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Análise estratégica do ambiente organizacional Lucimara Terra Introdução A compreensão do Ambiente Organizacional (AO) é fundamental no processo de formulação de estratégias. Nesta aula, estudaremos como ocorre a análise desse ambiente, bem como sua importância, as razões pelas quais é executada e os papéis que exerce na empresa. Veremos, ainda, que compreender a estrutura do ambiente é fundamental para a eficácia dessa análise. Assim, iden- tificaremos as definições geral, operacional e interno e as orientações para esse tipo de análise. Objetivo de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • Identificar as diversas formas de análise estratégica do ambiente organizacional. 1 Análise do Ambiente Um dos processos da administração estratégica começa com a análise do ambiente orga- nizacional. Segundo Certo (2005), esse é um processo de acompanhamento para identificar os riscos e oportunidades presentes e futuras. Desta forma, o ambiente organizacional trabalha com todos os fatores, tanto internos como externos à organização. Podemos dividir esse tipo de aná- lise da seguinte forma: • segmentar e agrupar as variáveis a serem analisadas; • caracterizar e classificar as variáveis dos ambientes. Primeiramente, ocorre a segmentação e o agrupamento das informações dos ambientes externo e interno, sendo que as variáveis mais genéricas e menos específicas, tais como as eco- nômicas e demográficas, ficam agrupadas no “ambiente externo”. Já as variáveis pertencentes ao modelo de análise setorial de Porter, ou as cinco forças (1986), que são específicas para cada setor e exercem atuação mais próxima da organização, pertencem ao “ambiente externo setorial” (micro e macro ambiente). FIQUE ATENTO! As variáveis do ambiente externo têm, como característica, o poder de influenciar, de forma ampla, diversos setores ao mesmo tempo, merecendo uma análise específica. Considerando a segmentação e os agrupamentos propostos para os ambientes em análise, a próxima etapa refere-se à identificação e caracterização das variáveis, como podemos acompa- nhar na Figura 1. Ambiente Geral Amb iente Operacional Organização Com ponente Concorrente Co m po ne nt e In te rn ac io na l Componente Fornecedor Com ponente Cliente Co m po ne nt e M ão d e Ob ra Co m po ne nt e So ci oc ul tu ra l Com ponente Tecnológico Com ponente Político-legal Componente Ecológico Co m po ne nt e Ec on ôm ico Ambiente Interno Aspectos: Organizacionais Marketing Financeiros Pessoas De Produção Ambiente Interno Ambiente Externo Figura 1 – As influências das variáveis do ambiente. Fonte: Elaborado pela autora, 2015. Ao observar os ambientes externo e interno, além de caracterizá-los, é preciso realizar uma classificação das variáveis de acordo com os quatro termos propostos por Andrews (1971) na matriz SWOT (que você estudará ainda nesta aula): • Oportunidades e ameaças: são variáveis do ambiente externo, tanto geral quanto seto- rial, sobre os quais a organização não exerce um controle direto. As oportunidades são condições favoráveis ao desempenho da organização e, sempre que possível, devem ser maximizadas. Já as ameaças criam situações desfavoráveis ao desempenho e, por isso, devem ser evitadas, minimizadas ou neutralizadas sempre que possível. • Forças e fraquezas: são variáveis do ambiente interno da organização e sustentam uma condição favorável ou desfavorável, da mesma frente, ao ambiente e concorrente. Por representarem parte dos fatores internos da empresa, os mesmos são passíveis de gerenciamento. EXEMPLO A emissora de TV aberta Comuniquê enfrenta problemas com a queda de audiência, perdendo patrocinadores para a concorrência. Com isso, o produtor Marcos precisa apresentar uma estratégia de gestão eficaz para reverter a situação, que ele revisa com diretor-geral Felipe. Antes de definir uma solução, Marcos levanta um diagnósti- co que aponta mudanças no mercado, na sociedade e na economia, mostrando que os espectadores migraram para a internet e para canais de TV fechada. Com isso, ele identifica que a programação da sua emissora não acompanhou o novo perfil de seus espectadores e, a partir disso, ele pode definir uma estratégia mais precisa para obter resultados mais expressivos. Nesse processo, Felipe coletou dados internos, que não são suficientes para um diagnóstico que auxilie na tomada de decisão. No próximo tópico, veremos a relação entre o ambiente e a organização. 1.1 A organização e o ambiente Atualmente, precisamos entender as organizações como um sistema aberto, em constante interação com o ambiente. Este conceito advém da Teoria Geral dos Sistemas e, posteriormente, da Teoria da Contingência, quando as organizações começaram a ser analisadas sob a pers- pectiva de sistemas abertos, que dependem de circunstâncias e variáveis situacionais e/ou são influenciados por elas. Ludwig von Bertalanffy (1968) criou a Teoria Geral de Sistemas, que tem como objetivo analisar a natureza dos sistemas e da inter-relação entre eles, em diferentes espaços, assim como a inter-re- lação de suas partes, além de analisar as leis fundamentais dos sistemas. Já a Teoria da Contingên- cia, que teve como pesquisadores Woodward (1958), Burns & Stalker (1960) e Lawrence e Lorsch (1967), vai além da Teoria Geral de Sistemas, abordando a problemática do ambiente, partindo da ideia que suas condições é que causam transformações no interior das organizações. FIQUE ATENTO! Para a Teoria da Contingência, o ambiente explica o fenômeno organizacional. A partir dessa análise, podemos dizer que as empresas dependem do ambiente para sua sobrevivência, pois é através dele que são geradas as trocas de recursos e informações por produtos e é essa interação com o meio que sofre as influências das variáveis. Figura 2 - Análise do ambiente interno Fonte: tadamichi/Shutterstok.com SAIBA MAIS! Conheça mais sobre estratégia corporativa lendo o artigo “Sobre a importância da estratégia corporativa para as organizações”, de Sílvia Aparecida Pereira Lima. Acesse: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/QGdGuL 5AbEkSF2Q_2013-4-30-18-15-13.pdf>. Andrews (1971) foi um dos pioneiros na conceituação do processo de análise ambiental para as empresas, difundindo um dos conceitos mais utilizados do campo da estratégia de negócios: a análise SWOT (do inglês Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats, ou Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças). SAIBA MAIS! Para saber mais sobre a análise SWOT, leia o artigo “A Utilização da Matriz Swot como Ferramenta Estratégica – um Estudo de Caso em uma Escola de Idioma de São Paulo”. Acesse: <http://cetir.aedb.br/seget/artigos11/26714255.pdf>. A metodologia de análise SWOT ainda é muito utilizada no meio empresarial, tanto em organi- zações de grande porte quanto em médias e pequenas empresas. Invariavelmente, oportunidades e ameaças/riscos estão ligados ao ambiente externo das organizações. Por outro lado, pontos fortes e pontos fracos, são termos associados aos aspectos internos. Ajuda Atrapalha In te rn a (o rg an iz aç ão ) Ex te rn a (a m bi en te ) Forças Oportunidades Ameaças Fraquezas Figura 3 – Matriz S.W.O.T Fonte: Elaborado pela autora, baseado em PORTER, 1986. FIQUE ATENTO! A sequência de palavras que defi nem o termo SWOT não refl ete a ordem da me- todologia pensada por Andrews (1971): para ele, o processo inicia-se pela identifi - cação de oportunidades e riscos/ameaças (opportunities and risks) do ambiente, seguida da identifi cação das forças e fraquezas (strenghts and weaknesses) da organização. Dessa forma, a terminologia da análise,levando em consideração a ordem original, poderia ser ORSW ou OTSW. Se tomarmos como base a ideia original da metodologia de Andrews (1971), a melhor estratégia inicia com o diagnóstico de oportunidades e riscos do ambiente organizacional. O objetivo fi nal do processo é identifi car uma estratégia que resulte da combinação entre qualifi cação e oportunidade de uma organização ao seu ambiente, relacionando os fatores internos e as necessidades externas. O ambiente e suas infl uências afetam o dia a dia e o desenvolvimento de uma organização. Isso porque as variáveis irão infl uenciar nas decisões estratégicas que operam em um setor indus- trial e que envolvem uma determinada sociedade: a cidade, o país e o mundo. Estas infl uências podem ser do tipo: • sociais; • políticas; • tecnológicas; • econômicas. EXEMPLO A rede de TV Comuniquê analisou as informações obtidas no diagnóstico interno, detalhando que o ponto forte da empresa são os espectadores fi éis e que o ponto fraco é não disponibilizar conteúdo e divulgação on-line, percebendo que, por meio da internet, poderia voltar a ser atrativa para os patrocinadores. Os canais fechados seriam, nesse caso, a ameaça, e a análise SWOT pode ser uma forma de traçar uma estratégia efi caz, tendo como base um diagnóstico dos ambientes interno e externo. Ao analisar ambientes externos turbulentos e competitivos, de forma ampla, recomenda-se fazer uso da metodologia de cenários. Essa análise permite a descrição de um cenário otimista, um intermediário e um pessimista que, quando bem elaborados e com o uso de técnicas, possibi- lita estimar possíveis acontecimentos, tendo em vista as tendências e influências ambientais no futuro da organização. Depois de identificadas as oportunidades, segundo Andrews (1971), a organização deve fazer a análise das competências corporativas e dos recursos, procurando identificar as forças e as fraque- zas. A seleção e escolha de várias oportunidades do ambiente consistem em determinar se a organi- zação tem capacidade de usufruir da escolha com sucesso, que é demonstrada pela sua habilidade e potencial de realizar, contra a oposição de circunstância ou competição, o que se propõe a fazer. Aspectos Organizacionais A estrutura organizacional da companhia é apropriada? As tarefas e metas de desempenho estão claramente entendidas pelos trabalhadores? Aspectos de Marketing A pesquisa de mercado é usada para se obter melhores vantagens? As propagandas são usadas de forma eficiente e efetiva? Aspectos de Pessoal Os programas de treinamento são adequados? Nosso sistema de avaliação de desempenho é justo e preciso? Aspectos Produção A organização pode melhorar seu nível de tecnologia? O fluxo de trabalho pode ser mais eficiente? Quadro 1 – Questões-chaves do ambiente interno Fonte: Elaborado pela autora, 2016. Para finalizar o processo de análise, é necessário realizar o cruzamento das oportunidades e riscos resultantes das condições ambientais e tendências com as forças e fraquezas resultantes das competências distintas e recursos organizacionais. A partir disso, deve-se realizar uma análise de todas as combinações possíveis entre estas variáveis identificadas, para que se possa determinar qual a melhor combinação entre oportuni- dades e recursos organizacionais. Desta forma, a organização poderá determinar uma “estratégia econômica” para produtos e mercados. Fechamento Ao concluir esta aula, podemos entender os fundamentos e as diretrizes para a análise do Ambiente Organizacional, tendo como diretiva a estrutura dos níveis estratégico, operacional e tático. Você teve oportunidade de: • compreender que a análise do ambiente é que faz a identificação das ameaças e opor- tunidades para a organização; • identificar que a estrutura ambiental é composta de três níveis: geral, operacional e interno; • entender que os níveis da estrutura ambiental têm grau de relevância diferente para cada tipo e porte de empresa; • entender que as técnicas para análise do ambiente são exame do ambiente, análise de ameaças e oportunidades e previsão ambiental. Referências ANDREWS, Kenneth R. The concept of corporate strategy. Homewood: Dow Jones-Irwin, 1971. BURNS, Tom & STALKER, George M. The management of innovations. London: Tavistock, 1961. CERTO, Samuel C.; PETER, J. Paul. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. LAWRENCE, Paul R; LORSCH, Jay W. Organization and environment. Managing differentiation and integration. Boston: Harvard University Press, 1967. Versión castellana: Organización y ambiente. Barcelona: Labor, 1976. PORTER. Michael. Eugene. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concor- rência. Rio de Janeiro: Campus, 1980 e 1986. VON BERTALANFFY, Ludwig. Gen.ra. syst.in theory. New York, George Braziller” 1968.’ p. 38. WOODWARD, Joan. Management and technology. London: H. M. Stationary Office, 1958.
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