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Antes de Saussure

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A LINGUÍSTICA ANTES DE FERDINAND DE SAUSSURE – UMA RETOMADA 
HISTÓRICA
Maria da Silva PEIXOTO 1 
maria@uol.com.br
Resumo: Apresenta-se, neste trabalho, uma retomada histórica dos estudos linguísticos 
anteriores à publicação póstuma do Curso de Linguística Geral, considerado o divisor 
de águas dos estudos da linguagem. Esse percurso inicia-se com a descrição fonética e 
gramatical feita pelos hindus, passa pelos estudos linguísticos dos gregos e dos 
romanos, pela Idade Média, pelos estudos da época do Renascimento até o século XVIII 
e finalmente, pelos estudos da linguagem no século XIX. Apesar de serem considerados 
como uma preparação para os estudos linguísticos depois do advento de Curso, esses 
estudos deixam clara uma característica: o estudo das línguas antes de Saussure tinha 
motivações externas à própria língua.
Palavras-chave: Linguística. História. Ferdinand de Saussure. 
Considerações Iniciais
Sabe-se que a linguística, enquanto ciência da linguagem, foi reconhecida a 
partir do suíço Ferdinand de Saussure e da publicação póstuma de seu Curso de 
Linguística Geral (1916). A sua contribuição deu condições efetivas para a construção 
da linguística como uma ciência autônoma. Atualmente pode-se distinguir muitas 
correntes ou escolas linguísticas, mas, segundo Lyons (1979, p.38), “[...] todas elas 
sofreram, em vários graus, direta ou indiretamente a influência do Cours de Saussure”. 
O interesse pelos fatos da linguagem é muito antigo e datam de séculos antes 
da publicação dos escritos de Saussure. Porém, eram realizados estudos assistemáticos e 
irregulares, de acordo com a necessidade de cada povo e de cada cultura. E, conforme 
acentua Weedwood (2002, p.22):
No plano geográfico, é vão tentar ligar todas as tradições lingüísticas 
numa única seqüência cronológica, saltando da Índia à China, à Grécia 
e a Roma, aos povos semíticos e de volta ao Ocidente. Cada tradição 
tem sua própria história e só pode ser explicada à luz de sua própria 
cultura e de seus modos de pensamento. Cada uma tem sua 
contribuição particular a dar à percepção humana da linguagem. 
1 Mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – 
UFMS, Campus de Campo Grande. CEP: 79814340, Dourados-MS, Brasil. 
peixoto.maria@uol.com.br.
A autora ressalta ainda que a tentativa de classificar cronologicamente esses 
estudos seria frustrada, pois eles foram realizados de forma independente e não podem 
ser relacionados historicamente uns com os outros. Deixa claro também que a tradição 
linguística desses povos desenvolveu-se e ainda se desenvolve paralelamente aos 
estudos lingüísticos modernos. Entretanto, no plano temporal, apesar de alguns modos 
de pensamento e de análise da língua se desenvolverem de forma autônoma, outros 
estudos se apresentam de forma sucessiva e com algum efeito cumulativo ou cíclico. 
Diante disso, este trabalho consiste numa rápida de recuperação temporal dos 
estudos mais conhecidos acerca da linguagem e que, anteriores a Saussure, são 
considerados, de acordo com Faraco (2002, p. 28) como “um longo processo 
preparador” para o que viria a ser a linguística a partir das concepções saussurianas. 
Iniciando pela tradição hindu, passando pelas escolas grega e romana, passeando pela 
Idade Média, pelo Renascimento e chegando até o século XIX, pretende-se aqui fazer 
uma rápida retomada desses estudos. 
A tradição hindu
Para que os textos sagrados não sofressem alterações ao serem recitados ou 
cantados nos rituais de sacrifícios indianos, os antigos hindus começaram a estudar a 
língua. Eles se preocuparam em descrever minuciosamente o sistema fonético e 
gramatical dos hinos reunidos no Veda e, segundo Lyons (1979, p.22):
a classificação dos sons da fala feita pelos gramáticos hindus era mais 
detalhada, mais precisa e mais firmemente baseada na observação e na 
experiência do que qualquer outra realizada na Europa, ou em 
qualquer outra parte que saibamos, antes do fim do século XVIII [...]. 
Em sua análise das palavras, os gramáticos hindus foram bem além 
daquilo que se poderia julgar necessário ao seu objetivo original. 
Os gramáticos hindus dedicavam-se ao estudo do valor e do emprego das 
palavras. O mais conhecido deles foi Panini (século IV a. C.). Ele fez uma descrição 
detalhada do sânscrito e sua obra consistiu-se num tratado em quatro mil regras ou 
<sutras>. Mais tarde, este tratado foi explicado por Pantañjali (século II a. C.). Foram 
estes dois que “estabeleceram as bases da gramática normativa do sânscrito, e os 
tratados hindus que surgiram posteriormente nada mais eram que os comentários sobre 
as <sutras de Panini> e sobre o <mahabahabsyja de Pantañjali>” (CÂMARA JR, 1986, 
p.15). Foi estabelecida pelos hindus a distinção de “substantivos” e “verbos”, e também 
daquilo que pode ser chamado de “preposição” e “partícula”, no sânscrito. 
Esses estudos, entretanto, ficaram por muito tempo restritos aos hindus. 
Somente foram descobertos no final do século XVIII. Deve-se considerar também que 
se tratavam de estudos “puramente estáticos, relativos apenas ao sânscrito, efetuados, 
ademais, por homens totalmente desprovidos de senso histórico, de acordo com o gênio 
próprio da Índia” (LEROY, 1967, p.16). Acrescente-se, ainda, que os hindus se 
limitavam a fazer a descrição e a classificação dos fatos lingüísticos sem, no entanto, 
nenhuma explicação ou análise.
Os gregos
Os estudos gregos relacionados à linguagem baseavam-se em origens 
filosóficas bastante fortes. Para os gregos o problema filosófico essencial relativo à 
linguagem era a definição entre a noção e a palavra que a designa.
Lyons (1979, p. 4) destaca que
os filósofos gregos discutiam se o que regia a língua era a “natureza” 
ou a “convenção”. Essa oposição da “natureza” e da “convenção” era 
um lugar-comum da especulação filosófica. Dizer que uma 
determinada instituição era natural equivalia a dizer que ela tinha sua 
origem em princípios eternos e imutáveis fora do próprio homem, e 
era por isso inviolável: dizer que era convencional equivalia a dizer 
que ela era o mero resultado do costume e da tradição, isto é, de algum 
acordo tácito, ou “contra o social”, entre os membros da comunidade 
– “contrato” que, por ter sido feito pelos homens, podia ser pelos 
homens violado.
Essa discussão prolongou-se por vários séculos e dominou todos os estudos 
sobre a origem da língua, além da relação entre as palavras e o seu significado. Com 
isso, surgiram várias investigações etimológicas que instigaram e provocaram outros 
estudos que “pesquisavam a verdadeira natureza de uma palavra, não era a sua forma 
original o que eles buscavam, mas seu sentido original” (WEEDWOOD, 2002, p. 47).
A controvérsia entre “naturalistas” e “convencionalistas” evoluiu, a partir do 
século II a. C., para uma discussão sobre a regularidade da língua e, de acordo com 
Lyons (1979, p. 6):
As palavras gregas para “regularidade” e “irregularidade”, no sentido 
que nos ocupa, eram analogia e anomalia. Daí, os que sustentavam 
que a língua era essencialmente sistemática e regular são chamados 
geralmente analogistas e os que tomavam a posição oposta, 
anomalistas.
O embate entre analogistas e anomalistas nunca foi resolvido em definitivo 
pelos gregos e permanece até os nossos dias. Acrescente-se que essa não foi uma 
disputa obstinada dos dois lados e que já se reconhecia que existiam tanto analogias, 
quanto anomalias, ou seja, que se tratava de uma questão de regularidade ou 
irregularidade da língua e, que ambas ascorrentes contribuíram grandemente para a 
sistematização da gramática grega.
Destaca-se, ainda, que, apesar de ser um povo tão amante da história, os gregos 
não deixaram nenhuma descrição das línguas e dos povos com os quais mantiveram 
contato em suas inúmeras conquistas. Isso se justifica porque, convencidos de sua 
“superioridade intelectual, consideravam com desprezo essas línguas estrangeiras que só 
consentiam em estudar por razões práticas” (LEROY, 1967, p.16).
A língua grega, no entanto, foi muito estudada, principalmente nos 
procedimentos de estilo e de adequação da linguagem ao pensamento. Porém, segundo 
Lyons (1979, p. 10):
A análise particular refletida nas gramáticas escolares do grego estava 
tão longe de ser clara que a sua elaboração exigiu uns seis séculos [...]. 
Além disso, não é essa a única análise possível e, talvez, nem mesmo, 
a melhor. De qualquer modo, não será razoável dizer-se que os modos 
ligeiramente diferentes de descrever a língua, preferidos por alguns 
dos gramáticos gregos sejam necessariamente inferiores àquilo que foi 
afinal padronizado e transmitido à posteridade como a gramática do 
grego.
É inegável que foi bastante importante a contribuição que a gramática grega 
deu aos estudos da linguagem e, que esses estudos, “calcados na Filosofia, abrangeram 
a Etimologia, a Semântica, a Retórica, a Morfologia, a Fonologia e a Sintaxe” 
(CARVALHO, 2000, p.17). Assim como é sabido que eles tinham finalidades práticas. 
Era a gramática voltada para o fazer, para a ação e para a utilização da língua.
Em grego, a distinção dos três gêneros é atribuída a Protágoras (século V a. 
C.), enquanto que Platão distinguiu claramente os “substantivos” e os “verbos”. 
Segundo ele os “substantivos” eram termos que funcionavam nas frases como sujeito de 
um predicado e os “verbos” eram termos que expressavam a ação ou afirmavam a 
qualidade. No diálogo do Crátilo, ele discutia, além de outras coisas, a questão da 
natureza x convenção.
Aristóteles, discípulo de Platão, conservou a distinção em substantivos e verbos 
e acrescentou as conjunções (que designavam todas as outras palavras). Da distinção de 
gênero de Protágoras, ele os classificou em masculino, feminino e neutro (para designar 
nem uma coisa, nem outra). A ele é atribuído, também, o reconhecimento da categoria 
de tempo no verbo grego.
De todas as escolas filosóficas gregas, a que mais se concentrou na língua foi a 
dos estóicos, que eram em sua maioria anomalistas. Consideravam a língua 
fundamental, especialmente para a lógica, mas que incluía o que chamamos de 
epistemologia e retórica, assim como a gramática. Eles fizeram a distinção entre forma e 
significado: o significante e o significado.
Os estóicos mais antigos distinguiam quatro partes do discurso: substantivo, 
verbo, conjunção e artigo, enquanto que os mais novos distinguiam cinco: separavam 
substantivos comuns e substantivos próprios e classificavam o adjetivo com o 
substantivo. Eles também deram ao termo caso o sentido que tem até hoje e 
distinguiram o caso reto do oblíquo.
Quanto aos verbos, os estóicos perceberam o caráter perfeito e imperfeito, 
distinguiram a voz ativa da voz passiva e identificaram os verbos transitivos e 
intransitivos.
Os gramáticos da escola Alexandrina (surgida com a implantação da grande 
biblioteca da colônia grega de Alexandria) continuaram os estudos dos estóicos e foi 
nessa fase que se convencionou o que chamamos hoje de gramática grega. Eles eram 
analogistas e, ainda, estabeleceram métodos ou paradigmas de flexão das regularidades 
da língua. Procuraram estudar a linguagem sob uma perspectiva mais filológica e 
objetivavam estudar os textos dos antigos poetas. Queriam encontrar o “texto original”, 
isso encorajou aquilo que perdura até os nossos dias: a idéia de que a “língua literária” é 
mais pura e mais correta do que a fala coloquial.
Seus trabalhos, segundo Lyons (1979, p.9-10) tinham dupla finalidade: 1- 
estabelecer e explicar a língua dos autores clássicos; 2- preservar o grego da corrupção 
por parte dos ignorantes e iletrados.
No final do século II a. C. foi “publicada” a gramática de Dionísio, da Trácia. 
Nela, acrescentou-se às quatro partes do discurso dos estóicos, o advérbio, o particípio, 
o pronome e a preposição. Essa gramática não se ocupou da sintaxe (que seria estudada 
uns três séculos mais tarde, por Apolônio Díscolo), mas todas as palavras gregas foram 
classificadas segundo as categorias de caso, gênero, número, tempo, voz, modo, etc. 
Os romanos
Os romanos aplicaram ao latim, em linhas gerais, os estudos e os avanços dos 
helenos, porém dando uma perspectiva mais normativa, o chamado de “O Estudo do 
Certo e do Errado”. Acrescente-se a isso que, de acordo com Lyons (1979, p.14):
o fato de serem bastante semelhantes as duas línguas em sua estrutura 
geral, sem dúvida, levou-os a pensar que as várias categorias 
gramaticais que os gregos haviam elaborados – as “partes do discurso” 
[...] eram categorias lingüísticas universais e necessárias.
Os latinos também não se preocuparam com o estudo das línguas com que 
tiveram contato e, segundo Leroy (1967, p. 19):
mesmo a confrontação constante do grego e do latim (em Roma, a 
sociedade culta era, em grande parte, bilíngüe) foi estéril, esforçando-
se os latinos em adaptar servilmente o estudo de sua língua às “regras” 
formuladas pelos teóricos gregos, cujas idéias nada mais faziam senão 
retomar e propagar.
Entre os romanos a controvérsia entre analogistas e anomalistas continuou viva 
e causando discussões. Dentre os estudiosos da língua no Império Romano, pode-se 
destacar Marcos Terêncio Varrão (século II a. C.) autor dos vinte e cinco originais do 
compêndio intitulado De Língua Latina, que apresentava forte influência dos estóicos.
Além de Varrão, pode-se mencionar o retórico Quintiliano (século I d. C.), Elio 
Donato (século IV d. C.) que escreveu a gramática normativa latina Arte Menor e 
Prisciano (século V d. C.). Ressalta-se que a obra desses gramáticos descreviam a 
língua dos clássicos, dos “melhores escritores” e não se preocupavam com a língua do 
seu tempo.
A Idade Média
Na Idade Média, o latim foi a língua mais estudada e expandida, por ser o 
idioma da igreja ocidental. Lyons (1979, p.14) destaca que o latim não “era apenas a 
língua da liturgia e das Escrituras, mas também a língua universal da diplomacia, da 
erudição e da cultura”.
Surgiram, então, vários manuais do latim, considerando que era uma língua 
estrangeira para tantos outros povos e que deveria ser aprendida nas escolas. Esse 
contato com outras línguas e culturas poderia influenciar determinantemente o latim 
mas, como ressalta Leroy (1967, p. 19), isso não aconteceu. Lembre-se aqui que o latim 
era uma língua principalmente escrita e, na medida em que era falada, cada povo e cada 
cultura a “reinventava”, “recriava”, dando-lhe outra sonoridade.
Muitos progressos aconteceram nos estudos gramaticais do latim na época 
medieval e grande parte desses avanços permanece até os dias atuais. A velha 
controvérsia entre analogistas e anomalistas, no entanto, continuou presente. Foi neste 
período, também, que, segundo Leroy (1967, p. 19):
os modistae (nome que lhes vem do título Demodis Significandi dado 
a numerosos tratados) consideravam que existe uma estrutura 
gramatical uma e universal, inerente a todas as línguas, e que, por 
conseguinte, as regras da gramática são, como regras perfeitamente 
independentes das línguas particulares nas quais encontramsua 
realização.
Os estudos sobre a linguagem concentravam-se no latim, mas havia certa 
curiosidade acerca das línguas faladas. Isso se dava, principalmente, por causa do 
avanço do cristianismo e da necessidade de comunicação para a evangelização de outros 
povos. Esse foi, talvez, o embrião daquilo que hoje chamamos “estudo de línguas 
estrangeiras”.
Destaca-se desses estudos a obra De Grammatica latino-saxonica, seguida de 
um glossário ou um Dicionário latino-anglo-saxão. Dentre todos esses trabalhos, é 
necessário lembrar a De vulgari eloquentia e seu autor, Dante. Deve-se a ele muito em 
relação aos estudos da linguagem no período medieval e em sua posteridade.
Da Renascença ao fim do século XVIII
O final do século XV e primeira metade do século XVI é um período de 
grandes transformações. É nessa época que acontece o movimento da Reforma 
religiosa, a que a igreja romana reagiu com a Contra-Reforma e a Inquisição. Acontece 
também uma crise muito grande na visão teocêntrica do mundo, há a ascensão do 
pensamento antropocêntrico e o redescobrimento da arte e da literatura dos antigos 
gregos. Nesse período também se pode perceber, segundo Weedwood (2002, p. 68):
duas abordagens bem diferentes da linguagem: a abordagem 
“particular”, que se concentra nos fenômenos físicos que diferenciam 
as línguas, e se aproxima muito das recém-surgidas ciências 
biológicas em seus métodos e resultados; e a abordagem “universal” 
que, concentrando-se nos princípios subjacentes à linguagem, 
continuou a buscar muito de sua inspiração e de seu método na 
filosofia e especialmente na lógica.
No entanto, segundo Lyons, “língua ainda era a língua da literatura: e a 
literatura quando se tornou objeto de estudos acadêmicos em nossas escolas e 
universidades, continuou a ser a obra do ‘melhores escritores’ que escreviam nos 
gêneros tradicionais” (1967, p. 17).
No século XVII, já se percebia claramente a crescente atenção às línguas 
modernas da Europa e o declínio de valorização do latim. Essa tendência atinge seu 
auge com a publicação da Gramática de Port-Royal, de Lancelot e Arnoud, que 
“demonstra que a linguagem se funda na razão, é a imagem do pensamento e que, 
portanto, os princípios de análise estabelecidos não se prendem a uma língua particular, 
mas servem a toda e qualquer língua” (PETTER, 2002, p. 12).
Essa foi a mais importante corrente do século XVII, surgindo daí o esforço de 
comparar línguas e classificá-las de acordo com suas identidades, ganhando cada vez 
mais destaque, os estudos históricos da linguagem.
E, como assegura Câmara Jr. (1986, p. 26) “no começo do século XVIII esta 
corrente comparatista ganhou mais consistência e segurança”. O caminho para uma 
ciência linguística, propriamente dita, está aí sendo preparado com o reforço dos 
estudos históricos e comparativos da linguagem. 
A linguística do século XIX
O conhecimento e a aceitação de um maior número de línguas vai 
provocar, no século XIX, o interesse por aquelas que estavam sendo utilizadas, as 
chamadas línguas vivas. Weedwood (2002, p. 103) afirma que:
a mais extraordinária façanha dos estudos lingüísticos do século XIX 
foi o desenvolvimento do método comparativo, que resultou num 
conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam ser 
sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos, 
estrutura gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que era 
“genealogicamente” aparentadas.
A descoberta do sânscrito, no final do século XVII, foi o principal mote 
para que se chegasse a esses estudos comparados, pois foi percebida uma semelhança 
bastante significativa do sânscrito com o grego e com o latim.
A partir daí, vários estudos foram surgindo nesse viés comparatista das 
línguas. Jakob Grimm, por exemplo, “demonstrou na segunda edição de sua gramática 
comparativa do germânico, que havia diversas correspondências sistemáticas entre os 
sons do germânico e os sons do grego, do latim e do sânscrito em palavras de sentido 
semelhante” (WEEDWOOD, 2002, p. 104)
O diplomata alemão Wilhelm von Humboldt destacou o vínculo entre 
línguas nacionais e caráter nacional, além de formular a teoria sobre a forma “interna” e 
“externa” da língua, ainda dizia, segundo Leroy (1967, p. 47) que
a linguagem é o órgão criador do pensamento [...]. Acreditava que a 
forma interna da linguagem [...] é um constituinte fundamental do 
espírito humano e que cada forma da linguagem pode pois ser 
considerada como uma caracterização do povo que a fala [...] 
acalentava a esperança de poder colocar a mentalidade e a língua de 
um povo em relação tão íntima que bastaria que uma fosse dada para 
que se pudesse deduzir a outra.
Havia nisso um esboço de uma psicologia das raças cujas 
conseqüências Humboldt certamente não previra; sabe-se como essa 
concepção de uma estreita relação entre a raça e a língua resvalou 
insensivelmente do terreno científico [...] para o terreno de uma 
filosofia da História assaz nebulosa, quando o Conde de Gobineau 
dela fez um dos fatores de sua não célebre “desigualdade das raças”, 
para rebaixar-se enfim ao papel de justificação pseudocientífica das 
criminosas teorias racistas da Alemanha nazista.
Como se sabe, as línguas mudam, evoluem e, de acordo com Weedwood 
(2002, p. 109), “a principal realização dos lingüistas do século XIX não foi apenas 
perceber mais claramente do que seus antecessores a ubiqüidade da mudança 
lingüística, mas também colocar sua investigação científica em base mais sólida por 
meio do método comparativo”.
Franz Bopp é outro estudioso que se destaca nessa linha, Petter salienta 
que “a publicação, em 1816, de sua obra sobre o sistema de conjugação do sânscrito, 
comparado ao grego, ao latim, ao persa e ao germânico é considerada o marco do 
surgimento da lingüística histórica” (2002, p. 12)
Outro estudioso que deve ser destacado nesta fase é Augusto Schleicher, 
botânico que gostava de distinguir o linguista do filólogo. Comparava o aquele ao 
naturalista – que abarca o conjunto de organismos vegetais; e este ao jardineiro – que se 
preocupa com a estética e as espécies desses vegetais. Considerava, segundo Leroy 
(1967, p.34) que as línguas são organismos naturais e, como tal, nascem, crescem, se 
desenvolvem, envelhecem e morrem. Essa concepção, deve-se acrescentar, evidencia 
uma forte referência à teoria da evolução das espécies, de Darwin, que começava a ser 
mais divulgada naquela época.
Considerações Finais
Neste texto procurou-se fazer uma retomada histórica dos mais conhecidos 
estudos referentes à linguagem antes da publicação da obra póstuma de Ferdinand de 
Saussure, o Curso de Lingüística Geral. Esses estudos são importantes porque se 
constituem numa preparação para aquilo em que a linguística se transformaria a partir 
de Saussure: uma ciência autônoma.
Destacou-se que os hindus se ocupavam da descrição do sistema fonético e 
gramatical de sua língua com o objetivo de que seus textos sagrados não sofressem 
modificações ao serem entoados nos rituais religiosos. 
Já os gregos estudavam a linguagem com a intenção de estabelecer a língua dos 
clássicos e manter aquilo que consideravam como superioridade em relação aos outros 
povos, a sua cultura. Entre os gramáticos gregos a grande discussão era a de se a língua 
era um produto da natureza ou de uma convenção. Essa controvérsia persistiu e evoluiu 
para outra oposição: analogia e anomalia– embate que não foi resolvido por aqueles 
estudiosos.
Entre os romanos o objetivo dos estudos da linguagem não eram outros senão a 
manutenção do latim diante das línguas dos povos por eles conquistados. Percebe-se 
que os romanos também se ocupavam da descrição da língua dos clássicos, em 
detrimento da língua efetivamente falada pelo povo.
Na Idade Média, os estudos lingüísticos objetivavam a evangelização tanto no 
que se referia à manutenção do latim como língua oficial da igreja, quanto à necessidade 
de comunicação entre os romanos e outros povos para que a fé cristã fosse difundida.
Com a chamada Reforma Religiosa essa postura foi modificada e a língua 
estudada passa a ser aquela dos melhores escritores, dos clássicos. No século XVII, 
como declínio do latim, cresce a atenção às línguas de outros povos, surgindo a 
comparação entre línguas.
No século XIX é que o interesse pelas línguas vivas se estabelece mais 
efetivamente. Os estudos comparativos ganham novo fôlego com a descoberta do 
sânscrito e de suas semelhanças com outras línguas.
Com esta retomada histórica, procurou-se destacar a contribuição do Curso de 
Linguística Geral, aos posteriores estudos acerca da linguagem, pois antes dele os 
estudos sobre os fenômenos linguísticos, mesmo tendo sua importância, sempre tiveram 
motivações externas à própria língua. Somente a partir de Ferdinand de Saussure é que a 
língua por si mesma passa a ser objeto de estudo de linguistas e de estudiosos da 
linguagem. 
Referências Bibliográficas
CÂMARA Jr., Joaquim Matoso. História da lingüística. Trad. Maria do Amparo 
Barbosa de Azevedo. Petrópolis: Vozes, 1986.
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. 
Petrópolis: Vozes, 2000. 
FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussurianos. In: MUSSALIN, Fernanda e 
BENTES, Anna Cristina (Orgs.). Introdução aos estudos lingüísticos, volume 3: 
fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2002.
LEROY, Maurice. As grandes orientações da lingüística moderna. São Paulo: Cultrix, 
1974.
LYONS, John. Introdução à lingüística teórica. São Paulo: Edusp, 1979.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua, lingüística. In: FIORIN, José Luiz (org.). 
Introdução à lingüística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. 
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da lingüística. Trad. Marcos Bagno. São 
Paulo: Parábola Editorial, 2002.

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