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Capítulo 5 CAPACITORES 5.1 Capacitor Elementar Os capacitores são componentes largamente utilizados desde pequenos circuitos eletrônicos até grandes sistemas elétricos. Portanto, existem capacitores com formatos e tamanhos variados. Assim, para um estudo inicial, será adotado um capacitor bastante simples denominado de capacitor elementar, onde não existe perda de generalidade, pois toda a análise de funcionamento permanece válida para qualquer tipo de capacitor. O capacitor elementar é composto basicamente por duas placas condutoras denominadas armaduras que são separadas entre si por um isolante, denominado dielétrico (fig 5.1). De cada armadura deriva um terminal. terminal armadura dielétrico (a) (b) Figura 5.1 - Capacitor: (a) constituição elementar, (b) símbolos usuais. De forma genérica, pode-se dizer que a função do capacitor é armazenar cargas elétricas. Na figura 5.2, está sendo considerado que o capacitor está descarregado. Nesta situação a carga positiva é igual à carga negativa em cada armadura, ou seja, a carga total em cada armadura é nula. Assim, para este caso, a diferença de potencial (tensão) entre as armaduras é nula. 92 Análise de Circuitos I ++ + + + + + + ++ + + + + + + q=0 q=0 v c =0 Figura 5.2 - Capacitor descarregado. Ligando-se os terminais do capacitor a uma fonte de corrente contínua, como mostra a figura 5.3, o pólo negativo da fonte atrai cargas positivas da placa inferior. Como a tensão da fonte é constante, tem-se que para cada carga positiva que chega no negativo da fonte corresponde uma carga positiva que sai do pólo positivo da fonte em direção a placa superior. Figura 5.3 - Carregamento do capacitor. À medida que saem cargas positivas da placa inferior e chegam cargas positivas na placa superior, a carga de cada armadura deixa de ser nula. A armadura superior fica com excesso de cargas positivas, portanto, com polaridade positiva e a armadura inferior fica com excesso de cargas negativas, logo, com polaridade negativa. Assim, surge uma diferença de potencial (tensão) entre as armaduras do capacitor. A tensão entre as armaduras do capacitor cresce até igualar a tensão da fonte de corrente contínua. Quando isto ocorre o capacitor fica carregado. O movimento de cargas elétricas de uma armadura para a outra, através da fonte, constitui a corrente de carga do capacitor. Lembre-se que nesta apostila adota-se ++ + + + + + + ++ + + + + + + +q -q Vc > 0 ++ V R + Capítulo 5 – Capacitores 93 o sentido convencional da corrente, ou seja, considera-se o movimento de cargas positivas. Devido à existência do dielétrico (isolante entre as armaduras), a corrente de carga não atravessa o capacitor, ela vai de uma armadura para outra através da fonte. O intervalo de tempo decorrido no crescimento da tensão desde zero até igualar a tensão da fonte é o que se denomina de tempo de carga do capacitor. Este assunto será tratado com detalhes na seção 5.5. Uma vez carregado, o capacitor mantém a tensão entre os seus terminais constante, mesmo que ele seja desconectado da fonte. A tensão existente entre armaduras de um capacitor dá origem a um campo elétrico (E) que, por convenção, é orientado da armadura positiva para a armadura negativa (figura 5.4). Este campo elétrico está associado à energia armazenada pelo capacitor. ++ + + + + + ++q -q E Figura 5.4 – Campo elétrico entre as armaduras do capacitor. 5.2 Características Nominais de Capacitores Um capacitor é especificado em função de várias características: capacitância, tensão de trabalho, tolerância e tipo de dielétrico. 5.2.1 Capacitância (C) A capacitância é a capacidade de armazenar cargas elétricas e pode vir escrita diretamente no corpo do capacitor ou representada indiretamente através de códigos. Considere-se um capacitor ligado diretamente a uma fonte ajustável de corrente contínua, de modo que a tensão no capacitor é igual à tensão da fonte. Com a tensão da fonte igual a zero, nenhuma carga é armazenada no capacitor. Aumentando-se gradativamente a tensão da fonte, observa-se que a carga armazenada cresce proporcionalmente à tensão (figura 5.5). 94 Análise de Circuitos I Figura 5.5 - Relação entre a tensão aplicada e a carga armazenada no capacitor. A capacitância é uma constante, definida matematicamente pela razão entre a carga armazenada (q) e a tensão aplicada (V): V3 q3 V2 q2 V q constante C V q C (5.1) A carga referida é a carga de apenas uma armadura porque a carga total das duas armaduras é nula. A unidade de capacitância é obtida a partir da Equação 5.1: )F(Farad )V(Volt )C(Coulomb )V(u )q(u )C(u O Farad é uma unidade muito grande, de modo que se utilizam bastante as subunidades como micro, nano e pico Farad, onde: 1 F= 1.10-6 F 1 nF = 1.10 -9 F 1 pF = 1.10 -12 F Existem diversos valores comerciais de capacitância. Os valores mais comuns são múltiplos e submúltiplos das seguintes décadas: 10, 12, 15, 18, 22, 27, 33, 47, 56, 68, 75, 82 e 91. Capítulo 5 – Capacitores 95 A capacitância não existe apenas no capacitor. Ela está presente sempre que houver materiais condutores separados por um isolante, como por exemplo: entre dois cabos paralelos, entre espiras de uma bobina, entre um cabo de uma linha de transmissão e a terra, etc. Porém, em alguns casos ela é desprezível, não sendo levada em consideração em cálculos. Para medição de capacitância são utilizados os capacímetros e as pontes de capacitância. Fatores que influem na capacitância de um capacitor de placas paralelas Pode-se demonstrar que a capacitância de um capacitor de placas paralelas é definida por: d S C (5.2) Nesta equação, tem-se que: C = capacitância (F); S = área de cada placa (m 2 ); d = distância entre as placas (m); = permissividade do dielétrico (F/m). Para descrever o significado físico da permissividade é necessária uma análise microscópica do dielétrico, estudando o comportamento das moléculas do dielétrico sob a presença do campo elétrico. Este não é o objetivo no momento, portanto, a permissividade será considerada, resumidamente, apenas como uma constante de cada tipo de dielétrico. Porém, pode-se explorar o conceito de permissividade relativa. A permissividade relativa é a relação entre a permissividade absoluta do material dielétrico e a permissividade absoluta do vácuo, ou seja, ela indica quantas vezes a permissividade do dielétrico é maior do que a permissividade absoluta do vácuo. A permissividade absoluta do vácuo é expressa por: m/F10.85,8 120 . Assim, obtém-se a seguinte relação: 96 Análise de Circuitos I 0 r (5.3) Tem-se nesta equação que: r = permissividade relativa (sem unidade); = permissividade absoluta do dielétrico (F/m); 0 = 8,85.10 -12 F/m.. A tabela 5.1 apresenta os valores de permissividade relativa de alguns materiais utilizados como dielétricos de capacitores. Tabela 5.1 – Permissividades Relativas Material r Ar 1,0006 Óxido de alumínio 8,8 Mica 5,4 Polietileno 2,26 Polipropileno 2,25 Polistireno 2,53 5.2.2 Tensão nominal A tensão nominal, também denominada tensão de trabalho ou tensão de isolação, indica a máxima tensão que pode ser aplicada ao capacitor sem danificá-lo. Depende da rigidez dielétricado isolante e da distância entre as armaduras. A rigidez dielétrica de um isolante é a máxima tensão que pode ser aplicada por unidade de comprimento do material, geralmente expressa em kV/cm ou kV/mm, sem que ocorra sua ruptura. Quando este limite é excedido, ocorre uma descarga elétrica e a isolação cessa de modo que o material passa conduzir a corrente elétrica. Se uma tensão maior do que a tensão nominal for aplicada no capacitor, o dielétrico poderá ser perfurado por um arco elétrico e entrar em curto-circuito. Capítulo 5 – Capacitores 97 A tensão nominal pode vir escrita diretamente no corpo do capacitor ou representada através de códigos. 5.2.3 Tolerância A tolerância indica a faixa na qual pode estar o valor real da capacitância. Por exemplo, em um capacitor de 100F com tolerância de 5 %, a capacitância estará compreendida entre 95F e 105F. É conveniente observar a tolerância ao se substituir um capacitor, para se evitar que o funcionamento do circuito fique alterado. A tolerância pode ser apresentada pelo fabricante escrita diretamente no corpo do capacitor, representada através de código de cores ou ainda representada através de letras (tabela 5.2). Tabela 5.2 - Tolerância F 1% H 2,5% J 5% K 10% M 20% 5.2.4 Tipo de dielétrico Os capacitores podem ser classificados de diversas maneiras. Porém, a forma mais comum e que dá o nome ao capacitor é segundo o tipo material utilizado como dielétrico. O dielétrico e as armaduras podem ser enrolados (bobinados) ou dispostos em várias camadas. Assim, os capacitores podem apresentar os mais variados aspectos físicos (tubular, plano, etc). Na tabela 5.3 são apresentados os tipos mais comuns de capacitores e as respectivas faixas de capacitância e tensão. Não será dado destaque a aplicação de cada um, porque neste adiantamento do curso o aluno ainda não tem um conhecimento abrangente de circuitos eletrônicos e sistemas elétricos. Fica a sugestão para o aluno 98 Análise de Circuitos I questionar o professor quanto ao tipo de capacitor e a razão de seu uso toda vez que este componente for apresentado em um circuito ou sistema. Tabela 5.3 – Características dos tipos mais comuns de capacitores Tipo de capacitor Capacitância nominal Tensão nominal Polaridade Cerâmico pF – nF V – kV não Plástico nF - F V – kV não Eletrolítico de Alumínio F – mF V sim Eletrolítico de Tântalo nF - F V sim Os capacitores cerâmicos utilizam algum tipo de material cerâmico como dielétrico. As armaduras podem ser placas metálicas ou uma tinta condutora que é aplicada na cerâmica. O conjunto recebe um revestimento isolante. São capacitores apolares, isto é, podem trabalhar em tensões contínuas ou alternadas. As tensões nominais podem atingir altos valores (até poucas unidades de kV). Devido à permissividade relativamente baixa, são fabricados para baixas capacitâncias (até poucas unidades de F). A capacitância varia com a temperatura, sendo que o coeficiente de temperatura pode ser positivo ou negativo, dependendo do tipo de cerâmica. Na maioria dos casos, a capacitância expressa no corpo do capacitor é referida a uma temperatura de 20 o C. Se a capacitância cresce ao aumentar a temperatura que o capacitor está submetido, então o coeficiente de temperatura é dito positivo. Se o aumento da temperatura implica em diminuição da capacitância, o coeficiente de temperatura é dito negativo. A variação de capacitância é função do material utilizado como dielétrico. Os capacitores plásticos utilizam um material plástico como dielétrico. Os mais comuns são o poliéster, o polipropileno e o poliestireno, podendo ser construídos metalizados ou não-metalizados. Os não-metalizados são constituídos por lâminas de alumínio isoladas por tiras de plástico. Os capacitores metalizados são constituídos por um dielétrico de filme plástico em cuja superfície é depositada, por um processo de vaporização, uma finíssima camada de alumínio com espessura de 0,02 a 0,05 m. Capítulo 5 – Capacitores 99 A metalização traz duas vantagens: - Maior capacitância em relação aos não-metalizados de mesmas dimensões; - Auto-regeneração. No caso de uma sobretensão que perfure o dielétrico, a camada de alumínio existente ao redor do furo é submetida a uma elevada temperatura, transformando-se em óxido de alumínio (material isolante) desfazendo então o curto- circuito. Desse modo, as falhas no dielétrico podem ser efetivamente isoladas. A auto- regeneração é praticamente instantânea. Os capacitores plásticos são apolares, possuem alta estabilidade de capacitância com a variação da temperatura, baixa sensibilidade à umidade e são fabricados com capacitâncias na faixa de 1nF a algumas dezenas de F com tensões nominais que podem chegar a 1600 V em capacitores para aplicações específicas. Eles também possuem baixíssima corrente de fuga, que é a corrente que circula no dielétrico devido à resistência finita do mesmo. Se existisse um dielétrico ideal (resistência infinita), não existiria corrente de fuga. Os capacitores eletrolíticos podem possuir o dielétrico de óxido de alumínio ou óxido de tântalo, ambos materiais isolantes. De modo geral, os capacitores eletrolíticos são polarizados, ou seja, só podem ser utilizados em circuitos de corrente contínua e deve-se atentar para a polaridade no momento da conexão. Porém, existem alguns capacitores eletrolíticos especiais, utilizados em motores monofásicos, que suportam a corrente alternada por algum tempo. A grande vantagem do capacitor eletrolítico em relação aos outros é a sua alta capacitância específica, ou seja, grande valor de capacitância em volume reduzido em relação aos demais capacitores. A figura 5.6 apresenta os símbolos utilizados para o capacitor eletrolítico. Figura 5.6 – Capacitor eletrolítico. 100 Análise de Circuitos I 5.3 Relação entre tensão e corrente no capacitor A relação entre tensão e corrente é uma característica importante dos componentes elétricos. Sabe-se que para os resistores a relação é dada pela lei de Ohm (I=V/R). A seguir, apresenta-se o desenvolvimento da relação entre tensão e corrente para capacitores. A carga armazenada no capacitor é determinada pela tensão aplicada e pela capacitância: CVq (5.4) Se a tensão for variada, a carga varia proporcionalmente a esta variação: VCq (5.5) onde a variação de tensão é dada por V e a variação de carga é dada por q . Sabe-se que: t q Imd tIq md (5.6) onde mdI é o valor médio da corrente no intervalo t . Substituindo-se (5.6) em (5.5) e isolando-se a corrente, obtém-se: t V CImd (5.7) A Equação 5.7 pode ser apresentada de uma forma genérica. Embora esta forma requeira um conhecimento básico de cálculo diferencial, que é um assunto abordado no terceiro grau, pode-se desenvolver uma análise simplificada adequada a Capítulo 5 – Capacitores 101 cursos técnicos. Tomando-se um intervalo de tempo infinitamente pequeno (infinitesimal), tendendo para zero, tem-se um valor médio de corrente num intervalo de tempo praticamente nulo em torno de um instante de tempo qualquer. Este valor é denominado de valor instantâneo. Existe uma variação de tensão “dv” associada a este intervalo infinitesimal “dt”. Assim, a Equação 5.7 pode ser expressa por: dt dv Ci (5.8) onde, i = corrente instantânea; dt dv = taxa de variaçãoda tensão. A Equação 5.8 mostra que só há corrente no capacitor quando houver uma variação da tensão nos seus terminais. Se a variação da tensão é positiva, a corrente também é positiva, o que indica que o capacitor está carregando. Se a variação da tensão é negativa, a corrente também é negativa, o que indica que o capacitor está descarregando. Pode-se concluir ainda que: se o capacitor é ligado a uma fonte de corrente contínua, após o intervalo de carga ou de descarga, ou seja, em regime permanente, ele se comporta como um circuito aberto para a fonte, de modo que não há circulação de corrente no circuito. se o capacitor é alimentado em corrente alternada, ele permanece carregando e descarregando periodicamente. Isto significa que a tensão nos terminais de um capacitor não varia instantaneamente, ou seja, ele não carrega instantaneamente nem descarrega instantaneamente. Em outras palavras, a energia armazenada no campo elétrico do capacitor não pode variar instantaneamente, pois uma variação instantânea de energia representa potência infinita. A partir deste momento pode-se dar uma nova definição para capacitância: Capacitância é a oposição à variação da tensão (inércia da tensão). Exemplo 5.1: Considere que a tensão nos terminais de um capacitor de C=1F varia no tempo conforme mostra a figura 5.7. Pede-se: a) determine a taxa de variação da tensão em cada intervalo; 102 Análise de Circuitos I b) represente graficamente a corrente no capacitor em função do tempo; c) indique os intervalos de tempo em que ocorre carga e descarga do capacitor. Figura 5.7 – Tensão e corrente no capacitor do Exemplo 5.1. 5.4 Associação de Capacitores Os capacitores podem ser ligados em série ou paralelo com o objetivo de obter as capacitâncias e/ou tensões não existentes comercialmente ou momentaneamente não disponíveis. 5.4.1 Associação em série A associação série está representada na figura 5.8. +q -q +q -q +q -q +q -q C 1 C 2 C 3 C n V + _ V 1 V 2 V 3 V n Figura 5.8 - Capacitores em série. Capítulo 5 – Capacitores 103 A associação série de capacitores apresenta as seguintes características: a) A carga armazenada é igual em todos os capacitores. n321 q...qqq (5.9) b) A tensão em cada capacitor é inversamente proporcional à capacitância. 1 1 C q V , 2 2 C q V , 3 3 C q V e n n C q V (5.10) c) A soma das tensões nos capacitores é igual à tensão da fonte. n321 V...VVVV (5.11) d) A capacitância equivalente é calculada pela Equação 5.13, cuja dedução é desenvolvida a seguir. Substituindo-se (5.10) em (5.11), obtém-se: n321eq C q ... C q C q C q C q (5.12) Como a carga é igual em todos os capacitores, tira-se que: n321eq C 1 ... C 1 C 1 C 1 C 1 (5.13) 104 Análise de Circuitos I Casos Especiais: a) Apenas dois capacitores associados em série: 21 21 CC CC Ceq b) Todos os capacitores associados em série têm o mesmo valor de capacitância: série em scapacitore de número o é scapacitore dos um de valor o é onde n C n C Ceq 5.4.2 Associação em paralelo A associação em paralelo está representada na figura 5.9. C 1 C 2 C 3 C n +q 1 -q 1 +q 2 -q 2 +q 3 -q 3 +q n -q n V + _ Figura 5.9 - Capacitores em paralelo. A associação de capacitores em paralelo apresenta as seguintes características: a) A tensão é igual em todos os capacitores. VV...VVV n321 (5.14) b) A carga em cada capacitor é diretamente proporcional à capacitância; VCq 11 , VCq 22 , VCq 33 e VCq nn (5.15) Capítulo 5 – Capacitores 105 c) A carga total é igual à soma das cargas armazenadas nos capacitores. n321 q...qqqq (5.16) d) A capacitância equivalente é calculada pela Equação 5.18, cujo desenvolvimento é apresentado a seguir. Substituindo-se (5.15) em (5.16), obtém-se: VC...VCVCVCVC n321eq (5.17) Como a tensão é igual em todos os capacitores, tira-se que: n321eq C...CCCC (5.18) 5.5 Constante de Tempo RC Através da constante de tempo determina-se o tempo de carga ou descarga do capacitor. Considere-se que, no circuito da figura 5.10, o capacitor está inicialmente descarregado e a chave está na posição “0”. R CV 0 1 2 Figura 5.10 - Circuito para carga e descarga do capacitor. Quando a chave é deslocada para a posição “1”, no instante t=0s, o capacitor começa a carregar-se e a tensão nos seus terminais vai crescendo até igualar à tensão da 106 Análise de Circuitos I fonte. Pode-se demonstrar que a tensão cresce exponencialmente, segundo a seguinte expressão: )e1(Vv RC t c (5.19) onde, cv = tensão no capacitor no instante de tempo t, ou seja, tensão instantânea (V); V = tensão da fonte (V); R = resistência elétrica(); C = capacitância (F); t = instante de tempo considerado (s). O termo “RC” da Equação 5.19 tem a dimensão de tempo e é denominada de constante de tempo (, letra grega tau). Assim, por definição: RC (5.20) Pode-se demonstrar que o produto RC tem a dimensão de tempo da seguinte forma: u ()=u(R)u(C)=Ohm.Farad=(Volt/Ampère).(Coulomb/Volt) u ()=u(R)u(C)=coulomb/Ampère=segundo (s) A Equação 5.19 pode ser reescrita como: )e1(Vv t c (5.21) A tensão no capacitor é função do tempo que, por sua vez, pode ser expresso em função da constante de tempo. A seguir são apresentados os valores de tensão para diversos instantes de tempo. Capítulo 5 – Capacitores 107 Para t=1, tem-se: V%2,63V632,0)368,01(V)e1(V)e1(Vv 1c . Para t=2, tem-se: V%5,86V865,0)135,01(V)e1(V)e1(Vv 2 2 c . Para t=3, tem-se: V%95V95,0)0498,01(V)e1(V)e1(Vv 3 3 c . Para t=4, tem-se: V%2,98V982,0)0183,01(V)e1(V)e1(Vv 4 4 c . Para t=5, tem-se: V%3,99V993,0)00674,01(V)e1(V)e1(Vv 5 5 c . Baseando-se nos resultados acima, pode-se representar graficamente a tensão no capacitor em função do tempo (figura 5.11). As seguintes conclusões são obtidas da figura 5.11: 1 a ) A constante de tempo é definida como o tempo necessário para a tensão no capacitor atingir 63,2% da tensão da fonte, durante o processo de carga. 2 a ) Em um intervalo de tempo equivalente a cinco constantes de tempo (5) a tensão no capacitor fica praticamente igual à tensão da fonte, ou seja, o capacitor fica quase que totalmente carregado. Assim, o tempo de carga ( ct ) do capacitor pode ser determinado de forma prática por RC55t c (5.22) Figura 5.11 – Tensão no capacitor em função do tempo durante o processo de carga. 108 Análise de Circuitos I A corrente no circuito pode ser obtida em função da queda de tensão sobre o resistor, utilizando a Lei de Ohm. Durante o processo de carga, a queda de tensão no resistor ( rv ) é igual à diferença entre a tensão da fonte ( V ) e a tensão no capacitor( cv ): cr vVv (5.23) Assim, a corrente pode ser determinada em cada instante de tempo por: R vV R v i cr (5.24) A curva da corrente de carga em função do tempo é dada pela figura 5.12. Observa-se que a corrente é máxima em t = 0s e chega a zero quando o capacitor está totalmente carregado. Figura 5.12 – Corrente no capacitor em função do tempo durante o processo de carga. Capítulo 5 – Capacitores 109 Considere-se agora que a chave é comutada para a posição “2”, com o tempo zerado novamente (t=0s). Nesta situação, a fonte é desconectada do restante do circuito e os terminais do capacitor são conectados nos terminais do resistor. O capacitor passa a comportar-se como uma fonte, alimentando o resistor. Isto quer dizer que o capacitor passa a descarregar a sua energia sobre o resistor que, por sua vez, transforma irreversivelmente esta energia em calor. À medida que o capacitor se descarrega, a sua tensão diminui exponencialmente, segundo a seguinte forma: t c Vev (5.25) A figura 5.13 mostra o comportamento da tensão em função do tempo durante o processo de descarga. Figura 5.13 – Tensão no capacitor em função do tempo durante o processo de descarga. 110 Análise de Circuitos I Observa-se que, transcorrido um intervalo de tempo correspondente a uma constante de tempo, a tensão no capacitor atinge 36,8% da tensão da fonte. Também se verifica que após um intervalo de cinco constantes de tempo a tensão nos terminais do capacitor torna-se praticamente nula. Portanto, o tempo de descarga ( dt ) pode ser expresso como: RC55td (5.26) Agora, a corrente em cada instante de tempo depende da tensão no capacitor e da resistência, resultando em: R v R v i cr (5.27) Figura 5.14 – Corrente no capacitor em função do tempo durante o processo de descarga. No instante da comutação para a posição “2”, o capacitor ainda está totalmente carregado e, portanto, a tensão é máxima. Desta forma, produz-se corrente máxima e em sentido contrário à corrente de carga. Transcorrido um tempo de cinco constantes de Capítulo 5 – Capacitores 111 tempo, a tensão chega a zero e cessa a corrente de descarga. Nesta situação o capacitor está totalmente descarregado. 5.6 Experimentos Experimento 5.1 Título: Princípio de funcionamento do capacitor Material necessário: - Fonte de alimentação eletrônica ajustável; - Capacitor eletrolítico de 1000F/35V; - Voltímetro DC 30V; - Lâmpada piloto de 12V/100mA. Roteiro 1 – Ajuste a tensão da fonte para 15V, usando o voltímetro. 2 – Desligue a fonte e monte o circuito abaixo. VV L C ATENÇÃO PARA A POLARIDADE DO CAPACITOR ELETROLÍTICO 3 – Ligue a fonte, observando com atenção o comportamento da lâmpada e do voltímetro. 4 – Anote a leitura final do voltímetro: vc=_______V. 5 – Sem desligar a fonte, desconecte os dois terminais do circuito que estão ligados na fonte e interligue-os, observando a lâmpada e o voltímetro. Anote conclusões. 112 Análise de Circuitos I Experimento 5.2 Título: Teste do capacitor com Multiteste Material necessário: - Multiteste; - Capacitores diversos. Roteiro 1 – Leia o texto a seguir. Para se testar um capacitor pode-se utilizar um multiteste na escala de resistência (como ohmímetro). O circuito equivalente simplificado de um ohmímetro está representado na figura 5.16. Figura 5.16 - Teste do capacitor com multiteste. No esquema, o tracejado envolve os componentes internos do multiteste: a fonte de corrente contínua representa a bateria interna B; G é o galvanômetro, ou seja, o mecanismo de deflexão do ponteiro; a chave seletora representa as escalas de resistência (Rx1,Rx10,Rx100). Os procedimentos para execução do teste são os seguintes: 1 o ) descarregar o capacitor; Capítulo 5 – Capacitores 113 2 o ) selecionar a escala de ohms; 3 o ) encostar as ponteiras do multiteste nos terminais do capacitor; 4 o ) Interpretar o resultado. Se o ponteiro deflexiona em direção a resistência zero e retorna a para resistência infinita, o capacitor está em bom estado. Se o ponteiro deflexiona para resistência zero e permanece nesta posição, o capacitor está em curto-circuito. Se o ponteiro não deflexiona, o capacitor está aberto. Obs.: Procure uma escala adequada no multiteste. Para capacitâncias muito baixas utilize escalas de alta resistência interna, e vice-versa, para ajustar o tempo de carga do capacitor (tempo de movimento do ponteiro). 2 – Selecione alguns capacitores e teste cada um deles. Descreva o tipo de capacitor e a situação do mesmo. Capacitor Estado Experimento 5.3 Título: Identificação de capacitores Material necessário: - Capacitores plásticos com código de cores; - Capacitores cerâmicos de disco; - Capacitores de mica com código de cores; - Cabos. Roteiro 1 – Leia o texto a seguir sobre capacitores cerâmicos. “A capacitância de capacitores cerâmicos é representada por um código de três números: o primeiro número representa o 1 o algarismo significativo; o segundo número 114 Análise de Circuitos I representa o 2 o algarismo significativo; o terceiro número representa o multiplicador (número de zeros a direita); a unidade é o pF. A tolerância vem indicada a seguir (ver Tabela 5.2). A tensão nominal vem a seguir (63 Vcc, 100Vcc).” 2 – Tomando a informação acima como referência, identifique os capacitores cerâmicos selecionados para este experimento. Código Especificação 3 - Alguns capacitores de poliéster metalizado têm suas características nominais representadas através de código de cores (figura 5.17). 1 o algarismo 2 o algarismo 3 o algarismo tolerância Tensão Preto 0 0 20 % Marrom 1 1 0 Vermelho 2 2 00 250 V Laranja 3 3 000 Amarelo 4 4 0000 400 V Verde 5 5 00000 Azul 6 6 630 V Violeta 7 7 Cinza 8 8 Branco 9 9 10 % Figura 5.17 Código de cores Capítulo 5 – Capacitores 115 1 a faixa: primeiro algarismo significativo do valor da capacitância 2 a faixa: segundo algarismo significativo do valor da capacitância 3 a faixa: número de zeros a acrescentar (multiplicador) 4 a faixa: tensão nominal - O valor capacitivo indicado pelas três primeiras faixas é dado em picofarads. - Ouro na quarta faixa representa 5%. 4 – Identifique os capacitores de poliéster selecionados. Cores Especificação 5 - Os capacitores de mica podem ter suas características nominais representadas através de pintas coloridas. A seta representa que a leitura deve ser feita em sentido horário. O valor dado é em picofarad. 1 a pinta Uso 2 a pinta 1 o algarismo 3 a pinta 2 o algarismo 4 a pinta n o de zeros 5 a pinta Tolerância 6 a pinta Classe Preto Militar 0 0 - 20% A Marrom - 1 1 0 1% B Vermelho - 2 2 00 2% C Laranja - 3 3 000 3% D Amarelo - 4 4 0000 - E Verde - 5 5 00000 5% F Azul - 6 6000000 - - Violeta - 7 7 0000000 - - Cinza - 8 8 00000000 - - Branco Civil 9 9 00000000 10% - 116 Análise de Circuitos I Obs.: - Cor do corpo na 5 a pinta representa 20%. - As classes estão descritas ao lado - Cálculo da variação na capacitância alminnotC 1000000 temp.coef C 6 – Identifique os capacitores de mica selecionados. Cores das pintas Especificação 7. Confira a identificação dos capacitores menores que 1μF utilizando o Medidor LC de nosso laboratório. Classe Res. de isolação (maior que) coef. de temp. (menor que) A 3000 M 1000 ppm/C B 6000 M 500 ppm/C C 6000 M 200 ppm/C D 6000 M 100 ppm/C E 6000 M 100 ppm/C F 6000 M 70 ppm/C Capítulo 5 – Capacitores 117 Experimento 5.4 Título: Carga e descarga de capacitores Material necessário: - Fonte de alimentação eletrônica ajustável; - Resistor de 22kΩ/1W; - Voltímetro DC 30V; - Capacitor eletrolítico de 1000F/25V; - Miliamperímetro 1mA; - Cronômetro. Roteiro 1- Ajuste a tensão da fonte para 22V. Use o voltímetro de 30V. 2- Desligue a fonte e monte o circuito abaixo. Atenção para a polaridade do capacitor eletrolítico. 22V 22kΩ 1000pF 3- Verifique se o cronômetro está zerado. 4- Ligue a fonte e, simultaneamente, dispare o cronômetro. Anote a corrente em cada instante de tempo, completando a tabela abaixo. Tempo (s) 0 22 44 66 88 110 132 Corrente (mA) 118 Análise de Circuitos I 5- Represente graficamente a corrente no circuito em função do tempo. 6- Meça a tensão nos terminais do capacitor após o tempo de carga: vc=___________. 7- Calcule, com a lei de Ohm, a queda de tensão no resistor em cada instante de tempo. Tempo (s) 0 22 44 66 88 110 132 VR=Ri (V) 8- Com base nos valores da tensão da fonte e da queda de tensão no resistor, calcule a tensão no capacitor em cada instante de tempo. Tempo (s) 0 22 44 66 88 110 132 vc=V- VR (V) i (mA) 44 66 88 110 22 0,5 t (s) 132 Capítulo 5 – Capacitores 119 9- Represente graficamente a tensão no capacitor em função do tempo. 10- Anote conclusões. 11- Com o capacitor totalmente carregado, inverta os terminais do amperímetro. 12- Desconecte os terminais do circuito que estão ligados na fonte de alimentação e interligue-os, de modo a descarregar o capacitor e possibilitar a medição da corrente durante a descarga. Tempo (s) 0 22 44 66 88 110 132 Corrente (mA) 13- Trace os gráficos de tensão do capacitor e de corrente no circuito durante a descarga e anote conclusões. 16 18 14 12 10 t (s) V (V) 22 20 44 66 88 110 22 132 120 Análise de Circuitos I a) b) V (V) 44 66 88 110 22 132 20 22 18 16 14 12 10 t (s) 44 66 88 110 22 132 -0,2 -0,1 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7 t (s) i (mA) -0,8 -0,9 -1,0 Capítulo 5 – Capacitores 121 5.7 Exercícios 1. Represente o capacitor elementar e indique o nome dos componentes. 2. Descreva o fenômeno físico de carregamento do capacitor. 3. Cite quatro características principais para a correta especificação de um capacitor. 4. Represente em um mesmo gráfico a relação entre a tensão aplicada e a carga armazenada em cada armadura para dois capacitores diferentes. Baseando-se neste gráfico compare as capacitâncias, explicando qual dos capacitores possui maior capacitância. 5. Execute as seguintes conversões: a) 10 000 pF nF F b) 560 nF F pF c) 120 000 pF F nF d) 0,47 F pF nF e) 330 pF nF F 6. Quais são os fatores construtivos que determinam a capacitância de um capacitor de placas paralelas? 7. Entre as armaduras de um capacitor de placas paralelas e com dielétrico de ar são inseridas folhas de mica. O que acontece com a capacitância? Justifique. 8. Um capacitor possui um dielétrico de cerâmica em forma de disco com 0,5 cm de diâmetro e 0,521mm de espessura. O disco é revestido em ambas as faces com prata, sendo este revestimento as armaduras do capacitor. Considerando um valor igual a 7,5 para a permissividade relativa da cerâmica, calcule a capacitância. R ta. :2,5pF 122 Análise de Circuitos I 9. Quais são os fatores construtivos que determinam a tensão nominal de um capacitor? 10. A figura abaixo mostra tensão aplicada a um capacitor de 8F em função do tempo. Represente graficamente a corrente no capacitor, identificando os intervalos de carga e de descarga. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 t (ms) 12 v c (V) 11. Complete a frase abaixo. O capacitor se comporta como _________________ para correntes contínuas e como __________________ para correntes alternadas. 12. Assinale a afirmativa errada. Observa-se que existe capacitância: a-( ) entre os cabos de uma linha de transmissão. b-( ) entre os pólos de uma chave fechada. c-( ) entre as espiras de uma bobina. 13. Determine a capacitância total entre os terminais A e B do circuito abaixo. C 1 =7F C 2 =4F C 3 =2F C 4 =8F C 5 =5F C 6 =6F C 7 =3F C 8 =1F A B R ta. : 2,48F. Capítulo 5 – Capacitores 123 14. Calcule a tensão em cada capacitor no circuito mostrado a seguir. C 1 =300pF C 3 =1200pF C 2 =120pF C4=800pF300V R ta. : V1=200V; V2=100V; V3=40V; V4=60V. 15. Qual o significado físico da constante de tempo de um circuito RC série? Qual a sua relação com o tempo de carga ou de descarga de um capacitor? 16. Um circuito série é formado por uma fonte CC. de 120 V, um resistor de 40k e um capacitor de 50F (inicialmente descarregado). Em t=0s a fonte é ligada. Pede-se: a) representar graficamente a tensão no capacitor em função do tempo; b) representar graficamente a corrente no capacitor em função do tempo. Observação: construa os gráficos em uma folha de papel milimetrado. 17. Considere que um capacitor de 100F está carregado com uma tensão de 80 V. Em t=0s este capacitor é ligado a um resistor de 40k. Pede-se: a) representar graficamente a tensão no capacitor em função do tempo; b) representar graficamente a corrente no capacitor em função do tempo. Observação: construa os gráficos em uma folha de papel milimetrado. 124 Análise de Circuitos I
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