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EXTENSÃO DO DIREITO À SAÚDE

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EXTENSÃO DO DIREITO À SAÚDE 
Poliane Cardoso da Silva 
	
1 INTRODUÇÃO 
A saúde esta assegurada na Constituição Federal como um direito de todos. O artigo 196 dispõe que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). 
Sendo assim, a saúde passou a ser um direito público subjetivo, bem jurídico constitucionalmente protegido e assegurado. Ao poder público cabe formular e implementar políticas sociais e econômicas que garantam aos cidadãos o acesso universal e igualitário à assistência médico hospitalar. 
É importante ressaltar que o texto constitucional dedicou à disciplina da saúde uma seção inteira que organiza a atividade estatal para sua concretização com base nos princípios da universalidade e igualdade de acesso, integralidade de atendimento, descentralização administrativa, complementaridade da prestação privada e participação da comunidade (MÂNICA, 2015). 
Considerando o direito à saúde como prestação positiva do estado e a importância da sua devida abrangência, o presente trabalho constitui-se de um compilado a respeito da extensão do referido direito, apresentação assim os temas: Vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, saúde do trabalhador, fornecimento de medicamentos, tratamento médico no exterior e cirurgia plástica reparadora. 
Cada temática apresentada dispõe de forma sucinta acerca do contexto envolvendo criação de cada instituto ou departamento, os objetivos, atuação, regulamentação, bem como conceituações pertinentes e as finalidades. O intuito é apresentar o tema ressaltando os tópicos mais importantes, proporcionando uma visão geral ao leitor. 
2 DESENVOLVIMENTO 
2.1 Vigilância sanitária 
A vigilância sanitária é uma das mais antigas práticas de Saúde Pública do mundo moderno e suas ações estão historicamente associadas ao processo de regulação, monitoramento e fiscalização. 
	No Brasil, o SNVS é organizado e estruturado nos três níveis de governo – federal, estadual e municipal – com responsabilidades compartilhadas. No nível federal, estão a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). A Anvisa representa uma autarquia com autonomia administrativa e financeira[5], e coordena os trabalhos pela construção de uma Política Nacional de Vigilância Sanitária, conforme estabelecido no artigo 2º da Lei nº. 9.782/1999. No nível estadual, estão o órgão de vigilância sanitária e o Laboratório Central (Lacen) de cada uma das 27 Unidades da Federação. No nível municipal, estão os serviços dos 5561 municípios brasileiros, muitos dos quais ainda em fase de organização.
	A Vigilância Sanitária e seus agentes públicos são detentores do chamado "Poder de Polícia", que os permite realizar determinados atos administrativos, como a fiscalização, a autuação, e a interdição de estabelecimento irregulares, de modo a garantir a segurança adequada para a população, com base em um conjunto de normas legais estabelecidos pela legislação.
	A Vigilância Sanitária possui a missão de promover e proteger a saúde da população por meio de estratégias e ações integradas e articuladas de coordenação, normatização, capacitação, educação, informação, apoio técnico, fiscalização, supervisão e avaliação em Vigilância Sanitária. Atua em um conjunto de ações para eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente da população e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
	Com sua ação comunicativa busca mobilizar e motivar a população a aderir as práticas sanitárias que estimulam mudanças de comportamento, formação da consciência sanitária e a promoção da saúde.
	Estabelece os parâmetros necessários à saúde pública, regulando os processos e produtos que interferem na saúde das pessoas e quando necessário usa o poder de polícia sanitária por meio da fiscalização e do monitoramento, aplicando infrações e intimações, interditando estabelecimentos, apreendendo produtos e equipamentos, entre outras ações.
2.1.1 Atuação da Vigilância Sanitária 
Nos locais de produção, transporte e comercialização de alimentos.
Bares, restaurantes, mercados, frutarias, açougues, peixarias, frigoríficos, indústrias e rotulagem de alimentos, transportadoras, embaladoras, importadoras, exportadoras e armazenadoras de alimentos, etc.;
 Nos locais de produção, distribuição, comercialização de medicamentos, produtos de interesse para a saúde.
Farmácias, drogarias, perfumarias, saneantes, produtos de higiene, produtos hospitalares (indústria, comércio e rotulagem) importadora, exportadora, distribuidora, transportadora, armazenadora de medicamentos, cosméticos e saneantes.
Nos locais de serviços de saúde
Hospitais, clínicas médicas e odontológicas, laboratórios, asilos, presídios, profissionais de saúde, etc..
No meio ambiente
Controla a qualidade da água, ar, solo, saneamento básico, calamidades publicas, transporte de produtos perigosos, monitora os ambientes que causam danos à saúde, entre outros.
Nos ambientes e processos do trabalho/saúde do trabalhador
Identificação e intervenção dos locais de trabalho das pessoas como lojas, fábricas, transportes, escritórios, etc.
Na pós-comercialização
Investiga situações que envolvem reações adversas a medicamentos, sangue e produtos para saúde, intoxicação por produtos químicos, etc.
 
Nos projetos de arquitetura
Analisa projetos de construção, reforma, adaptação ou ampliação no que interfere na saúde das pessoas, em residências, hospitais, clínicas, fábricas, escolas, etc.
Em locais públicos
Shoppings, cinemas, clubes, óticas, postos da gasolina, estádios, piscinas, escolas, cemitérios, salões de beleza, portos, aeroportos, áreas de fronteira, entre outros.
2.1.2 Dimensões inerentes à prática de Vigilância Sanitária
A dimensão política: como uma prática de saúde coletiva, de vigilância da saúde, instrumento de defesa do cidadão. Situa-se em campo de conflito de interesses, pois prevenir ou eliminar riscos significa interferir no modo de produção econômico-social. Essa é sua dimensão política, relacionada ao propósito de transformação ou mudança desses processos em benefício, a priori, da população. Contudo, os entraves serão maiores ou menores dependendo, de um lado, do grau de desenvolvimento tecnológico dos setores produtores e prestadores, de suas consciências sanitárias ou mercantilistas, e, de outro, da concreta atuação e consciência dos consumidores.
A dimensão ideológica, que significa que a vigilância deverá responder às necessidades determinadas pela população, mas enfrenta os fatores sociais com diferentes projetos e interesses.
A dimensão tecnológica, referente à necessidade de suporte de várias áreas do conhecimento científico, métodos, técnicas, que requerem uma clara fundamentação epidemiológica para seu exercício. Nessa dimensão está incluída sua função de avaliadora de processos, de situações, de eventos ou agravos, expressa através de julgamentos a partir da observação ou cumprimento de normas e padrões técnicos e de uma consequente tomada de decisão.
 A dimensão jurídica, que a distingue das demais práticas coletivas de saúde, conferindo-lhe importantes prerrogativas expressas pelo seu papel de polícia e pela sua função normatizadora. A atuação da Vigilância Sanitária tem implicações legais na proteção à saúde da população, desde sua ação educativa e normativa, estabelecendo obrigatoriedade ou recomendações, até seu papel de polícia, na aplicação de medidas que podem representar algum tipo de punição. Assentada no Direito sanitário, sua atuação se faz no plano do jurídico, o que significa que qualquer tomada de decisão afeta esse plano. Por isso suas ações devem ser corretamente embasadas em leis. Torna-se imprescindível para aqueleque exerce a ação o conhecimento dos instrumentos processuais, das atribuições legais e responsabilidades.
2.2 Vigilância Epidemiológica 
As primeiras intervenções no campo da prevenção e controle de doenças, desenvolvidas sob bases científicas modernas, datam do início do século XX e foram orientadas pelo avanço da era bacteriológica e pela descoberta dos ciclos epidemiológicos de algumas doenças infecciosas e parasitárias. Essas intervenções consistiram na organização de grandes campanhas sanitárias com vistas ao controle de doenças que comprometiam a atividade econômica, a exemplo da febre amarela, peste e varíola. As campanhas valiam-se de instrumentos precisos para o diagnóstico de casos, combate e vetores, imunização e tratamento em massa com fármacos, dentre outros. O modelo operacional baseava-se em atuações verticais, sob forte inspiração militar, e compreendia fases bem estabelecidas- preparatória, de ataque, de consolidação e de manutenção. (Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saude, 2007). 
A expressão vigilância epidemiológica passou a ser utilizada para designar, a observação sistêmica e ativa de casos suspeitos de casos suspeitos ou de confirmação de doenças transmissíveis bem como de seus contatos. A utilização dessa expressão se deu portanto na década de 50, na campanha de erradicação da malária e consistia no isolamento de pessoas, bem como a colocação das mesmas em quarentena e eram aplicadas individualmente.
Na década de 60, logo após à instituição do programa de vacinação em massa da população, houve a criação do programa de erradicação da varíola que em muito contribuiu para a instituição da vigilância epidemiológica. Simultaneamente a esse programa houve a disseminação da aplicação de novos conceitos que se firmavam no âmbito internacional e não se vinculavam à prévia realização de uma fase de ataque. Almejava -se, por meio da procura ativa de casos de varíola, a detecção precoce de surtos e o bloqueio imediato da transmissão de doença. Essa método foi primordial para o êxito da erradicação da varíola em escala global e deu base para a organização de sistemas nacionais de vigilância epidemiológica. (Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saude, 2007)
 Da 21ª Assembleia Mundial de Saúde realizado em 1968, a vigilância epidemiológica foi o principal assunto debatido, ocasião esta em que se deu a abrangência do conceito, que possibilitava aplicação a variados problemas de saúde pública, além das doenças transmissíveis, a exemplo das malformações congênitas, envenenamentos na infância, leucemia, abortos, acidentes, doenças profissionais, comportamentos como fatores de risco, riscos ambientais, utilização de ativos, dentre outros.
No entanto, apenas com a Campanha de Erradicação da Varíola(CEV)- 1966-73- se dá o marco inicial da institucionalização das ações de vigilância em saúde no Brasil, tendo havido com isso o fomento e o apoio por parte da organização das unidades de vigilância epidemiológica na estrutura das secretárias de saúde estaduais. A Fundação de Serviços de Saúde Pública( FSESP), baseada na modelo da CEV, organizou em 1969, um sistema de notificação semanal de doenças e passou a disseminar informações pertinentes em um boletim epidemiológico de circulação quinzenal. Tal método inspirou a consolidação, nos âmbitos nacionais e estaduais, de bases técnicas e operacionais que permitiram o futuro desenvolvimento de ações de impacto no controle de doenças evitáveis por imunização. O principal êxito relacionado a esse esforço foi o controle da poliomielite no Brasil na década de 1980, que abriu perspectivas para a erradicação da doença no continente americano, finalmente alcançada em 1994. (Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saude, 2007).
Por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1975, o Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio de legislação específica ( Lei nº 6.259/75 e Decreto nº 78.231/76). Esses instrumentos legais tornaram obrigatória a notificação de doenças transmissíveis selecionadas, constantes da relação estabelecida por portaria. Em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manual de Vigilância Epidemiológica, reunindo e compatibilizando as normas técnicas então utilizadas para a vigilância de cada doença, no âmbito de programas de controle específicos. (Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saude, 2007)
O autal Sistema Único de Saúde ( SUS) incorporou o SNVE, definindo em seu texto legal( Lei nº 8080/90) a vigilância epidemiológica como um “ conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Além de ampliar o conceito, as ações de vigilância epidemiológica passaram a ser operacionalizadas num contexto de profunda reorganização do sistema de saúde brasileiro, caracterizada pela descentralização de responsabilidades e integralidade da prestação de serviços. (Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saude, 2007)
Desta feita, as mudanças significativas no perfil epidemiológico das populações, no qual se aufere uma diminuição dos índices de mortalidade por doenças parasitárias e infecciosas e crescente aumento das mortes por causas de doenças crônico degenerativas, tem propiciado a discussão da incorporação de doenças e agravos não transmissíveis ao escopo de atividades da vigilância epidemiológica 
2.2.1 Objetivos da Vigilância Epidemiológica 
A vigilância Epidemiológica, tem, como escopo, dar informações técnicas permanente para os agentes de planejamento e execução de ações de controle de doenças e agravos. Para subsidiar esse trabalho, deve disponibilizar orientações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos seus fatores determinantes, em uma área geográfica ou população determinada. (Enfermagem e Saúde, 2011)
A vigilância epidemiológica constitui-se ainda, em importante instrumento para o planejamento, organização a operacionalização dos serviços de saúde, como também para a normatização de atividades técnicas correlatas. (Enfermagem e Saúde, 2011)
Sua operacionalização compreende um ciclo completo de funções específicas e inter complementares que devem ser, necessariamente, desenvolvidas de modo contínuo, de modo a possibilitar conhecer, a cada momento, o comportamento epidemiológico da doença ou agravo que se apresente como o alvo das ações, para que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia.
2.2.3 Funções da Vigilância Epidemiológica
São funções da vigilância epidemiológica:
• Coleta de dados;
•Processamento de dados coletados;
•Análise e interpretação dos dados processados;
•Recomendação das medidas de controle apropriadas;
•Promoção das ações de controle indicadas;
•Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
•Divulgação de informações pertinentes.
 Todos os níveis dos sistemas de saúde têm atribuições de vigilância epidemiológica, compreendendo o conjunto das funções mencionadas. Quanto mais eficientemente essas funções forem realizadas no nível local, maior será a oportunidade com que as ações de controle tenderão a ser desencadeadas. Além disso, a atuação competente no nível local estimulará maior visão do conjunto nos níveis estadual e nacional, abarcando o amplo espectro dos problemas prioritários a serem enfrentados, em diferentes situações operacionais. Ao mesmo tempo, os responsáveis técnicos no âmbito estadual e, com maior razão, no federal, poderão dedicar-se a seletivamente a questões mais complexas, emergenciais ou de maior extensão, que demandem a participação de especialistas e centros de referência , inclusive de nível internacional.
2.2.4 Coleta de dados e informações
 O cumprimento das funções de vigilância epidemiológica depende da disponibilidade de informações quesirvam para subsidiar o desencadeamento de ações. A qualidade da informação, por sua vez, depende da adequada coleta de dados gerados no local onde ocorre o evento sanitário( dado coletado). É também nesse nível que os dados devem primariamente ser tratados e estruturados, para que então venham a se transformar em informação, que assim passa a ser um relevante instrumento, com capacidade para estabelecer um processo dinâmico de planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das ações. (Enfermagem e Saúde, 2011)
A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. A força e valor da informação( o dado analisado) dependem da qualidade e fide- dignidade com que o mesmo é gerado. Para isso, faz-se necessário que os responsáveis pela sua geração estejam bem preparados para diagnosticar corretamente o caso, como também para realizar uma boa investigação epidemiológica, e fazer registros claros e objetivos destes e outros dados de interesse para que possam refletir a realidade da forma mais fidedigna possível. A representatividade do dado gerado, em função do problema existente, também é outra característica que garante sua qualidade. Assim é necessário que a gerência local do sistema obtenha, com regularidade e oportunidade, dados do maior número possível de outras fontes geradoras, como ambulatórios ou hospitais sentinelas localizados nesse nível ou em sua periferia. (Enfermagem e Saúde, 2011)
O envio do dado, para os diversos níveis , deverá ser suficientemente rápido para permitir o desencadeamento oportuno de ações, particularmente quando for necessário que estas sejam desenvolvidas por um outro nível.
É importante salientar que o fluxo, a periodicidade e o tipo de dado que interessa ao sistema de vigilância, estão relacionados às características de cada doença ou agravo. Os fluxos de informações, nos Estados e Municípios, estão sendo profundamente alterados em função da reorganização do sistema de saúde. Entretanto, tem se tido o cuidado de evitar solução de continuidade na coleta, repasse e armazenamento de dados.
Tipos de dados: Os dados e informações que alimentam o Sistema de Vigilância Epidemiológica são os seguintes: Dados demográficos, socioeconômicos e ambientais: permitem quantificar a população e gerar informações sobre suas condições de vida: número de habitantes e características de sua distribuição, condições de saneamento, climáticas, ecológicas, habitacionais e culturais. (Enfermagem e Saúde, 2011)
Dados de morbidade: Podem ser obtidos mediante a notificação de casos e surtos, de produção de serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigação epidemiológica, de busca ativa de casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre outras formas. (Enfermagem e Saúde, 2011)
Dados de mortalidade: São obtidos através das declarações de óbitos, processadas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade. Mesmo considerando o sub registro, que é significativo em algumas regiões do país, e a necessidade de um correto preenchimento das declarações, trata-se de um dado que assume importância capital entre os indicadores de saúde. Esse sistema está sendo descentralizado, objetivando o uso imediato dos dados pelo nível local de saúde. (Enfermagem e Saúde, 2011).
Notificação de surtos e epidemias: A detecção precoce de surtos e epidemias ocorre quando o sistema de vigilância epidemiológica local está bem estruturado, com acompanhamento constante da situação geral de saúde e da ocorrência de casos de cada doença e do agravo de notificação. Essa prática possibilita a constatação de qualquer indício de elevação do número de casos de uma patologia, ou a introdução de outras doenças não incidentes no local e, consequentemente, o diagnóstico de uma situação epidêmica inicial, para a adoção imediata das medidas de controle. Em geral, deve se notificar esses fatos aos níveis superiores do sistema, para que sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração quando necessário. (Enfermagem e Saúde, 2011). 
Notificação: É a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. (Enfermagem e Saúde, 2011).
2.3 Saúde do trabalhador 
2.3.1 Conceito
 A Saúde do Trabalhador é uma área técnica da Saúde Pública que busca intervir na relação entre o sistema produtivo e a saúde, de forma integrada com outras ciências da saúde, que visa à preservação da saúde dos trabalhadores, com uma visão de prevenção, curativa, reabilitação de função e readaptação profissional.
Cerca de 45% da população mundial e cerca de 58% da população acima de 10 anos de idade faz parte da força de trabalho. O trabalho desta população sustenta a base econômica e material das sociedades que por outro lado são dependentes da sua capacidade de trabalho. Desta forma, a saúde do trabalhador e a saúde ocupacional são pré-requisitos cruciais para a produtividade e são de suma importância para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável.
De acordo com a OMS, os maiores desafios para a saúde do trabalhador atualmente e no futuro são os problemas de saúde ocupacional ligados com as novas tecnologias de informação e automação, novas substâncias químicas e energias físicas, riscos de saúde associados a novas biotecnologias, transferência de tecnologias perigosas, envelhecimento da população trabalhadora, problemas especiais dos grupos vulneráveis (doenças crônicas e deficientes físicos), incluindo migrantes e desempregados, problemas relacionados com a crescente mobilidades dos trabalhadores e ocorrência de novas doenças ocupacionais de várias origens.
A saúde do trabalhador e um ambiente de trabalho saudável são valiosos bens individuais, comunitários e dos países. A saúde ocupacional é uma importante estratégia não somente para garantir a saúde dos trabalhadores, mas também para contribuir positivamente para a produtividade, qualidade dos produtos, motivação e satisfação do trabalho e, portanto, para a melhoria geral na qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade como um todo.
2.3.2 Finalidade
 	Promover um meio ambiente laboral hígido e livre de doenças e acidentes decorrentes do trabalho, melhorando as condições de trabalho e minimizando as consequências prejudiciais é contribuir na formação de uma sociedade que promova a saúde preventiva através dos espaços de trabalho.
 
2.3.3 Visão
Visa à redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, através de ações de promoção, reabilitação e vigilância na área de saúde. Compreendem a atenção integral à saúde, a articulação intra e intersetorial, a participação popular, o apoio a estudos e a capacitação de recursos humanos.
 
2.3.4 Objetivo 
Prevenir e diminuir riscos e doenças relacionadas ao ambiente de trabalho, através de medidas como fiscalização e promoção de eventos técnicos.
 	As ações de vigilância em saúde do trabalhador são desenvolvidas, de forma que o objeto de análise passe a se constituir em objeto de pesquisa e investigação ao longo do tempo, como preconiza a Portaria nº 3120.
 	A organização das informações, realização de assistência, fiscalização do ambiente de trabalho e municipalização fazem parte do processo de Vigilância em Saúde do Trabalhador.
2.3.5 Princípios e Diretrizes
A Vigilância em Saúde do Trabalhador pauta-se nos princípios do Sistema Único de Saúde, e, dadas as peculiaridades da área, pode ter acrescidas outras diretrizes plenamente compatíveis e que são resumidos da seguinte forma. Universalidade, Integralidade, Descentralização,  Controle social, Intersetorialidade, Interdisciplinaridade, Pesquisa-intervenção.
 
2.3.6 Políticas de Saúde do Trabalhador
I. Sobre as doenças relacionadas ao trabalho
Portaria nº 1.339/GM, de 18 de novembro de 1999 Instituti a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, a ser adotada como referência dos agravos originados no processo de trabalho no Sistema Único de Saúde, para uso clínico e epidemiológico, constanteno Anexo I desta Portaria.
II. Vigilância e a saúde do trabalhador
Portaria nº 3.120, de 1º de julho de 1998
Aprovar a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, na forma do Anexo a esta Portaria, com a finalidade de definir procedimentos básicos para o desenvolvimento das ações correspondentes. Regulamenta a NOB SUS 01/96 no que se refere às competências da União, estados e municípios e Distrito Federal, na área de Vigilância em Saúde, define a sistemática de financiamento e dá outras providências.
 
III. Cerest regional ( portaria 2437/2005)
Principais ações:
Implantação em unidades de saúde de serviços para tratamento dos agravos relativos à saúde do trabalhador;
Fiscalização do ambiente e das condições de trabalho para a proteção da saúde do trabalhador;
Promoção de eventos técnicos sobre saúde do trabalhador;
Estudos e pesquisas sobre agravos à saúde do trabalhador. 
 
IV. Vigilância em saúde do trabalhador – sus lei 8080/90 
"um conjunto de atividades que se destina, por meios das ações da Vigilância Epidemiológica e Vigilância Sanitária, a promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho" (Art. 6°, § 3°).’’
  
Todo e qualquer trabalhador tem direito ao registro do acidente de trabalho e da doença ocupacional no SINAN/SUS seja ele autônomo, informal, rural ou outros.
 
V. CAT – Comunicação de acidentes de trabalho
Em casos de acidente de trabalho e doença ocupacional, o trabalhador possui o direito a ter o registro na Previdência Social através do preenchimento da Comunicação de Acidentes de Trabalho – CAT – em 24 horas.
O preenchimento da CAT é responsabilidade da empresa. Deve ser emitida em 6 vias. Em caso de recusa, o serviço de saúde pode emitir a CAT e mesmo o próprio trabalhador pode preencher o impresso, que é encontrado em sindicatos e até mesmo em papelarias.
 	A CAT garante que o acidente seja reconhecido como decorrente do trabalho em qualquer etapa da vida do trabalhador. Mas apenas os trabalhadores com carteira de trabalho assinada ou os que contribuem para a Previdência Social estão obrigados a emitir. As notificações são devolvidas para os municípios sob a forma de boletim e auxiliam no planejamento das fiscalizações e das ações de assistência.
 
2.3.7 A Saúde do Trabalhador no Brasil
 	Em vigor desde 2004, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde visa à redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, mediante a execução de ações de promoção, reabilitação e vigilância na área de saúde.
 	Suas diretrizes, descritas na Portaria nº 1.125 de 6 de julho de 2005, compreendem a atenção integral à saúde, a articulação intra e intersetorial, a estruturação da rede de informações em Saúde do Trabalhador, o apoio a estudos e pesquisas, a capacitação de recursos humanos e a participação da comunidade na gestão dessas ações.
 	A Renast é uma das estratégias para a garantia da atenção integral à saúde dos trabalhadores. Ela é composta por Centros Estaduais e Regionais de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) - ao todo, até outubro de 2009, 178 unidades espalhadas por todo o País - e por uma rede de 1.000 serviços sentinela de média e alta complexidade capaz de diagnosticar os agravos à saúde que têm relação com o trabalho e de registrá-los no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-NET).
 	Os Cerest recebem recursos financeiros do Fundo Nacional da Saúde, de R$ 30 mil para serviços regionais e R$ 40 mil para as unidades estaduais, para realizar ações de prevenção, promoção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e vigilância em saúde dos trabalhadores urbanos e rurais, independentemente do vínculo empregatício e do tipo de inserção no mercado de trabalho. 
2.3.8 Legislação Básica em Saúde do Trabalhador
Constituição da República Federativa do Brasil
Art. 200 - Ao Sistema Único de Saúde, compete, além de outras atribuições, nos termos da lei.
 II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; 
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
Lei nº 8080/90 
 	Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. No seu artigo 6º, parágrafo 3º, regulamenta os dispositivos constitucionais sobre Saúde do Trabalhador.
Portaria Nº 1.271, DE 6 de junho de 2014
 	Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências.
Portaria Nº 1.984, DE 12 de setembro de 2014
 	Define a lista nacional de doenças e agravos de notificação compulsória, na forma do Anexo, a serem monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas diretrizes.
Portaria Nº 1.206, de 24 de outubro de 2013
 	Altera o cadastramento dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES).
Portaria Nº 1.378, de 9 de julho de 2013 - Sistema Nacional de Vigilância em Saúde 
 	Regulamenta as responsabilidades e define diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativos ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.
Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012
Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
2.4 fornecimento de medicamento
O Brasil tem hoje um dos maiores sistemas integrado de saúde do mundo, conforme dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. Constantemente, a União, os Estados e os Municípios estão sendo acionados pelos beneficiários para dar cumprimento a inúmeros processos relacionados ao fornecimento de medicamentos de elevado custo, bem como a realização de procedimentos cirúrgicos de alta e média complexidade, além do fornecimento de todo tipo de suplemento alimentar.
É certo que a população vive com um déficit crescente não apenas financeiro, como de recursos de saúde e de alimentos, entretanto, apesar do Poder Público ser responsável constitucionalmente pela garantia dos princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana, bem como ser responsável pela erradicação da pobreza e a marginalização (arts 1º e 3º da CF), não há como ele arcar com todos os problemas e solucioná-los de plano. É imprescindível que se observe o princípio da reserva do possível, vez que não existem recursos financeiros infinitos para solucionar todos os problemas da sociedade. 
A CF/88 inovou no âmbito dos direitos sociais: o acesso de todos à saúde. Os arts. 196 a 200 da Constituição, delimitam as diretrizes a serem seguidas pelo Poder Público na instauração do SUS. Após quase dois anos do advento da Constituição, foi editada a Lei 8.080, de 19/09/1990, que regulamentou a prestação do serviço de saúde. Este serviço passou a ser tratado como um “direito fundamental prestacional, exigindo, com isso, ações positivas dos poderes públicos”. Tais ações tem como objetivo o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde.
O art. 6º, I, d, da Lei 8.080/90, que instituiu o fornecimento de medicamentos não garante ao cidadão toda a assistência terapêutica necessária. Ao contrário, o texto legal limita os medicamentos a serem fornecidos pelo Estado àqueles que constarem em lista bienal elaborada pelo SUS. É nesse momento que surge, uma grande controvérsia na doutrina e na jurisprudência: é constitucional limitar o fornecimento público de medicamentos, ou o Estado deve garantir acesso integral a toda a população?
Essa resposta é de extrema importância não só para a promoção de um direito social previsto na Constituição Federal, como também para o planejamento de despesas públicas, que pode vir a ser severamenteprejudicada por decisões judiciais que determinem fornecimento de medicamentos não previstos pela Administração.
O art. 6º, I, d, do referido diploma legal estabelece que uma das atribuições do SUS é a assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. Esta assistência, por sua vez, é detidamente regulamentada pelo art. 19-M e seguintes da mesma lei, que determinam, entre outros, que somente os medicamentos incluídos nas listas elaboradas pelos órgãos do SUS deverão ser fornecidos. Portanto, o SUS, seria obrigado a garantir os tratamentos previstos nesses protocolos, com o consequente fornecimento dos medicamentos correspondentes, em prejuízo de outros que pudessem existir. E é justamente na limitação legal ao fornecimento exclusivo dos medicamentos constantes em listas oficiais que reside o maior ponto de controvérsia deste serviço, uma vez que muitas pessoas entendem que a CF garante através do Estado todo tratamento de saúde necessário ao indivíduo, independente de normas específicas regulando tal serviço. Por esta razão, entes públicos são condenados diariamente a fornecer medicamentos não previstos em suas listas e seus orçamentos, tudo com base em suposta disposição constitucional. 
2.5 tratamento médico no exterior
O Brasil em seu ordenamento prevê diversos dispositivos que abarcam o direito fundamental do ser humano em ser provido a este, a promoção, proteção e recuperação da saúde.
Sendo a saúde um dos valores fundamentais da existência humana, condicionada à mera e fria questão de hermenêutica, desprovida de sensibilidade do aplicador da lei aos fins sociais que se destina.
A cláusula de reserva do possível é uma desculpa cômoda por parte do Estado para que direitos sociais, como a saúde, não sejam efetivados, tudo porque o orçamento público é escasso, mas só é escasso por causa da dívida interna e máquina estatal.
Vale lembrar que os direitos fundamentais, que não são direitos individuais propriamente ditos, porque eles são muito além do indivíduo, eles são super individuais na medida em que eles fazem referência direta a um conteúdo humano. (Min. Menezes Direito. RE 368.564. P.26).
Em relação aos direitos de índole individual sempre houve uma tendência do Estado para viabilizar. O grande desafio é no campo dos direitos sociais. Sabe-se que a Constituição Federal diz que “a saúde é direito de todos e dever do Estado” e que deve ser garantido “o atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais” (arts. 196 e 198, II). Mas o que fazer quando determinado tratamento não está disponível na rede pública ou particular e o procedimento médico mais indicado só existe em outro país? Esse é um desafio enfrentado por alguns brasileiros, que têm recorrido à Justiça para que o governo arque com os custos do tratamento no exterior, o qual, na maioria das vezes, envolve gastos elevados. Dependendo da doença ou do problema enfrentado, essa pode ser a única chance que o paciente tem para ser curado ou até mesmo continuar vivo. Mas nem todas as ações que ingressam no Poder Judiciário são julgadas procedentes em relação ao pedido dos autores. 
O procurador do Ministério Público Federal (MPF), Jefferson Aparecido Dias, da Procuradoria dos Direitos do Cidadão em São Paulo, explica que um dos motivos disso ocorrer é porque ainda não há lei específica sobre o tema. A atuação do MPF nesses casos se dá quando a parte afetada é criança, idoso ou pessoa com deficiência, situações em que a ação pode ser proposta pelo próprio órgão. Na maioria das vezes, porém, o MPF atua como fiscal da lei, dando apenas o seu parecer em ações nas quais o autor é o próprio beneficiado. 
De acordo com o juiz Alexandre Alberto Berno, da 2ª Vara Federal em Ribeirão Preto/SP, não há critérios normativos ou constitucionais para delimitar quais tratamentos podem ser realizados no exterior ou quais pessoas podem ser atendidas. “Há uma lacuna jurídica que tem sido preenchida por decisões judiciais utilizando princípios e argumentos lógicos que vedariam o reconhecimento ao direito em alguns casos, tais como a existência de tratamentos similares no Brasil ou a capacidade financeira do cidadão de assumir os custos. 
Em geral, a jurisprudência do STF orienta-se pela vedação à concessão de tratamentos experimentais, exigindo-se um elevado grau de certeza na eficácia da técnica e do tratamento pleiteado, afirma o juiz. 
Supremo Tribunal Federal entende que: "a saúde é direito de todos e dever do Estado", incumbindo a este viabilizar os tratamentos cabíveis. (RE 368564, red. P/ ac. Min. Marco Aurélio, 73.4.77. 7º T. Lnfo 623).
No julgamento citado acima, versava que pessoas portadoras de retinose pigmentar ingressaram com um mandado de segurança para que o Estado custeasse o tratamento médico de enfermidade oftalmológica a ser realizado em Havana, Cuba, isto porque não havia como o tratamento ser realizado o tratamento no Brasil.
Ministro Lewandowski, em seu voto, entendeu que o Judiciário não pode definir, de maneira pontual e individualizada, como a administração deve distribuir os recursos públicos destinados a saúde. Até porque, ele entende que o papel do judiciário é de garantir a distribuição do atendimento seja realizada dentro de parâmetros constitucionais e legais, garantido, sempre que possível, a universalização do acesso à saúde.
Porém, por maioria de votos, a Turma negou provimento ao recurso extraordinário interposto da União. Portanto, o entendimento foi de que é cabível o tratamento médico realizado no exterior ser custeado pelo Estado Brasileiro.
Nota-se então que é plenamente cabível que a pessoa faça o requerimento para que o Estado Brasileiro arque com os gastos do tratamento, cirurgia e outros procedimentos fornecidos por outros países, pois a saúde é um direito fundamental, não devendo ser restringido o seu fornecimento.
2.6 cirurgia plástica reparadora 
A lei nº 13.239, de 30 de dezembro de 2015, passou a prever casos em que o Sistema Único de Saúde – SUS possibilitará a realização de cirurgia plástica reparadora para mulheres que sofrerem sequelas decorrentes de atos de violência doméstica. Referida lei reacendeu o debate sobre o dever ou não do Estado de ofertar serviços de cirurgia plástica reparadora. 
Análise superficial pode claramente nos fazer defender tese absolutamente contrária a tal oferta, sustentando que há inúmeras pessoas com problemas bem mais graves e que o SUS não pode desperdiçar seus limitados recursos com a vaidade de alguns cidadãos. É fato que inúmeras cirurgias plásticas realizadas em todo o mundo possuem caráter estético, de mero aprimoramento dos atributos físicos de que são possuidores homens e mulheres que cultuam seus corpos, não sendo indispensáveis para uma vida digna e feliz. Nesses casos, certamente é questionável o uso de verbas públicas para tais fins. 
Apesar disso, inúmeras são as situações em que as cirurgias plásticas reparadoras são imprescindíveis para o bem-estar de seus demandantes, a título exemplificativo mencionemos os casos de mulheres que tiveram seus seios retirados na árdua luta contra o câncer de mama ou mesmo aquelas mulheres que sofreram atos de violência doméstica. Em ambos os casos, a cirurgia constitui mecanismo apto a apagar vestígios de grande sofrimento, não sendo mero aprimoramento estético dispensável. Deixar de fazer tais cirurgias pode levar tais pessoas a uma vida de tamanho sofrimento que impossibilitará seu pleno desenvolvimento humano, impedindo-as de terem uma vida compatível com o inciso III, art. 1º, da CF/1988, aquele que afirma ser fundamento da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana. 
O próprio site do Ministério da Saúde é bastante esclarecedor:
Diferentemente da cirurgia plástica estética, a cirurgia plástica reparadora tem como objetivo corrigir deformidades congênitas (de nascença) e/ou adquiridas (traumas, alterações do desenvolvimento, pós cirurgia oncológica, acidentes e outros), devidamente reconhecida, ou ainda quando existe déficitfuncional parcial ou total cujo tratamento exige recursos técnicos da cirurgia plástica, sendo considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção cirúrgica.
Por meio de intervenções cirúrgicas ou não, as cirurgias plásticas reparadoras procuram aprimorar ou recuperar as funções, e ainda restabelecer a forma mais próxima possível do normal. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018)
Desse modo, consideramos que o Sistema Único de Saúde tem sido bastante coerente com os princípios da Administração Pública ao priorizar procedimentos cirúrgicos que proporcionem bem-estar, autoestima e qualidade de vida para as pessoas, reconhecendo o direito ao benefício se ele for realmente imprescindível à dignidade da pessoa humana. Exemplos de tais procedimentos são: reconstrução das mamas depois de remoção do seio por câncer, crianças com lábio leporino, ginecomastia, fendaplaslatina, queimaduras que levaram a deformações, abdominoplastia para remoção de pele após cirurgia bariátrica, catarata, deficiência ou deformidades no rosto, laqueadora e vasectomia.
3 CONCLUSÃO 
O presente trabalho apresentou uma visão geral da extensão do direito à saúde, trazendo informações a respeito das temáticas que contribuem para a extensão do mesmo, uma vez que é uma garantia de grande importância para dignidade da pessoa humana, estando inclusive associado ao direito a vida. 
Portanto a efetivação do direito a saúde se dá de forma descentralizada, com atuação legislativa e administrativa, sendo as políticas públicas essenciais para a concretização do mesmo, pois é essa atuação conjunta que resultou na criação de institutos voltados para a vigilância sanitária, epidemiológica, a saúde do trabalhador, fornecimentos de medicamentos, entre outros temas importantes. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acessado em: 04/04/2018, às 14h10min.
BRASIL. Constituição (1988). Lei 13.239, de 30 de dezembro de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13239.htm> Acessado em: 04/04/2018, às 15h10min.
MINISTERIO DA SAÚDE. Cirurgia plástica reparadora. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/atencao-especializada-e-hospitalar/especialidades/cirurgia-plastica-reparadora> acesso em: 04/04/2018, às 19h00min.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 1990. Disponível em:. Acesso em: 01 Abril. 2018.
Decreto n.º 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 jun. 2011. Disponível em:. Acesso em: 02 Abril. 2018.
COELHO, Inocêncio Mártires. Métodos e princípios da interpretação constitucional: o que são, para que servem, como se aplicam. ___. Disponível em:. Acesso em: 04 Abril. 2018.
DA ROCHA, Álvaro Filipe Oxley. O Judiciário e a concretização dos direitos fundamentais sociais: jurisdição e políticas públicas. In: STRECK, Lenio Luiz; DE MORAIS, Jose Luis Bolzan. Constituição, sistemas sociais e hermenêutica: anuário do programa de pós-graduação em Direito da UNISINOS: mestrado e doutorado. 1. Ed. São Leopoldo: UNISINOS, 2010, 275 p.
Direito Constitucional. 2. Ed. São Paulo: Editora IOB, 2012.
FERREIRA, Aurélio B. De Hollanda (1910-1989). Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 3. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 2128 p.
GUERREIRO FILHO, Evaldo José. Ensaio sobre as correntes doutrinárias da constituição: da concepção jusnaturalista à concepção pós-positivista. ___, 2010. Disponível em: <PIERDONÁ, Zélia Luiza. A proteção social na Constituição de 1988. In: Revista de Direito Social nº 28. Notadez: Porto Alegre, 2007, p. 12.
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Autor: Raineri Ramos Ramalho de Castro - Advogado na área de Direito Público. Especialista em Direito Público: Constitucional e Administrativo. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Amazonas.

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