recursos expressivos para sua execução. As atividades podem acontecer tanto na sala de aula quanto fora (alguma tarefa a ser feita em outros espaços e depois trazida para compartilhamento grupai na sala). O importante é que estas experiencias.de livre expressão sejam compartilhadas no grupo, momento/espaço èm qi^e viVenciam pessoal e coletivamente a inesgotável possibilidade anárquica e plural dp criar/ fazer humano. Estas vivências, acompanhadas de reflexões sobre a própria criação, geram uma des-construção (não so^mente teórico- filosófica, mas fundamentalmente vivenciaZ) do rriodelo herdado, incorporando, como imanente àvida^ as experiências singulares prpprias do existir/fazer humano. ^ Esta experimentação de outras sensibilidades é acompanhada, quase sempre, de angústia e incertezas, uma vez que rpiijpem com o modelo moral que sustenta nosso modo de pensar/sentir. Entretanto, quando compartilhadas e sustentadas coletivamente, pas$arn a ser com- sêntidase, acolhidas em §ua propriedade. Ou seja, as afetações inicialmente ameaçadoras na experiência da alteridãde (estranhamento e deslocamento da suposta essencialidade do eu), passam a ser incorporadas como próprias e singulares,'e vividas com a alegria e suavidade que advém do aumento da potência de agir. Nesse sentido, as oficinas de criatividade abreni um espaço inexistente na formação, qual seja a inseparabilidade do mundo racional è mundo sensível que, como vimos acima, é a base para o exercício da liberdade e eticidade cotidianas e às inevitáveis rupturas advindas desse modo plural de viver uma vida. Esta experimentação própria do alunado é fundamental para que este possa sustentar esse; lugar (múltiplo' e nómade) em suas práticas profissionais, afirmando espaços de com- sentimentos em seus diversos encontros/entomos não somente de trabalho, pois que incorporado como um modo Ético'de cr iar/ , experimentar uma vida. ^ A especificidade da Oficina de Criatividade, como parte da formação, está no uso de recursos expressivos de natureza artística como deflagradores de experiências particulares, v iv idas pelos participantes como facilitadoras da expansão dos horizontes pessoais e da circulação através de pontos de vista múltiplos, seja sobre os conhecimentos específicos de cada área, seja sobre sentimentos, valores e crenças (Cupertino, 2003). HWSTiNA M.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 71 As práticas de atenção psicológica propostas pelas oficihas ntam-se, pois, na lógica da experimentação, uma vez que visam à ipUcáção político-social do profissional na transformação das relações ;tárias e, como tal, nos modos de pensar/estar na vida, através da .-vocação de outras sensibilidades, subversivas à razão técnico- itífica predominante. Propõem como suporte a essa subversão, a iperação da dimensão ético-estétíca deixada.de ladobu negada por té racional idade dominante, uma vez que; contrariamente à lilidade pressuposta, descortina a expansão criativa como imanente pdia. Trata-se aqui, de uma transmutação dos valores predominantes í$e questionar, através da própria experiência, o Valor desses valores, qtte servem? O que têm posto para funcionar na; conforinação iétária contemporânea? O projeto coordenado pela Christina não se reduz às Oficinas l ^zadas em sala de aula, mas estende-se às práticas de estágio com população. As, atividades desenvolvidas nestas práticas não são ieessariamente as mesmas vividas em sala de aula, pois, como dito, se trata de técnicas objetivas a serem aprendidas, mas de espaços (.Criação que, como tais, jamais podem ser repetidos/reproduzidos, acontecem sempre singulares a cada grupo/configutação. A lógica defuma afirmação dessas singularidades já vivida pelos alunos em de aula. Assim, os projetos a serem desenvolvidos são elaborados a de uma discussão prévia coletiva (profissioriais e população) sobre íiiíteressès particulares de cada grupo, de cada contexto. Duraiite o período que acompanhei/compartilhei essas práticas, ivia quatro grupos de trabalho, conformando turmas sob supervisão professora, com diversps projetos sendo desenvolvidos junto à ação. Cada grupo subdivide-se na proposta e elaboração de um ijeto específico a ser desenvolvido durante o estágio. Acompanhei ífíúm desses grupos e seus projetos (excetuando o último, todos í' 'desenvolvidos na periferia de São Paulo), listados a seguir: - Oficina desenvolvida por duas alunas com mulheres/mães, n a Instituição "Lar Fabiano de Cristo" (ONG), e oficina desenvolvida . por tuna aluna com crianças, filhos das mães acima referidas, no mesmo horário e instituição. , - Oficina desenvolvida por três alunos com adolescentes, na Instituição "Projeto Eduardo Marlière - Crescente" (ONG). 1^ 72 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA: OFICINAS NA PRÁTICA - Oficina denominada "Cine mudança - Cenas de uma transformação", desenvolvida por três alunas, com adolescentes, na Instituição "Projeto Eduardo Marlière - Crescente" (ONG). , - Oficina desenvolvida por uma aluna com crianças superdotadas, em um projeto já existente, denominado 'Arte e Ciência", criado pela Professora Christina, em parceria coni o Colégio Objetivo, localizado em São Paulo. Estes trabalhos são relatados e discutidos ém supervisão grupai semanal, espaço de compartilhamento das afetações vividas pelos alunos nos diversos encontros. A expressão "afetação" é utilizada no presente para destacar a qualidade/dimensão das questões abordadas e refletidas nesse espaço: não se trata de um relato das atividades focado nas produções/reações da população envolv ida ( t radic ionalmente denominada "cliente" ou "chentela") com o objetivo,de explicar seus problemas e avaliar a eficácia da intervenção (em suas categorias de certo X errado), situando no aluno o saber/fazer competente ou inexperiente. Trata-se de uma reflexão sobre o encontro como um acontecimento coletivç, produtor de múltiplos sentidos para todos os envolvidos. Não se pergunta o quê estes significam e/ou porque (dificilmente nomeáveis/explicáveis objetivaménte), interpretando-os ouos aprisionando em relações de causalidade, antes, pergunta-se pelos seus efeitos, como funcionou.' O que foi coloéadò em funcionamento, coletivamente (alunos e população) naquele encontro? Em que momentos os sentidos produzidos funcionararti como desmanche dos cristalizados (pré-conceitos), acionando outras sensibilidades e promovendo expansão de vida (afirmação das singularidades) ou, ao contrário, em que momentos foram capturados çm sentidos já dados e adaptados aos valores normativos dominantes? Tais reflexões, fundamentais ao avaharmos o 9. A expressão/undonar é utilizada neste contexto de forma bem diferente daquela compreendida pelas teorias psicológicas funcionalistas e adaptativas, em que ser humano e sociedade são concebidos como sistemas ou organizações estáveis e ' harmónicas. A função do psicólogo seria explicar e consertar as disfunções ào sistema. No presente, "colocar em funcionamento" 'é coiicebido de forma oposta, qual seja colocar em movimento, deslocar ou desmanchar os modelos pre- estabelecidos pela Moral vigente. Expressão utilizada por Gilles Deleuze para situar a imanência da vida na produção de diferença e não na estabilidade. ;f ' CHRISTINA M. B. CUPERTINO (ORGANIZADORA) 73 que estamos produzindo cotidianamente em nOssos encontros, não se restringem à razão instrumental, tão cara às práticas psicológicas, mas envolvem uma afirmação ao intensivo (produção de diferença) imanente ..' • à extensão/forma apresentada, porém, não passível de representação. Ao realizarem em grupo atividades de cunho artístico (plástico, .cénico, corporal) os membros do grupo entram'em contato com a J.',, Suspensão da fala racional sistematizada, vivenciando uma experiência de natureza estética, entendida aqui copio um mergulho na falta de sentido imediato e na construção gradativa de dignificados múltiplos ^ ..'para as experiências vividas. Essa experiência gera o espaço parado aparecimento e revisão de situações vividas e dé atitudes tomadas no l ccrtidiano,e a possibilidade de transformá-las (Cupertino, 2003) . Èisse modo de,pensar/fazer psicologia apresenta-se como uma ruptura necessária e fundamentai no tocante à formação do profissional ', e sua atuação em instituições públicas, em que a dimensão político- ^ social é intrínseca, ou deveria ser, ao ofício do psicólogo no seu ^ compromisso com a transformação societária. Ressalto a necessidade de uma radical inversão, pois não se trata simplesmente de fazeres ou •- práticas alternativas, mas de uma ruptura com a base de sustentação • das diversas psicologias, qual seja a metafi'siça. Algumas análises tendem a avaliar a diversidade (e novas modalidades) de práticas como se ' estas estivessem, efetivamente, rompendo com nossa herança modelar r (CFR1994 ) ^ Entretanto, uma observação mais cuidadosa revela tratar- ' se de técnicas e/ou métodos diferentes, mas ainda sustentados pelos J1 mesmos valores (Andrade, 2 001 ) . "Não basta enunc iar nossa • \, mas é preciso que penetremos em seus desdobramentos" (Lupo, 1995:14). Voltamos, com Lupo, à pergunta fundamental: o quê , estamos produzindo? O que estamos colocando em funcionamento ' através de nossas práticas? EsSa denúncia do predomínio de valores morais na formação do psicólogo e de suas práticas adaptativas/normativas não é recente, mas parece ainda marginal à academia. (Baptistaj 1987; Aquino, 1990; Cupertino, 1995). Entretanto, esse movimento de resistência e insistência, esse acreditar na possibilidade do predomínio da Ética, está presente em recentes trabalhos e propostas de diversos autores. O crescente uso de recursos expressivos na instituição de outras sensibilidades, não restritivas à*supremacia da lógica racional (e Moral), foi alvo de uma pesquisa desenvolvida por Cupertino, através do 74 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRÁTICA levantamento e análise de trabalhos académicos como teses ou dissertações, nas principais universidades da cidade de São Paulo. De acordo com a autora, todos os .trabalhos analisados têm subjacente a retomada de uma ideia aparentemente óbvia e bastante antiga, que é a do benefício da associação entre a aprendizagem formalmente estruturada, hegemónica nos sistemas educacionais, e a aprendizagem pela experiência, cuja maior abrangência eles defendem eni suas produções. A introdução dos recursos artísticos, nesse caso, não apenas facilitaria a experiência, como daria a ela.e a todo o processo educativo uma outra configuração (Cupertino, 2003). É Interessante observar o reconhecimento da importância da experimentação no processo de formação, no processo de cqnhecer e aprender, fundamento do modo existencial ético, conforme avaliado por Espinosa. Retomando o filósofo, é o experimentar do encontro que possibihta ao ser vivo conhecer/ser afetado por aquilo que o compõe (ou não) em sua potência singular e agir a partir dessa referência'própria e não simplesmente padecer a partir de álgo externo e arbitrário. Este último - construto humano abstrato e transcendente - não nos dá nada a conhecer, mas nos remete ao mesmo, à repetição. A potência de agir (imanente aos seres vivos) é aumentada pelas afetações dos bons encontros que não acontecem na repetição do mesmo, mas na alegria da criação. Esta exige uma errância, um deslocar-se dos pré-coiiceitos, um com- sentir que acontece "também pelo desvio e pela divergência, pela navegação em processos que escapam às formulações de qualquer hnguagem que vise apenas representar fielrtiente o que está presente e visível" (Cupertino, 2003). , O compartilhar as oficinas e esta análise desenvolvida por Christina têm funcionado, paia mim, coino bons encontros... Rajadas de ar fresco no ni i l i smo re inante! Traz à vis ibi l idade aqueles interlocutores anónimos com os quais temos nossa potência de agir aumentada! ' Em todos os casos, a exposição ao desconhecido.e a coragem de navegar por áreas híbridas nos leva para além do estabelecido (como linguagem, como produção de conhecimento, como forma de ensinar ou de atender clientes), desvelando formas de pensamento e expressão cuja compreensão, ainda em estado embrionário, abre caminhos para as transformações futuras (Cupertino, 2003) . Como dizia nosso saudoso Deleuze, "um pouCo de ar, senão sufoco"! CHRISTINA M. B. CUPERTINO (ORGANIZADORA) 7S REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS i ANDRADE, A. N. Avaliação Genealógica. In: MENANDRO, R; TRINDADE, Z. e BORLOTI, E. (orgs.) Pesquisa em Psicologia: Recriando Métodos. Vitória: Capes, 1999. Formação em Psicologia Hierarquia versus Antropofagia. Revista Psicologia e Sociedade. São Paulo: ABRAPSO, 2001, v. 13, n. 1, p. 29-45. A Psicologia Nietzscheana no Confronto cçm a Metafísica. In: Barros e Machado (orgs). Texturas da Psicologia: subjetividade e política no contemporâneo. 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