Buscar

Direito Civil IV Material de apoio 3

Prévia do material em texto

DIREITO CIVIL IV 
 
 
2) EFEITOS DA POSSE: 
 
2.1) Proteção da posse: Ações Possessórias: 
 
 
Tem-se como um dos principais efeitos da posse o direito do possuidor buscar 
pela sua proteção, o qual poderá recorrer às ações possessórias, que representam medidas 
judiciais criadas para a defesa da posse diante de determinados conflitos possessórios 
(esbulho, turbação e ameaça): 
(i) O esbulho consiste na privação (total) do possuidor em exercer a posse, por 
força de ato de terceiro praticado com violência, clandestinidade ou abuso de confiança. 
(ii) A turbação é todo ato que causa embaraço ao livre exercício da posse. Ou 
seja, qualquer ato material ou jurídico que implique em cerceamento do exercício da posse 
plena pelo possuidor, é considerado turbação. A turbação pode ser direta, indireta, positiva ou 
negativa. 
Será direta quando for exercida diretamente sobre o bem, como exemplo: um 
terceiro que derruba as árvores no terreno do autor sem sua autorização. 
Já a turbação indireta ocorre quando o terceiro pratica o ato externamente ao 
imóvel do autor, mas realiza manobras para que aquilo repercuta sobre o seu imóvel lhe 
trazendo prejuízos. 
Denomina-se positiva quando a turbação resulta da prática de atos materiais 
sobre a coisa, como o ingresso na propriedade alheia para retirar água. 
Por fim, será negativa quando o terceiro deixa de praticar algo e isto vem a 
dificultar, embaraçar ou impedir o livre exercício da posse pelo possuidor. 
 
(iii) É possível defender-se também da ameaça de ocorrência de esbulho ou 
turbação. 
 
• Espécies de ações possessórias 
 
(i) Ação de reintegração de posse 
 
É a ação possessória cabível quando ocorre o esbulho. 
Conforme visto, no esbulho o possuidor fica totalmente privado de exercer a 
posse, sendo-lhe retirado todo o poder de fato que exercia sobre a coisa. 
Em suma, o esbulhado perde a posse, logo, o objetivo da ação de reintegração é 
garantir ao possuidor o reestabelecimento da situação fática anterior. 
Caso o esbulho se dê mediante a clandestinidade, o prazo de um ano e um dia 
tem inicio a partir do momento em que o possuidor tem conhecimento da prática do ato. 
O esbulho resultante do vício da precariedade, aquele que ocorre com o abuso de 
confiança, é denominado de “esbulho pacífico” visto que se dá através do prévio 
consentimento do possuidor, sem a ocorrência de violência. 
Existia antigamente polêmica sobre a hipótese de o esbulho pacífico ensejar a 
propositura da ação de reintegração de posse, contudo a jurisprudência atual superou este 
entendimento ao concluir que mesmo sendo pacífico, o esbulho ocorrido por abuso de 
confiança priva o possuidor de exercer a posse do bem, igualmente ao que ocorre mediante as 
modalidades de violência e clandestinidade. 
Os requisitos para a propositura da ação de reintegração estão previstos no art. 
561 do CPC/2015, incumbindo ao autor provar: a) a sua posse; b) o esbulho praticado pelo réu; 
c) a data do esbulho; e d) a perda da posse. 
 
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação e reintegrado em caso de esbulho. 
Art. 561. Incumbe ao autor provar: 
I - a sua posse; 
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; 
III - a data da turbação ou do esbulho; 
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de 
manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. 
 
 
 
(ii) Ação de manutenção de posse 
 
A ação de manutenção é regida pelos mesmos diplomas que regem a ação de 
reintegração, contudo, esta visa socorrer o possuidor que está sofrendo turbação em sua 
posse, restando impossibilitado de exercê-la plenamente. 
A turbação é ofensa menor que o esbulho, pois nessa hipótese o possuidor ainda 
exerce posse sobre o bem, mas esta posse é tolhida e dificultada por terceiro. 
Como visto, a turbação pode ser direta, indireta, positiva ou negativa. 
Na prática, algumas vezes, há situações em que se torna realmente difícil a 
distinção entre a existência de turbação ou esbulho, em especial quando se está diante do 
“esbulho parcial”. Neste caso, tanto será cabível a ação de reintegração para restituir o 
esbulhado na parte que lhe foi reprimida, como também a ação de manutenção, uma vez que 
o possuidor conserva a posse da parte restante do imóvel. 
Os requisitos para a propositura da ação de manutenção estão previstos também 
no art. 561 do CPC/2015, exigindo-se do autor: a) a prova da sua posse; b) a prova da turbação 
praticada pelo réu; c) a data da turbação; e d) a continuação da posse, embora turbada. 
 
(iii) Ação de interdito proibitório 
 
O interdito proibitório é uma ação de natureza preventiva, pois visa impedir que 
se concretize uma ameaça de restrição à posse. 
Não é qualquer receio que constitui ameaça suscetível de ser tutelada por meio 
da ação de interdito, é necessário que o ato considerado demonstre aptidão para provocar 
receio no “homem médio” (“justo receio”). 
O art. 567 do CPC/2015 dispõe: 
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de 
ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da 
turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em 
que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o 
preceito. 
 
A ação de interdito proibitório exige, portanto, o preenchimento dos seguintes 
requisitos: a) a posse atual do autor; b) a ameaça de turbação ou esbulho; c) justo receio de 
ser concretizada a ameaça. 
A “posse atual” deve ser demonstrada, visto que, se o autor já tiver perdido a 
posse do bem, não será mais cabível a ação de interdito, mas sim, a de reintegração de posse. 
O “justo receio” é um temor justificado, no sentido de estar embasado em fatos 
exteriores e em dados objetivos. 
O que importa é a seriedade da ameaça e a sua capacidade para infundir no 
“homem médio” o justo receio de dano iminente à sua posse. 
Por fim, tem-se que a ação de interdito proibitório prevê a cominação ao réu de 
pena pecuniária como forma de evitar a concretização da ameaça. A pena deve ser pedida 
pelo autor e fixada pelo juiz, em montante suficiente para desestimular o réu a transgredir o 
direito do autor. 
 
• Características específicas das ações possessórias: 
 
(i) Procedimento (ação de força nova e ação de força velha) 
 
O art. 558, CPC/2015 dispõe: 
 
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração 
de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for 
proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na 
petição inicial. 
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o 
procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. 
 
Entende-se por “ação de força nova” aquela proposta dentro de um ano e um dia 
da turbação ou esbulho, e por “ação de força velha” aquela é proposta após este prazo. 
O legislador confere às ações possessórias de “força nova” o regimento especial, 
cuja principal vantagem é a possibilidade de obter medida liminar inaudita altera parte ou, 
caso o juiz entenda necessária, após a realização de uma audiência de justificação prévia da 
posse. 
Isto significa que somente haverá rito especial, com a fase inicial para concessão 
da liminar, se a ação for ajuizada dentro do prazo de um ano e dia. Se o autor deixar 
ultrapassar esse prazo, ainda poderá promover a ação possessória, porém, seguirá o 
procedimento comum e não será possível a obtenção de liminar. 
 
(ii) Legitimidade ativa e passiva 
Para a propositura das ações possessórias, exige-se a condição de possuidor do 
bem, ainda que sem titulo. Não é permitida ao detentor a propositura de nenhuma ação 
possessória. 
A legitimidade passivanas ações possessórias pertence ao autor do esbulho, da 
turbação e da ameaça (arts. 561, II, e 567, CPC/2015). É possível figurar como réu também o 
terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era, ou seja, de má-fé (art. 1.212, CC). 
 
(iii) Fungibilidade 
O principio da fungibilidade nas ações possessórias está previsto no art. 554 do 
CPC/2015, o qual leciona: 
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não 
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal 
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. 
 
Isto se dá pelo entendimento de que o pedido versa sempre sobre a “proteção 
possessória”, e o binômio “ofensa à posse/proteção possessória” é sempre o mesmo, por mais 
que existam variações determinadas pelas condições de fato. 
A fungibilidade impõe-se somente entre as três ações possessórias (reintegração, 
manutenção e interdito proibitório). 
Se o autor entrar com qualquer ação que não seja uma das três, o juiz decretará a 
carência da ação e procederá ao julgamento sem análise do mérito. 
 
(iv) Cumulação de pedidos 
O art. 555 do CPC/2015, permite a cumulação dos seguintes pedidos às ações 
possessórias: 
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: 
I - condenação em perdas e danos; 
II - indenização dos frutos. 
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida 
necessária e adequada para: 
I - evitar nova turbação ou esbulho; 
II - cumprir-se a tutela provisória ou final. 
 
A cumulação destes pedidos é facultativa, mas podem ser feitos 
independentemente do rito especial conferido às ações possessórias. Contudo, se não 
constarem na inicial, não poderá o juiz julgá-los “implicitamente”, pois restará configurado 
julgamento extra petita. 
Caso o autor decida por abrir mão do rito especial inerente às possessórias, ele 
pode formular outros pedidos além daqueles previstos no art. 555. 
 
(v) Natureza dúplice 
Em regra, na relação jurídico-processual, determina-se que o autor é quem 
formula os pedidos e o réu é aquele que se opõe a eles, pleiteando a improcedência da ação. 
Porém, nas ações possessórias não existe rigorosidade entre as figuras do autor e 
réu, sendo possibilitado ao réu, quando intimado para contestar, formular pedidos contra o 
autor, se houver. 
É o que determina o art. 556, CPC/2015: 
 
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido 
em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização 
pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo 
autor. 
 
 
Uma vez que a Lei confere caráter dúplice às ações possessórias, não se mostra 
necessário o pedido reconvencional, visto que, se o réu se julgar ofendido em sua posse 
poderá formular os pedidos que tiver contra o autor na própria contestação, em prol da 
economia processual. 
Esta faculdade é conferida às ações possessórias, pois, nestas ações, ambas as 
partes costumam alegar a condição de possuidores, cabendo ao juiz decidir quem possui a 
“melhor posse”. 
Destaca-se que também é facultada ao réu a possibilidade de cumulação de 
pedidos, na forma do art. 555 do CPC/2015.

Continue navegando