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TCC TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS FOLHA DE APROVAÇÃO

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Instituto Paulista de Estudos Bioéticos e Jurídicos – IPEBJ 
Criminologia 
 
 
 
 
 
 
 
Gabrielle Muñoz Mendes 
 
 
 
 
 
 
 
TRÁFICO DE PESSOAS: MERCADORIA HUMANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ribeirão Preto 
2018 
 
 
 
Gabrielle Muñoz Mendes 
 
 
 
 
 
 
 
TRÁFICO DE PESSOAS: MERCADORIA HUMANA 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Instituto Paulista de 
Estudos Bioéticos e Jurídicos – IPEBJ, como requisito 
parcial para obtenção de título de Especialidade em 
Criminologia. 
 
Orientador: Mestre Victor Fernandes De Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ribeirão Preto 
 2018 
 
 
 
 
 
Gabrielle Muñoz Mendes 
 
 
 
 
TRÁFICO DE PESSOAS: MERCADORIA HUMANA 
 
 
 
Monografia apresentada ao Instituto Paulista de 
Estudos Bioéticos e Jurídicos – IPEBJ, como requisito 
parcial para obtenção de título de Especialidade em 
Criminologia. 
 
 
 
 
Aprovado em____ de ________ de ______. 
 
- Profª Esp. Mônica Santiago Oliveira Amaral Carvalho – IPEBJ 
 
- Profª Dra. Emanuele Seicenti de Brito – IPEBJ 
 
- Profº Me. Victor Fernandes de Souza – IPEBJ 
 Orientador 
 
 
 
 
Ribeirão Preto 
2018 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Primeiramente gostaria de agradecer ao meu querido orientador, Mestre Victor 
Fernandes, que com sua paciência, dedicação, comprometimento, sabedoria e, 
sobretudo o seu carinho para comigo, me ajudou não só na realização deste 
trabalho, mas me mostrou o caminho para uma evolução pessoal. Mestres, o meu 
muito obrigada ao Sr., pelos conselhos e por todos os momentos de atenção á mim 
dedicados. Aproveito a oportunidade para também deixar o meu muitíssimo obrigada 
aos meus pais, por me proporcionarem a oportunidade de seguir estudando e 
buscando conhecimento. Quero agradecer-lhes por serem tão gentis e amorosos, 
por serem pais dedicados e companheiros, por me ensinarem tudo o que eu sei hoje 
sobre a vida, sobre amor, sobre sonhos, conquistas, perseverança e força. Obrigada 
por tudo! Dedico também estes agradecimentos a pessoas especiais, que me deram 
colo e apoio nos momentos em que eu mais precisei ao longo desta jornada, sem 
vocês, este trabalho provavelmente não seria concluído. Obrigada por me aceitarem 
na época do estresse absurdo, por me ouvirem e não me deixarem desistir, por isso, 
obrigada Cynthia e Rodolfo. Á minha família e amigos próximos, obrigada pelo 
incentivo e apoio, em especial ao meu irmão Lucas, minha tia Roseli e meu tio 
Elísio. Aos meus colegas de turma que foram definitivamente o ponto alto deste 
curso, presentes que ganhei em minha vida. Obrigada Edicléia, Diógines, Lucieli, 
Michele, Mônica, Rosa e Tamires. Obrigada por terem lutado comigo até aqui! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A mais premente necessidade do ser 
humano é a de ser humano.” Clarice 
Lispector. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como objetivo trazer atenção para essa terrível realidade 
que o tráfico internacional de pessoas para fins sexuais, um fenômeno que vem 
ganhando cada vez mais força no cenário mundial. O crime de tráfico internacional 
de pessoas para fins sexuais é considerado hoje o terceiro delito mais rentável do 
mundo para as organizações criminosas, ficando atrás apenas do tráfico de 
entorpecente e do de armas. Este delito está diretamente ligado à prostituição e a 
indústria sexual. Milhares de pessoas, em sua maioria mulheres, ao redor do mundo 
são enganadas por falsas promessas de trabalhos e condições de vida melhores em 
outros países e acabam caindo nas mãos desses traficantes. Que quando chegarem 
ao seu destino final com estas vítimas, vão trancafiá-las, estupra-las, e explora-las 
sexualmente, como se fossem uma mercadoria, na maioria das vezes, elas são 
forçadas ao exercício da prostituição até a exaustão. Mesmo se tratando de um 
crime ligado com à prostituição não se pode confundir essas duas modalidades de 
comércio sexual, uma vez que são totalmente distintas em suas próprias 
características. Sendo a prostituição voluntária uma opção de escolha da pessoa em 
comercializar o próprio corpo para o sexo. E o tráfico para fins de exploração sexual, 
a forma de escravidão moderna mais cruel existente. 
 
Palavras chave: Tráfico de pessoa, exploração sexual, prostituição, legalização, 
dignidade humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work aims to bring attention to this terrible reality that international 
trafficking for sexual purposes, a phenomenon that is gaining more strength on the 
world stage. The crime of international trafficking for sexual purposes is now the third 
most profitable crime in the world for organized crime, behind only the trafficking of 
narcotics and weapons. This crime is directly linked to prostitution and the sex 
industry. Thousands of people, mostly women, around the world are deceived by 
false promises of jobs and better living conditions in other countries and end up 
falling into the hands of these traffickers. That when they reach their final destination 
with these victims, ranging struck through them, rape them and exploit them sexually, 
as if they were a commodity, in most cases, they are forced into prostitution to 
exhaustion. Even when dealing with a crime linked to prostitution should not confuse 
these two forms of sex trade, since they are totally different in their characteristics. 
Being voluntary prostitution a choice of the person selling one's body for sex. In 
addition, trafficking for sexual exploitation, the existing form of modern slavery more 
cruel. 
Keywords: Trafficking in person, sexual exploitation, prostitution, legalization, 
human dignity. 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
OIT – Organização internacional do Trabalho 
UNDOC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 14 
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 15 
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 16 
4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ................................................................................. 16 
4.1.1 Escravidão e tráfico de escravos negros .......................................................... 16 
4.1.2 Do tráfico de escravas Brancas ........................................................................ 18 
4.2 TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS PARA FINS SEXUAIS ................. 20 
4.2.1 T Definição e Conceito. ................................................................................... 20 
4.2.2 Características ................................................................................................. 23 
4.2.3 Sujeito passivo ................................................................................................. 24 
4.2.3.1 Exploração Sexual......................................................................................... 27 
4;2.3.2 Turismo Sexual ............................................................................................. 28 
4.2.4 Sujeito Ativo .....................................................................................................29 
4.2.4.1 Organização Criminosa ................................................................................. 31 
5 MEIOS DE COMBATE ........................................................................................... 32 
5.1 Protocolos, tratados e convenções ..................................................................... 32 
5.1.1 Aspectos Históricos .......................................................................................... 32 
5.1.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos ................................................... 34 
5.1.3 Convenção de Palermo .................................................................................... 35 
5.1.4 Pacto de São José da Costa Risca .................................................................. 36 
5.1.5 Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas ............................... 37 
6. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 39 
 
 
6.1 Do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e da comercialização de 
Migrantes ilegais ....................................................................................................... 39 
6.2 Do tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual e da 
prostituição voluntária .............................................................................................. .42 
7. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 47 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Segundo a OIT (2009), é considerado tipo de tráfico de pessoas para 
exploração sexual, a prática de tráfico na qual ocorra relação de mercantilização, 
abuso e exploração do corpo de outrem com objetivo de obter dele serviços sexuais 
rentáveis. No caso de pessoas adultas, a prática da prostituição é considerada 
exploração comercial do sexo, será tratada como prostituição forçada quando forem 
encontradas características que remetam ao trabalho forçado sendo elas: 
cerceamento de liberdade; servidão por dívida; retenção de documentos, ameaças 
entre outros. 
Segundo ainda a OIT (2009) 
“O tráfico de pessoas acontece em grande parte dos países do mundo, 
dentro de um mesmo país, entre países fronteiriços e até entre diferentes 
continentes. Historicamente, o tráfico internacional acontecia a partir do 
Hemisfério Norte em direção ao Sul, de países mais ricos para os menos 
desenvolvidos. Atualmente no entanto, acontece em todas as direções: do 
Sul para o Norte, do Norte para o Sul, do Leste para o Oeste e do Oeste 
para o Leste. Com o processo cada vez mais acelerado da Globalização, 
um mesmo país pode ser o ponto de partida, de chegada ou servir de 
ligação entre outras nações no tráfico de pessoas. 
Por mais que nos custe acreditar, a prática do tráfico de pessoas para fins 
de exploração, apesar de causar perplexidade na maioria das pessoas, ainda sim é 
uma situação real. O comércio de seres humanos visando a exploração sexual, de 
trabalho forçado, adoção ilegal ou remoção de órgãos é uma triste e fática situação 
com a qual temos que lidar ainda, mesmo estando em pleno século XXI. 
“O denominado tráfico de seres humanos, a despeito de constituir 
verdadeiro vilipêndio à dignidade humana, é um fenômeno real e se 
apresenta de forma multidisciplinar e complexa. Suas causas são diversas, 
não há um modelo padrão de aliciamento, nem um tipo específico de modus 
operandi. Além disso existem graus diferentes de exploração, que oferecem 
desde uma relativa liberdade à vítima até sua completa escravidão. 
(RODRIGUES 2013, p.21) 
A realidade suja e cruel por trás desta prática envolve em sua grande 
maioria mulheres e meninas (tem-se o gênero feminino como preferência nestes 
casos) que vivendo em situações de necessidades precárias em seus locais de 
 
 
origem, são aliciadas pelos recrutadores, traficantes membros de organizações 
criminosas, que lhes fazem promessas de uma vida melhor e completamente 
diferente da realidade a qual elas se encontram inseridas. 
“O status inferior de mulheres e meninas em muitas partes do mundo tem 
contribuído para que sejam elas as maiores vítimas na crescente indústria 
do tráfico. Trata-se de um negócio muito lucrativo, uma atividade ilícita mais 
simples e mais rentável que a o tráfico de drogas, por exemplo. A mulher 
em sim não é uma “mercadoria” ilícita e pode ser “utilizada” inúmeras vezes. 
(RODRIGUES 2013, p.23) 
Não podendo imaginar as crueldades, violências e explorações as quais serão 
submetidas uma vez que chegarem ao seu destino final e estarem totalmente 
entregues a própria sorte. Devendo dinheiro aos traficantes, não sabendo por muitas 
vezes falar o idioma do país ou região para onde foram levadas, essas vítimas ficam 
a mercê dos traficantes que por sua vez as enxergam como nada mais do que uma 
simples mas lucrativa mercadoria. 
“Nos casos mais graves, as escravas sexuais são forçadas a servir 
centenas ou até mesmo milhares de “clientes” antes de serem descartadas, 
morrerem ou então conseguirem fugir. A submissão é obtida por meio de 
violência, drogas, estupro, tortura, fome, prisão, ameaças, abusos 
psicológicos e coerção. (RODRIGUES 2013, p.23) 
Para Long (2004) é possível encontrar no tráfico de pessoas, traços de uma 
continuação de práticas culturais e históricas que descendem de costumes antigos 
como o de vender ou intercambiar especialmente membros femininos entre famílias 
com a finalidade de casamento, sendo a mulher tratada como mercadoria. 
Apesar da semelhança na prática as finalidades não se confundem. O tráfico 
internacional de pessoas para fins de exploração sexual é o terceiro crime mais 
rentável para as organizações criminosas, que atuam nessa frente. 
Segundo dados fornecidos pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e 
Crime – UNDOC, a movimentação financeira derivada da prática do tráfico de 
pessoas para fins sexuais somente na Europa, alcança 3 bilhões de dólares anuais, 
e o número de vítimas é ainda mais impressionante, cerca de 70.000 pessoas são 
traficadas por ano. Ainda de acordo com os dados da UNDOC, 84% dessas vítimas 
traficadas para a Europa ocidental e central são para a prática de exploração sexual. 
 
 
O que se busca com este trabalho é o aprofundamento do tema, o estudo das 
causas desta prática que cresce desenfreadamente a nível mundial. Onde milhares 
de mulheres, crianças e até mesmo homens, mesmo que em sua minoria vivem o 
terror da escravidão e servidão sexual. O ganho das Organizações criminosas com a 
exploração de seres humanos. Como se desenvolvem as redes de captura, 
transporte, aliciamento e exploração. 
Bem como busca a prevenção a este tipo de prática buscando embasamento em 
Acordos e Pactos internacionais que se propõem e erradicar a ação de 
Organizações Criminosas ao redor do mundo. Passando até mesmo pela 
legalização da prostituição medida adotada por alguns países como meio de inibir o 
tráfico de mulheres ao seu solo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 OBJETIVOS 
O principal objetivo do presente trabalho é a discussão acerca dessa prática 
deplorável que é o tráfico de seres humanos. O crime de tráfico de seres humanos, 
seja ele de qualquer modalidade, ataca e fere diretamente um dos princípios 
fundamentais garantido à todos nós seres humanos que é a dignidade humana e 
não só, fere também todo o acordado e protegido pela Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, pois submete a vítima a sofrimentos, humilhações e condições 
precáriasde sobrevivência. 
Assim, procura-se através de mecanismos internacionais, como Tratados, 
Protocolos, Acordos, Pactos e Programas de segurança ao redor de todo mundo, 
tentar frear essa prática que assombra todo o Globo, tornando-se um dos crimes 
mais rentáveis para as organizações criminosas que dão causa a essa prática. 
Por fim, tentou-se buscar em meio a estes tratados, politicas de enfrentamento, 
pactos, entre outros mecanismos, uma maneira de se não extinguir, ao menos tentar 
frear o crescimento dessa prática esdruxula que assombra milhares de pessoas ao 
redor do mundo, colocando-as em condições sub-humanas. 
 
 
 
3 MATERIAIS E MÉTODOS 
Para a elaboração desta monografia o levantamento de dados foi efetuado através 
 de pesquisa envolvendo a coleta de material bibliográfico, utilizando-se livros, 
artigos científicos, revistas científicas, tratados, pactos e outros trabalhos que 
serviram como base para desenvolvimento deste. 
Os livros, artigos e outros trabalhos relacionados nesta pesquisa, correspondem à 
períodos da pré-história, história-clássica e moderna, uma vez que o trabalho faz 
relação à períodos desde a história antiga, até os dias atuais. 
As áreas de pesquisa utilizadas compreendem desde relatos históricos, princípios 
sociológicos, jurídicos, constitucionais, penais e humanitários, sob a ótica da 
criminologia. 
Por fim, destaca-se que a revisão bibliográfica realizada nesta pesquisa encontra-se 
apresentada sessão 4. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
4.1 Aspectos Históricos. 
 
O presente propõe-se traçar a evolução da prática do crime de tráfico de seres 
humanos, pautando-se nas transformações sofridas pela mesma ao decorrer da 
história. 
 
4.1.1 Escravidão e tráfico de escravos negros. 
 
O tráfico de seres humanos é uma prática muito antiga, existindo desde a 
antiguidade clássica, primeiramente na Grécia e, posteriormente, em Roma. Nesse 
período, o tráfico se dava com o fim de se obter prisioneiros de guerras para serem 
utilizados como escravos. Salienta-se que o trabalho escravo era respaldado pelos 
pensadores da época, Aristóteles sendo um deles, apontava que haviam homens 
escravos por natureza, pois existiam indivíduos tão inferiores que estariam 
destinados a empregar suas forças corporais, e que nada de melhor poderiam fazer. 
(GIORDANI, 1984, p.186) 
A escravidão é bem mais antiga que o tráfico de negros. Ela surgiu nos 
primórdios da história, quando os povos vencidos eram escravizados por 
seus conquistadores. Havia também a escravização de algumas espécies 
de criminosos ou daqueles que não podiam honrar suas dívidas. 
(RODRIGUES, 2013, p. 55) 
A escravidão existe praticamente desde os primórdios dos povos no mundo. Tanto é 
que o Código de Hamurabi, datado em 1694 a.c, faz menção à escravidão. 
Se um homem comprou um escravo ou escrava e se este não tiver 
cumprido seu mês de serviço e se uma moléstia se apossou dele, ele 
retornará a seu vendedor e o comprador tomará o dinheiro que dispende. 
[...] Se um escravo diz a seu senhor: ‘’tu não és o meu senhor’’, seu senhor 
o convencerá de ser seu escravo e lhe cortará a orelha. (HAMURABI. 1694 
a.c, §278/282) 
 
 
 
Então, durante o período Renascentista, entre os séculos XIV e XVII, a prática do 
tráfico de seres humanos ganha uma nova feição, deixando de ser uma prática de 
aquisição de soldados vencidos em guerra, para tornar-se uma prática comercial. 
Isso ocorre devido ao advento da Colonização Europeia nas Américas, a qual fez 
surgir o: tráfico negreiro, (nome utilizado para caracterizar o tráfico de seres 
humanos de pele negra), o qual caracterizava-se como um sistema comercial de 
recrutamento mediante violência e força, totalmente arbitrário, contra a vontade, de 
mão de obra de um determinado povo, que era retirado de seu local de origem para 
ser transportado a outro, de língua e cultura totalmente diversa da sua (CURTIN, 
1969) 
Damásio de Jesus (2003, p.17) afirma: “O tráfico de seres humanos faz parte da 
nossa história.” E ressalta, a prática do tráfico de seres humanos, mesmo estando 
presente na história desde os primórdios da humanidade, foi na era moderna que 
essa prática ganhou status de operação mercantil, devido ao grande 
desenvolvimento do sistema capitalista de produção, que tinha como objetivo 
transformar tudo em mercadoria, inclusive, seres humanos. 
Nesse sentido, explica Mariane Strake Bonjovani (2004) que o tráfico de seres 
humanos passou a gerar muitos lucros, principalmente nas cidades Italianas entre 
os séculos XIV e XVII, justamente durante o período renascentista, o que acabou 
por estimular o comércio e o sistema capitalista que ali se iniciava. 
Já na era contemporânea, segundo Marzagão (2009), adquire a prática de tráfico de 
pessoas, uma maior sofisticação, agora dotada de mais modalidades, passando a 
ser não só mais uma prática criminosa, mas sim, um conjunto de novas modalidades 
de atividades igualmente ilícitas que dela derivaram, tais quais: adoção ilegal de 
crianças e adolescentes, o já conhecido trabalho escravo/forçado, o turismo sexual, 
entre outros. Atingindo agora, dessa forma, um maior número de pessoas, de 
diferentes níveis sociais, econômico e culturais, apanhando vítimas de todas as 
idades e de todos os lugares. 
A escravidão negra, de natureza étnica ou racial, integrava o sistema 
produtivo da época, e o senhor exercia, licitamente, direito de propriedade 
 
 
sobre o escravo. Ter escravos era sinal de status e poder, mesmo porque 
consistia em um alto investimento. (RODRIGUES, 2013, p. 50) 
Assim, alguns povos passaram a serem usados como mão-de-obra em colônias de 
exploração europeias, devido ao fato de suprirem, de forma eficiente e barata a 
mão-de-obra branca, praticamente escassa, perdurando a exploração desses povos 
por séculos em nossa história. 
Porém, conforme aponta Rodrigues (2013), quando se fala em tráfico de negros, a 
primeira referência, sempre nos remete ao trabalho braçal forçado, seja na 
agricultura, seja nos serviços doméstico ou qualquer outra forma, no entanto, não se 
deve deixar de lado as questões atinentes à prostituição e a exploração sexual 
sofridas pelas escravas negras, que eram em sua grande maioria violadas sexual 
por seus senhores, ou então em alguns casos, o abuso se dava por parte de seus 
próprios companheiros de senzala. 
Gilberto Freyre, em seu livro, Casa-Grande & Senzala, nos traz alguns aspectos da 
prática de prostituição de escravas negras, aponta que, alguns senhores, enfeitavam 
suas escravas com joias de ouro, roupas finas, de renda, e as ofereciam a outros 
senhores. Já, outros senhores, obrigavam suas escravas, muitas delas, ainda 
menores de idade, a se oferecem nas ruas, nos portos, onde desembarcavam 
marinheiros, com toda espécie de moléstia, sobretudo a sífilis. 
 
4.1.2 Do tráfico de escravas brancas 
 
O termo “tráfico de escravas brancas”, (white slave trade), teve sua primeira 
aparição em um texto datados em 1839, derivando-se da expressão de língua 
francesa “Traite de blaches” que por sua vez está relacionada a “Traite de Noirs”, 
expressão também de origem francesa, utilizada para denominar o comércio de 
escravos negros. (Derks, 2000, p.2) 
Tal expressão era utilizada para referir-se as mulheres de origem europeia que 
chegavam aos Estados Unidos da América, trazidas por traficantes, para lá, 
trabalharem como prostitutas. (Saunders 2005, p.345) 
 
 
Assim, logo a prática de tráfico de mulheres, estava ligada tanto a prostituição 
quanto a escravidão, já no início do século XIX.De acordo com Dozema, a prática do tráfico de escravas brancas, define-se como: 
“a busca por força, engano, ou através do uso de drogas de uma mulher ou menina 
(branca) contra a sua própria vontade, para a prática da prostituição”. 
Segundo Cristiana Schettini Pereira, as chamadas escravas brancas, eram na 
realidade, mulheres europeias que seriam levadas por redes internacionais de 
traficantes, para outros continentes. Ao chegarem aos seus destinos, geralmente 
cidades portuárias, sem conhecimento algum do idioma local, da cultura e sem ter a 
quem recorrer, viam-se obrigadas a iniciarem-se na prática da prostituição como 
meio para sobreviver. 
Para corroborar esse entendimento assim expõe Thalita Carneiro Ary (2009, p.23) 
“Os fluxos migratórios de fins do século XIX pautaram-se pela mobilidade de 
inúmeras pessoas com intuito de escapar de doenças, misérias, pogroms, 
etc. Muitas destas eram mulheres, as quais não necessariamente eram 
vítimas do tráfico. Vislumbravam-se muitas facilidades na oferta de emprego 
e falsificação de documentos de viagem, visando à exploração de seu 
trabalho como prostitutas em bordéis no exterior [...] Certamente haviam 
mulheres que migravam com intuito de exercerem especificamente a 
atividade de prostituição, no entanto acabam sendo submetidas a situações 
de coerção moral e física que acarretavam uma condição laboral marcada 
por atos de exploração. 
Para Lená de Medeiros Menezes, não era a exploração sexual de mulheres uma 
prática nova, para a época, entre o século XIX e início do século XX, porém, havia 
essa prática adquirido nova feição: “a medida que o capitalismo e a expansão 
europeia haviam redesenhado o mundo e a vida urbana, promovendo a 
internacionalização dos mercados e a expansão dos prazeres”. Neste triste cenário, 
a mulher passou a ser tratada como mercadoria, um produto a ser exportado da 
Europa para os outros continentes. 
As formas de aliciamento e transporte dessas mulheres neste período eram 
diversas, alguns traficantes chegavam a se casarem com as vítimas, para assim 
desembarcarem no país de destino como casais. Algumas mulheres, poucas delas, 
 
 
na realidade, viajavam sozinhas, e outra parte delas eram levadas como se fossem 
integrantes de companhias artísticas. (HUNGRIA, comentários ao código penal v. 
VIII, p.293-294) 
 
4.2 Tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual. 
 
Procura-se abordar na presente sessão, definições, conceitos e características que 
compõem a prática deste delito que ganha cada vez mais alcance a nível mundial. 
 
4.2.1 Definição e conceito 
 
A definição para a prática do tráfico de pessoas aceita internacionalmente encontra-
se discriminada na Convença de Palermo ou Protocolo Adicional à Convenção das 
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, 
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, que 
nos esclarece: 
A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, o transporte, a 
transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à 
ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, 
ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à 
entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o 
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins 
de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da 
prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou 
serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a 
servidão ou a remoção de órgãos (BRAZIL – 2004) 
Para Bonjovani, o tráfico de pessoas, “escraviza” suas vítimas, forçando-as a 
entrarem para a prostituição, diante das péssimas condições as quais são 
submetidas, arriscando suas vidas diariamente, sendo submetidas à todos e 
quaisquer tipos de crueldade. Essas vítimas são marginalizadas, tratadas como 
 
 
imigrantes ilegais que são, ficam a mercê dos traficantes, sofrendo abusos e 
explorações. 
Corroborando com a definição estabelecida pelo Protocolo de Palermo o “Padrões 
de Direitos Humanos para o Tratamento de Pessoas Traficadas” (PHD) nos traz 
mais uma definição para o tráfico de pessoas: 
Todo ato e tentativa de ato envolvido em recrutamento, transporte intra ou 
entre fronteiras, compra, venda, transferência, recebimento ou abrigo de 
pessoas envolvendo aliciamento, coerção (incluindo o uso ou ameaça de 
força ou abuso de autoridade) ou dívida servil com a finalidade de colocar 
ou prender tal pessoa, remunerada ou não, sob servidão involuntária 
(doméstica, sexual ou reprodutiva), sob trabalhos forçados ou servis, ou sob 
condições semelhantes à escravidão, em uma comunidade diferente da 
qual a pessoa vivia ao tempo do aliciamento, coerção ou dívida servil. 
(FUNDAÇÃO Contra Tráfico de mulheres). 
Pereira (2012) explica que a prática do tráfico de pessoas ou tráfico de seres 
humanos como alguns chamam, é a modalidade de tráfico que tem por objetivo 
principal a transferência de pessoas de certos locais para outro, seja dentro ou fora 
do país de origem. Atualmente no Brasil esta prática está entre as mais rentáveis, 
juntamente com o tráfico de drogas e também o de arma, chegando a movimentar 
cerca de trinta bilhões de dólares conforme apontam os dados do Escritório das 
Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNDOC). 
Para Damásio de Jesus (2003) o que se busca com uma definição tão ampla quanto 
essa é a garantia de que a vítima não acabe sendo tratada como criminosa e ao 
mesmo passo busca garantir que os traficantes sejam penalmente 
responsabilizados. 
Segundo explica Menezes (2000), o tráfico de pessoas é caracterizado como um 
“processo migratório marginal” uma vez que acompanha os grandes fluxos 
migratórios, buscando variar suas rotas, porém mantendo sempre o mesmo 
elemento básico e propulsor: as crises internas que por sua vez aquecem os 
movimentos populacionais sendo eles de ordem, política, econômica ou social. 
Sobre a prática do tráfico de pessoas Silva (2010, p.56) argumenta que: 
 
 
O tráfico de pessoas é um fenômeno transnacional extremamente lucrativo 
para seus autores, e está intimamente ligado às organizações criminosas e 
à prática de outros crimes, como a falsificação de documentos, raptos, 
favorecimento da prostituição, trabalhos forçados com redução à condição 
análoga a de escravo. 
À ausência de direito ou então a escassa interpretação das regras internacionais dos 
direitos humanos tais quais: a discriminação de gênero; a violência contra a mulher; 
a pobreza; a desigualdade de oportunidades e de renda; e a instabilidade política ao 
redor do globo, são algumas das principais causas não só do tráfico internacional de 
pessoas, mas também do grande fluxo migratório de pessoas. (Jesus, 2003) 
Conforme aponta Rodrigues (2013) a globalização nos dias de hoje, coloca à 
disposição dos traficantes de seres humanos todos as suas ferramentas e recursos, 
que na maioria das vezes são utilizados para fins lícitos, mas que acabam também 
por facilitar e muito a vida daqueles que querem cometer crimes, como por exemplo 
a revolução dos meios de comunicação, a facilidade de transpor fronteiras, a rapidez 
no acesso à informações de quaisquer tipos. A prática de tráfico é tratada como um 
tipo de negócio qualquer, onde suas vítimas são rotuladas como mercadoria, 
transformando-se em “commodities”. Os traficantes por sua vez, buscam suas 
“mercadorias” em ambientes vulneráveis e as vendem nos mercados que julgam 
serem mais promissores. 
Dessa forma percebe-se que é diante de um contexto de desigualdade, exclusão 
social, pobreza e obstáculosde acesso a oportunidades que a prática do tráfico de 
pessoas ganha força, uma vez que utiliza-se de todas essas “fraquezas” para 
oferecer as suas vítimas falsas promessas de uma vida totalmente diferente e 
melhor, fora daquela cruel realidade em que estão inseridas. 
A prática do tráfico humano trata-se de uma grave violação e coerção dos direitos 
humanos que atenta justamente contra um dos bens jurídicos mais importantes por 
ele protegidos, que é a liberdade, (liberdade sexual, liberdade de expressão, direito 
de ir e vir). Trata-se, sobretudo de um crime contra a dignidade humana. (Assis. 
2014) 
 
 
 
4.2.2 Características 
Embora muito temo tenha se passado desde o surgimento do tráfico de escravos, 
(prisioneiros de guerra à princípio e depois escravos negros) muitas características 
dessas práticas se mantiveram até os dias atuais. Segundo Lená Medeiros, algumas 
práticas guardam semelhanças impressionantes, como se tivessem permanecido 
congeladas no tempo. São elas: caráter transnacional; vítimas vulneráveis; engodo 
durante o aliciamento; situação de escravidão por dívida no local de destino etc. 
Conforme visto anteriormente, a prática do tráfico de pessoas trata-se de um 
processo complexo. Divide-se em três fases, de modo a facilitar a ação do traficante, 
permitindo que assim ele consiga transferir a vítima de um lugar para outro com o 
fim de explorá-la para obtenção de lucro de cunho econômico. 
Afim de melhor elucidar essa divisão, assim expõe Luana Mayara Santos de Assis 
(2014, p.9): 
“As etapas são o recrutamento; o transporte e a exploração. O recrutamento 
é realizado por meio de agências que organizam o processo da viagem de 
um país para o outro, elas funcionam como uma rede formada por diversos 
atores, tais como recrutadores, intermediários, falsificadores, 
transportadores, patrões, donos de bordéis e até amigos e membros da 
família [...] Quanto ao transporte, este pode ser legal ou ilegal, normalmente 
as vítimas são transferidas para um lugar longe de casa e sob o controle 
dos traficantes, sejam quilômetros depois das fronteiras, ou cem 
quilômetros dentro de seu próprio país. E por fim a exploração ocorrer 
quando a pessoa chega no seu local de destino, é comum habitantes de 
áreas rurais serem exploradas em centros urbanos; pessoas de países 
pobres transferidas para países considerados mais ricos; mulheres jovens 
são abusadas sexualmente para atender à demanda do comércio sexual 
dos países ricos.” 
O recrutamento pode ocorrer com o consentimento da vítima, ou então os 
aliciadores se utilizarão de meios agressivos de coação, tais como: força, rapto, 
sequestro, abuso de poder. 
Existe na doutrina acerca do assunto um consenso majoritário de que o 
consentimento da pessoa para ser submetida a condições de exploração sexual, 
trabalho forçado, condições análogas a de escravo, não é capaz de legitimar a ação 
 
 
dos traficantes, muito menos descaracteriza a prática do tráfico, uma vez que o seu 
objetivo fora alcançado com a exploração da vítima. 
De acordo com o entendimento firmado no Protocolo de Palermo, para a 
configuração do crime é irrelevante o consentimento da vítima, se há o 
emprego de algum dos meios ilícitos descritos na definição (força, coação, 
engano, etc.) (OIT. Manual de Capacitação sobre enfrentamento ao Tráfco 
de Pessoas. Brasília: Organização Internacional do Trabalho. – OIT, Brasil, 
2009, p.10) 
Para Souza, (2005, p.34) a vulnerabilidade social, a instabilidade econômica, a 
discriminação, a violência, a instabilidade politica, as leis que por muitas das vezes 
se mostram ineficientes, os desastres naturais, as guerras, a baixa aplicação das 
regras internacionais dos direitos humanos, a questão de gênero e raça e o 
fenômeno da globalização destacam-se como as principais causas do tráfico 
internacional de seres humanos. 
Segundo o referido autor, as vítimas do tráfico internacional para fins de exploração 
sexual, são geralmente em sua grande maioria, oriundas de países emergentes, 
onde estão condenadas à uma vida de pobreza, discriminação e falta de 
oportunidades. Dessa forma, assumem os riscos na tentativa de uma melhoria de 
vida, onde são facilmente capturadas pelas redes de tráfico, em especial a de 
mulheres, crianças a adolescentes. 
 
4.2.3 Sujeito Passivo 
 
Conforme apontam as pesquisas realizadas pelo Ministério da Justiça, os principais 
alvos do tráfico de seres humanos são as mulheres, os adolescentes e crianças, 
homens são aliciados em menores números, principalmente para a prática de 
exploração sexual, onde são as mulheres as vítimas mais visadas. 
Apontam ainda os estudos que a maioria das vítimas são pessoas que apresentam 
baixo nível de escolaridade, baixa ou escassa renda familiar, sendo na maioria dos 
casos naturais de regiões onde a condição de vida é precária. 
 
 
Pode ser vítima do tráfico de pessoas qualquer ser humano, homem ou 
mulher [...] Embora pareça evidente, ainda hoje é necessário afirmar que 
qualquer tipo de pessoa pode ser vítima do crime, inclusive prostitutas. O 
sujeito passivo poderá ser tanto o homem quanto a mulher, 
independentemente de sua honestidade sexual. (BITENCOURT, 2012, 
p.184) 
Para Bonjovani (2004), as mulheres vítimas do tráfico de seres humanos, na maioria 
dos caso são iludidas com falsas promessas de oportunidade de emprego e 
melhoria de vida, dessa forma, entram nos países receptores de maneira ilegal, ou 
então com seus vistos invalidados, tornando-se assim presas fáceis para os 
traficantes. Uma vez na condição de vítima, essas mulheres tem seus documentos 
apreendidos e transformam-se em prisioneiras dos traficantes, sendo tratadas como 
meras mercadorias. 
Conforme dados da OIT, 83% das pessoas traficadas são mulheres, 
diversos fatores contribuem para essa estatística, como a baixa 
escolaridade, ou porque já estão inseridas na prostituição, muitas outras 
são vítimas de maus tratos, ou vítimas de abusos sexuais dentro de casa, 
todos esses fatores influenciam nessa realidade. (SNJ – Tráfico de 
Pessoas: Uma abordagem para os direitos humanos. Brasília 2013, p.36) 
Explica Rodrigues (2013) que devido a preferência dos traficantes por mulheres e 
crianças, vem o Protocolo de Palermo para proteger especialmente mulheres e 
crianças, o que não impede no entanto que os homens seja também traficados, 
ainda que em uma menor escala, são traficados meninos e travestis. 
Para Faria, (1959) o sucesso no recrutamento dessas vítimas é quase sempre 
determinado pela “miséria das infelizes”. 
Conforme visto anteriormente na questão do consentimento, o mesmo se mostra 
irrelevante para a configuração do crime de tráfico de seres humanos, mesmo que 
não haja nenhum tipo de violência envolvida na hora do recrutamento. 
Mas segundo o que ensina Bento de Faria (1959), existem casos em que a violência 
é a regra. As vítimas do tráfico de seres humanos que sofre a exploração sexual são 
manipuladas, torturada, coagida, chantageada, violentada e humilhada. Além de 
estarem sujeitas a sofrerem todos os tipos de violências físicas, essas vítimas 
 
 
passam também por um grande sofrimento psíquico. Como regra geral nesses 
casos, ao chegar ao seu local de destino, a vítima é privada de todos os seus 
documentos, que ficarão sob a guarda de outrem, por vezes essas vítimas chegam a 
ser confinadas em lugares onde serão vigiadas, impossibilitadas de fugir, ficando 
sujeita a maus-tratos, sendo por vezes obrigada a fazer uso de substâncias ilícitas. 
Segundo o autor, a maioria dessas vítimas não falam o idioma local e por 
desconhecerem as leis e as culturas do país para o qual foram traficadas, 
encontram-se emuma situação de extrema vulnerabilidade sendo constantemente 
ameaçadas pelos exploradores com a possibilidade de deportação ou prisão. A 
culpa e o medo mantém essas vítimas em silêncio, mesmo quando conseguem por 
um milagre fugirem de seus cativeiros. Para os traficantes, quanto mais quebradas 
psicologicamente, mais obedientes. 
Em seu livro Sex trafficking, Siddharth Kara, conta que durante suas visitas em 
bordéis e abrigos pelo mundo, encontrou mulheres e crianças que sofreram os mais 
indescritíveis atos de crueldade, vítimas totalmente debilitadas por conta de seus 
ferimentos, má nutrição, traumas psicológicos, transtornos causados por estresse 
pós-traumático, sem contar nas inúmeras doenças sexualmente transmissíveis, 
inclusive AIDS, relata que é justamente o medo que mantém essas pessoas em 
silêncio mesmo quando já estão longe das mãos dos seus agressores. 
Elas não desejam reviver a agonia e o sofrimento a que foram submetidas. 
Temem a vergonha a que estariam sujeitas se seus conterrâneos 
soubessem o tipo de violência que sofreram e também que suas famílias 
sofram algum tipo de retaliação por parte dos traficantes, que sempre as 
ameaçam nesse sentido. (KARA, 2009, p.13 e 14) 
Theresa Flores, vítima de exploração sexual, em seu livro The slave across the 
street, (2010) relata: “Eu sentia que não tinha outra escolha senão me submeter; 
fazer o que me mandavam ou eu seria severamente punida. Os meus entes 
queridos poderiam ser feridos ou assassinados. E isso não era uma opção para 
mim.” 
 
 
 
 
4.2.3.1 Exploração Sexual 
 
Esclarece Nucci (2014) que explorar é uma conduta de inúmeros significados, 
entretanto a condição de tirar proveito de alguém pode dar-se de duas formas: 
honesta ou desonestamente. Segundo o autor o modo desonesto envolve a má-fé, 
onde o individuo abusa da ingenuidade alheia, enganando e ludibriando a vítima 
para então poder tirar proveito ou lucro de cunho econômico em prejuízo daquele 
que está sendo explorado. 
Segundo André Esfefam (2009) o código penal brasileiro fornece algumas diretrizes 
na determinação do conceito de exploração sexual. Para o autor alguns conceitos 
como o da violência sexual, como no caso do estupro e o da satisfação sexual 
(atividade lícita) representam os limites de interpretação da exploração sexual. 
Estefam define ainda a exploração sexual como a conduta de uma pessoa que 
busca tirar proveito de outrem, submetendo-a à condição análoga de objeto ou 
mercadoria cujo valor é unicamente econômico. 
Renato Fabbrini afirma que o termo exploração sexual é capaz de comportar 
diferentes acepções em um contexto legal, como por exemplo, tirar proveito, 
beneficiar-se, obter vantagem de qualquer espécie, extrair ou obter lucro de uma 
situação ou de alguém. Para o autor não é necessário que haja obtenção de lucro de 
cunho econômico podendo o proveito, a vantagem ou o benefício tratar-se de 
natureza sexual, por exemplo. 
A exploração sexual deve ser caracterizada como forma de retirada de 
vantagem em relação a alguém, valendo-se de fraude, ardil, posição de 
superioridade ou de qualquer forma de opressão. A exploração sexual não 
se confunde com qualquer forma de violência sexual ou com a mera 
satisfação sexual. (NUCCI, 2010, p 57) 
Luiz Flavio Gomes entende que a exploração sexual trata-se de uma conotação 
negativa de aproveitamento ou fruição de uma debilidade da vítima. O explorador 
aproveita-se do estado de vulnerabilidade da vítima, seja ele causado pela baixa 
escolaridade, desconhecimento de leis, situação de pobreza, saúde mental, idade ou 
 
 
qualquer seja sua fraqueza, para assim, conseguir exercer poder sobre ela, a fim de 
explora-la. 
 
4.2.3.2 Turismo Sexual 
Conforme ensina Nucci (2014) o turismo é a prática de atividade de lazer que 
abrange os mais diversos tipos de serviços de apoio ao cliente, tais como 
hospedagem em hotéis, aluguel de carros, restaurantes, museus e etc. Já o 
denominado turismo sexual é a viagem empreendida por alguém que está em busca 
de lugares onde existam pessoas com as quais ele possa praticar sexo a fim de 
satisfazer sua lascívia. 
Ainda segundo o autor a prática do turismo sexual ocorre ao redor do mundo todo, 
há dezenas de anos, seria essa prática apenas um dos meios utilizados na prática 
da prostituição. Muitos estrangeiros destinam-se a outros países querendo satisfazer 
seus desejos e extintos, com “pessoas exóticas”, diferentes das quais conhecem em 
seu país de origem. 
Entretanto, conforme explica Roselane Bezerra, não se pode dizer que seria a 
prática do turismo sexual uma espécie de exploração sexual, para a autora o turismo 
sexual em si mesmo não quer dizer nada. Para ela seria então o turista que busca a 
prática do sexo em outra localidade diferente da qual reside, mero explorador de 
terceiro, uma vez que deixa o seu local de residência para conhecer outros lugares, 
encontrar pessoas de nacionalidades e culturas diferentes, para fins sexuais. 
Portanto, não se pode equivaler essa viagem de descoberta de supostos novos 
contatos sexuais, com a prática da exploração sexual. 
Turismo sexual não pode jamais ser considerado exploração sexual, pois 
representa uma simples viagem para conhecer novos lugares. O que o 
turista vai fazer nos lugares visitados é que pode ser considerado 
exploração sexual. A ambiguidade da expressão leva a diversos equívocos 
e fomenta o nítido desprezo pela taxatividade, mormente quando inserida 
em tipos penais incriminadores. (SANDERS, 2009, p. 39) 
Para justificar a terminologia “turismo sexual”, Julia Davidson explica que o 
desenvolvimento do turismo em países de origem pobre tem ligação direta ou 
 
 
indiretamente à prática da prostituição. Segundo a autora, o termo “turismo sexual” é 
comumente associado aos “tours sexuais” organizados por grupos fechados de 
homens detentores de muito poder e dinheiro, geralmente de meia idade, em 
bordéis autorizados na Coréia do Sul ou em bares de strip na Tailândia e Filipinas. 
Aponta a autora que o turismo sexual é largamente documentado nesses países 
bem como em Taiwan, Siri Lanka, mas há também registros na América do Sul, 
Caribe, África e Leste Europeu. 
 Acerca da exploração sexual comercial o Protocolo de Palermo nas palavras de 
LEAL é definido como: 
[...] uma violência sexual que se realiza nas relações de produção e 
mercado (consumo, oferta e excedente) através da venda dos serviços 
sexuais de crianças e adolescentes pelas redes de comercialização do 
sexo, pelos pais ou similares, ou pela via de trabalho autônomo. Esta 
prática é determinada não apenas pela violência estrutural (pano de fundo) 
como pela violência social e interpessoal. É resultado também das 
transformações ocorridas nos sistemas de valores arbitrados nas relações 
sociais, especialmente o patriarcalismo, o racismo e a apartação social 
antítese da ideia de emancipação das liberdades econômicas/culturais e 
das sexualidades humanas. (LEAL, 2002, p.40) 
 
4.2.4 Sujeito ativo 
 
Nas palavras de Hungria (1956) o crime de tráfico internacional de pessoas é um 
crime comum quanto ao seu sujeito ativo, não havendo distinção de qualquer 
natureza. Pode o autor deste crime ser homem ou mulher, pois não faz-se 
necessária a habitualidade. 
Conforme explica o autor, os traficantes (autores do delito) aparecem no cenário do 
tráfico de pessoas assumindo o papel de fornecedores de mercadoria (mulher, 
crianças e adolescentes) do mercado sexual. 
 
 
Explica Rodrigues (2013), que por tratar-se de um crime uni subjetivo, podendo 
assim ser pratico por um único sujeito, o que é muito difícil acontecer, visto que 
geralmente este éum crime que se dá com pluralidade de agentes. 
Relata a autora que ao redor do mundo o crime de tráfico internacional de pessoas 
para fins de exploração sexual, é praticado especificamente por organizações 
criminosas, uma vez que é necessária uma demanda maior de pessoas para que a 
operação seja realizada com sucesso. Tem-se a figura dos aliciadores, aqueles cuja 
a função é ir atrás das potenciais vítimas, oferecer-lhes falsas promessas, propostas 
de empregos em outros países, uma esperança de melhoria de vida, ou então, 
fazem uso da força, do rapto, da coação entre outros para conseguir a captura da 
vítima. Assim, passada essa etapa, outro membro assume a posição para sair com a 
vítima do seu local de origem e entrar com ela em outro país. Com as funções bem 
divididas o trabalho da organização criminosa se torna muito mais fácil. Quando a 
vítima chega enfim ao seu local de destino é então recebida por outro membro da 
organização que irá explorá-la, ou então vende-la para que seja explorada. 
No ano de 2003, conforme pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça e também 
pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) os dados 
coletados em nada surpreenderam ao mostrar que os homens são a maioria entre 
os traficantes, no entanto, constatou-se um alto número de mulheres também 
inseridas nessa prática. A pesquisa apronta que essas mulheres atuam 
principalmente no recrutamento das vítimas. 
O levantamento aponta também uma predominância de homens aliciadores acima 
dos 30 anos de idade. As mulheres estão acima dessa faixa etária também, por 
vezes, utilizam-se do fato de serem mais velhas, pois acredita-se que dessa forma é 
possível passar maior credibilidade ao aconselhar as vítimas e oferecer novas 
opções de melhoria de vida, na fase de recrutamento. 
 
 
 
 
 
 
4.2.4.1 Organização Criminosa 
 
[...] o crime organizado é constante preocupação por parte dos legisladores 
do mundo que sempre tentaram conter seu avanço, nem sempre com 
sucesso. As organizações criminosas possuem tentáculos, firmemente 
arraigados nos diversos setores do Estado, quer na forma de um acordo 
meramente financeiro, com o pagamento de propina aos membros dos 
órgãos repressivos, administrativos ou alguns políticos profissionais, que 
como os antigos corsários recebiam autorização do governo fazendo 
pilhagem por razões de estado, mas que na prática, sempre buscavam a 
vantagem pessoal. (VELOSSO, 2007, p. 267-268) 
O conceito de organização criminosa é um tanto quando complexo além de 
controverso, tal como a própria atividade ao crime. Ainda sim, para Nucci, 
organização criminosa é a associação de agentes, com caráter estável e duradouro, 
com o fim de praticar infrações penais, devidamente estruturada em organismos pré-
estabelecidas, com tarefas muito bem divididas, buscando sempre um objetivo 
comum, o de alcançar qualquer tipo de vantagem ilícita, para ser partilhada entre 
seus integrantes. 
O autor explica que o conceito adotado pela nova lei 12.850/2013 que não trouxe 
muita diferença, pois prevê em seu artigo 1º § 1º o seguinte: 
Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais 
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente com objetivo de obter direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais 
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, os que sejam de 
caráter transnacional. 
 
 Veloso 2007, divide alguns dos elementos que nos são fornecidos pelo contexto 
legal, assim sendo, logo temos: a associação de quatro ou mais pessoas, o número 
exigidos de pessoas para a formação de uma organização criminosa, é apenas 
resultado de uma política criminal. 
Nas palavras de Nucci: 
 
 
[...] duas pessoas podem organizar-se, dividir tarefas e buscar um objetivo 
ilícito comum. Por certo, não é comum que assim ocorra, embora não seja 
impossível. Tanto que a Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) no seu art. 35, 
prevê associação de duas ou mais pessoas para fim de praticar, 
reiteradamente ou não, os crimes previstos nos artigos 33 e 34, (tráfico). 
(NUCCI, 2013, p. 20) 
Estruturalmente organizada, Veloso explica que é necessário que esse conjunto de 
pessoas seja controlado de maneira organizada, faz-se necessário inclusive que 
existe uma espécie de hierarquia, a relação de subordinação é a responsável pela 
ordem. 
Para o autor a divisão de tarefas é consequência dessa organização hierárquica, 
haja vista que cada membro realiza a função que lhe é designada e responde por 
seu desempenho em seu cargo. 
Por fim, o autor explica que a obtenção de vantagem de qualquer natureza, é o 
principal objetivo dessas organizações, que na maioria das vezes será a vantagem 
financeira. 
 
5 Meios de combate 
 
5.1 Protocolos, convenções e tratados. 
5.1.1 Aspectos Históricos 
Segundo Castilho (2007) a legislação internacional a partir do ano de 1814, com o 
Tratado de Paris entre Inglaterra e França, ocupou-se do tráfico de negros, que 
eram objetos de comércio na época. Todo o esforço diplomático empenhado por 
este tratado resultou na Convenção firmada pela Sociedade das Nações de 1926, 
que acabou sendo reafirmada em 1953 pela ONU. A fim de elucidar o que se tinha 
por tráfico de escravos, assim dispunha a convenção: 
Compreende todo ato de captura, aquisição ou cessão de um indivíduo para 
vende-lo ou troca-lo; todo ato de cessão por venda ou câmbio de um 
 
 
escravo adquirido para vende-lo ou trocá-lo, e em geral todo o ato de 
comércio ou transporte de escravos. 
Conceituava também a escravidão como: “estado ou condição de um individuo sobre 
o qual se exercitam os atributos do direito de propriedade ou de algum deles”. 
Explica a autora que a Convenção de Genebra de 1956, trouxe novamente esses 
conceitos, porém ampliou seu foco para instituições e também práticas análogas a 
de escravidão, nomeando expressamente: a imobilização por dívidas e a servidão; 
bem como o casamento forçado de uma mulher em troca de vantagem econômica 
para seus pais ou terceiros; a entrega, onerosa ou não, de uma mulher casada a 
terceiro pelo seu marido, sua família ou seu clã; os direitos hereditários sobre uma 
mulher viúva; a entrega onerosa ou não, de menor de 18 anos a terceiro para 
exploração. 
 Piovesan (2007) conta que surge no ano de 1904 o primeiro documento 
internacional destinado a tratar sobre a prática do tráfico internacional de pessoas. O 
documento tinha como propósito acabar com a troca de escravos brancos que 
ocorria na época. Mulheres brancas oriundas de países europeus migravam ou 
então eram traficadas para países árabes ou orientais, para lá servirem como 
concubinas ou exercerem a prostituição. O documento, no entanto não surtiu efeitos, 
uma vez que preocupava tão somente as autoridades e povos de origem europeias. 
Já no ano de 1910, segundo Rodrigues (2013) surge outro documento para tratar 
sobre o tráfico internacional de pessoas, agora reconhecendo a prática do tráfico de 
pessoas como um problema global, incluindo inclusive penalidades para os 
envolvidos neste crime. Outro documento que não logrou êxito, obtendo tão somente 
13 ratificações. 
Outras tentativas apareceram nos anos de 1921 e 1933, ambos os documentos 
basearam-se no contexto da Liga das Nações, definindo que o tráfico independia do 
consentimento da mulher (vítima). 
Ocorre então no ano de 1949 a Convenção para Supressão do Tráfico de Pessoas e 
da Exploração da Prostituição, onde foram consolidados os 4 documentos 
anteriores, tornando-os um documento único para o combate da prática do tráfico deseres humanos, até o surgimento do Protocolo de Palermo. 
 
 
Com isso os Direitos Humanos em conjunto com seus sistemas de proteção 
internacionais foram aprimorando-se ao longo do tempo, para então no ano de 1993, 
durante a Conferência Mundial de Direitos Humanos, fora apresentada a Declaração 
e o Programa de Ação Viena, o qual trazia em um dos seus 18 itens: “os direitos 
humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e constituem parte integral e 
indivisível dos direitos humanos universais. (CASTILHO, 2007) 
Percebe-se que o combate ao tráfico de seres humanos enfrentou ao longo dos 
anos muita resistência e dificuldades para que o direito das pessoas traficadas 
fossem enfim reconhecidos, estabelecidos e protegidos, em documentos 
internacionais. 
 
5.1.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos fora adotada pela ONU 
(Organizações das Nações Unidas) no mês de dezembro do ano de 1948, 
estabelecendo que os chamados direitos humanos fundamentais, assim como a 
liberdade, dignidade, e igualdade devem ser uma garantia para todos. A positivação 
internacional dos direitos mínimos dos seres humanos é tida como uma das 
principais preocupações, dessa forma a Declaração, veio com o propósito de 
resguardar e proteger os direitos humanos. (MAZZUOLI, 2010) 
Mazzuoli (2010) explica que a declaração veio para nós com uma espécie de código 
de conduta internacional para reforçar que os direitos humanos são universais, 
garantido a todos. Basta tão somente a condição de pessoa para que os seus 
direitos sejam reivindicados em qualquer situação e em qualquer lugar. 
Por não ter sido submetida aos procedimentos de celebração dos tratados não pode 
ser considerada como um tratado, tratando-se assim de uma “mera recomendação” 
das Nações Unidas, para que os Estados possam respeitar, e fazer valer, a fim de 
que seja perpetuada uma nova maneira de lidar com a proteção internacional dos 
direitos humanos, protegendo principalmente a dignidade da pessoa humana. 
 
 
Tem-se a dignidade humana como princípio mor a ser protegido, segundo Alexandre 
de Moraes. (2006): 
O princípio fundamental consagrado pela Constituição Federal da dignidade 
da pessoa humana apresenta-se em uma dupla concepção. Primeiramente, 
prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja 
em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar estabelece verdadeiro 
dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. 
(MORAES, 2006, p.57) 
 
 
5.1.3 Convenção de Palermo 
 
Fora adotada no ano de 2000 a Assembleia da ONU, onde institui-se a Convenção 
das Nações Unidas contra o Crime Organizado, universalmente conhecida como 
convenção de Palermo. O documento foi assinado 147 países, que se 
comprometeram em criar medidas para erradicar de uma vez o crime organizado 
transnacional. (CASTILHO, 2007) 
Segundo a UNODC a Convenção de Palermo junto de seus protocolos adicionais 
tratam-se de vários tratados cujo o objetivo é combater o crime organizado 
transnacional, portanto é importante que seja usado em conjunto a outros tratados 
que versem sobre os direitos humanos, uma vez que a maioria das práticas 
adotadas pelas organizações criminosas, acabam por ferir diretamente os direitos 
humanos básicos, tal como a prática do tráfico internacional de seres humanos que 
é uma das piores formas de degradar a dignidade humana de alguém. 
Sobre a prática do tráfico de seres humanos, o protocolo define em seu artigo 3º a 
prática como: 
[...] o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o 
acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras 
formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade 
ou a à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamento 
 
 
ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha 
autoridade sobre outra para fins de exploração. 
Ainda sobre o tráfico de pessoas, traz em seu artigo 2º, um dos principais objetivos 
propostos pela Convenção, que é o de: “proteger e ajudar as vítimas do tráfico, 
respeitando plenamente os seus direitos humanos”. Dessa forma, o Protocolo deixa 
claro que sua preocupação vai além do combate ao crime organizado transnacionais 
e suas práticas que incluem o tráfico internacional de pessoas, traz também em seu 
texto a demonstração de preocupação também com as vítimas, buscando proteger 
seus direitos e manter sua dignidade. (PIOVESAN, 2007) 
Conforme apontam os dados da UNODC, o Protocolo de Palermo, adotado no ano 
de 2000, continuou sendo ratificado por países durante anos até dezembro de 2007. 
 
 
5.1.4 Pacto de São José da Costa Rica 
 
A Convenção Americana de Direitos Humanos, internacionalmente conhecida como 
Pacto de São José da Costa Rica, firmado em 1969 pelos países integrantes da 
OEA (Organização de Estados Americanos), procura consolidar entre os países 
americanos, um regime de liberdade pessoal e justiça social que funda-se sobretudo 
no respeito aos direitos humanos essenciais de cada individuo independentemente 
do país ou região onde a pessoa resida ou tenha nascido. (PIOVESSAN, 2007) 
O pacto tem como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que por sua 
vez busca compreender o ideal do ser humano livre, isento de temor da miséria, da 
fome, da falta de oportunidades, sob condições que lhe permitam gozar de seus 
direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos 
todos estes por ela resguardados. 
Segundo Piovessan (2007), o Pacto é de suma importância ainda mais no tocante à 
prática do tráfico de seres humanos, uma vez que a Corte Internacional 
Interamericana de Direitos Humanos, criada pelo Pacto, tem como finalidade, julgar 
 
 
casos de violação dos direitos humanos ocorridos em países que integram a 
Organização dos Estados Americanos e que reconheçam sua competência. 
O documento é composto por 81 artigos, incluindo ainda suas disposições 
transitórias as quais estabelecem os direitos fundamentais da pessoa humana, tais 
como: o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à 
educação, entre outros. O Pacto trata de assuntos como a escravidão e a servidão 
humana, proibindo ambas as práticas em todas suas formas, trata ainda das 
garantias judiciais, da liberdade de consciência e religião, de pensamento e 
expressão, bem como a liberdade de associação e da proteção à família. 
Acerca da prática do tráfico de seres humanos, assim dispõe em seu artigo 6º: 
[...] 1. Ninguém pode ser submetido à escravidão ou a servidão, e tanto 
estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em 
todas as formas. 2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho 
forçado ou obrigatório. 
 
5.1.5 Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas 
 
No ano de 2006 o Brasil deu um grande e importante passo em relação ao combate 
da prática do tráfico de pessoas aprovando uma política nacional de enfrentamento 
ao tráfico. Através do Decreto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006. 
Ressalta Ribeiro (2006) além de aprovar o Decreto, o governo federal brasileiro 
organizou-se em inúmeras iniciativas acerca deste tema, tornando-se um forte 
combatente do tráfico de pessoa. 
O documento fora elaborado por representantes do Poder Executivo Federal e 
convidados do Ministério Público Federal e contou ainda com a participação do 
Ministério Público do Trabalho. 
Conforme explica a autor, depois de muitos debates acerca do tema, finalmente fora 
possível chegar a um consenso sobre qual seria o conteúdo da nova política 
nacional. Assim sendo,nos termos do Plano, o enfrentamento ao tráfico de pessoas 
 
 
deve ser considerado em todas suas modalidades, a exploração sexual comercial, a 
prática do trabalho escravo, ou análogo ao de escravo, trouxe também em seu texto 
às políticas de defesa voltadas às mulheres, crianças e adolescentes, para que 
assim se possa combater a todas e proteger um maior número de vítimas, 
resguardando seus direitos. 
Segundo o texto do próprio Plano, quanto ao enfrentamento ao tráfico de seres 
humanos, procura-se dar atenção a três pontos considerados de maior importância: 
prevenção ao tráfico, repressão ao crime e por fim responsabilização dos seus 
autores, sem deixar de lado atenção total às vítimas. Esses pontos são 
denominados “eixos estratégicos”. 
Explica Piovessan 2006, que na prevenção, a intenção é tentar conscientizar e 
neutralizar a vulnerabilidade que cerca alguns grupos sociais, trabalhando com 
essas pessoas para que assim, sintam-se menos fragilizadas e suscetíveis a caírem 
nas mãos desses criminosos. Tudo isso acompanhada de uma forte política pública, 
que visa além de combater as reais causas deste problemas, perpetuar a igualdade 
social. 
No tocante a repressão e responsabilização dos envolvidos nesta prática, a 
fiscalização juntamente com o controle e a investigação de redes e organizações 
criminosas responsáveis por estes crimes, é uma das principais armas para o 
combate. 
Finalmente em relação à atenção às vítimas, um dos focos principais para esta 
tarefa está no tratamento justo, não-discriminatório e seguro dessas vítimas, que no 
momento do resgate encontram-se totalmente fragilizadas, por essa razão é 
necessário garantir-lhes além de proteção especial, acesso ao judiciário e 
assistência consular, não só com brasileiro, mas também com estrangeiros em 
situação de vítimas em território brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
6 DISCUSSÃO 
 
6.1 Do tráfico de pessoas e da Comercialização de Migrantes ilegais 
 
Por muito tempo não foi possível conceituar ou então classificar a prática do tráfico 
de seres humanos, visto que não havia consenso internacional sobre a referida 
prática. Durante o passar dos anos muito discutiu-se para que fosse possível chegar 
a um conceito consensual a nível mundial. (ANDERSON E DAVIDSON 2004, p.16) 
Observa Kapur (2005, p.115) que o tráfico de seres humanos encontra-se 
relacionado de forma direta à prática de migração, em especial a que se dá de 
maneira clandestina, juntamente com o contrabando de migrantes ilegais. Paralelo à 
isso está a prostituição, seja ela dada de forma forçada, com a exploração de 
mulheres e crianças que são levadas a trabalharem e exercerem a prostituição em 
bordéis contra a sua vontade e a prostituição voluntária, mulheres que buscam 
trabalhar com o sexo em outras regiões ou países com intuito de arrecadar mais 
dinheiro. 
Em verdade, nota-se que o tráfico de pessoas se dá na exata medida e 
direção em que a imigração clandestina ocorre, vale dizer, dos países 
pobres para os ricos. As pessoas pobres partem em busca do sonho 
dourado, de melhora d vida. (NUCCI, 2014, p. 52) 
É necessário, porém destacar os diferentes conceitos entre essas práticas que se 
assemelham, mas não se confundem. 
Conforme já dito anteriormente a definição para o crime de tráfico internacional de 
pessoas encontra-se disposta no artigo 3º do Protocolo de Palermo: 
“ O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o 
acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a 
outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de 
autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou a aceitação de 
pagamentos ou benefícios para obter consentimento de uma pessoas que 
tenha autoridade sobre outra para fins de exploração” 
 
 
Já o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime 
Organizado Transnacional, relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por Via 
Terrestre, Marítima e Aéreas, através do Decreto 5.601/04 traz a definição de tráfico 
de migrantes em seu artigo 3º alíneas a e b. 
a-) A expressão “tráfico de migrantes” significa a promoção, com o objetivo 
de obter direta ou indiretamente, um benefício financeiro ou outro benefício 
material, da entrada ilegal de uma pessoa num Estado parte do qual essa 
pessoa não seja nacional ou residente permanente. 
b-) A expressão “entrada ilegal” significa passagem de fronteiras sem 
preencher os requisitos necessários para a entrada legal no Estado de 
acolhimento. 
 
Segundo a UNDOC, o contrabando de migrantes ilegais é a prática do crime o qual 
envolva a obtenção de vantagem financeira ou material pela entrada ilegal de uma 
pessoa em Estado o qual não seja ela natural ou residente. O comércio de 
migrantes ilegal afeta de maneira direta a quase todos os países do Globo. É uma 
pratica que acaba por comprometer a integridade dos países e que custa milhares 
de vida ao longo dos anos. 
A comercialização ilegal de migrantes, diferentemente do tráfico de pessoas para 
fins se exploração, se dá de forma que na maioria das vezes o próprio indivíduo que 
está a ser contrabandeado (migrante) aceita exercer qualquer tipo de função ou 
serviço, para que assim possa permanecer em outro país. 
“O tráfico de pessoas para fins sexuais, pode ser parcela da indústria do 
sexo, quando vise lucro, promova a escravidão, ou mesmo o abuso 
pornográfico de pessoas. Entretanto, muito do que se denomina de tráfico 
de pessoas não passa de imigração ilegal, distante do cenário sexual”. 
(NUCCI, 2014, p.19) 
Conforme ressalta Rodrigues (2013) existe a possibilidade de a pessoa que está na 
condição de migrante ilegal, vir a ser vítima de outros crimes durante o seu processo 
migratório, alguns como roubos, furtos, violências, abusos, estupros, mas ainda isso, 
não poderá ser configurada a exploração, para fins de tráfico de pessoas, mas sim, 
mero “acidente” de percurso. 
Para Nucci (2013) Errônea é a classificação que muitos fazem de tráfico de pessoas 
para fins sexuais, quando na realidade se trata de atividade criminosa distinta, se 
não a migração de pessoas pobres para os países, onde buscam elas melhores 
 
 
condições de vida. O autor acredita que essa visão distorcida em muito tem a ver 
com o estigma sofrido pela prática da prostituição ainda nos dias de hoje. 
Ainda conforme Nucci, se uma mulher, jovem, solteira, gozando de boa saúde, 
decide por entrar clandestinamente em um outro país buscando uma melhoria de 
vida, logo se deduz que ela irá destinar-se a prática da prostituição e ao comércio 
sexual. O que nem sempre ocorre, pode essa mulher destinar-se a qualquer outro 
tipo de serviço ou atividade, mesmo que estando no novo país de forma ilegal. 
Ademais é preciso esclarecer que mesmo que essa mulher opte pela prática da 
prostituição como meio de sobrevivência ou então o assuma como atividade laboral, 
nem sempre estará ela diretamente conectada a rede de tráfico internacional de 
seres humanos. Uma vez que optou pela prática de forma voluntária, não se 
encontra presa, não sofre violências por parte de traficantes ou qualquer outra 
pessoa que possa deter “poder” sobre ela. 
Dessa forma, importante é perceber as diferenças existentes entre as duas práticas 
que a primeira vista parecem semelhantes, mas que demonstram diferenças 
significativas capazes de não se confundirem. 
Conforme nos traz o Relatório Global da OIT (2005), no tocante ao consentimento, 
no tráfico de pessoas a vítima na maioria das vezes viaja coagida ou então investida 
em erro, de forma a ser o seu consentimento viciado, não tendo ela a mínima noção 
do que está prestes a acontecer em sua vida. Já na comercializaçãode migrantes 
ilegais, a pessoa que é contrabandeada, pagou por aquele tipo de “serviço”, portanto 
o seu consentimento é válido para toda a operação. 
A finalidade do tráfico internacional de pessoas para fins de exploração por exemplo, 
busca basicamente a exploração da vítima seja ela de qualquer natureza, trabalho 
forçado, exploração sexual, entre outros. A exploração tem como objetivo principal o 
ganho de lucro econômico com a vítima, impondo a pessoa traficada a condição de 
objeto, uma mercadoria que pode ou não ser comercializada, vendida à outras 
pessoas, para obtenção de lucro. 
Já no caso do tráfico ou contrabando de migrantes, o objetivo das redes de 
traficantes é o lucro econômico também, mas através do auxílio, a promoção da 
 
 
entrada ilegal da pessoa ao país de sua escolha, mediante o pagamento 
anteriormente combinado entre as partes. 
Não há, portanto, que se confundir as duas práticas, nas palavras do Professor 
português Paulo de Souza Mendes: “é preciso entender que no crime de tráfico 
internacional de pessoas, a pessoa traficada é vítima, ao passo que no tráfico de 
migrantes a pessoa contrabandeada é cliente”. 
 
6.2 Do tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual e da 
prostituição voluntária. 
 
Confunde-se muito a prática do tráfico internacional de pessoas para fins de 
exploração sexual, com a prática da migração de pessoas, em sua maioria mulheres 
jovens, que partem em rumo a países estrangeiros a fim de exercerem a prostituição 
de forma voluntária. 
Nas palavras de Nucci (2013) o tráfico nada mais é do que um comércio, um 
negócio, entretanto, uma vez que se encontra inserido na legislação penal, aufere à 
esta prática um sentido exclusivamente negativo, demonstrativo de ilicitude. Toma-
se por exemplo o tráfico de drogas. 
Segundo o autor, “refere-se o tráfico de pessoas, no campo dos crimes contra a 
dignidade sexual, ao deslocamento de pessoas dentro do território nacional ou deste 
para o exterior, evidenciando conduta que pode explorar ou abusar da boa-fé de 
alguns” (NUCCI, 2013, p.100) . 
Dessa maneira, através da exploração e do abuso da boa-fé destas vítimas, os 
traficantes obtém o lucro financeiro através da prostituição da pessoa, que, exerce a 
prostituição mesmo sem a sua vontade. 
Para Curiel (2011) a prática do tráfico de seres humanos quando tem por objetivo 
principal a escravidão, seja ela de qualquer natureza, independe do consentimento 
da vítima, uma vez que é inviável aceita-lo para gerar uma situação de escravidão, 
justamente por serem os direitos humanos fundamentais irrenunciáveis. 
 
 
Na visão de Jeffreys (2008) o tráfico internacional para fins de exploração é muito 
mais prejudicial, uma vez que, em uma situação de tráfico, tem-se uma vítima que é 
arrancada de seu país, levada a outro totalmente diferente do seu, desconhecendo 
por vezes a língua, a cultura, os costumes e a legislação local, estando longe da 
família e amigos em um ambiente totalmente desconhecido a vítima encontra-se em 
uma situação de vulnerabilidade total, aumentando ainda mais o poder do proxeneta 
sobre ela. É justamente daí que decorre a escravidão, a crueldade, a servidão e a 
exploração que compõem o cenário do tráfico internacional de seres humanos. 
Além da exploração sexual para ganho de lucro econômico, o que agrava ainda 
mais a prática do tráfico é a violência com a qual são tratadas as vítimas, a falta de 
liberdade de escolha e as punições severas e cruéis as quais elas são submetidas 
caso desobedeçam as ordens daqueles a quem estão submetidas. 
[...] os crimes de tráfico de pessoas, quando cometidos com violência, grave 
ameaça ou fraude, deveriam constar da relação dos delitos hediondos. Se 
por um lado, o tráfico consentido, sem qualquer violência, ameaça ou 
fraude, nem mesmo deveria ser criminalizado, a mesma conduta, quando 
cometida de maneira abusiva (violenta, ameaçadora ou fraudulenta), além 
de tipificada, merece ser considerada hedionda. (GONÇALVES, 2010, 
p.191-192) 
Entretanto, sugere Nucci (2013) que existe um certo exagero, uma vez que muitas 
vezes, o que se denomina “tráfico de pessoas”, não passa do auxílio prestado de 
uma pessoa para outra, para que essa, entre em outro território, de maneira 
espontânea e de livre vontade, com o intuito de exercer a prostituição como 
profissão, ou então ingressar na indústria do sexo. Esse tipo de atividade, na maioria 
das vezes é individualmente realizada, a pessoa que se desloca, por vezes 
consegue ajuda de uma única pessoa, ou grupo de amigos, não precisando recorrer 
à organizações criminosas, não passa pela privação de liberdade, não se encontra 
em situação de submissão, divida, servidão e muito menos de exploração. 
Pilar Rodríguez Martínez diz que “o suposto ‘tráfico de pessoas’ constitui, 
claramente, uma das consequências da negativa de permitir que os pobres transitem 
pelo mundo, que se constituam cidadãos do mundo em iguais condições com os 
cidadãos de países ricos”. 
 
 
Muitos classificam como tráfico de pessoas, para fins sexuais, logo, 
atividade criminosa, a migração de pessoas pobre para os países ricos, 
onde buscam melhores condições de vida. A visão é distorcida e faz parte 
do estigma sofrido pela prostituição. Se a mulher é jovem e solteira, deduz-
se, de pronto que sua clandestina viagem a um país rico destina-se ao 
comércio sexual. nem sempre isso é realidade, podendo ser fruto da política 
contrária ao trânsito livre de pessoas pobres por outros lugares do mundo. 
Ademais, mesmo que a mulher siga para outro país buscando a 
prostituição, nem sempre está inserida no tráfico de pessoas, pois segue 
voluntariamente ao seu destino e não é presa, nem violentada e muito 
menos controlada ao chegar no seu ponto de origem. (NUCCI, 2013, p.101) 
Dorchen (2003) traz a seguinte indagação, qual é a relação entre a prostituição e o 
tráfico de pessoas? Ao que o próprio autor explica que, na realidade, aquilo que 
chamamos de tráfico de pessoas não passa de prostituição globalizada. A indústria 
do sexo, que nos dias atuais é uma das mais crescentes, é quem explora o 
transporte de jovens mulheres, (na maioria das vezes) por todos os cantos do 
mundo, lançando-as a prática da prostituição em locais onde suas vítimas tem 
menores condições de resistir a coação por partes dos traficantes e onde há um 
maior número de clientes. 
Para o autor, pouco se tem a prática do tráfico de pessoas se não para a exploração 
sexual e prostituição. Por isso, o tráfico nada mais seria do que outra face da 
prostituição, que devido o fenômeno da globalização é apenas mais uma atividade 
econômica assim como qualquer outra. 
Conforme explica Dolores Juliano (2008), a prostituição ainda nos dias de hoje é 
considerada como um problema social, uma vez que a maioria das pessoas acredita 
que ela só se dá devido a fatores negativos, tais como: desigualdade, falta de 
oportunidade, pobreza, baixa escolaridade, entre outros, o que na realidade não 
passa de preconceitos revestidos de “preocupação social”. 
A pessoa que escolhe exercer a prostituição voluntária, seja em seu pais ou no 
estrangeiro, o faz como bem quer, não sofrendo nenhum tipo de violência, coação, 
não encontra-se em situação de escravidão e muito menos de servidão. Aqui, a 
pessoa expressa livremente a sua liberdade, dispondo do seu corpo da maneira que 
bem desejar, não cabendo ao estado e nem a qualquer outra pessoa a intervir em 
 
 
sua intimidade e poder de escolha, desde que esta não afete a terceiros, o que não 
ocorre no caso da prostituição. 
Eis o liame entre a intervenção mínima e a prostituição, comerciar o sexo, 
entre adultos, nada

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